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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA.
DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA
ALUNO: DANIEL C. MARTINS

David harvey - O neoliberalismo

Para David Harvey o neoliberalismo deve ser entendido como um avanço dos
objetivos de livre mercado frente ao Estado de bem-Estar social que passa a entrar em
crise. Assim, o autor vai debater acerca de questões que são importantes para entender os
desdobramentos que se dão a partir do neoliberalismo a partir de sua teoria e o modo como
vai estabelecer na prática.
No que diz respeito a teoria, é necessário fazer um parênteses apontando que as
premissas resultantes da persistente “escola austríaca de economia” liderada pelo sr.
Friedrich Von Hayek, que ficou durante três décadas na marginalidade por conta da maior
parte dos países da europa optarem pelo modelo keynesiano que se contrapunha ao livre
cambismo. Assim, o neoliberalismo se apresenta como o resultado de uma escola que
persistiu durante décadas até que as crises estruturais dos Estados keynesianos abriram
espaço para que Hayek e seus seguidores divulgassem suas ideias, adquirindo lentamente
a credibilidade que hoje se tornou hegemônica, já que ela passa a adquirir ares de
cientificidades que antes o liberalismo não possuía, se tornando ponto de diferenciação.
O neoliberalismo na teoria procura resolver as contradições sociais através do livre
mercado atuando a partir da ausência de interferências estatais, partindo do princípio da
igualdade de condições como forma de preservar as livres iniciativas individuais evitando
um “Estado gigantesco” e que criasse um “caminho da servidão” que na teoria de Hayek
aparecem os agentes econômicos que estão fora das relações comandadas pelo Estado
como condenados a uma “servidão”, já que não seriam contemplados por tais políticas.
Assim, foi formulada a tese do “remédio amargo”, onde a democracia não deveria aparecer
de modo tão presente já que em momentos econômicos adversos políticas estatais
democratizantes não seriam viáveis para as soluções que estariam exclusivamente na livre
iniciativa e na igualdade de condições.
Diante dessa longa exposição teórica, é possível ver através do texto de Harvey que
o neoliberalismo na prática não ocorreu conforme o apresentado nas “fórmulas mágicas”
acima. A primeira contradição apresentada é a do poder do monopólio, já que as grandes
corporações de mercado dominam o cenário econômico, concentrando a balança para os
mais fortes em detrimento dos mais fracos. Outro ponto é a fraqueza do mercado em
resolver as próprias situações que lhes são impostas, pois o Estado acaba apresentando
capacidades mais sólidas na hora de apresentar soluções para regular setores estratégicos
da economia. De tal forma, o conceito da igualdade de condições é no mínimo questionável.
É necessário então apontar os vícios que se apresentam nos desdobramentos do
neoliberalismo na prática. Um deles é o trabalho e o ambiente como mera mercadoria, outro
diz respeito ao favorecimento a integridade do sistema financeiro em detrimento de outros
setores, o que aponta um intervencionismo favorável aos mais fortes, derrubando sua
suposta neutralidade. O Estado neoliberal é parcial na medida em que tudo não pode ser
comercializado, pois o presidente impõe leis e regulamentações que nunca vão deixar de
ocorrer devido a natureza de tal instituição, levando a uma compatibilização entre
desenvolvimento e neoliberalização.
Mas quando se trata da desregulação financeira, o problema fica mais delicado já
que se torna mais complicado para que o Estado possa regular por conta de estragos
causados pelas instituições financeiras que fogem do próprio controle previsto. Isso faz com
que as crises ocorram de forma cada vez mais contínuas em períodos que outrora
demoravam mais para ocorrer. Daí que surgem instituições como o FMI e Banco Mundial
que aparecem de forma impositiva diante de governos para negociar o alívio das dívidas, o
que implica a uma contradição gritante, já que cada um não seria responsável por seus
próprios erros? Um exemplo disso, é a imposição do FMI ao México para um ajuste
estrutural de suas dívidas com o objetivo de proteger os bancos de Nova York da falência.
Também há um aumento da extração da mais valia nos países do terceiro mundo, pois a
lógica econômica ocorre no sentido onde os países pobre subsidiam os ricos, onde
governos populistas contribuem para tal quadro na América latina.
Tudo isso cria uma ausência de solidariedade que se expressa na medida em que o
Estado deixa de assumir responsabilidades fundamentais como saúde e educação, pois ao
criar estruturas regulatórias que só favorecem as grandes corporações financeiras, acaba
reprimindo o dissenso, o que aponta para uma situação onde a democracia que era um
valor integrante na teoria liberal, deixa de fazer parte da perspectiva neoliberal.
Assim, o objetivo do neoliberalismo consiste em aumentar o poder da classe
dominante, restituindo o que tal classe havia “perdido” com o Estado keynesiano, abrindo
espaço também para ideologias conservadoras, inclusive nacionalistas, que flertam com a
liberdade do livre mercado. Ou seja, a era de incertezas geradas que se expressam pela
anarquia social e o niilismo, acaba abrindo espaço para todos os tipos de conservadorismos
com viés autoritário se apresentem para reprimir direitos e garantias que representaram
conquistas civilizatórias para a humanidade.

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