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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - IFCH
FACULDADE DE HISTÓRIA - FAHIS
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – PARFOR
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

NÚBIA LAFAETE DOS SANTOS CORRÊA

SOCIEDADE DA MADEIRA? A AMACOL e as transformações socioeconômicas no


município de Portel-PA nas décadas de 1960-1980

PORTEL-PARÁ
2019
2

NÚBIA LAFAETE DOS SANTOS CORRÊA

SOCIEDADE DA MADEIRA? A AMACOL e as transformações socioeconômicas no


município de Portel-PA nas décadas de 1960-1980

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso


de Licenciatura em História do Programa de Formação
de Professores da Educação Básica da Universidade
Federal do Pará, como requisito para obtenção de grau de
licenciada plena em História.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Barroso

PORTEL-PARÁ
2019
3

NÚBIA LAFAETE DOS SANTOS CORRÊA

SOCIEDADE DA MADEIRA? A AMACOL e as transformações socioeconômicas no


município de Portel-PA nas décadas de 1960-1980

Trabalho de Conclusão de Curso orientado pelo Prof. Dr.


Daniel Barroso, apresentado ao Curso de Licenciatura
em História do Programa de Formação de Professores da
Educação Básica da Universidade Federal do Pará, como
requisito para obtenção de grau de licenciada plena em
História.

APROVADA EM: ________/________/_________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________
Prof. Dr. Daniel Barroso
Orientador – UFPA

____________________________________________________________
Prof. Me. Edivando da Silva Costa
4

Aos meus pais, minha irmã, sobrinhos e meu


marido, por todo amor, apoio e incentivo que
me foi dado durante todo essa jornada
acadêmica.
5

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Pará, por disponibilizar vários cursos na área da educação


para o município de Portel e, assim oportunizar que pessoas que não tiveram condições de
cursar uma faculdade de nível superior, possam realizar o sonho de se formar e contribuir de
forma mais significativa na formação de outras pessoas.
A meus familiares, amigos e marido pela compreensão durante todo esse período de
ausência no qual me dediquei a este curso e, pela solidariedade e parceria com a qual me bridam.
Aos professores e professoras, que se dedicaram em contribuir com minha formação
acadêmica.
A meu orientador pela disponibilidade de atender a demanda de orientandos apesar da
crise que as Universidades Federais vivem atualmente e, pela compreensão, orientação e
contribuições que puderam subsidiar a construção do meu Trabalho Acadêmico de Conclusão.
A ex-coordenadora do Parfor em Portel, Marlieth Corrêa da Silva pelo trabalho
realizado durante todo o período em que esteja na coordenação nos apoiando e auxiliando em
tudo o que precisávamos.
Ao atual coordenador do Parfor, Ronaldo Alves Soares, pela disponibilidade, apoio e
atenção durante todo esse período do curso de História.
As auxiliares que trabalham no Arquivo Público Municipal de Portel, Edvanete da
Silva de Souza e Anazilda Farias de Santos pelo carinho, disponibilidade, atenção e ajuda
durante todo o período de pesquisa documental para a construção deste trabalho.
Aos entrevistados, que se disponibilizaram a me conceder as entrevistas, contribuindo
significativamente a partir de suas experiências e histórias de vidas para que esse trabalho fosse
escrito.
Aos meus colegas de turma por todo o carinho e dedicação durante todo o curso.
6

“Somente um ser que é capaz de sair do seu contexto, de “distancia-se”


dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o,
transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua
própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser
histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se”.
(FREIRE, 1979, p. 08)
7

RESUMO

SOCIEDADE DA MADEIRA? A AMACOL e as transformações socioeconômicas no


município de Portel-PA nas décadas de 1960-1980, propõe uma discussão sobre a experiência
de produção fabril a partir da instalação da empresa Amazônia Compensados e Laminados
(AMACOL) durante o período de auge da madeira no município de Portel, analisando as
transformações socioeconômicas e de trabalho que ocorreram na sociedade portelense a partir
do advento industrial/capitalista dentro do município. Além disso, este, também discorre sobre
os meios de produção e de trabalho baseados na agricultura e no extrativismo, que
movimentaram a economia do município durante as décadas de 1930-1950, antes da instalação
da AMACOL. Por meio de depoimentos orais, fotografias e documentos oficiais disponíveis
no Arquivo Público Municipal de Portel, foi possível analisar o contexto histórico, social e
econômico do município e da empresa AMACOL, elencando as relações comerciais que se
mantinham entre os órgãos e, de que forma se dava o trabalho dentro da empresa. Nesse
contexto, Portel é integrado ao processo geopolítico dos Grandes Projetos do Governo Federal
para a Amazônia, transformando significativamente sua dinâmica social e de trabalho,
contribuindo para o abandono de suas antigas práticas de sobrevivência e aderindo as relações
capitalistas da contemporaneidade.

Palavras-chave: História econômica. Portel. Agricultura. Extrativismo. AMACOL.


Industrialização Madeireira. Transformações socioeconômicas.
8

ABSTRACT

WOOD SOCIETY? The AMACOL and the socioeconomic transformations in the municipality
of Portel-PA in the 1960-1980s, proposes a discussion about the experience of factory
production from the installation of the company Amazonia Compensados and Laminados
(AMACOL) during the period of peak wood in the municipality. Portel, analyzing the
socioeconomic and work transformations that occurred in the society of the city from the
industrial / capitalist advent within the city. In addition, it also discusses the means of
production and labor based on agriculture and extraction, which moved the economy of the
municipality during the 1930-1950, before the installation of AMACOL. Through oral
statements, photographs and official documents available at the Municipal Public Archive of
Portel, it was possible to analyze the historical, social and economic context of the municipality
and the company AMACOL, listing the commercial relations that were maintained between the
agencies and how if you gave the work inside the company. In this context, Portel is integrated
into the geopolitical process of the Federal Government's Great Projects for the Amazon,
significantly transforming its social and work dynamics, contributing to the abandonment of its
old survival practices and adhering to contemporary capitalist relations.

Keywords: Economic history. Portel Agriculture. Extractivism. ALCOHOL Wood


Industrialization. Socioeconomic transformations.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1. Mapa da extensão territorial do município de Portel............................................. 12


Figura 2. Mapa do trecho da estrada Portel-Tucuruí....................................................... 13
Figura 3. Mapa Georeferenciamento (GP GARMIM 12) área territorial pertencente à
empresa AMACOL até o ano de 2006............................................................................... 55
Figura 4. Imagem da área da Meruoca onde se encontrava as residências dos norte-
americanos......................................................................................................................... 56
Figura 5. Imagem do senhor Maximiliano ex-funcionário da AMACOL, com seu
documento de Cidadão Portelense em mãos...................................................................... 59
Figura 6. Imagem do avião monomotor pertencente a empresa
Amacol............................................................................................................................... 64
Figura 7. Imagem do caminho que dava acesso ao retiro da empresa Amacol.................... 67
Figura 8. Imagem do Projeto de Lei que Cria o Imposto de Conferência Municipal, 3 de
fevereiro de 1963............................................................................................................... 69
Figura 9. Recibo N.º 1001 da Prefeitura Municipal de Portel sobre taxa de impostos de
exportação madeireira da empresa AMACOL no ano de 1963........................................... 70
Figura 10. Ofício N.º 32 de 30 de julho de 1963 da Prefeitura Municipal de Portel ao
Superintendente da SPVEA............................................................................................... 71
Figura 11. Continuação do Ofício N.º 32 de 30 de julho de 1963 da Prefeitura Municipal
de Portel ao Superintendente da SPVEA............................................................................ 72
Figura 12. Imagem da construção da serraria e fábrica da Companhia Amazonas no ano
de 1956............................................................................................................................... 74
Figura 13. Imagem da área da fábrica da empresa AMACOL na década de 1980.............. 75
Figura 14. Imagem de marinheiros da AMACOL ajustando os compensados e laminados
no navio.............................................................................................................................. 77
Figura 15. Imagem de policial militar fazendo a guarnição das máquinas de
compensados e laminados da fábrica AMACOL no ano de 1985....................................... 81
10

LISTA DE SIGLAS

AMACOL Amazônia Compensados e Laminados


BASA Banco da Amazônia
BCA Banco de Crédito da Amazônia
BCB Banco de Crédito da Borracha
CAMEL Aliança Esportiva Companhia Amazonas Madeiras e Laminados
DIP Departamento de Imprensa e Propaganda
EUA Estados Unidos da América
FIEPA Federação das Indústrias do Estado do Pará
FINAM Fundo de Investimentos na Amazônia
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
INCRA Instituto Nacional de Reforma Agrária
IPHAN Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros
JK Juscelino Kubistchek
PA Pará
PIB Produto Interno Bruto
PIN Programa de Integração Nacional
PVEA Plano de Valorização Econômica da Amazônia
SPVEA Superintendência do Plano de Valorização e Desenvolvimento para a
Amazônia
SENAC Serviço nacional de Aprendizagem Comercial
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
11

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13
2. OS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO FEDERAL
PARA A AMAZÔNIA................................................................................................. 19
2.1. As políticas varguistas no Estado Novo para a Amazônia............................. 20
2.2. Os programas de desenvolvimento para a Amazônia no pós-guerra........... 25
2.3. A Amazônia na política de Juscelino Kubitscheck......................................... 34
2.4. A Amazônia em tempos de ditadura militar (1964)....................................... 41
3. PORTEL: UMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DA
ECONOMIA MADEIREIRA..................................................................................... 47
3.1. Portel no cenário político e socioeconômico nacional.................................... 47
3.2. A empresa AMACOL e as transformações socioeconômicas e ambientais
no município de Portel................................................................................................. 56
3.3. Organização do trabalho e sociabilidades no cotidiano da empresa
AMACOL..................................................................................................................... 74
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 85
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 88
APÊNDICE – A: PORTARIA N.º 1 DE 4 DE JANEIRO DE 1936........................... 93
APÊNDICE – B: PORTARIA N.º 6 DE 19 DE FEVEREIRO DE 1936................... 94
APÊNDICE – C: DA PORTARIA N.º 30 DE 4 DE MAIO DE 1942......................... 95
APÊNDICE – D: PORTARIA N.º 7 DE 20 DE FEVEREIRO DE 1959................... 97
APÊNDICE – E: RELATÓRIO DE PLANO GOVERNAMENTAL DE
PORTEL DE 12 MAIO DE 1955................................................................................. 98
APÊNDICE – F: PORTARIA N.º 30 DE 20 DE JULHO DE 1956........................... 99
APÊNDICE – G: TELEGRAMA DO PREFEITO MUNICIPAL DE PORTEL
DE 8 DE OUTUBRO DE 1963 DIRECIONADO AO PRESIDENTE
JUSCELINO KUBITSCHEK..................................................................................... 100
APÊNDICE – H: REQUERIMENTO DE SOLICITAÇÃO DE
FORNECIMENTO DE ÓLEO LUBRIFICANTE DE 19 DE NOVEMBRO DE
1960............................................................................................................................... 101
APÊNDICE – I: DOCUMENTO DE MOVIMENTAÇÃO DE VERBA DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTEL DE 24 DE ABRIL DE
1963............................................................................................................................... 102
12

APÊNDICE – J: PORTARIA N.º 12 DE 20 DE MAIO DE 1958.............................. 103


APÊNDICE – K: PARECER AO PROJETO DE LEI QUE CRIA IMPOSTO
DE CONFERÊNCIA DE 4 DE FEVEREIRO DE 1963............................................ 104
APÊNDICE – L: LEI N.º 17, CAPÍTULO III DE 25 JULHO DE 1951.................... 105
13

1. INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada neste trabalho tem como cenário o município de Portel,
localizado na mesorregião do Marajó e microrregião de Portel, contando com uma população
de aproximadamente 52.172 habitantes de acordo com as últimas análises realizadas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010, sendo que a população
estimada em 2018 era de 61.126. O Instituto vem mostrar também, que o município até 2010,
possuía um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 11.716,46 reais, sendo sua economia
baseada principalmente na agricultura, extrativismo, pesca e na exploração madeireira para fins
de exportação1. Portel possui uma área total de 25.384.000 Km², sendo que o território urbano
possui uma área de 24.043 km² de extensão territorial, e o rural de 25.36.0957 Km²2
Embora o município esteja incluso politicamente no arquipélago do Marajó, é
importante ressaltar que geograficamente ele não pertence ao mesmo, pois não se constitui em
uma ilha, sendo uma península que possui uma pequena porção de terra que o liga ao Oceano
Atlântico e faz limites com o município de Melgaço a Norte; Bagre e Baião a Leste; Pacajá a
Sul, Porto de Moz e Senador José Porfírio a Oeste, como se pode observar no mapa abaixo3.
Figura 1 - Mapa da extensão territorial urbana do município de Portel.

Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Portel,+PA,+68480-000

1
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Índice de Desenvolvimento Populacional e Econômico do
município de Portel. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/portel/panorama. Acesso em: 07 de
agosto de 2019.
2
Dados sobre as características gerais do município de Portel. Levantamento da oferta turística do município
de Portel. Governo Municipal de Portel. Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo (SECELT),
2012, p. 11. Disponível em: http://www.setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/inventarioportel.pdf. Acesso em:
07 de agosto de 2019.
3
Ibid., p. 11.
14

A sede do município fica em frente a baía de Portel, sendo composta por quatro rios:
Anapú, Acutipereira, Camarapí e Pacajá. O mesmo é também conhecido como Pérola do
Pacajá, por conta da diversidade de praias e balneários que possui em quase toda sua extensão
urbana e rural. O município distancia-se da capital do Estado (Belém) a 326 km, sendo comum
o deslocamento por via fluvial, o qual dura por volta de (dezesseis) horas de viagem de navio e
(seis) horas de catamarã, sendo que algumas pessoas também optam por viajar de carro ou
motocicleta para chegar a Belém pela estrada que liga Portel/Baião/Tucuruí ou por avião
fretado.

Figura 2 - Mapa do trecho da estrada Porte-Tucuruí.

Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Portel,+PA,+68480-000.

O mapa acima, mostra a localização do aeroporto municipal Ambrósio, que fica no


Quilômetro doze, e um trecho da estrada que liga o município de Portel a cidade de Tucuruí. A
estrada foi aberta no período da gestão do ex-prefeito Paulo Ferreira da Costa 2013-2016 e, até
este ano de 2019 ainda não foi pavimentada, sendo que o acesso durante o inverno, se torna
bastante perigoso para quem trafega pela mesma.
O município de Portel possui um histórico que data do período “pré-colonial e
histórico”4, sendo que as informações oficiais disponíveis no site da Prefeitura, constam que a
cidade era um antigo aldeamento que foi fundado pelos padres jesuítas, sendo batizada pelo

4
MARTINS, Cristiane Pires; SCHAAN, Denise Pahl; SILVA, Wagner Fernando da Veiga e. Arqueologia do
Marajó das florestas: fragmentos de um desafio. In: Denise Pahl Schaan e Cristiane Pires Martins (org). Muito
além dos campos: arqueologia e história na Amazônia Marajoara. 2010, p. 129.
15

nome de Arucará5. No ano de 1758 Arucará é elevada à condição de vila, e no dia 24 de janeiro
do mesmo ano atinge a categoria de município sendo batizada pelo nome de Portel, que significa
“Porto Pequeno”6. No ano de 2004, foram encontrados diversos vestígios arqueológicos na zona
urbana da cidade, mais precisamente na praia de Arucará, e, em áreas da zona rural do
município, sendo que no ano de 2006 “o arqueólogo Fernandes Marques realizou uma visita
técnica à cidade de Portel a pedido do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
IPHAN, em função do aparecimento de grande quantidade de material arqueológico na área
urbana da cidade”7, sendo que alguns dos artefatos, podem ser atualmente encontrados no
Museu Municipal de Portel, Antônio Gonzaga da Rocha.
A Amazônia durante um longo período foi vista como um lugar demograficamente
vazio e sem desenvolvimento social e econômico, compreendida como região que precisava ser
desbravada, conquistada e integrada ao restante da nação8. Esse imaginário sobre a Amazônia
surge no Período Vargas, onde o mesmo lança sua proposta governamental pautado na ideologia
de um desenvolvimento econômico estatal, ligado a um ideal de construção de uma identidade
nacional na qual todas as regiões precisavam se integrar para que o país pudesse crescer9.
Os Planos de Desenvolvimento para a Amazônia surgem no período estadonovista, no
qual a linguagem nacional desenvolvimentista se faz presente em todo o período que Vargas
esteve no poder se estendendo até o Regime Militar, onde os Projetos e Programas de
Desenvolvimento para a Amazônia serão ainda mais intensificados.
A partir de uma análise historiográfica a respeito dos Grande Projetos para a
Amazônia, no período Estadonovista, Pós-Guerra, Juscelino Kubitschek e Ditadura Militar, foi
possível encontrar subsídios para compreender o que ocorria no município de Portel e na
Amazônia para melhor construir este trabalho, dessa forma, SOCIEDADE DA MADEIRA? A
AMACOL e as transformações socioeconômicas no município de Portel-PA nas décadas de
1960-1980, analisa as transformações socioeconômicas no município de Portel durante esse
período, propondo discussões sobre a experiência de produção fabril a partir da instalação da

5
Histórico do município de Portel. Disponível em: https://portel.pa.gov.br/portal/historia/. Acesso em: 20 de
agosto de 2019.
6
SILVA, José Mendes Santana da. Nordestinos em Portel. In: SCHAAN, Denise Pahl; PACHECO, Agenor
Sarraf; BELTRÃO, Jane Felipe. Remando por Campos e Florestas: memórias e paisagens dos Marajós. Livro
Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries. Rio Branco. GKNORONHA, 2011, p. 31.
7
MARTINS et al, op. cit., p. 128.
8
ANDRADE, Rômulo de Paula. Narrativas de natureza e destruição na construção da Rodovia Belém-
Brasília. XXVI Simpósio Nacional de História: conhecimento histórico e diálogo social - ANPUH. Natal-RN.
22 A 26 de julho de 2013. p. 03.
9
FERNANDES, Danilo Araújo. A Questão regional e a formação do discurso desenvolvimentista na
Amazônia. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Pará. Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2011. p. 57.
16

empresa Amazônia Compensados e Laminados (AMACOL) durante o período de auge da


madeira no município de Portel, analisando as transformações socioeconômicas e de trabalho
que ocorreram na sociedade portelense a partir do advento industrial/capitalista dentro do
município. Além disso, este também discorre sobre os meios de produção e de trabalho
baseados na agricultura e no extrativismo, que movimentaram a economia do município durante
as décadas de 1930-1950, antes da instalação da AMACOL.
De acordo com Carla Pinsky, “nós historiadores trabalhamos com fontes”10, a partir
delas é que vamos conseguir desenvolver nossos trabalhos, dar sentido a escrita da história
“penetrar em arquivos, ouvir depoimentos, manusear documentos, escarafunchar vestígios da
cultura material ou simbólica, decifrar impressos ou audiovisuais em busca das experiências de
nossos antepassados, aceitando os desafios da História”11 para reproduzir com
responsabilidade, práticas sociais e cotidianas dos sujeitos que durante muitos séculos foram
marginalizados pelas ciências humanas.

A utilização das fontes histórica não trata de buscar as origens ou a verdade de tal
fato, trata-se de entender estas enquanto registro testemunhos dos atos históricos. É a
fonte do conhecimento histórico, é nela que se apóia o conhecimento que se produz a
respeito da história. Elas indicam a base e o ponto de apoio, o repositório dos
elementos que definem os fenômenos cujas características se buscam compreender.12

Nesse sentido, o uso das Fontes históricas, tanto orais como documentais utilizadas
neste trabalho, são fundamentais para a produção historiográfica e construção do conhecimento.
Dessa forma, o procedimento metodológico utilizado neste trabalho foi o da História
Oral, no qual Portelli ressalta ter a mesma, uma peculiaridade diferente, “porque é aquela que
nos conta menos sobre eventos que sobre significados”13, sem implicar na sua validade
“factual”, pois alcança diversas camadas da vida social inexploradas por muitos pesquisadores
que durante séculos optaram por uma história positivista e burguesa, não considerando o
cotidiano e as histórias das camadas socialmente marginalizadas e excluídas, “que faz tanto
parte da história quanto os ‘fatos’ mais visíveis” 14.

10
PINSKY, Carla Bessanenezi. (org.). Fontes Históricas. 2. ed. 1ª. Reimpressão. São Paulo. Contexto, 2008. p.
07.
11
Ibid., p. 08.
12
XAVIER, Erica da Silva. Ensino e história: o uso das fontes históricas como ferramentas na produção de
conhecimento histórico. p. 644. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_historicas_como_ferram
entas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf. Acesso em: 14 de março de 2019.
13
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Proj. História, São Paulo, (14), fev. 1997. p. 31.
14
Ibid.
17

Alessandro Portelli também assinala, que “fontes históricas orais são fontes
narrativas”15, nas quais trazem em si, linguagens e saberes diferenciados a partir dos relatos de
memórias e experiências de pessoas que fazem parte de “povos iletrados ou grupos sociais, cuja
história escrita é ou falha ou distorcida”16. Nesse sentido, este trabalho se utilizará de fontes:
Orais: a partir de entrevistas com ex-operários da AMACOL, ex-trabalhadores rurais e antigos
moradores da cidade; Iconográficas: a partir de análises em fotografias das instalações da
empresa Amacol; Documentais: a partir de carteiras de trabalho, telegramas, recibos, portarias
e ofícios.
Durante essa trajetória, buscou-se fazer alguns diálogos historiográficos nos quais
deram embasamento para essa produção acadêmica sobre a história socioeconômica do
município de Portel, dentre os quais, pode-se citar a geografa Berta Becker, que permitiu refletir
sobre a Amazônia no contexto geopolítico capitalista; Sônia Mendonça, que vem analisar o
processo de industrialização brasileira; Marcos Napolitano, que faz algumas discussões sobre
o Brasil República e os anos do Regime Militar no Brasil; Maria Helena Capelato e Ângela de
Castro Gomes, que fazem analises sobre a Era Vargas; Matheus Eurich Arrais, Sidney Lobato,
Frederico Alexandre de Oliveira Lima e Set Garfield, vem fazer abordagens sobre a
historiografia da Amazônia; Wesley Pereira de Oliveira, José Raimundo Barreto Trindade e
Danilo Araújo Fernandes, que vem tratar sobre os Grandes Planos de Desenvolvimento para
Amazônia; Vânia Maria Losada Moreira e Rômulo de Paula Andrade, que trazem discussões a
respeito dos Anos JK.
O presente trabalho está organizado em dois capítulos, o Primeiro: Os Programas de
Desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia, está divido em quatro tópicos, nos
quais farão abordagens historiográficas a respeito dos Programas e Projetos de
Desenvolvimento para a Amazônia desde o período do Estado Novo (1937) até o Regime o
Militar (1964). O Segundo: Portel: uma sociedade em transformação a partir da economia
madeireira, está divido em três tópicos, no qual o primeiro vem trazer algumas análises a
respeito do município de Portel no cenário nacional durante as décadas de 1930-1950,
discorrendo sobre o processo socioeconômico e de trabalho baseados na agricultura e no
extrativismo antes da instalação da AMACOL. O segundo e terceiro tópico, trazem informações
sobre a presença da empresa AMACOL no município, analisando de que forma a mesma
influenciou na transformação socioeconômica e de trabalho em Portel e, como se dava as

15
Ibid., p. 29.
16
Ibid., p. 27.
18

relações comerciais entre a empresa e a prefeitura, verificando também, como estava


organizado o processo de trabalho dentro da AMACOL.
19

CAPÍTULO I
2. OS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO FEDERAL PARA A
AMAZÔNIA
As iniciativas do Governo Federal em criar programas de desenvolvimento para a
Amazônia, podem ser pensadas em três momentos específicos: primeiro, os planos de
colonização e integração da Amazônia ao restante do país instituídos no ano de 1938, pelo
presidente Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo; segundo, os projetos de construção de
rodovias e estradas na Amazônia no período Juscelino Kubistchek (JK) e, terceiro, os
programas de desenvolvimento para a Amazônia no período pós-guerra e por último, uma
abordagem sobre os programas de desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia no
período da Ditadura Militar.
De acordo com a geografa Bertha Becker, houve três fases significativas para o
processo de planejamento de ocupação e desenvolvimento da Amazônia. A primeira, segundo
ela, iniciou no período do Estado Novo em 1930, com os planos de ocupação regional. A
segunda se intensificando no governo JK, num período que corresponde de 1958 com a abertura
da rodovia Belém-Brasília e Brasília-Acre. A terceira fase se dá em 1966-1985, período da
Ditadura Militar, no qual são intensificados os planos de desenvolvimento para a Amazônia17.
Para a autora, no período que correspondeu o Estado Novo, a questão
desenvolvimentista ficou somente no discurso, sendo que, o que realmente continuou sendo
implantado na Amazônia foi somente uma política de migração e exportação, se contrapondo
ao projeto industrializante nacional-estatal que se pretendia implantar em todo país, para ela,
“se acelerou e se tornou contínuo o processo de ocupação da Amazônia, com base na
dominância absoluta da visão externa e privilégio das relações com o centro de poder
nacional”18. O Estado se manteve no controle das relações capitalistas interna e externa,
beneficiando apenas a elite regional, enquanto a população se mantinha na situação de
explorados e desassistidos, bem diferente do prometido e intensificado nas propagandas de
rádio e televisão.
No que corresponde ao período JK, Becker ressalta que se inicia de forma efetiva o
plano de desenvolvimento para a Amazônia a partir da abertura das rodovias “acentuou-se a
migração que já se efetuava em direção a Amazônia, crescendo a população regional de um

17
BECKER, Bertha K. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: É possível identificar modelos para
projetar cenários? Modelos e cenários para a Amazônia: o papel da ciência. Parcerias estratégicas. n. 12.
Setembro de 2001. p. 136-137.
18
Ibid., p. 136.
20

para cinco milhões entre [as décadas] 1950-60, e de modo acelerado a partir de então”19. Nesse
sentido, percebe-se durante esse período, que os planos com a abertura das rodovias Belém-
Brasília e Brasília-Acre, também estavam mais no campo das relações de caráter capitalista,
com o intuito de expandir produtos e ter melhor acesso aos recursos da região, do que investir
na política de industrialização e assistência social dentro da Amazônia.
No período de 1966-1985, a autora ressalta que foi um momento em que a região
recebeu mais atenção do governo federal pois, o “Estado tomou a si a iniciativa de um novo e
ordenado ciclo de devassamento amazônico, num projeto geopolítico para a modernidade
acelerada da sociedade e do território nacionais”20, além disso, a Amazônia representava nessa
nova fase, um campo de soluções para amenizar os problemas causados pelas tensões internas
em relação a questões fundiárias e falta de modernização nos setores da agricultura e pecuária.
Durante o pós-guerra, a Amazônia ganha novos olhares, embora os discursos
desenvolvimentistas e nacionalistas ainda estejam bastante impregnados durante o período, é
nesse momento que são criadas leis, voltadas a garantir destinações de verbas para o
desenvolvimento socioeconômico da região, também é criada nesse período, a primeira
Superintendência do Plano de Valorização e Desenvolvimento para a Amazônia (SPVEA), na
qual serão geridos programas e projetos propostos para a Amazônia.
Dessa forma, este capítulo busca refletir a respeito das políticas de desenvolvimento
estabelecidas para a Amazônia, fazendo analises a respeito das transformações sociais e
ideológicas ocorridas no Brasil durante o período Republicano a partir da década de 1930 até
os primeiros anos do Regime Militar, ocorridos na segunda metade de 1960, buscando dessa
forma, compreender o que motivou o interesse pela região e a construção do imaginário
amazônico.

2.1. As políticas varguistas no Estado Novo para a Amazônia


O período do Estado Novo, foi marcado por profundas transformações na política e na
sociedade brasileira. Getúlio Vargas, tinha, como principal objetivo, desenvolver o país a partir
da criação de indústrias estatais, a fim de valorizar o mercado interno e diminuir a dependência
de exportações de produtos para outros países. Foram investidos capitais para a construção de
fábricas e industrias que pouco tempo depois, foram capazes de produzir produtos que antes
eram importados, como o dos setores da metalurgia e siderurgia, substituindo dessa forma, em

19
Ibid., p.137.
20
BECKER, loc cit.
21

pouco tempo, a política colonial de exportação de café e de outros produtos agrícolas. Vargas
pretendia nacionalizar a exploração das riquezas do país21.
“Se o Brasil entrava na década de 1930 deixando de ser, como se dizia à época, um
‘país essencialmente agrícola’, o Estado seria o principal agente dessa transformação” 22, pois,
somente a partir dos investimentos estatais que, a consolidação da implantação dos setores
industriais de produção foi possível no país23.
Além do projeto desenvolvimentista a partir de um viés ideológico nacionalista24,
Vargas pretendia também, construir um sentimento de nacionalidade e pertencimento, era
necessário definir uma identidade nacional e, elaborar estratégias de como incluir o povo à
nação, a partir da desconstrução dos estereótipos negativos constituídos historicamente a
respeito do povo brasileiro25.
Vargas contou com diversos intelectuais da área da literatura, artes e música, que
teoricamente traduziram o povo brasileiro, a partir dos aspectos culturais, sociais e físicos, para
assim construir uma “brasilidade”,26 que pudesse definir de forma positiva o povo brasileiro. O
nordestino, o negro, o índio e o mulato ganharam novas características a partir das propagandas
de rádios e televisão. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), controlava tudo o que
poderia ou não ser divulgado na ditadura de Vargas. De “preguiçoso”, o povo agora era visto
como “doente”, por isso não conseguia trabalhar, desassistidos socialmente, sem oportunidades
de acesso à educação, saúde e trabalho, por isso necessitava de um “pai”, para tirá-lo da “miséria
social e intelectual”27.
Durante o Estado Novo foram criados programas nas áreas da educação e da saúde,
que pudessem, a partir das perspectivas do governo, “minimizar as mazelas da população mais
pobre”, também foram constituídas leis trabalhistas, que garantiram direitos à população no
caso de doenças no trabalho, licença maternidade, morte de um dos cônjuges, etc. A partir de
todos esses fatores, Vargas foi ganhando popularidade e se estabelecendo no poder, se tornando

21
MENDONÇA, Sônia. A industrialização brasileira. São Paulo. Editora: Moderna, 1995, p. 41.
22
Ibid., p. 41.
23
Ibid., p. 42.
24
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil república: da queda da Monarquia ao fim do Estado Novo.
Coleção História na Universidade. São Paulo. Editora: Contexto, 2016. p. 136.
25
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Sinais da modernidade na era Vargas: vida literária, cinema e rádio. In: Jorge
Ferreira e Lucila de Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo do nacional estatismo: do início
da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro. Editora: Civilização brasileira, 2007. p. 325-347.
26
NAPOLITANO, op. cit., p. 136.
27
CAPELATO, Maria Helena. Propaganda Política e Controle dos meios de comunicação. In: Dulce Pandolfi
(org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro. Editora: Fundação Getúlio Vargas, 1999, 171.
22

ao longo do tempo o “pai dos pobres”28. A propaganda foi um instrumento crucial para garantir
o controle sobre o povo29.
A propaganda política também foi fundamental para incentivar a migração para
Amazônia e outras partes da região conhecida como “sertões” do Brasil. A “Marcha para o
Oeste”30 foi inclusa nos projetos do Estado Novo com o objetivo de colonizar e ocupar os
espaços considerados “vazios” do território nacional, sendo a Amazônia relacionada
demograficamente a esse contexto, vulnerável a possíveis ameaças externas e que precisava ser
integrada ao restante do país. “Alguns intelectuais participaram ativamente na formulação de
mensagens promocionais sobre a expansão do Oeste e de uma nação que marcha em direção a
conquista de si mesma”,31 isso contribuiu tanto para o processo de migração e integração,
quanto para a exploração da borracha no espaço amazônico.
De acordo com Ângela de Castro Gomes:

O Estado Novo, como outros regimes autoritários seus contemporâneos, estabelecia


como meta estratégia para a segurança nacional um efetivo controle sobre povo e
território, cuidando-se das fronteiras do país, ameaçadas, quer por inimigos externos,
quer por inimigos internos.32

Para a autora, Vargas entendia que era preciso ser cauteloso e estratégico, para que as
fronteiras do país não ficassem vulneráveis, principalmente o território que corresponde a
Amazônia Legal, que contém na sua geografia, ligações fronteiriças com outros países da
América do Sul. O plano nacionalista-integralista de Vargas tomou rumos e ações que
transformou a Amazônia em todos os aspectos, tendo as suas justificativas, “contidas nos
discursos de cunho ideológico que, muitas vezes, acompanharam as campanhas para sua
efetivação enquanto um projeto importante para a inserção do país na modernidade”33.
Segundo Matheus Eurich Arrais:

O governo precisava produzir um material que justificasse o projeto Marcha para o


Oeste. E para isso o uso de símbolos seria indispensável. Nesse caso, o ato de
relacionar a Marcha às bandeiras, ou seja, retomar o mito da colonização. Getúlio
Vargas iria recolonizar o Brasil. Por isso, a Marcha é necessária para entendermos as
relações do governo com a população.34

28
NAPOLITANO, op. cit., p. 159.
29
CAPELATO, op. cit., p. 174.
30
CARVALHO, Ana Paula Rodrigues. As bandeiras no Estado Novo: o conceito de biodemocracia em a
marcha para o oeste de Cassiano Ricardo. Revista Especialidades [online]. 2018, v. 13, n. 1. p. 02.
31
Ibid., p. 04.
32
GOMES, Ângela de Castro. Olhando para Dentro. Vol.4. 2013. p. 46.
33
ARRAIS, Matheus Eurich. A marcha para o Oeste e o Estado Novo: A conquista dos sertões. Artigo de
conclusão de curso (Graduação em História). Brasília-DF, 2016. p. 06.
34
Ibid., p. 7-8.
23

De acordo com o autor, os símbolos utilizados no Estado Novo para dar validade ao
projeto da marcha para o Oeste foram fundamentais para que a mesma fosse abraçada por
grande parte da população, pois, foi instituído pela propaganda, um espirito de nacionalidade,
a ideologia do amor à pátria, o sentimento de pertencimento ao qual todos os “filhos” deveriam
ter com à “pátria mãe”, sendo todos responsáveis pela integridade e proteção da mesma.
Todos esses elementos, serão insistentemente intensificados durante o período do
Estado Novo, o que garantiu o controle da população e mascarou problemas sociais
relacionados a reivindicações pela reforma agrária. A marcha para o oeste simbolizou nesse
sentido, a caminhada colonial das bandeiras paulistas rumo aos sertões, dessa forma, o convite
ao povo para a marcha, seria de recolonização dos espaços “vazios” da Amazônia e de
integração da mesma à Nação.
Além da Marcha para o Oeste, a Batalha da Borracha35 trouxe um grande índice de
pessoas vindas de todos os cantos do país, principalmente do Nordeste, para a Amazônia.
Atraídos pela propaganda de enriquecimento e de terra de fartura, homens e mulheres migraram
em busca de uma vida melhor, no entanto, a propaganda não consistia somente no incentivo à
migração, mas na missão patriótica de chamar “soldados da borracha”36 para trabalhar nos
seringais na extração do látex para fabricação de bolas de borracha, que seriam enviadas aos
Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial. Segundo Garfield:

A entrada dos Estados Unidos na guerra e a tomada dos territórios produtores de


borracha do Sudeste asiático pelo Japão alteraram a natureza do engajamento político
e do debate sobre a Amazônia nos Estados Unidos. A ameaça de uma iminente
escassez da borracha levou o governo a intervir de forma decisiva, tanto internamente
como na Amazônia, a fim de maximizar a oferta: internamente, o governo dos Estados
Unidos subsidiou a criação de uma indústria da borracha sintética; na Amazônia, sua
prioridade se deslocou da pesquisa botânica e do desenvolvimento de plantations para
a expansão do comércio da borracha silvestre.37

Para o autor, acima citado, todos esses fatores desencadearam uma série de tensões
políticas dentro dos Estados Unidos da América (EUA), entre grupos ligados aos partidos:
Liberal e Conservador. Da perspectiva liberal, se tinha uma forte dúvida com relação ao
crescimento das exportações da borracha durante a guerra que, pudesse suprir as necessidades

35
LOBATO, Sidney. A historiografia da migração da Amazônia do século XX: pressupostos, teses e debates.
Fronteiras do tempo: Revista de Estudos Amazônicos, nº 5, 2014, p. 11-26.
36
LIMA, Frederico Alexandre de Oliveira. Soldados da Borracha: das vivências do passado às lutas
contemporâneas. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013. p. 11.
37
GARFIELD, Seth. A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 29, nº 57, 2009, p. 20.
24

dos EUA, e, por sua vez, o país pudesse atender as aspirações regionais que se pretendia no
Estado Novo.
Por isso, defendiam que o governo dos Estados Unidos apoiasse uma modesta
industrialização, a aplicação de leis trabalhistas e a expansão do comércio
complementar de commodities na América Latina, como forma de modernizar
economias “colônias” e promover a ascensão social38.

Dentro desse discurso liberal, o autor ressalta que o interesse dos EUA pela Amazônia
não se resume a questão desenvolvimentista da mesma, até porque o discurso com relação a
desenvolvimento e integração é do governo Varguista, o que se solidificou nas relações com os
norte-americanos a partir dos interesses envolvendo a região, no entanto, segundo Garfield,
dentro do debate sobre a Amazônia e a exportação da borracha, no imaginário norte-americano,
se enfatizava o discurso de que os brasileiros eram incapazes de administrar os recursos e
riquezas que possuíam, sendo necessárias intervenções na sociedade amazônica a fim de
moderniza-la nos âmbitos técnicos e econômicos a partir da “liderança dos Estados Unidos” 39.
Da perspectiva do grupo político dos conservadores, havia críticas com relação à
política de ajuda socioeconômica norte americana dentro dos acordos com o Brasil durante a
guerra, pois, “criticavam duramente o uso da influência política norte-americana e da ajuda
econômica para melhorar as condições sociais na Amazônia” 40, sendo que estas prejudicavam
a soberania brasileira. No entanto, o autor também ressalta que os conservadores, não estavam
interessados no desenvolvimento da Amazônia, o discurso em torno da soberania era um
suporte para dizer que o Brasil era que deveria aprender a lidar com suas mazelas sociais e, que
o próprio governo quem deveria fazer investimentos na região, e não o dinheiro sair dos EUA
para isso, o interesse na verdade, estava somente na exportação da borracha.
Embora as divergências existentes entre Liberais e Conservadores nos EUA com
relação às políticas que deveriam ou não ser adotadas na Amazônia, os diálogos entre os dois
governos foram fundamentais para definir alianças e acordos.
A entrada dos Estados Unidos na guerra foi crucial para que o Brasil se posicionasse
com relação a quem iria apoiar durante a mesma, já que também estabelecia relações comerciais
com a Alemanha. Vargas não queria perder o apoio financeiro dado pela Alemanha na
construção das indústrias no Brasil, no entanto, os EUA se engajava fortemente junto aos países
da América Latina, inclusive o Brasil, para tentar estabelecer uma relação econômica e cultural
amistosa, a fim de desfazer as impressões negativas que ambos os países tinham um do outro

38
Ibid., p. 21.
39
GARFIELD, loc cit.
40
GARFIELD, loc cit.
25

e, garantir o fortalecimento do capitalismo nos países da América 41. As propostas dos EUA
para o Brasil foram muito mais intensas e atrativas, fazendo com o governo brasileiro se
posicionasse favorável a eles durante a guerra.

Esse processo de aproximação dos Estados Unidos com o Brasil foi possível graças à
montagem e à organização da política da boa vizinhança durante o governo Roosevelt.
Foi ali que se montou o americanismo. Uma ideologia programática cujo objetivo era
suplantar outros “ismos” vigentes no Brasil e na América latina 42.

Com o fortalecimento das relações com os EUA, Vargas assumiu uma posição de
apoio aos norte-americanos. A Amazônia seria a grande “salvação” para os americanos em
torno da questão da borracha, o que viria a solucionar os problemas por conta da falta da matéria
prima, essencial para a fabricação de equipamentos de uso na guerra. Para o Estado Novo, a
chamada dos Soldados da Borracha, resolveria o problema do país em relação a colonização e
ocupação da Amazônia, já que essa, era imaginada pelo governo como espaço vazio a ser
ocupado e integrado ao restante do país.
Essa aproximação possibilitou diversos acordos entre Brasil e Estados Unidos, nos
quais estabeleciam planos de desenvolvimento para a Amazônia, integração regional e
exportação da borracha para os Estados Unidos. Ocorre, nesse momento, a retomada da
produção gomífera na Amazônia ou o Segundo Ciclo da borracha.
Durante o período, foi criado o Programa Amazônia 43, que objetivava controlar a
malária na região, principalmente onde tinha os seringais, “tal política, [...] era parte do
compromisso estabelecido pelos Acordos de Washington de aumentar a produção de
borracha”.44 Como se pode perceber, a política da boa vizinhança foi aos poucos ganhando
proporções maiores, pois as relações e acordos entre os países, possibilitaram investimentos na
Amazônia que foram além da política de migração para integração, mas também de assistência
médica e sanitária para parte da população que habitava na região. No entanto, com relação a
política de desenvolvimento econômico, a Amazônia continuaria sendo usada somente como
fonte extrativista para o abastecimento do mercado externo.

2.2. Os programas de desenvolvimento para a Amazônia no pós-guerra

41
OLIVEIRA, op. cit., p. 342.
42
Ibid., p. 342.
43
FIGUEIREDO, R. E. D. A cooperação entre Brasil e Estados Unidos no campo da saúde: o Serviço
Especial de Saúde Pública e a política sanitária no governo Vargas. v.14, n. 4. 2007, p.1429-1434.
44
Ibid., p. 1430.
26

Com o final da Segunda Guerra Mundial, as exportações de borracha para os EUA


praticamente pararam, ficando a Amazônia novamente em desvantagem com relação a políticas
sociais, já que durante esse momento, se poderia observar que a política de migração acarretou
grandes problemas para a região, principalmente no aumento da pobreza, pois, muitas pessoas
que migraram em busca de uma vida melhor, se encontravam na situação de explorados pelas
elites, aviadores e comerciantes que se beneficiaram durante o período.
Para que a região não ficasse em situação de abandono com relação ao governo
Federal, já no período de redemocratização no governo do então Presidente da República Eurico
Gaspar Dutra (1946-1951) e, sem condições de manutenção dos seus órgãos, “o deputado do
Amazonas Leopoldo Peres tomou a iniciativa de elaborar uma emenda que deu origem ao art.
199 da carta constitucional de 1946”,45 na qual ressalta que:

Na execução do plano de valorização econômica da Amazônia, a União aplicará,


durante pelo menos, vinte anos consecutivos, quantia não inferior a três por cento da
sua renda tributária.
Parágrafo único - Os Estados e os Territórios daquela região, bem como os respectivos
Municípios, reservarão para o mesmo fim, anualmente, três por cento das suas rendas
tributárias. Os recursos de que trata este parágrafo serão aplicados por intermédio do
Governo Federal. 46.

A partir da emenda constitucional, vemos o compromisso estabelecido pela União com


relação à região amazônica, além disso, dentro do Plano de Valorização Econômica da
Amazônia (PVEA), tem-se também o compromisso dos Estados, territórios e municípios para
que o plano de desenvolvimento seja efetivado e, que a renda seja destinada à região como
forma de valorizá-la em outros aspectos, não somente no econômico, mas no educacional e
social.
De acordo com Oliveira et al, embora as exportações da borracha tenham sido
praticamente estagnadas, a indústria automobilística se tornava crescente, o que fez com que a
necessidade de consumo do produto aumentasse internamente, no entanto, “era uma opção que
iria a calhar não fosse à contestação no que tange ao preço da borracha (a borracha do Oriente
chegava a custar a metade do preço da borracha nacional)”47. Os problemas começaram a surgir

45
OLIVEIRA, Wesley Pereira de; TRINDADE, José Raimundo Barreto; FERNANDES, Danilo Araújo. O
planejamento do desenvolvimento regional na Amazônia no período de 1946-66 e sua relação com o ciclo
ideológico do desenvolvimentismo brasileiro. [2013?], p. 12. Disponível em:
http://www.abphe.org.br/arquivos/wesley-pereira-de-oliveira-jose-raimundo-barreto-trindade-danilo-araujo-
fernandes.pdf. Acesso em: 18 de abril de 2019.
46
BRASIL. Art. 199 da Constituição Federal de 18 de setembro de 1946. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10610482/artigo-199-da-constituicao-federal-de-18-de-setembro-de-1946.
Acesso em: 20 de abril de 2019.
47
OLIVEIRA et al, op cit., p. 11.
27

em torno do preço do produto, pois com a queda de preços no oriente, a pressão sobre as elites
na Amazônia para baixar os preços foi iminente, o que gerou problemas entre essas elites e
empresários do setor industrial, já que ambos visavam seus próprios interesses econômicos.
A possibilidade de solução para essas divergências diante de todos os impasses com
relação a manutenção da mão de obra nos seringais e a pressão advinda por parte do setor
industrial nacional, que seria o principal consumidor dessa matéria-prima da Amazônia, seria,
segundo Fernandes,

[...] a compreensão das possibilidades de conciliação destas duas tendências (quais


sejam: manutenção dos preços da borracha em níveis razoáveis, e defesa da
diversificação da produção e estímulo à produção agrícola em sintonia com os
interesses da indústria nacional), está na compreensão do processo econômico que
alimenta de conteúdo material e concreto as disputas políticas e o discurso
desenvolvimentista em questão48.

Portanto, as relações de negociações no mercado interno para fins de comercialização


da borracha como fonte de abastecimento a nascente indústria automobilística no país,
contribuíram para a busca de soluções aos conflitos gerados em torno da questão do
abastecimento gomífero a nível nacional e minimizar os impactos deixados na Amazônia com
a perda das exportações do produto para o mercado internacional no pós-guerra.

No ano de 1947, diante da crise que se instalara no setor, criou-se a Comissão de


Defesa da Borracha, pelo decreto 23.990, de 31 de outubro do mesmo ano, que
mantinha por um período de três anos os preços mínimos para o produtor e protegia
os industriais da borracha no mercado interno. O governo monopolizou a compra e
estocou quantidades do produto que excedessem as necessidades do mercado
nacional. 49

Essa medida, muito parecida com a tomada por Getúlio Vargas com a questão da crise
do café, fez com os problemas gerados em torno da produção gomífera pudessem ser
amenizados e contribuído para o abastecimento das industrias no mercado nacional interno.
Com a inclusão do art. 199 na carta constitucional, o governo viu a necessidade de
intensificar os debates em torno do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, já que o
que foi intensificado na região desde a década de 30, foi um forte processo de migração para
ocupação, no entanto, a política de industrialização, que era um dos planos do governo para o
país, não se efetivou na Amazônia, acarretando uma série de consequências negativas,
principalmente no setor econômico, que era voltado praticamente somente para a exportação

48
FERNANDES, op. cit., p. 267.
49
ANDRADE, Rômulo de Paula. A Amazônia no pós-guerra e a construção da rodovia Belém-Brasília.
Muiraquitã, UFAC. v. 3, n. 2, 2015. p. 163.
28

de produtos extrativistas e, uma larga escala de pessoas vivendo em situação de miséria e


pobreza.
A Amazônia não era vista nos debates enquanto região com especificidades e climas
diferenciados das outras regiões brasileiras, o que se pretendia era coloca-la na agenda do
“desenvolvimento e progresso” a partir das relações capitalistas, sem pretender um real
desenvolvimento para a região que buscasse a melhoria da população, contudo, “havia um
incentivo revelado por parte do governo central pela busca de melhorias das regiões menos
desenvolvidas do país, pois continuando tais regiões no atraso econômico seria um entrave ao
projeto de desenvolvimento nacional”50. Nesse sentido, percebe-se num dado momento o
interesse exclusivamente econômico para a região para que a mesma não venha a depender
totalmente das outras regiões da federação.
De acordo com Becker, o modelo geopolítico51 implantado na Amazônia no pós
Segunda Guerra Mundial, seguiu um caráter centralizador e baseado numa economia de
exportação mais voltada e pensada para o mercado externo do que interno, assim como no
período colonial, com as exportações das drogas do sertão e, com o primeiro e segundo ciclo
da borracha. Dessa forma, a “geopolítica esteve sempre associada a interesses econômicos, mas
estes foram via de regra mal sucedidos na sua implementação, não conseguindo estabelecer
uma base econômica e populacional estável, capaz de assegurar a soberania sobre a área”52.
Para Danilo Araújo Fernandes, na Amazônia houve diversas tentativas mal sucedidas
de converter a região a um projeto de desenvolvimento, desde o período colonial, até os tempos
atuais. Ele ressalta que o que fundamentou um modelo econômico e social para a Amazônia
durante a virada do século XIX e primeira metade do século XX, foram determinantes para
explicar o modelo predatório de exploração dos recursos naturais até hoje vigentes. Ele assinala
que predominou na Amazônia:

Um modelo econômico hegemônico com o predomínio do capital mercantil, da


dispersão populacional, da insipiente organização da produção agrícola, da baixa
verticalização de nossas cadeias produtivas, e do fraco nível de industrialização
regional, representaria, por esse ponto de vista, ingredientes de um modelo heurístico
de interpretação que se transformará em uma das marcas mais reconhecidas como
expressão e síntese das características da sociedade regional amazônica na primeira
metade do século XX.53

50
FERNANDES. op. cit., p.12.
51
Para Becker, geopolítica se define como uma ciência que estuda o território geográfico e as políticas vigentes
que se estabelecem no mesmo, buscando debater os problemas socioeconômicos a partir da perspectiva da
territorialidade, desenvolvimento econômico e político-ideológico. BECKER, Bertha K. Revisão das políticas
de ocupação da Amazônia: É possível identificar modelos para projetar cenários? Modelos e cenários para a
Amazônia: o papel da ciência. op. cit., p. 135-136.
52
BECKER, op. cit., p.135.
53
FERNANDES, op cit. p.172.
29

Embora na segunda metade do século XX já se tenha um modelo desenvolvimentista


a partir de um conceito industrializante, na região amazônica, a predominância ainda era do
extrativismo e, mesmo após a obrigatoriedade do repasse de no mínimo 3% da arrecadação do
governo Federal, estaduais e municipais, estipuladas no art. 199 da Carta Constitucional de
1946, ainda assim, os recursos eram insuficientes para suprir as necessidades de
desenvolvimento para a região.
Diante de vários debates e da noção de valores de “quanto seria disponibilizado de
recursos para tornar real o plano de valorização da Amazônia”54, não se sabia ainda como
direcionar esses recursos ou de que forma poderiam ser utilizados para minimizar os problemas
da região e desenvolve-la.
Em 1953, já no período democrático da era Vargas, após a aprovação do projeto de
Lei do deputado Eduardo Duvivier sobre a proposta de criação de uma Superintendência de
Valorização da Amazônia debatida no ano de 194655, foi estipulada a partir da Lei nº 1.806 de
06 de janeiro de 1953, na qual dispõe sobre o Plano de valorização Econômica da Amazônia, a
criação da Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPEVEA), da sua
execução e outras providências. A lei especifica que:

Art. 1º O Plano de Valorização Econômica da Amazônia, previsto no Art. 199 da


Constituição, constitui um sistema de medidas, serviços, empreendimentos e obras,
destinados a incrementar o desenvolvimento da produção extrativa e agrícola
pecuária, mineral, industrial e o das relações de troca, no sentido de melhores padrões
sociais de vida e bem-estar econômico das populações da região e da expansão da
riqueza do País.
Art. 2º A Amazônia brasileira, para efeito de planejamento econômico e execução do
Plano definido nesta lei, abrange a região compreendida pelos Estados do Pará e do
Amazonas, pelos territórios federais do Acre, Amapá, Guaporé e Rio Branco e ainda,
a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16º, a do Estado de Goiás a
norte do paralelo de 13º e a do Maranhão a oeste do meridiano de 44º.
Art. 3º Os recursos do Art. 199, e parágrafo único, da Constituição, não poderão ser
aplicados em medidas, serviços, empreendimentos ou obras, que não tenham fim
estritamente econômico ou relação direta com a recuperação econômica da região.
Art. 4º A execução do plano geral, ou dos planejamentos ou programas parciais de
trabalho, deverá obedecer à seleção dos problemas regionais e à prioridade que devam
ter pela importância que apresentem no sistema econômico em que se incluem 56.

Os quatro artigos da Lei, nos mostram os objetivos do Plano de Valorização da


Amazônia, especificando em quais estados deverão ser destinados os recursos das verbas
arrecadadas no art. 199 da Constituição sobre os 3% que deverão ser destinados à região.

54
OLIVEIRA et al, op cit p. 12.
55
Ibid., p. 13.
56
BRASIL. Lei nº 1.806 de 06 de janeiro de 1953, Rio de Janeiro, 132º da Independência e 65º da república.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-
publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 17 de março de 2019.
30

Também é bastante explícita no art. 3º a destinação dessa verba, a qual fica estritamente voltada
a questão econômica para a recuperação e desenvolvimento da região.
No Art. 7º, estão presentes a destinação que a lei regula para o Plano de Valorização
da Amazônia.

Art. 7º O Plano de Valorização que a presente lei regula destina-se a:

a) promover o desenvolvimento da produção agrícola, tendo em vista as


condições ecológicas da região, a diferenciação e a fertilidade dos solos, o zoneamento
e a seleção de áreas de ocupação no sentido de maior produtividade do trabalho e
melhor rendimento líquido; a produção extrativa da floresta, na base dos preços
mínimos compatíveis com o custo da vida na região:
b) fomentar a produção animal, tendo em vista principalmente a elevação dos
índices de nutrição das populações amazônicas; promover a solução dos problemas
que interessem a pecuária, a defesa e o melhoramento dos rebanhos :
c) desenvolver um programa de defesa contra as inundações periódicas, por obras
de desaguamento e recuperação das terras inundáveis;
d) promover o aproveitamento dos recursos minerais da região;
e) incrementar a industrialização das matérias primas de produção regional para
o abastecimento interno e a exportação mais densa dos produtos naturais:
f) realizar um plano de viação da Amazônia, que compreenda todo o sistema de
transportes e comunicações tendo em vista principalmente as peculiaridades do
complexo hidrográfico, sua extensão e importância na economia regional, e as bases
econômicas e técnicas de sua gradual execução:
g) estabelecer uma política de energia na região em bases econômicas, pela
utilização e conservação das suas fontes, a organização do abastecimento de
combustíveis, a eletrificação dos principais centros de produção e da indústria e a
utilização racional dos recursos naturais;
h) estabelecer uma política demográfica que compreenda a regeneração física e
social das populações da região pela alimentação a assistência à saúde o saneamento
a educação e o ensino, a imigração de correntes de população que mais convenham
aos interêsses da região e do País, e o agrupamento dos elementos humanos da região
ou de outros Estados em áreas escolhidas, onde possam constituir núcleos rurais
permanentes e desenvolver a produção econômica.
i) estabelecer um programa de desenvolvimento do sistema de crédito bancário
regional e das respectivas operações;
j) fomentar o desenvolvimento das relações comerciais com os mercados
consumidores e abastecedores, e ter em vista, inclusive, as relações com os países
vizinhos e a política continental brasileira:
k) manter um programa de pesquisas geográficas naturais, tecnológicas e sociais
e de preparação. recrutamento e fixação de quadros técnicos e científicos na região
tendo em vista orientar atualizar e aperfeiçoar a compreensão do Plano e fornecer os
elementos técnicos para sua execução;
l) incentivar o capital privado ao sentido de interessar iniciativas destinadas ao
desenvolvimento das riquezas regionais inclusive em empresas de capital misto ou em
consociação com os órgãos públicos empenhados na realização de empreendimentos
constantes do Plano de Valorização Econômica da Amazônia :
m) orientar o organização administrativa especifica para as funções permanentes
de pesquisas, programação e controle técnico-econômico da execução do Plano bem
como para sua execução, no todo ou em programas parciais inclusive medidas de
coordenação na administração federal entre os órgãos federais e os governos estaduais
e municipais, ou entidades a eles subordinadas:
n) manter um serviço de divulgação econômica e comercial, com órgãos e meios
próprios para conhecimento, a todo tempo da produção efetiva da região, das
possibilidades potenciais e condições ecológicas, da situação dos mercados
31

consumidores e concorrentes, inclusive por meio de mostruários nas principais praças


de país e nos maiores centros de consumo de matérias-primas tropicais57.

O artigo 7º da Lei acima citada, mostra que o Governo da época tinha uma certa
preocupação relativa a destinação de recursos para a promoção do desenvolvimento agrícola;
da produção extrativista; produção animal intensificada no interesse do desenvolvimento da
pecuária na região; implementação de programas que pudessem viabilizar soluções para os
problemas de inundação na região e possíveis perdas de produtos agrícolas; promoção e
aproveitamento dos recursos minerais e incremento da industrialização dos produtos regionais
para abastecimento das necessidade do mercado interno e externo. Além disso, traz objetivos
relacionados a implementação de tecnologias, como plano de viação, política de instalação de
energia elétrica para melhor organização dos espaços que pudessem garantir abastecimento de
combustível e eletrificação suficientes para a promoção de centros urbanos industriais.
Enfim, o artigo também ressalta a preocupação de se estabelecer uma política
demográfica e social que pudesse garantir assistência à alimentação, saúde, educação e
saneamento básico para a polução da região, também se tinha o interesse de fomentar a
migração ao que “mais convinha aos interesses da região e do país”, ou seja, novamente se
estipula a política do povoamento na Amazônia, principalmente para minimizar os problemas
regionais do centro-sul do país. Também se propôs a fomentar linhas de crédito que pudessem
contribuir para as relações comerciais e bancarias, nesse contexto podemos citar a criação do
Banco de Crédito da Borracha (BCB) 58, com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento
da melhoria da produção gomífera na Amazônia; implementação de programas de pesquisas
geográficas que pudessem nortear e melhorar o conhecimento a respeito da região; incentivação
do capital privado, a partir da criação da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA)59,
a fins de melhorar o desenvolvimento das riquezas regionais; orientação e organização
específica para as funções de pesquisas permanentes e manutenção de um serviço de divulgação
econômica e comercial com órgãos e meios próprios para conhecimento, a todo tempo, da
produção efetiva da região.
Dessa forma, o que se pode observar a partir desses objetivos estipulados na lei para
fins de destinação do Programa de Valorização da Amazônia, é que havia um interesse de
controle da região pelo Governo Federal, não somente na base da produção extrativista, pois,
nesse momento se implementa a questão agrícola e pecuária, vinculadas novamente a um plano

57
Id., 1953.
58
FERNANDES, op. cit., p. 270.
59
Ibid., p. 279.
32

de migração e povoamento como forma de estilizar a região a partir de outros modelos vindos
de diversas partes do país. Agora seria povoar para estimular um novo modelo de produção
regional.
O Art. 8º da referida lei, também nos mostra a criação de outro órgão, seria o Fundo
de Valorização Econômica da Amazônia, o qual daria suporte para o Plano de valorização.
Sendo que o Parágrafo primeiro ressalta que:

§ 1º O Fundo de Valorização Econômica da Amazônia será constituído com:


a) 3% da renda tributária da União;
b) 3% da renda tributária dos estados, territórios e Municípios, total ou
parcialmente compreendidos na área da Amazônia Brasileira (At. 2º)
c) As rendas oriundas dos serviços do Plano de Valorização Econômica da
Amazônia, ou sua exploração dos atos ou contratos jurídicos dela decorrentes;
d) O produto de operações de crédito e de dotações extraordinárias da União, dos
Estados e Municípios60.

Dessa forma, o Fundo de valorização Econômica da Amazônia passaria a controlar a


destinação das verbas previstas em lei para a execução do Plano de Valorização, já que o órgão
coordenaria os planejamentos e execuções de projetos dentro da Amazônia. No entanto, a lei
no seu Art. 16 enfatiza, que os projetos que já estão em andamento, sejam eles do Governo
Federal ou estadual, não serão interrompidos, podendo passar por modificações que visem
melhorias para a região.
Por fim, a Lei no seu Art. 22 também cita a criação da Superintendência de Valorização
Econômica da Amazônia (SPVEA), sediada em Belém, na capital do Estado do Pará, com o
objetivo de promover a execução do Plano de Valorização da Amazônia, a qual ficaria
inteiramente subordinada à presidência da República.

Somente em 1954, com o Decreto nº 35.020, de 08 de fevereiro, Vargas aprovou o


orçamento e o Programa de Emergência (PE) da Valorização Econômica da
Amazônia. Para começo das atividades de intervenção na região, o PE foi elaborado
pela Comissão de Planejamento. A Comissão fez uma divisão dos trabalhos em seis
subcomissões – i) produção agrícola, ii) transportes, comunicações e energia, iii)
desenvolvimento cultural, iv) recursos naturais, v) saúde e vi) crédito e comércio –
para estudar diferentes temas da região amazônica visando apontar seus problemas
básicos e, a partir disso, esboçar uma lista de prioridades 61.

Passou um ano desde a criação da SPEVEA, para que houvesse uma concretização nos
estudos orçamentários para o desenvolvimento e aprovação do orçamento de um plano
emergencial para a Amazônia. O autor cita acima, o que foram as primeiras medidas,

60
BRASIL, op. cit.
61
OLIVEIRA et al, op. cit., p.15.
33

asseguradas por lei, para esse plano, que tinha como principal objetivo, intervir na produção
agrícola, na expansão da agropecuária, instalação de energia elétrica, transportes, comunicação,
saúde, desenvolvimento cultural, crédito e comércio.
Além da SPVEA, também foram criados outros órgãos na Amazônia, principalmente
os voltados para área da tecnologia e fomento na diversificação dos produtos agrícolas regionais
como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em 1954, sendo ambos geridos
pelo Governo Federal.

No que diz respeito ao setor de pesquisa e experimentação agropecuária e biológica,


por exemplo, seriam ainda criados o Instituto Agronômico do Norte (IAN) (que
passará a ser integrado posteriormente, durante a década de 70, à rede EMBRAPA
constituindo o Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido – CPATU-
EMBRAPA); além do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) (que passa por um
processo de federalização, sendo então integrado à rede de instituições de pesquisa
ligadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ,
criado em 1952). Com estas duas novas iniciativas, a pesquisa científica na Amazônia
passa a contar finalmente com três instituições de significativo peso e importância
para o desenvolvimento regional. Sendo que duas delas passam a fazer parte da nova
rede de instituições ligadas ao CNPq (uma em Manaus (o INPA); e uma em Belém (o
MPEG)); e outra ligada à rede de pesquisa agropecuária (IAN) 62.

De acordo com o autor acima citado, o interesse do governo em criar instituições


federais dentro da Amazônia, seria com a finalidade de organizar e gerenciar aparatos que
pudessem dar melhor suporte ao controle da região e a intervenção do governo federal nos
programas e projetos de desenvolvimento para a Amazônia. Ou seja, houve nesse momento,
uma centralização de poder relacionados à região, a partir dos órgãos responsáveis pela
administração dos recursos em prol do desenvolvimento da mesma.
Todos esses fatores, favoreceram uma grande porcentagem da elite regional amazônica
juntamente com empresários e indústrias estatais que se fortaleciam naquele momento e,
consolidavam a ideia nacional-desenvolvimentista “por dentro das instituições do Estado
brasileiro direcionadas para a Amazônia”63.
No ano de 1955, após a execução do Plano Emergencial, foi criado o I Plano
Quinquenal de valorização da Amazônia “elaborado pela comissão de planejamento da
SPVEA, o Plano era mais abrangente do que o emergencial”64 que tinha como finalidade,
garantir a execução do programa emergencial. Todos esses fatores, marcariam a criação da
Superintendência, o final da Era Vargas em 1954 e o largo tumultuo produzido na Amazônia
no final da Segunda Guerra Mundial.

62
FERNANDES. op. cit., p.277.
63
Ibid., p.278.
64
OLIVEIRA et al. op. cit., p.16.
34

Dessa forma, podemos observar que o período que compreende a metade da década de
1940 (pós-guerra), à primeira metade da década de 1950, foi crucial para o estabelecimento de
leis, planos e projetos que deram maior visibilidade para elaboração de programas de
investimentos em vários setores para a Amazônia, embora os recursos tenham sido mínimos
para uma região de extensão geográfica de tamanho continental, e não se tenha investido de
forma eficaz em pesquisas que pudessem realmente dar suporte para o conhecimento da área
em todos os seus aspectos que pudesse contribuir realmente para o desenvolvimento industrial
da mesma. Esses planos foram fundamentais para estabelecer um olhar diferenciado para a
Amazônia e para a população, como por exemplo, a iniciativa de propor intervenções nas áreas
da saúde, educação e saneamento básico, embora poucos investimentos tenham ocorrido
efetivamente para a melhoria do povo amazônico durante o período.

2.3. A Amazônia na política de Juscelino Kubitschek


O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) ficou conhecido pelo seu bastante
conhecido Plano de Metas, que consistia numa política com ideário nacional-
desenvolvimentista a partir de um modelo econômico baseado no fortalecimento do setor
industrial e na construção planejada da cidade de Brasília, hoje Distrito Federal e capital do
país. O ambicioso plano de metas tinha como Slogan “50 anos em 5”, no qual propunha, em
campanha política, um crescimento econômico para o país em cinco anos, que equivaleria a
cinco décadas.
Durante o período, ocorreu um amadurecimento e ampliação do discurso
desenvolvimentista para o Brasil. JK pretendia ampliar o projeto de industrialização brasileira
a partir de um planejamento econômico que pudesse subsidiar o desenvolvimento industrial-
estatal do país.
De acordo com Oliveira et al, o período JK e o Plano de Metas constituído no seu
governo, não demonstrou interesse no desenvolvimento de todas as regiões do país, “não inclui
a região amazônica como beneficiaria dos projetos, com exceção da construção da Belém-
Brasília, o que deixa a SPVEA e a Amazônia fora das grandes obras nacionais”65. Vemos nesse
sentido, um certo estancamento nos projetos e programas para a Amazônia, pois a não inclusão
da região no Plano de Metas, a deixou a mercê de políticas públicas e totalmente desassistida
dos programas de desenvolvimento social, regional e industrializante.

65
Ibid., p. 19.
35

Para Vânia Maria Losada Moreira, o governo JK, “foi, de longe, o mais bem-sucedido
da experiência democrática”66, por conta das diversas crises econômicas e sociais que ocorriam
no período, além das fortes críticas da oposição com relação ao perfil nacional-
desenvolvimentista estipulada no plano de metas do mesmo. Segundo a autora, Juscelino
pretendia manter a “ordem” nacional e apaziguar possíveis divergências a partir do “programa
juscelinista”, que buscava fazer face tanto a direita quanto à esquerda política a partir de
estratégias com uso de projetos que pudessem atender as demandas de ambas as partes para que
suas metas fossem desenvolvidas, se destacando dessa forma, a partir de um perfil “ruralista,
nitidamente conservador e autoritário, e o nacionalista econômico, crescentemente reformista e
abertamente popular”67
O perfil nacional-desenvolvimentista de JK foi amplamente estampado em sua
campanha para a presidência, sendo que tal ideologia já era bastante visível desde quando fora
prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas gerais, “cujos traços essenciais eram o
compromisso com a democracia e com a intensificação do desenvolvimento industrial de tipo
capitalista”68. Pretendia acelerar o desenvolvimento nacional, como assinala claramente no
slogan de campanha presidencial, fazendo a economia crescer em cinco anos, o que levaria
cinco décadas, a partir de projetos de desenvolvimento dos setores de energia elétrica e
transporte. Esse tipo de propaganda foi totalmente inovadora, já que “número, metas e
estatísticas, não faziam parte do estilo da época”69.
Os anos do governo JK foram bastante conflituosos e intensos, pois, embora
assumindo a “linguagem do desenvolvimento nacional”70, optou por favorecer a participação
do capital estrangeiro, principalmente dos Estados Unidos, que irão financiar e implantar,
diversas empresas multinacionais durante o período. O governo “ofertava o desenvolvimento
nacional como algo de todos e para todos, cujo resultado final seria a transição do Brasil para o
mundo das nações ricas, modernas e portadoras de bem-estar social”71, no entanto, o ideal

66
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural.
In: Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo da experiência
democrática-da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Volume: 3. 2ª ed. Civilização brasileira.
Rio de Janeiro, 2008. p. 158.
67
MOREIRA, loc cit.
68
Ibid., p. 159.
69
MOREIRA, loc cit.
70
Moreira assinala que o governo JK, junto com os intelectuais isebianos, desenvolveram uma “linguagem
nacionalista”, ou seja, um modo de falar com o povo de forma a conquistar a confiança dos mesmos, alimentando
uma ideologia de progresso e desenvolvimento a partir da esfera nacionalista. MOREIRA, Vânia Maria Losada.
Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural. In: Jorge Ferreira e Lucilia de
Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática-da democratização de
1945 ao golpe civil-militar de 1964. op. cit., p. 157-194.
71
MOREIRA, op. cit., p. 165.
36

desenvolvimento nacional, não se aplicava a todos como dizia a propaganda, a classe de


trabalhadores mais pobres e o restante da população, principalmente os camponeses e indígenas,
não estava inclusa no projeto.
Para Sônia Mendonça, o período Kubitschek estabeleceu três características, na qual
ela chama de “tripé da industrialização brasileira” 72, que serão fundamentais para
compreendermos a política de desenvolvimento do governo. De acordo com a autora, a primeira
característica da industrialização brasileira foi a criação do setor de bens e consumos duráveis,
no qual estão inseridos a produção de eletrodomésticos e automóveis. A segunda característica
é o fato dessas industrias do primeiro setor serem do capital estrangeiro. Na terceira, aparece o
fato da participação do capital privado e estatal no setor industrial73. Todas essas medidas,
implicaram consequências significativas na estrutura econômica do país, que surtiram graves
efeitos no crescimento industrial e inflacionários, sendo abafados pelo governo até o final do
mandato.
O documento econômico, mais conhecido como Plano de Metas, estabelecia dois
objetivos:

A curto prazo, buscava acelerar o desenvolvimento industrial do país, aumentando os


investimentos e sua lucratividade. A médio prazo, visava elevar o nível de vida da
população brasileira, na crença de que a miséria seria superada pela criação de muitos
empregos e de um ‘moderno modo de vida’ 74.

Muito além dos objetivos destacados, o plano foi dividido em 30 metas, “distribuídos
nos setores de energia (metas 1 a 5), transporte (metas 6 a 12), alimentação (metas 13 a 18),
indústria de base (metas 19 a 29) e educação (meta 30)”.75 A construção de Brasília não fazia
parte do plano de metas no período da campanha, mas logo depois, foi inserida como prioridade
no mesmo, sendo chamada de “meta-síntese, pois ela simbolizava um ‘novo Brasil’, penetrado
pela civilização do automóvel”76.
Para Andrade 2015, Mendonça 1995 e Moreira 2008, existe uma certa unanimidade
em afirmar que o governo JK conseguiu realizar com sucesso a maior parte do seu ambicioso
plano de metas, principalmente aos que correspondem os setores de energia e transporte,

72
MENDONÇA. op. cit., 56.
73
De acordo com Mendonça, o tripé da industrialização do país, como já foi visto, era composto pelas empresas
produtoras de bens de consumo duráveis (a cargo do capital estrangeiro), pelas produtoras de bens de consumo
correntes (a cargo do capital nacional) e pelas indústrias de base (a cargo do Estado). MENDONÇA, Sônia. A
industrialização brasileira. op. cit., p. 62.
74
MENDONÇA, op. cit., p. 57.
75
MOREIRA. op. cit. p. 159
76
MENDONÇA. op. cit. p. 57.
37

construção e crescimento no setor industrial automobilístico, fracassando nos setores de saúde,


educação e saneamento básico que faziam parte do mesmo plano. A construção de Brasília foi
a maior obra e, que recebeu todos os investimentos necessários para ser inaugurada ainda
durante o mandato.
Embora o Brasil estivesse passando por um grave problema econômico, causado pela
alta da inflação e desvalorização do cruzeiro77, Juscelino contava com a força da propaganda e
de sua popularidade para conter as manifestações tanto populares, com relação a alta do preço
dos alimentos, quanto com a oposição política, principalmente por grupos de intelectuais e
“colaboradores da Revista Brasiliense, como Caio Prado Jr., Heitor Ferreira Lima, Elias Chaves
Neto, entre ouros”78 por fazerem a frente de resistência ao modelo nacional-desenvolvimentista
e por não concordarem, na sua maioria, com a presença de empresas estrangeiras no mercado
nacional, pois defendiam um projeto de industrialização a partir de uma base nacional, e
acusavam JK de entreguista das riquezas nacionais ao capital imperialista79.
Através do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), instituição ligada ao
Ministério da Educação e criada em 1955, Kubitschek conseguiu reunir diversos intelectuais
para pensar a condição do Brasil, fazendo diagnósticos, principalmente na área da saúde, para
mostrar e propagar a ideia de superação dos tempos de “abandono” do país. “Foi um dos
principais centros de produção e difusão do ideário nacionalista durante a experiência
democrática”.80

[...] Na verdade, o papel do ISEB era produzir um pensamento capaz de promover a


mobilização de todas as classes e setores sociais, em torno da causa da
“modernização” do país, convencendo a sociedade brasileira – sobretudo os
trabalhadores – de que a política econômica da gestão JK era o verdadeiro caminho
para o desenvolvimento do Brasil. Esse conjunto de ideias foi denominado nacional-
desenvolvimentismo.81
E mais,
Para atingir seu objetivo, isto é, fazer com que cada trabalhador brasileiro acreditasse
ser, como eles mesmos o chamavam, um “soldado do desenvolvimento”, o ISEB
prestaria todo o seu apoio a Juscelino, chegando mesmo alguns de seus integrantes a
se responsabilizar pela redação dos discursos proferidos pelo presidente. 82

Dessa forma, vemos na propaganda e na contribuição do ISEB, os mecanismos


necessários para controlar a euforia da população com relação à economia, ou seja, existia uma

77
MENDONÇA, loc cit.
78
MOREIRA. op. cit. p. 201.
79
MOREIRA, loc cit.
80
Ibid. p. 162.
81
MENDONÇA, op. cit., p. 59-60.
82
Ibid., p. 60.
38

estratégia de como acalmar os ânimos e chamar a população para fazer parte da conquista da
“modernização e do desenvolvimento”, mesmo que para isso, seja ela, que venha a pagar o
preço da forma mais dura. Seu discurso nacionalista e a defesa do desenvolvimento nacional,
fez com que fizesse diversas alianças políticas que o ajudaram a levar para frente seu plano de
metas83.
Dentre essas alianças políticas, pode-se citar o grupo da bancada ruralista, composta
principalmente pela elite oligárquica que tinham grandes interesses de modernizar e expandir o
setor agropecuário dentro do país e, que viam na possibilidade da abertura das rodovias, grandes
formas de crescimento financeiro pessoal.
Essa ligação gerou grandes conflitos dentro do cenário político no contexto de diversas
linhas ideológicas existentes, pois, na análise dos isebianos, os ruralistas poderiam ser um
impasse para o projeto de industrialização, já que para isso, era necessário implementar a
reforma agrária, com a finalidade de oportunizar condições necessárias para que as pessoas
pudessem consumir. No entanto, as análises isebianas estavam equivocadas, pois não somente
interessava a Kubitschek a integração nacional por meio da abertura das rodovias em prol de
um melhor acesso para o escoamento dos produtos de diversas regiões do país e circulação de
pessoas, quanto isso era do interesse dos ruralistas que precisavam melhorar o acesso para suas
exportações84.
A bancada ruralista defendia o projeto de industrialização, no entanto, era frontalmente
contrária aos projetos de reforma agrária, vistos como entraves aos seus negócios frente à
dominação de extensas áreas de terras que possuíam. “A oligarquia rural não duvidava,
portanto, das fortes expectativas em redor da industrialização e da modernização e temia que
setores sociais e políticos mais afoitos adotassem a via revolucionária e comunista para alcançar
aqueles objetivos”.85

O projeto social ruralista defendia, portanto, maior integração entre indústria e


agropecuária, a modernização da agricultura e, finalmente a manutenção da grande
propriedade rural. Excluía contudo, a grande maioria da população rural, formada por
pequenos posseiros e trabalhadores sem terra.86

Dessa forma, a bancada ruralista passava por um momento de grande tensão, já que a
política de JK os beneficiava de forma direta, gerando grandes conflitos sociais em torno da
questão agrária, aumento a grilagem de terras, conflitos com sociedades indígenas e, com

83
MOREIRA, op. cit., p. 164.
84
Ibid., p. 168.
85
MOREIRA. op. cit. p. 209.
86
Ibid., p. 211.
39

camponesas e migrantes, que foram confiantes rumo a segunda Marcha para o Oeste, em busca
de melhores condições de vida e, se encontraram em situação de abandono e descaso por parte
do governo. Dessa forma:

Avaliar as relações políticas entre o governo JK e a oligarquia rural apenas da


perspectiva das omissões em relação à reforma agrária distributiva de terras é uma
redução, pois Juscelino fez muito mais pelos ruralistas do que isso. Seu programa de
governo apoiou de forma muito efetiva a expansão do modelo oligárquico de
apropriação territorial. 87

Compreende-se dessa forma, que as relações entre JK e os ruralistas foram muito mais
complexas, alterando o sentido inicial da “Marcha”, que se configurava numa forma de
colonização onde fossem viabilizadas condições mínimas necessárias para a população
sobreviver, gerando fortes conflitos e fortalecendo o poder centralizador das elites oligárquicas
rurais da região.
Para a Amazônia, o congresso autorizou em 1958 a construção do complexo rodoviário
Belém-Brasília, Brasília-Acre, que ligava diversas regiões do país, a que seria a nova capital do
Brasil, fortalecendo dessa forma, o grande plano de integração. Carregada de intensas
propagandas políticas, produções de documentários e livros, para amenizar as críticas em
relação à mesma, foi iniciada a construção, abrindo um leque de vários conceitos ideológicos a
respeito da região e da natureza, que é compreendida nesse momento, como grande entrave para
o progresso, “vista como vilã de um processo teleológico cujo rumo inexorável seria uma
“civilização” aos moldes urbano-industriais, a natureza foi associada a um passado que deveria
ser esquecido, suplantado pela estrada, o “novo”.”88
De acordo com Andrade, “foi durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)
que a questão do desenvolvimento se tornou mais explícita, com a Amazônia enquadrada neste
contexto”89, que seria associada novamente a questão do isolamento com relação ao restante do
país, e lugar onde o progresso capitalista deveria alcançar, para quebrar dessa forma, os entraves
que não permitiam o desenvolvimento econômico da região.
Os meios de propaganda também foram fundamentais para justificar a construção da
rodovia Belém-Brasília ou BR-14 na Amazônia, sua construção, entre 1958 a 1960 coordenada
pela SPEVEA, trouxe uma série de consequências ambientais e sociais na região que geraram
diversos debates e conflitos políticos por conta da empreitada. “As estradas têm papel

87
Ibid., p. 214-215.
88
ANDRADE, Rômulo de Paula. A poeira do progresso pede passagem: imagens de natureza e
desenvolvimento na floresta amazônica. Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. 26, 2018, p. 04.
89
ANDRADE, op. cit., 2015, p. 166.
40

determinante na visão do desbravamento da Amazônia”,90 pois a partir delas, acreditava-se, na


conquista do plano de integração e desenvolvimento para aquela região e para o Brasil. Na
realidade, o que se pretendia mesmo, era abrir as rodovias que interligassem todas as regiões a
que seria a nova capital do país, Brasília, e assim, aumentar a produção e vendas de produtos
industrializados de empresas fortemente estabelecidas.
A meta-síntese, como ficou conhecida a construção de Brasília, teve como anexos a
construção do complexo rodoviário contidos na meta nº 8, “que previa a construção de 10 mil
quilômetros de rodovias”91 composto pelo complexo rodoviário: “Belém-Brasília,
Acre/Brasília, Fortaleza/Brasília, Belo Horizonte/Brasília e Goiânia/Brasília”,92 e superou os
planos do governo, pois “foi mais que ultrapassada, tendo sido construídas no período cerca de
20 mil quilômetros de novas estradas”.93 Foi uma obra exorbitante, que abriu diversas estradas,
transformando radicalmente os espaços naturais e intensificando a migração, retirando dessa
forma a Amazônia do estigma de lugar “isolado” e “atrasado”, estando agora ligada a
“civilização” e ao “progresso do desenvolvimento”.
Foram dois mil quilômetros de matas derrubadas para a construção da rodovia Belém-
Brasília. Esse momento histórico, foi ressaltado no momento da sua inauguração como um ato
heroico e triunfante diante da “gigante” mata, que naquele momento, se tornava um símbolo de
conquista frente ao poder “civilizatório” e do progresso que havia chegado na região norte. Em
discurso Kubitschek ressaltou que:

Ainda não apareceu um Euclides da Cunha para fixar, em páginas que seriam imortais,
a epopéia dessa luta contra a floresta. Tudo conspirava para frustrar a intenção dos
desbravadores — dificuldades de todo género, o mistério da região nunca explorada,
a dureza da vida em condições subumanas, os perigos imprevistos, a sede, a fome, as
febres, as cobras, os mosquitos e, sobretudo, os carrapatos e o formigão. a estrada ia
sendo aberta a serrote, a trator, a facão e a dinamite. Quando um cedro ou uma
maçaranduba gigante parecia irremovível, encaixavam-se bananas de dinamite em
fendas, abertas nas raízes, e estrondava-se o tronco. A queda de um desses reis da
floresta era um espetáculo inesquecível. 94

O discurso de Juscelino nos mostra claramente a idealização do “bom” com relação ao


progresso conquistado a partir das inúmeras dificuldades para conseguir abrir a rodovia,

90
FATHEUER, Thomas. Amazônia: região paradigmática situada entre destruição, valorização e resistência.
Revista: Um campeão visto de perto: uma análise do modelo de desenvolvimento brasileiro. [2013?] p. 83.
91
MENDONÇA. op. cit. p. 57.
92
ANDRADE, Rômulo de Paula. Conceitos de progresso e natureza na construção da Belém-Brasília. p. 02.
93
MENDONÇA. op. cit., p. 57.
94
KUBITSCHEK, Juscelino. Por que construí Brasília. Brasília, Senado Federal – Coleção Brasil 500 anos,
2000, p. 249
41

combatendo o “mal”, a floresta, concebida como empecilho para “levar” o desenvolvimento, o


progresso e a solução para os problemas das pessoas que viviam na região.
A construção da rodovia recebeu muitas críticas por parte de grupos e organizações
civis ambientalistas, políticos da oposição que criticavam os impactos ambientais futuros que
o desmatamento poderia causar. Essas organizações “[...]assumiram posturas ativas na
preservação da natureza. Criticavam o desmatamento, clamavam por reformas na agricultura,
defendiam a promulgação de uma lei florestal, distribuíam sementes e ministravam palestras”95.
No entanto, essas medidas não surtiram em muitos ganhos favoráveis em prol da preservação
da floresta, pois, o governo durante todo o período de construção da rodovia, se precavia diante
das críticas a partir do seu aparato de extensa divulgação e propaganda a respeito do
desenvolvimento industrial e benefícios para a região.
Além dos impactos ambientais e modificação do espaço natural, a construção da
Belém-Brasília trouxe várias consequências negativas para a população da região, pois, muitas
áreas de reservas indígenas foram destruídas, camponeses e migrantes continuaram a viver sob
regime de exploração, e o descaso por parte do governo, gerou uma intensificação nos
problemas fundiários causadas pela falta de reforma agrária.
Enfim, na prática, a construção do cruzeiro rodoviário somente beneficiou os grandes
capitalistas na região, viabilizando dessa forma, “[...] o controle e o domínio da elite rural sobre
os novos territórios ocupados, gerando por um lado, um fortalecimento numérico, econômico,
social e político da oligarquia rural e, por outro lado, uma enorme exclusão social de homens e
mulheres pobres que habitavam o interior”96

2.4. A Amazônia em tempos de ditadura militar (1964)


A década de 1960 foi marcada por grandes crises nos setores sociais e econômicos que
marcaram profundamente a história do Brasil. Dentre esses acontecimentos podemos citar a
deposição do presidente João Goulart em 1964, através de um golpe de estado no qual
desencadeou uma ditadura no país comandada por militares. As fortes crises na economia que
vinham sendo abafadas desde o período Kubitschek, as crises sociais advindas de conflitos
agrários, alta na inflação e consequentemente no preço dos alimentos e o aumento do
desemprego, foram cruciais para desencadear no país, passeatas e protestos advindos de
movimentos ligados a diversos órgãos, principalmente das elites e da igreja católica em prol de
uma intervenção militar, para que o país não se tornasse “uma Cuba” comunista, como muitos

95
ANDRADE, op. cit., 2018. p. 18.
96
MOREIRA, op. cit., p. 215.
42

acreditavam que seria, se Goulart continuasse no poder. Todos esses fatores, somados a uma
corrente ideológica sobre o perigo “comunista”, analisados principalmente a partir dos planos
de Goulart para a questão da Reforma Agrária e programas sociais para a população mais pobre,
além dos interesses das elites conservadoras brasileiras e do mercado internacional,
principalmente dos Estados Unidos a fins de alavancar a sua estrutura capitalista, surtiram no
Golpe Militar que durou 21 anos97.

[...] Os militares de 1964 eram anticomunistas e contra o reformismo democratizante


da esquerda trabalhista, mas tinha uma leitura própria do que deveriam ser as reformas
modernizantes da sociedade brasileira, na direção de um capitalismo industrial
desenvolvido e de uma democracia institucionalizada e sem conflitos, com as classes
populares sob tutela. Os militares golpistas se apresentaram como “revolucionários”
ao mesmo tempo em que defendiam a ordem, pois pretendiam modernizar o
capitalismo no país sem alterar sua estrutura social. Eram antirreformistas, mas
falavam em reformas. Falavam na defesa da pátria, mas criticavam o nacionalismo
econômico das esquerdas. Prometiam democracia, enquanto construíam uma
ditadura. O viés conservador anticomunista era o único cimento da coalizão golpista
de 1964 liderada pelos militares, que reunia desde liberais hesitantes até reacionários
assumidos, golpistas históricos e golpistas de ocasião, anticomunistas fanáticos e
“antipopulistas” pragmáticos, empresários modernizantes e latifundiários
conservadores98.

A heterogeneidade ideológica dos grupos apoiadores do golpe era bastante complexa,


mesmo entre os militares, setores da igreja católica e grupos sociais, que posteriormente vem
fazer altas críticas e lutar contra o golpe de 64, principalmente contra as frentes de repressão
que se fizeram no decorrer do mesmo. No entanto, o disparate do mesmo, como assinala Marcos
Napolitano, foi a ligação ideológica conservadora anticomunista que ambos tinham naquele
momento, frente a grande propaganda do “perigo comunista” altamente instaurada pela mídia
para que as pessoas acreditassem que aquele era o único meio de “salvar” o país do risco que
corria.
Dessa forma, instaurado o golpe, muitas mudanças ocorreram, principalmente nos
setores econômicos, o qual interferiu profundamente a dinâmica de vida social das populações
mais pobres, que sofreram com diminuições salariais, aumento nas taxas de impostos, e cortes
orçamentários nas políticas sociais, para que assim a meta da política de ajuste fiscal e
monetária do governo Castelo Branco (1964-1967) fosse efetivada99.
Para a Amazônia durante os primeiros anos do regime militar, os planos de
desenvolvimento e segurança nacional ganharam destaques nas ações para as formulações de
políticas públicas para a região. O medo dos militares com relação a vulnerabilidade da mesma

97
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo - Contexto, 2014. p. 7-8.
98
Ibid., p. 314.
99
Ibid., p. 150.
43

em torno das demandas internacionais, por conta da grande pressão sofrida por causa das
questões ambientais na qual veio ganhar destaque durante o período, fez com os mesmos
continuassem com os planos de integração e colonização iniciados na década de 1930 com
Vargas.
O uso do lema “integrar para não entregar” foi umas das formas encontradas para
motivar a migração como meio de amenizar o “risco” de perda do território após a construção
das estradas durante a implementação do Programa de Integração Nacional (PIN), e de ações
de colonização promovidas através do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), que
utilizaram o lema “Terra sem homens para homens sem terra” como forma de amenizar os
problemas e conflitos agrários decorrentes no Brasil, incentivando migrações, principalmente
do Sul e Nordeste para o Norte do país100.

O Estado brasileiro, após 1964, orientou-se para a promoção do desenvolvimento e a


acumulação capitalista, a modernização das instituições econômico-financeiras e a
industrialização. Esse processo decisório, no sistema político brasileiro, envolve
diferentes segmentos da elite empresarial, nacional e estrangeira, a alta
tecnoburocracia estatal e alguns segmentos da sociedade cooptados. Essa constante
interação é marcada ora por avanços de alguns desses setores, ora por outros, segundo
a presença mais forte do grupo hegemônico do momento. Na verdade, em poucas
ocasiões de formulação e decisão em políticas, a sociedade é chamada a participar de
decisões que, em última análise, vão afetá-la.
Nas questões que dizem respeito ao processo de ocupação e desenvolvimento da
Amazônia (notadamente no período autoritário implantado no país após 1964), as
decisões, no âmbito da esfera do Estado, propiciaram o surgimento de políticas
públicas definidas com base em critérios e normas desconhecidas pela maioria da
sociedade, direcionadas para atender interesses imediatos e modificadas ao sabor das
conveniências dos grupos influentes por elas beneficiados101.

Dessa forma, podemos observar que o pós 64 no Brasil, organizou uma base política
tendo em vista dois grandes objetivos: o desenvolvimento econômico e acumulação de capital
em prol das elites, sem participação da sociedade civil, as quais foram as mais prejudicadas
pelas medidas tomadas para alcançar o “milagre econômico” ocorrido posteriormente102. No
caso da Amazônia, a implementação de políticas públicas, visaram principalmente o
estabelecimento de incentivos fiscais, os quais vieram implantar na região os grandes
empreendimentos agropecuários e madeireiros, além de “conduzir e disciplinar o assentamento
de camponeses na região”103. Esses incentivos permitiram uma maior concentração de renda

100
SAMUDIO, Agatha Manon. A Amazônia nas relações internacionais: o papel da influência internacional
na formulação da política externa brasileira para a região. 2010. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Relações
Internacionais) Faculdades Integradas de Rio Branco. p. 28-29.
101
PEREIRA, José Matias. O processo de ocupação e de desenvolvimento da Amazônia: a implementação de
políticas públicas e seus efeitos sobre o meio ambiente. Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997. p. 79.
102
Ibid., p. 79
103
Ibid., p. 79.
44

nas mãos dessas elites, aumentando dessa forma as desigualdades sociais e pobreza na
Amazônia.
De acordo com Carlos Renha, em 1966 foram criados os primeiros programas do
regime militar para a Amazônia com a finalidade de resolver os problemas que atingiam a
região, principalmente no setor econômico, no qual teve a SPEVEA como principal alvo
naquele momento, sendo seus principais administradores acusados de corrupção e desvios de
verbas, além de ser considerado um órgão inoperante, tanto na visão dos militares quanto na
opinião pública104. Como consequência, foi implantada a Lei nº 5.173, de 27 de outubro de
1966, que viria a substituir a mesma pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM). Também durante esse período, foi criado o Banco da Amazônia (BASA) “que
passou a ser responsável por liberar créditos para políticas de desenvolvimento no local”105.
Dentro desse contexto da década de 60, também foi criada a Zona Franca de Manaus que serviu
de suporte industrial para a economia extrativista da região106.

A substituição da SPVEA pela SUDAM (Lei 5.173 de 27 de outubro de 1966, que


também revogou a Lei 1.806/53) foi um dos pilares da Operação Amazônia, um
conjunto de instrumentos legais, adotados nos últimos meses de 1966 e o início do
ano seguinte. Essa Operação regulamentou a Zona Franca de Manaus, criando sua
Superintendência e o Banco da Amazônia, que substituiu o Banco de Crédito da
Amazônia. Com isso, os incentivos fiscais foram ampliados, assim como os estímulos
ao capital privado. Objetivava-se estabelecer um processo coordenado e intenso de
ocupação territorial da região, visando finalmente integrá-la ao restante do país. A
integração mostrou-se, mais uma vez, centralizada pelo Executivo Federal, com as
principais decisões tomadas fora do espaço amazônico 107.

Tendo em vista a citação acima, as substituições que ocorreram nos programas de


desenvolvimento para a Amazônia em 1966, no caso SPVEA e Banco de Crédito da Amazônia
(BCA), se deram por conta da falta de estabilidade nos negócios geridos pelos mesmos, além
da falta de transparência nos recursos federais administrados, bem como as desconfianças de
desvios de verbas e corrupção por parte dos administradores dos órgãos, o que fez com que
houvesse tomadas de medidas que buscasse cumprir com os objetivos dos planos de integração
econômica e colonização, que eram uma das maiores preocupações do governo com a região
naquele momento, passando a Amazônia a ser gerida e controlada desde uma esfera federal,

104
RENHA. Carlos Eugenio Aguiar Pereira de Carvalho. A Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, a política de desenvolvimento regional e o Amazonas (1953-1966). Dissertação
(Mestrado em História) - Universidade Federal do Amazonas. 2017, p. 92-93.
105
SILVA, Juçara Lobato da. As políticas de planejamento para o desenvolvimento da Amazônia e seus
reflexos na política educacional do Amazonas nos anos 1960. p. 07.
106
BECKER, op. cit., p.137.
107
RENHA, op. cit., p. 96.
45

fortalecendo a participação do Estado na economia, embora sem uma profunda compreensão


da complexidade da região.
Para Kelson Senra, o objetivo da SUDAM era coordenar o planejamento da Amazônia
Legal, administrando o Fundo de Investimentos na Amazônia (FINAM) aprovando concessões
de benefícios fiscais e elaborando planos de desenvolvimento regional. No caso do BASA, seu
objetivo era executar a política de crédito para o desenvolvimento da região, sendo um agente
financeiro do FINAM, atuando na expansão da fronteira agrícola e no avanço da
industrialização regional.

A SUDAM buscou promover o planejamento do desenvolvimento regional. O I Plano


Quinquenal de Desenvolvimento para a Amazônia 1967-1971 colocou para o
Governo Federal a tarefa de atrair capitais para a região, o que seria feito por meio do
fornecimento da infraestrutura (57% dos recursos do I Plano), da concessão da isenção
fiscal e de estímulos creditícios. A SUDAM e o Banco da Amazônia também
operaram a concessão de benefícios fiscais, estendidos para a “Amazônia legal” (Leis
4.216 de 1963 e 5.174 de 1966), nos mesmos moldes da SUDENE (Superintendência
de Valorização do Nordeste).
Durante a década de 1960, a SUDAM apoiou projetos agropecuários de grandes
empresa e latifundiários, disseminando, por exemplo, no Sul e Sudeste do Estado do
Pará, projetos de substituição de florestas por pastagens, ou apoiando o Projeto Jari,
que envolvia 1,6 milhão de hectares, onde se pretendia implantar a silvicultura para o
abastecimento de uma fábrica de celulose, entre outras iniciativas. Até 1972, o
Governo Federal não havia aprovado nenhum dos planos de desenvolvimento regional
elaborados pela SUDAM [...]108.

Como se pode observar, a SUDAM e o BASA, embora tivessem objetivos bastante


específicos na lógica de elaboração de projetos e financiamentos dos mesmos para fins de
desenvolvimento regional da Amazônia Legal, serviram somente de base de apoio durante a
década de 60, principalmente para projetos agropecuários e para o latifúndio, o que se pode
observar na realidade, é que os órgãos já não tinham mais autonomia e poder de tomadas de
decisões, o governo militar era quem controlava e gerenciava todas as medidas que deveriam
ser realizadas na região, havendo dessa forma uma centralização de poder advindo do Governo
Federal para a Amazônia. Além disso, foram implementadas políticas de incentivo a migração
de grupos específicos que detinham poder aquisitivo em outras regiões, que se instalaram na
Amazônia com o apoio do Governo Federal “visando completar a apropriação física e o controle
do território”109, o que gerou profundos conflitos agrários dentro da região que se repercutem
até os dias atuais.

108
SENRA, Kelson Vieira. Politicas Federais de Desenvolvimento Regional no Brasil: uma análise
comparada dos períodos Pós-Guerra (1945-1964), Pós-Golpe Militar (1964-1988), e Pós-Constituição Federal de
1988 (1988-2009). Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade de Brasília. 2009, p. 53-54.
109
BECKER, op. cit,. p. 137.
46

***
O presente capítulo visou fazer uma analise histórica a respeito dos Programas de
Desenvolvimento para a Amazônia desde o período Vargas até a Ditadura militar, buscando
compreender os viéises ideológicos nos quais os referidos governos estudados buscaram se
firmar para pôr em prática seus objetivos com relação a região Amazônica. Embora existam
diversos aspectos que especificam a singularidade de cada governo, também é possível
identificar alguns elementos que se assemelham um com o outro.
O pensamento de vazio demográfico e região que precisava ser desbravada, foi um dos
discursos característicos presentes em todos os períodos estudados neste, além de ter sido peça
central ultilizada por lideranças governamentais nos meios de comunicação e propaganda,
como forma de justificar suas ações e projetos para a Amazônia. A consequência desse
“imaginário” sobre a Amazônia, fez com que o fluxo migratório aumentasse cada vez mais e,
o índice populacional crescesse de forma desordenada e sem planejamento, além de contribuir
para a construção de um estereótipo para a região como um lugar atrasado e sem
desenvolvimento, que infelizmente se perpetuou no imaginário de muitas pessoas que não
conhecem a região Amazônica e suas especificidades.
47

CAPÍTULO II
3. PORTEL: UMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DA
ECONOMIA MADEIREIRA
O capítulo vem apresentar os resultados da pesquisa sobre o processo de transformação
socioeconômica do município de Portel alguns períodos antes e após a instalação da empresa
AMACOL, analisando de que forma a população foi aderindo a uma nova cultura do trabalho
a partir da entrada da empresa no município e, como a sociedade foi se transformando nos
aspectos sociais e econômicos a partir da inserção da população portelense no trabalho fabril.
Além disso, o trabalho busca compreender o processo migratório em Portel e as relações
políticas e econômicas do município no cenário nacional, apresentadas a partir de documentos
correspondentes as décadas de 1930 a 1980.
O primeiro tópico, vem apresentar dados sobre a economia do município de Portel nas
décadas de 1930 a 1980, datas referentes aos processos históricos abordados no Primeiro
Capítulo deste trabalho, nos quais além de influir no processo econômico do município, também
foram responsáveis pelo fluxo migratório que se instituiu no mesmo, fazendo transformações
profundas nas relações socioculturais da sociedade portelense.
Além disso, serão apresentadas as transformações sociais, econômicas, culturais e
ambientais causadas pela instalação da empresa AMACOL no município de Portel a partir do
final da década de 50, analisando de que forma o auge da exploração madeireira contribuiu para
o desenvolvimento socioeconômico do município durante as décadas de 1960 a 1980.

3.1 Portel no cenário político e socioeconômico nacional


A base da economia do município de Portel até o início da década de 1960 era quase
que totalmente da produção agrícola e extrativista, a partir da plantação de café, pimenta do
reino, cominho, arroz, feijão, cana de açúcar para a produção do açúcar, frutas e verduras
regionais, além da extração madeireira de baixa escala, extração de palmito, caça e pesca de
animais silvestres, além da caça predatória para a venda de “peles fantasia”, como ficou
conhecido no município o grande movimento de caça de animais selvagens como: a onça,
jacaré, jaguatirica e outros, para venda de peles no mercado nacional e internacional.

[...] De modo geral, para alguns atores (tanto acadêmicos como políticos), florestas,
rios, solos, fauna e flora representam oportunidades de realização de atividades
econômicas com vistas, sobretudo, ao crescimento econômico. Para outros, estão
associados à constituição de um modo de vida peculiar, distinto daquele que se
evidencia no mundo moderno. Essas diferentes situações, e suas matizes, são
aplicadas ao caso da Amazônia Brasileira, região cujos processos sociais que
48

desencadearam sua ocupação são embasados na exploração dos recursos naturais


como atividades econômicas [...].
Embora não se possa considerar como únicas formas de atuação sobre a região,
historicamente e de forma predominante, os modelos de Desenvolvimento pensado
para a Amazônia pelos representantes do Estado pautaram-se na extração de produtos
para exportação, tais como as drogas do sertão , a borracha (espécies de Hevea,
principalmente seringueira – H. brasiliensis – e caucho – Castilla ulei), a castanha-do-
Pará (Bertholletia excelsa), as madeiras e os minérios, desencadeando ciclos
econômicos derivados de atividades extrativistas fomentadas pelos governantes e
promovidas pelos detentores de poder político e econômico110.

Esse modelo pautado na exploração de recursos naturais desde o período colonial, fez
com que a Amazônia recebesse um perfil exportador, sofrendo um abalo expressivo na sua
economia após o período do auge da borracha no início do século XX, fazendo com que a
população da Amazônia retomasse a produção agrícola e extrativista 111, principalmente na
extração da castanha-do-Pará, madeira e da produção de farinha de mandioca para fins de
exportação, como foi no caso do município de Portel, que garantiu sua base econômica durante
esse período a partir desses produtos.
A Portaria de N.º 1 de 4 de janeiro de 1936112 emitida pela Prefeitura Municipal de
Portel, destinada ao Governo do Estado do Pará, vem apresentar uma tabela provisória sobre
cobranças de impostos de Industria e Profissão, sendo os mesmos direcionados principalmente
aos regatões113 que faziam comércio nos rios de Portel, vendendo ou trocando mercadorias por
produtos regionais, principalmente a castanha e a farinha de mandioca. Observa-se que a
castanha recebe maior destaque no documento. No seu último parágrafo, a Portaria, faz ênfase
aos comerciantes de castanha, fato que se deu principalmente por conta do grande teor de
produção e exportação da mesma sem pagamentos devido dos impostos municipais. O prefeito
da época era o Coronel Severiano de Moura, empossado pelo governo do Estado, assumiu a
prefeitura até a data de sua morte no dia 12 de agosto de 1937.
Outros documentos apontam que a partir dessa primeira portaria foram criados postos
de fiscalização nos quatro rios do município: Pacajá, Anapú, Camarapí e Acutipereira, nos quais
os fiscais nomeados, ficavam responsáveis pela cobrança de impostos dos produtos que eram
levados para outros municípios, principalmente a madeira da maçaranduba, no qual a partir do

110
SILVA, Danielle Wagne; CLAUDINO, Livio Sérgio; OLIVEIRA, Carlos Douglas; MATEI, Ana Paula;
KUBO, Rumi Regina. Extrativismo e desenvolvimento no contexto da Amazônia brasileira.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 38, p. 557-577, agosto 2016. p. 558. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/made/article/download/44455/29139. Acesso em: 17 de abril de 2019.
111
CARVALHO, op. cit, p. 24.
112
A imagem da Portaria N.º 1 de 4 de janeiro de 1936, está disponível no Apêndice A deste trabalho.
113
Vendedor ambulante que viaja nos rios da Amazônia em embarcações grandes ou pequenas, dependendo dos
produtos que carrega, para comercializar com os ribeirinhos que vivem em áreas de florestas. Esse comércio se
dá em forma de troca de produtos que sejam do interesse de ambos, ou da venda dos mesmos.
49

Decreto de N.º 6 de 19 de fevereiro de 1936114 expedido pela Prefeitura Municipal de Portel,


foi proibida a derrubada da mesma em todo o território portelense, sendo estipulada multa de
Cem mil réis (100.000) para quem não cumprisse a lei.
O senhor Humberto Pereira Cardoso de 80 anos, um dos comerciantes mais remotos
do município de Portel e, que mantém seu estabelecimento comercial na mesma estrutura física,
arquitetônica e local que era quando deu iniciou nas suas atividades na sede do município, nos
conta que é “nascido e criado no município de Portel”, sendo que seus pais são originários da
cidade de Breves e migraram para Portel na década de 1930.

Sempre fui comerciante. Meu pai sempre trabalhou na agricultura e na madeira


derrubando árvores pra vender madeira em tora. Naquela época tinham muita
preferência pela madeira Louro vermelha. Essa madeira era vendida pra fora, pra
exportação. Quem levava era um comerciante alemão chamado Kurt Hell que morava
na Boa Vista, na boca do camarapí que tinha um comércio muito grande, era o maior
comércio daqui de Portel naquela época. Segundo falam, ele veio fugido da Alemanha
por causa da guerra, foi varando, varando, até chegar aqui em Portel115.

A fala do senhor Humberto Cardoso, revela fatos históricos importantes sobre a


história do município, a presença de imigrantes estrangeiros advindos de vários países que em
Portel se estabeleceram, nos faz compreender a dinâmica sociocultural do mesmo, pois não
somente o alemão Kurt Hell, se estabeleceu no município, como também vieram japoneses,
como o senhor Shiguekazu Wakimoto, batizado pela população portelense com o nome de
Pedro Japonês por conta da dificuldade de pronuncia do seu nome, que veio para o Brasil antes
do término da Segunda Guerra Mundial, e contribuiu bastante com a produção agrícola do
município.
Durante a década de 1940, mais precisamente no período da guerra, o município de
Portel participou de forma efetiva na extração do leite de seringa e de maçaranduba para
produção da borracha e exportação das mesmas para os Estados Unidos. De acordo com a fala
do senhor Humberto Cardoso:

Tanto as bolas de borracha de seringa quanto de maçaranduba eram levadas daqui por
aviadores. Eles vinham de barco e levavam essas bolas pra Belém, de lá elas eram
levadas pros Estados Unidos em grandes navios. Elas serviam pra fazer material para
guerra. Eu, meu pai e meus irmãos, a gente comprava isso pra vender pra esses
aviadores, a gente trabalhou também no começo riscando seringa. O pessoal vai pro
mato, principalmente os homens, riscar seringa, as bolas de borracha também eram
feitas pelas mulheres que ajudavam a defumar. Era uma economia muito boa aqui em
Portel naquele tempo. Todo mundo tinha dinheiro porque todo mundo trabalhava e
conseguia vender116.

114
A imagem da Portaria N.º 6 de 19 de fevereiro de 1936, está disponível no Apêndice B deste trabalho.
115
Entrevista concedida à autora em 2019.
116
Entrevista concedida à autora em 2019.
50

Os relatos do senhor Humberto podem ser cruzados com as informações da Portaria


N.º 30 de 4 de maio de 1942117 da Prefeitura Municipal de Portel. No documento o prefeito da
época, Tenente Raymundo Ferreira Guedes demonstra preocupação com relação ao índice de
irregularidade na produção das bolas de borracha, além disso, discursos de “amor e
responsabilidade com a pátria”, para estimular a produção da borracha com a máxima qualidade
possível para fins de exportação.
Dessa forma, um fragmento do texto da Portaria vem assinalar que:

Atendendo a que a borracha, constitui hoje um problema de grande relevância para a


vida do país; atendendo o que o Governo Nacional está empenhado em que a sua
produção seja intensificada ao máximo, dada a importância estratégica que a mesma
arduamente representa para a defesa nacional; atendendo, porém a que além da
quantidade, ela deve ser de melhor qualidade, para que assim obtenha melhor
classificação e maiores preços nos mercados consumidores; atendendo que o
adicionamento de qualquer matéria estranha à sua composição, como tabatinga,
parreira, etc., além do prejuízo que acarreta ao produto diminuindo sua elasticidade e,
desvalorizando-o, não só recomenda mal a região de sua origem como constitui crime
e fraude proferidos nas leis penais da nossa República, e, atendendo finalmente, a que
a administração pública deste município de acordo com as recomendações das altas
autoridades do Estado, está empenhada em evitar qualquer falsificação não só da
borracha como outros gêneros de produção local118.

Como se pode observar no parágrafo retirado do documento, o texto inicia dando


ênfase sobre a importância da borracha para a vida do país, justificando que devido a
insatisfação advinda do Governo Nacional por conta da qualidade da mesma visando os preços
de exportação do produto, serão determinadas medidas, principalmente de maior suporte a
fiscalização do produto e aplicação de multas e até mesmo detenção para aqueles que
cometerem novas infrações.
Dessa forma, podemos perceber que a produção gomífera no município de Portel foi
intensa nos tempos de guerra, sendo um dos grandes exportadores para suprimento dos acordos
governamentais com os Estados Unidos, além de atender as necessidades de produção das
industrias brasileiras. Por conta desses fatores, as exigências pela qualidade na produção se
intensificaram, o que significa claramente que os produtores de borracha utilizavam de artifícios
para aumentar o peso das bolas de borracha, tendo a qualidade do produto provavelmente
comprometida.
De acordo com Cardoso, os incentivos dos governos estrangeiros e do próprio governo
Federal não foram suficientes para estabelecer bases sólidas para subsidiar a industrialização
da economia gomífera. “No fundo, não houve nenhum incentivo para que se diversificasse o

117
A imagem da Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942, está disponível no Apêndice C deste trabalho.
118
Trecho da Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942.
51

investimento estrangeiro na região, mantendo o mesmo perfil exportador, quase toda atividade
econômica voltada para a exportação da borracha”119, fazendo com que se estabelecesse na
Amazônia outros tipos de relações de exploração de mão de obra de trabalho análogas ao
escravo, a partir da extração do látex e produção da borracha.

O fato de se estabelecer um sistema próprio de financiamento interno, baseado na


compensação dos produtos importados via produção de látex in natura, demonstra a
limitação das bases técnicas e financeiras do padrão de exploração gomífero. Na
verdade, os exportadores – quase todos estrangeiros – ditavam os preços a serem
pagos para os aviadores segundo “as variações do mercado internacional”120.

Essas imposições dos preços, somados à exploração dos aviadores fizeram com que
em vários lugares, os seringueiros desenvolvessem estratégias para conseguir fazer com que o
valor do seu produto pudesse gerar mais rentabilidade, por isso que durante o processo de
fabricação das bolas, muitos acrescentavam pedaços de madeira que garantissem um peso maior
as bolas de borracha.
O auge da borracha no município trouxe bastantes imigrantes nordestinos para Portel,
que trabalhavam tanto na extração do látex para a produção da borracha, quanto na agricultura.
Em entrevista com o senhor Estanislau Pereira Monteiro, de 82 anos e que já foi vice-prefeito
municipal, ele ressalta que:

Minha família é toda nordestina, eu nasci aqui em Portel no rio Piarim - Pacajá, meu
pai dizia que primeiro vieram alguns do nordeste fugido da seca. Lá era ruim, não
tinha água, não dava pra plantar. Ele disse que minha família chegou aqui e foi pro rio
Pacajá, meu pai contava muitas histórias de índio que ele via. Meu pai trabalhava com
tudo, não tinha medo de trabalho. A gente fazia farinha, caçava, pescava, plantava as
coisas pra comer e ia pro mato riscar seringa pra fazer as bolas de borracha 121.

A migração nordestina para o município de Portel segundo relatos de muitos


moradores, se deu a partir da década de 1930, é bem provável que o estímulo para isso tenha se
dado a partir das propagandas do Estado Novo para a ocupação da região Amazônica. O período
de guerra também trouxe muitos imigrantes, principalmente os convocados para serem
“soldados da borracha”, que esperançosos por melhores condições de vida vieram se aventurar
para o município de Portel.

O certo é que, de forma intencional ou não, as migrações para a região norte do Brasil,
pouco foram estudadas em sua plenitude quando tratamos de períodos diversos

119
CARDOSO, Daniel Monte. Os dilemas do desenvolvimento da Amazônia em perspectiva histórica.
Monografia (Graduação em Ciências Econômicas). Universidade Estadual de Campinas. Campinas – SP. 2011,
p. 27.
120
Ibid., p. 27.
121
Entrevista concedida a autora em 2019.
52

daquele chamado de período áureo da exploração de Borracha. Um destes momentos


colocados à margem da historiografia oficial é o da Batalha da Borracha, que,
ocorrida durante a 2ª Guerra Mundial, patrocinou o deslocamento de massa
significativa de população, principalmente nordestina, tendo como alvo e cenário o
imenso sertão amazônico 122.

Esse patrocínio altamente intensificado durante o Estado Novo, gerou um forte fluxo
migratório para a região Amazônica, sendo que o município de Portel recebeu diversos
nordestinos vindos de vários lugares que se estabeleceram tanto na zona rural quanto urbana e,
construíram no local suas histórias de vida e de trabalho.

No período do Estado Novo, com o lançamento da Marcha para o Oeste, Vargas


busca ocupar os “espaços vazios” do território nacional, com homens válidos e
capazes de empreender a missão civilizadora e salvadora de controlar a natureza, dela
retirar o que puder ser fornecido e principalmente ocupar os locais mais isolados do
Brasil, ao exemplo das fronteiras e da Amazônia 123.

O teor propagandista do período Vargas no Estado Novo, fez com muitas pessoas
deixassem seus lares em busca do sonho de uma vida melhor. O sonho prodigioso do paraíso
verde no qual muitas pessoas iriam encontrar terra e fartura de alimentos para quem o
desbravassem, fez com que pouco a pouco os espaços amazônicos fossem “ocupados”, por
outros não nativos da região.
A década de 50 também teve um importante fluxo econômico com relação a produção
agrícola, extrativista e de pescados no município. A Portaria N.º 7 de 20 de fevereiro de 1959124,
expedida pela Prefeitura Municipal, traz informações a respeito do controle de venda de
pescados e mariscos fora do Mercado Municipal de Portel e do município, proibindo o
desembarque desses produtos fora do mercado e alertando os fiscais a intensificarem as
fiscalizações.
O Relatório de Plano Governamental Municipal de Portel de 12 de maio de 1955125,
destinado ao deputado Federal Lameira Bittenecourt, também traz informações importantes
sobre os dados econômicos da produção agrícola e extrativista do município, solicitando do
mesmo, parcerias e investimentos no desenvolvimento desses setores. O documento faz um
detalhamento sobre a situação econômica, topográfica e da superfície do município. Com
relação a produção agrícola e ao extrativismo, o mesmo nos mostra uma listagem do que era
produzido durante a década de 50.

122
LIMA, op. cit., p. 54.
123
Ibid., p. 57.
124
A imagem da Portaria N.º 7 de 20 de fevereiro de 1959, está disponível no Apêndice D, deste trabalho.
125
A imagem do Relatório de Plano Governamental de Portel de 12 de maio de 1955, está disponível no
Apêndice E, deste trabalho.
53

Agricultura:
Arroz 250 toneladas
Farinha de mandioca 5.540 toneladas
Milho 90. 567 quilos
Feijão 23. 040 quilos
Extrativismo:
Borracha 131.077 quilos
Massaranduba 342.658 quilos
Jutaicica 5. 916 quilos
Timbó 1.993 quilos
Peles de animais silvestres 1.995 quilos
Castanha 2.728 hectolitros
Madeira bruta 3.293 m³126

É possível observar com melhor clareza a relação de produtos agrícolas e os


provenientes do extrativismo a partir do citado no conteúdo do documento. Anualmente, o
município de Portel produzia uma quantidade considerável de gêneros alimentícios essenciais
para a subsistência da população e para o mercado externo de consumo. Na relação de produtos
extrativistas, a massaranduba e a castanha seguem na frente no sistema de quantidade de
extração e exportação, sendo que a borracha aparece em terceiro lugar em relação aos números.
A jutaicica127, também aparece como elemento essencial de extração, pois como era
utilizada na produção de louças e fogões de barro no município, certamente esse produto era
bastante consumido tanto internamente quando externamente, de modo que sua extração pela
quantidade que se vê na listagem acima, era de grande valor para a economia municipal. A
extração de madeira, peles de animais e o timbó ficaram no final da listagem durante esse
período, não se sabe se por conta da fragilidade das fiscalizações com relação a esses produtos,
cuja exportação se dava na maioria das vezes de forma irregular, como aparece na Portaria de
N.º 30 de 20 de julho de 1956128 expedida pela Prefeitura Municipal de Portel, na qual vem
denunciar desvios de gêneros (na portaria não cita quais), por parte dos regatões 129 sem o
despacho da fiscalização.
Ademar Terra de 66 anos, um dos ex-gerentes da AMACOL e ex-vice-prefeito do
município de Portel, no período de 2004 a 2008, ressalta que:

Havia muita extração de madeira antes da chegada da Amacol, vinham compradores


de vários lugares, estrangeiros e brasileiros em busca de madeira em tora,
principalmente do Agelim e da copaíba. As pessoas serravam por conta própria essa

126
Trecho do Relatório de Plano Governamental de Portel de 12 de maio de 1955.
127
Espécie de goma retirada da copa das árvores do jutaieceiro, utilizada para lustrar louças de barros e
impermeabilizar de louças de cerâmica que iam diretamente ao forno.
128
A imagem da Portaria N.º 30 de 20 de julho de 1956, está disponível no Apêndice F, deste trabalho.
129
Comerciante ambulante que vende de gêneros alimentícios e outros produtos em embarcações nos rios do
município de Portel, sendo que também negocia com ribeirinhos alguns produtos através do sistema de trocas
que pode ser por farinha, madeira etc.
54

madeira, principalmente os ribeirinhos, cortavam as árvores com machado mesmo,


naquele tempo eram poucos que tinham motosserra, mas as pessoas se viravam pra
ter ser dinheiro.
Minha família é do interior de Portel, do Pacajá, teve um tempo que nós fomos embora
para Amapá, ficamos lá dois anos 1954-1956 e depois voltamos pra cá. Meu pai
trabalhava com seringa, fazendo borracha, retornamos porque meu pai queria uma
vida melhor. Aqui nós continuamos com a extração da seringa e maçaranduba e tinha
vários compradores que vinham também do Amazonas comprar a borracha aqui. A
gente também entregava essa borracha lá no comércio do Carvalho que ficava lá no
Pacajá, de lá eram embarcados nos barcos e levados pra Belém ou pro Amazonas.

O senhor Ademar Terra fala com lucidez ao rememorar os tempos de sua infância e a
dinâmica de vida e trabalho que estabelecia junto a sua família. A realidade de migrações que
vivenciou com sua família, na década de 50, nos mostra em parte a decadência das exportações
gomífera no período pós-guerra, que trouxe uma realidade de grande descaso no contexto
Amazônico, sentida em todas as suas regiões, principalmente nos municípios pequenos, como
foi o caso do município de Portel, que comparado com à década de 40, tendo em vista as
exigências afirmadas no documento analisado anteriormente em decorrência da qualidade e
quantidade de produção para fins de exportação, vemos na década de 50 uma forte decadência,
aparecendo abaixo da linha de produção até mesmo da maçaranduba, cujo produto há uma
década atrás, não tinha tanta procura relacionado as bolas de borracha feitas a partir do leite da
seringa.
No caso da extração de madeira para comercialização em sua forma bruta, pode-se
observar na fala do senhor Ademar Terra que foi bastante durável no município, como a maioria
da população vivia na zona rural do mesmo, as relações comerciais se davam geralmente nas
localidades dessas pessoas, por isso o aumento de contratações de fiscais que aparecem em
outros documentos da década de 50, mostram a preocupação dos governantes em aumentar os
postos de fiscalização e arrecadação de impostos sobre a madeira, pois, como a extensão
geográfica dos rios são muito grandes, a madeira do município saía com bastante facilidade, o
que gerava uma diminuição na arrecadação de impostos e no controle de exportações dessa
especiaria para outros lugares.
O senhor Humberto Cardoso relembrando do trabalho do seu pai Abisalão Cardoso,
vem falar que o mesmo trabalhava também com a extração de madeira, além do trabalho com
a extração do leite da seringa e roça na produção de gêneros agrícolas. “Naquela época tinha
muita saída da Louro Vermelha, uma madeira que tinham muita preferência, era em que eles
trabalhavam mais, havia muita procura. Essa madeira era vendida para o comerciante Kurt Hell
e levada para a exportação”.
55

Segundo o senhor Humberto o alemão Kurt Hell tinha um comércio em “terra”, na ilha
da Boa vista, no rio Camarapí e também regatiava seus produtos em barcos adentrando vários
braços desse rio, “geralmente ele trocava as mercadorias por madeira bruta com o pessoal. O
navio vinha e apanhava a madeira ali em cima da Boa Vista, uma ilha que tem. Esse navio era
de fora, o Kurt Hell era quem negociava essa madeira com eles”.
Dessa forma, podemos perceber que a dinâmica de trabalho e econômica no município
de Portel foi bastante intensa na década de 50. Sobre a comercialização de peles de animais, o
senhor Humberto Cardoso nos relata que se tratava de uma prática ilegal sendo que “muitas
pessoas mataram umas às outras por conta da competitividade do mercado de pele. Uma pele
de onça, valia mais ou menos 15 mil reais se fosse comercializada atualmente”.
Nesse sentido, é possível avaliar a economia municipal durante os anos 50 como
relativamente boa, levando em consideração que a produção agrícola era expressiva e dava
conta de abastecer o município com gêneros alimentícios citados e não citados, como foi o caso
da produção açucareira, café, pimenta do reino e cominho, que eram utilizadas para consumo
próprio das famílias, além da criação de porcos e gados vacum verde, que aparecem em outras
portarias regulamentando os espaços de criação dos mesmos e os horários que deveriam ser
presos. As práticas de caça e pesca, também eram constantes no município, sendo que os
produtos adquiridos pelos próprios moradores durante as atividades, eram consumidos e
comercializados interna e externamente.
Assim, o município de Portel no período correspondente até 1956, quando da
instalação da empresa AMACOL, foi marcado por uma economia de base agrícola e
extrativista, atendendo diretamente os interesses nacionais e internacionais da política do
Estado, mantendo relações e correspondências com o governo Nacional, a fim de garantir
melhorias no desenvolvimento econômico e social, pois, além dos pedidos de caráter
econômico, muitos documentos assinalam pedidos de recursos para a construção de um
Hospital, delegacia de polícia que foi construída durante essa década, construções de escolas
tanto na zona urbana quanto na rural, a preocupação da organização e melhoramento do
mercado público municipal, no qual recebeu bastante atenção durante o período pois, era visto
como ponto estratégico para o controle de vendas dos produtos e arrecadação de impostos sobre
os mesmos.
Enfim, o período constituído entre as décadas de 30 aos finais de 50 nos ajudam a
compreendermos um pouco sobre a situação econômica da Amazônica, mais especificamente
de Portel em torno da produção agrícola e do extrativismo, já que as décadas posteriores serão
marcadas por uma nova ordem econômica social, que são as instalações de grandes industrias,
56

principalmente as madeireiras na região Norte do Pará, no caso de Portel, a entrada da


AMACOL e as transformações socioeconômicas que a mesma provocou com o auge da
madeira.

3.2. A empresa AMACOL e as transformações socioeconômicas e ambientais no


município de Portel

Figura 3 - Mapa Georeferenciamento (GPS GARMIM 12) da área territorial


pertencente à empresa Amacol até o ano de 2006.

Fonte: Gilberto da Silva Gama- 2014.

A figura acima, retirada do Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso de Souza e


Corrêa 2014, nos possibilita ver a área total da empresa AMACOL, atual Bairro da Portelinha
no município de Portel. Como se pode observar, se trata de uma ampla área constituída por
“aproximadamente172 hectares, uma microcidade, dividida em quatro lotes: Meruoca, Nossa
dos Navegantes, Costa do Manarijó e São José, na qual residenciavam os gerentes e dono da
empresa e suas famílias quando vinham para a cidade de Portel”130. Além de sua expansão para
a parte térrea da cidade, tinha toda sua área vertical de frente para a baía de Portel, o que
possibilitava o atracamento de grandes embarcações, além de facilitar o embarque e
desembarque de mercadorias de dentro da empresa.

130
SOUZA, Josiane Paiva; CORRÊA, Núbia Lafaete dos Santos. Memórias e vivências do campo no contexto
do bairro da Portelinha no município de Portel-PA. Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso. Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA. Belém, 2014, p. 38.
57

A primeira área, constituída pelo lote da Meruoca, no qual ficou também conhecido
como bairro da Meruoca por conta da amplitude de sua área, foram construídas algumas casas
ao modelo arquitetônico norte americano, com calçadas e piscinas que serviam de área de lazer
tanto para as famílias do dono da empresa, quanto para os gerentes que se estabeleceram lá.
Algumas pessoas do município de Portel que recebiam autorização para entrar na área, também
participavam de momentos de lazer e descontração nas piscinas da AMACOL.
Figura 4 – Imagem da área da Meruoca na qual se encontravam as residências
dos norte-americanos.

Fonte: Acervo pessoal de Polly Sierke Phelps.

Na foto acima está a norte americana Polly Sierke Phelps sentada na cadeira a direita,
filha de um dos gerentes da AMACOL Jack Phelps, que trabalhou na mesma nas décadas de 70
e 80. A seu lado está a Rosivane, em pé Celina Paiva e ao lado dela aparece uma jovem que não
foi identificada e, ao seu lado está o Júnior, filho do senhor Teteca.
A foto também nos mostra uma das casas que compunham a vila dos norte-americanos,
construídas em madeira, lembravam muito a casa que frequentemente se ver em filmes
estadunidenses. As casas eram compostas por vários quartos, sala, cozinha, escritórios e
banheiros com banheiras em porcelana no interior dos mesmos. As escadas que davam acesso
para o andar de cima também eram muito diferentes para o que se costumava ver no município,
pois além do corrimão tinham uma estrutura diferenciada com forro embaixo, para que
pudessem evitar acidentes.
A paisagem do lugar, como se pode ver na fotografia, é composta por diversas árvores,
no entanto, a que predominava eram os pinhais, que faziam com que toda a área da empresa
58

“lembrasse alguns lugares dos Estados Unidos”, como dizem algumas pessoas ao recordarem
desses pinheiros que depois compuseram uma grande área da cidade que depois recebeu o nome
de Bairro do Pinho.
Também pode-se observar a piscina, algo que era uma grande novidade para a época,
tendo em vista que nenhuma casa em Portel tinha e, atualmente ainda são raras as casas que
possuem uma. Contava com um cercado ao redor, de madeira, pintado de azul claro e branco,
que servia mais para ornamentar o lugar, contribuindo para a estética da piscina. O que chama
bastante atenção na fotografia também, é a pequena barraca coberta com palha que servia como
sombreiro para quem ia desfrutar do banho de piscina. Certamente ela dava um requinte de
brasilidade no ambiente. As cadeiras provavelmente eram de ferro trabalhado, colocadas ali
para compor o ambiente estético do local.
Não se tem conhecimento ao certo de quem foi o autor da fotografia, o que se sabe é
que a mesma pertence ao acervo pessoal de Polly Sierke Phelps, que aparece na mesma. No
entanto, o autor da mesma buscou imortalizar também a paisagem em torno das pessoas que
estavam sendo fotografadas.
Dessa forma, vemos na fotografia uma grande oportunidade para o conhecimento do
passado, embora que este apareça de forma fragmentado, tanto o autor da fotografia quanto os
fotografados tiveram uma intenção, e esta, vem refletir na construção interpretativa da mesma.
Nesse sentido, “a fotografia é capaz de construir um imaginário social que não enxerga
fronteiras”131, por sua capacidade de ultrapassar o tempo e trazer novos significados para a
escrita da história132.
De acordo com relatos de antigos operários(as), a Empresa AMACOL, como ficou
conhecida atualmente, foi instalada no município de Portel em 1956, pelo empresário inglês
Robert Maclauwd como Empresa Alto Tapajós, que recebeu os títulos dessas terras pela
Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), o que foram práticas que
se tornaram comuns naquele período, haja vista que os grandes projetos de “desenvolvimento”
para a Amazônia, que se iniciou no período do Estado Novo, com sua Marcha para o Oeste, se
fortalecendo no período Juscelino Kubistchek, através da construção da rodovia Belém-

131
BRASIL, Luísa Kuhl. Tempos modernos: fotografia e imaginário social. Revista: Historeae, Rios Grande, 2
(1): 37-48, 2011. p. 37. Disponível em:
http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/6783/Tempos%20modernos%20fotografia%20e%20imagin%C3%A
1rio%20social.pdf?sequence=1. Acesso em: 09 de abril de 2019.
132
A autora, Luísa Kuhl Brasil. Tempos modernos: fotografia e imaginário social. 2011, p. 38-39. Vem ressaltar
que a invenção da fotografia em contraposição das pinturas em quadros durante o século XIX, se deu a partir das
novas concepções dos indivíduos em relação ao tempo e a sociedade na qual se encontravam. Segundo ela, essas
mudanças ocorreram principalmente na Europa Ocidental após o processo de industrialização, na qual a fotografia
representava a imagem “perfeita” do indivíduo em processo de transição advindo com a revolução Industrial.
59

Brasília, incentivavam e facilitavam as instalações de empresas nacionais e internacionais em


áreas de florestas, o que contribuiu além disso, para um grande fluxo migratório na região
Amazônica até o período do Regime Militar, quando a linguagem nacional-desenvolvimentista
ainda era bastante utilizada para difundir propagandas de desenvolvimento e progresso para a
região, a partir de programas e incentivos fiscais133.

A experiência da política de desenvolvimento aplicada na Amazônia, com todas as


suas conseqüências ambientais e sociais, tem como uma de suas questões mais
importantes o papel do Estado. As instituições públicas, através dos órgãos de
planejamento, coordenação e financiamento (principalmente SUDAM e BASA),
foram as responsáveis pela implementação e gestão de todos os programas que
objetivavam a integração da região ao contexto econômico e social brasileiro. Durante
todo esse período, que remonta aos primeiros passos da Política de Valorização, as
diretrizes que nortearam a sistemática da intervenção estiveram voltadas para os
modelos de crescimento da economia. O conjunto de técnicas organizacionais e
instrumentos de ação objetivavam que a economia regional atingisse, com a
exploração racionalizada dos recursos disponíveis de acordo com os princípios do
moderno sistema industrial capitalista, patamares extraordinários no seu Produto
Interno Bruto (PIB). Pela lógica do padrão de desenvolvimento adotado desde a
década de 1960, o incentivo ao crescimento econômico teria consequência direta
sobre a estrutura social, que venceria práticas tradicionais de relações de trabalho e
organização da produção e do comércio 134.

Nesse sentindo, os incentivos fiscais para a implantação de uma meta de


desenvolvimento para a Amazônia a partir da lógica industrial capitalista foram corriqueiros
nos finais da década de 50 e aprofundados a partir da década de 60, objetivando maior
integração e desenvolvimento da região a partir dos recursos disponíveis na mesma, tendo essa
exploração um caráter predatório ideológico capitalista, para que o “crescimento” fosse notável
e real em números para a Nação. No município de Portel, essa nova lógica industrial capitalista
vem florescer e trazer novas construções na percepção econômica a partir dos finais dos anos
50.
De acordo com o senhor Ademar Terra, ex-gerente da AMACOL, a empresa Alto
Tapajós foi inaugurada no dia 28 de abril de 1958 pelo então governador da época, Magalhães
Barata. Em 1966, passou a ser chamada Companhia Amazonas, após ser vendida para um
estadunidense, proprietário da empresa Georgia Pacyfic. No final da década de 1980 a Georgia
Pacyfic vendeu a empresa por 2 dólares, para o então gerente da Companhia Amazonas, Bruce
Leroy Larson, por conta de um contrato milionário que tinha com a McDonald’s, que seria
desfeito, caso não vendesse a empresa do Brasil. Após todas essas mudanças, a empresa passou
a ser chamada de AMACOL, e permaneceu assim, até a data do seu fechamento no ano de 2006.

133
FERNANDES op. cit., p. 117-121.
134
BRITO, Daniel Chaves de. A SUDAM e a crise da modernização forçada: reforma do estado e
sustentabilidade na Amazônia. [2001?] p. 2-3.
60

Sua instalação, abriu um grande leque de possibilidades de trabalhos até então


desconhecidos para a maioria da população que vivia no município basicamente da agricultura
e do extrativismo, chamando também a atenção de várias pessoas de municípios próximos e de
nordestinos, que migraram para Portel com o intuito de melhorar suas condições de vida. O
senhor Maximiliano da Silva Jorge de 76 anos, ex-funcionário da AMACOL, que trabalhou
como chefe do Departamento Pessoal da empresa nos relata que:

Cheguei em Portel na década de 1960, vim do município de Gurupá e quando cheguei


aqui eu arrumei logo emprego. As notícias sobre Amacol ocorria pra todo canto. A
gente ouvia na rádio eles chamando pessoas pra trabalhar porque ainda tinha poucos
funcionários ou então a gente sabia das notícias de gente que tinha vindo e já estavam
empregados. Aqui em consegui um terreno, construí minha família e decidi ficar até
hoje. Agora tenho o título de cidadão portelense 135.

O senhor Maximiliano atualmente é comerciante e, assim como muitas outras pessoas


vieram para o município de Portel atraídos pelas propagandas de emprego realizadas pela
AMACOL, além do anseio pela busca de melhores condições de vida.

Figura 5 – Imagem do senhor Maximiliano, ex-funcionário da


AMACOL com seu documento de Cidadão Portelense em mãos.

Fonte: Núbia Corrêa, 2019.

135
Entrevista concedida a autora em 2019.
61

A fotografia acima, tirada para esta pesquisa, mostra o senhor Maximiliano segurando
em suas mãos o Documento de Cidadão portelense, no qual aparece no mesmo a data do dia 22
de agosto de 1991, dia, mês e ano que ele recebe das mãos do prefeito da época o senhor Renato
Queiróz da Silva tal título. Atrás do fotografado, aparece parte do pequeno estabelecimento
comercial do mesmo.
Da limpeza da área à construção do espaço que viria a tornar-se um dos maiores
geradores de renda para o munícipio, foram empregados desde crianças à adultos, que
construíram ali, relações de sociabilidades, trabalhos, lutas, afetos e conflitos. Nesse sentido,
pode-se dizer, que embora a empresa tenha encerrado suas atividades e profundas modificações
tenham ocorrido no espaço onde a mesma se instalara, ainda existem locais preservados de
memória em meio a expansão urbana “uma memória que se tornou, ela mesma, objeto de uma
história possível”136, que faz com muitos moradores, recordem e expressem com saudosismo
os tempos da AMACOL na cidade de Portel, tornando-se agora não somente frutos de memórias
“desfaceladas”, mas, oportunidades de reconstrução e escrita dessa história. Portanto, “o tempo
dos lugares, é esse momento preciso onde desaparece um imenso capital que nós vivíamos na
intimidade de uma memória, para só viver sob o olhar de uma história reconstituída”137.

Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma
consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a
desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste,
estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artificio e pela vontade uma coletividade
fundamental envolvida em sua transformação e sua renovação 138.

Assim, os lugares de memórias são fundamentais para a reconstrução do passado, não


da forma como era antes, isso seria impossível, como ressalta Nora, mas são importantes para
ajudar a rememorar lembranças e fatos quando a memória não é mais espontânea. Dessa forma,
memória e história se entrecruzam, se possibilitam na construção da escrita, principalmente da
vida e do cotidiano de povos antes invisibilizados pela historiografia, e que atualmente vem se
tornando destaque nos debates e escritos historiográficos.
A partir da década de 1960 a produção madeireira no município de Portel ganhou bases
significativas no processo de importação e exportação de produtos beneficiados, pois, a empresa
até o ano de 1959, antes da construção fábrica, trabalhava somente com a extração e corte da
madeira bruta para exportação em tora e serrada para os Estados Unidos. Dos anos 60 em diante,

136
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do
Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo). São Paulo, 10. ed. SP–Brasil, 1993, p. 11.
137
Ibid., p. 12.
138
ibid., p. 13.
62

passa a fabricar peças de compensados e laminados para serem negociadas tanto no Brasil,
quanto nos Estados Unidos, Ásia e Europa.
Sua instalação se deu no período JK, o mesmo em diversos discursos sobre a
Amazônia, considerava a floresta como um empecilho para o desenvolvimento econômico,
tendo em vista que era necessário ultrapassar a barreira do desconhecido para assegurar que o
progresso na região pudesse se equiparar ao centro Sul do país, mantendo na sua agenda um
plano de integração e desenvolvimento da região a partir da exploração dos seus recursos
naturais.

O desenvolvimentismo nacionalista de Kubitschek era uma abordagem apoiada na


economia mista, cujo intuito era estimular a expansão tanto no setor público como no
setor privado. Por isso, empresas estrangeiras receberam incentivos especiais e
garantias para investir na indústria brasileira 139.

Os acordos firmados entre os Estados Unidos e Brasil desde 1950 “que estabelecia a
criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico”140,
tiveram como objetivo, dar suporte ao Brasil para superar as barreiras que impediam o
crescimento econômico e o desenvolvimento do país, principalmente da Amazônia, região vista
como vazia e com baixo desenvolvimento econômico e social, tendo seus maiores empecilhos
a dificuldade de acesso por conta da falta de abertura de estradas, meios de transportes,
comunicação e energia elétrica, sendo fatores que foram bastante atenuados durante o período
JK, que na sua visão para resolver o problema de acesso para a Amazônia, investiu na
construção da Transbrasiliana e nos incentivos fiscais, para que empresas estrangeiras
pudessem se instalar em todos os cantos do país em prol do “desenvolvimento da nação” 141.
“Seu governo conseguiu levar adiante o problemático equilíbrio entre o discurso nacionalista e
a prática de abertura ao capital monopolista estrangeiro”142.
Um telegrama escrito pelo prefeito municipal de Portel Ladislau Queiroz da Silva no
ano de 1963, direcionado ao presidente Juscelino Kubitschek, nos faz compreender que embora
a distância geográfica do município de Portel com relação a capital do país, Brasília, havia
comunicação direta o prefeito da cidade e provavelmente com outros da região, mesmo que a
intenção fosse de apoio para campanha eleitoral como nos mostra o telegrama.

139
RENHA, op. cit., p. 30
140
Ibid., p.28.
141
Ibid., p. 28.
142
Ibid., p. 29.
63

O telegrama do prefeito municipal de Portel Ladislau Queiroz da Silva, datado do dia


8 de outubro de 1963143 e destinado ao então Presidente da República Juscelino Kubitschek,
inicia comunicando a instalação de um Comitê Nacional JK 65, referente a campanha eleitoral
em apoio ao mesmo nas eleições de 1965. No decorrer do texto, o prefeito Ladislau Queiroz
assinala que até aquela data ainda não havia iniciado as campanhas eleitorais no município por
falta de recursos financeiros para o mesmo, também ressalta que havia mais de 4 mil eleitores
no município simpatizantes do governo, e que poderia conseguir bem mais caso houvesse
disponibilização de recursos para o pleito eleitoral. A carta é finalizada com um pedido de
instalação de um telegrafo no município.
A comunicação do município de Portel para outros lugares, se davam principalmente
por meio de cartas. Com a chegada da AMACOL as vias de comunicação e transportes
melhoraram. As relações entre a gerência da empresa e o governo municipal eram relativamente
boas, pois a utilização dos meios de comunicação bem como os de transportes, principalmente
do avião quando era necessário, foram bastante usados pelo governo e pelos funcionários da
empresa em caso de acidente.
As relações de compra ou empréstimos de produtos, entre a prefeitura de Portel e a
AMACOL eram constantes, o requerimento de solicitação de fornecimento de óleo lubrificante
de 19 de novembro do ano de 1960144, mostra que os pedidos eram feitos formalmente e, nesse
caso, o óleo era para o abastecimento da Usina de Energia do município.
O documento de Movimentação de Verbas de 24 de abril de 1963145, nos mostra um
pagamento realizado pela tesouraria municipal de Portel à empresa AMACOL, na época,
Companhia Amazonas, no valor de Doze mil oitocentos e vinte cruzeiros, pelo fornecimento
de 200 litros de óleo diesel; 200 litros de óleo HD-50 e 10 kg de parafusos.
Os documentos citados acima, ressaltam pedidos e pagamentos de óleo diesel, óleo
lubrificante e parafusos solicitados a prefeitura municipal de Portel para provimentos de
necessidades de uso público, como é o caso da utilização do óleo diesel para o funcionamento
das usinas de energia elétricas da cidade de Portel, Distrito de Acangatá e Vila de Melgaço, que
eram integrados ao município de Portel.

143
A imagem do Telegrama do prefeito municipal de Portel de 8 de outubro de 1963 destinado ao presidente JK,
está disponível no Apêndice G deste trabalho.
144
A imagem do requerimento de solicitação de fornecimento de óleo lubrificante de 19 de novembro de 1960,
está disponível no Apêndice H deste trabalho.
145
A imagem do documento de Movimentação de verbas da Prefeitura Municipal de Portel de 24 de abril de
1963, está disponível no Apêndice I deste trabalho.
64

O funcionamento de energia elétrica no município de Portel ainda era bastante limitado


na década de 60. O potencial da usina de energia era baixo, e seu uso era controlado, assim
como o uso de aparelhos e lâmpadas que pudessem consumir muita energia, porque não dava
conta de manter muitos eletrodomésticos por causa de sua baixa potência, sendo que o
funcionamento do gerador era racionalizado para que as peças não fossem rapidamente
danificadas. A Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958146 da prefeitura municipal de Portel faz
ressalvas sobre os dias e horários de funcionamento da usina de luz, sendo que de Segunda à
Sexta-feira o horário era das seis e trinta (6:30 h) às onze e trinta (11:30 h). Sábados e Domingos
das seis e trinta (6:30 h) à uma e trinta (1:30 h) da madrugada147.
Com a instalação da Rede Celpa na década de 70, o setor de eletricidade melhorou no
município de Portel, pois, embora ainda houvesse racionamento de energia durante a noite,
normalmente durante o dia a geração de energia era quase o dia todo, sendo que as pessoas já
podiam usufruir de geladeiras, freezers e televisão nas suas residências.
As mudanças econômicas que ocorreram no município de Portel após a instalação da
AMACOL foram bastante significativas, o senhor Albino Pereira de 68 anos, que trabalhou no
escritório da empresa, nos conta que “as pessoas tiveram mais condições para construir suas
casas, viver bem, a cidade cresceu muito com a entrada da Amacol, algumas ruas foram abertas
com a ajuda do maquinário da empresa”148. A fala do senhor Albino nos leva a conhecer mais
um ponto sobre a relação da empresa com a prefeitura, a de emprestar ou fornecer maquinários
para a abertura de vias públicas, sendo que essa era uma das grandes dificuldades da época para
a população que transitava basicamente por caminhos estreitos, como nos fala o senhor
Humberto Cardoso.

Em Portel tinha poucas ruas quando a Amacol chegou, tinha praticamente essa rua da
prefeitura que é a Duque de Caxias e a Floriano Peixoto, o resto era tudo caminho,
tinha essa Beira do Campo, onde tinha o campo de aviação que já estava aí antes da
Amacol chegar, o Bairro do Muruci era só essa beira do Campo praticamente, não
existia o Bairro do Pinho, ele só foi existir depois de muitos anos, o resto era tudo
capoeira, só mato e alguns caminhos que as pessoas faziam para andar 149.

Dessa forma, vemos a partir da fala do senhor Humberto, o processo de transformação


na paisagem ocorridos após a chegada da AMACOL, pois a abertura de ruas foi crucial para
atender a demanda de imigrantes que chegavam de várias cidades ou da zona rural de Portel
para conseguir um emprego na empresa. A Beira do Campo citada pelo senhor Humberto, é a

146
A imagem da Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958, está disponível no Apêndice J, deste trabalho.
147
Trecho da Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958.
148
Entrevista concedida a autora em 2019.
149
Entrevista concedida a autora em 2019.
65

rua Santos Dumont no lado direito de quem vai pela Duque de Caxias e, Padre Emílio Martins,
pelo lado direito da rua anteriormente citada. O campo de aviação ficava entre essas duas ruas,
onde pousavam os aviões. A AMACOL ficava na rua Santos Dumont, em frente a baía de
Portel.
Figura 6 – Imagem do avião monomotor pertencente a empresa AMACOL.

Fonte: Museu municipal de Portel, 2019

A imagem acima é do campo de aviação que ficava em frente a empresa AMACOL.


O avião que parece estar pousando, era de propriedade da empresa, cuja finalidade era
transportar os donos e gerentes da empresa, ou se houvesse alguma necessidade urgente a
pedido da prefeitura municipal de Portel ou de algum funcionário que pudesse ter sofrido algum
acidente. Do outro lado da rua pode-se observar algumas casas bem próximas ao campo de
pouso, o que ocasionou alguns acidentes e mortes naquele perímetro, se tornando perigoso para
quem atravessava o campo. Não se tem conhecimento sobre o autor e ano que foi feita a
fotografia, mas, é bem provável que o autor da mesma tenha sido um dos norte-americanos que
se instalavam na empresa, pela qualidade da imagem, imagina-se que a câmera tinha uma boa
definição para o período, que provavelmente por conta do número de casas e da paisagem,
alguns moradores acreditam que seja no final da década de 70.
Com relação à economia do município de Portel nos anos iniciais da produção
madeireira, o senhor Ademar Terra vem relatar que:
66

Naquele tempo era muito bom de emprego, se a pessoa ficasse desempregado num
lugar e viesse pra Portel, no outro dia ele tava empregado aqui. Veio muita gente de
fora, brevense, amapaense, de Gurupá, Melgaço, Anajás, além dos estrangeiros que
vieram prá cá e conseguiram emprego bem rápido. Só ficava desempregado quem não
queria150.

Na fala do senhor Ademar Terra, é possível notar o auge da demanda por funcionários
que a empresa necessitava para manter a produção, pois a mesma funcionava 24 horas por dia
e, o município não tinha a quantidade de pessoas que pudesse suprir a necessidade de mão de
obra para o trabalho na empresa, dessa forma, “muitas propagandas nos rádios e boca-boca
foram feitas para chamar pessoas pra trabalhar na AMACOL”151, por isso o fluxo migratório
de pessoas de cidades próximas do município de Portel foi crescente durante todo o período
que a AMACOL esteve ativa em Portel.
Essa forte mudança na cultura do trabalho em Portel, desencadeou diversos impactos
na produção agrícola e extrativista do município. Na zona urbana, as pessoas passaram a plantar
menos, a diminuição na produção da farinha foi bastante significativa, sendo que as pessoas
passaram a comprar do que era trazido da zona rural, pois com a garantia de ter um salário ou
até mais, como muitas pessoas relatam, porque dependia também das horas extras que se fazia
na empresa, os trabalhadores e trabalhadoras da AMACOL não se preocupavam mais com
relação ao dinheiro, a maioria fazia hora-extra e conseguia com isso consumir do que era
vendido no mercado Municipal. Além disso, a empresa também tinha um mercado próprio, no
qual disponibilizava tickets para que os trabalhadores e suas famílias pudessem receber uma
quantia mensal em mercadorias que depois seria descontado no seu salário.
Sobre essas mudanças nas relações sociotrabalhistas no município de Portel, o senhor
Estanislau Monteiro vem dizer que:

Depois que a Amacol chegou aqui as pessoas deixaram de plantar, deixaram de fazer
roça e trabalhar com o extrativismo. Quando trabalhei na prefeitura como tesoureiro
na época em que o prefeito do município era o senhor Ladislau Queiroz, nós
compramos um caminhão pra Portel, conseguimos abrir mais a estrada e incentivamos
a produção agrícola aqui. Eram mais as pessoas que moravam na zona rural que ainda
queriam trabalhar na agricultura. Nós plantávamos lá: café, arroz, feijão, verduras,
frutas, tinha gente que fazia roça. Nessa terra tudo que a gente planta dá. O seu Pedro
japonês tinha uma horta muito grande na estrada também, lá ele plantava muito
cominho, pimenta do reino e café. Tudo servia pro consumo e pra exportação. Hoje a
gente tem que comprar tudo de fora. Foi uma pena que depois que a Amacol chegou
as pessoas deixaram de trabalhar na agricultura 152.

150
Entrevista concedida a autora em 2019.
151
Entrevista concedida a autora em 2019.
152
Entrevista concedida a autora em 2019.
67

Na fala do senhor Estanislau, é possível verificar algumas transformações no espaço


produtivo na área da agricultura e do extrativismo, principalmente o vegetal e da castanha
causados pela presença do setor industrial madeireiro no município de Portel. Ocorreu dessa
forma, não somente uma transformação econômica, mas também cultural com relação ao
sistema de trabalho.
A preocupação com o desenvolvimento na agricultura e no extrativismo é fortemente
explicita na década de 1960 pelo prefeito Ladislau Queiroz. Em muitos documentos da época,
ele ressalta a importância da agricultura e da prática do extrativismo para o município, tanto
para o abastecimento interno quanto para a exportação, sendo necessárias intervenções no plano
econômico agrícola para desenvolver táticas que pudessem contribuir para que esse tipo de
produção não entrasse em declínio.
Segundo o senhor Ademar Terra, a extração da madeira não ocorria na zona urbana do
município. “Essa madeira vinha de extrações da própria companhia, que estavam espalhadas
em diversos rios nos municípios de Portel, Breves, Gurupá, Melgaço, Afuá entre outros. Houve
um tempo que o próprio dono nem sabia mais onde tinha extração”153.
Devido já haver exploração de madeiras nos anos anteriores no município de Portel,
algumas espécies mais desejadas para a produção do compensado e do laminado já estavam
escassas na região mais próximas do município, sendo que foram necessários abrir diversas
serrarias e empregar trabalhadores para fazer a extração em diversos lugares. Essa madeira era
trazida de balsa ou jangadas feitas com as próprias árvores extraídas.
O senhor Ademar Terra nos disse que a empresa tinha grande preocupação com as leis
vigentes com relação a pressão ambiental principalmente a partir da década de 1970, na qual
houve diversos movimentos e pressões em torno da questão do desmatamento da Amazônia.
Nesse sentido, a preocupação com o reflorestamento de área para diminuir o impacto ambiental
foi realizado principalmente na zona urbana do município, onde não era extraída essa madeira.

Os americanos trouxeram uma espécie de Pinheiro pro Brasil para ser plantado com a
finalidade do reflorestamento e para o uso sustentável da madeira, sendo que a mesma
é usada para produção do compensado e do laminado. Esses pinheiros foram plantados
onde é agora o bairro do Pinho e na parte que ficava o bairro da Costa do Manarijó e
São José, que faziam parte da extensão territorial da empresa, mas ficava um pouco
distante da fábrica. Só depois que esses pinheiros cresceram é que fomos descobrir
que a espécie que foi trazida era a errada e não tinha qualidade suficiente para
produção154.

153
Entrevista concedida a autora em 2019.
154
Entrevista concedida a autora em 2019.
68

Até o ano de 2010 era possível ver uma boa quantidade desses pinheiros na área que
era da Amacol. Por volta da década de 90, muitos pinheiros foram derrubados da área próxima
a Amacol, pois, devido ao aumento populacional e a necessidade de expandir a cidade, foi
criado o bairro do Pinho, justamente por conta da presença expressiva dessas árvores na área
que atualmente compõe o bairro. De acordo com algumas informações, foi a própria empresa
que mandou derrubar as árvores para abrir a área em pról da construção do Bairro. Essa
mudança na composição da paisagem urbana e na necessidade de expansão das vias públicas,
foram geradas principalmente pelo contingente migratório para o município. em busca de
melhores oportunidades.

Figura 7 – Imagem do caminho que dava acesso ao retiro da empresa


AMACOL.

Fonte: Museu municipal de Portel, 2019.

A foto acima, mostra o caminho que levava para o retiro155, onde eram realizadas as
festas em comemoração ao dia do trabalhador, festas de aniversários, eventos e treinos
esportivos dos clubes de futebol Aliança Esportiva CAMEL156 e FABRIL157, que foram criados
no interior da empresa, bem como outros tipos de eventos que poderiam ser realizados no
espaço se assim fossem autorizados.

155
Local de laser e de comemorações para os americanos, funcionários da AMACOL e toda a sociedade portelense.
156
No time Aliança Esportiva Companhia Amazonas Madeiras e Laminados CAMEL, jogavam as pessoas que
trabalhavam no setor administrativo do escritório.
157
No time do FABRIL (que vem de fábrica), jogavam as pessoas que trabalham no setor da fábrica da
AMACOL.
69

Na fotografia é possível ver nos dois lados que separam o caminho, uma floresta de
Pinheiros, como era chamada por muitos portelenses. A dimensão territorial da plantação dos
mesmos era bastante extensa, alcançando uma grande área territorial da que atualmente
compreende o Bairro do Pinho e uma parte do Bairro da Castanheira, modificando
profundamente a paisagem do município de Portel. Não obtivemos conhecimento sobre a
autoria da fotografia, a década provavelmente seja do final dos anos 70.
Com relação aos impostos e encargos sobre a madeira exportada, o Parecer ao Projeto
de Lei que Cria o Imposto de Conferência datado do dia 4 de fevereiro de 1963 158 e, expedido
da Sala das Sessões de Comissão Especial da Câmara Municipal de Portel pelo Relator e
vereador Rafael Gonzaga, nos releva que existia algumas divergências com relação ao Relator
do Projeto e o autor do mesmo, Vereador Felizardo Justino Diniz e demais vereadores
favoráveis a criação do Projeto de Lei. O documento critica a proposta de cobrança de impostos
municipais de exportação, pois, acreditava que assim como município de Breves isentava as
industrias madeireiras por dez (10) anos a partir da data de funcionamento, Portel deveria fazer
o mesmo com a AMACOL. O Parecer assinala que:

O Município de Portel, Sr. Presidente, srs. Vereadores é possuidor somente de uma


indústria que é a Companhia Amazonas, esta Companhia deve ser olhada com toda
atenção por nós representantes do povo; esta Companhia, tem sido a base primordial
da vida desta cidade, ela emprega em suas atividades 200 e poucos operários com
cujas famílias se elevarão a 800 ou mil viventes. Quem conheceu a cidade de Portel
há 5 anos atrás e vê no presente momento, verifica uma evolução de 70 ou 80%. Esta
Companhia derrama aqui dentro de Portel aos seus operários, quase Cr$ 2.000.000,00
mensais; com o novo salário irá a Cr$ 3.000.000,00 e pouco; ora, este dinheiro fica
aqui em movimento, com isso lucra o comerciante, lucra o lavrador, o operário tem
sua casa, enfim, daí vem certos melhoramentos na cidade 159.

O trecho do documento nos mostra uma possível movimentação financeira um pouco


tempo depois da instalação da empresa, os parágrafos finais do mesmo, ressaltam um pedido
de revisão do Projeto já que a Companhia pagava alguns impostos de Industria e Profissão ao
município, previstos pela Lei N.º 17, Capítulo III de 25 de julho de 1951 da Prefeitura Municipal
de Portel que regula cobrança de impostos e taxas municipais160.
Um rascunho da Lei datado do dia 3 de fevereiro de 1963, feito à mão pelo autor da
Proposta de Lei que Cria o Imposto de Conferência, vereador Felizardo Justino Diniz, vem
mostrar que a finalidade da criação da mesma é cobrir despesas dos serviços de emergência,

158
A imagem do Parecer ao Projeto de Lei da Câmara Municipal de Portel que Cria o Imposto de Conferência, de
4 de fevereiro de 1963, está disponível no Apêndice K, deste trabalho.
159
Trecho do Parecer ao Projeto de Lei que Cria o Imposto de Conferência de 4 de fevereiro de 1963.
160
A imagem da Lei municipal N.º 17, Capítulo III de 25 de julho de 1951, está disponível no Apêndice L deste
trabalho.
70

transporte, assistência médica e sanitária da população portelense, sendo a mesma criticada pelo
relator, vereador Rafael Gonzaga, pelas justificativas citadas acima.

Figura 08 – Projeto de Lei que Cria o Imposto de Conferencia Municipal, 3 de fevereiro de 1963

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


71

Com a criação da Lei, o município passou a cobrar taxas de impostos pela exportação
de produtos beneficiados na empresa AMACOL, como Compensados e Laminados. O Recibo
N.º 1.001 da Prefeitura Municipal de Portel de 21 de abril de 1963, vem mostrar o pagamento
efetuado ao fiscal Claudio de Almeida Macêdo do valor equivalente a Oito mil duzentos e
oitenta Cruzeiros (Cr$ 8.280.000) de taxa de exportação de madeira laminada destinada a Nova
York nos Estados Unidos.

Figura 09 – Recibo N.º 1001 da Prefeitura Municipal sobre taxa de impostos de exportação madeireira da
empresa AMACOL no ano de 1963.

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.

O Ofício N.º 32 de 30 de julho de 1963 da Prefeitura Municipal de Portel, destinado


ao Superintendente da SPVEA, vem nos trazer importantes informações a respeito do número
72

de habitantes do município, produtividade agrícola e madeireira, índice de rentabilidade anual


além de outras informações sobre obras previstas pela administração atuante na época.

Figura 10 – Ofício N.º 32 de 30 de julho de 1963 da Prefeitura Municipal de Portel ao Superintendente da


SPVEA.

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


73

Figura 11 – Continuação do Ofício N.º 32 de 30 de julho de 1963 da Prefeitura Municipal de Portel ao


Superintendente da SPVEA.

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


74

Como se pode observar no documento acima, o mesmo é iniciado com uma introdução
referente ao município de Portel sobre o que possui, quais atividades econômicas são exercidas
no mesmo, além da situação de desenvolvimento econômico-financeiro pelo qual o mesmo
passa no referente ano. O documento também faz referências a empresa AMACOL, assinalando
que no período, a mesma já possuía mais de 300 empregados, uma escola destinada
exclusivamente para os filhos dos funcionários e um posto de saúde no interior da mesma. No
entanto, embora o documento elucide todas essas informações introdutórias, o objetivo do
mesmo é garantir o solicitado ao Superintendente, que é um financiamento para a compra de
um Motor de lua mais potente; um prédio amplo para o funcionamento de um Ginásio de
Esportes na cidade; um Mercado Público; um Ambulatório médico além de assistência Técnica
para a fomentação da Agricultura no município.
Dessa forma, além de parcerias com o Órgãos Governamentais, o dinheiro da
arrecadação de impostos era de fundamental importância para a movimentação financeira do
município e construção de obras públicas, nas quais foram constantes a partir da década de 70,
sendo que foram construídos o Estádio de Esporte, Ginásio de Esporte, Associação dos
funcionários e funcionárias públicos, hospital e escolas tanto na zona urbana quanto na rural,
para atender as necessidades do crescente número de pessoas que passou a morar em Portel.
Além da economia e do ambiente, a instalação da empresa Amacol trouxe várias
mudanças na dinâmica das sociabilidades e lazer no município. Muitos bares foram abertos para
atender a demanda de quem queria se divertir, além de casas noturnas como as sedes Rondonista
Tabajara e Vitória Régia, que tiveram seu auge até meados da década de 90. O uso dos espaços
da praia para divertimento, também foi intensificado durante os finais dos anos 60, sendo que
esses espaços eram usados somente para tomar banho ou lavar roupas em décadas anteriores.
Na praia do Areião, por exemplo, foi construída uma praça na qual incentivava a prática de
esportes, sendo que as novas modalidades de esportes trazidos para Portel pelos norte-
americanos foram o vôlei e o basquete, se tornando em pouco tempo uma “febre” que atingiu
quem gostava de novas dinâmicas esportivas além do futebol e da queimada.
Dessa forma, pode-se perceber que os impactos e transformações sociais ocorridos
durante o período do auge da madeira no município de Portel, conseguiu modificar a dinâmica
sociocultural e de trabalho na vida dos portelenses e de tantas outras pessoas que migraram para
o município em busca de trabalho e melhores oportunidades de vida.

3.3. Organização do trabalho e sociabilidades no cotidiano da empresa AMACOL


75

Como foi ressaltado no segundo tópico desse capítulo, a empresa AMACOL se


instalou no ano de 1956, iniciando uma grande construção que levou dois anos para ser
concluída, trazendo para o município de Portel engenheiros ingleses e norte-americanos, além
de trabalhadores de diversos locais para que o projeto fosse concluído com a mais alta
tecnologia da época, a fins de garantir a qualidade da produção que seria na sua maioria
exportada e comercializada para outros países.
A AMACOL fez parte dos Grandes Planos de Desenvolvimento para Amazônia,
pensados ainda na política do Estado Novo. No período JK e Militar, esses planos ganham um
novo direcionamento, visando a grande intervenção estatal a partir do desenvolvimento agrícola
e do extrativismo na Amazônia, objetivados dentro dos parâmetros de programas e incentivos
à industrialização com participação ativa de empresas estrangeiras e nacionais na região. “Mas,
apesar de o período ficar marcado pelo incremento da participação do setor privado, com a
chegada de inúmeras indústrias estrangeiras ao país, o governo federal também investiu pesado
para superar os velhos problemas estruturais”161. Esses problemas, estavam diretamente ligados
ao setor elétrico e rodoviário, que eram vistos ainda como entraves pelo Governo Federal, para
o desenvolvimento econômico da região.

Figura 12 – Imagem da construção da serraria e fábrica da Companhia Amazonas no ano


de 1956.

Fonte: Acervo Pessoal de Raimundo da Luz Maia Brabo, 1956.

161
RENHA, op. cit., p. 30.
76

A fotografia acima, cedida pelo professor e fotógrafo Raimundo da Luz Maia Brabo,
ex-funcionário da empresa AMACOL que trabalhou no setor administrativo no escritório da
mesma, nos vem mostrar uma base do tamanho da construção da empresa no final da década
de 50. De acordo com informações do senhor Raimundo Brabo, a área que aparece em
construção na foto é a da serraria, a parte que está construída em madeira era o galpão da
mesma. Atrás do galpão podemos ver a construção do queimador, único artefato da AMACOL
existente atualmente no bairro da Portelinha. Também podemos observar a presença de postes
de energia elétrica e pedaços de madeira pelo chão em volta da construção. Foi uma grande área
aberta no meio da floresta no município de Portel, como é possível observar a partir das árvores
ao redor da construção. “De maneira geral, as indústrias madeireiras instaladas na Amazônia
Legal estão razoavelmente próximas as áreas onde há cobertura florestal e boa logística de
transporte para a madeira em tora e processada”162.
De acordo com o senhor Ademar Terra, “Desde o início de sua construção a AMACOL
gerou emprego no município de Portel. Foi uma construção imensa! Muitas pessoas
trabalharam lá”. Na capinação da área participaram mulheres, homens e crianças, que
colaboram ativamente para a construção da que viria ser a nova fonte econômica no município
de Portel.

Figura 13 – Imagem da área da Fábrica da empresa AMACOL na década de 1980.

Fonte: Museu Municipal de Portel, 2019.

162
A atividade madeireira na Amazônia brasileira: produção, receita e mercados. (Org). Serviço Florestal
Brasileiro (SFB); Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Belém, PA .2010. p. 06.
Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sfb/_arquivos/miolo_resexec_polo_03_95_1.pdf. Acesso em:
20 de abril de 2019.
77

A fotografia acima, cedida pelo Museu Municipal de Portel, foi tirada por volta dos
anos 80, segundo informações de ex-funcionários da AMACOL. A imagem nos mostra toda a
área de fora da fábrica. A primeira casa que aparece, era o refeitório onde os funcionários da
Amacol faziam suas refeições, logo atrás aparece os galpões da fábrica, sendo que o primeiro,
onde aparece uma pequena parte de cobertura, ficavam duas bombas de óleo e gasolina para o
abastecimento dos postos de serviços, é possível observar alguns carotes azuis ao redor da
mesma. Logo atrás da cobertura, ficava o galpão de entrada que dava acesso ao escritório da
empresa. Nos galpões ao lado, ocorria o processo de fabricação dos compensados e laminados.
Nos três últimos compartimentos do galpão, haviam três secadores que possuíam funções
especificas para secagem da madeira. Os primeiros galpões da frente, serviam de pontos de
armazenamento das peças de compensados e laminados já produzidos. No lado esquerdo da
fotografia, podemos observar parte de um galpão que servia como almoxarifado e setor de
energia e manutenção das peças. Logo atrás, na mesma direção, ficavam as residências onde o
dono, gerentes e familiares se instalavam. Atrás dos galpões da fábrica, é possível perceber o
caminho que dava acesso à área de retiro.
A organização social do trabalho na AMACOL estava dividida a partir das habilidades
que a pessoa poderia desenvolver dentro da empresa. Inicialmente no escritório, somente
trabalhavam os estrangeiros, tomando conta da contabilidade e da gestão do trabalho. Na área
da serraria trabalhavam homens, mulheres e crianças, assumindo funções diferenciadas a partir
da capacidade física dos mesmos. Segundo o senhor Ademar Terra “inicialmente, as mulheres
trabalhavam na área da limpeza, porque na parte da serraria era um trabalho muito pesado, que
exigia muita força, depois que construíram a fábrica, elas passaram a trabalhar na fabricação de
laminados também, algumas se tornaram capataz”163. As crianças de acordo com ele:
“trabalhavam carregando moinha, tirando do espaço do trabalho e levando para outros
lugares”164.
O funcionário da AMACOL conseguia construir uma carreira sólida e subir de cargo
dentro da empresa a partir do desenvolvimento do próprio trabalho. O senhor Ademar Terra,
que construiu uma longa carreira dentro da empresa, relata a partir das suas memórias que:
“Iniciei com 11 anos de idade, trabalhei dois meses como braçal e a partir de dois meses fui
trabalhar como contínuo e, lá comecei a aprender e me tornei um funcionário do escritório até
chegar a gerência, que foi meu último trabalho na AMACOL”165.

163
Entrevista concedida a autora em 2019.
164
Entrevista concedida a autora em 2019.
165
Entrevista concedida a autora em 2019.
78

A AMACOL, além de contar com funcionários dentro do estabelecimento da empresa


na cidade de Portel, tanto na parte da serraria quanto na área da fábrica, também tinha
trabalhadores nas várias extrações de madeira dentro dos rios de Portel e em outros municípios.
Também contava com pessoas contratadas pela empresa que trabalhavam nos navios fazendo
diversas atividades, desde o comando até a cozinha para a preparação dos alimentos, quanto no
convés para embarque e desembarque de mercadorias.
De acordo com o senhor Ademar Terra, os navios chamados Varengas no município
de Portel, traziam estrangeiros de diversos lugares do mundo, pois a comercialização da
madeira não se restringia somente aos Estados Unidos, mas também aos países asiáticos,
principalmente a China, Indonésia e Índia, que eram grandes compradores de madeira da
empresa Amacol. Na Europa, os países que mais comercializavam a madeira com norte-
americanos era a Inglaterra e Itália. O fluxo de moeda estrangeira, disponíveis no Museu
Municipal de Portel, principalmente do Período do Regime Militar, mostram o contingente de
estrangeiros no município de Portel durante essas décadas.
Figura 14 – Imagem de marinheiros da Amacol ajustando os compensados e laminados no
navio.

Fonte: Museu Municipal de Portel, 2019.

A fotografia acima, disponibilizada pelo Museu Municipal de Portel, nos mostra um


pouco da dinâmica vivenciada no sistema de embarcação de laminados e compensados para
fora do município e do país. Segundo informações do senhor Ademar Terra “as varengas
traziam pessoas de vários lugares que trabalhavam nesses navios. Os brasileiros que
79

trabalhavam, também passavam meses longe da família e só se comunicavam pelo telefone com
eles”166.
A distância percorrida por conta do trabalho, fazia com que esses marinheiros tivessem
oportunidades de conhecer vários lugares no mundo, principalmente os Estados Unidos, na qual
o fluxo de madeira tinha mais exportação, isso porque, o proprietário da AMACOL, desde os
finais da década 60, era o mesmo da Georgia Pacyfic, grande empresa de produção de papel,
para a qual a madeira era destinada.
A divisão sexual do trabalho se dava a partir dos esforços físicos que se poderia fazer
no decorrer da produção ou da delicadeza do trabalho que se poderia exigir do empregado, ou
pela gradativa progressão na carreira que se poderia alcançar dentro da empresa. Sobre o
trabalho feminino desenvolvido na AMACOL, o senhor Ademar ressalta que:

As mulheres começaram a trabalhar na Amacol depois que a mesma foi construída a


partir da necessidade de pessoas para trabalhar na produção. As mulheres não faziam
trabalhos muito pesados, até porque era difícil pra uma mulher, por exemplo, trabalhar
na parte da serraria, porque exigia muito esforço físico. Geralmente, elas trabalhavam
no setor de colagem da madeira, na parte da laminação que era uma técnica muito
delicada e que os homens não conseguiam fazer sem danificar a peça, então essa parte
ficou bem restrita as mulheres porque não estragava a produção. Algumas também
trabalhavam na cantina e muitas subiram na carreira e viraram capatazes 167.

A fala do senhor Ademar Terra sobre a participação feminina no trabalho da


AMACOL é bastante interessante para compreendermos a dinâmica e divisão sexual do
trabalho dentro da empresa, já que foi construído um mito bastante negativo sobre o trabalho
feminino, ficando a imagem das mesmas na produção do trabalho industrial, estigmatizada pela
sua atuação junto com os homens, principalmente no período noturno, no qual muitos ao
relembrarem do trabalho das mulheres da AMACOL, insinuam somente as possíveis relações
afetivas ocorridas no interior da mesma, invisibilizando o trabalho dessas mulheres e suas
participações ativas no processo de construção e desenvolvimento econômico do município.
A senhora Cenira Mendes Pantoja (In memória), que estava com 79 anos quando
concedeu a entrevista no ano de 2018, vem nos contar um pouco de sua experiência de trabalho
na AMACOL, ressaltando que:

Quando eu entrei pra trabalhar na AMACOL em 1974, já tinha muitas mulheres


trabalhando, meu marido trabalhava as vezes em turnos diferentes do meu. Algumas
mulheres eram casadas e outras não. Todas nós trabalhávamos muito lá. A maioria
trabalhava na coladeira da fábrica, onde a gente colava as peças de compensados e
laminados, só tinha mulheres lá quase, não era um trabalho muito pesado de se fazer
porque a gente não tinha que tá carregando muito peso, mas era exaustivo por causa

166
Entrevista concedida a autora em 2019.
167
Entrevista concedida a autora em 2019.
80

dos horários que fazíamos e porque eu tinha que voltar pra casa e cuidar das crianças.
O bom era que pagava bem. A gente recebia o mesmo valor que os homens. Tinha
mulheres que trabalhavam em outros lugares nesse tempo, eram capatazes e
ganhavam mais, só que eram poucas. Muita gente se separou no tempo do trabalho da
AMACOL, os homens tinham muito ciúme das mulheres quando trabalhavam no
turno diferente dos deles, tinha muito comentário sobre traição por lá, principalmente
de algumas mulheres que trabalhavam no turno da meia noite. Isso dava até problema
de desconfiança pra quem não tinha nada a ver com a história 168.

A fala de dona Cenira nos ajuda a compreender um pouco sobre o que se passava com
relação aos possíveis envolvimentos entre os funcionários da empresa, no entanto, o que se
percebe é uma certa pressão social de responsabilizar somente as mulheres aos possíveis
adultérios, generalizando a situação exposta a todas que trabalhavam na empresa. O que gera
um certo desconforto quando se fala sobre o assunto com algumas ex-operárias.
Os turnos de trabalho na AMACOL eram divididos em seis a oito horas por dia, sendo
que na área da fábrica e serraria, os funcionários trabalhavam seis horas por dia, mas também
podiam fazer horas extras se assim quisessem, e, os funcionários empregados no escritório, que
faziam o trabalho burocrático, assumiam o turno de oito horas diárias dentro da Empresa. Dessa
forma, vemos uma dinâmica de trabalho bastante intensa, pois a fábrica não parava,
funcionando 24 horas por dia durante todo o período de exploração madeireira no município de
Portel. Na parte do queimador da empresa, somente trabalhavam os homens, porque os esforços
físicos eram muito intensos e, a exposição ao fogo constante, sendo que se tornava desgastante
para as mulheres trabalhar nesse setor devido suas especificidades fisiológicas, que exigia das
mesmas alguns cuidados em diversas ocasiões.
Com relação ao salário, os mesmos eram equiparados aos setores de trabalho. Os
funcionários recebiam o salário destinado a partir da função que desenvolviam. Geralmente os
funcionários do escritório recebiam salários mais altos por conta das atividades burocráticas
que desenvolviam na empresa. Dessa forma, homens e mulheres recebiam salários iguais a
partir das funções que desenvolviam na empresa, o que poderia diferenciar no aumento, eram
as horas extras realizadas ou os setores nos quais a pessoa trabalhava.
Os funcionários da AMACOL durante vários períodos tiveram acesso a treinamentos
para trabalhar no setor industrial. De acordo com o senhor Ademar Terra, o Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial (SENAC), enviou vários funcionários em parceria do Governo do
Estado com a empresa, para fazer treinamentos e cursos de capacitação para os funcionários da
AMACOL.

168
Entrevista concedida a autora em 2018.
81

A Amacol foi uma escola, nela muita gente aprendeu o ofício de eletricista, torneiro
mecânico, pedreiro, carpinteiro, especialista em manutenção de máquinas pesadas e
tantas outras coisas que as pessoas naquela época não conhecia. A gente não conhecia,
porque naquela época mal terminávamos o primeiro grau. A Amacol ainda construiu
uma escola, a escola Amazonas, que era pra ajudar na educação dos filhos dos
funcionários169.

Com a fala do senhor Ademar, podemos ver o interesse tanto do Governo do Estado,
quanto da empresa em capacitar pessoas para o trabalho na mesma. É bem provável que o custo
com funcionários capacitados e de outros lugares fosse bem maior do que os que viviam aqui,
pois os mesmos já tinham moradia fixa e poderia aprender e desenvolver os trabalhos urgentes
dentro da empresa caso não tivesse um funcionário especialista na área, como era o caso do
setor de eletricidade por exemplo, que era bastante delicado já que a produção funcionava 24
horas por dia e precisava de manutenção diária para que não houvesse interrupção na produção.

Os lucros vindos dos recursos da floresta Amazônica serviam como propaganda para
os grandes empresários, que procuravam investir seu capital na região. O BASA
financiava tanto a modernização, ampliação e implantação das pequenas e médias
indústrias, como também, a implantação das grandes empresas fornecedoras de
complexos madeireiros170.

Dessa forma, os financiamentos realizados pelo governo através do BASA


contribuíram para a melhoria no desenvolvimento no setor madeireiro, estimulando a produção
e a expansão capitalista de forma exploratória dentro da região amazônica. O governo também
através do SENAC, conseguiu estimular a força de trabalho a partir dos treinamentos e
aperfeiçoamentos promovidos pelo mesmo, fazendo com que fosse garantido o aumento e
qualidade na produtividade do setor madeireiro.
A fala do senhor Ademar também nos mostra o fato da construção da escola
Amazonas, construída pela AMACOL e destinada principalmente para a educação dos filhos
dos funcionários, que na realidade, contribuiu não somente para os filhos dos mesmos, como
também para muitas outras crianças que não tinham oportunidade de estudar, pois, em muitos
documentos da prefeitura é possível ver a demanda por construção de escolas, no entanto, os
prédios dificilmente eram construídos, gerando um déficit na educação municipal. Também foi
construído um posto de saúde dentro da empresa com atendimento médico e odontológico uma
vez ao mês, contribuindo significantemente com a população, pois o hospital municipal até a

169
Entrevista concedida a autora em 2019.
170
MELO, Leíde de Miranda. O ouro verde: a economia madeireira no município de Breves (1970-1980).
Trabalho de Conclusão de Curso em História (Licenciatura). Universidade Federal do Pará. Centro de Filosofia e
Ciências Humanas. Faculdade de História. Programa de formação de professores da Educação Básica (PARFOR).
Breves – Arquipélago do Marajó, 2015, p. 24.
82

década de 80, ainda era bastante precário em recursos e medicamentos, sendo que havia poucas
visitas de médicos para o atendimento das pessoas que necessitavam.
No entanto, a história da AMACOL não resumiu somente em benefícios para os
trabalhadores ou para a sociedade portelense, no ano de 1985, houve uma greve dos
funcionários da Amacol reivindicando melhores condições salariais, sendo constituído a partir
daí o primeiro Sindicato dos Trabalhadores da Amacol, no qual passaram vários dias com a
produção parada até que as reivindicações fossem atendidas. A partir desse episódio, os norte-
americanos passaram a ter bastante receio com relação aos brasileiros, sendo que muitos foram
embora e nunca mais retornaram ao município de Portel. A greve foi fortemente reprimida pelos
policiais militares do município de Belém, que ficaram de guarda durante todo o período do
movimento em diversos setores da fábrica, para que fossem certificados que não haveria
depredação ou danificação de nenhum equipamento da empresa.

Figura 15 – Imagem de policial militar fazendo a guarnição das máquinas de


compensados e laminados da fábrica da AMACOL no ano de 1985.

Fonte: Museu Municipal de Portel, 2019.

A fotografia acima, nos mostra um dos momentos tensos vividos durante a década de
80 na empresa AMACOL. O policial militar faz a guarnição dos equipamentos da fábrica de
compensados e laminados por conta da crise vivenciada durante o período de greve gerado por
conta das reivindicações salariais, que depois foi resolvido a partir de novos acordos com os
funcionários que fizeram parte do movimento sindicalista.
83

Enfim, pode-se perceber que a história da AMACOL tão recordada somente nos
aspectos positivos traz também diversos pontos negativos no processo da construção
socioeconômica e cultural no município de Portel. Muitas questões ainda poderiam ser
abordadas, como os casos de assédios sofridos por muitas mulheres, que ocorreram no espaço
de trabalho tanto por funcionários do alto escalão da mesma, quanto por outros. Os impactos
ambientais também foram enormes, deixando áreas grandiosas de desmatamento da floresta
nativa da região de Portel, assim como em outras regiões.
Com relação à economia, muitos empregos foram gerados e a circulação de dinheiro
movimentou bastante a situação econômica municipal, no entanto, a empresa, assim como o
governo, não dispuseram de bases sólidas para que o empreendimento empresarial no município
de Portel se tornasse estável, fazendo com que os impactos fossem sentidos de forma profunda
quando a mesma encerrou suas atividades, pois, a cultura do trabalho foi amplamente
modificada, passando de uma cultura agrícola e extrativista para uma cultura totalmente fabril,
tornando o município dependente dessa atividade, o que gerou um forte índice de desemprego
e um retorno bastante tímido para as atividades agrícolas e extrativistas, estando estas, baseadas
principalmente na produção da farinha de mandioca e do extrativismo do açaí para fins de
comercialização interna e externa.
Dessa forma, analisando as transformações sociais e econômicas a partir da instalação
da empresa AMACOL, vemos que o apogeu da economia madeireira trouxe diversos impactos
tanto para a vida da população portelense quanto na das pessoas que vieram de diversos lugares
do país e do mundo em busca de melhores condições sociais de vida. Nesse sentido, percebe-
se uma sociedade sofrendo grandes mudanças, tanto com relação aos processos migratórios
impulsionados primeiramente pela produção gomífera, quanto os impulsionados pelo Auge da
produção madeireira, que conseguiu trazer um contingente ainda maior de pessoas para o
município. Além disso, as transformações promovidas pela AMACOL foram de larga escala,
contribuindo para mudanças significativas na dinâmica de trabalho, cultural e de lazer da
sociedade portelense.
***
O referido capítulo nos permitiu compreender a dinâmica socioeconômica e cultural
do município de Portel a partir de análises documentais de períodos correspondentes as décadas
de 30 a 80. Como se pôde observar, a economia do município era baseada até a década de 50
na produção agrícola e extrativista, além da pesca e caça, que também fazia parte do cotidiano
dos portelenses. Com o advento da produção fabril no município, a população de Portel
experimentou uma nova fase no ramo trabalhista e econômico, além disso, a cidade também
84

começa a passar por inúmeras transformações sociais e culturais após a instalação da


AMACOL, pois, contribuiu para que o fluxo migratório se tornasse intenso durante esse
período, com isso, ruas foram abertas, escolas e casas foram construídas com mais frequência
para atender o número de pessoas que migravam para a cidade, a produção agrícola e
extrativista foi gradativamente substituída pelo trabalho assalariado na fábrica, deixando de ser
um município auto sustentável no ramo de alimentos, passando a consumir produtos
industrializados trazidos de outros lugares. Dessa forma, a AMACOL, que se tornou por um
tempo, símbolo do “desenvolvimento e progresso” no município de Portel na época de ouro da
madeira, também deixou graves consequências negativas após o termino de suas atividades em
2006, uma delas foi a alta taxa de desemprego na qual a população se mantém até os dias atuais
e as transformações ambientais por conta da exploração em massa de madeira nativa da região.
85

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o objetivo inicial de construir uma pesquisa que desse conta de fazer
uma análise historiográfica da Amazônia desde o período estadonovista (1937) até o Regime
militar (1964) para compreender a partir de contextos históricos mais amplos as pesquisas
documentais e orais sobre a realidade socioeconômica do município de Portel no período de
auge da madeira (1960-1980), a mesma também levou-nos a conhecer que a dinâmica de
trabalho e base econômica do município não estava solidificada somente na produção
madeireira, pois, como se pôde observar nos documentos trabalhados no decorrer do texto, o
município foi um grande exportador de gêneros agrícolas e extrativistas para outros municípios
e, até mesmo para outros Estados e países, como foi o caso da exportação de bolas de Borracha
de seringa e maçaranduba durante a década de 40, a castanha do Pará na década de 30 até a de
70, além de outros produtos como: café, arroz, feijão, pimenta do reino, Pirarucu, mariscos e
outros pescados que faziam parte do consumo da população portelense e também destinados à
exportação.
No Primeiro Capítulo, vimos que a noção ideológica desenvolvimentista estava
integrada aos planos do Governo Federal para a Amazônia desde o período do Estado Novo, no
qual Vargas buscou implementar inicialmente a partir de uma política de migração com sua
chamada Marcha para o Oeste, na qual, aludia uma ideia para a Região de lugar
demograficamente vazio e, que precisava ser colonizado para a exploração de seus recursos
naturais, dos quais Portel tem grande participação através da exportação da Borracha, que foi
parte dos acordos firmados entre Vargas e Estados Unidos no período da Segunda Guerra
Mundial171, além disso, foi criado no período, o Banco de Crédito da Borracha, que tinha o
objetivo de ejetar recursos para empresários da iniciativa privada que trabalhavam com a
produção gomífera, a fim de estimular o desenvolvimento da mesma 172. No entanto, pouco
desenvolvimento ocorreu na região durante o período, o que se teve foi uma relação parecida
com a do período Colonial, na qual se baseava somente na exploração dos recursos naturais
para fins de exportação173, diferentemente do restante do país, que obteve construção de
industrias estatais que puderam contribuir para o desenvolvimento econômico, principalmente
das regiões do Centro-Sul do país174.

171
FERNANDES, op. cit., p. 172.
172
Ibid., p. 266.
173
CARDOSO, op. cit., p. 24.
174
FERNANDES, op. cit., p. 132.
86

Durante o período pós-guerra, houve a criação de importantes órgãos que pudessem


viabilizar o desenvolvimento na região, como a Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, que objetivava destinar recursos e monitorar obras na Amazônia que
contribuíssem para o desenvolvimento econômico da mesma175. O Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, que foi criado com o objetivo de desenvolver a Amazônia
cientificamente, criando uma gestão na área de pesquisa e tecnologia capaz de oferecer melhor
suporte para o conhecimento regional e de qual forma poderia ser feito investimentos que
trouxessem melhores benefícios para o desenvolvimento da mesma176; e a Federação das
Indústrias do Estado do Pará, que tinha a finalidade de financiar recursos para empresas
privadas na Amazônia177.
Do período JK, têm-se para a Amazônia a construção do Cruzeiro Rodoviário Belém-
Brasília/Brasília Acre, construído sob intensa propaganda de desenvolvimento para a Região,
além disso os discursos sobre natureza foram constantes durante a construção da mesma.
Kubitschek lançava a ideia de que a floresta amazônica era um empecilho para o
desenvolvimento da Região, sendo que era preciso desbravar o “gigante verde” e tirar todos os
entraves que dificultavam a chegada do “progresso”. Durante o período também foram
promovidos alguns incentivos fiscais para que empresas Nacionais e Internacionais se
instalassem dentro da Amazônia. Nesse contexto, vários empresários, principalmente do ramo
agropecuário e madeireiro, passaram a investir na região. A migração também foi bastante
acentuada durante o período e o índice populacional cresceu significativamente dentro da
Amazônia178.
No período Militar, o discurso nacional-desenvolvimentista também esteve presente
como forma de atrair capital e pessoas para a Amazônia. Novamente, a propaganda de uma
Terra pouco habitada era utilizada com a finalidade de fazer com que pessoas de outras regiões
migrassem para a Amazônia. Dentro desse contexto, foi criado o Banco da Amazônia, que
servia de suporte para empresários que precisavam de créditos para o desenvolvimento de seus
negócios, a SUDAN, que foi criada aos moldes dos parâmetros da SUDENE, substituiu a
SPVEA por conta de acusações de fraudes e corrupção. Foi também implementado o Programa
de Integração nacional, que promoveu através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

175
CARDOSO, op. cit., p. 34.
176
RENHA, op. cit., p. 62.
177
FERNANDES, op. cit., p. 279.
178
ANDRADE, op. cit., 2013, p. 1-10.
87

Agrária, criado no mesmo período, ações que pudessem amenizar os conflitos agrários dentro
do país na forma de intensificação à migração para a Amazônia 179.
O Segundo Capítulo, vem trazer análises sobre a pesquisa realizada no município de
Portel a respeito das transformações socioeconômicas ocorridas a partir da instalação da
empresa madeira AMACOL nas décadas de 1960-1980. Além disso, o capítulo trata sobre a
situação econômica do mesmo nos períodos que correspondem a 1930-1950, onde foi possível
observar a partir dos documentos analisados a base econômica do município de Portel, que era
de predominância agrícola e extrativista, além da caça, pesca e pequenos comércios que
realizavam suas atividades de maneira formal e informal embora as fiscalizações que ocorriam
para “combater” o comércio informal na zona rural do município, lugar onde mais se praticava
o comercio ilegal de madeira bruta e outras especiarias exportadas sem autorização da
prefeitura. Com relação a empresa AMACOL, alguns documentos da prefeitura também foram
analisados a respeito das transações comerciais que eram feitas entre a empresa e o governo
municipal, além disso, as fotografias e as citações das fontes orais contidas no trabalho, também
nos ajudou a compreender um pouco sobre a área de instalação da empresa e a dinâmica de
trabalho que se tinha na mesma.
Dessa forma, o conteúdo do trabalho nos mostra a relevância social e acadêmica que
o mesmo possui, pois nos leva a conhecer um pouco mais sobre o processo de industrialização
madeireira na Região Amazônica e mais especificamente na Região do Marajó, onde se tem
poucos estudos relativos a esta temática acessível ao conhecimento do público. O trabalho
também nos mostra, que embora a ideologia desenvolvimentista esteja intricada a expansão
capitalista através do processo de industrialização no Brasil, pôde-se perceber que o município
até o final da década de 50 era autossustentável e, embora não houvesse muita circulação de
dinheiro no mesmo, a população consumia o que produzia e boa parte era destinado para a
exportação. Nesse sentindo, o que ocorreu a partir da década de 60 foi uma ruptura na cultura
do trabalho, pois, a população que antes produzia seu alimento e que trabalhava na extração de
outros produtos, passou a ingressar no trabalho da fábrica, o qual tomava boa parte do tempo,
dependendo da jornada que assumisse, o que fez com que a maioria das pessoas deixassem suas
atividades laborais anteriores, pelo trabalho na empresa.

179
CARDOSO, op. cit., p. 35.
88

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SOUZA, Josiane Paiva; CORRÊA, Núbia Lafaete dos Santos. Memórias e vivências do
campo no contexto do bairro da Portelinha no município de Portel-PA. Trabalho
Acadêmico de Conclusão de Curso. Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do
Pará – IFPA. Belém, 2014, 71 p.

XAVIER, Erica da Silva. Ensino e história: o uso das fontes históricas como ferramentas na
produção de conhecimento histórico. p. 644. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_histor
icas_como_ferramentas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf. Acesso em: 14 de
março de 2019.
93

APÊNDICE – A: Portaria N.º 1 de 4 de janeiro de 1936

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


94

APÊNDICE – B: Portaria N.º 6 de 19 de fevereiro de 1936

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


95

APÊNDICE – C: Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


96

APÊNDICE – C: Continuação da Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


97

APÊNDICE – D: Portaria N.º 7 de 20 de fevereiro de 1959

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


98

APÊNDICE – E: Relatório de Plano Governamental de Portel de 12 maio de 1955

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


99

APÊNDICE – F: Portaria N.º 30 de 20 de julho de 1956

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


100

APÊNDICE – G: Telegrama do prefeito municipal de Portel de 8 de outubro de 1963


direcionado ao presidente Juscelino Kubitschek

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


101

APÊNDICE – H: Requerimento de solicitação de fornecimento de óleo lubrificante de 19 de


novembro de 1960

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


102

APÊNDICE – I: Documento de Movimentação de Verba da prefeitura Municipal de Portel de


24 de abril de 1963

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


103

APÊNDICE – J: Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


104

APÊNDICE – K: Parecer ao Projeto de Lei que Cria Imposto de Conferência de 4 de


fevereiro de 1963

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


105

APÊNDICE – L: Lei N.º 17, Capítulo III de 25 julho de 1951

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


106

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.


107

Fonte: Arquivo Público municipal de Portel, 2019.

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