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PORTEL-PARÁ
2019
2
PORTEL-PARÁ
2019
3
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________
Prof. Dr. Daniel Barroso
Orientador – UFPA
____________________________________________________________
Prof. Me. Edivando da Silva Costa
4
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
WOOD SOCIETY? The AMACOL and the socioeconomic transformations in the municipality
of Portel-PA in the 1960-1980s, proposes a discussion about the experience of factory
production from the installation of the company Amazonia Compensados and Laminados
(AMACOL) during the period of peak wood in the municipality. Portel, analyzing the
socioeconomic and work transformations that occurred in the society of the city from the
industrial / capitalist advent within the city. In addition, it also discusses the means of
production and labor based on agriculture and extraction, which moved the economy of the
municipality during the 1930-1950, before the installation of AMACOL. Through oral
statements, photographs and official documents available at the Municipal Public Archive of
Portel, it was possible to analyze the historical, social and economic context of the municipality
and the company AMACOL, listing the commercial relations that were maintained between the
agencies and how if you gave the work inside the company. In this context, Portel is integrated
into the geopolitical process of the Federal Government's Great Projects for the Amazon,
significantly transforming its social and work dynamics, contributing to the abandonment of its
old survival practices and adhering to contemporary capitalist relations.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13
2. OS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO FEDERAL
PARA A AMAZÔNIA................................................................................................. 19
2.1. As políticas varguistas no Estado Novo para a Amazônia............................. 20
2.2. Os programas de desenvolvimento para a Amazônia no pós-guerra........... 25
2.3. A Amazônia na política de Juscelino Kubitscheck......................................... 34
2.4. A Amazônia em tempos de ditadura militar (1964)....................................... 41
3. PORTEL: UMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DA
ECONOMIA MADEIREIRA..................................................................................... 47
3.1. Portel no cenário político e socioeconômico nacional.................................... 47
3.2. A empresa AMACOL e as transformações socioeconômicas e ambientais
no município de Portel................................................................................................. 56
3.3. Organização do trabalho e sociabilidades no cotidiano da empresa
AMACOL..................................................................................................................... 74
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 85
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 88
APÊNDICE – A: PORTARIA N.º 1 DE 4 DE JANEIRO DE 1936........................... 93
APÊNDICE – B: PORTARIA N.º 6 DE 19 DE FEVEREIRO DE 1936................... 94
APÊNDICE – C: DA PORTARIA N.º 30 DE 4 DE MAIO DE 1942......................... 95
APÊNDICE – D: PORTARIA N.º 7 DE 20 DE FEVEREIRO DE 1959................... 97
APÊNDICE – E: RELATÓRIO DE PLANO GOVERNAMENTAL DE
PORTEL DE 12 MAIO DE 1955................................................................................. 98
APÊNDICE – F: PORTARIA N.º 30 DE 20 DE JULHO DE 1956........................... 99
APÊNDICE – G: TELEGRAMA DO PREFEITO MUNICIPAL DE PORTEL
DE 8 DE OUTUBRO DE 1963 DIRECIONADO AO PRESIDENTE
JUSCELINO KUBITSCHEK..................................................................................... 100
APÊNDICE – H: REQUERIMENTO DE SOLICITAÇÃO DE
FORNECIMENTO DE ÓLEO LUBRIFICANTE DE 19 DE NOVEMBRO DE
1960............................................................................................................................... 101
APÊNDICE – I: DOCUMENTO DE MOVIMENTAÇÃO DE VERBA DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTEL DE 24 DE ABRIL DE
1963............................................................................................................................... 102
12
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada neste trabalho tem como cenário o município de Portel,
localizado na mesorregião do Marajó e microrregião de Portel, contando com uma população
de aproximadamente 52.172 habitantes de acordo com as últimas análises realizadas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010, sendo que a população
estimada em 2018 era de 61.126. O Instituto vem mostrar também, que o município até 2010,
possuía um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 11.716,46 reais, sendo sua economia
baseada principalmente na agricultura, extrativismo, pesca e na exploração madeireira para fins
de exportação1. Portel possui uma área total de 25.384.000 Km², sendo que o território urbano
possui uma área de 24.043 km² de extensão territorial, e o rural de 25.36.0957 Km²2
Embora o município esteja incluso politicamente no arquipélago do Marajó, é
importante ressaltar que geograficamente ele não pertence ao mesmo, pois não se constitui em
uma ilha, sendo uma península que possui uma pequena porção de terra que o liga ao Oceano
Atlântico e faz limites com o município de Melgaço a Norte; Bagre e Baião a Leste; Pacajá a
Sul, Porto de Moz e Senador José Porfírio a Oeste, como se pode observar no mapa abaixo3.
Figura 1 - Mapa da extensão territorial urbana do município de Portel.
Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Portel,+PA,+68480-000
1
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Índice de Desenvolvimento Populacional e Econômico do
município de Portel. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/portel/panorama. Acesso em: 07 de
agosto de 2019.
2
Dados sobre as características gerais do município de Portel. Levantamento da oferta turística do município
de Portel. Governo Municipal de Portel. Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo (SECELT),
2012, p. 11. Disponível em: http://www.setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/inventarioportel.pdf. Acesso em:
07 de agosto de 2019.
3
Ibid., p. 11.
14
A sede do município fica em frente a baía de Portel, sendo composta por quatro rios:
Anapú, Acutipereira, Camarapí e Pacajá. O mesmo é também conhecido como Pérola do
Pacajá, por conta da diversidade de praias e balneários que possui em quase toda sua extensão
urbana e rural. O município distancia-se da capital do Estado (Belém) a 326 km, sendo comum
o deslocamento por via fluvial, o qual dura por volta de (dezesseis) horas de viagem de navio e
(seis) horas de catamarã, sendo que algumas pessoas também optam por viajar de carro ou
motocicleta para chegar a Belém pela estrada que liga Portel/Baião/Tucuruí ou por avião
fretado.
Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Portel,+PA,+68480-000.
4
MARTINS, Cristiane Pires; SCHAAN, Denise Pahl; SILVA, Wagner Fernando da Veiga e. Arqueologia do
Marajó das florestas: fragmentos de um desafio. In: Denise Pahl Schaan e Cristiane Pires Martins (org). Muito
além dos campos: arqueologia e história na Amazônia Marajoara. 2010, p. 129.
15
nome de Arucará5. No ano de 1758 Arucará é elevada à condição de vila, e no dia 24 de janeiro
do mesmo ano atinge a categoria de município sendo batizada pelo nome de Portel, que significa
“Porto Pequeno”6. No ano de 2004, foram encontrados diversos vestígios arqueológicos na zona
urbana da cidade, mais precisamente na praia de Arucará, e, em áreas da zona rural do
município, sendo que no ano de 2006 “o arqueólogo Fernandes Marques realizou uma visita
técnica à cidade de Portel a pedido do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
IPHAN, em função do aparecimento de grande quantidade de material arqueológico na área
urbana da cidade”7, sendo que alguns dos artefatos, podem ser atualmente encontrados no
Museu Municipal de Portel, Antônio Gonzaga da Rocha.
A Amazônia durante um longo período foi vista como um lugar demograficamente
vazio e sem desenvolvimento social e econômico, compreendida como região que precisava ser
desbravada, conquistada e integrada ao restante da nação8. Esse imaginário sobre a Amazônia
surge no Período Vargas, onde o mesmo lança sua proposta governamental pautado na ideologia
de um desenvolvimento econômico estatal, ligado a um ideal de construção de uma identidade
nacional na qual todas as regiões precisavam se integrar para que o país pudesse crescer9.
Os Planos de Desenvolvimento para a Amazônia surgem no período estadonovista, no
qual a linguagem nacional desenvolvimentista se faz presente em todo o período que Vargas
esteve no poder se estendendo até o Regime Militar, onde os Projetos e Programas de
Desenvolvimento para a Amazônia serão ainda mais intensificados.
A partir de uma análise historiográfica a respeito dos Grande Projetos para a
Amazônia, no período Estadonovista, Pós-Guerra, Juscelino Kubitschek e Ditadura Militar, foi
possível encontrar subsídios para compreender o que ocorria no município de Portel e na
Amazônia para melhor construir este trabalho, dessa forma, SOCIEDADE DA MADEIRA? A
AMACOL e as transformações socioeconômicas no município de Portel-PA nas décadas de
1960-1980, analisa as transformações socioeconômicas no município de Portel durante esse
período, propondo discussões sobre a experiência de produção fabril a partir da instalação da
5
Histórico do município de Portel. Disponível em: https://portel.pa.gov.br/portal/historia/. Acesso em: 20 de
agosto de 2019.
6
SILVA, José Mendes Santana da. Nordestinos em Portel. In: SCHAAN, Denise Pahl; PACHECO, Agenor
Sarraf; BELTRÃO, Jane Felipe. Remando por Campos e Florestas: memórias e paisagens dos Marajós. Livro
Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries. Rio Branco. GKNORONHA, 2011, p. 31.
7
MARTINS et al, op. cit., p. 128.
8
ANDRADE, Rômulo de Paula. Narrativas de natureza e destruição na construção da Rodovia Belém-
Brasília. XXVI Simpósio Nacional de História: conhecimento histórico e diálogo social - ANPUH. Natal-RN.
22 A 26 de julho de 2013. p. 03.
9
FERNANDES, Danilo Araújo. A Questão regional e a formação do discurso desenvolvimentista na
Amazônia. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Pará. Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2011. p. 57.
16
A utilização das fontes histórica não trata de buscar as origens ou a verdade de tal
fato, trata-se de entender estas enquanto registro testemunhos dos atos históricos. É a
fonte do conhecimento histórico, é nela que se apóia o conhecimento que se produz a
respeito da história. Elas indicam a base e o ponto de apoio, o repositório dos
elementos que definem os fenômenos cujas características se buscam compreender.12
Nesse sentido, o uso das Fontes históricas, tanto orais como documentais utilizadas
neste trabalho, são fundamentais para a produção historiográfica e construção do conhecimento.
Dessa forma, o procedimento metodológico utilizado neste trabalho foi o da História
Oral, no qual Portelli ressalta ter a mesma, uma peculiaridade diferente, “porque é aquela que
nos conta menos sobre eventos que sobre significados”13, sem implicar na sua validade
“factual”, pois alcança diversas camadas da vida social inexploradas por muitos pesquisadores
que durante séculos optaram por uma história positivista e burguesa, não considerando o
cotidiano e as histórias das camadas socialmente marginalizadas e excluídas, “que faz tanto
parte da história quanto os ‘fatos’ mais visíveis” 14.
10
PINSKY, Carla Bessanenezi. (org.). Fontes Históricas. 2. ed. 1ª. Reimpressão. São Paulo. Contexto, 2008. p.
07.
11
Ibid., p. 08.
12
XAVIER, Erica da Silva. Ensino e história: o uso das fontes históricas como ferramentas na produção de
conhecimento histórico. p. 644. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_historicas_como_ferram
entas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf. Acesso em: 14 de março de 2019.
13
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Proj. História, São Paulo, (14), fev. 1997. p. 31.
14
Ibid.
17
Alessandro Portelli também assinala, que “fontes históricas orais são fontes
narrativas”15, nas quais trazem em si, linguagens e saberes diferenciados a partir dos relatos de
memórias e experiências de pessoas que fazem parte de “povos iletrados ou grupos sociais, cuja
história escrita é ou falha ou distorcida”16. Nesse sentido, este trabalho se utilizará de fontes:
Orais: a partir de entrevistas com ex-operários da AMACOL, ex-trabalhadores rurais e antigos
moradores da cidade; Iconográficas: a partir de análises em fotografias das instalações da
empresa Amacol; Documentais: a partir de carteiras de trabalho, telegramas, recibos, portarias
e ofícios.
Durante essa trajetória, buscou-se fazer alguns diálogos historiográficos nos quais
deram embasamento para essa produção acadêmica sobre a história socioeconômica do
município de Portel, dentre os quais, pode-se citar a geografa Berta Becker, que permitiu refletir
sobre a Amazônia no contexto geopolítico capitalista; Sônia Mendonça, que vem analisar o
processo de industrialização brasileira; Marcos Napolitano, que faz algumas discussões sobre
o Brasil República e os anos do Regime Militar no Brasil; Maria Helena Capelato e Ângela de
Castro Gomes, que fazem analises sobre a Era Vargas; Matheus Eurich Arrais, Sidney Lobato,
Frederico Alexandre de Oliveira Lima e Set Garfield, vem fazer abordagens sobre a
historiografia da Amazônia; Wesley Pereira de Oliveira, José Raimundo Barreto Trindade e
Danilo Araújo Fernandes, que vem tratar sobre os Grandes Planos de Desenvolvimento para
Amazônia; Vânia Maria Losada Moreira e Rômulo de Paula Andrade, que trazem discussões a
respeito dos Anos JK.
O presente trabalho está organizado em dois capítulos, o Primeiro: Os Programas de
Desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia, está divido em quatro tópicos, nos
quais farão abordagens historiográficas a respeito dos Programas e Projetos de
Desenvolvimento para a Amazônia desde o período do Estado Novo (1937) até o Regime o
Militar (1964). O Segundo: Portel: uma sociedade em transformação a partir da economia
madeireira, está divido em três tópicos, no qual o primeiro vem trazer algumas análises a
respeito do município de Portel no cenário nacional durante as décadas de 1930-1950,
discorrendo sobre o processo socioeconômico e de trabalho baseados na agricultura e no
extrativismo antes da instalação da AMACOL. O segundo e terceiro tópico, trazem informações
sobre a presença da empresa AMACOL no município, analisando de que forma a mesma
influenciou na transformação socioeconômica e de trabalho em Portel e, como se dava as
15
Ibid., p. 29.
16
Ibid., p. 27.
18
CAPÍTULO I
2. OS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO FEDERAL PARA A
AMAZÔNIA
As iniciativas do Governo Federal em criar programas de desenvolvimento para a
Amazônia, podem ser pensadas em três momentos específicos: primeiro, os planos de
colonização e integração da Amazônia ao restante do país instituídos no ano de 1938, pelo
presidente Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo; segundo, os projetos de construção de
rodovias e estradas na Amazônia no período Juscelino Kubistchek (JK) e, terceiro, os
programas de desenvolvimento para a Amazônia no período pós-guerra e por último, uma
abordagem sobre os programas de desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia no
período da Ditadura Militar.
De acordo com a geografa Bertha Becker, houve três fases significativas para o
processo de planejamento de ocupação e desenvolvimento da Amazônia. A primeira, segundo
ela, iniciou no período do Estado Novo em 1930, com os planos de ocupação regional. A
segunda se intensificando no governo JK, num período que corresponde de 1958 com a abertura
da rodovia Belém-Brasília e Brasília-Acre. A terceira fase se dá em 1966-1985, período da
Ditadura Militar, no qual são intensificados os planos de desenvolvimento para a Amazônia17.
Para a autora, no período que correspondeu o Estado Novo, a questão
desenvolvimentista ficou somente no discurso, sendo que, o que realmente continuou sendo
implantado na Amazônia foi somente uma política de migração e exportação, se contrapondo
ao projeto industrializante nacional-estatal que se pretendia implantar em todo país, para ela,
“se acelerou e se tornou contínuo o processo de ocupação da Amazônia, com base na
dominância absoluta da visão externa e privilégio das relações com o centro de poder
nacional”18. O Estado se manteve no controle das relações capitalistas interna e externa,
beneficiando apenas a elite regional, enquanto a população se mantinha na situação de
explorados e desassistidos, bem diferente do prometido e intensificado nas propagandas de
rádio e televisão.
No que corresponde ao período JK, Becker ressalta que se inicia de forma efetiva o
plano de desenvolvimento para a Amazônia a partir da abertura das rodovias “acentuou-se a
migração que já se efetuava em direção a Amazônia, crescendo a população regional de um
17
BECKER, Bertha K. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: É possível identificar modelos para
projetar cenários? Modelos e cenários para a Amazônia: o papel da ciência. Parcerias estratégicas. n. 12.
Setembro de 2001. p. 136-137.
18
Ibid., p. 136.
20
para cinco milhões entre [as décadas] 1950-60, e de modo acelerado a partir de então”19. Nesse
sentido, percebe-se durante esse período, que os planos com a abertura das rodovias Belém-
Brasília e Brasília-Acre, também estavam mais no campo das relações de caráter capitalista,
com o intuito de expandir produtos e ter melhor acesso aos recursos da região, do que investir
na política de industrialização e assistência social dentro da Amazônia.
No período de 1966-1985, a autora ressalta que foi um momento em que a região
recebeu mais atenção do governo federal pois, o “Estado tomou a si a iniciativa de um novo e
ordenado ciclo de devassamento amazônico, num projeto geopolítico para a modernidade
acelerada da sociedade e do território nacionais”20, além disso, a Amazônia representava nessa
nova fase, um campo de soluções para amenizar os problemas causados pelas tensões internas
em relação a questões fundiárias e falta de modernização nos setores da agricultura e pecuária.
Durante o pós-guerra, a Amazônia ganha novos olhares, embora os discursos
desenvolvimentistas e nacionalistas ainda estejam bastante impregnados durante o período, é
nesse momento que são criadas leis, voltadas a garantir destinações de verbas para o
desenvolvimento socioeconômico da região, também é criada nesse período, a primeira
Superintendência do Plano de Valorização e Desenvolvimento para a Amazônia (SPVEA), na
qual serão geridos programas e projetos propostos para a Amazônia.
Dessa forma, este capítulo busca refletir a respeito das políticas de desenvolvimento
estabelecidas para a Amazônia, fazendo analises a respeito das transformações sociais e
ideológicas ocorridas no Brasil durante o período Republicano a partir da década de 1930 até
os primeiros anos do Regime Militar, ocorridos na segunda metade de 1960, buscando dessa
forma, compreender o que motivou o interesse pela região e a construção do imaginário
amazônico.
19
Ibid., p.137.
20
BECKER, loc cit.
21
pouco tempo, a política colonial de exportação de café e de outros produtos agrícolas. Vargas
pretendia nacionalizar a exploração das riquezas do país21.
“Se o Brasil entrava na década de 1930 deixando de ser, como se dizia à época, um
‘país essencialmente agrícola’, o Estado seria o principal agente dessa transformação” 22, pois,
somente a partir dos investimentos estatais que, a consolidação da implantação dos setores
industriais de produção foi possível no país23.
Além do projeto desenvolvimentista a partir de um viés ideológico nacionalista24,
Vargas pretendia também, construir um sentimento de nacionalidade e pertencimento, era
necessário definir uma identidade nacional e, elaborar estratégias de como incluir o povo à
nação, a partir da desconstrução dos estereótipos negativos constituídos historicamente a
respeito do povo brasileiro25.
Vargas contou com diversos intelectuais da área da literatura, artes e música, que
teoricamente traduziram o povo brasileiro, a partir dos aspectos culturais, sociais e físicos, para
assim construir uma “brasilidade”,26 que pudesse definir de forma positiva o povo brasileiro. O
nordestino, o negro, o índio e o mulato ganharam novas características a partir das propagandas
de rádios e televisão. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), controlava tudo o que
poderia ou não ser divulgado na ditadura de Vargas. De “preguiçoso”, o povo agora era visto
como “doente”, por isso não conseguia trabalhar, desassistidos socialmente, sem oportunidades
de acesso à educação, saúde e trabalho, por isso necessitava de um “pai”, para tirá-lo da “miséria
social e intelectual”27.
Durante o Estado Novo foram criados programas nas áreas da educação e da saúde,
que pudessem, a partir das perspectivas do governo, “minimizar as mazelas da população mais
pobre”, também foram constituídas leis trabalhistas, que garantiram direitos à população no
caso de doenças no trabalho, licença maternidade, morte de um dos cônjuges, etc. A partir de
todos esses fatores, Vargas foi ganhando popularidade e se estabelecendo no poder, se tornando
21
MENDONÇA, Sônia. A industrialização brasileira. São Paulo. Editora: Moderna, 1995, p. 41.
22
Ibid., p. 41.
23
Ibid., p. 42.
24
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil república: da queda da Monarquia ao fim do Estado Novo.
Coleção História na Universidade. São Paulo. Editora: Contexto, 2016. p. 136.
25
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Sinais da modernidade na era Vargas: vida literária, cinema e rádio. In: Jorge
Ferreira e Lucila de Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo do nacional estatismo: do início
da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro. Editora: Civilização brasileira, 2007. p. 325-347.
26
NAPOLITANO, op. cit., p. 136.
27
CAPELATO, Maria Helena. Propaganda Política e Controle dos meios de comunicação. In: Dulce Pandolfi
(org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro. Editora: Fundação Getúlio Vargas, 1999, 171.
22
ao longo do tempo o “pai dos pobres”28. A propaganda foi um instrumento crucial para garantir
o controle sobre o povo29.
A propaganda política também foi fundamental para incentivar a migração para
Amazônia e outras partes da região conhecida como “sertões” do Brasil. A “Marcha para o
Oeste”30 foi inclusa nos projetos do Estado Novo com o objetivo de colonizar e ocupar os
espaços considerados “vazios” do território nacional, sendo a Amazônia relacionada
demograficamente a esse contexto, vulnerável a possíveis ameaças externas e que precisava ser
integrada ao restante do país. “Alguns intelectuais participaram ativamente na formulação de
mensagens promocionais sobre a expansão do Oeste e de uma nação que marcha em direção a
conquista de si mesma”,31 isso contribuiu tanto para o processo de migração e integração,
quanto para a exploração da borracha no espaço amazônico.
De acordo com Ângela de Castro Gomes:
Para a autora, Vargas entendia que era preciso ser cauteloso e estratégico, para que as
fronteiras do país não ficassem vulneráveis, principalmente o território que corresponde a
Amazônia Legal, que contém na sua geografia, ligações fronteiriças com outros países da
América do Sul. O plano nacionalista-integralista de Vargas tomou rumos e ações que
transformou a Amazônia em todos os aspectos, tendo as suas justificativas, “contidas nos
discursos de cunho ideológico que, muitas vezes, acompanharam as campanhas para sua
efetivação enquanto um projeto importante para a inserção do país na modernidade”33.
Segundo Matheus Eurich Arrais:
28
NAPOLITANO, op. cit., p. 159.
29
CAPELATO, op. cit., p. 174.
30
CARVALHO, Ana Paula Rodrigues. As bandeiras no Estado Novo: o conceito de biodemocracia em a
marcha para o oeste de Cassiano Ricardo. Revista Especialidades [online]. 2018, v. 13, n. 1. p. 02.
31
Ibid., p. 04.
32
GOMES, Ângela de Castro. Olhando para Dentro. Vol.4. 2013. p. 46.
33
ARRAIS, Matheus Eurich. A marcha para o Oeste e o Estado Novo: A conquista dos sertões. Artigo de
conclusão de curso (Graduação em História). Brasília-DF, 2016. p. 06.
34
Ibid., p. 7-8.
23
De acordo com o autor, os símbolos utilizados no Estado Novo para dar validade ao
projeto da marcha para o Oeste foram fundamentais para que a mesma fosse abraçada por
grande parte da população, pois, foi instituído pela propaganda, um espirito de nacionalidade,
a ideologia do amor à pátria, o sentimento de pertencimento ao qual todos os “filhos” deveriam
ter com à “pátria mãe”, sendo todos responsáveis pela integridade e proteção da mesma.
Todos esses elementos, serão insistentemente intensificados durante o período do
Estado Novo, o que garantiu o controle da população e mascarou problemas sociais
relacionados a reivindicações pela reforma agrária. A marcha para o oeste simbolizou nesse
sentido, a caminhada colonial das bandeiras paulistas rumo aos sertões, dessa forma, o convite
ao povo para a marcha, seria de recolonização dos espaços “vazios” da Amazônia e de
integração da mesma à Nação.
Além da Marcha para o Oeste, a Batalha da Borracha35 trouxe um grande índice de
pessoas vindas de todos os cantos do país, principalmente do Nordeste, para a Amazônia.
Atraídos pela propaganda de enriquecimento e de terra de fartura, homens e mulheres migraram
em busca de uma vida melhor, no entanto, a propaganda não consistia somente no incentivo à
migração, mas na missão patriótica de chamar “soldados da borracha”36 para trabalhar nos
seringais na extração do látex para fabricação de bolas de borracha, que seriam enviadas aos
Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial. Segundo Garfield:
Para o autor, acima citado, todos esses fatores desencadearam uma série de tensões
políticas dentro dos Estados Unidos da América (EUA), entre grupos ligados aos partidos:
Liberal e Conservador. Da perspectiva liberal, se tinha uma forte dúvida com relação ao
crescimento das exportações da borracha durante a guerra que, pudesse suprir as necessidades
35
LOBATO, Sidney. A historiografia da migração da Amazônia do século XX: pressupostos, teses e debates.
Fronteiras do tempo: Revista de Estudos Amazônicos, nº 5, 2014, p. 11-26.
36
LIMA, Frederico Alexandre de Oliveira. Soldados da Borracha: das vivências do passado às lutas
contemporâneas. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013. p. 11.
37
GARFIELD, Seth. A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 29, nº 57, 2009, p. 20.
24
dos EUA, e, por sua vez, o país pudesse atender as aspirações regionais que se pretendia no
Estado Novo.
Por isso, defendiam que o governo dos Estados Unidos apoiasse uma modesta
industrialização, a aplicação de leis trabalhistas e a expansão do comércio
complementar de commodities na América Latina, como forma de modernizar
economias “colônias” e promover a ascensão social38.
Dentro desse discurso liberal, o autor ressalta que o interesse dos EUA pela Amazônia
não se resume a questão desenvolvimentista da mesma, até porque o discurso com relação a
desenvolvimento e integração é do governo Varguista, o que se solidificou nas relações com os
norte-americanos a partir dos interesses envolvendo a região, no entanto, segundo Garfield,
dentro do debate sobre a Amazônia e a exportação da borracha, no imaginário norte-americano,
se enfatizava o discurso de que os brasileiros eram incapazes de administrar os recursos e
riquezas que possuíam, sendo necessárias intervenções na sociedade amazônica a fim de
moderniza-la nos âmbitos técnicos e econômicos a partir da “liderança dos Estados Unidos” 39.
Da perspectiva do grupo político dos conservadores, havia críticas com relação à
política de ajuda socioeconômica norte americana dentro dos acordos com o Brasil durante a
guerra, pois, “criticavam duramente o uso da influência política norte-americana e da ajuda
econômica para melhorar as condições sociais na Amazônia” 40, sendo que estas prejudicavam
a soberania brasileira. No entanto, o autor também ressalta que os conservadores, não estavam
interessados no desenvolvimento da Amazônia, o discurso em torno da soberania era um
suporte para dizer que o Brasil era que deveria aprender a lidar com suas mazelas sociais e, que
o próprio governo quem deveria fazer investimentos na região, e não o dinheiro sair dos EUA
para isso, o interesse na verdade, estava somente na exportação da borracha.
Embora as divergências existentes entre Liberais e Conservadores nos EUA com
relação às políticas que deveriam ou não ser adotadas na Amazônia, os diálogos entre os dois
governos foram fundamentais para definir alianças e acordos.
A entrada dos Estados Unidos na guerra foi crucial para que o Brasil se posicionasse
com relação a quem iria apoiar durante a mesma, já que também estabelecia relações comerciais
com a Alemanha. Vargas não queria perder o apoio financeiro dado pela Alemanha na
construção das indústrias no Brasil, no entanto, os EUA se engajava fortemente junto aos países
da América Latina, inclusive o Brasil, para tentar estabelecer uma relação econômica e cultural
amistosa, a fim de desfazer as impressões negativas que ambos os países tinham um do outro
38
Ibid., p. 21.
39
GARFIELD, loc cit.
40
GARFIELD, loc cit.
25
e, garantir o fortalecimento do capitalismo nos países da América 41. As propostas dos EUA
para o Brasil foram muito mais intensas e atrativas, fazendo com o governo brasileiro se
posicionasse favorável a eles durante a guerra.
Esse processo de aproximação dos Estados Unidos com o Brasil foi possível graças à
montagem e à organização da política da boa vizinhança durante o governo Roosevelt.
Foi ali que se montou o americanismo. Uma ideologia programática cujo objetivo era
suplantar outros “ismos” vigentes no Brasil e na América latina 42.
Com o fortalecimento das relações com os EUA, Vargas assumiu uma posição de
apoio aos norte-americanos. A Amazônia seria a grande “salvação” para os americanos em
torno da questão da borracha, o que viria a solucionar os problemas por conta da falta da matéria
prima, essencial para a fabricação de equipamentos de uso na guerra. Para o Estado Novo, a
chamada dos Soldados da Borracha, resolveria o problema do país em relação a colonização e
ocupação da Amazônia, já que essa, era imaginada pelo governo como espaço vazio a ser
ocupado e integrado ao restante do país.
Essa aproximação possibilitou diversos acordos entre Brasil e Estados Unidos, nos
quais estabeleciam planos de desenvolvimento para a Amazônia, integração regional e
exportação da borracha para os Estados Unidos. Ocorre, nesse momento, a retomada da
produção gomífera na Amazônia ou o Segundo Ciclo da borracha.
Durante o período, foi criado o Programa Amazônia 43, que objetivava controlar a
malária na região, principalmente onde tinha os seringais, “tal política, [...] era parte do
compromisso estabelecido pelos Acordos de Washington de aumentar a produção de
borracha”.44 Como se pode perceber, a política da boa vizinhança foi aos poucos ganhando
proporções maiores, pois as relações e acordos entre os países, possibilitaram investimentos na
Amazônia que foram além da política de migração para integração, mas também de assistência
médica e sanitária para parte da população que habitava na região. No entanto, com relação a
política de desenvolvimento econômico, a Amazônia continuaria sendo usada somente como
fonte extrativista para o abastecimento do mercado externo.
41
OLIVEIRA, op. cit., p. 342.
42
Ibid., p. 342.
43
FIGUEIREDO, R. E. D. A cooperação entre Brasil e Estados Unidos no campo da saúde: o Serviço
Especial de Saúde Pública e a política sanitária no governo Vargas. v.14, n. 4. 2007, p.1429-1434.
44
Ibid., p. 1430.
26
45
OLIVEIRA, Wesley Pereira de; TRINDADE, José Raimundo Barreto; FERNANDES, Danilo Araújo. O
planejamento do desenvolvimento regional na Amazônia no período de 1946-66 e sua relação com o ciclo
ideológico do desenvolvimentismo brasileiro. [2013?], p. 12. Disponível em:
http://www.abphe.org.br/arquivos/wesley-pereira-de-oliveira-jose-raimundo-barreto-trindade-danilo-araujo-
fernandes.pdf. Acesso em: 18 de abril de 2019.
46
BRASIL. Art. 199 da Constituição Federal de 18 de setembro de 1946. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10610482/artigo-199-da-constituicao-federal-de-18-de-setembro-de-1946.
Acesso em: 20 de abril de 2019.
47
OLIVEIRA et al, op cit., p. 11.
27
em torno do preço do produto, pois com a queda de preços no oriente, a pressão sobre as elites
na Amazônia para baixar os preços foi iminente, o que gerou problemas entre essas elites e
empresários do setor industrial, já que ambos visavam seus próprios interesses econômicos.
A possibilidade de solução para essas divergências diante de todos os impasses com
relação a manutenção da mão de obra nos seringais e a pressão advinda por parte do setor
industrial nacional, que seria o principal consumidor dessa matéria-prima da Amazônia, seria,
segundo Fernandes,
Essa medida, muito parecida com a tomada por Getúlio Vargas com a questão da crise
do café, fez com os problemas gerados em torno da produção gomífera pudessem ser
amenizados e contribuído para o abastecimento das industrias no mercado nacional interno.
Com a inclusão do art. 199 na carta constitucional, o governo viu a necessidade de
intensificar os debates em torno do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, já que o
que foi intensificado na região desde a década de 30, foi um forte processo de migração para
ocupação, no entanto, a política de industrialização, que era um dos planos do governo para o
país, não se efetivou na Amazônia, acarretando uma série de consequências negativas,
principalmente no setor econômico, que era voltado praticamente somente para a exportação
48
FERNANDES, op. cit., p. 267.
49
ANDRADE, Rômulo de Paula. A Amazônia no pós-guerra e a construção da rodovia Belém-Brasília.
Muiraquitã, UFAC. v. 3, n. 2, 2015. p. 163.
28
50
FERNANDES. op. cit., p.12.
51
Para Becker, geopolítica se define como uma ciência que estuda o território geográfico e as políticas vigentes
que se estabelecem no mesmo, buscando debater os problemas socioeconômicos a partir da perspectiva da
territorialidade, desenvolvimento econômico e político-ideológico. BECKER, Bertha K. Revisão das políticas
de ocupação da Amazônia: É possível identificar modelos para projetar cenários? Modelos e cenários para a
Amazônia: o papel da ciência. op. cit., p. 135-136.
52
BECKER, op. cit., p.135.
53
FERNANDES, op cit. p.172.
29
54
OLIVEIRA et al, op cit p. 12.
55
Ibid., p. 13.
56
BRASIL. Lei nº 1.806 de 06 de janeiro de 1953, Rio de Janeiro, 132º da Independência e 65º da república.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-
publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 17 de março de 2019.
30
Também é bastante explícita no art. 3º a destinação dessa verba, a qual fica estritamente voltada
a questão econômica para a recuperação e desenvolvimento da região.
No Art. 7º, estão presentes a destinação que a lei regula para o Plano de Valorização
da Amazônia.
O artigo 7º da Lei acima citada, mostra que o Governo da época tinha uma certa
preocupação relativa a destinação de recursos para a promoção do desenvolvimento agrícola;
da produção extrativista; produção animal intensificada no interesse do desenvolvimento da
pecuária na região; implementação de programas que pudessem viabilizar soluções para os
problemas de inundação na região e possíveis perdas de produtos agrícolas; promoção e
aproveitamento dos recursos minerais e incremento da industrialização dos produtos regionais
para abastecimento das necessidade do mercado interno e externo. Além disso, traz objetivos
relacionados a implementação de tecnologias, como plano de viação, política de instalação de
energia elétrica para melhor organização dos espaços que pudessem garantir abastecimento de
combustível e eletrificação suficientes para a promoção de centros urbanos industriais.
Enfim, o artigo também ressalta a preocupação de se estabelecer uma política
demográfica e social que pudesse garantir assistência à alimentação, saúde, educação e
saneamento básico para a polução da região, também se tinha o interesse de fomentar a
migração ao que “mais convinha aos interesses da região e do país”, ou seja, novamente se
estipula a política do povoamento na Amazônia, principalmente para minimizar os problemas
regionais do centro-sul do país. Também se propôs a fomentar linhas de crédito que pudessem
contribuir para as relações comerciais e bancarias, nesse contexto podemos citar a criação do
Banco de Crédito da Borracha (BCB) 58, com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento
da melhoria da produção gomífera na Amazônia; implementação de programas de pesquisas
geográficas que pudessem nortear e melhorar o conhecimento a respeito da região; incentivação
do capital privado, a partir da criação da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA)59,
a fins de melhorar o desenvolvimento das riquezas regionais; orientação e organização
específica para as funções de pesquisas permanentes e manutenção de um serviço de divulgação
econômica e comercial com órgãos e meios próprios para conhecimento, a todo tempo, da
produção efetiva da região.
Dessa forma, o que se pode observar a partir desses objetivos estipulados na lei para
fins de destinação do Programa de Valorização da Amazônia, é que havia um interesse de
controle da região pelo Governo Federal, não somente na base da produção extrativista, pois,
nesse momento se implementa a questão agrícola e pecuária, vinculadas novamente a um plano
57
Id., 1953.
58
FERNANDES, op. cit., p. 270.
59
Ibid., p. 279.
32
de migração e povoamento como forma de estilizar a região a partir de outros modelos vindos
de diversas partes do país. Agora seria povoar para estimular um novo modelo de produção
regional.
O Art. 8º da referida lei, também nos mostra a criação de outro órgão, seria o Fundo
de Valorização Econômica da Amazônia, o qual daria suporte para o Plano de valorização.
Sendo que o Parágrafo primeiro ressalta que:
Passou um ano desde a criação da SPEVEA, para que houvesse uma concretização nos
estudos orçamentários para o desenvolvimento e aprovação do orçamento de um plano
emergencial para a Amazônia. O autor cita acima, o que foram as primeiras medidas,
60
BRASIL, op. cit.
61
OLIVEIRA et al, op. cit., p.15.
33
asseguradas por lei, para esse plano, que tinha como principal objetivo, intervir na produção
agrícola, na expansão da agropecuária, instalação de energia elétrica, transportes, comunicação,
saúde, desenvolvimento cultural, crédito e comércio.
Além da SPVEA, também foram criados outros órgãos na Amazônia, principalmente
os voltados para área da tecnologia e fomento na diversificação dos produtos agrícolas regionais
como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em 1954, sendo ambos geridos
pelo Governo Federal.
62
FERNANDES. op. cit., p.277.
63
Ibid., p.278.
64
OLIVEIRA et al. op. cit., p.16.
34
Dessa forma, podemos observar que o período que compreende a metade da década de
1940 (pós-guerra), à primeira metade da década de 1950, foi crucial para o estabelecimento de
leis, planos e projetos que deram maior visibilidade para elaboração de programas de
investimentos em vários setores para a Amazônia, embora os recursos tenham sido mínimos
para uma região de extensão geográfica de tamanho continental, e não se tenha investido de
forma eficaz em pesquisas que pudessem realmente dar suporte para o conhecimento da área
em todos os seus aspectos que pudesse contribuir realmente para o desenvolvimento industrial
da mesma. Esses planos foram fundamentais para estabelecer um olhar diferenciado para a
Amazônia e para a população, como por exemplo, a iniciativa de propor intervenções nas áreas
da saúde, educação e saneamento básico, embora poucos investimentos tenham ocorrido
efetivamente para a melhoria do povo amazônico durante o período.
65
Ibid., p. 19.
35
Para Vânia Maria Losada Moreira, o governo JK, “foi, de longe, o mais bem-sucedido
da experiência democrática”66, por conta das diversas crises econômicas e sociais que ocorriam
no período, além das fortes críticas da oposição com relação ao perfil nacional-
desenvolvimentista estipulada no plano de metas do mesmo. Segundo a autora, Juscelino
pretendia manter a “ordem” nacional e apaziguar possíveis divergências a partir do “programa
juscelinista”, que buscava fazer face tanto a direita quanto à esquerda política a partir de
estratégias com uso de projetos que pudessem atender as demandas de ambas as partes para que
suas metas fossem desenvolvidas, se destacando dessa forma, a partir de um perfil “ruralista,
nitidamente conservador e autoritário, e o nacionalista econômico, crescentemente reformista e
abertamente popular”67
O perfil nacional-desenvolvimentista de JK foi amplamente estampado em sua
campanha para a presidência, sendo que tal ideologia já era bastante visível desde quando fora
prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas gerais, “cujos traços essenciais eram o
compromisso com a democracia e com a intensificação do desenvolvimento industrial de tipo
capitalista”68. Pretendia acelerar o desenvolvimento nacional, como assinala claramente no
slogan de campanha presidencial, fazendo a economia crescer em cinco anos, o que levaria
cinco décadas, a partir de projetos de desenvolvimento dos setores de energia elétrica e
transporte. Esse tipo de propaganda foi totalmente inovadora, já que “número, metas e
estatísticas, não faziam parte do estilo da época”69.
Os anos do governo JK foram bastante conflituosos e intensos, pois, embora
assumindo a “linguagem do desenvolvimento nacional”70, optou por favorecer a participação
do capital estrangeiro, principalmente dos Estados Unidos, que irão financiar e implantar,
diversas empresas multinacionais durante o período. O governo “ofertava o desenvolvimento
nacional como algo de todos e para todos, cujo resultado final seria a transição do Brasil para o
mundo das nações ricas, modernas e portadoras de bem-estar social”71, no entanto, o ideal
66
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural.
In: Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo da experiência
democrática-da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Volume: 3. 2ª ed. Civilização brasileira.
Rio de Janeiro, 2008. p. 158.
67
MOREIRA, loc cit.
68
Ibid., p. 159.
69
MOREIRA, loc cit.
70
Moreira assinala que o governo JK, junto com os intelectuais isebianos, desenvolveram uma “linguagem
nacionalista”, ou seja, um modo de falar com o povo de forma a conquistar a confiança dos mesmos, alimentando
uma ideologia de progresso e desenvolvimento a partir da esfera nacionalista. MOREIRA, Vânia Maria Losada.
Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural. In: Jorge Ferreira e Lucilia de
Almeida Neves Delgado (org). O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática-da democratização de
1945 ao golpe civil-militar de 1964. op. cit., p. 157-194.
71
MOREIRA, op. cit., p. 165.
36
Muito além dos objetivos destacados, o plano foi dividido em 30 metas, “distribuídos
nos setores de energia (metas 1 a 5), transporte (metas 6 a 12), alimentação (metas 13 a 18),
indústria de base (metas 19 a 29) e educação (meta 30)”.75 A construção de Brasília não fazia
parte do plano de metas no período da campanha, mas logo depois, foi inserida como prioridade
no mesmo, sendo chamada de “meta-síntese, pois ela simbolizava um ‘novo Brasil’, penetrado
pela civilização do automóvel”76.
Para Andrade 2015, Mendonça 1995 e Moreira 2008, existe uma certa unanimidade
em afirmar que o governo JK conseguiu realizar com sucesso a maior parte do seu ambicioso
plano de metas, principalmente aos que correspondem os setores de energia e transporte,
72
MENDONÇA. op. cit., 56.
73
De acordo com Mendonça, o tripé da industrialização do país, como já foi visto, era composto pelas empresas
produtoras de bens de consumo duráveis (a cargo do capital estrangeiro), pelas produtoras de bens de consumo
correntes (a cargo do capital nacional) e pelas indústrias de base (a cargo do Estado). MENDONÇA, Sônia. A
industrialização brasileira. op. cit., p. 62.
74
MENDONÇA, op. cit., p. 57.
75
MOREIRA. op. cit. p. 159
76
MENDONÇA. op. cit. p. 57.
37
77
MENDONÇA, loc cit.
78
MOREIRA. op. cit. p. 201.
79
MOREIRA, loc cit.
80
Ibid. p. 162.
81
MENDONÇA, op. cit., p. 59-60.
82
Ibid., p. 60.
38
estratégia de como acalmar os ânimos e chamar a população para fazer parte da conquista da
“modernização e do desenvolvimento”, mesmo que para isso, seja ela, que venha a pagar o
preço da forma mais dura. Seu discurso nacionalista e a defesa do desenvolvimento nacional,
fez com que fizesse diversas alianças políticas que o ajudaram a levar para frente seu plano de
metas83.
Dentre essas alianças políticas, pode-se citar o grupo da bancada ruralista, composta
principalmente pela elite oligárquica que tinham grandes interesses de modernizar e expandir o
setor agropecuário dentro do país e, que viam na possibilidade da abertura das rodovias, grandes
formas de crescimento financeiro pessoal.
Essa ligação gerou grandes conflitos dentro do cenário político no contexto de diversas
linhas ideológicas existentes, pois, na análise dos isebianos, os ruralistas poderiam ser um
impasse para o projeto de industrialização, já que para isso, era necessário implementar a
reforma agrária, com a finalidade de oportunizar condições necessárias para que as pessoas
pudessem consumir. No entanto, as análises isebianas estavam equivocadas, pois não somente
interessava a Kubitschek a integração nacional por meio da abertura das rodovias em prol de
um melhor acesso para o escoamento dos produtos de diversas regiões do país e circulação de
pessoas, quanto isso era do interesse dos ruralistas que precisavam melhorar o acesso para suas
exportações84.
A bancada ruralista defendia o projeto de industrialização, no entanto, era frontalmente
contrária aos projetos de reforma agrária, vistos como entraves aos seus negócios frente à
dominação de extensas áreas de terras que possuíam. “A oligarquia rural não duvidava,
portanto, das fortes expectativas em redor da industrialização e da modernização e temia que
setores sociais e políticos mais afoitos adotassem a via revolucionária e comunista para alcançar
aqueles objetivos”.85
Dessa forma, a bancada ruralista passava por um momento de grande tensão, já que a
política de JK os beneficiava de forma direta, gerando grandes conflitos sociais em torno da
questão agrária, aumento a grilagem de terras, conflitos com sociedades indígenas e, com
83
MOREIRA, op. cit., p. 164.
84
Ibid., p. 168.
85
MOREIRA. op. cit. p. 209.
86
Ibid., p. 211.
39
camponesas e migrantes, que foram confiantes rumo a segunda Marcha para o Oeste, em busca
de melhores condições de vida e, se encontraram em situação de abandono e descaso por parte
do governo. Dessa forma:
Compreende-se dessa forma, que as relações entre JK e os ruralistas foram muito mais
complexas, alterando o sentido inicial da “Marcha”, que se configurava numa forma de
colonização onde fossem viabilizadas condições mínimas necessárias para a população
sobreviver, gerando fortes conflitos e fortalecendo o poder centralizador das elites oligárquicas
rurais da região.
Para a Amazônia, o congresso autorizou em 1958 a construção do complexo rodoviário
Belém-Brasília, Brasília-Acre, que ligava diversas regiões do país, a que seria a nova capital do
Brasil, fortalecendo dessa forma, o grande plano de integração. Carregada de intensas
propagandas políticas, produções de documentários e livros, para amenizar as críticas em
relação à mesma, foi iniciada a construção, abrindo um leque de vários conceitos ideológicos a
respeito da região e da natureza, que é compreendida nesse momento, como grande entrave para
o progresso, “vista como vilã de um processo teleológico cujo rumo inexorável seria uma
“civilização” aos moldes urbano-industriais, a natureza foi associada a um passado que deveria
ser esquecido, suplantado pela estrada, o “novo”.”88
De acordo com Andrade, “foi durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)
que a questão do desenvolvimento se tornou mais explícita, com a Amazônia enquadrada neste
contexto”89, que seria associada novamente a questão do isolamento com relação ao restante do
país, e lugar onde o progresso capitalista deveria alcançar, para quebrar dessa forma, os entraves
que não permitiam o desenvolvimento econômico da região.
Os meios de propaganda também foram fundamentais para justificar a construção da
rodovia Belém-Brasília ou BR-14 na Amazônia, sua construção, entre 1958 a 1960 coordenada
pela SPEVEA, trouxe uma série de consequências ambientais e sociais na região que geraram
diversos debates e conflitos políticos por conta da empreitada. “As estradas têm papel
87
Ibid., p. 214-215.
88
ANDRADE, Rômulo de Paula. A poeira do progresso pede passagem: imagens de natureza e
desenvolvimento na floresta amazônica. Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. 26, 2018, p. 04.
89
ANDRADE, op. cit., 2015, p. 166.
40
Ainda não apareceu um Euclides da Cunha para fixar, em páginas que seriam imortais,
a epopéia dessa luta contra a floresta. Tudo conspirava para frustrar a intenção dos
desbravadores — dificuldades de todo género, o mistério da região nunca explorada,
a dureza da vida em condições subumanas, os perigos imprevistos, a sede, a fome, as
febres, as cobras, os mosquitos e, sobretudo, os carrapatos e o formigão. a estrada ia
sendo aberta a serrote, a trator, a facão e a dinamite. Quando um cedro ou uma
maçaranduba gigante parecia irremovível, encaixavam-se bananas de dinamite em
fendas, abertas nas raízes, e estrondava-se o tronco. A queda de um desses reis da
floresta era um espetáculo inesquecível. 94
90
FATHEUER, Thomas. Amazônia: região paradigmática situada entre destruição, valorização e resistência.
Revista: Um campeão visto de perto: uma análise do modelo de desenvolvimento brasileiro. [2013?] p. 83.
91
MENDONÇA. op. cit. p. 57.
92
ANDRADE, Rômulo de Paula. Conceitos de progresso e natureza na construção da Belém-Brasília. p. 02.
93
MENDONÇA. op. cit., p. 57.
94
KUBITSCHEK, Juscelino. Por que construí Brasília. Brasília, Senado Federal – Coleção Brasil 500 anos,
2000, p. 249
41
95
ANDRADE, op. cit., 2018. p. 18.
96
MOREIRA, op. cit., p. 215.
42
acreditavam que seria, se Goulart continuasse no poder. Todos esses fatores, somados a uma
corrente ideológica sobre o perigo “comunista”, analisados principalmente a partir dos planos
de Goulart para a questão da Reforma Agrária e programas sociais para a população mais pobre,
além dos interesses das elites conservadoras brasileiras e do mercado internacional,
principalmente dos Estados Unidos a fins de alavancar a sua estrutura capitalista, surtiram no
Golpe Militar que durou 21 anos97.
97
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo - Contexto, 2014. p. 7-8.
98
Ibid., p. 314.
99
Ibid., p. 150.
43
em torno das demandas internacionais, por conta da grande pressão sofrida por causa das
questões ambientais na qual veio ganhar destaque durante o período, fez com os mesmos
continuassem com os planos de integração e colonização iniciados na década de 1930 com
Vargas.
O uso do lema “integrar para não entregar” foi umas das formas encontradas para
motivar a migração como meio de amenizar o “risco” de perda do território após a construção
das estradas durante a implementação do Programa de Integração Nacional (PIN), e de ações
de colonização promovidas através do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), que
utilizaram o lema “Terra sem homens para homens sem terra” como forma de amenizar os
problemas e conflitos agrários decorrentes no Brasil, incentivando migrações, principalmente
do Sul e Nordeste para o Norte do país100.
Dessa forma, podemos observar que o pós 64 no Brasil, organizou uma base política
tendo em vista dois grandes objetivos: o desenvolvimento econômico e acumulação de capital
em prol das elites, sem participação da sociedade civil, as quais foram as mais prejudicadas
pelas medidas tomadas para alcançar o “milagre econômico” ocorrido posteriormente102. No
caso da Amazônia, a implementação de políticas públicas, visaram principalmente o
estabelecimento de incentivos fiscais, os quais vieram implantar na região os grandes
empreendimentos agropecuários e madeireiros, além de “conduzir e disciplinar o assentamento
de camponeses na região”103. Esses incentivos permitiram uma maior concentração de renda
100
SAMUDIO, Agatha Manon. A Amazônia nas relações internacionais: o papel da influência internacional
na formulação da política externa brasileira para a região. 2010. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Relações
Internacionais) Faculdades Integradas de Rio Branco. p. 28-29.
101
PEREIRA, José Matias. O processo de ocupação e de desenvolvimento da Amazônia: a implementação de
políticas públicas e seus efeitos sobre o meio ambiente. Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997. p. 79.
102
Ibid., p. 79
103
Ibid., p. 79.
44
nas mãos dessas elites, aumentando dessa forma as desigualdades sociais e pobreza na
Amazônia.
De acordo com Carlos Renha, em 1966 foram criados os primeiros programas do
regime militar para a Amazônia com a finalidade de resolver os problemas que atingiam a
região, principalmente no setor econômico, no qual teve a SPEVEA como principal alvo
naquele momento, sendo seus principais administradores acusados de corrupção e desvios de
verbas, além de ser considerado um órgão inoperante, tanto na visão dos militares quanto na
opinião pública104. Como consequência, foi implantada a Lei nº 5.173, de 27 de outubro de
1966, que viria a substituir a mesma pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM). Também durante esse período, foi criado o Banco da Amazônia (BASA) “que
passou a ser responsável por liberar créditos para políticas de desenvolvimento no local”105.
Dentro desse contexto da década de 60, também foi criada a Zona Franca de Manaus que serviu
de suporte industrial para a economia extrativista da região106.
104
RENHA. Carlos Eugenio Aguiar Pereira de Carvalho. A Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, a política de desenvolvimento regional e o Amazonas (1953-1966). Dissertação
(Mestrado em História) - Universidade Federal do Amazonas. 2017, p. 92-93.
105
SILVA, Juçara Lobato da. As políticas de planejamento para o desenvolvimento da Amazônia e seus
reflexos na política educacional do Amazonas nos anos 1960. p. 07.
106
BECKER, op. cit., p.137.
107
RENHA, op. cit., p. 96.
45
108
SENRA, Kelson Vieira. Politicas Federais de Desenvolvimento Regional no Brasil: uma análise
comparada dos períodos Pós-Guerra (1945-1964), Pós-Golpe Militar (1964-1988), e Pós-Constituição Federal de
1988 (1988-2009). Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade de Brasília. 2009, p. 53-54.
109
BECKER, op. cit,. p. 137.
46
***
O presente capítulo visou fazer uma analise histórica a respeito dos Programas de
Desenvolvimento para a Amazônia desde o período Vargas até a Ditadura militar, buscando
compreender os viéises ideológicos nos quais os referidos governos estudados buscaram se
firmar para pôr em prática seus objetivos com relação a região Amazônica. Embora existam
diversos aspectos que especificam a singularidade de cada governo, também é possível
identificar alguns elementos que se assemelham um com o outro.
O pensamento de vazio demográfico e região que precisava ser desbravada, foi um dos
discursos característicos presentes em todos os períodos estudados neste, além de ter sido peça
central ultilizada por lideranças governamentais nos meios de comunicação e propaganda,
como forma de justificar suas ações e projetos para a Amazônia. A consequência desse
“imaginário” sobre a Amazônia, fez com que o fluxo migratório aumentasse cada vez mais e,
o índice populacional crescesse de forma desordenada e sem planejamento, além de contribuir
para a construção de um estereótipo para a região como um lugar atrasado e sem
desenvolvimento, que infelizmente se perpetuou no imaginário de muitas pessoas que não
conhecem a região Amazônica e suas especificidades.
47
CAPÍTULO II
3. PORTEL: UMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DA
ECONOMIA MADEIREIRA
O capítulo vem apresentar os resultados da pesquisa sobre o processo de transformação
socioeconômica do município de Portel alguns períodos antes e após a instalação da empresa
AMACOL, analisando de que forma a população foi aderindo a uma nova cultura do trabalho
a partir da entrada da empresa no município e, como a sociedade foi se transformando nos
aspectos sociais e econômicos a partir da inserção da população portelense no trabalho fabril.
Além disso, o trabalho busca compreender o processo migratório em Portel e as relações
políticas e econômicas do município no cenário nacional, apresentadas a partir de documentos
correspondentes as décadas de 1930 a 1980.
O primeiro tópico, vem apresentar dados sobre a economia do município de Portel nas
décadas de 1930 a 1980, datas referentes aos processos históricos abordados no Primeiro
Capítulo deste trabalho, nos quais além de influir no processo econômico do município, também
foram responsáveis pelo fluxo migratório que se instituiu no mesmo, fazendo transformações
profundas nas relações socioculturais da sociedade portelense.
Além disso, serão apresentadas as transformações sociais, econômicas, culturais e
ambientais causadas pela instalação da empresa AMACOL no município de Portel a partir do
final da década de 50, analisando de que forma o auge da exploração madeireira contribuiu para
o desenvolvimento socioeconômico do município durante as décadas de 1960 a 1980.
[...] De modo geral, para alguns atores (tanto acadêmicos como políticos), florestas,
rios, solos, fauna e flora representam oportunidades de realização de atividades
econômicas com vistas, sobretudo, ao crescimento econômico. Para outros, estão
associados à constituição de um modo de vida peculiar, distinto daquele que se
evidencia no mundo moderno. Essas diferentes situações, e suas matizes, são
aplicadas ao caso da Amazônia Brasileira, região cujos processos sociais que
48
Esse modelo pautado na exploração de recursos naturais desde o período colonial, fez
com que a Amazônia recebesse um perfil exportador, sofrendo um abalo expressivo na sua
economia após o período do auge da borracha no início do século XX, fazendo com que a
população da Amazônia retomasse a produção agrícola e extrativista 111, principalmente na
extração da castanha-do-Pará, madeira e da produção de farinha de mandioca para fins de
exportação, como foi no caso do município de Portel, que garantiu sua base econômica durante
esse período a partir desses produtos.
A Portaria de N.º 1 de 4 de janeiro de 1936112 emitida pela Prefeitura Municipal de
Portel, destinada ao Governo do Estado do Pará, vem apresentar uma tabela provisória sobre
cobranças de impostos de Industria e Profissão, sendo os mesmos direcionados principalmente
aos regatões113 que faziam comércio nos rios de Portel, vendendo ou trocando mercadorias por
produtos regionais, principalmente a castanha e a farinha de mandioca. Observa-se que a
castanha recebe maior destaque no documento. No seu último parágrafo, a Portaria, faz ênfase
aos comerciantes de castanha, fato que se deu principalmente por conta do grande teor de
produção e exportação da mesma sem pagamentos devido dos impostos municipais. O prefeito
da época era o Coronel Severiano de Moura, empossado pelo governo do Estado, assumiu a
prefeitura até a data de sua morte no dia 12 de agosto de 1937.
Outros documentos apontam que a partir dessa primeira portaria foram criados postos
de fiscalização nos quatro rios do município: Pacajá, Anapú, Camarapí e Acutipereira, nos quais
os fiscais nomeados, ficavam responsáveis pela cobrança de impostos dos produtos que eram
levados para outros municípios, principalmente a madeira da maçaranduba, no qual a partir do
110
SILVA, Danielle Wagne; CLAUDINO, Livio Sérgio; OLIVEIRA, Carlos Douglas; MATEI, Ana Paula;
KUBO, Rumi Regina. Extrativismo e desenvolvimento no contexto da Amazônia brasileira.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 38, p. 557-577, agosto 2016. p. 558. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/made/article/download/44455/29139. Acesso em: 17 de abril de 2019.
111
CARVALHO, op. cit, p. 24.
112
A imagem da Portaria N.º 1 de 4 de janeiro de 1936, está disponível no Apêndice A deste trabalho.
113
Vendedor ambulante que viaja nos rios da Amazônia em embarcações grandes ou pequenas, dependendo dos
produtos que carrega, para comercializar com os ribeirinhos que vivem em áreas de florestas. Esse comércio se
dá em forma de troca de produtos que sejam do interesse de ambos, ou da venda dos mesmos.
49
Tanto as bolas de borracha de seringa quanto de maçaranduba eram levadas daqui por
aviadores. Eles vinham de barco e levavam essas bolas pra Belém, de lá elas eram
levadas pros Estados Unidos em grandes navios. Elas serviam pra fazer material para
guerra. Eu, meu pai e meus irmãos, a gente comprava isso pra vender pra esses
aviadores, a gente trabalhou também no começo riscando seringa. O pessoal vai pro
mato, principalmente os homens, riscar seringa, as bolas de borracha também eram
feitas pelas mulheres que ajudavam a defumar. Era uma economia muito boa aqui em
Portel naquele tempo. Todo mundo tinha dinheiro porque todo mundo trabalhava e
conseguia vender116.
114
A imagem da Portaria N.º 6 de 19 de fevereiro de 1936, está disponível no Apêndice B deste trabalho.
115
Entrevista concedida à autora em 2019.
116
Entrevista concedida à autora em 2019.
50
117
A imagem da Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942, está disponível no Apêndice C deste trabalho.
118
Trecho da Portaria N.º 30 de 4 de maio de 1942.
51
investimento estrangeiro na região, mantendo o mesmo perfil exportador, quase toda atividade
econômica voltada para a exportação da borracha”119, fazendo com que se estabelecesse na
Amazônia outros tipos de relações de exploração de mão de obra de trabalho análogas ao
escravo, a partir da extração do látex e produção da borracha.
Essas imposições dos preços, somados à exploração dos aviadores fizeram com que
em vários lugares, os seringueiros desenvolvessem estratégias para conseguir fazer com que o
valor do seu produto pudesse gerar mais rentabilidade, por isso que durante o processo de
fabricação das bolas, muitos acrescentavam pedaços de madeira que garantissem um peso maior
as bolas de borracha.
O auge da borracha no município trouxe bastantes imigrantes nordestinos para Portel,
que trabalhavam tanto na extração do látex para a produção da borracha, quanto na agricultura.
Em entrevista com o senhor Estanislau Pereira Monteiro, de 82 anos e que já foi vice-prefeito
municipal, ele ressalta que:
Minha família é toda nordestina, eu nasci aqui em Portel no rio Piarim - Pacajá, meu
pai dizia que primeiro vieram alguns do nordeste fugido da seca. Lá era ruim, não
tinha água, não dava pra plantar. Ele disse que minha família chegou aqui e foi pro rio
Pacajá, meu pai contava muitas histórias de índio que ele via. Meu pai trabalhava com
tudo, não tinha medo de trabalho. A gente fazia farinha, caçava, pescava, plantava as
coisas pra comer e ia pro mato riscar seringa pra fazer as bolas de borracha 121.
O certo é que, de forma intencional ou não, as migrações para a região norte do Brasil,
pouco foram estudadas em sua plenitude quando tratamos de períodos diversos
119
CARDOSO, Daniel Monte. Os dilemas do desenvolvimento da Amazônia em perspectiva histórica.
Monografia (Graduação em Ciências Econômicas). Universidade Estadual de Campinas. Campinas – SP. 2011,
p. 27.
120
Ibid., p. 27.
121
Entrevista concedida a autora em 2019.
52
Esse patrocínio altamente intensificado durante o Estado Novo, gerou um forte fluxo
migratório para a região Amazônica, sendo que o município de Portel recebeu diversos
nordestinos vindos de vários lugares que se estabeleceram tanto na zona rural quanto urbana e,
construíram no local suas histórias de vida e de trabalho.
O teor propagandista do período Vargas no Estado Novo, fez com muitas pessoas
deixassem seus lares em busca do sonho de uma vida melhor. O sonho prodigioso do paraíso
verde no qual muitas pessoas iriam encontrar terra e fartura de alimentos para quem o
desbravassem, fez com que pouco a pouco os espaços amazônicos fossem “ocupados”, por
outros não nativos da região.
A década de 50 também teve um importante fluxo econômico com relação a produção
agrícola, extrativista e de pescados no município. A Portaria N.º 7 de 20 de fevereiro de 1959124,
expedida pela Prefeitura Municipal, traz informações a respeito do controle de venda de
pescados e mariscos fora do Mercado Municipal de Portel e do município, proibindo o
desembarque desses produtos fora do mercado e alertando os fiscais a intensificarem as
fiscalizações.
O Relatório de Plano Governamental Municipal de Portel de 12 de maio de 1955125,
destinado ao deputado Federal Lameira Bittenecourt, também traz informações importantes
sobre os dados econômicos da produção agrícola e extrativista do município, solicitando do
mesmo, parcerias e investimentos no desenvolvimento desses setores. O documento faz um
detalhamento sobre a situação econômica, topográfica e da superfície do município. Com
relação a produção agrícola e ao extrativismo, o mesmo nos mostra uma listagem do que era
produzido durante a década de 50.
122
LIMA, op. cit., p. 54.
123
Ibid., p. 57.
124
A imagem da Portaria N.º 7 de 20 de fevereiro de 1959, está disponível no Apêndice D, deste trabalho.
125
A imagem do Relatório de Plano Governamental de Portel de 12 de maio de 1955, está disponível no
Apêndice E, deste trabalho.
53
Agricultura:
Arroz 250 toneladas
Farinha de mandioca 5.540 toneladas
Milho 90. 567 quilos
Feijão 23. 040 quilos
Extrativismo:
Borracha 131.077 quilos
Massaranduba 342.658 quilos
Jutaicica 5. 916 quilos
Timbó 1.993 quilos
Peles de animais silvestres 1.995 quilos
Castanha 2.728 hectolitros
Madeira bruta 3.293 m³126
126
Trecho do Relatório de Plano Governamental de Portel de 12 de maio de 1955.
127
Espécie de goma retirada da copa das árvores do jutaieceiro, utilizada para lustrar louças de barros e
impermeabilizar de louças de cerâmica que iam diretamente ao forno.
128
A imagem da Portaria N.º 30 de 20 de julho de 1956, está disponível no Apêndice F, deste trabalho.
129
Comerciante ambulante que vende de gêneros alimentícios e outros produtos em embarcações nos rios do
município de Portel, sendo que também negocia com ribeirinhos alguns produtos através do sistema de trocas
que pode ser por farinha, madeira etc.
54
O senhor Ademar Terra fala com lucidez ao rememorar os tempos de sua infância e a
dinâmica de vida e trabalho que estabelecia junto a sua família. A realidade de migrações que
vivenciou com sua família, na década de 50, nos mostra em parte a decadência das exportações
gomífera no período pós-guerra, que trouxe uma realidade de grande descaso no contexto
Amazônico, sentida em todas as suas regiões, principalmente nos municípios pequenos, como
foi o caso do município de Portel, que comparado com à década de 40, tendo em vista as
exigências afirmadas no documento analisado anteriormente em decorrência da qualidade e
quantidade de produção para fins de exportação, vemos na década de 50 uma forte decadência,
aparecendo abaixo da linha de produção até mesmo da maçaranduba, cujo produto há uma
década atrás, não tinha tanta procura relacionado as bolas de borracha feitas a partir do leite da
seringa.
No caso da extração de madeira para comercialização em sua forma bruta, pode-se
observar na fala do senhor Ademar Terra que foi bastante durável no município, como a maioria
da população vivia na zona rural do mesmo, as relações comerciais se davam geralmente nas
localidades dessas pessoas, por isso o aumento de contratações de fiscais que aparecem em
outros documentos da década de 50, mostram a preocupação dos governantes em aumentar os
postos de fiscalização e arrecadação de impostos sobre a madeira, pois, como a extensão
geográfica dos rios são muito grandes, a madeira do município saía com bastante facilidade, o
que gerava uma diminuição na arrecadação de impostos e no controle de exportações dessa
especiaria para outros lugares.
O senhor Humberto Cardoso relembrando do trabalho do seu pai Abisalão Cardoso,
vem falar que o mesmo trabalhava também com a extração de madeira, além do trabalho com
a extração do leite da seringa e roça na produção de gêneros agrícolas. “Naquela época tinha
muita saída da Louro Vermelha, uma madeira que tinham muita preferência, era em que eles
trabalhavam mais, havia muita procura. Essa madeira era vendida para o comerciante Kurt Hell
e levada para a exportação”.
55
Segundo o senhor Humberto o alemão Kurt Hell tinha um comércio em “terra”, na ilha
da Boa vista, no rio Camarapí e também regatiava seus produtos em barcos adentrando vários
braços desse rio, “geralmente ele trocava as mercadorias por madeira bruta com o pessoal. O
navio vinha e apanhava a madeira ali em cima da Boa Vista, uma ilha que tem. Esse navio era
de fora, o Kurt Hell era quem negociava essa madeira com eles”.
Dessa forma, podemos perceber que a dinâmica de trabalho e econômica no município
de Portel foi bastante intensa na década de 50. Sobre a comercialização de peles de animais, o
senhor Humberto Cardoso nos relata que se tratava de uma prática ilegal sendo que “muitas
pessoas mataram umas às outras por conta da competitividade do mercado de pele. Uma pele
de onça, valia mais ou menos 15 mil reais se fosse comercializada atualmente”.
Nesse sentido, é possível avaliar a economia municipal durante os anos 50 como
relativamente boa, levando em consideração que a produção agrícola era expressiva e dava
conta de abastecer o município com gêneros alimentícios citados e não citados, como foi o caso
da produção açucareira, café, pimenta do reino e cominho, que eram utilizadas para consumo
próprio das famílias, além da criação de porcos e gados vacum verde, que aparecem em outras
portarias regulamentando os espaços de criação dos mesmos e os horários que deveriam ser
presos. As práticas de caça e pesca, também eram constantes no município, sendo que os
produtos adquiridos pelos próprios moradores durante as atividades, eram consumidos e
comercializados interna e externamente.
Assim, o município de Portel no período correspondente até 1956, quando da
instalação da empresa AMACOL, foi marcado por uma economia de base agrícola e
extrativista, atendendo diretamente os interesses nacionais e internacionais da política do
Estado, mantendo relações e correspondências com o governo Nacional, a fim de garantir
melhorias no desenvolvimento econômico e social, pois, além dos pedidos de caráter
econômico, muitos documentos assinalam pedidos de recursos para a construção de um
Hospital, delegacia de polícia que foi construída durante essa década, construções de escolas
tanto na zona urbana quanto na rural, a preocupação da organização e melhoramento do
mercado público municipal, no qual recebeu bastante atenção durante o período pois, era visto
como ponto estratégico para o controle de vendas dos produtos e arrecadação de impostos sobre
os mesmos.
Enfim, o período constituído entre as décadas de 30 aos finais de 50 nos ajudam a
compreendermos um pouco sobre a situação econômica da Amazônica, mais especificamente
de Portel em torno da produção agrícola e do extrativismo, já que as décadas posteriores serão
marcadas por uma nova ordem econômica social, que são as instalações de grandes industrias,
56
130
SOUZA, Josiane Paiva; CORRÊA, Núbia Lafaete dos Santos. Memórias e vivências do campo no contexto
do bairro da Portelinha no município de Portel-PA. Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso. Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA. Belém, 2014, p. 38.
57
A primeira área, constituída pelo lote da Meruoca, no qual ficou também conhecido
como bairro da Meruoca por conta da amplitude de sua área, foram construídas algumas casas
ao modelo arquitetônico norte americano, com calçadas e piscinas que serviam de área de lazer
tanto para as famílias do dono da empresa, quanto para os gerentes que se estabeleceram lá.
Algumas pessoas do município de Portel que recebiam autorização para entrar na área, também
participavam de momentos de lazer e descontração nas piscinas da AMACOL.
Figura 4 – Imagem da área da Meruoca na qual se encontravam as residências
dos norte-americanos.
Na foto acima está a norte americana Polly Sierke Phelps sentada na cadeira a direita,
filha de um dos gerentes da AMACOL Jack Phelps, que trabalhou na mesma nas décadas de 70
e 80. A seu lado está a Rosivane, em pé Celina Paiva e ao lado dela aparece uma jovem que não
foi identificada e, ao seu lado está o Júnior, filho do senhor Teteca.
A foto também nos mostra uma das casas que compunham a vila dos norte-americanos,
construídas em madeira, lembravam muito a casa que frequentemente se ver em filmes
estadunidenses. As casas eram compostas por vários quartos, sala, cozinha, escritórios e
banheiros com banheiras em porcelana no interior dos mesmos. As escadas que davam acesso
para o andar de cima também eram muito diferentes para o que se costumava ver no município,
pois além do corrimão tinham uma estrutura diferenciada com forro embaixo, para que
pudessem evitar acidentes.
A paisagem do lugar, como se pode ver na fotografia, é composta por diversas árvores,
no entanto, a que predominava eram os pinhais, que faziam com que toda a área da empresa
58
“lembrasse alguns lugares dos Estados Unidos”, como dizem algumas pessoas ao recordarem
desses pinheiros que depois compuseram uma grande área da cidade que depois recebeu o nome
de Bairro do Pinho.
Também pode-se observar a piscina, algo que era uma grande novidade para a época,
tendo em vista que nenhuma casa em Portel tinha e, atualmente ainda são raras as casas que
possuem uma. Contava com um cercado ao redor, de madeira, pintado de azul claro e branco,
que servia mais para ornamentar o lugar, contribuindo para a estética da piscina. O que chama
bastante atenção na fotografia também, é a pequena barraca coberta com palha que servia como
sombreiro para quem ia desfrutar do banho de piscina. Certamente ela dava um requinte de
brasilidade no ambiente. As cadeiras provavelmente eram de ferro trabalhado, colocadas ali
para compor o ambiente estético do local.
Não se tem conhecimento ao certo de quem foi o autor da fotografia, o que se sabe é
que a mesma pertence ao acervo pessoal de Polly Sierke Phelps, que aparece na mesma. No
entanto, o autor da mesma buscou imortalizar também a paisagem em torno das pessoas que
estavam sendo fotografadas.
Dessa forma, vemos na fotografia uma grande oportunidade para o conhecimento do
passado, embora que este apareça de forma fragmentado, tanto o autor da fotografia quanto os
fotografados tiveram uma intenção, e esta, vem refletir na construção interpretativa da mesma.
Nesse sentido, “a fotografia é capaz de construir um imaginário social que não enxerga
fronteiras”131, por sua capacidade de ultrapassar o tempo e trazer novos significados para a
escrita da história132.
De acordo com relatos de antigos operários(as), a Empresa AMACOL, como ficou
conhecida atualmente, foi instalada no município de Portel em 1956, pelo empresário inglês
Robert Maclauwd como Empresa Alto Tapajós, que recebeu os títulos dessas terras pela
Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), o que foram práticas que
se tornaram comuns naquele período, haja vista que os grandes projetos de “desenvolvimento”
para a Amazônia, que se iniciou no período do Estado Novo, com sua Marcha para o Oeste, se
fortalecendo no período Juscelino Kubistchek, através da construção da rodovia Belém-
131
BRASIL, Luísa Kuhl. Tempos modernos: fotografia e imaginário social. Revista: Historeae, Rios Grande, 2
(1): 37-48, 2011. p. 37. Disponível em:
http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/6783/Tempos%20modernos%20fotografia%20e%20imagin%C3%A
1rio%20social.pdf?sequence=1. Acesso em: 09 de abril de 2019.
132
A autora, Luísa Kuhl Brasil. Tempos modernos: fotografia e imaginário social. 2011, p. 38-39. Vem ressaltar
que a invenção da fotografia em contraposição das pinturas em quadros durante o século XIX, se deu a partir das
novas concepções dos indivíduos em relação ao tempo e a sociedade na qual se encontravam. Segundo ela, essas
mudanças ocorreram principalmente na Europa Ocidental após o processo de industrialização, na qual a fotografia
representava a imagem “perfeita” do indivíduo em processo de transição advindo com a revolução Industrial.
59
133
FERNANDES op. cit., p. 117-121.
134
BRITO, Daniel Chaves de. A SUDAM e a crise da modernização forçada: reforma do estado e
sustentabilidade na Amazônia. [2001?] p. 2-3.
60
135
Entrevista concedida a autora em 2019.
61
A fotografia acima, tirada para esta pesquisa, mostra o senhor Maximiliano segurando
em suas mãos o Documento de Cidadão portelense, no qual aparece no mesmo a data do dia 22
de agosto de 1991, dia, mês e ano que ele recebe das mãos do prefeito da época o senhor Renato
Queiróz da Silva tal título. Atrás do fotografado, aparece parte do pequeno estabelecimento
comercial do mesmo.
Da limpeza da área à construção do espaço que viria a tornar-se um dos maiores
geradores de renda para o munícipio, foram empregados desde crianças à adultos, que
construíram ali, relações de sociabilidades, trabalhos, lutas, afetos e conflitos. Nesse sentido,
pode-se dizer, que embora a empresa tenha encerrado suas atividades e profundas modificações
tenham ocorrido no espaço onde a mesma se instalara, ainda existem locais preservados de
memória em meio a expansão urbana “uma memória que se tornou, ela mesma, objeto de uma
história possível”136, que faz com muitos moradores, recordem e expressem com saudosismo
os tempos da AMACOL na cidade de Portel, tornando-se agora não somente frutos de memórias
“desfaceladas”, mas, oportunidades de reconstrução e escrita dessa história. Portanto, “o tempo
dos lugares, é esse momento preciso onde desaparece um imenso capital que nós vivíamos na
intimidade de uma memória, para só viver sob o olhar de uma história reconstituída”137.
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma
consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a
desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste,
estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artificio e pela vontade uma coletividade
fundamental envolvida em sua transformação e sua renovação 138.
136
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do
Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo). São Paulo, 10. ed. SP–Brasil, 1993, p. 11.
137
Ibid., p. 12.
138
ibid., p. 13.
62
passa a fabricar peças de compensados e laminados para serem negociadas tanto no Brasil,
quanto nos Estados Unidos, Ásia e Europa.
Sua instalação se deu no período JK, o mesmo em diversos discursos sobre a
Amazônia, considerava a floresta como um empecilho para o desenvolvimento econômico,
tendo em vista que era necessário ultrapassar a barreira do desconhecido para assegurar que o
progresso na região pudesse se equiparar ao centro Sul do país, mantendo na sua agenda um
plano de integração e desenvolvimento da região a partir da exploração dos seus recursos
naturais.
Os acordos firmados entre os Estados Unidos e Brasil desde 1950 “que estabelecia a
criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico”140,
tiveram como objetivo, dar suporte ao Brasil para superar as barreiras que impediam o
crescimento econômico e o desenvolvimento do país, principalmente da Amazônia, região vista
como vazia e com baixo desenvolvimento econômico e social, tendo seus maiores empecilhos
a dificuldade de acesso por conta da falta de abertura de estradas, meios de transportes,
comunicação e energia elétrica, sendo fatores que foram bastante atenuados durante o período
JK, que na sua visão para resolver o problema de acesso para a Amazônia, investiu na
construção da Transbrasiliana e nos incentivos fiscais, para que empresas estrangeiras
pudessem se instalar em todos os cantos do país em prol do “desenvolvimento da nação” 141.
“Seu governo conseguiu levar adiante o problemático equilíbrio entre o discurso nacionalista e
a prática de abertura ao capital monopolista estrangeiro”142.
Um telegrama escrito pelo prefeito municipal de Portel Ladislau Queiroz da Silva no
ano de 1963, direcionado ao presidente Juscelino Kubitschek, nos faz compreender que embora
a distância geográfica do município de Portel com relação a capital do país, Brasília, havia
comunicação direta o prefeito da cidade e provavelmente com outros da região, mesmo que a
intenção fosse de apoio para campanha eleitoral como nos mostra o telegrama.
139
RENHA, op. cit., p. 30
140
Ibid., p.28.
141
Ibid., p. 28.
142
Ibid., p. 29.
63
143
A imagem do Telegrama do prefeito municipal de Portel de 8 de outubro de 1963 destinado ao presidente JK,
está disponível no Apêndice G deste trabalho.
144
A imagem do requerimento de solicitação de fornecimento de óleo lubrificante de 19 de novembro de 1960,
está disponível no Apêndice H deste trabalho.
145
A imagem do documento de Movimentação de verbas da Prefeitura Municipal de Portel de 24 de abril de
1963, está disponível no Apêndice I deste trabalho.
64
Em Portel tinha poucas ruas quando a Amacol chegou, tinha praticamente essa rua da
prefeitura que é a Duque de Caxias e a Floriano Peixoto, o resto era tudo caminho,
tinha essa Beira do Campo, onde tinha o campo de aviação que já estava aí antes da
Amacol chegar, o Bairro do Muruci era só essa beira do Campo praticamente, não
existia o Bairro do Pinho, ele só foi existir depois de muitos anos, o resto era tudo
capoeira, só mato e alguns caminhos que as pessoas faziam para andar 149.
146
A imagem da Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958, está disponível no Apêndice J, deste trabalho.
147
Trecho da Portaria N.º 12 de 20 de maio de 1958.
148
Entrevista concedida a autora em 2019.
149
Entrevista concedida a autora em 2019.
65
rua Santos Dumont no lado direito de quem vai pela Duque de Caxias e, Padre Emílio Martins,
pelo lado direito da rua anteriormente citada. O campo de aviação ficava entre essas duas ruas,
onde pousavam os aviões. A AMACOL ficava na rua Santos Dumont, em frente a baía de
Portel.
Figura 6 – Imagem do avião monomotor pertencente a empresa AMACOL.
Naquele tempo era muito bom de emprego, se a pessoa ficasse desempregado num
lugar e viesse pra Portel, no outro dia ele tava empregado aqui. Veio muita gente de
fora, brevense, amapaense, de Gurupá, Melgaço, Anajás, além dos estrangeiros que
vieram prá cá e conseguiram emprego bem rápido. Só ficava desempregado quem não
queria150.
Na fala do senhor Ademar Terra, é possível notar o auge da demanda por funcionários
que a empresa necessitava para manter a produção, pois a mesma funcionava 24 horas por dia
e, o município não tinha a quantidade de pessoas que pudesse suprir a necessidade de mão de
obra para o trabalho na empresa, dessa forma, “muitas propagandas nos rádios e boca-boca
foram feitas para chamar pessoas pra trabalhar na AMACOL”151, por isso o fluxo migratório
de pessoas de cidades próximas do município de Portel foi crescente durante todo o período
que a AMACOL esteve ativa em Portel.
Essa forte mudança na cultura do trabalho em Portel, desencadeou diversos impactos
na produção agrícola e extrativista do município. Na zona urbana, as pessoas passaram a plantar
menos, a diminuição na produção da farinha foi bastante significativa, sendo que as pessoas
passaram a comprar do que era trazido da zona rural, pois com a garantia de ter um salário ou
até mais, como muitas pessoas relatam, porque dependia também das horas extras que se fazia
na empresa, os trabalhadores e trabalhadoras da AMACOL não se preocupavam mais com
relação ao dinheiro, a maioria fazia hora-extra e conseguia com isso consumir do que era
vendido no mercado Municipal. Além disso, a empresa também tinha um mercado próprio, no
qual disponibilizava tickets para que os trabalhadores e suas famílias pudessem receber uma
quantia mensal em mercadorias que depois seria descontado no seu salário.
Sobre essas mudanças nas relações sociotrabalhistas no município de Portel, o senhor
Estanislau Monteiro vem dizer que:
Depois que a Amacol chegou aqui as pessoas deixaram de plantar, deixaram de fazer
roça e trabalhar com o extrativismo. Quando trabalhei na prefeitura como tesoureiro
na época em que o prefeito do município era o senhor Ladislau Queiroz, nós
compramos um caminhão pra Portel, conseguimos abrir mais a estrada e incentivamos
a produção agrícola aqui. Eram mais as pessoas que moravam na zona rural que ainda
queriam trabalhar na agricultura. Nós plantávamos lá: café, arroz, feijão, verduras,
frutas, tinha gente que fazia roça. Nessa terra tudo que a gente planta dá. O seu Pedro
japonês tinha uma horta muito grande na estrada também, lá ele plantava muito
cominho, pimenta do reino e café. Tudo servia pro consumo e pra exportação. Hoje a
gente tem que comprar tudo de fora. Foi uma pena que depois que a Amacol chegou
as pessoas deixaram de trabalhar na agricultura 152.
150
Entrevista concedida a autora em 2019.
151
Entrevista concedida a autora em 2019.
152
Entrevista concedida a autora em 2019.
67
Os americanos trouxeram uma espécie de Pinheiro pro Brasil para ser plantado com a
finalidade do reflorestamento e para o uso sustentável da madeira, sendo que a mesma
é usada para produção do compensado e do laminado. Esses pinheiros foram plantados
onde é agora o bairro do Pinho e na parte que ficava o bairro da Costa do Manarijó e
São José, que faziam parte da extensão territorial da empresa, mas ficava um pouco
distante da fábrica. Só depois que esses pinheiros cresceram é que fomos descobrir
que a espécie que foi trazida era a errada e não tinha qualidade suficiente para
produção154.
153
Entrevista concedida a autora em 2019.
154
Entrevista concedida a autora em 2019.
68
Até o ano de 2010 era possível ver uma boa quantidade desses pinheiros na área que
era da Amacol. Por volta da década de 90, muitos pinheiros foram derrubados da área próxima
a Amacol, pois, devido ao aumento populacional e a necessidade de expandir a cidade, foi
criado o bairro do Pinho, justamente por conta da presença expressiva dessas árvores na área
que atualmente compõe o bairro. De acordo com algumas informações, foi a própria empresa
que mandou derrubar as árvores para abrir a área em pról da construção do Bairro. Essa
mudança na composição da paisagem urbana e na necessidade de expansão das vias públicas,
foram geradas principalmente pelo contingente migratório para o município. em busca de
melhores oportunidades.
A foto acima, mostra o caminho que levava para o retiro155, onde eram realizadas as
festas em comemoração ao dia do trabalhador, festas de aniversários, eventos e treinos
esportivos dos clubes de futebol Aliança Esportiva CAMEL156 e FABRIL157, que foram criados
no interior da empresa, bem como outros tipos de eventos que poderiam ser realizados no
espaço se assim fossem autorizados.
155
Local de laser e de comemorações para os americanos, funcionários da AMACOL e toda a sociedade portelense.
156
No time Aliança Esportiva Companhia Amazonas Madeiras e Laminados CAMEL, jogavam as pessoas que
trabalhavam no setor administrativo do escritório.
157
No time do FABRIL (que vem de fábrica), jogavam as pessoas que trabalham no setor da fábrica da
AMACOL.
69
Na fotografia é possível ver nos dois lados que separam o caminho, uma floresta de
Pinheiros, como era chamada por muitos portelenses. A dimensão territorial da plantação dos
mesmos era bastante extensa, alcançando uma grande área territorial da que atualmente
compreende o Bairro do Pinho e uma parte do Bairro da Castanheira, modificando
profundamente a paisagem do município de Portel. Não obtivemos conhecimento sobre a
autoria da fotografia, a década provavelmente seja do final dos anos 70.
Com relação aos impostos e encargos sobre a madeira exportada, o Parecer ao Projeto
de Lei que Cria o Imposto de Conferência datado do dia 4 de fevereiro de 1963 158 e, expedido
da Sala das Sessões de Comissão Especial da Câmara Municipal de Portel pelo Relator e
vereador Rafael Gonzaga, nos releva que existia algumas divergências com relação ao Relator
do Projeto e o autor do mesmo, Vereador Felizardo Justino Diniz e demais vereadores
favoráveis a criação do Projeto de Lei. O documento critica a proposta de cobrança de impostos
municipais de exportação, pois, acreditava que assim como município de Breves isentava as
industrias madeireiras por dez (10) anos a partir da data de funcionamento, Portel deveria fazer
o mesmo com a AMACOL. O Parecer assinala que:
158
A imagem do Parecer ao Projeto de Lei da Câmara Municipal de Portel que Cria o Imposto de Conferência, de
4 de fevereiro de 1963, está disponível no Apêndice K, deste trabalho.
159
Trecho do Parecer ao Projeto de Lei que Cria o Imposto de Conferência de 4 de fevereiro de 1963.
160
A imagem da Lei municipal N.º 17, Capítulo III de 25 de julho de 1951, está disponível no Apêndice L deste
trabalho.
70
transporte, assistência médica e sanitária da população portelense, sendo a mesma criticada pelo
relator, vereador Rafael Gonzaga, pelas justificativas citadas acima.
Figura 08 – Projeto de Lei que Cria o Imposto de Conferencia Municipal, 3 de fevereiro de 1963
Com a criação da Lei, o município passou a cobrar taxas de impostos pela exportação
de produtos beneficiados na empresa AMACOL, como Compensados e Laminados. O Recibo
N.º 1.001 da Prefeitura Municipal de Portel de 21 de abril de 1963, vem mostrar o pagamento
efetuado ao fiscal Claudio de Almeida Macêdo do valor equivalente a Oito mil duzentos e
oitenta Cruzeiros (Cr$ 8.280.000) de taxa de exportação de madeira laminada destinada a Nova
York nos Estados Unidos.
Figura 09 – Recibo N.º 1001 da Prefeitura Municipal sobre taxa de impostos de exportação madeireira da
empresa AMACOL no ano de 1963.
Como se pode observar no documento acima, o mesmo é iniciado com uma introdução
referente ao município de Portel sobre o que possui, quais atividades econômicas são exercidas
no mesmo, além da situação de desenvolvimento econômico-financeiro pelo qual o mesmo
passa no referente ano. O documento também faz referências a empresa AMACOL, assinalando
que no período, a mesma já possuía mais de 300 empregados, uma escola destinada
exclusivamente para os filhos dos funcionários e um posto de saúde no interior da mesma. No
entanto, embora o documento elucide todas essas informações introdutórias, o objetivo do
mesmo é garantir o solicitado ao Superintendente, que é um financiamento para a compra de
um Motor de lua mais potente; um prédio amplo para o funcionamento de um Ginásio de
Esportes na cidade; um Mercado Público; um Ambulatório médico além de assistência Técnica
para a fomentação da Agricultura no município.
Dessa forma, além de parcerias com o Órgãos Governamentais, o dinheiro da
arrecadação de impostos era de fundamental importância para a movimentação financeira do
município e construção de obras públicas, nas quais foram constantes a partir da década de 70,
sendo que foram construídos o Estádio de Esporte, Ginásio de Esporte, Associação dos
funcionários e funcionárias públicos, hospital e escolas tanto na zona urbana quanto na rural,
para atender as necessidades do crescente número de pessoas que passou a morar em Portel.
Além da economia e do ambiente, a instalação da empresa Amacol trouxe várias
mudanças na dinâmica das sociabilidades e lazer no município. Muitos bares foram abertos para
atender a demanda de quem queria se divertir, além de casas noturnas como as sedes Rondonista
Tabajara e Vitória Régia, que tiveram seu auge até meados da década de 90. O uso dos espaços
da praia para divertimento, também foi intensificado durante os finais dos anos 60, sendo que
esses espaços eram usados somente para tomar banho ou lavar roupas em décadas anteriores.
Na praia do Areião, por exemplo, foi construída uma praça na qual incentivava a prática de
esportes, sendo que as novas modalidades de esportes trazidos para Portel pelos norte-
americanos foram o vôlei e o basquete, se tornando em pouco tempo uma “febre” que atingiu
quem gostava de novas dinâmicas esportivas além do futebol e da queimada.
Dessa forma, pode-se perceber que os impactos e transformações sociais ocorridos
durante o período do auge da madeira no município de Portel, conseguiu modificar a dinâmica
sociocultural e de trabalho na vida dos portelenses e de tantas outras pessoas que migraram para
o município em busca de trabalho e melhores oportunidades de vida.
161
RENHA, op. cit., p. 30.
76
A fotografia acima, cedida pelo professor e fotógrafo Raimundo da Luz Maia Brabo,
ex-funcionário da empresa AMACOL que trabalhou no setor administrativo no escritório da
mesma, nos vem mostrar uma base do tamanho da construção da empresa no final da década
de 50. De acordo com informações do senhor Raimundo Brabo, a área que aparece em
construção na foto é a da serraria, a parte que está construída em madeira era o galpão da
mesma. Atrás do galpão podemos ver a construção do queimador, único artefato da AMACOL
existente atualmente no bairro da Portelinha. Também podemos observar a presença de postes
de energia elétrica e pedaços de madeira pelo chão em volta da construção. Foi uma grande área
aberta no meio da floresta no município de Portel, como é possível observar a partir das árvores
ao redor da construção. “De maneira geral, as indústrias madeireiras instaladas na Amazônia
Legal estão razoavelmente próximas as áreas onde há cobertura florestal e boa logística de
transporte para a madeira em tora e processada”162.
De acordo com o senhor Ademar Terra, “Desde o início de sua construção a AMACOL
gerou emprego no município de Portel. Foi uma construção imensa! Muitas pessoas
trabalharam lá”. Na capinação da área participaram mulheres, homens e crianças, que
colaboram ativamente para a construção da que viria ser a nova fonte econômica no município
de Portel.
162
A atividade madeireira na Amazônia brasileira: produção, receita e mercados. (Org). Serviço Florestal
Brasileiro (SFB); Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Belém, PA .2010. p. 06.
Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sfb/_arquivos/miolo_resexec_polo_03_95_1.pdf. Acesso em:
20 de abril de 2019.
77
A fotografia acima, cedida pelo Museu Municipal de Portel, foi tirada por volta dos
anos 80, segundo informações de ex-funcionários da AMACOL. A imagem nos mostra toda a
área de fora da fábrica. A primeira casa que aparece, era o refeitório onde os funcionários da
Amacol faziam suas refeições, logo atrás aparece os galpões da fábrica, sendo que o primeiro,
onde aparece uma pequena parte de cobertura, ficavam duas bombas de óleo e gasolina para o
abastecimento dos postos de serviços, é possível observar alguns carotes azuis ao redor da
mesma. Logo atrás da cobertura, ficava o galpão de entrada que dava acesso ao escritório da
empresa. Nos galpões ao lado, ocorria o processo de fabricação dos compensados e laminados.
Nos três últimos compartimentos do galpão, haviam três secadores que possuíam funções
especificas para secagem da madeira. Os primeiros galpões da frente, serviam de pontos de
armazenamento das peças de compensados e laminados já produzidos. No lado esquerdo da
fotografia, podemos observar parte de um galpão que servia como almoxarifado e setor de
energia e manutenção das peças. Logo atrás, na mesma direção, ficavam as residências onde o
dono, gerentes e familiares se instalavam. Atrás dos galpões da fábrica, é possível perceber o
caminho que dava acesso à área de retiro.
A organização social do trabalho na AMACOL estava dividida a partir das habilidades
que a pessoa poderia desenvolver dentro da empresa. Inicialmente no escritório, somente
trabalhavam os estrangeiros, tomando conta da contabilidade e da gestão do trabalho. Na área
da serraria trabalhavam homens, mulheres e crianças, assumindo funções diferenciadas a partir
da capacidade física dos mesmos. Segundo o senhor Ademar Terra “inicialmente, as mulheres
trabalhavam na área da limpeza, porque na parte da serraria era um trabalho muito pesado, que
exigia muita força, depois que construíram a fábrica, elas passaram a trabalhar na fabricação de
laminados também, algumas se tornaram capataz”163. As crianças de acordo com ele:
“trabalhavam carregando moinha, tirando do espaço do trabalho e levando para outros
lugares”164.
O funcionário da AMACOL conseguia construir uma carreira sólida e subir de cargo
dentro da empresa a partir do desenvolvimento do próprio trabalho. O senhor Ademar Terra,
que construiu uma longa carreira dentro da empresa, relata a partir das suas memórias que:
“Iniciei com 11 anos de idade, trabalhei dois meses como braçal e a partir de dois meses fui
trabalhar como contínuo e, lá comecei a aprender e me tornei um funcionário do escritório até
chegar a gerência, que foi meu último trabalho na AMACOL”165.
163
Entrevista concedida a autora em 2019.
164
Entrevista concedida a autora em 2019.
165
Entrevista concedida a autora em 2019.
78
trabalhavam, também passavam meses longe da família e só se comunicavam pelo telefone com
eles”166.
A distância percorrida por conta do trabalho, fazia com que esses marinheiros tivessem
oportunidades de conhecer vários lugares no mundo, principalmente os Estados Unidos, na qual
o fluxo de madeira tinha mais exportação, isso porque, o proprietário da AMACOL, desde os
finais da década 60, era o mesmo da Georgia Pacyfic, grande empresa de produção de papel,
para a qual a madeira era destinada.
A divisão sexual do trabalho se dava a partir dos esforços físicos que se poderia fazer
no decorrer da produção ou da delicadeza do trabalho que se poderia exigir do empregado, ou
pela gradativa progressão na carreira que se poderia alcançar dentro da empresa. Sobre o
trabalho feminino desenvolvido na AMACOL, o senhor Ademar ressalta que:
166
Entrevista concedida a autora em 2019.
167
Entrevista concedida a autora em 2019.
80
dos horários que fazíamos e porque eu tinha que voltar pra casa e cuidar das crianças.
O bom era que pagava bem. A gente recebia o mesmo valor que os homens. Tinha
mulheres que trabalhavam em outros lugares nesse tempo, eram capatazes e
ganhavam mais, só que eram poucas. Muita gente se separou no tempo do trabalho da
AMACOL, os homens tinham muito ciúme das mulheres quando trabalhavam no
turno diferente dos deles, tinha muito comentário sobre traição por lá, principalmente
de algumas mulheres que trabalhavam no turno da meia noite. Isso dava até problema
de desconfiança pra quem não tinha nada a ver com a história 168.
A fala de dona Cenira nos ajuda a compreender um pouco sobre o que se passava com
relação aos possíveis envolvimentos entre os funcionários da empresa, no entanto, o que se
percebe é uma certa pressão social de responsabilizar somente as mulheres aos possíveis
adultérios, generalizando a situação exposta a todas que trabalhavam na empresa. O que gera
um certo desconforto quando se fala sobre o assunto com algumas ex-operárias.
Os turnos de trabalho na AMACOL eram divididos em seis a oito horas por dia, sendo
que na área da fábrica e serraria, os funcionários trabalhavam seis horas por dia, mas também
podiam fazer horas extras se assim quisessem, e, os funcionários empregados no escritório, que
faziam o trabalho burocrático, assumiam o turno de oito horas diárias dentro da Empresa. Dessa
forma, vemos uma dinâmica de trabalho bastante intensa, pois a fábrica não parava,
funcionando 24 horas por dia durante todo o período de exploração madeireira no município de
Portel. Na parte do queimador da empresa, somente trabalhavam os homens, porque os esforços
físicos eram muito intensos e, a exposição ao fogo constante, sendo que se tornava desgastante
para as mulheres trabalhar nesse setor devido suas especificidades fisiológicas, que exigia das
mesmas alguns cuidados em diversas ocasiões.
Com relação ao salário, os mesmos eram equiparados aos setores de trabalho. Os
funcionários recebiam o salário destinado a partir da função que desenvolviam. Geralmente os
funcionários do escritório recebiam salários mais altos por conta das atividades burocráticas
que desenvolviam na empresa. Dessa forma, homens e mulheres recebiam salários iguais a
partir das funções que desenvolviam na empresa, o que poderia diferenciar no aumento, eram
as horas extras realizadas ou os setores nos quais a pessoa trabalhava.
Os funcionários da AMACOL durante vários períodos tiveram acesso a treinamentos
para trabalhar no setor industrial. De acordo com o senhor Ademar Terra, o Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial (SENAC), enviou vários funcionários em parceria do Governo do
Estado com a empresa, para fazer treinamentos e cursos de capacitação para os funcionários da
AMACOL.
168
Entrevista concedida a autora em 2018.
81
A Amacol foi uma escola, nela muita gente aprendeu o ofício de eletricista, torneiro
mecânico, pedreiro, carpinteiro, especialista em manutenção de máquinas pesadas e
tantas outras coisas que as pessoas naquela época não conhecia. A gente não conhecia,
porque naquela época mal terminávamos o primeiro grau. A Amacol ainda construiu
uma escola, a escola Amazonas, que era pra ajudar na educação dos filhos dos
funcionários169.
Com a fala do senhor Ademar, podemos ver o interesse tanto do Governo do Estado,
quanto da empresa em capacitar pessoas para o trabalho na mesma. É bem provável que o custo
com funcionários capacitados e de outros lugares fosse bem maior do que os que viviam aqui,
pois os mesmos já tinham moradia fixa e poderia aprender e desenvolver os trabalhos urgentes
dentro da empresa caso não tivesse um funcionário especialista na área, como era o caso do
setor de eletricidade por exemplo, que era bastante delicado já que a produção funcionava 24
horas por dia e precisava de manutenção diária para que não houvesse interrupção na produção.
Os lucros vindos dos recursos da floresta Amazônica serviam como propaganda para
os grandes empresários, que procuravam investir seu capital na região. O BASA
financiava tanto a modernização, ampliação e implantação das pequenas e médias
indústrias, como também, a implantação das grandes empresas fornecedoras de
complexos madeireiros170.
169
Entrevista concedida a autora em 2019.
170
MELO, Leíde de Miranda. O ouro verde: a economia madeireira no município de Breves (1970-1980).
Trabalho de Conclusão de Curso em História (Licenciatura). Universidade Federal do Pará. Centro de Filosofia e
Ciências Humanas. Faculdade de História. Programa de formação de professores da Educação Básica (PARFOR).
Breves – Arquipélago do Marajó, 2015, p. 24.
82
década de 80, ainda era bastante precário em recursos e medicamentos, sendo que havia poucas
visitas de médicos para o atendimento das pessoas que necessitavam.
No entanto, a história da AMACOL não resumiu somente em benefícios para os
trabalhadores ou para a sociedade portelense, no ano de 1985, houve uma greve dos
funcionários da Amacol reivindicando melhores condições salariais, sendo constituído a partir
daí o primeiro Sindicato dos Trabalhadores da Amacol, no qual passaram vários dias com a
produção parada até que as reivindicações fossem atendidas. A partir desse episódio, os norte-
americanos passaram a ter bastante receio com relação aos brasileiros, sendo que muitos foram
embora e nunca mais retornaram ao município de Portel. A greve foi fortemente reprimida pelos
policiais militares do município de Belém, que ficaram de guarda durante todo o período do
movimento em diversos setores da fábrica, para que fossem certificados que não haveria
depredação ou danificação de nenhum equipamento da empresa.
A fotografia acima, nos mostra um dos momentos tensos vividos durante a década de
80 na empresa AMACOL. O policial militar faz a guarnição dos equipamentos da fábrica de
compensados e laminados por conta da crise vivenciada durante o período de greve gerado por
conta das reivindicações salariais, que depois foi resolvido a partir de novos acordos com os
funcionários que fizeram parte do movimento sindicalista.
83
Enfim, pode-se perceber que a história da AMACOL tão recordada somente nos
aspectos positivos traz também diversos pontos negativos no processo da construção
socioeconômica e cultural no município de Portel. Muitas questões ainda poderiam ser
abordadas, como os casos de assédios sofridos por muitas mulheres, que ocorreram no espaço
de trabalho tanto por funcionários do alto escalão da mesma, quanto por outros. Os impactos
ambientais também foram enormes, deixando áreas grandiosas de desmatamento da floresta
nativa da região de Portel, assim como em outras regiões.
Com relação à economia, muitos empregos foram gerados e a circulação de dinheiro
movimentou bastante a situação econômica municipal, no entanto, a empresa, assim como o
governo, não dispuseram de bases sólidas para que o empreendimento empresarial no município
de Portel se tornasse estável, fazendo com que os impactos fossem sentidos de forma profunda
quando a mesma encerrou suas atividades, pois, a cultura do trabalho foi amplamente
modificada, passando de uma cultura agrícola e extrativista para uma cultura totalmente fabril,
tornando o município dependente dessa atividade, o que gerou um forte índice de desemprego
e um retorno bastante tímido para as atividades agrícolas e extrativistas, estando estas, baseadas
principalmente na produção da farinha de mandioca e do extrativismo do açaí para fins de
comercialização interna e externa.
Dessa forma, analisando as transformações sociais e econômicas a partir da instalação
da empresa AMACOL, vemos que o apogeu da economia madeireira trouxe diversos impactos
tanto para a vida da população portelense quanto na das pessoas que vieram de diversos lugares
do país e do mundo em busca de melhores condições sociais de vida. Nesse sentido, percebe-
se uma sociedade sofrendo grandes mudanças, tanto com relação aos processos migratórios
impulsionados primeiramente pela produção gomífera, quanto os impulsionados pelo Auge da
produção madeireira, que conseguiu trazer um contingente ainda maior de pessoas para o
município. Além disso, as transformações promovidas pela AMACOL foram de larga escala,
contribuindo para mudanças significativas na dinâmica de trabalho, cultural e de lazer da
sociedade portelense.
***
O referido capítulo nos permitiu compreender a dinâmica socioeconômica e cultural
do município de Portel a partir de análises documentais de períodos correspondentes as décadas
de 30 a 80. Como se pôde observar, a economia do município era baseada até a década de 50
na produção agrícola e extrativista, além da pesca e caça, que também fazia parte do cotidiano
dos portelenses. Com o advento da produção fabril no município, a população de Portel
experimentou uma nova fase no ramo trabalhista e econômico, além disso, a cidade também
84
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o objetivo inicial de construir uma pesquisa que desse conta de fazer
uma análise historiográfica da Amazônia desde o período estadonovista (1937) até o Regime
militar (1964) para compreender a partir de contextos históricos mais amplos as pesquisas
documentais e orais sobre a realidade socioeconômica do município de Portel no período de
auge da madeira (1960-1980), a mesma também levou-nos a conhecer que a dinâmica de
trabalho e base econômica do município não estava solidificada somente na produção
madeireira, pois, como se pôde observar nos documentos trabalhados no decorrer do texto, o
município foi um grande exportador de gêneros agrícolas e extrativistas para outros municípios
e, até mesmo para outros Estados e países, como foi o caso da exportação de bolas de Borracha
de seringa e maçaranduba durante a década de 40, a castanha do Pará na década de 30 até a de
70, além de outros produtos como: café, arroz, feijão, pimenta do reino, Pirarucu, mariscos e
outros pescados que faziam parte do consumo da população portelense e também destinados à
exportação.
No Primeiro Capítulo, vimos que a noção ideológica desenvolvimentista estava
integrada aos planos do Governo Federal para a Amazônia desde o período do Estado Novo, no
qual Vargas buscou implementar inicialmente a partir de uma política de migração com sua
chamada Marcha para o Oeste, na qual, aludia uma ideia para a Região de lugar
demograficamente vazio e, que precisava ser colonizado para a exploração de seus recursos
naturais, dos quais Portel tem grande participação através da exportação da Borracha, que foi
parte dos acordos firmados entre Vargas e Estados Unidos no período da Segunda Guerra
Mundial171, além disso, foi criado no período, o Banco de Crédito da Borracha, que tinha o
objetivo de ejetar recursos para empresários da iniciativa privada que trabalhavam com a
produção gomífera, a fim de estimular o desenvolvimento da mesma 172. No entanto, pouco
desenvolvimento ocorreu na região durante o período, o que se teve foi uma relação parecida
com a do período Colonial, na qual se baseava somente na exploração dos recursos naturais
para fins de exportação173, diferentemente do restante do país, que obteve construção de
industrias estatais que puderam contribuir para o desenvolvimento econômico, principalmente
das regiões do Centro-Sul do país174.
171
FERNANDES, op. cit., p. 172.
172
Ibid., p. 266.
173
CARDOSO, op. cit., p. 24.
174
FERNANDES, op. cit., p. 132.
86
175
CARDOSO, op. cit., p. 34.
176
RENHA, op. cit., p. 62.
177
FERNANDES, op. cit., p. 279.
178
ANDRADE, op. cit., 2013, p. 1-10.
87
Agrária, criado no mesmo período, ações que pudessem amenizar os conflitos agrários dentro
do país na forma de intensificação à migração para a Amazônia 179.
O Segundo Capítulo, vem trazer análises sobre a pesquisa realizada no município de
Portel a respeito das transformações socioeconômicas ocorridas a partir da instalação da
empresa madeira AMACOL nas décadas de 1960-1980. Além disso, o capítulo trata sobre a
situação econômica do mesmo nos períodos que correspondem a 1930-1950, onde foi possível
observar a partir dos documentos analisados a base econômica do município de Portel, que era
de predominância agrícola e extrativista, além da caça, pesca e pequenos comércios que
realizavam suas atividades de maneira formal e informal embora as fiscalizações que ocorriam
para “combater” o comércio informal na zona rural do município, lugar onde mais se praticava
o comercio ilegal de madeira bruta e outras especiarias exportadas sem autorização da
prefeitura. Com relação a empresa AMACOL, alguns documentos da prefeitura também foram
analisados a respeito das transações comerciais que eram feitas entre a empresa e o governo
municipal, além disso, as fotografias e as citações das fontes orais contidas no trabalho, também
nos ajudou a compreender um pouco sobre a área de instalação da empresa e a dinâmica de
trabalho que se tinha na mesma.
Dessa forma, o conteúdo do trabalho nos mostra a relevância social e acadêmica que
o mesmo possui, pois nos leva a conhecer um pouco mais sobre o processo de industrialização
madeireira na Região Amazônica e mais especificamente na Região do Marajó, onde se tem
poucos estudos relativos a esta temática acessível ao conhecimento do público. O trabalho
também nos mostra, que embora a ideologia desenvolvimentista esteja intricada a expansão
capitalista através do processo de industrialização no Brasil, pôde-se perceber que o município
até o final da década de 50 era autossustentável e, embora não houvesse muita circulação de
dinheiro no mesmo, a população consumia o que produzia e boa parte era destinado para a
exportação. Nesse sentindo, o que ocorreu a partir da década de 60 foi uma ruptura na cultura
do trabalho, pois, a população que antes produzia seu alimento e que trabalhava na extração de
outros produtos, passou a ingressar no trabalho da fábrica, o qual tomava boa parte do tempo,
dependendo da jornada que assumisse, o que fez com que a maioria das pessoas deixassem suas
atividades laborais anteriores, pelo trabalho na empresa.
179
CARDOSO, op. cit., p. 35.
88
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sertões. Artigo de conclusão de curso (Graduação em História). Brasília-DF, 2016. p. 01-17.
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