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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL
NÍVEL MESTRADO

LEILA CHABAN

CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO GARIMPO AO NOVO GARIMPO EM


POXORÉU-MT: caminhos percorridos por homens, mulheres e crianças personagens
desta história

CUIABÁ/MT
2012
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LEILA CHABAN

CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO GARIMPO AO NOVO GARIMPO EM


POXORÉU-MT: caminhos percorridos por homens, mulheres e crianças personagens desta
história

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Política Social, Linha de Pesquisa
Política Social, Estado e Cidadania da Universidade
Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de
mestre em Política Social.

Orientação: Profa. Dra. Liliane Capilé Charbel Novais

CUIABÁ/MT
2012
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LEILA CHABAN

CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO GARIMPO AO NOVO GARIMPO EM


POXORÉU-MT: CAMINHOS PERCORRIDOS POR HOMENS, MULHERES E
CRIANÇAS PERSONAGENS DESTA HISTÓRIA

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Política Social,


Linha de Pesquisa Política Social, Estado e Cidadania da Universidade Federal de Mato
Grosso para a obtenção do título de Mestre em Política Social.

Apresentação em 27 de setembro de 2012

Situação: Aprovada

Banca Examinadora

______________________________________________________
Profª. Drª. Liliane Capilé Charbel Novais – UFMT (Orientadora)

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Lemos de Souza – UFMT (Examinador Externo)

___________________________________________________________
Profª. Drª. Irenilda Ângela dos Santos – UFMT (Examinadora Interna)
4

Dedico este trabalho aos meus filhos, Marco Aurélio e


Pedro Henrique, que me fortalecem sempre, que me
impulsionam a seguir na direção que me leva a viver
plenamente os meus ideais. O carinho, o amor, a
parceria, a amizade foram essenciais para a construção
deste estudo.

Aos meus pais Ivani e Chaban pela força e constantes


orações pelo distanciar necessário em busca de uma nova
vida.

As minhas irmãs Naila, Nadia e Paula, as mais lindas e


incentivadoras da minha trajetória de vida pessoal e
profissional. Em especial, minha irmã Nadia que sempre
se refere a mim como o seu “lustre”. Entendo por este
termo carinhoso, a minha dedicação aos estudos e por ser
a primeira a enfrentar o mestrado.

À minha grande incentivadora, pelo cuidado e carinho


dedicado, por aprender sempre com você, por te admirar,
por me dar coragem em trilhar este percurso intelectual.
No caminho, trilhamos em busca de novas conquistas.
Valeu Tetê!

Ao povo que lida, que luta e que segue em busca do seu


sonho, pelo trilhar de homens, mulheres, crianças e
jovens que constroem a história da vida em sociedade.
Que quer dias melhores, que só quer viver dignamente.
5

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Dra. Liliane Capilé Charbel Novais, pela sua sabedoria, tranquilidade,
leveza, ensinamentos constantes e fundamentais no trilhar desta dissertação.

Aos membros da banca examinadora, Dr. Leonardo Lemos de Souza e Dra. Irenilda Ângela
dos Santos, por aceitarem examinar este estudo e muito contribuir e ensinar.

Às professoras e professores do Programa de Pós-graduação em Política Social da


Universidade Federal de Mato Grosso pelos ensinamentos constantes e imprescindíveis na
elaboração desta pesquisa.

À CAPES pelo apoio financeiro e concretização desta pesquisa.

À Ednéia, Katiúscia, Alcynara, Jacinta, Idelene, Fernanda, Vanessa, as amigas mais lindas
deste mundo, agradeço imensamente pelo carinho, pelo incentivo e por estar sempre perto, é
muito bom ter amigas como vocês.

Aos gestos de carinho e incentivos os quais foram fundamentais para a realização desta
dissertação. As amizades conquistadas pela admiração e respeito à: Luciana Lima, Luciana
Guim, Luciana Trugillo, Denise, Rosana Ravache, Anna Maria, Cláudia Delgado, Dulce
Amorim, Josiley Carrijo Rafael (meu lindo Mestre). Valeu pelos momentos de descontração e
valorização desta construção!
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A Vida do Viajante
(Luíz Gonzaga)

Minha vida é andar


Por esse país
Pra ver se um dia
Descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras por onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei.

Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa
Sigo o roteiro
Mais uma estação
E a saudade no coração

Minha vida é andar...

Mostre o sorriso
Mostre a alegria
Mas eu mesmo não
E a alegria no coração

Minha vida é andar...


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RESUMO

Este estudo traz compreensões acerca da formação dos novos garimpos no município de
Poxoréu em Mato Grosso, através da Oficina de Lapidação de pedras semipreciosas, atividade
desenvolvida recentemente, por iniciativa da Prefeitura de Poxoréu através da Secretaria
Municipal de Comércio, Indústria e Mineração, em parceria com o SEBRAE – Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Mato Grosso. O Projeto, elaborado em
2008, implantado em 2009, fundamenta-se no princípio da articulação, da cooperação e da
interinstitucionalidade com intenção de empregabilidade e renda na realidade socioeconômica
dos trabalhadores do antigo garimpo e às famílias de baixa renda, esta atividade traz requisitos
de ação socialmente justa, ambientalmente adequada e economicamente viável. Para
compreender a formação dos novos garimpos, nos remetemos ao contexto histórico-social da
concepção do garimpo no município de Poxoréu no passado marcado por diferentes
elementos constitutivos, como o processo migratório da colonização impulsionada pela
extração do diamante composta por variadas culturas, fatores econômicos e sociais da
população poxoreense a partir do recorte temporal em diferenciados períodos da história em
breves paragens caracterizadas pela dinâmica econômica e social da extração do diamante
alcançando o auge à decadência da sua produção no contexto da garimpagem com a situação
atual, nos períodos de 1920 a 2012. Partimos das discussões do pensamento colonial ao
neoliberal e seus reflexos na sociedade. A reflexão sugere a necessidade de entender o
movimento da história, desvelando o papel do Estado diante do intenso quadro de
necessidades socioeconômicas contemporâneas, sobretudo na perspectiva do novo garimpo
envolvendo trabalhadores e trabalhadoras. Pretendemos neste estudo desvelar de que maneira
as políticas públicas atuam e garantem os direitos à população neste novo contexto de atuação
legal e sustentável diante do paradigma da utilização e extração dos recursos naturais. No
cenário atual nos deparamos com outros paradigmas ao identificar o lugar da mulher, como
também da população infanto-juvenil com evidências à exploração sexual, prática constante
em regiões garimpeiras. Fator não evidenciado nos novos garimpos, com o formato que ele
enseja, e sim identificada na pesquisa através do Conselho Tutelar, como um grande problema
enfrentado pelo município, onde a exploração sexual infanto-juvenil está ligada à droga. A
metodologia deste estudo está alicerçada em fontes bibliográficas e documentais, de campo,
empíricas e orais. Utilizamos instrumentais como: entrevista semiestruturada e acervos
fotográficos do município de Poxoréu. A Dissertação apresenta-se em Seções evidenciadas
nas abordagens do trajeto sócio-histórico e a constituição das atividades garimpeiras e de
mineração no município de Poxoréu, como também na participação de homens, mulheres e
crianças no universo do garimpo demonstrado a partir da relação de gênero e a sexualidade. E
por fim, o paradigma do garimpo ao novo garimpo, seu modo de produção e o impacto na
vida de homens e mulheres da sociedade poxoreense, a participação dos envolvidos
diretamente na produção das oficinas de lapidação revelando o novo garimpo em Poxoréu,
como uma nova proposta com vocação socioeconômica na geração de renda e
reaproveitamento das gemas rejeitadas na garimpagem da extração diamantífera. O novo
garimpo possibilita o crescimento socioeconômico potencializado no processo de lapidação.

Palavras chave: Garimpos. Novos Garimpos. Estado. Sexualidade.


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ABSTRACT

This study provides insights about the formation of new mines in the municipality of Poxoréu
in Mato Grosso, through the Office of Lapidary of semiprecious stones, activity recently
developed at the initiative of the Municipality of Poxoréu through the Municipal Bureau of
Commerce, Industry and Mining, in partnership with SEBRAE - Service of Support for Micro
and Small Enterprises in the State of Mato Grosso. The project, developed in 2008,
implemented in 2009, is based on the principle of joint, inter-institutional cooperation and
with intent to employability and income of workers in the socioeconomic reality of the old
mine and the low-income families, this activity brings requirements action socially just,
environmentally appropriate and economically viable. To understand the formation of new
mines, we refer to the socio-historical context of the design of mining in the municipality of
Poxoréu past marked by different constituent elements, such as the migratory process of
colonization driven by comprised of diamond extraction varied cultures, and economic factors
social poxoreense population from the time frame in different periods of history in brief stops
characterized by social and economic dynamics of diamond extraction reaching the peak of its
production to decay in the context of mining with the current situation in the periods 1920 to
2012 . We start the discussion of the colonial neoliberal thought and its effects on society. The
reflection suggests the need to understand the movement of history, unveiling the role of the
state in the face of intense frame of contemporary socio-economic needs, particularly in view
of the new mining involving workers. We intend this study to reveal how public policies
operate and guarantee rights to the people in this new context of legal and sustainable action
on the paradigm of extraction and use of natural resources. In the current scenario we
encounter other paradigms to identify the place of women, as well as the juvenile population
with evidence of sexual exploitation, constant practice in prospecting regions. Factor not
evidenced in the new mines, with the format that it entails, but identified in the research
through the Guardian Council, as a major problem faced by the municipality, where the
sexual exploitation of children and adolescents is linked to the drug. The methodology of this
study is based on bibliographic sources and documentary field, empirical and oral. We use
instruments such as structured interview and photographic collections of the municipality of
Poxoréu. A Dissertation presented in Sections highlighted in the approaches of the socio-
historical path and the constitution of the prospecting and mining activities in the municipality
of Poxoréu, as well as the participation of men, women and children in the world of mining
shown from the relationship of gender and sexuality. Finally, the paradigm of the new mining
prospecting, their mode of production and impact in the lives of men and women in society
poxoreense, the participation of those involved directly in the production of workshops
stoning revealing the new mining in Poxoréu as a new proposal vocation with socioeconomic
income generation and reuse of discarded gems in diamond mining extraction. The new
mining permits socioeconomic growth boosted in the process of stoning.

Keywords: Goldfields. New mines. State. Sexuality.


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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Funeral Bororo, em novembro de 1969, na Reserva Indígena de Meruri .............. 73


Figura 2 - Poxoréu aos pés do Morro da Mesa ........................................................................ 76
Figura 3 - Poxoréu nos anos 1930 .......................................................................................... 76
Figura 4 - A garimpagem em Poxoréu nos anos 1940 ............................................................ 77
Figura 5 - Campo de aviação, aéreo entre o Rio São Lourenço e o Rio Manso, no alto do
Chapadão, entre Poxoréu e Cuiabá município de Poxoréu ..................................... 79
Figura 6 - Formação do município nos anos 1930 .................................................................. 80
Figura 7 - Período auge do garimpo demonstrado através das bateias – Reportagem da
Revista Manchete em 1983 ................................................................................... 81
Figura 8 - A comercialização do diamante de Poxoréu para o mundo .................................... 81
Figura 9 - Utilização mecânica – Expansão tecnológica ......................................................... 82
Figura 10 - Expansão tecnológica e aperfeiçoamento do trabalho do garimpo em evidência
nacional ................................................................................................................. 85
Figura 11 - Garimpo no Rio Poxoréu, montes individuais de cascalho, na garimpagem,
identifica-se a presença de uma mulher entre os trabalhadores ........................... 87
Figura 12 - Detalhe da garimpagem de diamantes em atividade na margem direita do Rio
Coité...................................................................................................................... 98
Figura 13 - Oficina de Lapidação em Poxoréu – O novo garimpo........................................ 107
Figura 14 - Prédio histórico onde se instala a Oficina de Lapidação em Poxoréu ................ 108
Figura 15 - Oficina de Desenvolvimento de identidade Local, Embalagens e a Oficina de
Design, tendo a participação efetiva das mulheres ............................................. 110
Figura 16 - Amostra de pedra bruta e pedra fatiada, sendo preparada para a lapidação ....... 111
Figura 17 - A Oficina individual, maquinário especializado................................................. 111
Figura 18 - Gemas preciosas de Poxoréu transformadas em jóia .......................................... 112
Figura 19 - Pulseira produzida por lapidário individual ........................................................ 112
Figura 20 - Resultados da Lapidação – O Novo Garimpo .................................................... 123
Figura 21 - Ponto histórico aos arredores dos cabarés de Poxoréu, conhecido como a Pedra
do Jigolô ............................................................................................................ 126
Figura 22 - O Diamante Clube, frequentado por pessoas ilustres e suas famílias ................. 127
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterização dos entrevistados e seus códigos de identificação, Poxoréu


2012....................................................................................................................... 70
Tabela 2 - Portarias Instauradas contra crimes ambientais em Poxoréu ............................... 100

Tabela 3 - Queda populacional no município........................................................................ 103


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LISTA DE SIGLAS

ABGM – Associação Brasileira de Gemas e Mineralogia


AGEMAT – Associação Profissional dos Geólogos de Mato Grosso
ALMT – Assembleia Legislativa de Mato Grosso
APL – Arranjo Produtivo Local
APP – Áreas de Preservação Permanente
BEC – Batalhão de Engenharia e Construção
CAN – Colônia Agrícola Nacional de Goiás
CECRIA – Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes
CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CREA – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
CT – Conselho Tutelar
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
FAG – Fundação de Assistência aos Garimpeiros
FBC – Fundação Brasil Central
FEMA – Fundação Estadual do Meio Ambiente
FETAGRI – Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Mato Grosso
FMI – Fundo Monetário Internacional
FPM – Fundo de Participação dos Municípios
IBAMA – Instituto Brasileiro e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
METAMAT – Companhia Mato-grossense de Mineração
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MME – Ministério de Minas e Energia
MPF – Ministério Público Federal
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PESTRAF – Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de


Exploração Sexual
PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
RL – Reserva Legal
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
SECITEC – Secretaria de Ciência e Tecnologia
SEDH – Secretaria Especial dos Direitos Humanos
SEFAZ – Secretaria de Estado de Fazenda
SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SICME – Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
SMM/MME – Secretaria de Minas e Metalúrgica
SPI – Serviço de Proteção aos Índios
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
TJMT – Tribunal de Justiça de Mato Grosso
UNB – Universidade de Brasília
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
UPE – União Poxorense de Escritores
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13

SEÇÃO 1 - GARIMPOS E NOVOS GARIMPOS: do sonho ao recomeço ..................... 18


1.1 MATO GROSSO NO CENÁRIO BRASILEIRO: a colonização adentrando o sertão....20
1.1.1 No caminho das pedras: do velho ao novo garimpo rumo a Poxoréu ......................... 31

SEÇÃO 2 - HOMENS E MULHERES NO UNIVERSO DO GARIMPO: dados e atos


desta relação de gênero ........................................................................................................ 36
2.1 O GARIMPO EM MATO GROSSO: homens, mulheres e crianças desbravando as
fronteiras dos sonhos, conquistas e riquezas .................................................................... 41
2.2.1 O lugar da mulher e da criança no cenário da garimpagem em Mato Grosso: rumo à
Poxoréu ....................................................................................................................... 46
2.2.2 A condição do ser criança: realidades que perpassam pela cena garimpeira............... 53
2.3 A SEXUALIDADE NO CENÁRIO DO GARIMPO EM POXORÉU ........................... 58
2.4 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA GARIMPAGEM: utensílios manuais à
tecnologia da lapidação ................................................................................................. 63
2.4.1 Métodos e desenvolvimentos iniciais da garimpagem: de 1973 a 2011 ...................... 65

SEÇÃO 3 - O NOVO GARIMPO: a lapidação em Poxoréu, uma nova roupagem para o


garimpo ................................................................................................................................... 68
3.1 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA .............................................................................. 68
3.2 SOBRE A REALIDADE GARIMPEIRA EM POXORÉU............................................. 71
3.2.1 Auge e declínio do garimpo em Poxoréu: relatos de pioneiros, idealizadores da
inovação tecnológica garimpeira ................................................................................. 79
3.3 O NOVO CICLO DE ALTERNATIVAS SOCIOECONÔMICAS: agricultura familiar e a
lapidação ........................................................................................................................... 89
3.4 A LAPIDAÇÃO EM POXORÉU: o novo garimpo ....................................................... 102
3.5 A EVIDÊNCIA DO NOVO GARIMPO EM POXORÉU ............................................. 113
3.6 PARCEIROS DA LAPIDAÇÃO EM POXORÉU: participação, perspectivas e
desafios ............................................................................................................................ 118
3.6.1 Projeto de Moda: um dos segmentos, a Lapidação ...................................................... 122
3.6.2 O cenário das Políticas Públicas em Poxoréu: família e a população infanto-juvenil . 124

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 139

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 143

APÊNDICES ........................................................................................................................ 155


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INTRODUÇÃO

O cenário deste estudo perpassa pelo trilhar de homens e mulheres desbravadores em


busca de riqueza, impulsionados pelo sonho de uma vida melhor, de encontrar no sertão de
Mato Grosso a oportunidade de riqueza no universo do garimpo. Tecemos comentários
iniciais acerca deste estudo do ambiente pertencente ao Sudeste mato-grossense desvelando
em seu contexto de exploração de diamantes, apresentando os métodos primitivos às
inovações tecnológicas que nos remete à formação dos novos garimpos diante da cena
contemporânea e nela os moldes da nova garimpagem, seus avanços e retrocessos neta
dinâmica econômica apresentada em Poxoréu-MT. Neste contexto, buscamos desvelar o lugar
de homens, mulheres e a população infanto-juvenil no que se refere à sexualidade humana
expressada na condição de ser mulher, ser criança e adolescente neste universo
populosamente masculino, considerando a instauração econômica, social e cultural
especialmente de municípios constituídos pelo garimpo.
O universo do garimpo perpassa por questões que envolvem a relação de poder dos
homens sob as mulheres, estas, muitas vezes prostitutas ou frequentadoras dos cabarés. Neste
contexto possivelmente nos deparamos com a exploração sexual infanto-juvenil, fenômeno
que, nem sempre foi considerado como uma forma de violação aos direitos das mulheres
como também, ao público infanto-juvenil. Para este último, somente em 1990 no Brasil, em
função da promulgação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) a garantia dos
direitos são expressados como proteção integral como responsabilidade do Estado, da
sociedade e da família.
A violência sexual infanto-juvenil sempre se manifestou em todas as classes sociais de
forma articulada ao nível de desenvolvimento civilizatório da sociedade. Relaciona-se com a
concepção de sexualidade humana, a compreensão sobre as relações de gênero, posição da
criança e o papel das famílias no interior das estruturas sociais e familiares.
A entrada do século XXI nos impõe a refletir os rumos do desenvolvimento
econômico e social em âmbito mundial, nacional e regional. É um desafio analisar as
condições socioeconômicas da última década, principalmente por se tratar de um período que
acarretou transformações determinantes na área social, econômica, política e cultural. Buscar
compreender tais transformações significa tentar esclarecer a crise capitalista, suas
manifestações e mudanças, não apenas na esfera da economia e da política, mas também, no
campo cultural e ambiental.
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Tais mudanças alcançam fortemente a prática ambientalmente correta que aqui nos
referimos ao cenário do garimpo, este que se desenvolveu durante décadas causando alto
índice de degradação ambiental. A mineração de pequena escala no Brasil, habitualmente
conhecida como garimpagem, ocorre desde a primeira metade do século XVIII período que
evidencia a grande procura por ouro e diamantes em território nacional. Grandes descobertas
de minérios e pedras preciosas ocorreram no século XIX, em diversas regiões ricas nestes
recursos naturais, sendo Mato Grosso um grande palco da mineração no país. Destacamos o
município de Poxoréu cenário deste estudo, rico em diamantes, os quais foram fortemente
explorados e praticamente esgotados atualmente.
No cenário contemporâneo as mineradoras atuam de acordo com a legislação
ambiental através de um conjunto de leis, advindas da Política Nacional do Meio Ambiente de
1981, conforme a Lei 6.938/81, instituindo o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio
Ambiente) com a finalidade de estabelecer normas que possibilitem a sustentabilidade através
de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção, que
através do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) está vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), tem a função de formular,
coordenar, fiscalizar, controlar, fomentar e executar a Política Nacional do Meio Ambiente e
da preservação e conservação dos recursos naturais.
Desta maneira, a atividade extrativista para obter êxito deve estar em condições legais
para o seu funcionamento, assim como, os trabalhadores devem estar devidamente
credenciados aos Sindicatos, Associações e ou Cooperativas dos trabalhadores do garimpo.
Partindo deste novo paradigma, pretendemos desvelar a formação dos novos garimpos, onde
se pode observar um contexto diferenciado com maior clareza no seu desenvolvimento e a
realidade que o cerca.
O panorama traçado nas análises estudadas no universo da pesquisa perpassam pelo
contexto histórico-social do garimpo ao novo garimpo em Poxoréu-MT no caminho
percorrido por homens, mulheres e crianças personagens desta história, a partir da década de
1920 à 2012. O objetivo é analisar a formação dos novos garimpos em Poxoréu a partir do
contexto socioeconômico, como também identificar a participação humana neste cenário no
tocante à sexualidade e o trabalho com possibilidades de vitimização infanto-juvenil pela
exploração sexual na região de Poxoréu em Mato Grosso.
Neste aspecto, as diversas formas de exploração se alteram conforme o
“desenvolvimento econômico das localidades ou regiões nas quais existe. Por exemplo, no
Brasil, próximo a atividades econômicas primárias de extração (garimpos) existem bordéis
15

com mulheres escravizadas”, assim como percebemos através da história de colonização em


alguns municípios de Mato Grosso trazem esta realidade para o contexto atual (FALEIROS,
(2000, p. 33).
A composição desta dissertação está organizada pela Introdução, por três Seções e as
Considerações Finais. Na Seção I, trazemos as abordagens acerca do trajeto sócio-histórico e
constituição das atividades garimpeiras e de mineração no município de Poxoréu. Trata-se de
compreender a formação do garimpo ao novo garimpo, do sonho ao recomeço atravessando as
décadas de 1920 a 2012. A redação desta Seção possibilitou compreender a passagem do
período colonial ao neoliberal, bem como a formação do município de Poxoréu, entendendo
que é a partir de um caminho já traçado que podemos construir o novo. O caminho percorrido
por homens e mulheres corajosos e desbravadores, misturados aos povos indígenas que ali
habitavam e que posteriormente conseguiram a convivência pacificada, assim recontamos a
história neste movimento transformador da sociedade impulsionada pela extração do diamante
com possibilidades de uma prática reformulada: o novo garimpo.
Esse convívio do velho e do novo garimpo em Poxoréu está associado às novas
possibilidades direcionadas ao fortalecimento e vocação econômica com fortes lastros
culturais pautadas nos trabalhadores do garimpo com respaldo na estrutura estatal, apoio dos
profissionais no desenvolvimento da Lapidação.
Na Seção II, buscamos compreender a participação de homens e mulheres no universo
do garimpo, a partir das relações de gênero. O enfoque conceitual é no sentido de situar o
lugar da mulher no contexto do garimpo, pois sabemos que a figura feminina sempre esteve
presente na humanidade, assim como nas relações de sociabilidade. No entanto, as
oportunidades sempre foram injustas, na desigualdade de direitos ao longo dos séculos.
Assim, tratamos especialmente do lugar ocupado pelas mulheres neste universo masculino,
discutindo as relações de poder e submissão, suas disputas sangrentas, sejam por terras ou por
mulheres desveladas na saga dos maranhenses e baianos.
As descobertas da sexualidade, os cabarés, dos prostíbulos, lugar de lazer dos homens
na cidade do garimpo, e de mulheres e crianças, cada qual a seu modo, em momentos de
tristeza e alegria, mulheres pobres, vindas de outros estados, vivendo em espaços dominados
pela figura masculina e em condições econômicas, sociais e culturais desfavoráveis
historicamente marcados à condição feminina. Desvelamos também o lugar da população
infanto-juvenil no que se refere a sua sexualidade e a sua condição. O comércio do sexo nos
anos de 1980 foi uma atividade lucrativa, porém levou a ruína de muitos que investiram alto
16

na luxúria e prazer. Atualmente a Rua Bahia, lugar onde havia prostíbulos, foi tombada como
patrimônio histórico de Poxoréu, as casas foram derrubadas.
Neste percurso, apresentamos na Seção III a sistematização dos dados produzidos no
tocante à formação do novo garimpo evidenciado pelo processo de Lapidação em Poxoréu,
este posto a uma nova roupagem para o desenvolvimento da garimpagem. Desvelamos este
caminhar partindo da proposta sonhada inicialmente por desbravadores em busca de riquezas
pelo diamante, e que após o seu declínio e estagnação econômica, surge uma nova proposta,
agora rumo ao novo e efetivo projeto: a Lapidação, sonhada por idealizadores e seus
parceiros, trabalhadores e trabalhadoras que compõe este quadro transformador e sustentável
na geração de emprego, renda para as famílias de Poxoréu.
Na intenção de provocar um estudo acerca da formação dos novos garimpos, com
possibilidade em conhecer seu universo e apresentar o contexto de sociedade e suas formas de
enfrentamento à questão social e à busca por Políticas Públicas e a intervenção do Estado
para, assim, desvelar as verdades pesquisadas no cenário da garimpagem mato-grossense.
Os rumos da investigação do estudo permeiam nas implicações dos garimpos e a
formação dos novos garimpos no cotidiano que envolve homens, mulheres, crianças e
adolescentes neste universo marcado por violência, poder, prostituição, o sonho de conquistar
riqueza através do extrativismo diamantífero na região de Poxoréu em Mato Grosso. Esta
relação que contempla a formação de Poxoréu através da colonização para o Eldorado mato-
grossense, trazendo inúmeras famílias desbravadoras ao desconhecido sertão, na descoberta
do diamante e demais gemas preciosas recém descobertas na garimpagem atual, na prática da
Lapidação. A compreensão desta realidade é possível diante do método dialético que concebe
o mundo como um conjunto de processos.
Assim, para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas
em movimento: nenhuma coisa está “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se
transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro. (LAKATOS,
2006, p. 101).
Consideramos a partir de Lakatos (2006, p. 106-107), partindo do princípio de que as
formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante
pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função. Portanto, o método histórico
dialético permite investigar acontecimentos, processos do passado a fim de verificar a sua
influência na sociedade atual.
Assim, para compreender a formação dos novos garimpos, nos remetemos ao contexto
histórico da formação do garimpo no município de Poxoréu no passado marcado por
17

diferentes elementos constitutivos, como o processo migratório da colonização composta por


variadas culturas. Investigamos os fatores culturais, econômicos e sociais da população
poxoreense a partir do recorte temporal em diferenciados períodos da história em breves
paragens caracterizadas pela dinâmica econômica e social da extração do diamante
alcançando o auge à decadência da sua produção no contexto da garimpagem com a situação
atual, os períodos percorridos vão de 1920 a 2012.
O cenário deste estudo está localizado à região Sudeste mato-grossense, a população
atual é de 17.381 habitantes de acordo com os dados do IBGE1 - Censo 2010. Poxoréu foi por
mais de 50 anos grande produtor de diamantes, principal base da economia do município entre
o período de 1930 a 1990, produtor do sustento de inúmeros cidadãos e cidadãs, conta
também com a agricultura e pecuária, e demais alternativas incluindo projetos de lapidação e
fomento ao turismo que envolve todo o contexto socioeconômico da região de Poxoréu no
Estado de Mato Grosso.
Poxoréu é um município que pode ser transformado num polo de lapidação de pedras
semipreciosas, estas encontradas nos monchões abandonados pela estagnação do diamante,
estas pedras semipreciosas encontradas nos amontoados rejeitos da antiga garimpagem, e hoje
encontradas facilmente em abundância. Muitos lapidários têm sido preparados por
profissionais habilitados e competentes nesta área através da Oficina de Lapidação uma
realidade praticada desde 2009. Sua implantação se deu através da parceria com o SEBRAE
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com a Secretaria Municipal de
Indústria, Comércio e Mineração e pela Prefeitura de Poxoréu, a Oficina foi estruturada para
formar lapidários de todo o estado. Mas, infelizmente não há visibilidade do Estado, a
participação do SEBRAE é fundamental, pois assegura o treinamento e a tecnologia para se
conseguir o produto.
No entanto, na descoberta da pedra semipreciosa em abundância, com potencial
agregador nas terras poxoreenses, é o pequeno produtor se vendo como lapidário, com
condições de nascer deste projeto um alto potencial a ser comercializado com rapidez, com
excelente aceitação. É um novo garimpo, um garimpo ampliado com novas oportunidades, e
que é invisível ao Estado. Poxoréu compõe um enorme potencial efetivado nesta cadeia
produtiva, é uma descoberta valiosa, pois as pedras semipreciosas são muito valorizadas, é um
produto refinado que requer uma política de Estado abrangente e emancipadora.

1
Dados do Censo 2010 publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010. Disponível em:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=51. Acesso em 07 mai. 2012.
18

SEÇÃO I - GARIMPOS E NOVOS GARIMPOS: do sonho ao recomeço

Viver, não é? É muito perigoso. Porque ainda não


se sabe. Porque aprender a viver é que é o viver
mesmo.
(João Guimarães Rosa)

Esta seção traz abordagens acerca das novas configurações nas atividades garimpeiras2
e de mineração3 o que denominados de novos garimpos. Busca-se compreender a dinâmica
que envolve o Estado, a participação dos gestores municipais, em articular políticas públicas,
para a legalização dos garimpos em seus municípios. Para tanto, serão expostas as discussões
quanto ao desempenho do Estado diante do pensamento colonial ao neoliberal e seu reflexo
na sociedade capitalista. A reflexão sugere a necessidade de entender o movimento da
história, desvelando o papel estatal diante do intenso quadro de necessidades socioeconômicas
contemporâneas. Sobretudo, na tentativa de demonstrar de que maneira as políticas públicas
atuam e garantem os direitos aos trabalhadores do garimpo neste novo contexto de atuação
legal e sustentável tão discutida no contexto que o Brasil apresenta hoje.
Com o objetivo de compreender o que denominamos de novos garimpos, formados no
século XXI, diante de legislações ambientais e segurança do trabalhador. Tais preocupações
não faziam parte do contexto inicial, pois pensar em garimpo em terras mato-grossenses
significava falar de colonização em vários cantos do estado, evidenciando o sonho de muitos
desbravadores em busca de uma vida farta de riqueza e poder.
Assim, pretendemos demonstrar as novas configurações do garimpo representadas no
contexto atual, passando por transformações significativas. A partir da década de 1920, em
um breve percurso pela história é apresentada, a fim de evidenciar os avanços e retrocessos,

2
Conforme o inciso I do Art. 70 (revogado) do Decreto Lei 227/67 (Código de Mineração), considerava-se
garimpagem “o trabalho individual de quem utilize instrumentos rudimentares, aparelhos manuais ou máquinas
simples e portáteis, na extração de pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou não metálicos, valiosos, em
depósitos de eluvião, nos álveos de cursos d’água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos secundários ou
chapadas (grupiaras), vertentes e altos de morros; depósitos esses genericamente denominados garimpos”
(MIRANDA, 1997).
3
No Brasil, a mineração, de um modo geral, está submetida a um conjunto de regulamentações, onde os três níveis de
poder estatal possuem atribuições com relação à mineração e o meio ambiente. Em nível federal, os órgãos que têm a
responsabilidade de definir as diretrizes e regulamentações, bem como atuar na concessão, fiscalização e cumprimento
da legislação mineral e ambiental para o aproveitamento dos recursos minerais são os seguintes: Ministério do Meio
Ambiente – MMA; Ministério de Minas e Energia – MME; Secretaria de Minas e Metalurgia – SMM/MME;
Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM; Serviço Geológico do Brasil – CPRM (Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais). (Relatório do CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e
Inovação, Carlos Eugênio Gomes Farias, 2002).
19

alcançando novas tecnologias, de maneira diferenciada, demonstrando novas configurações


visíveis ao Estado.
O contexto deste estudo abrange o município de Poxoréu, região Sudeste de Mato
Grosso, configurado na exploração diamantífera do estado, que se baseou economicamente na
dinâmica do garimpo, desde o auge da produção diamantífera entre as décadas de 1970 a 1990
aos tempos escassos ao final da década de 1990. No cenário atual apresenta uma nova
configuração do garimpo, pois se utiliza do material rejeitado do cascalho da garimpagem de
diamante do século XX que passa a ter valor através do Projeto Oficina de Lapidação de
Pedras Preciosas, uma iniciativa da ONG 21, em parceria com o SEBRAE (Serviço de Apoio
às Micros e Pequenas Empresas) e a Prefeitura Municipal de Poxoréu.
O ponto de partida é conhecer o processo de mudança nas regiões garimpeiras que
transformou significativamente a vida dos trabalhadores. O entendimento do conjunto dessas
relações requer maior profundidade de análise teórica e documental para melhor compreender
a realidade vivida pelos trabalhadores do garimpo, seu modo de vida e anseios no compasso
da história, na construção das sociedades, agrupando pessoas de diversas localidades e
culturas. Requer, neste movimento da história, o conhecimento acerca do estudo da sociedade
burguesa, ao demonstrar que um sistema de relações construído pelos homens, “o produto da
ação recíproca dos homens” (MARX, 2009 apud NETTO, CFESS/ABEPSS, 2009). Neste
sentido, o método de pesquisa é marxista, que propicia o conhecimento teórico, partindo da
aparência, para alcançar a essência do objeto.
Desta maneira, o processo de investigação desta análise perpassa por uma breve
passagem pelo movimento da história acerca da formação de Poxoréu para demonstrar a
realidade político-econômica e social dessa região garimpeira, permeado na primeira metade
do século XX.
Destacaremos também as novas formas de atuação garimpeira e o envolvimento do
Estado na implementação de políticas públicas nos setores inovadores do garimpo, práticas
extrativistas que devem estar legalizadas pela autorização do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), quando agentes de fiscalização
encontram diariamente mineradoras atuando ilegalmente em diversas regiões do estado.
Partindo deste paradigma entre a aparência e a essência em conhecer a existência dos
novos garimpos, quando se pode observar um contexto diferenciado de práticas iniciais ao
desenvolvimento da realidade atual que o cerca.
20

1.1 MATO GROSSO NO CENÁRIO BRASILEIRO: a colonização adentrando o sertão

Na busca em compreender o presente, nos remetemos ao caminho percorrido no


passado, em breve percurso pelo movimento da história, da formação de um povo que se
estabelece em terras férteis, desprotegidas do imaginário nativo, apropriado pela violência em
nome do domínio, riqueza e poder. No desvelar deste trajeto histórico, o grande agente
impulsionador na posse pelo Brasil foi a descoberta do ouro no final do século XVII, nas
regiões das Minas Gerais, para a expansão territorial e para uma nova organização
administrativa da colônia (BRASIL, 2000).
O Brasil estava aberto às descobertas, em tempo de formação, agrupamento de
pessoas, pois havia a necessidade crescente de abastecimento na região das Minas, provocada
pelo afluxo de população em busca de riquezas, a qual contribuiu para a expansão do Brasil,
na criação de gado e outros.
Ainda neste aspecto de fomento às descobertas, ressaltamos também o ouro sob o
domínio da Coroa Portuguesa, uma vez que:

No tempo em que se descobriu ouro nas regiões das minas, foi criada, em 1693, a
capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Entretanto, com o massacre dos
paulistas em 1709 no conflito que ficou conhecido como "guerra dos emboabas"
(confronto entre bandeirantes paulistas e forasteiros na procura pelo ouro e pedras
preciosas), teve início uma intervenção mais efetiva da Coroa na região de Minas
Gerais: Minas foi separada da capitania do Rio de Janeiro, tendo sido criada a
capitania de São Paulo, em substituição à de São Vicente. No mesmo período, a
Coroa comprou várias capitanias, como as de São Vicente (1710), Pernambuco
(1716) e Espírito Santo (1718), dando nova feição à administração portuguesa na
colônia, mais presente e interiorizada (BRASIL, 2000, p. 45).

No compasso da história, identificamos que é a partir do século XVIII que a imigração


portuguesa se intensifica no Brasil. Impulsionada pelo alcance de cifras maiores ocasionados
pelo crescimento do ouro em Minas Gerais e no Centro Oeste. A superpopulação de Portugal
e o aprimoramento das navegações propiciaram a formação dos centros urbanos graças à
mineração que proporcionou grande oferta de emprego aos portugueses, surgindo assim os
pequenos comerciantes. Portugal invadia o território espanhol em busca do ouro, um dos
principais fatores que motivaram a ação colonizadora portuguesa (MACHADO, 2008, p. 94).
O Brasil recebeu aproximadamente cinco milhões de imigrantes entre 1819 e 1940,
formados por italianos, portugueses, espanhóis que somavam mais de 2/3 do total, seguido
pelos alemães e japoneses. Ainda os menos expressivos numericamente foram os russos,
sírio-libaneses e poloneses (MACAHDO, 2008, p. 94).
21

O aspecto de declínio da imigração no Brasil se refere ao fato de que:

Após 1930 as imigrações de todas as nacionalidades decaíram, pois o Brasil não


precisava mais de braços para a agricultura e para as fábricas, já que os brasileiros
supriam a demanda. [...] o ápice do fluxo ocorreu na primeira metade do século XX,
entre 1901 e 1930, quando as cifras ultrapassaram a média anual de 25.000
portugueses (VENÂNCIO, 2000 apud MACHADO, 2008, p. 96).

Há também dados, de que em 1921 fazendeiros do café custearam a vinda de


imigrantes para cumprir contratos de dois a três anos trabalhando nas lavouras. No entanto,
em 1922, um Projeto de Lei proibiu a entrada de negros e orientais no Brasil. Porém, nunca
vigorou. A partir de 1934 uma emenda constitucional passa a limitar a entrada de estrangeiros
no país, o que resultou a queda da imigração no Brasil (BRASIL, 2000).

Após a vinda da família Real para o Rio de Janeiro, no início do século XIX,
também chegou cerca de quinze mil nobres e pessoas da alta sociedade portuguesa,
quando se instalaram basicamente nos centros urbanos de São Paulo e Rio de
Janeiro, ao contrário de italianos e alemães que preferiram o campo (MACHADO,
2008, p. 97).

A colonização portuguesa então Capitania de Mato Grosso deu-se no século XVIII,


com pretensões de ocupar as terras a Oeste. A intenção era aprisionar os índios para o trabalho
na lavoura e para a procura por ouro e pedras preciosas.
Desta maneira,

O número de pessoas que adentraram as minas de Cuiabá e Mato Grosso é incerto, e


se constituiu de aventureiros livres, negros escravos e índios aliados. A descoberta
de ouro trouxe migrantes de São Paulo e Minas Gerais, assim como de outras
capitanias e portugueses emigraram para o Brasil atraídos pela notícia do “Eldorado”
mato-grossense (MACHADO, 2008, p. 98).

Dentre o contingente populacional, a presença masculina era a predominante. esta


apresentava uma cultura e identidade vinculadas à mineração. Assim, “as dificuldades de
percurso monçoeiro, a falta de estrutura nas cidades, os ataques dos nativos, a vida árdua no
local, acrescida pelas intempéries naturais, contribuíram para assegurar na área uma
população reduzida e dificultava a presença de mulheres” (MACHADO, 2008, p. 99).
A colonização nas minas de Cuiabá foi garantida pelo deslocamento de paulistas,
mineiros, baianos e nativos. A imigração, lenta e gradual, se deu através dos rios Madeira e
Guaporé, chegando a Vila Bela e esteve em torno de dezoito mil pessoas de ambos os sexos e
todas as idades. Foi preciso que a população se fixasse no local para garantir a manutenção
das minas de ouro, assim:
22

A urgência do povoamento de Mato Grosso requeria a migração de casais. [...] Por


ser uma região de minas de ouro e diamante, pensavam os governantes que a atração
de imigrantes brancos com família seria natural. No entanto, isso não ocorreu. A
característica da população na época era masculina e volante, crescendo as uniões
tipo concubinato com número significativo de filhos ilegítimos. A Coroa criou, na
ocasião, várias estratégias para povoamento da região: acolheu a população nativa
no rol da população branca e legalizou e incentivou os casamentos interétnicos. A
estratégia de avolumar a população com nativos deu certo. Em 1751 a população era
estimada em 2.100 pessoas. No final do século XVIII chegava a 27.000 indivíduos
de todas as idades e ambos os sexos. Deste total, 7.000 residiam em Vila Bela e
arredores e 20.000 eram domiciliados no distrito de Cuiabá (SILVA, 1995, p. 326
apud MACHADO, 2008, p. 101).

A expansão populacional em Mato Grosso conforme Corrêa Filho (1969) se deu pela
zona portuária em viagens fluviais, as monções pelos rios Tietê, Pardo, Taquari, Paraguai e
Cuiabá. Por Goiás, também utilizou o caminho terrestre. Esse movimento de expansão
resultou na abertura e na liberação da navegação pelo rio Paraguai, o que possibilitou o
crescimento da economia baseada na atividade mercantil de importação e exportação, quando
a comercialização na região foi implantada.
Esse fluxo mercantil se estabeleceu no final do século XIX e início do XX, muitos
comércios se instalaram em Mato Grosso, abastecendo as cidades portuárias como Corumbá,
Cáceres e Cuiabá, trazendo perfumes, cristais, medicamentos, móveis, ferragens, chapéus,
roupas, calçados, armas de fogo, entre outros. Desta maneira,

Muitas dessas casas comerciais passaram a “monopolizar a navegação e o comércio


de importação e exportação de mercadorias” em toda região. Além dos produtos
manufaturados importados da Europa, exportavam a produção local como borracha,
poaia, penas de garça, peles de gado, madeira, cereais etc. dispunham de uma seção
bancária para as suas próprias operações, assim como atuavam como intermediários
de bancos estrangeiros e nacionais, como o Banco do Brasil, representavam
seguradoras, incorporavam indústrias e se apropriavam de terras para explorar a
pecuária, a agricultura e a exploração de produtos vegetais e minerais (ALVES,
1984; GOMES, 2005 apud MACHADO, 2008, p. 101).

No Brasil iniciou-se no fim do século XIX o ciclo econômico da exploração da


borracha, atraindo uma grande quantidade de trabalhadores para a região, principalmente
nordestinos que fugiam da seca e estavam em busca de emprego e melhores condições de
vida. As principais regiões produtoras de borracha eram o Pará e o Amazonas, utilizando a
extração do látex das seringueiras, abundantes na região da floresta Amazônica.
Seguindo o exemplo da colonização ocorrida no Sul e Sudeste do país, em Mato
Grosso, na última década do século XIX, foi estabelecido um plano de fomento à imigração,
com a promulgação de leis de concessão gratuita de terras devolutas do governo para
brasileiros e estrangeiros desenvolverem a agricultura e a pecuária. O processo de ocupação
23

em solo mato-grossense foi constante e de maneira acelerada, pois já na primeira década do


século XX:

Houve uma “andeja corrente humana”, proveniente dos “sertões, mineiro e goiano,
que os baianos e nordestinos vararam” até chegar a Mato Grosso atraídos pelas
jazidas de diamantes das regiões do rio Graças e das cabeceiras do rio São Lourenço,
fundando cidades no leste do Estado (CORRÊA FILHO, 1969, p. 113 apud
MACHADO, 2008, p. 101).

Destacamos que logo em seguida, mais precisamente na segunda década do século


XX, iniciou-se a corrida para Poxoréu, na descoberta do diamante. Na década de 1920 o
Brasil foi palco de uma grave crise econômica e política, advinda da força tenentista, com
fortes traços autoritários e nacionalistas, quando defendeu a maior centralização do Estado, a
uniformização legislativa e o ataque à oligarquia paulista. Já em relação às camadas populares
urbanas, o tenentismo pareceu, ora um “catalisador de esperanças de alteração da ordem
vigente, ora, como agentes da salvação nacional em nome do povo indefeso” (DOURADO,
2007, p. 31-32).
A instalação do Estado Novo resultou:

[...] de uma crise de hegemonia, desdobrada em dois momentos: o primeiro,


abarcando os anos 20, teve como sentido último a contestação à preponderância da
burguesia cafeeira, que configurou o golpe de 30; o segundo estendeu-se pelo
período de 1930 a 1937, assinalando como uma crise de hegemonia em sentido
estrito, na medida em que nenhuma classe ou segmento lograra ao controle
inconteste do aparelho estatal (MENDONÇA, 1990 apud DOURADO, 2007, p. 32).

No período do Estado Novo, o domínio do espaço territorial como elemento


constitutivo de identidade nacional, impulsionou a “Marcha para o Oeste”, dirigida pelo
governo Getúlio Vargas, para ocupar e desenvolver o interior do Brasil. Tal projeto foi
lançado às vésperas de 1938, e nas palavras de Vargas, a marcha incorporou “o verdadeiro
sentido de brasilidade”, uma solução para os infortúnios da nação (DOURADO, 2007, p. 34)
Mesmo com o extenso território Garfield (2000), o Brasil havia prosperado quase que
exclusivamente na região litoral, enquanto o interior manteve-se estagnado, vítima da política
mercantilista colonial, da falta de estradas viáveis e de rios navegáveis, do liberalismo
econômico e do sistema federalista que caracterizaram a República Velha (1889-1930).
A ocupação do Centro-Oeste veio a ser uma etapa preliminar à ocupação da Amazônia
como nos indica Santiago (2010), em Goiás foi instalada a primeira colônia agrícola, em
1941, na cidade de Ceres, a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CAN). Os objetivos da
Macha para Oeste basicamente foram o de estabelecer uma política demográfica de incentivo
24

à migração, a criação de colônias agrícolas, a construção de estradas, no incentivo à Reforma


Agrária, como também no incentivo à produção agropecuária de sustentação.
Em boa parte, tal sonho progressista se concretizou. Pois, Santiago (2010) aponta que,
por cerca de quarenta anos, a Marcha para o Oeste fundou aproximadamente 43 vilas e
cidades, construiu 19 campos de pouso, contatou mais de cinco mil índios e percorreu 1,5 mil
quilômetros de picadas abertas e rios.
Assim,

A ocupação de áreas até então desocupadas foi o eixo central das políticas de
integração, que se deparou com o desafio de construir uma nacionalidade em meio à
diversidade. Dessa forma, impuseram-se questões como qual modelo democrático
deveria ser seguido, ou qual o paradigma de civilização a ser adotado. Mesmo
depois do fim do regime do Estado Novo, em 1945, a Expedição Roncador-Xingu
continuou a avançar pelas regiões Oeste e Norte, seguindo o mesmo plano proposto
inicialmente e contando com o apoio do Governo Federal. Somente em 1948, por
decisão da FBC (Fundação Brasil Central), foi encerrada, enquanto uma nova
expedição, liderada pelos irmãos Villas-Bôas, continuou a empreitada, agora com o
nome de Expedição Xingu-Tapajós. O projeto da marcha esteve em consonância
com o da integração, saneamento e desenvolvimento nacional (GALVÃO, 2011, p.
11).

Desta maneira:

Avançar para o sertão, no contexto do Estado Novo, significava realimentar, com


tons nacionais, a ideia da existência de um lugar a ser civilizado e melhor
aproveitado economicamente. O sentimento de pioneirismo do empreendimento
pode ser observado no discurso em que o chefe da expedição, Cel. Flaviano de
Mattos Vanique, por ocasião da visita do Presidente Getúlio Vargas ao
acampamento do rio das Mortes, evoca: Pela primeira vez na história do nosso país,
um presidente afasta-se do Palácio do Catete, para ver de perto como o Brasil toma
posse de si mesmo (OLIVEIRA, 1976, p. 120).

Vargas prometeu distribuir terras para os índios e caboclos que viviam na região. Ao
"fixar o homem a terra", o Estado extirpou as raízes do nomadismo, convertendo índios e
sertanejos em cidadãos produtivos. O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) doutrinou os
índios, "fazendo-os compreender a necessidade do trabalho" (GARFIELD, 2000, p. 15).
O deslocamento de Getúlio Vargas, considerado o “Pai dos Pobres”, ia rumo ao
Centro-Oeste em 1940, pois:

A viagem de Vargas ao Centro-oeste, arquitetada para se assemelhar às ousadas


expedições dos bandeirantes no período colonial, não foi na verdade uma aventura
perigosa. As maravilhas da aeronáutica facilitaram o acesso a lugares antes
inacessíveis ao centro do poder estatal. Além disso, o Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), encarregado de disseminar as diretrizes culturais e ideológicas do
Estado Novo, assegurou uma viagem tranquila. Um cinegrafista do DIP
acompanhou Vargas, filmando imagens que o regime autoritário nacionalista
procurou tornar relíquias: índios vigorosos, emblemáticos da força inata dos nativos
25

brasileiros; o "tradicionalismo" das comunidades indígenas; a camaradagem entre


índios e brancos; a bonomia do presidente, epítome do homem cordial brasileiro; o
longo braço do Estado estendendo-se ao sertão para dar-lhe assistência.
(GARFIELD, 2000, p. 15).

A ocupação de terras no interior do Brasil, especificamente no Centro-Oeste na


implantação do Estado Novo foi fortemente marcado pela centralização do poder federal, pela
ampla intervenção estatal na economia e na sociedade e por um programa nacionalista que
envolveu também a relação da população indígena com o Estado brasileiro.
Nota-se que a estratégia de organização político-econômica do Brasil proclamando um
Estado Novo, compromissado com o desenvolvimento e a integração nacional foi parte de seu
projeto multifacetado de construção de um Brasil novo, mais independente economicamente,
com maior integração política e social mais unificado, Vargas voltou-se para o valor
simbólico dos aborígenes. No entanto, a ideia era de transformar essa realidade, conduzir a
constituição de uma nacionalidade forte e vigorosa, pois a pretensão nesta nova empreitada é
que:

O Estado Getulista empenhou-se na realização da tarefa que objetivava a construção


de um “novo-homem” brasileiro, a ser convertido em símbolo dos novos tempos,
procurando afastar cada vez mais o estereótipo que se queria combater, aquele de
um “povo mestiço, indolente e preguiçoso”. [...] A preocupação do regime com a
produtividade industrial foi polarizadora, já que a “valorização” integral do homem
brasileiro – seu vigor, sua saúde física e energia – estava entrelaçada à produção.
(DOURADO, 2007, p. 33-34).

Desta maneira, diante da ideia nacionalista gerada pelos problemas advindos da


economia com base no setor agroexportador, dependente do mercado externo, pois o governo
esteve na contramão, oferecendo soluções centradas na conquista de uma maior autonomia
econômica e menor dependência do mercado externo, incentivando, assim, a formação do
mercado interno.
Neste sentido, a Marcha para o Oeste, um movimento do governo Getúlio Vargas
planejado para conquistar e desbravar o coração do Brasil significou:

[...] a mudança expressiva a exigência natural de uma sociedade em franca explosão


demográfica. Estávamos deixando de ser uma nação litorânea. Contudo, para que a
interiorização se tornasse realidade, era preciso que o movimento fosse liderado pelo
próprio governo, e foi o que aconteceu [...] (VILLAS BÔAS, 1994, p. 23).

A partir do povoamento para o interior foi-se consolidando no bojo do ideário da


“Marcha para o Oeste”, ao tempo do governo Vargas e visava incorporar ao mercado do
Brasil industrializado, cujas terras começavam a ser produtivas. A ferrovia chegava ao interior
26

de São Paulo, de Minas Gerais, de Mato Grosso e de Goiás e o mercado incorporava cada vez
maiores territórios. Portanto, a conquista do Oeste representava para o regime:

[...] a integração territorial como substrato simbólico da união de todos os


brasileiros. A ocupação dos espaços ditos “vazios” não se daria simplesmente com
utilização econômica da terra, transformada em geradora de riqueza, porém se
efetivaria de maneira especial, a ponto de fixar o homem no meio rural através de
métodos cooperativos, redimensionadores das relações sociais. [...] o desejo de
Getúlio Vargas era o de irradiar para o campo também, as conquistas urbanas, pois
toda a estratégia do controle social estava voltada para a “valorização integral do
homem brasileiro”. Neste sentido, os benefícios de conforto, educação e higiene
deviam ser ampliados para os “operários rurais” (LENHARO, 1986 apud
DOURADO, 2007, p. 34-35).

É importante destacar que no processo de construção do Estado no Brasil, “é preciso


considerar o fato de que a estrutura administrativa foi implantada de fora para dentro e sem
considerar a população e a cultura que havia antes da colonização” (COSTA, 2006, p. 110). A
estrutura de dominação dos povos europeus sobre a população indígena, pobres imigrantes,
negros, todos postos a serviço da colônia, o qual era o de enviar riquezas ao seu país.
Ainda na busca por entender a concepção da formação do Estado, nos recorremos a
visão marxiana acerca de que o Estado

É a expressão da sociedade civil, tornou-se verdadeira no processo de colonização.


No primeiro momento, foi à lógica hegeliana que imperou, o Estado fundou a
sociedade, porém não como o momento ético proposto por Hegel, mas como
estrutura de dominação (COSTA, 2006, p. 110).

Marx nos aponta no nível de desenvolvimento de produção e dos recursos naturais


alcançados pela sociedade através das relações estabelecidas “na produção social da sua vida,
relações que correspondem a um nível determinado das forças produtivas materiais”
(KOFLER, 2010, p. 120-121).
O autor ainda nos revela uma importante descoberta acerca da teoria marxista da
sociedade:

É que a legalidade econômica nunca transcende os marcos das condições sociais.


Por este motivo, Marx trata como condições sociais as relações que, conforme sua
aparência, estariam determinadas por coisas – neste sentido, mostra-as como
fenômenos categoriais da reificação (dinheiro, máquina, capital, mercadoria, valor).
No entanto, ao mesmo tempo, a ligação com as coisas persiste, na medida em que
todas as relações econômicas apresentam esta forma específica, única, a partir da
qual são concebíveis: a atividade econômica do homem se orienta necessariamente
para objetos da natureza (KOFLER, 2010, p. 120).
27

As forças produtivas estão atreladas às relações sociais no processo de produção.


Apresentamos o que Marx considera a respeito de instrumentos de produção:

[...] em lugar de instrumentos de produção, usa “meios de trabalho”, sublinha com


isto o aspecto ativo na relação entre homem e natureza: o trabalhador ”utiliza as
propriedades mecânicas, físicas e químicas das coisas para que elas operem, de
acordo com a meta do trabalhador, como meio para dominar outras coisas” [...]
Neste processo, a natureza com toda a sua riqueza, é a premissa universal e o objeto
da atividade humana; esta atividade, ao contrário, não é o objeto da natureza: a
natureza é apenas “o objeto universal do trabalho humano” (KOFLER, 2010, p.
121).

A economia brasileira calcou-se também em um padrão de acumulação centrado nas


grandes fazendas, com um nível de desigualdade social que condenou à pobreza a população
trabalhadora, estabelecida na herança da colonização.

Foi a extração do ouro que criou a necessidade de aprimorar o sistema


administrativo da colônia a estabelecer uma rígida vigilância sobre a cobrança dos
impostos. A cobrança do imposto sobre a exploração do ouro, o quinto, estabeleceu
uma estrutura administrativa centralizada em Portugal. Esta estrutura de fiscalização
e cobrança dos impostos sobre o ouro levou os primeiros movimentos de libertação
nacional. Podemos dizer que a ideia de nação foi construída pela necessidade de
lutar contra o domínio externo (COSTA, 2006, p. 110-111).

A produção da desigualdade no Brasil resulta de um longo processo histórico, cujas


raízes se encontram na estrutura produtiva. Assentada em latifúndios exportadores e na
concentração de rendas nos senhores rurais, após a independência transformaram-se na base
política do Estado brasileiro. Neste estudo, as reflexões acerca da colonização brasileira
tornou-se, um referencial para compreender a novas configurações do movimento financeiro e
estatal do mundo dos negócios. Nesse cenário de problemas sociais, e a busca pela solução
destes suscitados pelo progresso acelerado, e até mesmo compulsório, é preciso adentrar ao
sertão no movimento migratório de enfrentar novas possibilidades do processo político
ideário de progresso-civilizatório.
É neste aspecto progressista e nacionalista criado por Getúlio Vargas, que o sentido
“mítico da Marcha para o Oeste brasileiro se instaurou através dos recursos propagandistas
implementar ações que realçassem as potencialidades de Mato Grosso para o Brasil.”
(DOURADO, 2007, p. 36). Alcançar o desenvolvimento econômico em Mato Grosso era,
então, uma meta a ser alcançada em pouco tempo, por meio de investimentos na agricultura,
condições para infraestrutura para a colonização e interiorização da região, reatando a
expedição dos primeiros construtores da nacionalidade, os bandeirantes. Nesse aspecto,
28

Dourado (2007) sinaliza que a política varguista no caminho para o Oeste visou determinadas
medidas incipientes como pré-requisitos para a ocupação.

Construção de estradas, saneamento, educação e transportes, que atrairiam pessoas


de São Paulo, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais para o sul de Mato Grosso e
Goiás, juntamente com uma nova migração de nordestinos para a Amazônia,
fortemente estimulada pelo governo, mas, resultava em muitas mortes e decepções.
(DOURADO, 2007, p. 37).

Para elucidar tal fato evidenciado por uma política instituída pelo Estado Novo, em
ocupação dos “lugares vazios”, em consonância com Júlio Muller interventor do Estado de
Mato Grosso, trazemos um significativo relato, a qual apresenta o processo migratório para a
região sudeste de Mato Grosso.
Vejamos o relato:

O senhor Argemiro Pimentel era o condutor de grupos familiares, ele conseguia as


migrações das famílias cearenses, sendo ele também da mesma cidade que a nossa.
Ele chegou lá e entrou em contato com as famílias, e foi acertada a viagem para
Mato Grosso [...] vieram 5 famílias [...] Em Petrolina, embarcamos no Rio São
Francisco [...] pegamos o trem de ferro em Pirapora e fomos até São Paulo, ficamos
10 dias hospedados na casa de migração. Aí viemos para Frei Castilho, onde
ficamos 6 meses, trabalhando, fazendo derrubada, tirando lenha para vender às
margens da estrada de ferro, eram 25 pessoas, crianças, mulheres e homens. O
condutor/encarregado do grupo veio em Mato Grosso para conseguir com o governo
dinheiro para comprar passagens e trazer a caravana até Mato Grosso [...] Em
Cuiabá ficamos 10 dias esperando o carro [...] Fomos para Paraíso do Leste, distrito
de Poxoréu [...] não tinha estradas e nem pontes, mas chegamos no outro lado e
começamos abrir a colônia, fazer os primeiros barracos de palha e fazer derrubada.
Cada um foi entrando e demarcando seus lotes, fazendo as ruas que, até hoje existe
as mesmas em Paraíso do Leste (DOURADO, 2007, p. 38).

Diante do relato visto acima, percebe-se que a vinda das famílias ao “desconhecido”
da criação do novo tipo de trabalhador da terra pensado por Vargas, a dificuldade no trajeto é
notório visto que entre a partida e a chegada até Paraíso do Leste enfrentaram o não
cumprimento de metas propostas pelo regime, assim como a construção de estradas e pontes.
O grupo era obrigado em suas paragens dormir ao relento, em roteiros improvisados até a
chegada à terra a ser ocupada. Portanto, nordestinos vinham para uma realidade
completamente diferente. Ao se quebrar sua resistência cultural, impunha-se ao migrante uma
causa que não lhe pertencia.
Nesta onda incorporadora da participação do trabalhador na construção da nova
colonização, o período do Estado Novo (1937-1945) culminou com a segunda Guerra
Mundial, de 1939-1945 (DOURADO, 2007). O posicionamento brasileiro foi de neutralidade,
momento que intensificou o empenho dos setores produtivos. As dificuldades de importação
29

ocasionadas pela eclosão da guerra expandiram a abertura do mercado interno ao produto


nacional, beneficiando as atividades industriais, que admitiram novas frentes.
As tensões se abriram para Vargas, já não era possível justificar o Estado Novo,
considerando a sua ditadura, diante das divergência das oposições internas ao seu regime,
evidenciadas em prisões, perseguições, censura, expressas em manifestações reprimidas. A
sociedade brasileira mobilizou-se e exigiu um posicionamento do Brasil no interior do
conflito mundial, rompendo anos de silêncio (BERCITO, 1999 apud DOURADO, 2007, p.
39). Foi o fim do Estado Novo com a renúncia de Getúlio Vargas.
Sabe-se que a dependência do Estado ao capital externo está pautada no pacto
federativo que nasceu com a proclamação da República em 1889 Costa (2006), foi realizado
sem a participação das camadas populares. No contexto atual ainda o mercado externo toma
conta da “nossa casa”, é ele quem comanda a vida dos cidadãos brasileiros, demonstrando
cada vez mais que o Estado está voltado para a defesa dos interesses do setor econômico, à
custa dos trabalhadores responsáveis pela sustentação do modo de produção capitalista. Nesse
ponto o mercado mundial e as relações internacionais no mundo capitalista sempre foram
marcados por disputas comerciais e pela a preservação dos interesses nacionais.
Vejamos,

As relações sobre aquilo que de fato interessa no mundo capitalista – o comércio


mundial, o comando do capital financeiro, o desenvolvimento industrial e
tecnológico, são marcados pela desigualdade e pela competição. Os Estados
periféricos subordinam-se às regras dadas pelos países centrais e pelos seus
organismos financeiros. A dinâmica interna da sociedade brasileira, marcada pela
profunda desigualdade na apropriação da renda e pelo conservadorismo político que
alijou as classes trabalhadoras do poder de intervir nos projetos de desenvolvimento
economico e social, tem que ser considerada como fator importante na construção
dos padrões de sociabilidade excludentes do país. É na articulação das
determinações externas – a inserção subalterna do país dentro do cenário
internacional – e das determinações internas – a forma de atuação das elites
nacionais – do Estado e a desigualdade na apropriação dos frutos da riqueza nacional
– que encontramos a explicação da profunda desigualdade brasileira (COSTA, 2006,
p. 131).

A política de desenvolvimento do país está sempre em movimento, entre avanços e


retrocessos na mais diversas formas de condução do Estado brasileiro, as maneiras de
pagamentos de juros ao capital estrangeiro, “a participação das elites dominantes, inclusive na
apropriação dos fundos públicos colocados sempre em função dos investimentos privados e
apenas de forma limitada na melhoria das condições de vida dos trabalhadores” (COSTA,
2006, p. 131).
30

Parafraseando Faleiros (1997), nos moldes atuais, a relação entre sociedade e Estado, a
condição de distanciamento ou aproximação, as formas de utilização ou não de canais de
comunicação entre os diferentes grupos da sociedade e os órgãos públicos que refletem e
incorporam fatores culturais, como acima referidos no tocante às reivindicações de grupos de
interesse de avanço econômico para a sua localidade, que certamente estabelecem contornos
próprios para as políticas pensadas para uma sociedade. As formas de organização, o poder de
pressão e articulação de diferentes grupos sociais no processo de estabelecimento e
reivindicação de demandas são fatores fundamentais na conquista de novos e mais amplos
direitos sociais, incorporados ao exercício da cidadania. Trata-se de uma pobreza e uma
indigência estrutural, vinculadas a relações sociais concentradoras de renda, poder e
privilégios para poucos.
Em um Estado neoliberal as ações e estratégias sociais governamentais incidem
essencialmente em políticas compensatórias, em programas focalizados, voltados àqueles que,
em função de sua "capacidade e escolhas individuais", não usufruem do progresso social. Tais
ações não têm o poder e frequentemente, não se propõem a alterar as relações estabelecidas na
sociedade.

Ancorada na tese de que este novo cenário não comportava mais a excessiva
presença do Estado, a ideologia neoliberal em ascenssão passou, cada vez mais, a
avaliar políticas de ingerência privada. Isso teve como resultado uma alteração na
articulação entre Estado e sociedade no processo de proteção social, concorrendo
para o rebaixamento da qualidade de vida e de cidadania de consideráveis parcelas
da população do planeta (FALEIROS, 2007, p. 159).

A política neoliberal foi implementada a partir da década de 1970, suas ideias surgem
na Europa e nos Estados Unidos. Sader (1995) ressalta que em pouco tempo alcançou a
América Latina. Essas ideias foram organizadas pelos teóricos do Banco Mundial, do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e do Consenso de Washington. Assim, a chegada do
neoliberalismo esteve atrelada a grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973,
quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão,
combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação,
mudou tudo. Desta maneira, as ideias neoliberais passaram a ganhar terreno e se fortalecer
cada vez mais. O modelo político-econômico adotado por Fernando Henrique Cardoso e sua
equipe, seguiu as regras do FMI para o caminho da globalização de mercado.
Mato Grosso, como grande produtor agrícola, minério, pecuária e significativo
exportador do Brasil está criando cada vez mais uma nova dinâmica para gerar formas de
extração de renda e inovadoras modalidades de emprego no contexto rural. Mas essa não é
31

uma dinâmica capaz de criar condições para solucionar os sérios problemas que assolam a
pobreza junto ao desemprego estrutural difundida pelo próprio desenvolvimento nacional. É
preciso uma forte mobilização social, junto às lideranças, buscar essas novas formas é estar
envolvido conjuntamente numa ação coletiva de efetivação das conquistas sociais e
econômicas.
No compasso da história, evidenciamos a formação de um povo que reúne culturas
diferenciadas, que em sua maioria viveu sob o domínio das forças da Coroa, da burguesia, da
república, do Estado. Das colônias agrícolas, de posse de terras doadas, depois terras vendidas
para incentivo da migração, sempre na intenção de garantir a sedimentação da mão de obra
que deveria conservar-se como canteiro de trabalhadores disciplinados e produtivos, para
atender a futura demanda do país que caminhava para a industrialização.
No sentido de demonstrar o velho para compreender o novo, nos deparamos com as
práticas desenvolvidas em Poxoréu, município que foi palco de grandes produções
diamantíferas no período de 1970 a 1990, as formas rudimentares da garimpagem já não
fazem parte do contexto atual. A forma mecanizada deu lugar às pedreiras e à lapidação das
gemas rejeitadas no período de grande produção do diamante, esta que atendia uma grande
demanda comercial, e que agora se transforma em lapidação e produção de joias produzidas
em técnicas modernizadoras na utilização de maquinários e novos moldes produtivos.

1.1.1 No caminho das pedras: do velho ao novo garimpo rumo à Poxoréu

Trazemos nossas inquietações para analisar as implicações dos “novos garimpos” na


região Sul mato-grossense, enquanto produtor de economia e produtor do sustento de
inúmeros cidadãos dos municípios em que se desenvolve esta atividade, partindo da
percepção em que envolve todo o contexto socioeconômico da região de Poxoréu no Estado
de Mato Grosso. Este município localiza-se a Sudeste de Mato Grosso, e atualmente a
população de acordo com os dados do IBGE4 do Censo 2010, são 17.381 habitantes, sendo
que em 2000 contava com 20.030 habitantes.
Neste aspecto, demonstramos a realidade do município de Poxoréu, a qual nos remete
a reflexão a partir do processo inicial às novas configurações. Em 1927 o desenvolvimento do
município se fortalece com a grande quantidade de garimpos e garimpeiros que ‘procuravam'
pedras preciosas, fato que levou a cidade a ser conhecida como a capital dos diamantes. A

4
Dados do Censo 2010 publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010. Disponível em:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=51. Acesso em 07/05/2012.
32

produção em alta escala de diamante trouxe para Poxoréu, aventureiros, comerciantes e


exportadores para se instalar e edificar famílias, negócios, cujo resquício encontra-se até a
atualidade. Poxoréu teve sua história pautada pelo diamante, o que fez do município um dos
mais expoentes no estado e no Brasil naquele período. A fama dos garimpos de diamantes
ganhou margem internacional, fazendo do município um dos principais exportadores desse
produto.
Diante desse movimento de ascensão e declínio, emprestamos de Marx
imprescindíveis colocações acerca da relação do homem com a natureza,

O que o trabalho produz é, “simultaneamente, novo e não novo”. Por um lado, o


homem não pode agregar nada ao ser das forças naturais; as leis destas permanecem
idênticas. Por outro lado, justamente a projeção de fins efetuada pelo homem
confere aos objetos da natureza uma nova determinação, “extraindo das leis da
natureza possibilidades novas de ação, desconhecidas até então ou que tinham se
apresentado apenas de maneira contingente. [...] é o produto necessário de um salto
dialético que engendra uma nova qualidade, a consciência, como característica da
existência de um novo nível de desenvolvimento natural: o mundo humano “dotado
de consciência”. O desenvolvimento desta qualidade é uma função do novo modo de
comportamento dos indivíduos diante da natureza – o trabalho –, resultante de um
salto dialético a partir do nível da animalidade. Uma vez surgida a consciência,
ocorre o mesmo que nos demais níveis: a qualidade mais alta, no interior do
desenvolvimento, permeia tudo, de forma que a legalidade própria deste nível se
apresenta como essencialmente configurada pelo modo de ação desta nova qualidade
(KOFLER, 2010, p. 123-124).

As análises até aqui demonstram que o desenvolvimento humano está sempre em


transformação, buscando novas configurações que se adéquam às suas exigências. No caso de
Poxoréu, através de dados produzidos percebemos que o que era enjeitado na época
abundante das pedras preciosas, atualmente está sendo utilizadas na produção de peças
gerando alto valor comercial, inclusive para o mercado externo.
A atividade garimpeira na região de Poxoréu teve início na década de 1920, de modo
totalmente desordenado, com a introdução de dragas nas décadas de 40 a 60 a desordem foi
acentuada e os problemas ambientais aumentaram consideravelmente. Este fato vem se
agravando até os dias atuais, pois embora as jazidas estejam praticamente exauridas, garimpos
artesanais persistem e constituem como importante fonte de renda para a população de
Poxoréu e Alto Coité. Além do assoreamento de córregos e rios da região, a extração
diamantífera na área gerou grandes pilhas de rejeitos intensificando os problemas de caráter
ambiental. Estes rejeitos, além de causarem grandes impactos ambientais também geram
impactos visuais descaracterizando a morfologia da região.
A partir da década de 90, a extração de diamantes começou a declinar, colocando o
município e seus moradores em fortes dificuldades financeiras. Contudo, o garimpo resiste a
33

todos os fatores externo à sua vontade, graças ao empenho de valorosos cidadãos que
mantiveram o sonho de um município forte. Ganha destaque, a agricultura e a pecuária de
subsistência ganha seus primeiros passos, com advento dos assentamentos agrários.
Entretanto, com a forte motivação garimpeira, essas modalidades econômicas resistiram ao
novo perfil econômico que se traçava para o município.
Atualmente os trabalhadores pedem apoio do governo para lapidação das pedras no
aproveitamento dos recursos abundantes da natureza local e estimular o fortalecimento da
economia é o desejo dos representantes do município de Poxoréu, que estiveram reunidos
com o dirigente da SICME (Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia). No
encontro, ocorrido na cidade, os líderes solicitaram ao secretário investimentos para a
implantação de uma oficina de lapidação de pedras semipreciosas, com o objetivo de
capacitar os garimpeiros e estimular a prática da lapidação como um arranjo Produtivo Local.
De acordo com a idealizadora do projeto e presidente licenciada da ONG Perspectiva
21, Poxoréu é um grande potencial para este tipo de atividade.
Assim:
“Temos nove tipos de pedras abundantes aqui: opala, ágata, jaspe, safira são algumas
delas. Se conseguirmos implantar o projeto será mais uma alternativa para aqueles que
desejam prosseguir no setor. Será um momento importante para a comunidade” (SICME,
2008, p. 1).
Para conseguir essa capacitação, além dos incentivos do governo do estado de Mato
Grosso, que servirá para a compra de equipamentos e construção do espaço, a Perspectiva
ONG 215 pede parceria ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
(SEBRAE), que ficará responsável pela capacitação dos trabalhadores. Segundo informação
do Presidente da Perspectiva 21, “Estamos com o desejo de inicialmente treinar 180
garimpeiros, em um treinamento com tempo de duração de seis meses” (SICME, 2008).
Nas palavras do Secretário de Indústria Comércio Minas e Energia (SICME)
assegurou aos representantes que:

Assim que tivermos a autorização do Governador vamos trabalhar para viabilizar os


recursos. As pedras da região são muito valorizadas em outros Estados do Brasil e
até no exterior. Com a oficina, que será a primeira de Mato Grosso, iremos
verticalizar a economia local e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
população (SICME, 2008, p. 1).

5
A Perspectiva 21 é uma ONG voltada para o desenvolvimento do turismo e do meio ambiente no município de
Poxoréu, e participa do Projeto de Lapidação principalmente na disponibilização de meios para participação em
feiras e eventos setoriais (SICME, 2008).
34

O gestor do município relatou que a concretização do projeto contribuirá muito para a


volta do garimpo local.

Sonhamos com essa oficina há muito tempo. A atividade garimpeira tem sido
deixada de lado e as pedras não estão sendo valorizadas aqui. Precisamos agregar
valor ao produto e viabilizar a comercialização para outros Estados. Acredito que
será o começo de um novo tempo para o município ((SICME, 2008, p. 1).

Dar todo suporte logístico necessário para o início dos trabalhos é o comprometimento
do SEBRAE (Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) com a população de
Poxoréu na concretização do projeto.
Assim:

Iremos apoiar na gestão desse núcleo de lapidação, profissionalizando essas pessoas


para se tornarem trabalhadores capacitados em lapidar as pedras semipreciosas, disse
a diretora do SEBRAE, Leide Garcia. Além da capacitação dos trabalhadores,
também iremos ajudar a comunidade a formar uma cooperativa, ou uma associação,
trazer estudos de outras regiões para o município, além de técnicos para estudar a
área e compartilhar conhecimentos do setor (SICME, 2008, p. 1).

As estratégias de enfrentamento ao desemprego nas cidades garimpeiras são


significativas, pois devido às transformações no mundo globalizado e não sustentável, é
preciso que a sociedade se organize e busque formas legais de desenvolver as “novas”
possibilidades de sobrevivência humana e ambiental diante do modo de produção capitalista.
O passado e o presente estão atrelados numa história de luta, de sonho, de riqueza, de
dias melhores, ligada à sobrevivência humana e, a atividade garimpeira e mineradora
promovem impactos diretos na natureza, causando danos ambientais e à saúde humana. Tanto
o garimpo quanto a mineração extraem recursos que se encontram no solo ou no subsolo, no
segundo caso é o que acontece na Amazônia mato-grossense, de onde são retirados o ouro.
Os danos gerados nas áreas onde são desenvolvidas a mineração ou garimpo são
irreversíveis, assim é preciso que o Estado se empenhe nessa questão envolvendo toda
sociedade na efetivação de políticas públicas que assegurem a sustentabilidade
socioambiental.
Sabe-se que a lucratividade oriunda da extração mineral fica nas mãos de uma minoria
detentores do grande capital e os prejuízos ambientais ficam para toda a população. É urgente
a necessidade de ampliação e acesso às novas técnologias aplicadas ao mercado garimpeiro,
recursos que sejam efetivados na melhoria de condições de trabalho, capacitação, um olhar
atento à saúde do trabalhador atrelado ao desenvolvimento econômico, componente essencial.
35

Sem crescimento sustentável não há bases para a adoção de políticas que possam expandir a
oferta de postos qualificados ou incrementar a formalidade.
A perspectiva dos “novos garimpos” traz uma nova roupagem vinculada à legalização
ambiental, à inserção do trabalhador nos sindicatos e cooperativas onde as políticas
macroeconômicas devem estar alinhadas ao cenário internacional justo. É a partir delas que
se torna possível a expansão e o fortalecimento dos mercados internos, responsável por gerar
demanda e estimular melhorias nos processos produtivos, atendendo aos anseios da população
propiciando o crescimento econômico, o fortalecimento das instituições e o desenvolvimento
humano. Em Mato Grosso é preciso o amadurecimento das concepções tecidas no passado e
ultrapassar as impossibilidades, mobilizar o Estado para que atenda a demanda das
necessidades da população.
O garimpo é uma atividade que precisa ser reformulado em sua atuação, pois a
configuração das relações de trabalho junto à extração do solo decorrem da união de classes
em torno de um objetivo comum, a alternativa, dado o cenário atual, é democratizar as
relações de trabalho, conferindo aos atores sociais, verdadeiramente, dar maior autonomia de
atuação para a formação dos “novos garimpos”.
Para tanto, a atuação garimpeira atual estabelece parâmetros legais para o seu
funcionamento, pois as agressões ao meio ambiente em solo brasileiro estão sob os olhos do
mundo inteiro. É preciso estabelecer regras legais para garantir o extrativismo, assim como a
situação do trabalhador no contexto das associações e sindicatos.
Durante este estudo faremos uma análise para buscar a compreensão acerca das
condições legais para o funcionamento atual dos garimpos como demonstramos na
garimpagem com a extração de diamante no contexto de Poxoréu.
36

SEÇÃO II - HOMENS E MULHERES NO UNIVERSO DO GARIMPO: dados e atos


desta relação de gênero

Liberdade busca jeito. Sou água que corre


entre pedras.
Quem anda no trilho é trem de ferro
Manoel de Barros

O enfoque conceitual aqui colocado é no sentido de situar o lugar da mulher no


contexto do garimpo, pois sabemos que a figura feminina sempre esteve presente na
humanidade, assim como nas relações de sociabilidade. No entanto, as formas de
oportunidades sempre foram injustas, na desigualdade de direitos ao longo dos séculos.
Reunimos conceitos que permitem refletir a categoria gênero como um instrumento de
análise para compreender as desigualdades sociais, políticas e econômicas entre homens e
mulheres na nossa sociedade e, em particular, nas nossas cidades pesquisadas.
Ao situarmos na história do desenvolvimento social, cultural e econômico da mulher,
é notório perceber que este segue um molde pautado em desigualdades determinadas
inicialmente na divisão sexual do trabalho, as quais a mulher tem afazeres diferenciados dos
homens. Demonstradas aqui, pois “baseada nesta ideia, a sociedade machista esta organizada
para transmitir, incentivar e cobrar o cumprimento de suas ‘obrigações’, do papel imposto a
cada sexo, como se fossem naturais” (COELHO, 2010, p. 12). Estas são ações produzidas
pela própria sociedade.
Nos moldes ainda fortemente presentes na cena contemporânea,

Os meninos devem realizar tarefas que estejam ligadas a força física e ir aos poucos
provando sua masculinidade e dominação. A menina segue um padrão diferenciado
deste, onde suas atividades estão sempre ligadas ao âmbito doméstico e seu
comportamento deve ser permeado de traços delicados e retraídos. O que é
permitido e proibido passa a ser internalizado ainda na infância, afetando assim, um
desenvolvimento saudável e igualitário. [...] O menino que cresce acreditando ter na
mulher seu objeto de satisfação de suas vontades e dominação terá imensas chances
de se tornar um agressor a ela na fase adulta. Já a menina que tem seu universo
restrito aos afazeres domésticos, a servir os homens da casa, a ser submissa e ter
seus desejos e vontades anulados frente a eles terá inúmeras chances de ser vítima de
violência doméstica em sua fase adulta (COELHO, 2010, p. 12).

Buscando o entendimento e a compreensão da submissão da mulher diante do


homem, não iremos aprofundar na temática de gênero, mas, pretendemos expor conceitos que
nos aproximam da relação de homens e mulheres, entre elas crianças e adolescentes do sexo
feminino situado conjuntamente em regiões garimpeiras, o longo período de subordinação, em
37

situação de violência sexual, faremos uma ligação direta com as questões relacionadas ao
gênero apreendidas na sociedade.
Deste modo, nos estudos de Pereira6 (2005, p. 6) Gênero, antes de tudo, é relação
social. “Gênero não se refere estritamente às questões das mulheres ou do sexo feminino, mas
às relações sociais de poder e às representações sobre os papéis e comportamentos dos
gêneros masculino e feminino na nossa sociedade”.
Assim, “Conceitualmente, gênero diferencia-se de sexo” (COELHO, 2010, p. 12),
assim:

Sexo refere-se às características morfológicas e biológicas, a elementos da natureza


que diferenciam machos e fêmeas em todas as espécies. Gênero refere-se aos
padrões de comportamento e papéis sociais esperados de e por homens e mulheres
em cada sociedade. Nesse sentido, sexo é inerente à natureza e não pode ser alterado
na sua estrutura. Gênero é produto das relações sociais e pode mudar conforme
mudem os costumes e a cultura de cada sociedade. (CADERNOS ESPECIAIS,
2005, p. 6).

Desta maneira, o estudo de gênero é fundamental para compreender a existência da


relação social estabelecida diferentemente entre homens e mulheres. Apoiamo-nos também
em Saffiotti (2004, p. 43) para o entendimento, muitas vezes dificultoso. No entanto, gênero é
um conceito por demais aceitável, porque é “excessivamente geral, a-histórico, apolítico e
pretensamente neutro. Exatamente em razão de sua generalidade excessiva, apresenta alto
grau de extensão, mas baixo nível de compreensão”.
A construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres
humanos só se constroem como tal em relação com os outros (SAFFIOTI, 1992, p. 210);
É no contexto da pobreza que as relações se agravam e desprendem da vida social,
assim:

É inegável que a pobreza vem não só criando espaços apropriados à exploração


sexual comercial e a exploração do trabalho infantil, mas propiciando a violência em
suas múltiplas facetas. [...] A desigualdade estrutural da sociedade brasileira é
constituída não só pela dominação de classes, como de gênero e de raça. É também
marcada pelo autoritarismo nas relações adulto/criança. [...] As relações dominantes
de gênero e de raça, por sua vez, se evidenciam pelo fato de que a grande maioria
das vítimas de exploração sexual é do sexo feminino, negras e mulatas (CECRIA,
1999, p. 20).

É importante destacar que a categoria “poder” está intrinsecamente ligada à noção de


violência. Esta categoria pode ser compreendida como uma relação onde há uma desigualdade

6
Assistente social da FASE/RJ. Mestre pelo IPPUR/UFRJ. Doutoranda pelo IPPUR/UFRJ. Caderno Especial
n.10 - Serviço Social e Questão de Gênero. Edição 04 a 18 de março de 2005.
38

– que pode ser de força física, de gênero, de geração – na qual os envolvidos encontram-se em
posições diferentes, sendo que, aqueles que são mais vulneráveis acabam se tornando as
vítimas dessas relações de violência como, por exemplo, as mulheres, as crianças e
adolescentes, idosos, deficientes, e outros.
A violência é uma relação de poder, uma relação entre desiguais, é neste sentido que
os mais vulneráveis muitas vezes são as vítimas, as quais destacam-se crianças e os
adolescentes. Situamos a exploração sexual neste contexto (SAFFIOTTI, 1995 apud
CECRIA, 1999, p. 22) “pode ser explicada a partir de quatro eixos fundamentais: classe
social, gênero, etnia, e relação adultocêntrica7”. Ainda em suas contribuições a autora nos
remete ao Congresso de Estocolmo em 1996, o qual marca um novo momento da história no
combate a exploração sexual comercial de crianças.
Assim,

A Agenda de Ação de Estocolmo (1996) define que a exploração sexual comercial


infantil é todo tipo de atividade em que as redes, usuários e pessoas usam o corpo
do(a) menino(a) e do adolescente para tirar vantagem ou proveito de caráter sexual
com base numa relação de exploração comercial e poder e declara que a exploração
sexual comercial de meninos, meninas e adolescentes é um crime contra a
humanidade (BRASIL-CECRIA, 1999, p. 22).

Ao longo da história podemos perceber comportamentos e ações que antes eram


naturalizadas e que hoje vem sendo colocadas como atitudes de violência contra as crianças e
os adolescentes. Observamos que a representação social da violência é construída
socialmente, e principalmente nas condições de subalternidade dentro do arranjo familiar. Nas
ultrapassagens do tempo, situações de desrespeito e violação de direitos da população infanto-
juvenil se agrava e se amplia. Pois vimos, que a,

Violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes, é uma construção histórica,


social e cultural e pode manifestar-se através da violência física, sexual, simbólica,
psicológica, abandono, negligência, podendo atingir indistintamente qualquer classe
social, faixa etária e ambos os sexos (BARROS, 2005, p. 41 apud AZEVEDO,
1999).

As diferenças postas a meninos e meninas na sociedade são reconhecidas e pautadas


nas desigualdades, “da opressão nos padrões de comportamento, nos papéis sociais e no

7
Em uma sociedade adultocêntrica, a criança é considerada um dado universal, uma categoria natural ou cópia
do adulto, uma tábua rasa, e a infância é vista como o período do ainda não, em que a criança é só um projeto de
adulto, ou ainda como uma primeira etapa de um percurso linear, no qual, inevitavelmente, a criança passará da
irracionalidade para a racionalidade, da imaturidade para a maturidade, do não saber para o saber
(FERNANDES, 2007, p. 10).
39

acesso a direitos impostos aos homens e às mulheres, em que as mulheres se situam no pólo
mais desfavorável dessa relação”.
Por exemplo,

[...] na socialização das crianças, meninos e meninas, em geral, são estimulados a ter
comportamentos diferentes, que, se analisados cuidadosamente, explicitam o lugar
(naturalizado) de homens e mulheres na nossa sociedade. Enquanto meninos são
incentivados a serem livres, a brincar e a brigar na rua, no espaço público, e a
namorar, as meninas aprendem a se comportar de forma mais submissa, a ocupar o
espaço doméstico, a cuidar dos afazeres do lar e das pessoas da família, e a viver sua
sexualidade e agressividade de modo mais reprimido. Em consequência, meninos e
homens também pagam um preço por essa (de)formação (PEREIRA, 2005, p. 6).

As mulheres vivem em condições de dominação masculina, como observamos as


seguintes ponderações,

A subordinação feminina, em relação a dominação masculina, se difunde nas esferas


das relações sociais através dos movimentos simbólicos e das práticas sociais, que
criam espaços, valores, subjetividades e funções, dividindo e hierarquizando as
vivencias entre os gêneros. O trabalho enquanto prática social simboliza e concretiza
a separação das funções masculinas e femininas, sendo que o trabalho
desempenhado pelos homens gozam de maior valor e prestígio social do que o
trabalho das mulheres (GOMES, 2011, p.12).

Na divisão sexual do trabalho, que se evidencia o afastamento e hierarquização do


trabalho entre os gêneros, o que possibilita a análise da condição da mulher no mundo do
trabalho, que parte do principio da construção de habilidades voltadas para a vida reprodutiva
e doméstica, apoiada no mito da mulher maternal, concepção esta que, inclusive, condiciona o
seu lugar na sociedade assalariada (GOMES, 2011).
Assim,

[...] as relações de gênero, materializadas pela divisão sexual do trabalho, não só


divide o trabalho entre homens e mulheres, como o qualifica de modos diferentes, e
caracterizam outras formas de dominação/exploração que se reproduzem em todos
os espaços onde há relações de gênero, reforçando a subordinação feminina e
reafirmando modos de segregar as mulheres nestes espaços (GOMES, 2011, p. 12).

No decurso da história, sempre pertenceu aos homens desempenhar o papel de


provedor econômico da família (PEREIRA, 2005). Entretanto, o número de mulheres chefes
de família na cena contemporânea vem aumentando, na sociedade brasileira essa demanda
ainda é geradora de cobranças e conflitos. Embora, as mulheres ocupem e disputem
competentemente o mercado de trabalho, ainda lhe pertence o bom gerenciamento do
ambiente doméstico. Além disso, as condições sociais objetivas continuam bastante
40

desfavoráveis às mulheres, contribuindo para a sobrecarga de atribuições. Dar visibilidade à


maior vulnerabilidade social das mulheres e às desigualdades sociais de gênero permite
desnaturalizar relações de dominação e de exclusão social às quais homens e mulheres
encontram-se submetidos e denunciar que as mulheres são as que pagam o preço mais alto por
essa submissão.
É preciso um exercício de sensibilização da sociedade para a superação de
preconceitos de gênero e etnia realizado em conjunto com os atores sociais que constroem a
cidade. Sobretudo, acentuar olhares para desnaturalizar injustiças e fazer com que realmente
apareçam as desigualdades de gênero, pondo em pauta nas discussões de toda sociedade,
comunidade escolar, associações, cooperativas, trazendo abordagens a serem debatidas entre
homens e mulheres, no sentido do desvelamento da desigualdade de gênero. Isso é necessário,
pois, a subordinação da mulher ao homem atravessa os tempos nas mais variadas formas
desde o início das civilizações ao cenário atual (VIEZZER, 1989). Esta condição está posta as
sociedades no formato da opressão, na dominação, o machismo, o patriarcalismo, enfim
variáveis que compõem o capitalismo.
No viés da subordinação,

O que queremos não é inverter a ordem a ordem atual das coisas, através de uma
troca pura e simples de papéis sociais que levariam a subordinar os homens às
mulheres. Entendemos que novas relações podem ser pensadas de tal forma que,
homens e mulheres sendo biologicamente diferentes, possam tratar-se como seres
humanos iguais em direitos face a vida (VIEZZER, 1989, p. 9).

Os ambientes permeados por atividades garimpeiras majoritariamente masculino, são


espaços de trabalho exaustivo, nos quais as mulheres na maioria das vezes se fazem presentes
por subordinação ao homem, seja na exploração sexual, prostituição, na limpeza, na cozinha.
Porém, este espaço pode ser ocupado por mulheres trabalhadoras do garimpo, na igualdade de
direitos, estes que já são ocupados em diversas áreas profissionais, antes ocupadas somente
por homens, como na construção civil, aviação, no campo intelectual, mulheres que assumem
o sustento da família e tantos outros.
As mulheres estão construindo através dos tempos a sua própria identidade. Assim,
nos ensinamentos de Simone de Beauvoir “não se nasce mulher; torna-se mulher”, pois é
preciso identificar a mulher como um ser atuante capaz de produzir e gerir seus próprios
caminhos (VIEZZER, 1989).
41

No processo dialético produzido na história da sociedade, neste frequente diálogo


entre indivíduos e meio social vai sendo formado, ou seja, a construção da humanidade se
caracteriza pela identidade feminina e da masculina.

2.1 O GARIMPO EM MATO GROSSO: homens, mulheres e crianças desbravando as


fronteiras dos sonhos, conquistas e riquezas

No percurso da história, observamos a expansão territorial trazendo um grande número


de pessoas para Mato Grosso em meados do século XVIII. Desbravadores adentravam o
estado, atraídos pela notícia do “Eldorado” mato-grossense. A população era
predominantemente masculina, com cultura e identidade vinculadas à mineração. “As
dificuldades do percurso, a falta de estrutura nas cidades, os ataques dos nativos, a vida árdua,
acrescida pelas intempéries naturais, contribuíram para assegurar na área uma população
reduzida e dificultava a presença de mulheres.” (AZEM e FILHO apud MACHADO, 2008, p.
98).
No início da colonização predominou homens, evidenciando uma divisão de gênero
(AZEM e FILHO apud MACHADO, 2008). Com o decorrer do tempo, certo equilíbrio nesses
índices em decorrência de estabilizações econômicas de predomínio masculino ligado a
atividades extrativistas e braçais. Na historiografia tradicional, essas regiões diamantíferas
figuram, em geral, como espaços ocupados, sobretudo por migrantes masculinos oriundos de
várias partes do país “[...] muitos vindos do Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Goiás”
(COELHO, 2007, p. 34).
Parafraseando Ribeiro (1945) trabalhadores em sua maioria nordestinos, até então,
seringueiros do sertão, pois o século XX desponta para a extração de origem seringueira no
formidável tesouro da Amazônia mato-grossense, onde alguns municípios ao norte de Cuiabá
trouxeram o próspero desenvolvimento nas rendosas safras do látex da borracha.
Muitos destes nordestinos vinham fugidos de seus pagos onde reinava a intolerância
horrorosa dos anos de seca, vindos para a Amazônia realizar o aspecto mais curioso de nossa
história, pois “amansavam o sertão” (RIBEIRO, 1945). Atraídos pela promessa de uma vida
melhor, eles se aventuravam pelo “inóspito sertão”, no intuito de adquirirem riquezas
facilmente com a extração das pedras brilhantes.
O garimpeiro era vistos como:
42

[...] homem aventureiro, desprovido de valores morais da boa sociedade, que se


lança ao desconhecido em busca da riqueza, do brilho das pedras preciosas, que
fascinam e cegam. O garimpeiro é representado, pois, como um ser errante e
solitário, incapaz de construir laços afetivos e que em busca de riqueza fácil, a
qualquer preço, “não finca raízes”. Nesse mundo, basicamente masculino, marcado
pelo desconforto, pelo perigo, pela rudeza, enfim, pela violência, a presença
feminina é quase invisível (COELHO, 2007, p. 34).

As mulheres aparecem no cenário doméstico, nos bares de prostituição, e poucos


autores se atentam para a participação feminina neste contexto. Embora, a mulher tenha
compartilhado com o homem o esforço para prover a sua subsistência e criar condições de
vida cada vez melhores para o grupo, nem sempre sua presença foi reconhecida e apreciada
no mesmo alcance. Sempre houve a desvalorização social ao longo da história da
humanidade.

Nos garimpos, o homem é um sertanejo, matuto, ignorante e o sonho alimenta-lhe a


vida. Tanto é que, nessas localidades, diligenciam-se atividades que comprometem a
estabilidade social e até mesmo a vida de muitos inocentes, o que Xavier (p.103),
resgata, ao elencar como causas principais da violência nos garimpos: uso excessivo
de bebidas alcoólicas; jogo de carta de baralho; mulheres prostitutas; enriquecimento
fácil e rápido; livre porte de armas para sóbrios e embriagados; ausência de policiais.
(AMORIM, 2001, p. 36).

Diante deste cenário, “a violência explícita é uma característica de todas as cidades


cuja população é dotada de incivilidade” (AMORIM, 2001, p. 35). Aponta, ainda, que em
Mato Grosso todas as cidades nascidas do garimpo foram radicalmente violentas,
principalmente no período do auge da extração do ouro e de diamantes. Ocorrido em
municípios como: Peixoto de Azevedo, Alto Paraguai, Alta Floresta, Paranaíta, Poxoréu, e
que não difere de outros estados, como em Serra Pelada (PA), Andaraí (BA) e tantas outras.
A aproximação da formação do município de Poxoréu aconteceu exatamente no
caminho das pedras, caminho este traçado pelo garimpeiro trazendo:

[...] uma “bateia8”, uma sacola de roupa dentro de um carumbé atado como uma
corda, soltos rio a fora. Vez por outra, paravam, retirando do leito do rio ou de suas
margens, cascalhos. Perceberam que a medida que se aproximavam da localidade
onde hoje está estabelecida a cidade de Poxoréu, as amostras colhidas iam ficando
cada vez mais ricas em formas para o achamento de diamantes (AMORIM, 2001, p.
38).

Amorim (2001) diz que os rios Poxoréu, Jácomo e Bororo se confluem neste local
fartamente abrilhantado por jazidas preciosas. Os baianos chamavam de sopé esta formação

8
Gamela de madeira usada para a lavagem de material aurífero e diamantífero. Em Poxoréu, a bateia foi
substituída por peneira. (BAXTER, 1975, p. 271).
43

no alto da maior elevação da região denominada de Morro da Mesa, assim chamado pelo seu
formato inconfundível ao de uma mesa. Esta descoberta foi em 9 de julho de 1926, já se
formava um populoso povoado. Que tão logo passou a se chamar Poxoréu (AMORIM, 2001).
Assim, Poxoréo tornou-se lugar de referência na região, ponto de escala de avião na
rota Cuiabá-Goiás. O município foi criado em 05 de março de 1939, através dos Decretos-Lei
nº 145 e nº 208. Inicialmente dizia-se Poxorêu, com pronúncia fechada. No entanto, o povo
habituou-se com a pronúncia aberta Poxoréu. Mais tarde, um estudo de numerologia,
executado a pedido do prefeito Lindberg Nunes Rocha, em seu segundo mandato, determinou
a mudança da grafia para Poxoréo, através da Lei Municipal nº 01, de 7 de julho de 1968 9.
Porém, a partir de 25 de maio de 2005, de acordo com a Lei n. 976, o prefeito municipal Sr.
Antônio Rodrigues da Silva decreta em art. 10 o seguinte: Fica suprimido do topônimo
“Poxoréo” passando a ser “Poxoréu”, conforme o estudo etimológico da Língua Bororo e as
regras gramaticais da Língua Portuguesa.
Situado a 280 km da capital Cuiabá, está na divisa da bacia Amazônica e a bacia
Platina, ao norte está o rio das Mortes, ao sul está na linha divisória das águas do rio São
Lourenço, e na parte superior do rio São Lourenço está o rio das Garças, refúgio final dos
índios Bororos do leste, representando a herança da origem da palavra Poxoréo, derivada do
Bororo Pô (“água”, “curso d’água”, “rio”) e cereu (“escuro”, “preto”), este foi o nome dado
ao rio – “rio das águas pretas e escuras”, que com a frequência da atividade garimpeira passou
a ter uma coloração marrom clara (BAXTER, 1975, p. 35).
Garimpeiros fazem parte da história do Brasil rural, como nos aponta Baxter (1975), e
traz seu significado enquanto sujeito colonizador, integrante e participativo deste movimento
da história contada a partir da metade do século XVIII, neste período é demarcado a grande
procura por ouro e diamantes no Brasil.
Assim:

[...] desenvolveu-se no Brasil um corpo de mineradores pouco habilitados, de


pequena escala, mais numerosos e capazes nas suas atividades de mineração do que
meros especuladores frequentemente encontrados em áreas de mineração que
estariam de outro modo abandonadas. Ao invés de desaparecerem, esses garimpeiros
(como esses mineradores passaram a ser conhecidos) sobreviveram tenazmente e de
fato se tornaram agentes de posteriores explorações de minerais (BAXTER, 1975, p.
17).

9
Histórico. www.seplan.mt.gov.br http://www.coisasdematogrosso.com.br/site/cidades/cidade.asp?cod=61 –
acesso em 05-05-2011. CRÉDITOS: Mato Grosso e Seus Municípios, Autor: João Carlos Vicente Ferreira -
Cuiabá: Buriti, 2004. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2005, Associação Mato-Grossense dos Municípios-
AMM. Data de publicação: 07/06/2008
44

No percurso da mineração brasileira, principalmente na do ouro, de pedras preciosas e


semipreciosas, perpassa historicamente na teia garimpeira. Tamanha importância é atestada
pelo fato de que seus interesses são protegidos por um órgão do governo federal, a FAG
(Fundação de Assistência aos Garimpeiros), instituído pela Lei nº 3.29510, de 30 de outubro
1957, sancionada pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek.
A relação posta à preocupação oficial pelos garimpeiros como a encarnada pela FAG,
sendo esta um tanto irônica ao demonstrar o conceito estabelecido pelo próprio autor, aqui
citado:

O próprio nome “garimpeiro” foi cunhado para descrever uma pessoa que desafiava
a propriedade real dos campos diamantíferos, e por isso se tornava um infrator
sujeito ao exílio em Angola. Hoje, longe de serem foras da lei, os garimpeiros são
reconhecidos por muitos brasileiros como um elo com os Bandeirantes, como
pessoas das quais depende a nação para sua exploração e colonização. Como
folclore vivo, o garimpeiro tem feito surgir incontáveis alusões e ilusões (BAXTER,
1975, p. 17).

A presença de garimpeiros é elemento importante na mineração brasileira,


principalmente em Minas Gerais e Mato Grosso em busca de pedras preciosas, como também
a forte presença de ouro que durante o século XVIII em regiões mato-grossenses esteve
concentrada economicamente na mineração. Nos estudos de Baxter (1975), notamos que
desde o princípio do século XX os garimpeiros se concentraram mais nas regiões da
Amazônia, e que permanecem nos dias atuais em regiões da Amazônia mato-grossense.
Como eram chamados, os “faisqueiros”11 do século XVIII, o minerador de pequena
escala, era tão característico na mineração quanto o trabalho escravo em áreas controladas por
empresários de mineração. (BAXTER, 1975, p. 21). A tecnologia era essencialmente a
mesma, tanto para as jazidas de ouro, quanto para os diamantes, a bateia e o almocafre eram
as ferramentas básicas. Os locais podiam ser explorados por faisqueiros individuais ou por
pequenos grupos. Desta maneira, estes homens facilmente transferiam sua atenção para os
diamantes.
O minerador de diamante era visto como fora da lei pelo seu interesse em diamantes,
já o explorador de ouro também considerado fora da lei, pelo fato de não ter requerido um
pedido formal ou por não pagar o quinto12. (BAXTER, 1975, p. 21).

10
GARIMPEIRO – ASSISTÊNCIA. Cria a Fundação de Assistência aos Garimpeiros, e dá outras providências.
Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 1957; 136º da Independência e 69º da República. Juscelino Kubitschek
Parsifal Barroso, José Maria Alckmin. Disponível em: http://www.soleis.adv.br/garimpeirosfundacao.htm.
Acesso em 22/05/2012.
11
Derivado de faiscar. Os mineradores teriam sido atraídos pelo brilho do ouro nos leitos dos rios em lugares de
pouca profundidade. A palavra “faisqueiro” hoje é incomum, substituída por faiscador. (BAXTER, 1975).
45

E por esta distinção surge a palavra garimpeiro, vejamos:

Foi, entretanto em vão que se estabeleceram leis penais e se multiplicaram as


medidas preventivas. A ambição e a astúcia zombavam de todos os obstáculos.
Quando os diamantes estavam menos difíceis de extrair, e mais abundantes, existia
uma espécie de contrabandista que se reunia em tropas e se distribuía pelos lugares
onde essas pedras preciosas se achavam em maior abundância e eles próprios faziam
a exploração. Alguns deles ficavam de esculca em lugares elevados, avisando os
demais à aproximação de soldados e o bando se refugiava nas montanhas de difícil
acesso, as mais escarpadas. Foi isso que fez dar a esses homens, aventureiros, o
nome de “grimpeiros”, donde se formou por corrupção a palavra garimpeiro, que se
manteve. (SAINT-HILAIRE, 1941 apud BAXTER, 1975, p. 21).

Por estarem em diversas localidades no Brasil na garimpagem de variados tipos de


minério, os garimpeiros apresentam algumas características em comum, vejamos:

[...] eles tem em comum, características suficientes para serem vistos como um
grupo coeso e a garimpagem como uma ocupação distinta. [...] a rudimentar
tecnologia de mineração é essencialmente a mesma para todos os produtos. A
garimpagem é levada a efeito amplamente numa base individual, e apoiada por
aviamento, um sistema de patronagem encontrado por todo Brasil rural. O status
socioeconômico do garimpeiro é baixo e para a maior parte a sobrevivência se dá
numa base de subsistência (BAXTER, 1975, p. 18).

As características ultrapassam fronteiras, indicam um mundo de dias melhores, de


mulheres e homens corajosos e destemidos, atraídos para a terra abundante em aspirações e
desejos de grupos migrantes, ocupando a região Centro Oeste, especificamente na
centralidade deste estudo na realidade de Poxoréu.

[...] o imaginário desses itinerantes/trabalhadores sobre o viver de ontem e sua


compreensão das condições do presente estão carregados dessas experiências. As
imagens predominantes dos tempos de antes e de agora vem polarizadas pela miséria
e pela fortuna. Dentre os aspectos apontados como responsáveis por sua miséria
estão: a expulsão dos territórios originários de lavoura, onde a fome abriu a fenda
maior; a destruição de relações de trabalho e de vida que garantiam a moradia no
campo e o plantio de trechos de chão necessários ao sustento da família.
(DOURADO, 2007, p. 55).

No trajeto da evolução populacional em Mato Grosso, vários municípios


desenvolveram e ainda desenvolvem a prática garimpeira presente desde a Amazônia mato-
grossense à baixada cuiabana, porém neste estudo daremos ênfase ao município de Poxoréu,
este que é apenas uma das inúmeras cidades que passou pela colonização advinda da extração
diamantífera e aurífera vislumbradas por muitos em perceber que:

12
Porcentagem paga pelo garimpeiro ao proprietário da terra e ao dono dos direitos sobre a água. Um quinto era
15%, mas agora são 15% para garimpeiros que exploram garimpo por canal e 10% para garimpeiros em minas
secas. (BAXTER, 1975, p. 282).
46

Desde o período colonial, a mineração tem representado uma atividade produtiva


responsável pela expansão e criação de muitos núcleos urbanos. Porém, foi na
década de 70 que inúmeros focos de descoberta de ouro foram instalados neste
estado. Em 1984, 13 grandes empresas do ramo da mineração encontravam-se em
atividade no Estado, sendo que no ano de 1988 a produção industrial de ouro em MT
atingiu seu pico de produção. Porém, a partir do ano de 1991, grande decréscimo
dessa produção é observado. A queda da produção de ouro no estado de MT pode
ser explicada por vários fatores, entre eles: a exaustão dos depósitos aluvio-
coluvionares (ouro de superfície), o que passa a requerer domínio de técnicas de
engenharia mais sofisticadas para a exploração do minério em profundidades
maiores, elevando o custo de sua extração. Paralelamente, nesse momento (1992), o
preço internacional do ouro encontrava-se relativamente baixo (inferior a US$ 400 a
onça troy) tornando pouco vantajosa economicamente a extração do minério
(DUARTE e FONTES, 2002, p. 665).

A relevância do estudo situado em Poxoréu é destacada por permanecer por mais de


50 anos no apogeu da sua produção, pois:

Poxoréu hoje provavelmente contribui com menos de um décimo da época de sua


maior participação na produção brasileira de diamantes (30 a 40%), durante o
apogeu da região, dos meados dos anos 30 aos anos 50, deste século. [...] O fato de
Poxoréu ter sobrevivido 50 anos de garimpagem nos fornece ampla perspectiva para
o estudo das consequências da garimpagem e elementos significativos deste sistema.
(BAXTER, 1975, p. 18).

É justamente neste período do advento da industrialização que a mulher se insere


como categoria importante neste processo que se inicia no final do século VIII e início do
século XX caracterizado por interesses econômicos, submetendo as gerações adultas,
trabalhadores do campo, artesãos (COELHO, 2007, p. 35). Neste mesmo período é
desenfreada a colonização em Mato Grosso, especificamente no município de Poxoréu, povos
de diversas regiões do país se instalam numa área valiosa, no intuito principalmente pela
atividade econômica na extração de diamantes, além de esperanças e sonhos de uma vida
atrelada à riqueza, ganância e poder.

2.2.1 O lugar da mulher e da criança no cenário da garimpagem em Mato Grosso:


rumo a Poxoréu

Pretende-se neste espaço desvelar o lugar da mulher no universo do garimpo, este


praticamente masculino, entendendo a relação de poder e subordinação que se estabelece
entre homens e mulheres na formação da sexualidade, dos bordéis às casas de prostituição.
Busca-se a compreensão da realidade vivida nos garimpos em Poxoréu, da relação social de
homens, mulheres e crianças, cada qual o seu lugar.
47

Em regiões diamantíferas configuram-se, sobretudo, por migrantes masculinos, no


caso de Poxoréu estes trabalhadores são oriundos do Maranhão, Goiás, Bahia, Ceará, em sua
maioria nordestinos, seduzidos pela promessa de vida melhor, se aventuraram pelo sertão
mato-grossense na intenção de adquirir riqueza com a extração de diamantes. Cenário este,
em que a participação feminina é quase invisível. Há inclusive, a dificuldade em encontrar
autores que estude e destaque a participação das mulheres no trabalho da garimpagem, além
da sua participação em serviços domésticos, em cabarés, lugar muito frequentado por
garimpeiros em busca de satisfazer suas necessidades sexuais.
A vinda para o “Eldorado” foi marcada por diversos grupos de pessoas que se
aproximavam de Poxoréu, região ainda desconhecida, o caminho distante era percorrido por
estradas a pé, montadas ou jogadas em cima de cargas dos caminhões que se destinam ao
serviço, cuja fama ecoou longe. (RIBEIRO, 1945, p. 54).
Neste percurso, a tendência é (re) construir a história, é deixar para traz velhas práticas
em busca do novo, constituindo o novo lugar chamado Poxoréu, este formado por homens,
mulheres, crianças, velhos, pois vinham:

[...] uns a pé outros escanchados em cima de montarias ossudas e cansadas do longo


viajar, em fila extensa penetram na novel povoação, como se fosse a retirada de um
exército em derrota. Passam esquálidos, maltrapilhos, exaustos da passeata nunca
acabar, curvados sob o peso do infortúnio. [...] No caminho vencido faltaram
provisões. Procuraram trabalho magramente remunerado nas fazendas e vilas em
que, de passagem, estagiaram. Pela falta de dinheiro, desfizeram-se da metade dos
animais e a jornada prosseguiu. [...] quantos não sucumbiram aos sofrimentos, pela
irrupção da febre palustre, ou caíram de inanição, esgotados de todas as energias
físicas. Não importa. Os fortes, os resistentes fora, selecionados por natureza
(RIBEIRO, 1945, p. 55).

Nas andanças, no trilhar dos caminhos que lavam as pessoas à Poxoréu, emerge do
perigo das estradas e o medo da morte. Este trilhar também significava além da morte,
também o roubo, os acidentes e incidentes. Se expressa neste longo percurso, a presença das
mulheres, podendo identificar como se estabeleciam as relações dos trabalhadores com as
crianças, como também os diferentes papéis e atividades diárias, assumidas pelas mulheres
nas caravanas. (DOURADO, 2007, p. 91),
No tocante a atuação das mulheres neste universo praticamente masculino, nos permite
conhecer a luta feminina neste percurso, vejamos:

[...] a mulher exercia um papel muito importante para o bom desfecho dessas
viagens, pois elas conjugavam os afazeres de mãe – de preparar os alimentos, de
cuidar das roupas – com os trabalhos da labuta do trajeto, como cuidar da carga,
alimentar os animais e ajudar o marido nas estratégias e na solução dos problemas.
48

[...] cabia ainda a elas, em direitura a Poxoréu, cuidar dos doentes, buscando as ervas
para os chás e banhos e ainda, preparando uma alimentação especial. Muitas dessas
tarefas ocupavam-nas por todo o percurso da viagem [...] (DOURADO, 2007, p. 92).

A presença da mulher nesta trajetória incluía os acordos familiares acerca das suas
tarefas, estas controladas diretamente pelo marido, demonstrando o seu domínio e autoridade.
O poder masculino centrava-se na figura do pai-marido-patrão (DOURADO, 2007, p. 92).
Percebe-se o cerceamento impostos pelos homens sob as mulheres explicitados pela
existência de uma organização social diferenciadora, na qual se achavam inseridas as relações
familiares praticadas por aqueles homens que caminhavam rumo à Poxoréu (DOURADO,
2007, p. 92). Nesta passagem, identificamos que:

Itinerantes estavam a mercê de mecanismos utilizados para controlar o corpo e a


subjetividade, diante de imposição de regras impostas pelos grupos dominantes,
inclusive implementados pelas políticas liberais e centralizadoras da Marcha para o
Oeste na ação do Estado, uma vez que levaram todos os colonos a se deslocar,
marchar para a ocupação dos espaços tido como vazios, muitos deles inadequados,
sem segurança que colocavam a prova a resistência física de grupos migrantes no
enfrentamento de problemas diversos, seja em seus lugares de origem, nos trechos
de viagem, seja até mesmo na chegada ao lugar sonhado (DOURADO, 2007, p. 93).

Nos estudos de Dourado (2007), diante do itinerário das caravanas, dos tropeiros
baianos e garimpeiros viajantes do sertão em direção à Poxoréu, abre-se a possibilidades nas
ações e representações dos grupos, na sua forma de organização e distribuição dos grupos, em
relação ao trabalho e ao mesmo tempo em manter as tradições, agora em um novo lugar.
Também se materializava a abertura de novos mercados para as áreas de mineração, a
chegada das mercadorias e as tropas pelo sertão de Mato Grosso traziam novas linhas
comerciais.
Entres estas, a:

As caravanas fizeram nascer um intenso comércio interno de artigos de subsistência,


com a circulação dos gêneros, o que levou à abertura de vias de penetração no
sertão. Ademais, os caminhos dos tropeiros são indicadores da própria constituição
das povoações que proliferam pela zona diamantífera do Leste de Mato Grosso
(DOURADO, 2007, p. 116).

Neste aspecto, com a abertura do comércio, aparecem outros segmentos como os


cabarés e os salões de festa:

[...] pelo fato de serem os encarregados da venda e distribuição de mercadorias,


ascenderam socialmente devido aos lucros, e, dessa maneira, ostentavam os
símbolos de riqueza através dos gastos vultosos em zonas e cabarés dos vilarejos,
49

bancando as mulheres que iam para as áreas de diamantes, assim como


proporcionando aos garimpeiros variadas festas (DOURADO, 2007, p. 116).

Na formação do povoado a partir dos achados das gemas preciosas, a notícia se


espalhava e mais gente chegava, vieram os mascates andando de garimpo em garimpo.
Estabeleceram-se também as “jogatinas na coletividade aventurosa que se avolumava,”
(RIBEIRO, 1945, p. 50), vieram também “mulheres alegres – vivandeiras das falanges
garimpeiras – e a vida noturna quebrou a pacatez do emaranhado de ranchos”.
No cenário das construções iniciais, das casas de negócio aparecem em meio a
corrutela. Os bolichos (vendas) são os lugares frequentados depois da labuta diária, à procura
de divertimentos. E durante a noite movimentam-se os dois sexos, pelas ruas ou no interior do
“fecha-nunca” (sala de dança), pois que as mariposas do amor acompanham infalivelmente o
fluxo e o refluxo das influências, encontrando-se numerosas corrutelas algazarrentas
(RIBEIRO, 1945, p. 77).
Os “fecha-nunca” representam lugar festivo, dança, diversão, jogatina, bebida, fumo
misturado aos perfumes das damas e suores, frequentar este ambiente significava força e
poder o:

Tosco cabaré – nessas povoações uma instituição obrigatória, representando para o


garimpeiro poderoso chamariz, em cujo chão batido, reservado para as danças,
acotovelam-se centenas de pares [...] acompanhada por violões e cavaquinhos
incansáveis noite a dentro. Pinga, cerveja, quinado, são largamente bebidos e mesmo
derramados, numa demonstração explícita da força do dinheiro. O 38 é o efeito
singular, completado pela cartucheira pendente da cintura do homem que se diverte
(RIBEIRO, 1945, p. 77).

Ainda:
Para compreender esta forte presença da prostituição nos cabarés em regiões
garimpeiras nos remetemos ao período colonial, em uma análise mesmo que breve
para ultrapassar as fronteiras do prazer, do pecado, da cena doméstica,
especialmente da sua participação em realizar tarefas para garantir a sobrevivência,
ir além de meros instrumentos de prazer e/ou de reprodução (COELHO, 2007, p.
35).

Nos estudos realizados por Del Priore (2004), sobretudo acerca da participação
feminina na história do Brasil, começando pela mulher indígena, escrava, nobre, pobre,
operária, patroa, mãe, esposa, boia fria, prostituta, amante, entre outras, no sentido de delinear
sua trajetória anônima ou não diante da participação social e econômica no Brasil, o que
tentaremos trazer à realidade de Mato Grosso. Mulheres que colaboraram na construção da
nossa sociedade, passando por uma série de entraves impostos pela sociedade machista,
preconceituosa, atravessada de mitos e lendas sobre o papel da mulher, muitas vezes usados
50

como uma maneira de subjugá-las. Muitas vezes atribuiu-se um papel secundário a


participação da mulher, dando-lhe pouca importância. No entanto, nesta trajetória, percebe-se
a coragem, a ousadia e a garra intrínsecas de algumas mulheres, que se destacaram neste
universo machista.
Evidenciamos a realidade da penetração garimpeira em 1919, ainda ao Leste de Mato
Grosso, mesmo não havendo estatística, os estudos realizados por Ribeiro (1945) avaliou-se
quarenta e cinco mil o número de lavristas que praticam suas escavações, sendo que,
aproximadamente trinta e cinco mil habitavam o Leste cortado pelos três rios: Araguaia,
Graças e Poxoréu. Desta maneira, se evidencia a forte presença masculina, pois:

Em determinado garimpo se aglomeravam centena de homens. As escavações


contínuas, os diferentes modos de trabalhos, fazem convergir maior ou menos cota
de trabalhadores, de acordo com as possibilidades de mineração, para este ou aquele
ponto exercendo sobre tanta gente uma atração irresistível a que chamam
“influencia13”, quase sempre de efêmera duração (RIBEIRO, 1945, p. 54).

Neste sentido, em se tratando da colonização no sertão mato-grossense, verificamos a


chegada das pessoas adentrando este lugar, expressadas pela dificuldade, pelo cansaço, pelo
sofrido percurso carregando nas costas: pá, bateia, saco de roupa e outro de matula para
saciar a fome na caminhada. “São um quase nada e encerram todo o necessário para enfrentar
a vida.” (RIBEIRO, 1945, p. 54).
Cabe destacar que o período que se abre coma chegada da Corte portuguesa ao Brasil
em 1801 no Rio de Janeiro, onde as relações de poder, submissão e domínio do homem sob a
mulher se estabelece, pois o homem tudo pode, por ser “natural”, e para a mulher tudo é
castigo, proibido, pois:

No céu do século XIX brilhou uma estrela. A do adultério. A história de amantes


prolonga, sem dúvida, um movimento que existe há séculos. A diferença é que a
simples relação de dominação – como a que houve entre senhor e escravas durante o
período colonial – deu lugar a uma relação venal, que o cinismo do século tingiu
com as cores da responsabilidade. Por vezes até apimentou com os sentimentos.
(DEL PRIORE, 2011, p. 57).

No século XIX, Del Priore (2011) descreve que a grande novidade são os bordéis, as
prostitutas francesas, as cocottes, as preferidas eram as francesas loiras, era o padrão de beleza
na época, a França, aliás, era modelo não só para a beleza feminina, como também das casas,
da mobília, pois reproduzem a casa burguesa. A beleza estava representada na prostituta, nas

13
Afluxo de homens, por possibilidades de achar diamantes (RIBEIRO, 1945, p. 298).
51

mulheres dos salões, as casas eram frequentadas por fazendeiros e políticos, mulheres eram
mantidas por eles, assim são implantados os bordéis no Brasil, principalmente nas cidades
portuárias como fundadoras dos bordéis e cabarés.
Desta maneira:

Bordel era sinônimo de “rendez-vous”, “maison-close”, lupanar. Ali, o deboche era


espetáculo e o prazer, efêmero e pago. O bordel era o teatro onde se encenava o
simulacro do eterno desejo, o espetáculo de uma transgressão protegida e
controlada. Considerado por uns uma fábrica de fantasias eróticas e por outros uma
cloaca onde se despejavam imundices, o bordel foi o espaço em que os prazeres
menos confessáveis afloravam escondidos de toda publicidade (DEL PRIORE,
2011, p. 84-85).

Nota-se nos estudos acerca da sexualidade, o caminho que percorremos é o de


compreender o contexto de vida e emancipação da mulher, em seus espaços de participação
na sociedade patriarcal, dos bordéis aos motéis. Ainda nos remetemos ao século XIX para
elucidar que em 1845 aumentava o numero de imigrantes açorianas, mulheres que
colaborariam com a implantação dos bordéis, período que se estabelece a prostituição, junto a
este cenário também começam a aparecer doenças como, a sífilis e outras.
Nos estudos do médico Dr. Lassance Cunha em 1845, intitulado A prostituição, em
particular no Rio de Janeiro, evidencia-se que:

A capital do Império tinha três classes de meretrizes: as aristocráticas ou de sobrado,


as de “sobradinho” ou de rótula, e as de escória. As primeiras ficavam instaladas em
bonitas casas, forradas de reposteiros e cortinas, espelhos e o indefectível piano,
símbolo burguês do negócio. Verdadeiras cortesãs não esperavam clientes sentadas
no sofá de veludo vermelho da “maison-close” ou “rendez-vous”, mas eram
mantidas por ricos políticos e fazendeiros. Uma cortesã famosa era signo de poder
para quem entretivesse. Conhecidas como demi-mondaines, muitas delas eram
estrangeiras que tinham arribado no Império brasileiro depois de fracassadas
carreiras na Europa (DEL PRIORE, 2011, p. 85).

Dentre os grupos de mulheres que desembarcavam no Brasil, havia diferenças entre


eles, eram notadas rapidamente, pois:

[...] neles estavam as cocottes e as polacas. As primeiras representavam o luxo e a


ostentação. As segundas, substituindo mulatas e portuguesas, representavam a
miséria. “Ser francesa” significava não necessariamente ter nascido na França, mas
frequentar espaços e clientes ricos. Ser polaca significava ser produto de exportação
do tráfico internacional do sexo que abastecia os prostíbulos das capitais e... pobres.
(DEL PRIORE, 2011, p. 85-86).

Nota-se que a permanência desta prática ao longo do tempo se especializa, na cena


contemporânea em nome da globalização reafirma-se a barbárie e o sofrimento de milhares de
52

pessoas, reinventando formas tradicionais de exploração pelo trabalho forçado, trabalho


escravo e o tráfico de seres humanos para fins sexuais, guerras, fome, desalento, abandono e
falta de perspectiva. A intensificação do tráfico de pessoas para o sexo é algo que não cessa,
sendo mais especializado e organizado, em países de várias partes do mundo, inclusive no
Brasil.
Neste aspecto, não podemos deixar de mencionar os dados referentes ao Brasil,
segundo a pesquisa coordenada nacionalmente pelo Centro de Referência, Estudos e Ações
sobre Crianças e Adolescentes - CECRIA14, que resultou no estudo que se destaca pelo que
tem de inédito ao revelar as faces do fenômeno do tráfico de pessoas pouco analisado no país,
pois:

O tráfico de mulheres, crianças e adolescentes, para fins de exploração sexual


comercial, é um fenômeno em expansão. No entanto, por seu caráter criminoso e
eminentemente velado, pouco se sabe sobre o número de vítimas envolvidas e a
dinâmica de operação das redes que o mantêm. As estimativas apontam para
números extremamente altos de seres humanos traficados através de fronteiras
internas e internacionais, chegando a 4 milhões por ano, de acordo com a
Organização Internacional da Migração. Em grande parte administrado por
traficantes de armas e drogas, o tráfico de seres humanos tem-se mostrado um
negócio lucrativo e de poucas consequências penais para as redes que o praticam.
(LEAL e LEAL, 2002, p. 29).

A pesquisa realizada pelo CECRIA (Leal e Leal, 2002, p. 29) ainda aponta que:

Nos últimos cinco anos, um esforço coordenado entre governos, organismos


internacionais, organizações da sociedade civil e universidades tem procurado trazer
à luz diversos aspectos do tráfico de seres humanos, entre eles a identificação de
rotas, as questões de gênero e raça que o permeiam, e o papel da exclusão
econômica e social, além dos conflitos internacionais, na geração de massas de
indivíduos submetidos a condições extremas de vulnerabilidade que os tornam
presas fáceis das redes de tráfico e exploração sexual.

Tais informações nos remetem à questão social à luz do agravamento, do


deslocamento de pessoas do mundo inteiro, na busca por melhores condições de vida,
processo que reflete na desigualdade social assolada pelo modo de produção capitalista dos
tempos atuais, este que se fortalece a cada dia em uma sociedade extremamente desigual.
Processo este que caminha de século em século, atravessando e aprimorando a sua prática em
nome do desenvolvimento, poder e severidade.

14
Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial –
PESTRAF. Relatório Nacional - Brasil / Maria Lúcia Leal e Maria de Fátima Leal, organizadoras. Brasília:
CECRIA, 2002.
53

Entre diferenciados contextos históricos, os divergências persistem até os dias atuais,


basta analisar as condições de trabalho que a mulher durante a Revolução Industrial no século
XVIII e XIX estava submetida a todos os tipos de exploração, opressão e abuso do
proprietário sobre sua condição de mulher.

2.2.2 A condição do ser criança: realidades que perpassam pela cena garimpeira

Discutiremos aqui acerca da condição ocupada pela população infanto-juvenil no


contexto do garimpo, na tentativa de compreender, sobretudo, a violência sexual, pautada
neste cenário histórico-social ainda presente em diversas regiões do Brasil.
Primeiramente, consideramos em Lima (2009) que, a infância deve ser considerada
uma condição do ser criança, sendo importante respeitá-la e considerar seu universo de
representações, visto que é um sujeito participante das relações sociais inserido no processo
histórico. Que, significa dizer que, é necessário possibilitar à criança escrever a sua própria
história, que não muito distante foi produzida somente por adultos como uma história sobre a
criança. Em meio há tantas formas de violência contra crianças e adolescentes, trazemos à luz
a exploração sexual, apontada a seguir, de forma a compreender tal barbárie, assim como
apontar as maneiras de se enfrentar essa discussão através do Estado e da Sociedade Civil.
Os elementos reunidos para aproximar o entendimento da exploração sexual infanto-
juvenil, ultrapassam a percepção empírica e nos remetem às pesquisas realizadas, estudos
constantes, confirmado por Faleiros (2000) e apontando a década de 1990 como momento
ímpar de avanço e mobilização global, reunindo organismos nacionais e internacionais,
resultantes de Seminários, Congressos, estudos, pesquisas e programas de atenção às vítimas
da exploração sexual.
O fenômeno da exploração sexual está presente em escala mundial e que atinge milhões
de jovens, principalmente do sexo feminino, em países com população pobre. A autora
destaca ainda a fragilidade deste entendimento, pois:

A dificuldade conceitual da questão e sua precária avaliação quantitativa deve-se ao


fato do mercado do sexo ser extremamente poderoso economicamente, florescente,
que se recicla constantemente, ser ilegal, criminoso e dominado por máfias, o que
faz com que o conhecimento e as pesquisas sobre essa problemática sejam
extremamente difíceis e até mesmo perigosas (FALEIROS, 2000, p. 31).

Estudos já realizados nos remetem a compreender o caráter econômico do trabalho e


da exploração sexual aproximadas na “pobreza e na exclusão (e a busca de inclusão via renda
e consumo)” como importantes determinantes da inserção neste mercado de trabalho. “A
54

dimensão e complexidade desta questão se pode acrescentar outras dimensões ao se tratar de


um fenômeno de caráter econômico e peculiar” (FALEIROS, 2000, p. 33).
A população infanto-juvenil tem sofrido diretamente o impacto das transformações
sociais, econômicas e políticas na cena contemporânea, principalmente aqueles em situação
de pobreza, sendo inseridas no mercado de trabalho precocemente (OIT/IBGE, 1988).
O fato é que violência é um fenômeno antigo, é segundo dados do CECRIA (1999)
“produto das relações sociais construídas de forma desigual e geralmente materializada contra
aquela pessoa que se encontra em desvantagem física, emocional e social.” Há tempos a
violência tem sido denunciada no ambiente doméstico/familiar contra mulheres, meninos,
meninas e adolescentes, sendo que a incidência maior é em mulheres e meninas, daí a questão
de gênero ser compreendida como categoria a ser discutida.
A temática envolve uma maior complexidade, principalmente por adentrar o universo
intrafamiliar, quando há parentesco entre a vítima e agressor e extrafamiliar, quando não há
uma relação de convivência familiar entre agressor e vítima (CECRIA, 1999, p. 20). Assim,
tais violências “não são em si, determinantes do ingresso do público infanto-juvenil nas redes
de exploração sexual comercial, mas se constituem em fatores de vulnerabilização.”
A pobreza indica situações de exclusão social, possibilita espaços apropriados para a
exploração sexual comercial, exploração do trabalho infantil, assim como propicia as
múltiplas expressões da violência.
Busca-se entender o fenômeno da exploração sexual infanto-juvenil sob a perspectiva
do contexto socioeconômico, político e cultural em regiões de garimpo. As diversas agressões
contra crianças e adolescentes vêm se caracterizando ao longo dos tempos não mais como um
problema interpessoal de caráter privado, mas, sobretudo uma expressão da correlação de
forças da sociedade em que acontece. Problematizá-la significa trazer a tona relações de
opressão embutidas na organização da sociedade como normais e naturais, visando mudanças
estruturais e não somente individuais (LEAL, 2003).
Entende-se esse processo de exploração sexual infanto-juvenil como uma relação de
dominação dos adultos sob as crianças e aos adolescentes.
Vejamos,

A exploração sexual comercial é uma violência sexual sistemática que se apropria


comercialmente do corpo, como mercadoria para auferir lucro. Mesmo inscrito
como “autônomo” sem intermediários, o uso (abuso) do corpo, em troca de dinheiro,
configura uma mercantilização do sexo e reforça os processos simbólicos,
imaginários e culturais machistas, patriarcais, discriminatórios e autoritários. Essa
“imagem de marca”, parafraseando o moderno marketing, não é só característica das
zonas de garimpo, mas de modernas redes que oferecem nos anúncios “corpinho de
55

adolescente”, “cara de criança”, “loirinha”, “moreninha” (FALEIROS, 1998 apud


CECRIA, 1999, p. 21).

A dinâmica social nos municípios com economia baseada no garimpo estabelece


relações complexas entre os garimpeiros e a comunidade local, que se organiza em função da
rotina do garimpo, estabelecendo ou não uma relação que envolve diretamente e/ou
indiretamente a exploração sexual infanto-juvenil.
Para Amorim (2005) a violência deve ser compreendida como fruto complexo de
relações, historicamente edificada e multideterminada, que envolve distintas realidades de
uma sociedade (familiar, social, econômica, ética, jurídica, política) pautadas numa cultura,
permeada por valores e representações.
Importante destacar em Faleiros (2007), que a violência sexual é favorecida por
fatores de vulnerabilidade da vítima. No Brasil, a grande desigualdade social e as condições
precárias de vida de parte da população transportam as crianças para mais próximo da
exploração. Trata-se de uma pobreza e uma indigência estrutural, vinculadas a relações
sociais concentradoras de renda, poder e privilégios para poucos.
A desigualdade estrutural da sociedade brasileira é também marcada pelo
autoritarismo nas relações adulto/criança, pois a criança e o adolescente não são vistos como
sujeitos, e sim como objetos de dominação dos adultos, através da exploração de seu corpo no
trabalho, no sexo e na submissão.
O termo “Exploração Sexual Infanto-Juvenil” cunhou-se a partir da CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) de 1993, pois anterior a este momento esta temática era tratada
como prostituição infantil. Assim, em consonância com o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA, Lei Federal n. 8.089/96) produziu-se significativo avanço nessa temática.
Neste sentido a criança com idade inferior a doze anos e o adolescente com menos de dezoito
anos, “não optam por se prostituírem, e sim são induzidos pela prática delituosa do adulto”,
conforme o relatório do CECRIA, 1999 (p. 21).
Destacamos o caráter substantivo da exploração sexual,

[...] está dado pelo caráter de “dominação”, na relação social e invisível que se
estabelece entre explorado e explorador. A relação de poder muitas vezes se baseia
na violência individual, mas, em geral, responde a uma construção social que
sustenta essa desigualdade, fazendo socialmente aceitável a condição de gênero e de
estratificação socioeconômica. São estes sistemas de estratificação social que fazem
com que a desigualdade seja aceita naturalmente; a exploração sexual não se dá
exclusivamente nos setores mais pobres – ela perpassa todas as classes sociais. O
que é diferente por extratos é o controle social e a visibilidade dessas formas
cotidianas de exploração (CECRIA, 1999, p. 22).
56

A partir destas ponderações, o conceito de exploração sexual compreende o abuso


sexual, a prostituição, o tráfico de pessoas, intermediando lucros baseados na demanda de
serviços sexuais das pessoas, turismo sexual e pornografia infantil. Incluímos também nesta
demanda da cena contemporânea a exploração sexual infanto-juvenil nos moldes virtuais
clicados na internet desenfreadamente.
As novas demandas, quais podemos chamar de novas configurações da exploração
sexual infanto-juvenil, nos remete às reflexões assustadoras, pois esta está cada vez mais
sofisticada e de difícil alcance exterminador.
No sentido de desvelar o conceito de exploração sexual, trazemos claridade ao nosso
estudo evidenciando dados da Agenda de Estocolmo (1996) ao definir que,

[...] a exploração sexual comercial infantil é todo tipo de atividade em que as redes,
usuários e pessoas usam o corpo do(a) menino(a) e do adolescente para tirar
vantagem ou proveito de caráter sexual com base numa relação de exploração
comercial e poder e declara que a exploração sexual comercial de meninos, meninas
e de adolescentes é um crime contra a humanidade (CECRIA, 1999, p. 22).

A violência sexual é uma violação dos direitos humanos e da pessoa em


desenvolvimento; dos direitos à integridade física e psicológica, ao respeito e à dignidade e ao
desenvolvimento físico, psicológico, moral e sexual sadios (FALEIROS, 2004). Dessa forma,
a autora considera a violência sexual uma séria transgressão ética e social, um crime para o
qual há poucas estratégias legais eficientes para a responsabilização dos adultos que o
cometem.
Para Cerqueira-Santos (2008, p. 2) A exploração sexual tem sido discutida em todo o
mundo como uma das formas (incluídas na categoria de violência sexual) mais extremas de
violação aos direitos de crianças e adolescentes.
Desta maneira:

Todo envolvimento de uma criança em uma atividade sexual na qual não


compreende completamente, já que não está preparada em termos de seu
desenvolvimento. Não entendendo a situação, a criança, por conseguinte, torna-se
incapaz desinformar seu consentimento. São também aqueles atos que violam leis ou
tabus sociais em uma determinada sociedade. É evidenciado pela atividade entre
uma criança com um adulto ou entre uma Criança com outra criança ou adolescente
que pela idade ou nível de desenvolvimento está em uma relação de
responsabilidade, confiança ou poder com a criança abusada. É qualquer ato que
pretende gratificar ou satisfazer as necessidades sexuais de outra pessoa, incluindo
indução ou coerção de uma criança para engajar-se em qualquer atividade sexual
ilegal. Pode incluir também práticas com caráter de exploração, como uso de
crianças em prostituição, o uso de crianças em atividades e materiais pornográficos,
assim como quaisquer outras práticas sexuais ilegais (OMS, 1999 apud
CERQUEIRA-SANTOS, 2008, p. 2).
57

O fato é que através das pesquisas do CECRIA, nos deparamos com evidencias, as
quais apontam para a violação dos direitos da população infanto-juvenil, assim como
percebemos que no Brasil, a exploração sexual manifesta-se por meio de quatro formas (Leal,
1999 apud Cerqueira-Santos, 2008, p. 02). Na primeira, acontece em lugares fechados, com
maior frequência em regiões onde há um mercado de extração de minérios, como nos
garimpos, caracterizando-se por cárcere privado, vendas, tráfico, leilões de virgens,
mutilações, desaparecimento, prostituição nas estradas e em portos marítimos. A segunda
refere-se à exploração de crianças e adolescentes em situação de rua e/ou vítimas de violência
doméstica. Na terceira, a exploração acontece por meio do turismo e da pornografia, com
maior frequência nas capitais do Nordeste e outros centros. A quarta manifesta-se pelo
turismo portuário e de fronteiras, em regiões do Norte banhadas por rios navegáveis, e
fronteiras nacionais e internacionais do Centro-Oeste.
A exclusão social, as propostas neoliberais e a lei do mercado estão incluídas nesse
cenário. A história brasileira, assim como a da América Latina, foi marcada por colonização
escravagista e por uma elite oligárquica dominante que tinha como característica a exclusão
daqueles considerados inferiores (FALEIROS e CAMPOS, 2000, p. 2). Os critérios utilizados
para a exclusão social eram baseados na cor, raça, gênero e idade, dando origem a uma
sociedade machista, sexista e adultocêntrica, que predomina até os dias atuais (CERQUEIRA-
SANTOS, 2008).
Assim, é fundamental compreender a exploração sexual como uma violação de
direitos e o enfrentamento desta questão é de responsabilidade da sociedade e do Estado.
De maneira que:

O papel do Estado nesta trama de relações desiguais acaba sendo o de reforçar a


situação imposta, uma vez que nega os problemas, propostas e direitos desta
população marginalizada. A sociedade neoliberal dissemina o individualismo.
Dentro desse sistema, os chamados excluídos são considerados impotentes,
incapazes e objetos de intervenção. No bojo destas relações encontram-se a “criança
e adolescente que não tem sido considerado sujeitos, mas objetos da dominação dos
adultos, tanto através da exploração de seu corpo no trabalho, quanto se seu sexo na
submissão” (Cecria/97). Isto significa dizer que a relação vem sendo marcada pelo
uso e abuso do poder (HAZEU e FONSECA apud LEAL, 1998, p. 57).

Este posicionamento nos instiga ir além, estudando e difundindo os diferentes aspectos


que fazem de crianças e adolescentes objetos da exploração sexual comercial no contexto
atual, violando diretamente seus direitos sociais.
É preciso considerar o fato de que se há exploração sexual infanto-juvenil é porque há
a compra, como a lei do mercado, principalmente pela situação de miséria força o ser humano
58

a se submeter a esta prática, principalmente quando a cultura local desvaloriza a mulher e


condiciona à submissão. Esta condição é especialmente discutida neste estudo, especialmente
pela cultura do garimpo formada por migrantes, onde normas e regras são negadas.

2.3 A SEXUALIDADE NO CENÁRIO DO GARIMPO EM POXORÉU

Enfocaremos aqui a discussão sobre a mulher no contexto da prostituição do seu


surgimento nas grandes capitais ao cenário do garimpo, na descoberta da sexualidade, na
participação do ser mulher enquanto domínio masculino. Desenvolve um breve histórico e
uma análise do processo da formação que envolve a cena do garimpo, sua participação efetiva
diante do contexto da prostituição e do trabalho no garimpo.
Esse percurso requer refletir criticamente sobre a condição da mulher, da sua
sexualidade em tempos de difíceis espaços emancipatórios da classe feminina, e que diante
das percepções e dos “excessos” do período do século XIX denominado por Del Priore (2011,
p. 64) de “século Hipócrita”, chamavam a atenção dos viajantes que por aqui passavam.
Pois, como diziam:

A moralidade reinante no Rio de Janeiro se apresenta bem precária, como dizia o


mineralogista inglês Alexandre Caldcleugh. Já o Francês Freycinet queixava-se dos
vícios e da libertinagem. Afinal, tratava-se de um país onde “não é difícil encontrar-
se todo tipo de excessos”. [...] “o Rio era uma cidade onde os vícios da Europa
abundavam”. Eles tomavam como vícios os concubinatos e adultérios, correntes
sobretudo nas camadas mais pobres da população, em que se multiplicavam as
“teúdas e manteúdas (DEL PRIORE, 2011, p. 64).

Em se tratando de pobreza, o Brasil sempre foi um país muito desprovido de


igualdade, de opção econômica ou ascensão social, Del Priore (2011) aponta que na colônia
ainda, as casas eram precárias, era tudo muito caro, as famílias numerosas, havia a presença
dos escravos, não havia privacidade, as pessoas partilhavam a mesma esteira, a mesma rede.
Não havia privacidade nenhuma para uma vida sexual, pois os barulhos e gemidos eram
denunciados, assim as pessoas preferiam ter relação sexual no mato, a beira do rio, aquele era
o lugar, as pessoas não vigiavam, pois ali aconteciam as relações sexuais.
Neste âmbito, nos remetemos à realidade de Poxoréu, a qual não difere da formação
das cidades brasileiras assoladas pela pobreza, assim, nas paragens de colonização garimpeira,
a formação do povoado com pretensão de cidade na rota dos lavristas em busca de riqueza
apresentavam-se em formatos de tendas, ranchos, assim construídos:
59

Consiste em quatro estacas que servem de suporte à cobertura de palha de acuri,


babaçu ou buriti, formando a parede a mesma palha, ou uma estaca. Como nos
velhos oásis do Egito, de milenar civilização, também no Brasil as palmeiras vem
sendo utilíssimas aos estabelecimentos humanos. Vem o primeiro morador, vem o
segundo e, assim, sucessivamente, se agrupam com o aparecimento de outras
moradas. [...] Portas se existem, não passam de uma para cada abrigo, e são de
tábuas de caixa de querosene. Basta, porém, um cordão preso entre duas estacas de
entrada para simbolizá-la, e este cordão entendido é como se fossem baionetas
ensarilhadas. [...] Dinheiro e diamantes e quaisquer valores e objeto, ali ficam tão
bem seguros como nos cofres fortes de um banco... Lei do sertão (RIBEIRO, 1945,
p. 74).

Ainda, a experiência sexual humana é produto de um complexo conjunto de processos


sociais, culturais, históricos e biológicos. “O corpo e seus usos se estruturam como
linguagem, simboliza expectativas abarcadas por um determinado contexto histórico e
cultural” (CHACHAM e MAIA, 2004, p. 75).
Neste percurso histórico que se refere à sexualidade e sua não privacidade, nos
deparamos com realidades bem diferenciadas no contexto atual, no padrão de sociedade, que
porém é realidade de lugares como regiões de garimpos por exemplo, como também cenário
aberto que evidenciam o trabalho escravo, partilhado por diversos trabalhadores. É
interessante perceber que somente no século XIX se inventa o quarto do casal, revelando o
aparecimento do mobiliário doméstico, cama com crucifixo pendurado, com móveis curtos e
cômodas (DEL PRIORE, 2011).
O casamento, considerado lugar “saudável”, lugar de procriação. Uma sexualidade
extremamente vigiada, cronometrada, o erotismo era algo difuso, vai se alojando aos poucos,
num pedaço de pescoço aparecendo, assim como o tornozelo. Enfim, o sexo não prazeroso,
elege a esposa como algo parecido com a virgem Maria, por outro lado se fomenta o bordel o
convívio com a prostituta, o lazer, o aprendizado de trazer a mulher para o sexo a dois, e não
solitário. Assim, consideram-se também graças aos prostíbulos, começa a surgir certa remota
noção de prazer sexual, conforme estudos evidenciados em DEL PRIORE (2011).
Retomamos neste percurso para entender a existência da prostituição desde os tempos
da Coroa Portuguesa, até os dias atuais com as inovações tecnológicas cada vez mais
aperfeiçoadas, esta prática também se faz presente no cenário do garimpo em Poxoréu, lugar
ocupado por homens em sua maioria sozinhos, migrantes que deixam suas famílias em busca
de sonho e riqueza.
O garimpo é local que favorece a permanência de prostíbulos, zonas e cabarés, como
citado acima o lugar de nome “fecha-nunca”, barracões com paredes de pau a pique,
rebocadas, emparedadas com adobes e tijolos, e telhas. Lugar de nome sugestivo que “reúne
garimpeiros em meio a cachaça às mais finas e caríssimas bebidas estrangeiras; ínfimo
60

mulherio, que é grande atentado à estética; e a jogatina livre, que se compõe de todos os
processos em voga nas capitais adiantadas” (SILVA, 1954, p. 86).
O garimpo cultua até os dias atuais uma prática de que “o dinheiro ganho nos
garimpos tem que ser gasto ali mesmo”, se gasta nos cabarés e no jogo, este que é outra
tentação – é o termômetro do progresso regional, índice exato dos movimentos dos
monchões15, e uma das lucrativas indústrias dos povoados (RIBEIRO, 1945, p. 78).
As bases materiais que vão sendo produzidas ao longo da história determinam modos
de produção e tipos de relações sociais, políticas e jurídicas na sociedade, sendo estas
responsáveis também pela concepção de homem e pelas relações culturais e de poder que este
estabelece no grupo social. Os padrões culturais vão sendo definidos e organizados, tal como
os papéis sociais que cada membro da sociedade desempenha em seu interior.
A subordinação da mulher ao homem ultrapassa os tempos, atravessa as mais variadas
formas, em todos os períodos da civilização. Pretendemos assim, identificar a sexualidade da
mulher na trajetória do mundo masculino e feminino nas formas de funcionamento do corpo,
sendo este um instrumento (a máquina) que faz o sistema funcionar. A nossa sexualidade é o
combustível (MURARO, 1993).
Buscando a compreensão acerca da sexualidade está presente em diferentes classes
sociais, pois:

Os homens ricos mostraram-se selvagemente opressivos. Achavam mesmo que o


homem tem mais direitos que a mulher, que tem mais desejo e por isso tem direito
adquirido a uma vida sexual extraconjugal. Vários tem confessadamente mais de
uma família. Cultivam a própria virilidade acima de tudo e rejeitam a
homossexualidade masculina. Para eles, curvar-se sexualmente diante de um homem
é perder a competitividade. É morrer. E eles, que venceram, tem horror aos que
assumem uma posição de fragilidade (MURARO, 1993, p. 93-94).

Desta maneira, evidenciam os mecanismos que mantêm a classe burguesa em estado


de superioridade sobre as outras. Os ricos rompem algumas regras para manter as classes
inferiores sempre dominadas. Este fato também é determinante para o mundo do trabalho,
pois, tanto as famílias camponesas, quanto burguesas tendem a manter suas famílias, mas por
razões opostas.
Sendo que:

A família é muito forte na classe burguesa porque ela é o lugar da concentração do


capital: por isso, é preferível uma moral dupla do que romper um casamento. [...] Na

15
Depósito de diamantes em terra firme, a certa distância do curso dos rios. Provavelmente derivado de mancha,
uma bolsa de diamantes. (BAXTER, 1975, p. 281)
61

classe camponesa, a família é o lugar da produção e da reprodução da força do


trabalho. Em seu pedaço de terra, o homem planta e come ajudado pela família que
vai criando. Daí serem muito pesadas as sanções sobre a mulher. É “natural” que a
mulher tenha uma cruz mais pesada que a do homem. Ela trabalha em casa e na
roça, mas seu trabalho não é considerado produtivo, só o do marido. Ela própria vê
esse trabalho como uma extensão da sua atividade doméstica (MURARO, 1993, p.
96-97).

Assim, no mundo urbano ocorreram grandes transformações, como também no campo


através das inovações industriais e tecnológicas e tanto a família camponesa, quanto a
burguesa é parte deste contexto transformador, porém fica evidente o domínio do homem
sobre a mulher também.
As relações sociais se definem quanto as bases econômicas e as relações de produção
determinantes à estrutura e funcionamento da sociedade, com ênfase aos elementos que a
compõem, tanto as instituições sociais quanto os indivíduos que interagem uns sobre os outros
de forma dialética, tendo seu comportamento moldado pelos imperativos econômicos
existentes em dado momento histórico (IOP, 2009). O lugar, a participação, a ascendência, a
exploração, a opressão, a autonomia, emancipação e a liberdade de homens e mulheres no
decorrer da história são compreendidos através do modelo econômico predominante em cada
período. Desta maneira, compreendemos que:

Os vários períodos históricos da humanidade mostram o papel da mulher na


participação do grupo, seja como mãe, com a função de reprodutora e dos cuidados
com os filhos, seja como mulher, mãe, trabalhadora e cidadã. Essa participação pode
ser vista tanto de forma quanto de forma ativa. Entre as comunidades sem Estado
predominou o matriarcado, cabendo à mulher a responsabilidade política do grupo.
As relações sociais no período em que predominava o matriarcado não
representaram a subjugação, nem a exploração do homem pela mulher, portanto, é
possível afirmar que as relações de gênero produzidas no interior do grupo social
eram igualitárias, no sentido de não ter havido exploração sobre o homem. Já os
teóricos que abordam a existência de comunidades matrilineares destacam a
desigualdade entre homens e mulheres (IOP, 2009, p. 232).

No período patriarcal se instaura a condição de inferioridade da mulher no grupo


social, sua capacidade de participação é suprimida pelo poder masculino, sendo essa relegada
ao espaço privado, passando a ser compreendida como propriedade do homem.
Entretanto, o que se observa no compasso da história é que:

[...] as desigualdades de gênero vão sendo produzidas, consolidadas pelas relações


sociais, políticas, econômicas e estabelecidas juridicamente, nos códigos de leis das
sociedades civilizadas. Portanto, era possível inferiorizar, explorar e até mesmo
matar a mulher, amparados por lei, sem que houvesse punição legal para o ato. Nas
sociedades ocidentais, o sistema econômico capitalista exige força de trabalho para
se reproduzir e se fortalecer; em virtude dessa exigência, a mulher é inserida no
mercado produtivo, desempenhando mais uma função, agora como força produtiva.
62

A condição de inferiorizada pelo homem continua, além de ser inferiorizada pelo


esposo por meio dos abusos domésticos, de ter de servir ao homem e satisfazer aos
seus desejos masculinos, como sendo obrigação da mulher, os capatazes das fábricas
sentem-se no direito de abusarem sexualmente das mulheres e os proprietários dos
meios de produção, de explorarem sua força de trabalho (IOP, 2009, p. 233).

É diante deste contexto, que a mulher vem ao longo da sociedade, caminhando para
conquistar seu espaço evidenciado na desigualdade de gênero, pois:

As relações de gênero que vão se constituindo a partir da formação dos


agrupamentos humanos sofrem, no decorrer do processo histórico, algumas
mudanças, que implicam a materialização de novas relações entre homens e
mulheres dentro de um mesmo grupo social. As bases econômicas da sociedade são
um dos principais imperativos dessa materialização, definindo a divisão social do
trabalho dentro do grupo, papéis sociais e o status social dos indivíduos nesse
mesmo grupo (IOP, 2009, p. 233-234).

Nesta relação, a categoria gênero é entendida como:

[...] uma relação que se estabelece entre masculinidades e feminilidades, como


resultado da construção social, em uma determinada cultura e contexto histórico, de
características negativas ou positivas que se aplicam de forma diferenciada para
homens e mulheres, desde o nascimento, e que determinam papéis, funções e as
relações que se estabelecem entre os sexos (TAVARES, 2010, p. 49).

Desta maneira, verificamos que o gênero seria um conjunto de produtos e processos


sociais, que representa não o sexo, e sim uma relação social.
Portanto, a tradição patriarcal está na origem da hierarquia de gênero no Brasil, que se
manifesta de várias maneiras, sendo uma delas a linguagem que se utiliza para se referir ao
corpo, pois:

Com relação ao corpo do homem, a linguagem sobre o pênis elabora a força e a


superioridade dos genitais masculinos, bem como a sua função como instrumento
ligado à atividade, à violência e a violação [...]. Com relação ao corpo da mulher, a
linguagem aponta para uma anatomia deficiente, inferior, passiva, objeto de
violência e paradoxalmente, ao mesmo tempo, um local de perigo por si só [...]. A
ambivalência da brasileira contemporânea diante das cantadas parece ter explicação
no conflito entre quer ser desejada, e assim cumprir seu papel de gênero, e o medo
de ser violada, um risco permanente em virtude do mito da potência e do poder do
homem brasileiro (CHACHAM e MAIA, 2004, p. 81).

As relações historicamente construídas no que se refere à sexualidade traz evidencias


de repressão e desconhecimento, demonstrando privilégios para os homens em detrimento das
mulheres, seja nos lares, no trabalho e nas relações sociais.
Ao longo da formação das sociedades, trazendo para a cena contemporânea o início do
sistema capitalista, este pelo qual a mulher sempre esteve em desvantagens em relação à
63

posição que o homem ocupa nessa sociedade. No tocante a longa jornada de trabalho que
possibilitou à mulher ter uma vida fora de casa, sua função se coincidia a do homem, mas o
valor de sua força de trabalho era, e ainda é inferior ao do homem.
A mulher, gradativamente, passa a preencher cada vez mais os postos de trabalho,
assim como parte constituinte da formação das cidades. Vale destacar, contudo, que essa
substituição ocorreu em virtude do barateamento da mão de obra feminina, uma vez que seu
trabalho não é valorizado como o trabalho masculino. Tal valorização só passa a ser
reconhecida com o advento da industrialização ao final do século VIII e início do século XIX.
A história das mulheres e os estudos de gênero tende a ampliar os campos de
investigação ao que propomos escrever no cenário do garimpo apontando para a valorização
daqueles que tiveram sua participação diminuída ou apagada. Pois, segundo os estudos de
Coelho (2007) é preciso reconstruir a história a partir do ponto de vista dos, até então,
excluídos e estigmatizados. A realidade vem reforçar a coragem das mulheres assinaladas no
percurso rumo ao garimpo em Poxoréu, em tempos que não lhes restavam muitas alternativas,
a não ser confinar-se em conventos, casar-se e viver a sombra do marido dominador, ou
prostituir-se ou ser explorada sexualmente e ficar a mercê da brutalidade e da violência que
imperavam nos bares e cabarés. No entanto, ao passar do tempo, elas, de um modo ou de
outro, sempre encontravam uma forma de impor a sua vontade, seu modo de ser.

2.4 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA GARIMPAGEM: utensílios manuais à tecnologia


da lapidação

Após o auge da produção e comercialização do garimpo em Poxoréu que ocorre no


período entre 1940 a 1980, é preciso desenvolver novas formas de garimpagem, que diante da
cena contemporânea a partir de 1996 é pensado um projeto de lapidação das gemas rejeitadas
no período auge que agora fazem parte do novo contexto, o de reaproveitamento das pedras
que eram invisíveis aos olhos do garimpeiro e da sociedade.
Por iniciativa de uma mulher, que hoje é atual Secretária Municipal de Comércio,
Indústria e Mineração do município de Poxoréu, em conjunto as demais pessoas da sociedade
local, prefeitura e o SEBRAE, propuseram uma nova forma, um novo contexto de
garimpagem chamado “Os catadores de Pedras”. Este projeto foi pensado a partir do
reaproveitamento das gemas rejeitadas e no sentido de através da oficina de lapidação na
geração de emprego e renda aos filhos e filhas de garimpeiros antigos, como também agregar
64

valor às pedras e propiciar lucro a nova proposta de garimpagem para os moradores da


sociedade poxoreense.
Assim, nos remetemos ao processo inicial para compreender o atual. No tocante à
caracterização do garimpo em Poxoréu, apresentados nos estudos de Baxter (1975) o censo
nacional de 1940 forneceu os primeiros dados substanciais sobre a região, onde a população
de Poxoréu era de 14.779 habitantes, em sua maioria predominantemente masculina (64,4%,
entre 20 a 40 anos), analfabetos (72,9%), mais de 1/5 da população estava abaixo de 10 anos
de idade, e os homens e mulheres nesses grupos estavam igualmente divididos (grupo de 10 a
19 anos, que somavam mais de 16,6%). Nestes dados também se encontram a composição do
trabalho, sendo (62%) somando a força de trabalho ativa de 7.651 pessoas engajadas na
garimpagem. O restante estava no comércio (6%), e os demais distribuídos na agricultura e na
pecuária.
Diante das informações do censo de 1940, a garimpagem estava confinada ao distrito
de Poxoréu daí a proporção de garimpeiros na força de trabalho seria maior que 62%, a taxa
municipal. As pessoas que formaram o povoado em Poxoréu eram:

As fontes principais da migração para Poxoréu eram o vale árido do São Francisco e
a área de mineração da Chapada Diamantina. Em contraste com a inclinação de
garimpar entre os baianos e maranhenses, os primeiros fazendeiros eram em grande
parte das famílias bem estabelecidas no ramo, na vizinhança de Goiás. As iniciativas
agrícolas iniciais são atribuídas a homens oriundos de Goiás e Minas Gerais
(BAXTER, 1975, p. 94).

Para identificar o local e o período do auge do garimpo, os estudos de Baxter (1975)


nos mostra que, esta acontecia em áreas específicas e limitadas ao município ganhou renome
no Brasil, localizados ao leste mato-grossense. Nesta realidade os diamantes estão associados
com os arenitos e com os conglomerados da série Aquidauana, no Planalto dos Alcantilados
aproximadamente a 10 km ao sul do município de Poxoréu.
No tocante à localização inicial garimpeira, trazemos alguns dados documentais:

Os diamantes têm sido garimpados na área das Pombas – São Pedro desde 1924,
mas hoje as atividades mineradoras no local são insignificantes. No vale do Rio
Poxoréu e nos vales dos rios tributários; O Coité, Areia e Jácomo, assim como nos
riachos menores na mesma bacia; os diamantes foram aqui encontrados em 1926 e
desde aquela época essa área tem sido a mais importante zona de garimpagem de
Poxoréu (BAXTER, 1975, p. 115).

Em se tratando de quantidade de garimpos em Poxoréu, havia no período de 1970


mais de 150 garimpos e aproximadamente 800 garimpeiros. Os depósitos de diamantes são de
65

propriedades dos donos das terras onde eles se localizam. Porém, Baxter (1975) indica em sua
pesquisa que sugere um número bem maior, pois, os indivíduos proprietários desses garimpos
são numerosos: somente 15 dos 80 garimpos que estão sendo trabalhados são de uma pessoa
com pelo menos um outro garimpo.

2.4.1 Métodos e desenvolvimentos iniciais da garimpagem: de 1973 a 2012

As práticas iniciais da garimpagem ainda sem tecnologia avançada em Poxoréu, indica


três métodos básicos, sendo: exploração em minas (catas), garimpagem com rego d’água
(serviço com água), desvio dos rios e riachos para exploração (virada) e mergulhagem. “Tais
métodos dependem do tipo de depósito, havendo alguma variação necessária” (BAXTER,
1975, p, 118).
Nos métodos de trabalho existem estágios diferenciados:

Desmontar, remover a terra; Quebrar o cascalho, remover o cascalho, retirando as


pedras maiores, peneirar o cascalho, preparar o cascalho para ser peneirado,
apuração, lavar o cascalho peneirado, separar as pedras de maior densidade e
destacar o diamante (BAXTER, 1975, p. 118).

Dentre as maneiras de garimpar, havia no inicio a submersão parcial com água até o
joelho do garimpeiro ou submersão total tendo o apoio de um matame16, que para Baxter
(1975) era a mais simples realizada em leitos de riachos com cascalhos do leito utilizando um
ralo, uma lata, ou um prato velho, depois colocado em peneiras e depois lavado.
Na garimpagem em Poxoréu também se utilizava um método de maneira agressiva ao
meio ambiente, pois era realizado o desvio de riacho (virada) nesta prática:

O passo inicial na construção da virada é a coleta de material para construir


matames, pois eles formam a estrutura do dique. O depósito secundário de material,
mais profundo no riacho, não é facilmente acessível para o mergulhador ou para o
garimpeiro que o explora andando. O depósito secundário (o mais rico), o riacho é
total ou parcialmente desviado por um dique temporário (virada) ou criando um
novo curso por explosão. Neste, a garimpagem é totalmente diferente da exploração
do leito do rio [...] em Poxoréu somente alguns riachos foram desviados
definitivamente por explosão. [...] A construção da virada leva geralmente um mês e
é considerada como parte integrante da garimpagem. Somente 10 a 12 pessoas
podem garimpar no local. Assim que a virada está feita, a primeira mina é explorada.
[...] o desmonte e todas as pedras e rochas encontradas são utilizadas para reforçar a
parede principal da virada e para estender rio abaixo a parede exterior (BAXTER,
1975, p. 122-123).

16
Matame é um tripé formado por forquilhas de 2 ou 3 metros de altura, as quais se entrelaçam na parte mais
alta. É utilizado para controlar a correnteza do rio, no auxílio ao mergulho e a retirada das pedras maiores em
riachos mais profundos e na proteção do trabalhador, que geralmente trabalham em grupo de 3 ou 4 pessoas.
(BAXTER, 1975).
66

Para esta técnica utilizava-se a enxada (ferramenta comum também utilizada no Brasil
rural) e o carumbé (prato sem alça, com capacidade para uma carga de 30 a 40 kg de
cascalho). Feita as paredes de pedras do depósito, era preciso impedir o vazamento de água,
podendo minar as paredes, sendo preciso drenar para que o cascalho ficasse exposto para ser
extraído. “Desta maneira, já neste período de 1973 a 1974 já se fazia o uso de motores
pequenos para a drenagem da mina, esta que era manejada pelo dono da bomba, ou pelo
organizador da mina, assim que a água enche a pia e se espalha pela mina o motor é ligado”
(BAXTER, 1975, p. 123).
Neste aspecto, é visível avistar quase 40 anos depois em Poxoréu os bancos de pedras,
paredes construídas com as pedras maiores em ambos os lados do rego d’água, as quais eram
jogadas no auge do garimpo, formando os montes que eram chamados de “despejo”. Este
cenário compõe a paisagem atual do município de Poxoréu, como também em Alto Coité, e
são exatamente essas pedras que estão sendo reaproveitadas na lapidação atual, a qual
veremos mais adiante.
É importante destacar que a forma como os garimpeiros descartavam as pedras
maiores, jogando-as nos montes de proteção da barragem, na atualidade elas são totalmente
reaproveitadas em manuseio da lapidação realizada nos dias atuais em Poxoréu.
Neste sentido:

As pedras menores são removidas da corrida por duas ferramentas especiais. A


primeira é um garfo. [...] A outra é uma pá grande com furos de 3 cm cortados em
lâmina. Ambas as ferramentas são apropriadas para levantar pedras maiores. Essas
pedras são jogadas no despejo sem serem inspecionadas à procura de diamantes.
Uma vez que as pedras foram removidas, vai ficando na corrida somente o cascalho
miúdo, onde estão os diamantes, que vão lentamente rolando rego abaixo, ou
permanecem retidos à sombra d’água, abrigados da correnteza atrás dos maiores
seixos (BAXTER, 1975, p. 133).

Partindo desta prática, o cascalho maior e mais pesado, era deixado de lado nos
monchões, a importância dada era somente pelo diamante. É sob este paradigma que trazemos
à luz a prática do novo garimpo, através da Oficina de Lapidação em Poxoréu, pois a
aproximadamente 40 anos, os garimpeiros não tinham conhecimento da valorização que se
tem na atualidade acerca das pedras semipreciosas utilizadas hoje nesta prática, os lapidários
fazem uso desta matéria prima para a técnica inovada que garante o sustento de muitas família
de Poxoréu, assim como de outras cidades que estão desenvolvendo a mesma prática em Mato
Grosso.
67

Entre o passado e o presente, as técnicas evoluíram, entre o auge, a decadência e a


busca de novas tecnologias, na busca por uma nova forma de agregar valor às pedras que
antes rejeitadas e agora reaproveitadas. Neste sentido nos remetemos às práticas atuais de
reciclagem, de reaproveitamento tão discutido na atualidade, da legalização ambiental e na
capacidade de desenvolver estratégias de fomentar novas possibilidades de valorizar a matéria
prima abundante no município de Poxoréu, propiciando trabalho, fonte de renda. Tendo como
público alvo, filhos de antigos garimpeiros, mulheres, homens, jovens através de cursos em
parceria com a prefeitura e o SEBRAE.
Veremos a seguir todo o contexto da proposta da Oficina de Lapidação em Poxoréu,
uma nova prática, implantando um novo conceito de mineração.
68

SEÇÃO III - O NOVO GARIMPO: a lapidação em Poxoréu, uma nova roupagem


para o garimpo

A rigor, cada viajante abre o seu caminho, não só


quando desbrava o desconhecido, mas inclusive quando
redesenha o conhecido (IANNI, 2000).

Pretendemos nesta seção apresentar um novo formato de garimpo, diante de uma nova
roupagem, partindo da sonhada inicialmente a real efetivação do projeto, idealizadores e seus
parceiros, trabalhadores e trabalhadoras que compõe este quadro transformador e sustentável
na geração de emprego, renda para as famílias de Poxoréu, região sul mato-grossense.
Os dados analisados através dos conteúdos empíricos, teóricos e documentais serão
apresentados em partes distintas, sendo a primeira, a percepção da transformação do garimpo
em novo garimpo, seu modo de produção e o impacto na vida de homens e mulheres da
sociedade poxoreense, e na segunda a percepção dos envolvidos diretamente na produção das
oficinas de lapidação relevando o novo garimpo em Poxoréu, como uma nova proposta
socioeconômica na geração de renda e reaproveitamento das gemas rejeitadas no período auge
da extração diamantífera, e as demais percepções e propostas apresentadas para o crescimento
socioeconômico, no surgimento de novas possibilidades encontradas neste estudo.

3.1 OS PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Os procedimentos metodológicos utilizados neste estudo foram de caráter qualitativo,


que respondem a questões muito particulares. Ocupando um universo de significados,
motivos, aspirações, crenças e atitudes. “Uma vez que, tais fenômenos humanos fazem parte
da realidade social, pois o ser humano se caracteriza não só por agir, mas por pensar sobre o
que faz e por decifrar suas ações a partir da realidade vivida” (MINAYO, 2009, p. 21).
Realizamos dentro do ciclo de pesquisa um peculiar processo de trabalho em espiral,
que se inicia em questionamento e finaliza em resposta ou produto que dará origem a novas
perguntas (MINAYO, 2009).
Trazemos à luz neste estudo uma nova perspectiva para diversos trabalhadores que se
interessam pelo ramo da lapidação após a impossibilidade da extração diamantífera, pois, o
projeto das gemas surge para dar sustentabilidade a um novo processo pelo fato de que a
garimpagem do diamante se tornou algo inviável, principalmente pela questão ambiental,
69

“tornou-se complicado garimpar, deixou de ser um diamante artesanal para ser industrial.
Poxoréu é uma região muito rica em diamante, e conforme os dados pesquisados ele está em
solo profundo” (JASPE).
No município, criaram-se alternativas para o sustento de muitas famílias, pois de
acordo com os dados do IBGE (Censo 2010), em 1996, Poxoréu foi incluído no rol dos
municípios brasileiros miseráveis com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da
linha de pobreza, o município foi incluído no Programa Comunidade Solidária. O período
pós-garimpo impulsionou gestores a discutir vários projetos, como: farinheiras, rapadura,
maracujá, piscicultura, artesanato – “temos grandes artesãos, temos lindas cachoeiras, fontes
de águas quentes para fomentar o turismo em Poxoréu” (JASPE).
Os projetos estão sendo apresentados como importantes alternativas que colaborem
para a movimentação da economia local, apresentando um significativo cunho social, pois
proporcionam oportunidades de emprego e renda. No entanto, é preciso que haja
planejamento, organização no desempenho das atividades para obtenção de bons resultados.
Através dos Relatórios Dinâmicos Indicadores Municipais17 (ODM, 2010), Poxoréu
encontra-se na relação quanto à Proporção de moradores abaixo da linha da pobreza e
indigência.
Pensado a partir desta problemática social e econômica, o Projeto de Lapidação
impulsionado pelo mercado econômico de Poxoréu, muitos estão envolvidos no projeto. Para
o aprofundamento desta análise na busca pela compreensão da formação dos novos garimpos
perpassa pelo estudo mais aprofundado da constituição do garimpo e da garimpagem na
região de Poxoréu.
Para tanto, utilizamos como instrumental para a coleta de dados, a entrevista
semiestruturada, dividida em dois Eixos Temáticos, que combina “perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem
se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2009, p. 64).
Seguimos com a apresentação do Eixo 1 da entrevista, o qual compreende: “A
constituição inicial do garimpo à formação dos novos garimpos em Poxoréu, atravessando a
história a partir de 1920 a 2012”. Os sujeitos da pesquisa presentes neste Eixo são:
17
Neste município, de 1991 a 2010, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário
mínimo reduziu em 33,8%; para alcançar a meta de redução de 50%, deve ter, em 2015, no máximo 31,1%. Para
estimar a proporção de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza foi somada a renda de todas as pessoas do
domicílio, e o total dividido pelo número de moradores, sendo considerado abaixo da linha da pobreza os que
possuem rendimento per capita menor que 1/2 salário mínimo. No caso da indigência, este valor será inferior a
1/4 de salário mínimo. (PORTAL ODM – ACOMPANHAMENTO MUNICIPAL DOS OBJETIVOS DE
DESESNVOLVIMENTO DO MILÊNIO, 2010).
70

Pesquisadores, Secretários Municipais de Poxoréu, Descendentes de garimpeiros da 1a


geração e Empresários da Lapidação.
O Eixo 2 reúne elementos para “Identificar o perfil socioeconômico dos personagens
da história inicial e atual dos garimpos e novos garimpos, envolvendo mulheres, crianças e
adolescentes”. Os(as) entrevistados(as) são profissionais da Política de Assistência Social,
Conselheiros Tutelares, Secretários Municipais, moradores locais.
Ao todo foram entrevistadas oito pessoas chave, a partir do qual se observou a
intencionalidade da pesquisa em relação às respostas, pois considerando o universo
pesquisado, todos os profissionais envolvidos são conhecedores diretos do contexto da
garimpagem e do processo de lapidação. Todos são moradores instalados no município de
Poxoréu, na região Sudeste do estado de Mato Grosso, tendo uma população total de 17.550
habitantes.
Desta maneira, selecionamos a amostra pelo critério de intencionalidade, em uma
amostra intencional, os indivíduos são selecionados a partir de certas características tidas
como relevante pelos pesquisadores, mostrando-se mais adequada para a obtenção de dados
de natureza qualitativa (LAKATOS e MARCONI, 2006). Portanto, foi utilizada uma
amostragem intencional com sujeitos que vivenciam o problema em estudo.
Os entrevistados se caracterizaram como parte fundamental da pesquisa, são relatores
que serão representados por nomes de pedras semipreciosas indicadas na tabela abaixo.
(Tabela 1).

Tabela 1- Caracterização dos entrevistados e seus códigos de identificação, Poxoréu 2012


Código Significado
Ágata ......................................... ÁGATA, 2012 Secretarias Municipais de Poxoréu
Berilo......................................... BERILO, 2012 Profissionais do SEBRAE
Quartzo ................................. QUARTZO, 2012 Profissionais do SEBRAE
Cristal ...................................... CRISTAL, 2012 Profissionais do Conselho Tutelar
Jaspe ............................................. JASPE, 2012 Empresários do ramo da Lapidação
Ônix ............................................... ONIX, 2012 Pesquisadores e Profissionais da Educação
Opala .......................................... OPALA, 2012 Descendentes de Garimpeiros da 1a Geração
Safira ......................................... SAFIRA, 2012 Profissionais da Política de Assistência Social
Fonte: Formulários da entrevista. Elaboração própria da pesquisa de campo.

Neste estudo visualizamos que, com o passar dos anos os garimpos artesanais deram
lugar aos garimpos industrializados, modernos na utilização de dragas, tecnologias avançadas
para facilitar o trabalho e maior produção na extração de diamantes, fator este que
providenciou a degradação ambiental acelerada causando assoreamento nos regos d’água e
rios do município. Desta maneira, destacamos a formação de novos garimpos como novas
71

alternativas que conforme assimilação e leitura crítica das informações obtidas e


sistematizadas neste estudo reconhece a construção de caminhos que ultrapassam o
enfrentamento de questões inquietantes, permitindo ações e propostas em desenvolver
maiores parcerias no tocante à aceleração da produção das jóias já existentes em Poxoréu, as
quais se tornem reconhecidas e com maior valorização do produto da região proporcionando
sustentabilidade socioeconômica ao município.

3.2 AUGE E DECLÍNIO DO GARIMPO EM POXORÉU: relatos de pioneiros e


idealizadores da inovação tecnológica garimpeira

Diante da decadência da extração do diamante em Poxoréu a partir da década de 1990,


cujo declínio perpassa pelo esgotamento das áreas de produção, principalmente pela forte
fiscalização ambiental em regiões que tem em sua principal fonte econômica o garimpo. Pois,
segundo o relado de um dos entrevistados observamos que:

“Aqui não há mais garimpo clandestino como era na época, pois na verdade
o garimpo sempre foi uma atividade ilegal, desde as minas de ouro das
Minas Gerais. Já vem desde a origem do nome garimpeiro, vem da
tradução do termo “grimpeiro” do contraventor, do cara que sai que vai
morar nas grimpas de serras, quando não tinham fiscais das fazendas, do
Império ainda, daí o nove aportuguesou do grimpeiro para garimpeiro”.
(ONIX)

No período da descoberta do diamante em Poxoréu, houve uma corrida desenfreada


para Mato Grosso, que segundo Amorim (2001) acontece nas décadas de 1930 e 1940,
quando ainda era Corrutela até chegar a município as pessoas advindas basicamente do
nordeste, entre eles maranhenses, cearenses, baianos, com o tempo vão mudando o perfil, que
até então podia-se considerar como “nômades, pois ficavam a revelia do resultado do
garimpo, se tem diamante fico, não tem vou para outra região”. A vinda acontece na época em
que era o Velho Leste, e que após a divisão do Estado em 1977 virou sudeste, pois o grande
estopim do garimpo era na região do Alto Araguaia, em Tesouro, Alto Garças, Guiratinga,
enfatizando que neste período Poxoréu não existia no mapa, como também não havia
fazendas.
Para Amorim (2001), a atividade garimpeira trouxe consequências, no entanto,
apressou o povoamento e a colonização das terras do velho leste, pois o governo de Mato
Grosso administrava um imenso território, tendo a concentração da administração política no
72

sul do território, ocasionando assim em 1977 a divisão do Estado, sendo Mato Grosso do Sul
e com a participação de 50 municípios, estes melhor desenvolvidos economicamente.
Para melhor compreender algumas das consequências da divisão do Estado para
Poxoréu acompanhamos o relato:

“Poxoréu ficou aqui em cima fez um braço aqui atrás de Primavera e do


outro lado também assim fez um braço do lado de Primavera no rumo de
Barra do Garças e Poxoréu, e entre Campo Verde e Primavera, entre Dom
Aquino e Primavera, Poxoréu atravessa o asfalto e vai até o Rio das Mortes.
Então a intenção de quando foi feita a divisão, pra não perder a área
cultivável que era lá em cima, fez isso ai pra segurar um pouco de ICMS.
Mesmo assim, nós sofremos com a perda até porque, e o que enfraqueceu
muito Poxoréu foi à divisão. Quando se divide um município, o município
novo fica zerado de dívida, ele nasce ali, e todas as dívidas ficam para o
município velho e, além disso, a arrecadação do município velho cai porque
aquela parte foi dividida”. (OPALA)

E assim, o leste fica permeado pela imensa terra ainda por desenvolver. Este foi um
dos fatores predominantes para povoar o leste mato-grossense, pois vivia-se um Brasil
agrário, não sob a ótica da reforma, pois não se tratava de redistribuição de terras, mas sim de
terras devolutas. Assim, “O Estado incentiva a disposição de terras para os indivíduos, muitos
atraídos pela fama do diamante, diante desta nova oportunidade, e como atividade paralela
desenvolviam também a agricultura como o seu novo berço” (AMORIM, 2001, p. 40).

Destaca-se que, foi oficialmente pelo Decreto no 86/1937 que reservava para a
povoação de Poxoréu, 1.800 hectares pelo interventor federal Capitão Manoel Ary
da Silva Pires e em 1949 pelo Decreto no 714, reservava para o município 12.000
hectares através do governo Arnaldo Estevão de Figueiredo, assim o patrimônio de
Povoação de Poxoréu foi criado pelo Decreto no 856, de 11 de maio de 1929, tendo
uma área de 3.595 (AMORIM, 2001, p. 41).

Em meio à chegada ao mundo novo, é interessante anunciar primeiramente o cenário


festivo, de movimentação e ocupação de homens e mulheres em busca de sonho e riqueza
rumo a Poxoréu em 1926 que no:

Efervescente povoado, garimpeiros e raparigas acotovelavam-se na faina dos


monchões e das construções das barracas e, na azáfama incessante dessas atividades,
ouvia-se gritos e rajadas de tiros, sempre respostados pelos monchões vizinhos.
Tamanho era o fervilhar, tantos eram os gritos, e tantas rajadas de tiros, que tinha-se
a impressão de estar presenciando uma verdadeira alucinação coletiva (XAVIER,
1999 apud AMORIM, 2001, p. 38)

A notícia da região atraía novos garimpeiros, dando forma a cidade que depois se
chamaria Poxoréu, nome advindo da língua bororo, Pó-Ceréu, a qual significa “córrego das
águas escuras” (AMORIM, 2001, p. 39).
73

O descobrimento e o desenvolvimento de Poxoréu nas palavras de Amorim (2001), só


se iniciam na segunda década no século XX, com a invasão dos garimpeiros e aventureiros
que se embrenharam no sertão fechado formando fazendas, enfrentando o mundo
desconhecido, inclusive índios ainda selvagens.

Figura 1 - Funeral Bororo, em novembro de 1969, na Reserva Indígena de Meruri.


Fonte: Giancarlo Pireddu, Agosto/1969.

Pessoas de diversos lugares estiveram em Poxoréu para desenvolver atividades,


apontado por Izaias Resplandes (2006, p. 1) como o italiano Giancarlo Pireddu, um dos
primeiros voluntários da Operação Mato Grosso em Poxoréu e Maestro do Coral do Centro
Juvenil entre os anos 1960 e 1970, professor de Economia da Energia e do Meio Ambiente da
Universidade de Milano, na Itália – legítimo representante poxoreense naquele país irmão,
também a participação do Padre César Albisetti, patrono de uma importante escola de
Poxoréu, acompanhando um funeral bororo, no mês de novembro de 1969, na Reserva
Indígena de Meruri (Figura 1).
Nos relatos da pesquisa encontramos dados sobre a chegada dos pioneiros à Poxoréu,
que contempla a formação e a vinda das primeiras famílias de baianos e maranhenses, pois:

“Nos anos de 1940 começaram a chegar para nossa região as primeiras


pessoas que ouviram falar em possibilidade de um enriquecimento com o
garimpo. Ficaram na região da Raizinha, conhecida como São Pedro, ali foi
fundada a primeira vila, naquela vila surgiu uma revolução entre famílias
dos maranhenses e dos baianos. Que ficou conhecida como revolução dos
Morbeck e Carvalhinho. Os Morbeck eram uma família que tinha chegado à
época e optou por apoiar os baianos contra os maranhenses, e houve lá uma
grande briga, e essa briga foi crescendo pela matança de alguns dessas
famílias, por isso daí eles começaram a sair da região e buscar outros
lugares, e começaram a chegar aqui na região de Poxoréu ao lado do
74

Morro da Mesa18 e o Rio Poxoréu. Ai eles descobriram que não só lá, mas
em toda a região podiam extrair o diamante”. (OPALA)

Tendo em vista os estudos de Baxter (1975) o povoamento surgiu quase que


imediatamente, os garimpeiros felizes por fugirem do caos dos garimpos do Garças,
envolvidos no conflito sangrento entre Morbeck e Carvalhinho.
Especialmente nesta zona de conflito os baianos criaram muito pânico entre os
maranhenses em decorrência do massacre, sendo enterrados sete maranhenses em apenas uma
cova, local que ficou conhecido como “Cemitério de Maranhenses” (AMORIM, 2001).
Nesta situação podemos citar dos relatos de Amorim (2001) uma chacina por conta da
disputa entre um baiano e um maranhense pelo amor de uma mulher esta era chamada de
“Caboclinha”, do cabaré do “Fecha-nunca”, em meio às danças, requebrados dos quadris
sensuais da vida mundana surge uma pequena briga, esta suficiente para dividir os grupos
fortemente, de um lado baianos e do outros maranhenses. A violência era constante, na luta
por território. Deste fato ocorre à matança de dezoito maranhenses em São Pedro e outros no
Alcantilado, massacrando pessoas indefesas e mais quatro pessoas mortas em Paraíso do
Leste, decorrente de antigas disputas com famílias baianas e mineiras.
No tocante à demanda de cabarés em Poxoréu no período da formação do município
verificamos no relato que, “realmente naquela época tinha-se zona de baixo meretrício era
oficial no município, era o grande point dos garimpeiros, situado à Rua Bahia e Rua
Maranhão, mas desapareceu literalmente, era na área central, foi lá que a cidade iniciou”
(ONIX).
Mas, como caso tênue, para o deleite sexual do garimpeiro como era antes em 1940
até 1990, Ônix nos revela que, no Alto Coité tinha a Rua da Paia, N o. 1040. Eram ruas muito
violentas, “os morticínios aconteciam com frequência, tinha muita jogatina, bebedeira, isso
era característico da zona de baixo meretrício, e impulsionado pelo garimpo, e aqui em
Poxoréu também não era diferente, acompanhamos alguns casos de pessoas que entravam
vivos e saiam no caixão”.
Tal violência praticada em frequentes brigas, luxúria e dinheiro fácil, houve um grande
incêndio em São Pedro (sem intenção) como nos aponta Amorim (2001), acarretando a
permanência de pouquíssimas famílias, ainda que, o leito do Ribeirão São João fora tomado

18
O ajojo formava-se ao sopé da elevação mais alta da região, podendo ser vista a mais de 40 km de distância, a
que os chegantes chamaram de Morro da Mesa, pelo formato rochoso inerente a uma mesa. E numa questão de
semanas, o garimpo do morro da Mesa, descoberto no dia 9 de julho de 1926, era um imenso povoado
(AMORIM, 2001, p. 38).
75

em boa parte pelo garimpo, tendo a presença de alguns garimpos iniciantes em torno da
região, que permanecem até a atualidade, como é o caso de Alcantilado, Raizinha, São Paulo
e outros.
Os efeitos promovidos pela violência aos sobreviventes da região afirmaram que em
uma semana 4 a 5 pessoas eram assassinadas em São Pedro, em decorrência do livre acesso a
bebida alcoólica, como também entrada de armas e o crescimento estrondoso do povoamento
(BAXTER, 1975, p. 34).
Desta maneira, ocorre o ciclo de povoamento, diante da historicidade contada a partir
dos dados produzidos na pesquisa de campo referente aos pioneiros desbravadores, os quais
encontram pela primeira vez o diamante, e a luta pelo território, pois:

“Inicia-se a povoação a partir de 1919 com as fazendas, daí aparece o João


Ayrenas Teixeira, um dos Bandeirantes de Minas Gerais, ele encontra pela
primeira vez em sua expedição o diamante em São Pedro há 40 km de
Poxoréu - próximo a Dom Aquino, lá começou tudo. Em 1924, Poxoréu
nasce lá, e não aqui, lá tem campo de aviação tinha 300 casas de palha,
hoje tem uma casa de fazendeiro. Estava em tramitação em 1926 uma briga
muito grande entre duas famílias, as do Carvalhinho e José Morbeck, faziam
chacinas em nome dos garimpeiros e em nome do Estado. O Carvalhinho em
1926 era delegado do estado, mas liderou os garimpeiros, e ele escolheu
Poxoréu. A primeira chacina acontece no Morro da Arnica, perto do
tesouro, quem encostasse morria”. (ÔNIX)

A falta de autoridade viável no leste de Mato Grosso que desafiasse a hegemonia dos
líderes locais e a independência como a qual os garimpeiros trabalhavam tornou a disputa
inevitável entre a “Liga dos Garimpeiros do Garças” comandada por Morbeck e seus
comparsas à entrada do governo numa região há muito tempo ignorada (BAXTER, 1975, p.
68).
Para Amorim (2001) a verdadeira batalha inicia-se quando a relação dos “compadres”
Manoel Balbino de Carvalho (Carvalhinho) e Morbeck divergiam totalmente, havia oposição
de ideias denunciando indícios de rivalidades entre os mandões do Garças, sendo uma em
defesa dos interesses do Estado e, outra que surge em defesa dos garimpeiros, sobretudo a
partir das denúncias das atrocidades contra os lavristas de São Pedro. Desta forma, os grupos
se debandaram, e no percurso se chega ao Morro da Mesa (Figura 2), lugar que logo se
formaria o município de Poxoréu, e ao se aproximar cada vez mais, os garimpeiros baianos
carregavam a “bateia”, uma sacola de roupa, soltos rio afora, e em suas paragens iam
descobrindo nos cascalhos as jazidas de riquezas expressadas em diamantes.
76

Figura 2 - Poxoréu aos pés do Morro da Mesa.


Fonte: Nélio Oliveira, 2012.

Diante destes fatos em 1925 que Carvalhinho aceita o cargo de delegado de polícia do
Araguaia e do Garças, cargo proposto pelo então governador do Rio de Janeiro, Pedro
Celestino, com intuito de abalar o mandonismo de Morbeck.
Muitos conflitos e mortes ocorreram de 1925 a 1926, fundado o município de
Poxoréu, local em que Carvalhinho faz sua morada.
A vida do novo povoamento não era de convivência tranquila, muito embora
comparado a São Pedro houvesse um sentimento de maior segurança física, assim como a
fartura das jazidas, atraindo os garimpeiros, porém as informações sobre os primeiros anos em
Poxoréu são bem restritas. Encontra-se nos estudos de Baxter (1975) que desde o começo
havia crianças na corrutela, sendo que em agosto de 1927 tem-se uma escola primária
estabelecida, (Figura 3).

Figura 3 - Poxoréu nos anos 1930.


Fonte: Izaias Resplandes, 2006.
77

No contexto da cidade, os moradores do município se deparavam com o cenário forte


da presença dos cabarés, pois “vivenciamos a forte demanda da prostituição isso muito na
década de 1940, de 1970 até no máximo 1990” (ÔNIX).
A principal fonte econômica do município advinda dos diamantes, os garimpeiros
especialmente gastavam nos cabarés, local muito frequentado como nos relata Opala,
“prostituição era muito forte, muito forte, você sabe que onde existe garimpo existe as
mulheres de vida fácil, de vida fácil que é super difícil, mas é o ditado.”
Ainda, neste aspecto:

“Aqueles que eram casados tinham deixado um pouco na casa, e gastava


assim mesmo, e os que não eram casados gastavam tudinho na zona,
exatamente na zona ou comprando coisas de luxo, ele se interessava por um
relógio de qualquer pessoa, o relógio valia 100, 00, ele dava mil reais, quer
dizer a coisa não é cara pra aquilo que se quer. Para quem tem o dinheiro e
ele quer aquele objeto, o objeto não é caro”. (OPALA)

No garimpo costuma-se desenvolver a prática de se gastar tudo que tem como se fosse
uma fonte inesgotável, como nos indica Opala em seus relatos, pois, “garimpeiro é o
seguinte, ele pegava o diamante, e é assim em todo lugar, ele pega o diamante hoje, ele gasta
tudo hoje, ele acha que amanhã ele mexe lá e acha de novo”. (Figura 4)

Figura 4 - A garimpagem em Poxoréu nos anos 1940.


Fonte: Luciene Ferreira Afonso, 2012.

A imagem expressa o cenário da garimpagem em Poxoréu no período inicial a partir


de 1926, nas considerações de Afonso (2011, p. 2) ao publicar relatos no Blog Poxoréu,
78

aponta que o garimpo “trouxe para a região homens de todo o país com a promessa de
adquirir as riquezas incalculáveis que ouviam falar. Hoje, o passado de glória só existe na
lembrança das pessoas de uma época que deu a cidade o título de Capital dos Diamantes.”
Ainda, Poxoréu “tinha cerca de 5 mil garimpeiros à procura das riquezas escondidas neste
solo”.
A riqueza de Poxoréu era demonstrada nos depósitos de diamantes pela sua
abundância, sua produção econômica estava mais ligada à mineração em sua fonte econômica
do que a pecuária. Porém, somente nos anos de 1940 que alcançou grandes proporções, tendo
descoberto todas as principais jazidas nas imediações do povoado. Os dados acerca do
pagamento de impostos, verifica-se que até 1938, a agência coletora de impostos em Poxoréu
arrecadou impostos igual a um décimo (1/10) do valor dos diamantes. Desta maneira, tornava-
se facilmente fraudar a compra de diamantes, como também facilitar o contrabando das
pedras, era uma prática comum, pela ausência das investigações pelos agentes coletores nas
transações com maior rigor, pois os impostos, afirmam os compradores, “eram raramente
pagos em mais de um quarto (1/4) do comércio real” (BAXTER, 1975, p. 85).
Indicado também nos estudos de Baxter (1975), o destino dos diamantes no Brasil
seria o Rio de Janeiro, Cuiabá, e o Lageado. O meio de transporte utilizado pelos
compradores era dividido entre cavalos, mulas ou veículos automotores. Os maiores
exportadores, os quais compradores (capangueiros) de diamantes estavam divididos entre
quatorze pessoas, e estes pagavam imposto de exportação em 1933, ainda haviam abaixo
deles um segundo comprador (agentes e faiscadores) que operavam localmente e vendiam
largamente para os capangueiros. Estavam registrados 24 compradores oficialmente em
Poxoréu em toda a década de 1930, estes compradores estavam nos centros de São Pedro,
Pombas e toda região de Poxoréu. No final desta década demarca o apogeu da garimpagem
em Poxoréu.
É neste período de 1934 que também:

[...] é criado por Getúlio Vargas o DNPM19, marcando o início da intervenção


efetiva do Governo no setor de minerais estratégicos. Durante o II PND 20, o setor
mineral é estimulado por políticas que visavam desenvolver novos produtos
minerais para a exportação, financiando parte do déficit da conta petróleo, crescente
desde o primeiro choque do petróleo em 1973 (GAZETA MERCANTIL, 1998). A
partir daí, desenvolve-se a atividade mineradora industrial no Brasil e no Centro
Oeste, em grandes empresas atuando em grandes lavras, altamente mecanizadas e
com alto volume de produção (AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 2).

19
Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão federal que regula o setor mineral no Brasil, planejando e
executando estudos geológicos e fiscalizando e controlando a exploração mineral no país.
20
II Plano Nacional de Desenvolvimento 1974-1979 (AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 2).
79

Em relação à produção e a venda do diamante em Poxoréu nos dados pesquisados e


relatados pode-se perceber que:

“A produção era muito grande, e todo mundo tinha interesse em comprar


porque... Nós tínhamos aqui uns cinquenta compradores locais e mais uns
dez que vinham de avião de fora, de Campo Grande, Coxim, Cuiabá, São
Paulo. Durante a semana tinha 6 a 8 aviões no aeroportozinho ali que os
compradores que vinham alugavam os pontos para os finais de semana, e
domingo cedo iam embora”. (OPALA)

No avanço ao meio de transporte, é significativo dizer que os aviões tornaram-se cada


vez mais importantes ao final dos anos de 1930.
Poxoréu era escala para Belo Horizonte, Cuiabá e Corumbá (BAXTER, 1975). Os
mais abastados possuíam avião e os principais garimpeiros tinham campo de aviação (Figura
5), estava disponível para a maioria dos compradores de diamantes, e com custo mais baixo,
com extrema economia de tempo, cerca de 1h de viagem. Pois, a viagem por terra era
extremamente demorada cerca de 15h a 20h de caminhão, 10h a 12h de carro, dependendo do
tempo, e o valor cobrado era altíssimo pela dificuldade que se encontravam as estradas de
acesso a Poxoréu e Alto Coité, com o melhoramento das estradas, as viagens de avião se
restringiram aos compradores de São Paulo e Rio de Janeiro.

Figura 5 - Campo de Aviação, Aéreo entre o Rio São Lourenço e o Rio Manso, no
alto do Chapadão, entre Poxoréu e Cuiabá município de Poxoréu..
Fonte: Biblioteca IBGE, Registro 25911, 2012.

O passado de riquezas de Poxoréu mostra que enquanto a extração do garimpo era


expressiva, tinha como os demais moradores, o privilégio de viajar de avião, embarcando no
aeroporto que aqui existia. Na década de 50 a empresa Nacional Transportes Aéreos prestava
80

serviço aos passageiros e cargas duas vezes por semana fazia escala na cidade. O itinerário
era Goiânia - Aragarças - Poxoréu e Cuiabá.

Figura 6 - Formação do município nos anos de 1930.


Foto: Izaias Resplandes. Blog Poxoréu, 23/10/2006.

E quanto ao destino da produção das jazidas, havia uma grande demanda para a
exportação, aqui relatado:

“Normalmente exportava. Mais é o Oriente Médio que compra mais, parte


da África e Oriente Médio. Japão, Coréia, os coreanos são demais, vinham
comprar, ou tinha gente que comprava aqui e ia entregar pra eles lá em
Cuiabá ou Campo Grande, então os compradores eram só o representante
deles aqui. Então o que acontecia, faziam assim: na quarta feira a gente
fazia a previsão com a empresa que transportava valores, um exemplo pra
hoje: 2 milhões de reais que sexta feira chegava no banco 2 milhões.
Tínhamos aqui o Banco Itaú, o BEMAT, o Bradesco, a Caixa Econômica e o
Banco do Brasil, se fosse cliente do Bemat, a senhora ia lá para o gerente
na quarta feira, vou precisar de tantos mil para sexta feira. O banco fazia
previsão conosco do Banco do Brasil, que era responsável pela previsão e
pela custódia. No final do dia os bancos vinham e depositavam aquilo que
sobrou em quantidade de valor seguro no cofre”. (OPALA)

A alta escala de mineração em Poxoréu foi possível devido o investimento em


tecnologia, passando do manual para o maquinário, com as bombas a motor, acelerando os
métodos da garimpagem, o pico da produção se expande de 1945 a 1951, entre Alto Coité,
Raizinha e Poxoréu. Assim, “os jornais locais anunciam em páginas festivas a riqueza
produzida proveniente dos diamantes. Poxoréu era descrito como um ‘ninho’ e uma ‘mina’ de
diamantes; a produção, a maior da América” (BAXTER, 1975, p. 98), (Figura 7).
81

Figura 7 – Período auge do garimpo demonstrado através do uso das “bateias”.


Reportagem da Revista Manchete em 1983.
Fonte: Izaias Resplandes. Blog Poxoréu, 20/10/2006. Túnel do Tempo Poxoréu na
Revista Manchete – Parte1. Data 27/08/1983.

A reportagem da Revista Manchete, assinala um novo período para a garimpagem,


pela aplicação de instrumentos tecnológicos, pois é a partir de 1960 que a sociedade brasileira
passa a conhecer acentuadas mutações pautadas na aceleração da industrialização e a inflação,
advindo do golpe de 1964, também o forte movimento migratório dos campos para a cidade,
indicando a falta de trabalho nas atividades agrárias. Pois, “em nosso país, entre os anos de
1950 e 1970, calcula-se que cerca de 18 milhões de pessoas deixaram o campo para migrar
para as cidades” (SALOMÃO, 1984, p. 47), (Figura 8).

Figura 8 - A comercialização do diamante de Poxoréu para o mundo.


Fonte: Izaias Resplandes. Blog Poxoréu, 20/10/2006. Túnel do Tempo Poxoréu na
Revista Manchete – Parte 3. Data 27/08/1983.
82

Neste contexto, demonstrado por Salomão (1984) percebe-se categoricamente o


advento do garimpo em larga escala na região da Amazônia mato-grossense e que consagram
o garimpeiro como um dos protagonistas da história da mineração brasileira neste fim de
século. Entre o período de 1960 a 1979 ocorre a expansão tecnológica (Figura 9) pelo
garimpo na utilização de maquinários.

Figura 9 - Utilização mecânica – expansão tecnológica.


Fonte: Biblioteca IBGE. Registro 25894.

Em 1967 é editado o Código de Mineração (Decreto no 227/67), trazendo significativa


inovação, identificada como uma nova etapa na mineração brasileira.
Vejamos:

São explicitados os mecanismos legais pelos quais se garante os direitos do


superficiário (indenizações por danos, dízimo etc.), e os mineradores veem-se livres
de penosos acordos prévios com os proprietários, que antes obrigatoriamente
precediam os requerimentos. [...] Os garimpos de todo Brasil revelavam uma
organização essencialmente grupal, com fortes relações verticalizadas, sendo o
trabalho “por conta própria” meramente circunstancial. Embora ainda predominasse
o trabalho braçal à época da publicação da lei, em curto prazo o garimpo iniciaria a
apropriação tecnológica que viria a descaracterizá-lo diante dos dispositivos legais.
Mais importante ainda é a retirada de cena do proprietário da terra e sua virtual
substituição pela figura do minerador, com o qual o garimpeiro não tem acordo, por
buscarem ambos o mesmo espaço de trabalho. A questão é então posta sob um
ângulo de prioridade (SALOMÃO, 1984, p. 50-51).

Destaca-se ainda que:

[...] a prioridade legal precede da ocupação física da área pretendida e está aí a


origem de todos os conflitos que se seguirão: à ocupação de fato efetuada pelo
garimpeiro contrapõe-se a ocupação de direito assegurada ao minerador pelo seu
83

protocolo legal. [...] o garimpeiro continuou ainda necessitando da autorização do


proprietário para exercer seu ofício e de uma ridícula “matrícula” municipal
(SALOMÃO, 1984, p. 51).

No cenário de Poxoréu nas décadas de 1970-1980 ocorria neste aspecto:

“Naquele tempo eles faziam assim: 35% era do garimpeiro, 10% era do dono da
terra e o restante do dono da draga. O dono do garimpo era o dono da terra. O
dono da terra arrendava, às vezes tinha 10 hectares de terra, tinha 20 a 30 dragas e
cada um pagava 10% daquilo que vendesse se não vendesse nada, não pagava nada
também. Na época em 1982, nas eleições de 1982, eu e um colega, hoje tá
aposentado, demos ideia para os políticos que iam ao Banco fazer as palestras de
campanha e nós focamos para dois deles que fizessem uma política de assistência a
família do garimpeiro, em troca disso, que os garimpeiros vendessem as coisas
legalizadas para o município, eu dei ideia. Falei pra ele: cabe a vocês melhora a
ideia. Seria mais ou menos assim: a Prefeitura abrir vários postos fiscais no final de
semana só para entregar nota fiscal. Na sexta nós íamos aos vizinhos para começar
a vender, sábado chegava pra vender os diamantes, ia num posto daquele pegava
uma nota levava, vendia e trazia de volta. O imposto ia sair do comprador, não do
dono da draga, nem do garimpeiro”. (OPALA)

Os acordos eram tratados na confiança, não havia fiscalização pelo que percebemos
nos relatos travava-se de acordos e a relação da compra e venda dos diamantes era algo
esperado e exposto aos olhos de todos, pouco ou muito todo mundo vendia e sabia o que
acontecia a nossa ideia foi em cima disso, que no final do mês os compradores chegavam ao
Banco fazia o DAN (Documento de Arrecadação Municipal). (OPALA)
No Código de Minas - Decreto-lei nº 1.985, de 29 de Março de 1940, consta no
Capítulo I do Art. 1º que:

Este Código define os direitos sobre as jazidas e minas, estabelece o regime do seu
aproveitamento e regula a intervenção do Estado na indústria de mineração, bem
como a fiscalização das empresas que utilizam matéria prima mineral. § 1º
Considera-se jazida toda massa de substância mineral, ou fóssil, existente no interior
ou na superfície da terra e que apresente valor para a indústria; mina, a jazida em
lavra, entendido por lavra o conjunto de operações necessárias à extração industrial
de substâncias minerais ou fósseis da jazida. § 2º Entende-se por produção efetiva da
mina a que realmente for extraída e utilizada (JUSBRASIL, 2012, p. 1).

Ao percorrer o caminho da garimpagem no Brasil, diante de pesquisas e estudos


analisados, dentre elas o de Salomão (1984) identificamos que desde o início desta prática,
mesmo após o Código de Minas - Decreto-lei nº 1.985, de 29 de Março de 1940 e o Código de
Mineração lei no 227/67, deixou margem a conflitos de difícil solução, ainda em diversas
regiões da Amazônia mato-grossense, não houve amparo legal conveniente e nem o extinguiu;
deu ao minerador proteção legal, porém não o proveu de meios para tornar seguro seu
trabalho em depósitos superficiais.
84

De acordo com Rocha (1984) o aumento da engenharia e geologia nas minas


determinou uma diferenciação entre o modo de produzir do garimpo e da mineração
organizada. Que em 1934, promulga-se o primeiro Código de Minas (Decreto n. 24.642/34)
considerando como patrimônio da nação os bens minerais; e a legalização do garimpeiro,
resgatando-os da ilegalidade.
Ainda neste percurso de evolução, em 1967 é editado o Código de Mineração que traz
a inovação fundamental e no território brasileiro no tocante à mineração na Amazônia mato-
grossense, traçamos um panorama de visibilidade ao trilhar de garimpeiros nesta região a
partir de 1975.
Notemos que:

Inúmeros e importantes garimpos são descobertos ou redescobertos, ao mesmo


tempo em que se acentuam os desentendimentos com a presença da mineração.
Nascem os núcleos garimpeiros de cassiterita no Xingu - PA (1974-1975, já
extintos), do rio Parauari - AM (1976, ouro), Alta Floresta - MT (1978, ouro), rio
Madeira - RO, (1978, ouro), entre inúmeros outros. Aumenta consideravelmente a
população de garimpos já conhecidos, como os do Tapajós (Pará, ouro), Lourenço
(Amapá, ouro), Uraricoera/Tepequém (Roraima, ouro e diamantes). Em 1978 é
criada a Reserva Garimpeira de Carnaíba (esmeraldas, Bahia); no ano seguinte, a do
rio Madeira (ouro, RO), e Poxoréu (diamantes, MT), na sequência de conflitos com
empresas detentoras de alvarás de pesquisa, que também ocorrem em Nova Roma
(cassiterita, GO), Alta Floresta, MT entre outros. As corrutelas começam a pontilhar
os espaços mais ínvios do mapa do Brasil, reeditando, com seus métodos de
produção, a organização econômicosocial peculiar e o pauperismo, a saga barroca
das bandeiras (SALOMÃO, 1984, p. 52).

Os grandes vazios demográficos da região da Amazônia mato-grossense foi sendo


preenchido no passado pelo final do ciclo da borracha, promovendo um grande fluxo
migratório, especialmente de nordestinos por campanhas publicitárias, no sentido de suprir a
necessidade de mão de obra nestes espaços de produção de castanha, caça, pesca, ouro,
diamante e etc. Este processo representa, na verdade, alterações estruturais na política
econômica do país.
Pois:

[...] as secas nordestinas mais uma vez colocavam grandes parcelas da população em
estado de miséria. Naquele ano, na esteira de um patético discurso proferido do
Presidente Médici, no Recife, no qual reconhecia a miséria e as multidões de
famintos do Nordeste, foi criado o Programa de Integração Nacional – PIN, pelo
qual se determinava a construção da Transamazônica e de Cuiabá-Santarém, e da
rede de aeroportos asfaltados; reserva-se uma faixa de 10 km às margens das
rodovias para colonização e reforma agrária; é criado o INCRA – Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária, o agente executor desta política (IANNI, 1979;
MIRANDA NETO, 1979, apud SALOMÃO, 1984, p. 53).

Oficialmente está aberta a integralização pela ocupação e colonização dos espaços


85

populacionais. “A Rodovia Transamazônica seria o eixo Leste-Oeste de integração da


Amazônia com o Nordeste na ocupação acelerada, os objetivos geopolíticos e de segurança
nacional” (ROCHA, 1984, p. 54).
Nos aspectos da garimpagem em Poxoréu mantendo um largo período de apogeu,
diante dos relatos se remetendo ao período entre o ano de 1975 até meados de 1995,
demarcando o auge do garimpo.
Ainda neste período:

“[...] era muito forte o garimpo em Poxoréu, tínhamos aqui uma base de
três mil dragas, empregando cerca de 20 mil homens, tendo sete homens
trabalhando diretamente na draga. Então com três mil dragas, fora outros
de garimpos, garimpos com motor, garimpo manual, garimpo de água, que
eles falam de rego d’água. Então nesse tempo ai a nossa população em
Poxoréu atingiu 29 mil pessoas, marcando assim o apogeu da década de
1970, de 1980 até meados da década de 1990 com a chegada dos
maquinários para os garimpos, acelerando a extração de diamante através
do maquinário”. (OPALA)

Ainda na pauta de notícias nacionais, a garimpagem em Poxoréu, no período de 1983,


(Figura 10).

Figura 10 - Expansão tecnológica e aperfeiçoamento do trabalho do garimpeiro em


evidência nacional.
Fonte: Izaias Resplandes. Blog Poxoréu, 20/10/2006.

Embora os diamantes tivessem dominado a economia regional em Poxoréu até meados


dos anos 1960, Baxter (1975) nos indica que, na verdade a economia tem-se diversificado
86

desde a formação do povoamento, sendo necessária devido às limitadas fontes de diamantes e


as demandas do mercado local, como também propiciada pelas florestas tropicais ao sul da
cidade apropriadas para a agricultura e o cerrado próprio para a criação de gado. As atividades
agrícolas são totalmente necessárias, principalmente para estabelecer fontes locais de
suprimento.
Neste sentido, nosso interesse é demarcar o declínio do garimpo em Poxoréu, e a
obtenção de outras possibilidades de mudança da estrutura econômica e os indicativos da
dispersão da garimpagem. Como também a realidade do município na conjuntura atual,
quanto ao comércio, a pecuária, a agricultura familiar, a população, o garimpeiro, a
garimpagem ganhando novos formatos, como saída para manter a economia e garantir
trabalho à população poxoreense.
Podemos identificar os primeiros sinais de estagnação da extração do diamante, como
prática ilegal, com a fiscalização ambiental que passa a ser mais cobrada, fazendo parte da
discussão global, regional e local.
Verifica-se no relato que:

“Com a queda do garimpo, início de 95 pra cá, pelas dificuldades normais do custo
de vida, do preço das coisas ficaram muito alto, difícil contratar uma draga, além
disso, mais ainda, os órgãos governamentais, os órgãos de fiscalização ambientais
que começaram a travar isso ai. Porque o garimpo joga muito areão dentro do rio.
Prejudica a natureza”. (OPALA)

Os recursos naturais explorados em Poxoréu não colaboraram para o desenvolvimento


e infraestrutura do município, porém há projetos para que esta realidade seja transformada até
os dias de hoje, além da queda de preço comparada ao dólar.
Pois:

“Então começou a apertar mais a SEMA, o IBAMA. E com isso ai também


essa comparação do dólar ao real, caiu muito o valor do diamante que é
vendido em Dólar. Se não tivesse uma boa garantia, uma boa extração
naquela semana você não conseguiu manter, como hoje não consegue
manter, porque o preço do diamante abaixou e as coisas foram lá para cima
e a dificuldade hoje em não poder garimpar mais nas margens dos rios que
é onde dá mais diamante”. (OPALA)

No cenário da mineração, percebe-se que são diversas as consequências ambientais


provenientes das atividades mineradoras no leito dos rios, pois causam alterações ao meio
ambiente, trazem mudanças na paisagem local, ocasionada pela escavação e remoção de
cascalho, transformando completamente o solo da lavra, provocando a erosão e assoreando
87

dos regos d'água adjacentes.


A questão ambiental segundo Martinez (2006) tem alcançado grande relevância nas
últimas décadas, as quais foram marcadas por profundas transformações, principalmente na
relação socioambiental, no tocante as formas de interação ser humano e natureza.
Identifica-se na imagem, a revirada do cascalho (Figura 11) à extração do diamante,
tem-se neste ambiente a maioria de pessoas do sexo masculino, no entanto não nota-se a
presença feminina no cenário da lavra.

Figura 11 - Garimpo no Rio Poxoréu, montes individuais de cascalho (IBGE, 2012).


Na garimpagem, identifica-se a presença de uma mulher entre os trabalhadores.
Fonte: Biblioteca IBGE. Registro 25897.

Neste aspecto, também é causado impactos considerados:

[...] indiretos bastante significativos, causados pelo deslocamento de populações aos


locais de lavra, com o uso predatório de recursos naturais [...], e especialmente no
caso dos garimpos, problemas típicos de aglomerações humanas não planejadas,
como saneamento precário, difusão de doenças epidêmicas, problemas sociais como
exploração do trabalho, subemprego, prostituição e violência, que contribuíram para
a disseminação da imagem das áreas de garimpos como uma "terra de ninguém"
(AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 2).

Atualmente ainda encontram-se em funcionamento alguns garimpos, porém em


condições diferenciadas, pois perguntamos o que restou da garimpagem? Ainda tem algum
garimpo atuante?
Vejamos:

“Tem sim, encontram-se os legalizados pela SEMA, com autorização do


88

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, legalizam uma


área, estando declaradas eles trabalham, alguns manchões, uma ou duas
dragas, algumas grupiaras, porém não mais na mesma proporção, muito
pouco”. (OPALA)

Diante do Plano Diretor Participativo21 do município de Poxoréu de 2006, há


significativa preocupação com a questão ambiental, é o que consta no Art. 10 do Cap. IV dos
objetivos e diretrizes gerais, o qual especifica nos itens:

I. Desenvolver de forma sustentável atividades econômicas no Município mediante


sua diversificação, priorizando o turismo, a pecuária, a agricultura, a agricultura
familiar, o agronegócio, a mineração e outras atividades geradoras de emprego,
trabalho e renda; II. Preservar a qualidade e quantidade dos recursos hídricos,
especialmente mediante o uso racional e a recuperação da vegetação junto às
nascentes, nos topos de morros, áreas de reserva legal e das matas ciliares; III.
Ordenar a ocupação, parcelamento e uso do solo, impedindo a ampliação dos vazios
urbanos e revertendo os existentes, mediante a indução à ocupação compatível com
a função social da propriedade urbana, incentivando a ocupação das áreas dotadas de
infraestrutura e reforçando a identidade da paisagem urbana (PLANO DIRETOR,
2006, p. 12)

Neste sentido, no relato dos entrevistados e afirmado ter muito diamante só que a
extração é mínima, quase ninguém quer trabalhar na área do garimpo. Em relação aos
garimpos legalizados se posiciona da seguinte maneira:

“Hoje o que tem legalizado são as pedreiras, nós temos em torno de 15


pedreiras aqui na região, essas pedreiras mechem também com extração da
pedra para britar e vender material de construção e também trabalham com
diamante só que a população nem fica sabendo por que o dono da pedreira
paga mensalidade para o garimpeiro, o garimpeiro não tem participação no
diamante, então ele não tem nem interesse em saber se pegou ou se não
pegou”. (OPALA)

É possível afirmar de acordo com Baxter (1975) que, em algumas áreas do Brasil onde
a mineração avançou, distintas fronteiras espaciais e conceituais existem entre as esferas rural
e urbana. Tal distinção era percebida no período mais próspero, quando as classes mais
abastadas permitiam elos com as distantes metrópoles. Portanto, com a decadência da
produtividade mineral os elos foram sustentados, sobretudo por “nostalgia”, que mantinham
um sentimento de deslocamento no interior, de ter mais coisas em comum com a população
das cidades distantes do que com os habitantes rurais que permaneceram no local.

21
Esta Lei foi publicada por afixação no saguão da Prefeitura de Poxoréu, em 10 de outubro de 2006, no Jornal Oficial dos
Municípios e no site oficial do município, de conformidade com o art. 106 da Lei Orgânica de Poxoréu e Lei nº. 1.041/2006.
89

Hoje, os estudos referentes aos rejeitos de garimpos de diamantes foram desenvolvidos


na região de Poxoréu, visando seu reaproveitamento na Lapidação das gemas semipreciosas.
A região de Poxoréu está em estagnação econômica desde o declínio das atividades
garimpeiras, iniciada na década de 1930, gerando grande quantidade de rejeitos disposta
desordenadamente, cobrindo uma vasta porção das bacias dos rios Poxoréu e Alto Coité.
Temos duas situações que sugerem uma análise mais aprofundada diante da utilização
das pedras, estas sendo utilizadas nas Pedreiras para o abastecimento de cidades vizinhas, na
construção civil, inclusive estradas. Outra situação é o aproveitamento das gemas, utilizando-
as nas oficinas de lapidação considerada como o primeiro estágio para a montagem da peça.
As pedras se encontram em abundância, pois foram rejeitadas durante o largo período de
extração de diamantes, desde meados da década de 1920.

3.3 O NOVO CICLO DE ALTERNATIVAS SOCIOECONÔMICA: agricultura familiar e


a lapidação

No ciclo de alternativas para o desenvolvimento econômico do município de Poxoréu,


pois com o declínio do garimpo na década de 1990 para 2000 começa o ciclo da Agricultura
Familiar com os assentamentos rurais, inserindo famílias, principalmente advindas do
garimpo, pois surge a partir daí uma nova proposta para os até então garimpeiros, dentre as
propostas, o reaproveitamento das gemas na lapidação.
A visibilidade do Projeto de Lapidação em Poxoréu em relação ao ciclo de alternativas
para o desenvolvimento socioeconômico é notório, pois:

“A população vê como esperança este ciclo de alternativas, com o ciclo da


agricultura familiar, este é o garimpeiro com novas práticas, o cara tá ali
contrariado, sem ânimo, sem disposição para aprender, foi acostumado a
acordar pobre e dormir rico. A cultura não muda assim, é demorado o
processo. Na busca de alternativas, o grande filão econômico comprovado
deixado pelo garimpo, que segundo o SEBRAE deixado pelo garimpo são os
rejeitos soltos para mais de 50 anos de aproveitamento econômico com
produção de joias a serem exportadas para Itália, Inglaterra, Alemanha”.
(ÔNIX).

Com as novas perspectivas para as famílias, tem-se no município uma grande


demanda para o setor agropecuário, notemos:

“Agricultura e pecuária sempre foi forte em Poxoréu. Nós estamos entre os


dez maiores municípios na pecuária na região. Em 2009 e 2010 com esse
trabalho que a gente vem fazendo com a Secretária da Agricultura em
90

fomentar as pessoas, o pequeno agricultor, o assentado, é dando todo apoio


com sementes, adubo, é tudo isso ai, calcário e maquinário que puder
ajudar. Duas empresas de Primavera emprega em torno de 200 pessoas
daqui, todos os dias nós temos 10 ônibus que sai daqui cheio de pessoas que
é para duas Granjas, uma no município de Poxoréu que fica do outro lado
do asfalto, porque até do outro lado do asfalto é Primavera do Leste e o
outro é Poxoréu ainda”. (OPALA)

As alternativas perpassam pelo que restou do garimpo, pois muitos buracos foram
abertos e assim permaneceram, pois:

“Hoje, nós estamos tentando fazer do garimpo uma outra alternativa, que é
a piscicultura. Pois, no garimpo cateado, eles abrem um monte de buraco e
ficam lá. E nossa região tem a melhor água do estado. Nós temos aqui uma
lagoa que tá saindo o turismo. [...] solicitamos e conseguimos máquinas do
Governo Federal, chega final do mês, fizemos o convênio. Temos a
Associação de Piscicultores com 80 associados, já está com a área
legalizada e nós vamos chegar com essas máquinas e fazer os tanques,
muitos desses tanques na região do Alto Coité, Buritizal que era a área de
garimpo, lá nós já temos o tanque pronto é só moldar”. (OPALA).

Visando dar conta da problemática no tocante ao rol de alternativas, houve a tentativa


do plantio de maracujá, assim:

“Hoje tentamos novas alternativas para nossa população. Na época do


garimpo ainda em alta, fizemos uma tentativa com o plantio do maracujá,
que não vigorou, porque as pessoas, o garimpeiro ele é rude ele não está
pronto pra um serviço que exige mais cuidado, e o maracujá é uma das
plantações mais melindrosas que tem, até a fertilização dele tem que ser
feito manual, a flor do maracujá, as outras flores é através da mosca que vai
passando de uma pra outra, eles não estavam preparados para isso. Não
sabiam a época certa de colher, de plantar e nem de vender, então perdia-se
muito disso e ficou inviável. Hoje temos o plantio de mandioca, cana de
açúcar, melhorando a pastagem pra quem tem pequenas produções, essa da
piscicultura é muito importante”. (OPALA)

Através de uma mobilização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Poxoréu,


depois de árdua luta, obtiveram em Poxoréu o Programa de Crédito Fundiário e Combate a
Pobreza Rural. Conforme os dados obtidos no Jornal “A Crônica” (2012, p. 1) o Sindicato é
uma Os benefícios aos trabalhadores rurais são diversos, seus filiados contam com:
encaminhamento de aposentadoria; auxílio doença; pensão; salário maternidade da
agricultora; além de manter convênios com médicos, dentistas e advogados. Este programa já
está com recursos assegurados e será implantado pelo Governo Federal, através da Secretaria
Estadual de Agricultura de Desenvolvimento da Família, com objetivo de facilitar a compra
91

de terras pelos trabalhadores por meio de financiamento do Banco do Brasil, é o que nos
informa o Jornal “A Crônica” (2012, p. 1).
Neste sentido, há o subsídio do Estado para outros investimentos, pois:

Após a compra da terra pelo trabalhador rural e toda infraestrutura instalada, o


Governo Federal irá financiar mais R$ 20 mil através do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Com esses recursos, o
trabalhador poderá investir em produtos diferenciados como, frutas, verduras,
legumes, leite e derivados, animais pequenos, criação de peixe tanque rede, turismo
rural, entre outras. A agricultura familiar é uma das mais eficientes barreiras à
migração do homem do campo para as metrópoles. Evitando o agravamento de
problemas sociais nos centros urbanos (JORNAL A CRÔNICA, 2012, p. 1).

Poxoréu ao enfrentar este ciclo de alternativas pós- garimpo ao final dos anos de 1990,
o plantio de Maracujá delineou um universo com perspectivas econômicas, que rapidamente
se frustraram na ordem gerencial, técnica e cultural, pois, que o seu advento exigia um
empreendedor liberto da cultura garimpeira e preparado para executar um novo paradigma
econômico (AMORIM, 2011). A expectativa desta atividade econômica era a seguinte:

Tinha-se ali uma ideia nova, mas ainda um modelo antigo, de modo que, ainda que a
cultura do maracujá não tenha atingido as nossas expectativas, seu fracasso ainda
não significa sua inviabilidade econômica. Temos, hoje, um trabalhador rural (o
antigo garimpeiro) mais amadurecido e podemos corrigir, talvez, o principal erro da
cultura do maracujá: A MONOCULTURA, podendo evoluir, por exemplo, para o
TECNOFRUTAS, já que em alguns assentamentos rurais sobressai-se, ainda em
pequena escala, a cultura de algumas frutas, sem contar, é claro, a possibilidade de
exploração e beneficiamento das frutas nativas dos biomas naturais. Em termos de
desenvolvimento rural sustentável é importante afirmar-se na POLICULTURA e no
desenvolvimento do SELO DE QUALIDADE capaz de configurar a identidade da
linha de produção para o atendimento de demandas externas (AMORIM, 2011, p. 6).

Atualmente a agricultura familiar é um setor estratégico para dar sustentabilidade ao


setor econômico que proporcione maior produtividade por área disponível e
consequentemente, aumentar a renda das famílias (SILVA e MATTOS, 2011). Contribuem
cada vez mais com a manutenção da família no campo e com o revigoramento da economia
das cidades.
“O Brasil apresenta um dos maiores potenciais para a piscicultura, pois possui
recursos hídricos abundantes e grande extensão territorial. Há também um grande número de
espécies nativas adequadas para a piscicultura” (CASTAGNOLLI, 1992 apud SILVA e
MATTOS, 20011, p. 359). Dessa maneira, a piscicultura surge como uma atividade de
complementação da renda familiar dos agricultores, pois é uma atividade extremamente
lucrativa, de mercado garantido e de controlado impacto ambiental.
92

São várias as alternativas para o desenvolvimento de Poxoréu, principalmente em


relação ao turismo, obras estão em pleno desenvolvimento, pois a Prefeitura Municipal em
convênio com o Governo Federal desenvolvem uma grande obra que proporcionará a
população e toda região uma grande área de lazer, sendo a construção do Balneário da Lagoa
na área urbana da cidade, este local foi muito frequentado por banhistas da região em outras
décadas.
Para o prefeito atual “esta obra será um marco no setor de turismo para Poxoréu e
região, pois a população poderá desfrutar de um complexo de lazer moderno e da mais alta
qualidade” (SAMPAIO, 2010).
No rol de alternativas de fortalecimento da economia o município de Poxoréu conta
com o funcionamento das Pedreiras, que somam em torno de 15 pedreiras na região, no
desenvolvimento do trabalho mecanizado as pedreiras extraem a pedra na produção de brita
para material de construção, e também “as pedreiras trabalham com diamante só que a
população nem fica sabendo por que o dono da pedreira paga mensalidade para o
garimpeiro. O garimpeiro não tem participação no diamante, então ele não tem nem
interesse em saber se pegou ou se não pegou”. (OPALA)
Assim, em relação à participação na extração do diamante diferenciada em dragas e
pedreiras no contexto atual.
Verifica-se que:

“Quando era draga o garimpeiro tinha participação na venda do diamante,


o percentual, então todos eles interessavam saber se tinha pegado naquele
dia ou não, era eles próprios que lavam o cascalho. Hoje na pedreira ele
extrai a pedra que pra britar ou material de construção, pedra pequena, ou
areia para construção, pedra para construção, brita para asfalto e o
restante ele é jogado numa parte fina da pedreira da máquina ai se o
garimpeiro, se um cara quiser lavar, lava porque ele mesmo resume. Então
o garimpeiro não fica nem sabendo se pegou ou não porque ele não tem
participação no diamante, ele tem participação fixa, o salário. A draga é
diferente, 20% é do garimpeiro. Então, quando trabalhava na draga o
garimpeiro acompanhava até a venda eles que levavam. As vezes, o próprio
draguista tem um que é o gerente ele que vai vender, claro o patrão vai tá
junto, mas é ele que levava o diamante e vendia”. (OPALA)

Neste sentido, podemos considerar que o garimpo ainda tem uma parcela da rotação
econômica do município de Poxoréu? Nas considerações expostas na entrevista, “pouco, hoje
não dá 5%, quem vive do garimpo é só o pessoal das pedreiras. Mas esse garimpo só dá
dinheiro para o dono da pedreira, porque para os outros dá o emprego”. (OPALA). E ainda
93

afirma que “de todas as pedreiras extrai-se o diamante, mas esse diamante só dá lucro para o
dono da pedreira, para os outros não”.
Alguns estudos significativos foram levantados para perceber que a mineração precisa
ser rigorosamente fiscalizada, pois traz danos irreparáveis ao meio ambiente.
Vejamos:

Em 1993 o DNPM realizou um levantamento nacional dos garimpeiros, que estimou


que a população garimpeira em 1993 estivesse entre 300.000 a 400.000 pessoas,
61% na Amazônia, particularmente nos estados do Pará e Mato Grosso, 20% nos
estados do Centro-oeste, 8% no Sudeste, 7% no Nordeste e 4% no Sul. A maioria
dos garimpeiros pesquisados pelo levantamento dedicava-se à produção de ouro,
cerca de 73%, seguindo-se as gemas com 11%, diamante com 10%, cassiterita com
1%, e 6% na categoria outros minerais (BARRETO, 2001). Em um trabalho mais
recente, NASCIMENTO (2000) estimou que existam cerca de 600.000 pessoas no
garimpo, principalmente nos estados de Rondônia (rio Madeira),norte de Mato
Grosso (pequenos afluentes do alto rio Teles Pires e alto Juruema) e Pará
(principalmente ao longo dos rios Tapajós, Tocantins e Araguaia) (AZEVEDO e
DELGADO, 2002, p. 9-10).

Especialmente no Centro Oeste, as pesquisas indicam as principais regiões de garimpo


são, em

Rondônia, garimpos de ouro nas regiões do Alto e médio rio Madeira e rio Paranari-
Amana; em Mato Grosso, garimpos de ouro em Alta Floresta e Peixoto de Azevedo
(que atualmente já estão praticamente esgotados), e diamante em Poxoréu; em Goiás
garimpos de cassiterita em Campo Alegre, de esmeralda em Santa Terezinha e de
quartzo e diamantes nos vales dos rios Paranaíba, Claro e Araguaia, no município de
Cristalina (SCLIAR, 1996 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 10).

No Mato Grosso do Sul existem garimpos de diamante no leste do Estado, nos cursos
dos rios Jauru, Taquari, Piqueri e Coxim e na borda Noroeste da Bacia do Paraná, nos
municípios de Pedro Gomes, Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Corguinho, Rochedo e
Aquidauana; garimpos de cobre, chumbo e zinco no município de Bodoquena; garimpos de
ouro nos municípios de Bonito, Maracaju e Coxim (SILVA, 1990 apud AZEVEDO e
DELGADO, 2002).
Uma característica dos garimpos são os conflitos entre garimpeiros e empresas
mineradoras. O governo chegou a criar algumas áreas especiais para garimpeiros, a fim de
resolver conflitos mais graves: em 1978 foi criada a reserva garimpeira do rio Madeira, em
Rondônia, para a exploração de ouro, e a reserva garimpeira de Poxoréu, no Mato Grosso,
para a exploração de diamantes (SCLIAR, 1996 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 10).
A realidade em direção às práticas de extração de diamantes podem ser encontradas
nas pedreiras, porém não declaradas, pois atualmente são direcionadas à construção civil.
94

Assim:

“Acho que isso nem é mais garimpo, que eles nem estão mais atrás do
diamante, eles tão vendendo material para construção, e isso ai nós estamos
numa luta danada em cima das pedreiras, porque as pedreiras agora que
estão começando a dar nota fiscal, a prefeitura tem fiscalizado com rigor.
Se você ficar aqui passa de 20 a 30 caminhões para Rondonópolis, em
direção a Santos carregados de material de construção, e se não cuidar eles
passam todos sem nota. Para Primavera, das 15 pedreiras, saem 100
caminhões de material de construção todos os dias, com areia, brita para
asfalto, pedrisco para construção. Primavera e Campo Verde foi construído
100%, não só as casas, mas as ruas, a pavimentação, 100% com material de
Poxoréu. E Poxoréu viu muito pouco disso ai, ta vendo agora, ta
começando a ver agora porque os outros não tiveram”. (OPALA)

São muitos os entraves, os quais dificultam a fiscalização, pois:

“A gente vai à Secretaria de Fazenda em Cuiabá na Receita eles não dão


respaldo para gente fiscalizar na rodovia, porque a rodovia é estadual e
disse que nós só podemos por um fiscal lá se tiver o tráfego for menor que
50 carros por dia, aqui passa mais de 3mil carros por dia. Agora que vai ser
bom com a terceirização da rodovia, vai ter fiscalização e balança lá e na
saída de Rondonópolis. Primeiro eles estragam, não deixa o recurso para
Poxoréu e trafegam com peso acima da capacidade da estrada, exploram
toda a estrada”. (OPALA)

Deparamos-nos também com aspectos contraditórios no sentido de fiscalização do


garimpo, pois em alguns relatos percebe-se que: “o diamante sempre foi fiscalizado sem
fiscalização, e agora também não compensa fiscalizar. Hoje a área de diamante é muito
pequena, agente teria que fiscalizar a saída do material”. (OPALA)
A atividade garimpeira segundo os dados de Azevedo e Delgado (2002, p. 9), no
Brasil:

[...] responde por mais de 85% da produção oficial, ou por mais de 91% da
estimada; dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que, no Brasil,
existem cerca de 10.000 empresas pequenas e médias atuando no ramo de
mineração, gerando entre 100.000 e 250.000 empregos, com 90% de informalidade
no trabalho (VALE, 2000). O caráter informal e clandestino dessas atividades, que
dificilmente são fiscalizadas pelas autoridades competentes, acaba resultando em
degradação ambienta l16 e más condições de segurança e de saúde dos
trabalhadores, permitindo a intensa exploração do trabalho e a exploração
indiscriminada dos recursos naturais.

O setor de arrecadação das empresas que desenvolvem atividades mineradoras é a


95

CFEM22 que de acordo com os relatos de Opala, o valor cobrado é de:

“[...] é de 3% sobre o valor da produção, como eles “as pedreiras” não


emitem nota não chega para o município, eles pagam hoje o alvará e o
licenciamento. Mas, a prefeitura tem todo o documento de algumas
empresas, inclusive uma grande que vai vencer agora dia 30, e todas
poderão ser fiscalizadas. Todo esse documento aqui é referente a CFEM que
é o que ele tem que pagar sobre a mineração, tem uma delas que é muito
grande enquanto as outras tem tudo isso aqui, essa outra grandona aparece
aqui. Ela coloca que recebeu R$ 32,00 reais no mês de Junho, essa pedreira
tem 15 carretas ai vem recolher imposto de R$ 35,00 reais no mês, e R$
40,00 no outro, enquanto que outra, que tem duas carretas recolhe R$
1.000,00 por mês de imposto. O caminhoneiro carrega uma nota manual,
que não pode ser manual tem que ser eletrônica, carrega a nota manual sem
data, quando o pessoal “pega” o caminhoneiro ele coloca a data, aquela
nota ta andando ai um mês no painel com a mesma nota. Então isso ai vem
sendo feito há anos. Então o município tem tido prejuízo enorme com a falta
de apoio do próprio governo pra fiscalizar e esses caras cada vez mai rico”.

Ainda em relação às pedreiras:

“Eles fazem o que querem, tem uma pedreira que tira oito caminhões por
dia, e sabe o que ele faz, tira com uma nota fiscal só, não sei como ele
consegue (porque tem que tirar na hora), não tem controle porque estão
andando sem nota, porque para Rondonópolis não tem fiscalização. O
Imposto da Mineração – CFEM, conseguimos neste mandato e foi muito
bom, porque nenhuma pedreira pagava o CFEM, agora todos pagam, até
para controlar a questão do lixo. Há três anos tinha 6 mil reais na conta do
CFEM, no segundo ano 16 mil, neste ano foi 27 mil. A expectativa é de
alcançar os 50 mil no próximo ano”. (ÁGATA)

Neste sentido, cabe ao município e ao Departamento Nacional de Produção Mineral -


DNPM, autarquia vinculada do Ministério de Minas e Energia, baixar normas e exercer a
fiscalização sobre a arrecadação da CFEM.
Ao se referir às pedreiras em Poxoréu relacionadas às formas de garimpo, Ágata
aponta que, [...] “atualmente existem as pedreiras, a maioria delas realizam a garimpagem
do diamante camufladamente”.

22
A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida pela Constituição de 1988,
em seu Art. 20, § 1o, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da
União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. Ao
Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM compete baixar normas e exercer fiscalização sobre a
arrecadação da CFEM (Lei Nº 8.876/94, art. 3º - inciso IX). Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/
conteudo.asp?IDSecao=60 – Acesso 01/08/2012.
96

Desta maneira:

“Só tem duas pedreiras que tiraram a licença para a garimpagem, o resto
trabalha e vende clandestinamente, e preciso que o DNPM fiscalize, esteja
presente, em três anos, estiveram aqui uma vez só, temos 11 pedreiras
atuantes, totalmente sem fiscalização, a devastação está grande, tenho uma
grande frustração em relação a isso, não consegui controlar isso, pois há
muita politicagem, sempre que monta uma ação, os políticos não deixam. O
promotor disse que ia organizar o garimpo (as pedreiras) - fez um pacto
ambiental com elas, se reuniu com o prefeito, o coordenador da mineração.
Disse para montar uma fiscalização e se não houver controle é para chamar
a polícia, para tomar iniciativa. Mas, o prefeito não concordou”. (ÁGATA)

Identifica-se que o município de Poxoréu ainda desenvolve a extração do diamante, a


cidade que nas décadas de 1950 a 1960 foi considerada a “cidade dos diamantes”, mantém
uma grande concentração de uma nova riqueza, que em meio às pedras para a construção
civil, há indícios da existência de diamantes. No entanto, as pedreiras que geram emprego a
muitos trabalhadores, uma saída para a estagnação econômica do município, não se
responsabiliza com o pagamento de impostos, assim há que ser enfrentados diversos desafios
diante dos relatos aqui expostos:

“As pedras que são rejeitos principais das Pedreiras abastecem Primavera
do Leste, Rondonópolis, as casas são feitas com as pedras e com a mesma
perversidade de antes, porque se o garimpo não deixava um centavo de
renda, com a pedreira acontece a mesma coisa estão condicionadas a um
alvará de 2 mil reais e ganham 1 milhão ao ano, saem muitos caminhões por
dia, pouco é declaro. Não fica nada para o município. Quem tem poder
econômico abre a sua empresa. E em termo de riqueza para o município,
não fica nada, para o restante da população fica com a degradação
ambiental, a violência, problema social. Por um lado continua o garimpeiro
neste mesmo trabalho, não mais com o diamante, mas agora com as
pedras”. (JASPE)

Em relação às alíquotas aplicadas para o cálculo da CFEM sobre o faturamento líquido


para obtenção do valor variam de acordo com a substância mineral, como por exemplo:
aplica-se a alíquota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio. E
aplica-se a alíquota de 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e
metais nobres (DNPM, 2012).
Segundo informa o DNPM (2012), com a arrecadação dos recursos originados da
CFEM, o rendimento deve ser utilizado e aplicado em projetos, que direta ou indiretamente
revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade
ambiental, da saúde e educação.
97

A questão ambiental é fator preocupante, pois os garimpos de Poxoréu devastaram a


vegetação da área garimpada. As práticas mais comuns conforme as necessidades dos
garimpeiros para facilitar o trabalho era a derrubada de árvores utilizadas nos desvios de
riachos ou regos d’água, denominada “viradas”.
Desta maneira, os garimpos são potenciais colaboradores da degradação do meio
ambiente, transformam completamente a vegetação natural, interferem nos cursos d’água,
causando sérios danos à relação socioambiental.
Diante dos relatos em relação à questão ambiental não sobrepõe a arrecadação dos
impostos, vejamos:

“Foi feito um trabalho muito grande de recuperação nas pedreiras, em


outros setores como parte financeira que o município vinha perdendo e se
não fizer isso ai, infelizmente tem que cobrar, administrar é assim, o
município tem que parar com esse negócio de que a prefeitura tem que dar
tudo. Para crescer o cidadão tem que cobrar, mas, tem saber das obrigações
dele também. Somos um município que foi criado sem projeto, toda cidade
garimpeira não tem projeto, uma rua começa aqui, um bairro começa ali e
não se sabe onde termina, a pessoa acha que não deve pagar IPTU, ele não
deve pagar água, ele não deve pagar nada, mas tem que cobrar tudo do
município. A partir disso os impostos foram mandados para o cartório,
ninguém tinha mandado ainda”. (OPALA)

O município instituído na década de 1930 em sua larga trajetória apresenta sinais de


grande dificuldade atual em desenvolver-se, tanto pela questão de gerenciamento atrelado a
uma cultura de garimpo a qual menciona Opala “quanto na busca por estratégias de geração
de emprego e renda para o município. Para tanto, muitos estudos são desenvolvidos em
Poxoréu no tocante as possibilidades de utilizar seus recursos naturais e a produção de
artesanatos e joias decorrentes do aproveitamento de pedras semipreciosas”.
Alguns estudos acerca da questão ambiental já foram realizados na região de Poxoréu,
apresentamos aqui um mapeamento geológico ambiental realizado pelo Departamento de
Geografia/Universidade Federal de Mato Grosso, que segundo aponta ROSA (2007, p. 1),
este estudo foi desenvolvido no:

Distrito do Alto Coité, no município de Poxoréu, [...] conhecida como Planalto dos
Alcantilados, na porção Sudeste do Estado de Mato Grosso, em associação com
estudos geológicos, geomorfológicos e sócioeconômicos, para ser estabelecida sua
divisão em unidades ambientais. Esta região ainda é palco de atividades garimpeiras
para a busca de diamantes, o que vem apresentando problemas relacionados com sua
qualidade ambiental. Desta forma esse mapeamento foi realizado [...] através do
Projeto de Pesquisa denominado “Estudo das Rochas com Potencial para o
Desenvolvimento de Crostas e suas Relações na Elaboração do Relevo nas Áreas
das Bacias Hidrográficas do Alto Rio Paraguai, do Rio Juruena e do Rio Teles Pires
no Estado de Mato Grosso”.
98

As evidências do garimpo (Figura 12) em pleno desenvolvimento na região de


Poxoréu demonstradas por Deocleciano Bittencourt Rosa (2006).

Figura 12 - Detalhe da garimpagem de diamantes em franca atividade na margem


direita do Rio Coité.
Fonte: Deocleciano Bittencourt Rosa, 2006.

Os estudos realizados pelo Departamento de Geografia/Universidade Federal de Mato


Grosso de no distrito de Alto Coité e região demonstram que:

[...] esta área apresenta problemas sérios no que tange à questão ambiental, alguns
relativos a acontecimentos naturais, embora, a maior parte seja resultado de
intervenções de natureza humana, que são oriundas do uso indevido do solo, dos
desmatamentos, sobretudo, para a atividade garimpeira desenfreada, tal como
pudemos observar nos trabalhos de campo na região (ROSA, 2007, p. 18).

No aspecto legal a Política Nacional do Meio Ambiente sob a Lei N. 6.938/81 em seu
Art. 2º - ressalta que,

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e


recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes
princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do
solo, do subsolo, da água e do ar; III - planejamento e fiscalização do uso dos
recursos ambientais;

Nas considerações de Rocha (2012), assim como o garimpo, também as atividades


99

agropecuárias em Poxoréu, muito da degradação ambiental ocorrente também proveniente das


atividades agropecuárias mal conduzidas onde as Áreas de Preservação Permanente 23 (APPs)
e as áreas de Reserva Legal (RL) são desrespeitadas junto ao mau uso dos solos e das águas.
Ainda como agravante no tocante a degradação ambiental provocada pelo garimpo, os
recursos naturais tornam-se mais escassos, mesmo na busca por alternativas, como na
agricultura, por exemplo, pois:

O uso da agricultura em áreas degradadas em Poxoréu se tornou inviável devido


principalmente à fragilidade e infertilidade de seus solos. Muitos agricultores se
viram obrigados a migrarem para a zona urbana da cidade e para os municípios
vizinhos, em busca de oportunidades de trabalho. A cidade de Poxoréu não mais
prosperou e hoje vive praticamente do FPM (Fundo de Participação dos
Municípios). Os agricultores mais tradicionais, com suas propriedades degradadas
pelo garimpo, ainda não as abandonaram e tem usado a pecuária como alternativa,
porém sem muito êxito, tendo em vista o baixo aproveitamento das áreas degradadas
para essa atividade (SILVA e MATTOS, 2011, p. 359).

Criados os instrumentos para o licenciamento da exploração mineral em Mato Grosso,


dado apontados pela Secretaria de Estado e Meio Ambiente (SEMA, 2011), afirmam que no
final da década de 80, as atividades de exploração mineral, principalmente os garimpos de
ouro e diamante, estavam em pleno desenvolvimento nas diferentes regiões do Estado de
Mato Grosso. Desta maneira, em 1990, através da Resolução/Fema nº 003/1990, instituindo
um roteiro básico para apresentação de Projetos de Controle Ambiental, em conformidade
com a legislação ambiental, Lei Estadual Nº 4894 e código de mineração – Decreto Lei nº
227, de 28 de fevereiro de 1967, dando inicio então ao licenciamento ambiental da atividade
mineradora no Estado de Mato Grosso (KLENER, 2011, p. 1). Destacamos também a Lei N.
9433/1997 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Em se tratando das atividades das Pedreiras em Poxoréu apresentamos no quadro
abaixo algumas multas do Ministério Público, instauradas pela Promotoria do Estado.

23
Segundo o Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), área de preservação permanente é toda aquela constante
em seus artigos 2º e 3º, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.

Lei N. 9433/1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
100

Tabela 2 – Portarias Instauradas contra crimes ambientais em Poxoréu.

Número de Portarias Data Local Registro Pedreiras/ Possui Licença


Garimpos Ambiental
018/2010/IC/MPPOX/MT 03/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.T. Não
atividade potencialmente
poluidora (Garimpo de
Diamante) em APP
019/2010/IC/MPPOX/MT 03/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais Garimpo M.P. Não
atividade potencialmente
poluidora (Garimpo de
Diamante) em APP
020/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais Fazenda Não
atividade potencialmente Propriedade
poluidora (Garimpo de Particular
Diamante) em APP
021/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.F. Não
atividade potencialmente
poluidora
(areeira, pedreira e
garimpo de diamante) em
APP
022/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.B. Não
atividade potencialmente
poluidora (areeira,
pedreira e garimpo de
diamante) em APP
023/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.M. Não
atividade potencialmente
poluidora em APP
024/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes ambientais seixos ME-P.P. Não
e areia - atividade
potencialmente poluidora
em APP
025/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.Z. Não
atividade potencialmente
poluidora em APP
026/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.C. Não
atividade potencialmente
poluidora em APP
027/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais ME-P.S.L Não
atividade potencialmente
poluidora em APP
028/2010/IC/MPPOX/MT 04/08/2010 Poxoréu Crimes Ambientais EMPRESÁRIO Não
atividade potencialmente
poluidora às margens do
Rio Córrego do
Giácomo, em APP.
Fonte: Ministério Público do Estado de Mato Grosso, 2012.

A evidência diante do quadro acima reflete o descaso no tocante às Áreas de


Preservação Permanentes – APPs, quanto à ilegalidade ambiental, e o desenvolvimento das
atividades extrativistas sem a devida preservação e autorização ambiental, onde se instalam as
101

Pedreiras em Poxoréu, os crimes datam do período de 2010, estes são amparados pelo Decreto
n. 3.358/2000 que expõe no:

Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei no 9.827, de 27 de agosto de 1999, dispondo


sobre a extração de substâncias minerais de emprego imediato na construção civil,
definidas em portaria do Ministro de Estado de Minas e Energia, por órgãos da
administração direta e autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, para uso exclusivo em obras públicas por eles executadas diretamente,
respeitados os direitos minerários em vigor nas áreas onde devam ser executadas as
obras e vedada a comercialização (MP – NORMAS AMBIENTAIS, 2012).

São condições da extração previstas no:

Art. 2o A extração de substâncias minerais de emprego imediato na construção civil,


definidas em portaria do Ministro de Estado de Minas e Energia, por órgãos da
administração direta e autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, para uso exclusivo em obras públicas por eles executadas diretamente,
depende de registro no Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM,
autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, na forma do disposto neste
Decreto (MP – NORMAS AMBIENTAIS, 2012).

Nos relatos a um dos entrevistados, verificamos que a realidade vivenciada em


Poxoréu quanto a sonegação de impostos e a questão da degradação ambiental em relação às
atividades nas Pedreiras é evidente, pois:

“Aqui agora tem muitas pedreiras, estão em áreas de APP, tem muitos
gaúchos que compraram terras para Pedreiras. Tem um conchavo muito
grande, eles tem mais de 100 carretas, pagam um imposto irrisório, é
preciso rever tudo, estão em áreas de APP. Muitas cidades utilizaram de
nossas pedras, Primavera do Leste está rica com nossas pedras, compra
muito para construção civil, a Rodovia de Paranatinga utilizou para fazer
piso de asfalto, foi feito com as nossas pedras”. (JASPE)

Desta maneira, visualizamos uma nova prática de garimpo em Poxoréu, através das
Pedreiras, que desenvolve uma prática na produção de pedras para a construção civil, no
entanto ocorre a extração do diamante em algumas delas. A região é rica em recursos
minerais, porém:

O Plano de recuperação de áreas degrada foi instituído pelo Decreto 97.632/89, e


deve ser apresentado pela empresa mineradora, especificando a atividades a serem
realizadas para recuperar as áreas degradadas pela mineração. O EIA/RIMA é
exigido para se obter licenciamento ambiental, e está definido na resolução
CONAMA 01/86. O Estudo de Impacto Ambiental 24 (EIA) é um conjunto de
atividades técnico-científicas destinadas à identificação, previsão e valoração dos

24
Autorização concedida pelo poder público para o funcionamento de quaisquer empresas poluidoras, como as
extrativas minerais (Lei 7.804/89 e Decreto Federal 99.274/90).
102

impactos, e à análise de alternativas. As conclusões do EIA são apresentadas no


Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Devido ao caráter informal dos garimpos,
estas recomendações dificilmente são seguidas (AZEVEDO e DELGADO, 2002, p.
11)

O impacto ambiental causado pelas lavras de diamantes e demais gemas são: erosão;
desmonte de rochas com acumulação de pilhas de cascalho, suprimindo a vegetação;
construção de diques nos riachos e canais de água para suprir a lavagem de cascalho e
assoreamento dos cursos d'água (BAXTER, 1988 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p.
18).
Nos estudos de Azevedo e Delgado (2002) indicam que com a diminuição da
produção e estagnação dos garimpos, no final dos anos 80 aos anos 90, provocou uma
diminuição populacional, com a retomada de atividades agropecuárias, menos intensivas no
uso de mão de obra. Este fenômeno é observado em regiões, principalmente que atraíram
garimpeiros, que com a estagnação da atividade ficam sem opções de trabalho, ocasionando
graves problemas para o município, que além dos problemas sociais e econômicos herdam os
problemas ambientais provocados pela mineração. Esta é uma realidade de Poxoréu por ter
perdido populações ao longo dos anos.

Tabela 3 - Apresentamos na tabela abaixo a queda populacional no município.


Ano 1970 1980 1991 1996 2000 2007 2010
População 27.431 28.054 23.878 21.846 20.030 17.592 17.381
Fonte: IBGE. Censos Demográficos de 1970 a 1991 e Contagem populacional.

É de responsabilidade do Estado e da sociedade em reverter às ações prejudiciais ao


meio ambiente, assim como Poxoréu e as demais cidades, é preciso romper com a degradação
ambiental para que minimize as ações prejudiciais na relação ser humano e natureza, para que
as atividades sejam sustentáveis.

3.4 A LAPIDAÇÃO EM POXORÉU: a mulher à frente do novo garimpo

A prática da Lapidação25 em Poxoréu, idealizada desde 1982, ainda como projeto


embrionário já prevendo a estagnação do diamante na região é pensado em estratégias de
elevar o município ao auge da produção de pedras, agora semipreciosas.

25
A lapidação é um tratamento as quais são submetidas as gemas a fim de obter a forma que mais ressalte a sua
beleza, bem como o máximo de brilho. Compreende várias fases: corte, formação, facetamento e polimento. Nas
gemas transparentes a lapidação deve ser tal que proporcione o retorno da luz que nela penetra na mesma direção
103

Nos relatos à fonte pesquisada verificamos que:

“Este projeto foi pensado há 20 anos, a proposta inicial do projeto de


lapidação foi apresentada ao prefeito na época, ele aprovou e inclusive
doou uma área de terra para a implantação da Escola de Gemologia26. Fui
a Anápolis, conhecer a Escola de Gemologia, voltei encantada e
propuseram mandar um gemólogo para ficar seis meses ensinando. Ao
voltar a Poxoréu, muitos vereadores ficaram loucos pelo projeto, e isso me
fez desistir, mesmo que por falta de recursos na época”. (ÁGATA).

Em entrevista ao Jornal eletrônico Olhar Direto (2009, p. 2):

A oficina de lapidação foi idealizada pela Secretária Municipal de Indústria,


Comércio e Mineração de Poxoréu que, “há 20 anos estou tentando realizar este
sonho. Na época eu era presidente da Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade. Tentei de várias maneiras emplacar o projeto, mas foi após minha
filiação no PT que consegui, porque conheci o deputado Alexandre Cesar que
interveio captando os recursos no Ministério”, explicou.

Ainda na fase inicial:

“Junto com o presidente da METAMT (já falecido) elaboramos o Projeto


das Gemas em 1996, na época esteve aqui o Ministro das Cidades,
apresentamos este projeto em fórum. Foi desenvolvido com o objetivo de
possibilitar a empregabilidade, pois temos matéria prima em abundância, a
formação geológica daqui permite o afloramento de gemas, e para
contribuir com a empregabilidade, por conta da miserabilidade em
Poxoréu”. (JASPE)

Ágata, ao saber que o projeto sonhado estava sendo desenvolvido em Diamantina-MG


buscou apoio do Ministério da Integração Nacional, e após dois anos as portas se abriram, foi
uma luta muito grande e empenho de políticos que abraçaram o projeto. E assim, na gestão
atual, o prefeito abraçou totalmente a causa e implantou o projeto.
O sonho se realiza:

Os recursos para a oficina, no valor de R$ 105 mil, foram captados do Ministério da


Integração Nacional – Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste. Os parceiros
são a prefeitura municipal com contrapartida de R$ 20 mil, o SEBRAE e a
Secretaria Estadual de Indústria, Comercio, Minas e Energia (SICME). O município
de Poxoréu, localizado há 259 km da Capital, inaugurou oficialmente nesta quinta-

e com intensidade máxima. MORAES, Pércio. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. Editora Oficina de
Texto, 2008.
26
A Gemologia é um ramo da ciência proveniente da mineralogia, com participação da cristalografia, química e
física. A gemologia é a ciência que estuda gemas. Disponível em: http://gemologia.webnode.com.br/gemologia.
104

feira (10) sua primeira oficina de lapidação de gemas semipreciosas. As aulas da


primeira turma começaram em dez de agosto com 22 alunos, sendo dois deficientes
físicos (OLHAR DIRETO, 2009, p. 2).

A escassez do diamante é uma realidade:

Conforme a secretária diz, a vocação do município é de exploração mineral, mas ela


percebeu a necessidade de criar uma alternativa ao diamante que se tornou escasso.
“Os garimpeiros só sabem mesmo garimpar e eles precisam de uma alternativa ao
diamante. Daí a ideia da lapidação de gemas semipreciosas, que tem mais valor no
exterior que no Brasil” (OLHAR DIRETO, 2009, p. 2).

Os estudos revelam diante da análise documental junto à pesquisa de campo, que o


município aposta em estratégias que viabilizem o setor socioeconômico como geração de
emprego e renda. Pois, verificamos no relato de um Lapidário ao explicitar a sua satisfação
em idealizar e em desenvolver este trabalho com tanto talento e apreciação.
Vejamos:

“O projeto das gemas veio já prevendo que a garimpagem do diamante se


tornou algo difícil, pela questão da educação ambiental e a legalização
ambiental ficou mais complicado de garimpar, deixou de ser um diamante
artesanal para ser industrial, tem muito diamante aqui, ele está muito
profundo. Então era preciso criar alternativas. Então, em 1996, no governo
FHC, Poxoréu foi incluído no rol dos municípios brasileiros miseráveis o
IDH era abaixo da linha de pobreza, incluindo Poxoréu no Programa da
Comunidade Solidária, eu fui um dos gestores, e nos exigiu uma atitude de
repensar, criar alternativas, ter uma visão de futuro – trabalhei na
Promoção Social, era preciso pensar o que fazer neste período pós-garimpo,
então começamos a discutir vários projetos: farinheiras, rapadura,
maracujá, artesanato riquíssimo – temos grandes artesãos aqui”. (JASPE)

De acordo com Lacerda (2012), um novo mercado no setor de mineração em Mato


Grosso tem despertado interesse no setor de lapidação e joalheria: o de pedras coradas, as
quais são classificadas como todas as pedras preciosas ou semipreciosas, com exceção do
diamante. O setor vem se preparando não só para a exportação como para o próprio mercado
interno. A tendência do mercado internacional tem se voltado tanto para as pedras em estado
bruto como as lapidadas e trabalhadas em joias ou bijuterias finas, com valor agregado.
Embora possa ser considerada uma nova atividade econômica, alternativa para geração de
emprego e renda, as pedras coradas vinham sendo tratadas como rejeito de garimpo e pouco
aproveitadas.
Nas palavras de Jaspe “o diamante deixou uma fama ilusória de riqueza, e miséria. O
poder paralelo do diamante, o estilo da exploração sempre foi livre, radical, é muito forte e
105

ninguém se interessava por essas gemas de agora.”


No tocante ao Projeto de Lapidação,

“Este projeto é muito interessante, porém foi engavetado, ficou no arquivo


morto. Mas, a Secretária ficou sabendo através de um vereador e quis
negociar o Projeto, então ela disse que encaminharia a alguns políticos que
colocariam uma emenda parlamentar, ela levou para o SEBRAE, foi
repaginado nos moldes do SEBRAE, mandou um pessoal para fazer
pesquisa de campo, para conhecer o produto, e assim foi batido o carimbo,
ficaram entusiasmados e implantaram o Projeto, e o SEBRAE entrou com a
logística. Fizemos cursos durante dois anos, divididos em módulos”.
(JASPE).

Consolidado a partir de 1996, junto aos moradores da cidade, a Secretaria de Indústria,


Comércio, Minas e Energia (Sicme) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE) “com o objetivo de criar um Arranjo Produtivo Local (APL) de Gemas
Preciosas de Poxoréu”. (JASPE)
Retomamos o período de 1960-1979 para destacar o comportamento futuro do
garimpo no significativo fato da retomada no país de modo acentuado o processo de geração
de patrimônio mineral pelo garimpeiro. Assim, desde o ciclo do ouro que as descobertas
minerais feitas pelos garimpeiros não apresentavam grande expressão, estavam amortecidas.
Pois,

Os primeiros empreendimentos de mineração carregados de um novo e definitivo


conceito: a engenharia, que permitia, pela aplicação de instrumentos tecnológicos, a
abordagem de corpos primários por lavra subterrânea e a racionalização e aumento
de produção nos depósitos secundários. Que neste período, fundava-se em Ouro
Preto a primeira Escola de Minas do país (ROCHA, 1984, p. 46).

Grande expressão associada a tecnologias para a produção de joias, assim como os


diversos cursos que possibilitam identificação, avaliação, lapidação e o comércio das peças,
este estão espalhados pelo Brasil, alguns deles podem ser encontrados no endereço eletrônico
da ABGM - Associação Brasileira de Gemas e Mineralogia oferece cursos de Diamantes,
Cursos de Gemologia e Gemas de Cor.
Muitos são ofertados em cursos de graduação pela UFES – Universidade Federal do
Espírito Santo (Curso de Graduação em Gemologia); PUC-RJ - Design de Joias e Ourivesaria
(Pós-Graduação Lato Sensu); Núcleo de Joalheria e Lapidação de Gemas Abramino Sabbagh
- SENAI CFP LUIS CHAVES; Curso de Desenho de Joias – Universidade de Brasília; Escola de
Joalheria do Rio de Janeiro – SENAI; Cursos de Joalheria e Lapidação pelo Centro de Gemologia
106

de Goiás; Curso de Lapidação - Companhia Mato-grossense de Mineração27 (METAMAT); e


outros.
O Jornal Diário de Cuiabá (2012, p. 01) destaca que, o Curso de Gemologia, sendo o
pioneiro no Brasil, oferecendo 120 horas de carga horária, conta com 26 alunos de Cuiabá,
Poconé, Sorriso, de Minas Gerais e outro de Santa Catarina. Dentre os recursos do setor
mineral mato-grossense, as importantes e diversificadas reservas de pedras coradas ocupam
lugar de destaque, porém há carência de profissionais qualificados para a identificação desses
minerais. Para superar esse vazio, um grupo de instituições representativas e públicas se uniu
e criou o Primeiro Curso de Gemologia de Mato Grosso.
Este processo iniciado em Poxoréu despertou interesse para demais regiões de Mato
Grosso, pois:

“Depois de nós, já se iniciou o processo em Nortelândia (o prefeito é muito


arrojado, já montou o prédio, as máquinas) e Tesouro, o minério em Mato
Grosso está muito forte, me parece que somos uma nova Minas Gerais, pela
diversidade de pedras – só não descobrimos se temos a esmeralda. Em
Planalto da Serra tem uma Mina de Cristal. Este mesmo projeto já tem em
Tesouro, tem o livro da Metamat que mostra toda mineração em MT. Temos
todo o tipo de pedra em MT, em Poconé temos o cristal rutilado no branco,
o cristal escuro também, além do garimpo de ouro”. (ÁGATA)

Elencamos os parceiros do Projeto de Lapidação em Mato Grosso:

O curso é promovido pela Associação Profissional dos Geólogos de Mato Grosso


(Agemat) em parceria com a Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat),
Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz), Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e
Energia (Sicme), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), Associação Brasileira de Gemologia e
Mineralogia (ABGM), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(CREA) e Receita Federal. A carga horária de 120 horas e as aulas são coordenadas
pela empresa MT Broker Treinamento Empresarial, no Núcleo de Lapidação de
Pedras Coradas da Metamat, em Cuiabá (LACERDA, 2012, p. 2).

Segundo dados do Diário de Cuiabá (2012), o curso acontece no momento em que


Mato Grosso se prepara para avançar no setor mineral. Este preparo assegura o mercado de
trabalho aos participantes, os quais receberão Certificado de Habilitação expedido pela
ABGM, que é autoridade mineral nacional para esta atividade.
A especialização do trabalho é fundamental para o aquecimento e agilidade no
processo até a finalização da comercialização (Figura 13) do produto, sendo que:

27
A METAMAT está vinculada à Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme).
107

A capacitação de gemólogos28 mato-grossenses foi de extrema importância para


fortalecimento do setor, facilitando a dinâmica da comercialização. O mercado
comprador exige laudos técnicos das pedras para sua valoração e origem. Para isso,
era preciso enviar as pedras para os laboratórios das associações de gemólogos nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais ou Bahia. O processo demorava
cerca de 30 dias para a emissão do laudo, o que resultava, muitas vezes, na
desistência do comprador e na perda da venda. Após o curso e credenciamento,
Mato Grosso dispõe de 27 gemólogos que podem emitir os laudos técnicos para a
comercialização e exportação das pedras coradas (LACERDA, 2012, p. 1).

Para que buscar o fortalecimento do Projeto, a Secretária de Indústria e Mineração de


Poxoréu buscou parcerias e o projeto entra em execução com gerenciamento técnico do
SEBRAE e recursos do Ministério da Integração Nacional, da Secretaria Estadual de Indústria
Comercio, Minas e Energia.

Figura 13 - Oficina de lapidação em Poxoréu – o novo garimpo


Foto: Jonas Silva. Agência SEBRAE de Notícias MT, 2012.

Com os profissionais especializados em lapidação (Figura 13) a pretensão é que


Poxoréu seja referência nas áreas de recursos minerais, transformando-os em riqueza através
com sustentabilidade ambiental e econômica, fundamentados na qualidade, no
profissionalismo e empreendedorismo.
As fontes naturais são abundantes, notemos que:

“[...] temos mais de 10 tipos de pedras coradas, eles falam pedras coradas,
que nem os garimpeiros sabiam, eles sempre foram atrás do diamante e

28
Os gemólogos são pessoas que estão capacitados a classificar gemas, tendo conhecimento básico da
gemologia, nomenclatura, históricos, províncias gemológicas, lapidação, tipos de gemas, natureza e propriedades
das gemas. http://gemologia.webnode.com.br/gemologia.
108

jogavam essas pedras ai, nós temos um material para 100 anos de trabalho
sem precisar escavar o chão, só com a que foi tirada do subsolo e foi jogada
no solo, então nós temos coisa ai pra 100 anos”. (OPALA)
“Aqui temos uns 10 tipos de pedra, a Safira (tem um valor grande), ônix,
citrino, jaspe e ágata, estas duas últimas são mais valorizadas atualmente.
Antes as pessoas vinham buscar as pedras aqui e levava a preço de banana,
às vezes nem cobravam, pois os garimpeiros só se interessavam pelo
diamante. Não tinham ideia do valor que se teria”. (ÁGATA)
“A nossa Opala não tem igual, é diferente da Austrália e do Piauí, aqui
temos várias gemas, como: Ágata; Jaspe; Onix; Opala; Safira; Granada;
Berillo etc.” (JASPE)

Desta parceria surgiu o Consórcio Empresarial, composto por onze lapidários. A


Secretária afirma que os lapidários:

“Atuam com seus maquinários, sendo uma empresa individual, outra minha
que está quase pronta, através dos maquinários, pretendo produzir bolinhas
para a confecção de colares, e tem as pessoas que não tem condições para
montar a própria e procuram a Oficina de Lapidação para aprender”.
(ÁGATA)

A ideia inicial da Oficina de Lapidação (Figura 14) era para agregar filhos de
garimpeiros, mas nas palavras da Secretária Municipal de Comércio, Indústria e Mineração,
“os jovens não se interessam, não há antigos garimpeiros neste novo processo, pois hoje são
aposentados, encostados, já velhos, hoje a garimpagem sai muito caro para o garimpeiro.” E
em relação às mulheres garimpeiras, a mesma diz que nas pedreiras não tem mulheres
trabalhadoras no garimpo, “mas na lapidação sim, tem muitas.” (ÁGATA).

Figura 14 - Prédio histórico onde se instala a Oficina de Lapidação em Poxoréu.


Fonte: Gemas e Joias de Poxoréu, /10/2011 as 11h51 .29

29
Disponível em: http://gemasejoiasdepoxoreu.blogspot.com.br/2011/10/historia-da-lapidacao-em-poxoreu.html.
109

As pessoas de Poxoréu estão interessadas no projeto, é o que nos aponta Jaspe, “os
lapidários são pessoas daqui, são filhos de ex-garimpeiros. O SEBRAE investiu tudo, estão
sempre por aqui. Individualizei tenho a minha própria lapidação. Tenho todo o maquinário, é
tudo muito caro. Precisamos adequar o maquinário.”
O grande desafio para os lapidários de Poxoréu é montar a Ourivesaria, com
possibilidade através de uma emenda parlamentar para apoiar trabalhadores de ourivesaria e
fundição de Poxoréu com recursos no valor de R$ 200 mil (RDNEWS, 2010, p. 1).
O projeto conta com a habilidade e competência profissional de Design de Joias, no
desenho das peças, e muitas outras as quais foram premiadas internacionalmente. Segundo
Ágata,

“[...] as peças são lapidadas em Poxoréu e enviadas à designer e depois


para São Paulo para a montagem da joia. A pretensão para lapidação é
implantar a empresa de Cravejamento em Poxoréu, o processo está em
andamento, no aguardo da liberação do financiamento através do Banco do
Brasil para a implantação deste projeto como Escola”.

Além do Cravejamento das Joias, projeto este motivado pela exportação, que diante
dos relatos de Ágata a expectativa referente à lapidação afirma que: “em três anos de
implantação da Lapidação estamos caminhando bem, há uma empresa do Canadá
interessada nas pedras, porém há uma série de exigências para a exportação, todos os
lapidários são cadastrados no COAF30 – Conselho de Controle de Atividades Financeiras,
mas há muita procura, vendemos muitas peças para Brasília.”
Na técnica de lapidação foram capacitadas três turmas, Ágata aponta que “todas as
vagas foram preenchidas no curso havendo interesse da população em aprender. Agora
estamos esperando a próxima etapa para o próximo passo do andamento do projeto, pois
paramos no design, foi feito todas as aulas e o SEBRAE ainda não sinalizou a vinda para dar
continuidade com a terceira turma, que inclusive as outras duas turmas foram convidadas
para participar. De todos as 50 pessoas que foram treinadas, somente 20 estão atuando.”

30
Art. 1º O Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, órgão de deliberação coletiva com
jurisdição em todo território nacional, criado pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, integrante da estrutura do
Ministério da Fazenda, com sede no Distrito Federal tem por finalidade disciplinar, aplicar penas
administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas em sua
Lei de criação, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. Parágrafo único. O COAF poderá
manter núcleos descentralizados, utilizando-se da infraestrutura das unidades regionais dos órgãos a que
pertencem os Conselheiros, objetivando a cobertura adequada de todo o território nacional. (COAF CAPÍTULO
I - DA NATUREZA E FINALIDADE, COAF, 2012).
110

No processo de aprendizagem destacam-se na prática da Lapidação, atividades para


dar identidade ao produto criado, assim acontece na Oficina de Desenvolvimento da
Identidade Local, Embalagem (Figuras 15) e a Oficina Design, cada uma com 16
participantes, na data de hoje (20/10/2011, realizada pela designer Karina Achôa de São
Paulo. Os resultados destes trabalhos serão apresentados no evento “Mato Grosso
Esplêndido” no final de novembro, junto com o Seminário de Design, promovido pelo
SEBRAE (BLOG GEMAS E JOIAS DE POXORÉU, 2011, p. 1).

Figura 15 - Oficina de Desenvolvimento da identidade local, embalagem e a


oficina design, tendo a participação efetiva das mulheres.
Fonte: Oficina de Identidade Local – Blog Gemas e Joias de Poxoréu, 2011.

Em relação à característica das pedras de Poxoréu nos relatos de Ágata explica que:

“Todas as nossas pedras são “roladas” (quer dizer que são brutas, roladas
no rio) o processo natural delas, e algumas vem como se fossem lapidadas.
São essas as preferidas, escolhidas pelo lapidário. Temos em abundância a
ágata e a jaspe. A diferença entre elas é que a ágata é transparente e a jaspe
não, a nossa ágata é diferente com a do Rio Grande do Sul. Cada pedra tem
uma cor própria, inclusive não aceitamos encomenda de uma mesma cor,
por cada pedra é diferente, com cores variadas. Por aqui virou mania, todos
que trabalham na secretaria são lapidários”.

O encanto personalizado das gemas de Poxoréu se revela em lindos rajados e desenhos


únicos (Figuras 16 e 17 A e B), nuances e principalmente no aproveitamento do formato das
pedras.
111

A B

Figuras 16 A e B - Amostra de pedra bruta e pedra fatiada, sendo preparada para a lapidação.
Fonte: Leila Chaban, 2012.

A B

Figura 17 A e B - A Oficina Individual, maquinário especializado.


Fonte: Leila Chaban, 2012.

Assim, para desenvolver o processo de lapidação, neste primeiro estágio, o lapidário


esclarece que:

“Primeiramente a pedra é fatiada/serrada, leva-se ao Rebolo diamantado


(R$ 2.500,00), vai molhando e criando, dando forma, curvas, e entranças na
pedra, a pedra ganha forma, tem outra máquina que custa R$ 8.000,00; tem
o pó diamantado custa R$ 300,00. As pedras são lindas, vão sendo
lapidadas, as vezes as pessoas que não conhece a pedra, nem liga, deixa ela
de lado, mas ao ser molhada mostra todas as cores. A ágata e o jaspe são da
mesma classificação, é do grupo das macedônias”. (JASPE)

A produção através da Lapidação, que nas palavras de Nascimento (2010 apud Loydi,
2010, p. 1), “depois de muito tempo sendo mascaradas pelo diamante, finalmente as gemas
brasileiras ganham espaço e admiração.”
112

O empresário Osmar Nascimento (apud Loydi, 2010, p. 1) “possui uma produção


variada de peças finalizadas, e muitas pedras já lapidadas, algumas peças foram premiadas em
exposições” como esta mostrada na (Figuras 18 e 19), e muitas outras que compõem sua
produção. O lapidário se orgulha do trabalho realizado, pois investiu em maquinário e busca
aperfeiçoamento e qualificação à lapidação, tem-se aceitação de mercado interno e externo,
pois revela que:

Vendo muito as minhas peças para Milão, vem muito italiano comprar minhas
peças, o mercado é disputado. Mas, tenho um controle de qualidade, vou
desenhando as pedras, ela própria se dá o formato, daí defino se ela será com ouro
amarelo, branco. Utilizo prata mil, couro grego de ovelha, próprio para joia,
maleável – fiz uma composição do Jaspe com couro, ficou show, linda diferente.
Tenho um estoque bom de peças, e estou me recuperando de uma unha que perdi na
máquina. O mercado é concorrido, a intenção pessoal é em transformar em produto
turístico. Coloco todo o meu carinho, tenho um diferencial, a pedra tem uma
característica própria, crio uma identidade própria para cada lote de pedra, cada lote
é de uma região tradicional, crio uma personalidade, a regionalidade tem um valor
específico. O público alvo é o turista, é preciso agregar vários nichos de mercado,
aqui tem potencial para isso (OSMAR NASCIMENTO, 2010).

Figura 18 – Gemas Preciosas de Poxoréu Figura 19 - Pulseira produzida por Osmar


transformadas em jóia. Nascimento, lapidário individual.
Fonte: Fernanda Loydi Expresso MT, 23/06/2010. Fonte: Blog Gemas e Joias de Poxoréu, 2011.

Diante dos relatos é possível perceber que a lapidação requer competência e


habilidade, é preciso desenvolver um trabalho cuidadoso, minucioso e de muita habilidade,
pois o maquinário é cortante, possui lixa, é altamente perigoso. A oficina de lapidação do
empresário está completa, conhecemos o local, e toda a matéria prima estocada no seu próprio
quintal. Um local grande, muito agradável, de jardim farto e pedras variadas. Assim, “ao ser
molhada a pedra mostra toda sua beleza, ela é fatiada e depois lapidada. Os italianos
adoram o formato de coração, eles pedem 'core’”. (JASPE)
113

Denomina-se a este processo a partir da lapidação em Poxoréu a formação de um novo


garimpo, pois pensar neste processo significa projeção econômica e social, na criação de um
produto que materializa a identidade local, pois há matéria prima em abundância, o sonho de
transformar Poxoréu em um polo turístico que propicie ao município uma identidade
emancipadora através dos seus produtos produzidos localmente, principalmente a lapidação,
com identidade e característica própria, seja economicamente, culturalmente, que mobilize a
sociedade para o uso sustentável dos seus recursos naturais com perspectiva transformadora
de cunho social.

3.5 A EVIDÊNCIA DO NOVO GARIMPO EM POXORÉU

O posicionamento individual dos entrevistados em relação à proposta apresentada


neste estudo em considerar o novo garimpo em Poxoréu é “com certeza, pois é um processo
de garimpo, temos uma imensidão de pedras, só precisa oficializar este processo”. (JASPE)
Ao se deparar com o novo, assim como o novo processo de garimpagem nos
remetemos ao fato de que a sociedade está em constante transformação. Pois, “compreende-se
que a realidade social se constitui numa totalidade em que a dinâmica do modo de produção
capitalista age de forma a alterar as relações dos homens entre si e com a natureza”
(NASCIMENTO e SÁ, 2012, p. 1).
No cenário da garimpagem, a tendência foi aperfeiçoada do processo manual ao
industrial, no entanto, com as inovações tecnológicas é possível desenvolver novas técnicas,
que também necessitam de instrumentos rudimentares como anteriormente, utilizamos
instrumentos manuais como martelo.
Vejamos:

“Não considero como novo garimpo, mas como um reaproveitamento, vejo


como “o catador de pedras”, pois o garimpeiro vai ao amontoado, nas
montanhas de pedras e escolhe nas ilhas de pedras. Eu mesma vou e escolho
uso o martelo para avaliar a pedra, fazer o rolamento da pedra”. (ÁGATA)

O método da garimpagem tradicional que nos estudos de Baxter (1975, p. 118)


apontam que em Poxoréu havia três métodos de garimpagem, sendo:

Exploração em minas; garimpagem com rego d’água; desvio de rios e riachos para
exploração e mergulhagem. Todos estes poderiam ser explorados através de minas
114

(catas), embora alguns o sejam com água, e outros a seco, utilizando as ferramentas
adequadas, sendo a principal delas a enxada e o carumbé31.

Assim, o material mais leve do cascalho era levado pela corrida, e com as pedras
maiores construía-se uma parede formando montes chamados de despejo (BAXTER, 1975, p.
123). Embora outras técnicas avançadas ocorreram, ainda numa prática simplificada há
utilização do martelo para selecionar a melhor pedra na cata atual, é justamente nestes
despejos que se busca a matéria prima sendo visíveis, valorizados e utilizados atualmente em
Poxoréu na Lapidação, a qual denominamos de novo garimpo.
Desta maneira, ao perceber novas alternativas que supere a estagnação social e
econômica, pensar no filho do ex-garimpeiro, nas mulheres, jovens, e assim ao se referir à
lapidação em Poxoréu, é possível destacar novas técnicas, propor mudanças a uma nova
prática garimpeira.
Assim, afirma que:

“Sim, podemos considerar um novo garimpo, pois está atrelado a


legalização ambiental, é uma nova concepção de garimpo, em
reaproveitamento, não há agressão ao meio ambiente. A expectativa que se
tem acerca da Lapidação, é que Poxoréu seja transformado em um polo
industrial de joias, tem-se a proposta do Canadá, mas ainda está em
processo de organização para que se crie 5 mil peças por mês, mas é
preciso que seja organizado em empresa exportadora, este que é um
processo mais difícil, mas vamos conseguir”. (ÁGATA)

Ao encarar novas possibilidades, principalmente em harmonizar a exploração


ambiental com o conceito de preservação é uma tarefa que envolve incoerências que na
maioria das vezes está cercada por interesses socioeconômicos.
Neste sentido, compreender a formação de um novo garimpo através do processo de
lapidação, a qual utiliza rejeitos como sua principal matéria prima, assim no seu
entendimento:

“É uma forma de aproveitar o resto do garimpo. Aquilo que o garimpeiro


não conhecia e que hoje nós vamos com esse serviço nós vamos desentulhar
muitos lugares sem precisar cavar novamente o terreno e destruir a
natureza ao contrário, nós vamos voltar a usar aquele já foi colocado. Hoje
as pedreiras já fizeram muito isso daí porque as pedreiras usam muito
aquelas pedras que é entulho e brita, faz o material para construção para o
asfalto, pavimentação, mas muitas pedras que não são usadas, nós estamos
usando pra isso daí”. (OPALA)

31
O carumbé é um prato sem alça, redondo de madeira e localmente fabricado, usado para carregar (no ombro)
desmonte e cascalho. (BAXTER, 1975, p. 123 ).
115

Partindo da análise de reconceituar o novo garimpo, nos remetemos à prática do


garimpo inicial, com habilidades manuais de produção, passando para a utilização de
maquinários e na atualidade o trabalhador se depara com tecnologias avançadas, as quais
requerem novas habilidades, e assim é preciso encarar o novo, reapresentá-lo, assim como nos
ensina Marx (2008, p. 492-493) é preciso identificar o sentimento do trabalhador em relação a
máquina, quanto a revolta do trabalhador contra a utilização da maquinaria, pois, dentro da
própria indústria moderna, produzem efeitos equivalentes ao aperfeiçoamento contínuo da
maquinaria e o desenvolvimento do sistema automático.
Neste sentido, em relação ao novo cenário do garimpo:

“Você vai reconceituar então, não é mais o garimpo de diamante, é o


aproveitamento dos rejeitos/dejetos, mas sim um novo método, novo
produto. Com certeza pode-se considerar sim um novo garimpo. A
população vê como esperança, ainda estamos num ciclo de alternativas”.
(ÔNIX).

Ao considerar o ciclo de alternativas para o desenvolvimento socioeconômico de


Poxoréu, e assim no remetemos a Marx (2008, p. 16) ao expressar que a questão não é discutir
maior ou menor grau de desenvolvimento dos antagonismos sociais oriundos das leis naturais
da produção capitalista, mas essas leis naturais, estas tendências que operam e se impõem
com férrea necessidade.
As leis naturais, as condições e exigências legais para o desenvolvimento do trabalho
em constante transformação, neste aspecto considerando o novo garimpo:

“Acredito que sim, essa questão do reaproveitamento, temos muito material


muitas pedras aqui, é uma outra alternativa. Temos um grupo que fez a
oficina, tem um pessoal que já tá produzindo, já temos turmas formadas.
Porém, é para outro público, para ser comercializado para fora do
município, tem um valor alto, mas, emprega pessoas do município, gera
renda. A princípio tem que ter maquinário, tem um gasto alto, é uma coisa
lenta, vai demorar para se desenvolver”. (SAFIRA).

No entanto:

“Na realidade, quem veio dar o curso, tá levando as peças para serem
montadas em outro estado, fora daqui, segundo as pessoas que fazem a
lapidação. Acho que ele é do nordeste. E assim, é uma coisa bem restrita, é
um grupo de se fechou, tem um grupo individual. Tem uma associação que
tá fazendo este projeto, mas pelo pouco que eu sei na hora de vender, cada
um comercializa o seu”. (SAFIRA)
116

No levantamento dos dados percebe-se que a ideia inicial da Lapidação em Poxoréu


pensado como estratégia de enfrentamento à estagnação do diamante em desenvolver uma
Cooperativa de Lapidários não se concretizou, é o que se percebe no relato seguinte:

“O projeto é real, mas no gerenciamento ganhou outra forma, praticamente


obrigou os alunos a trabalhar para ela, alguns alunos têm perfil e outros
não, voltou-se pelo lado comercial, se perdeu sem o gerenciamento, matou o
Projeto. Pois, para fazer este trabalho é preciso colocar a alma, se não for
assim não sai legal. Ai entrou o lado político, ai individualizou,
monopolizou. Ela é muito legal, mas temos um conflito de ideias, nós
batemos boca demais, eu gosto dela, mas infelizmente não deu certo na mão
dela. Não chegou a formar a cooperativa, tentamos montar, mas quando se
fala em cota-parte, fica difícil, tentamos, mas não deu certo a cooperativa,
ficou individualizado”. (JASPE)

Em contrapartida, a parceria vem da prefeitura sendo a mantenedora do projeto e o


SEBRAE oferece todo suporte, logística, estrutura de funcionamento da Lapidação em seu
primeiro estágio, porém a grande dificuldade é gerenciar e organizar, dar andamento ao
projeto, pois nos relatos de Ágata “todos lutaram muito por uma organização, todas as
tentativas de cooperativa foram infundadas, não houve jeito, como todos nós sabemos, o povo
de Poxoréu é formado por nordestinos bem diferentes da organização dos sulistas.”
Ainda neste sentido ao se referir à formação da Cooperativa:

“A informalidade é mais forte, na palavra. O povo tem dificuldade de se


formalizar juridicamente, mas foram orientados a se utilizar o Consórcio
Empresarial, orientados pela assessoria do SEBRAE. Pegam uma
encomenda e dividem o resultado entre eles. São até orientados para que se
organizem formalmente, criamos várias entidades, como a UPE (União
Poxorense de Escritores). Por exemplo, foi criada uma entidade há dois
anos no Alto Coité a – Associação Sonhar e Acreditar das Mulheres
Produtoras do Alto Coité. Elas, conseguiram com dinheiro próprio,
desenvolveram um bingo para conseguir o recurso para todas as despesas
de implementação da Associação. Isso tudo no Alto Coité pela organização
das mulheres, em quinze dias estava tudo pronto, registrado em cartório.
Aqui é muito diferente, o povo daqui não tem essa disposição, pois tem todos
os maquinários, apoio do SEBRAE e é muito difícil que se organizem. O
Banco do Brasil tem uma linha de crédito para isso, a MT Fomentos
também, mas eles têm dificuldades em se organizar”. (ÁGATA)

Ainda:

“Houve uma tentativa de formar uma cooperativa, mas não deu certo, o
SEBRAE acredita que só acontecerá quando a comunidade tiver
maturidade, administração. Cada um tem o seu, tem muito terceirizado, o
processo é esse mesmo, é um processo natural, há o produto, o SEBRAE não
117

pode condicionar, eles precisam se organizar, não podemos interferir. Tem


que ter uma política pública para consolidar, fortalecer a comunidade, junto
a Metamat. Mato Grosso é igual aos outros estados, e que muitas vezes o
resultado é muito demorado, é preciso ter uma política de Estado, o
problema é que se toma para si o projeto e não como política de Estado”.
(BERILO)

O fortalecimento da Lapidação, desde seu processo inicial à comercialização das joias


é motivo para viabilizar a expansão socioeconômica de Poxoréu, junto à Lapidação outros
projetos foram desenhados e propostos, como fator em potencial o turismo ecológico de
forma sustentável.
Vejamos:

“O Projeto é uma realidade, mas tá meio perdido, não emplacou,


apresentamos uma exposição de motivos para o SEBRAE, a ideia inicial era
implantar uma APL - Arranjo Produtivo Local – dessas gemas coradas, são
muito coloridas - foi apresentado ao SEBRAE, pois junto a ela vinha um
projetos ambientais, culturais, provocar o turista, implantação de uma casa
de memória, pintando as casas coloridas (as casas velhas), fazer calçadão
assim como em Ouro Preto-MG e Tiradentes, temos um fluxo muito grande
de turismo pela MT-130 por aqui passam em média 5 mil veículos/dia,
quando fui Secretário de Turismo na época do Dante de Oliveira, foram
catalogadas 48 cachoeiras, além de águas quentes que afloram em todo
lugar, pesca esportiva – tem uma associação de piscicultores atuante,
aproveitando o potencial de água, tem uma riqueza muito grande de água”.
(JASPE)

Identificar o novo como imagem futura de emancipação aliado às novas tendências


exigidas na sociedade diante do modo de produção capitalista, é fundamental buscar técnicas
atualizadas, pois no que se refere à Lapidação, é um projeto real que necessita de parceiros e a
formação de cooperativa para o fortalecimento da produção atrelada ao projeto embrionário
do turismo em Poxoréu, pois a sociedade precisa acreditar e se organizar para o
desenvolvimento do município.
Neste campo fértil de possibilidades de desenvolvimento para o município sem que
haja maiores frustrações, além dessas alternativas há o empenho da Prefeitura, da sociedade
com o apoio do SEBRAE o efetivo processo da Oficina de Lapidação como possibilidade de
desenvolver-se a partir do reaproveitamento das pedras preciosas rejeitadas no período auge
do garimpo de diamante, portanto, numa visão ampla e sistemática:

Poxoréu é um município que, [...] dada a sua história, encontra-se na encruzilhada


do progresso e qualquer direção que tome, progredirá. O que precisa decidir é qual
das estradas progredirá com maior eficiência, afinal, de nada adianta nos lançarmos
à luta, de qualquer jeito, quando podemos fazê-la do melhor jeito e isso inclui
118

afirmar que ela não será uma mera luta pelo poder político, mas uma dinâmica para
impressão de resultados econômicos e progresso social, muito menos fazer política
da administração, mas da administração, uma política (AMORIM, 2011, p. 2).

A expectativa neste sentido, é que se tenha realmente uma nova perspectiva de


desenvolvimento pautado nas propostas inovadoras reveladas pela agricultura, pecuária, na
produção de joias através do reaproveitamento das gemas semipreciosas, no artesanato, na
expectativa do turismo, que todas essas atividades sejam produzidas de forma tecnicamente
orientada, gerenciada configurada numa nova roupagem econômica após o ciclo da mineração
em Poxoréu.

3.6 PARCEIROS DA LAPIDAÇÃO EM POXORÉU: participação, perspectivas e desafios

A Oficina de Lapidação em Poxoréu é uma realidade, a qual se tem o SEBRAE, a


prefeitura como principais parceiros que propicia sustentabilidade, estrutura tecnológica no
desenvolvimento do projeto. O SEBRAE tem como princípio apoiar os municípios através de
projetos, principalmente em desenvolver trabalhos coletivos no estado de Mato Grosso,
especialmente que tenham “lastros com a cultura, algo associado com pedras, que tiveram
atividade garimpeira” (BERILO). O contato inicial para a implantação da lapidação se deu
através da Secretária Municipal de Comércio, Indústria e Mineração de Poxoréu, na busca por
apoio e orientação do SEBRAE através dos recursos do Ministério da Integração no ano de
2009. Já havia o conhecimento do desenvolvimento da Lapidação em Pedro II no estado do
Piauí, assim:

“A Secretária Lena trouxe as pedras de Poxoréu e as mesmas foram


enviadas à Pedro II para serem avaliadas, e foram classificadas como
pedras semipreciosas de ótima qualidade, são mais de dez tipos. Há um
forte e estabelecido comércio em Pedro II, que atualmente é a principal
vocação econômica, a comunidades está envolvida. Em Poxoréu as pedras
estão espalhadas nos monchões, contratamos uma geóloga para
dimensionar o volume de pedras existentes, fizemos também um estudo em
Tesouro, Alto Paraguai, assim a partir destes estudos e da viabilidade de
levar adiante este trabalho. Todos os envolvidos seguiram para Pedro II
para conhecer/entender o funcionamento da lapidação”. (BERILO)

Os cursos e a montagem da Oficina de Lapidação em Poxoréu teve o apoio da


Prefeitura que entrou com recurso financeiro em 20% e o SEBRAE com 80% do custo para o
Projeto. Desta maneira:
119

“Estabelecida à parceria foram encaminhados à Poxoréu, técnicos


especializados como geólogos de Piauí para repassar as instruções e
treinamentos. Foi feito uma seleção para iniciar o curso de lapidação, em
parceria com a prefeitura de Poxoréu para dar inicio a oficina, o sentido é
de criar um modelo de lapidação estruturado com segmentação comercial.
O equipamento foi montado no município para produzir e para escola. O
equipamento adquirido para a montagem da oficina não é somente para um
produção para aquele grupo inicial, mas para que se realize também a
Oficina Escola, para que haja um trabalho contínuo”. (BERILO)

O treinamento ganhou especialmente uma intensidade, pois os alunos da primeira


turma receberam instruções técnicas e aprenderam fazendo, pois nesta é preciso ir além do
ensinar, e sim ensinar a fazer:

“O SEBRAE assegura o treinamento a tecnologia para se conseguir o


produto, o SEBRAE não pode fazer o investimento, o dinheiro vai direto
para a prefeitura, e neste sentido o prefeito adquiriu o equipamentos
apropriados de acordo com o que foi visto em Pedro II, e inclusive os
próprios empresários da lapidação de lá vieram para Poxoréu para
ministrar os cursos, no sentido de ensinar para transferir o conhecimento
tanto no ensinar como no facejamento, a isto damos o nome de ensinamento
tácito, pois o curso somente não é o suficiente, é preciso ensinar a fazer e
como fazer”. (BERILO)

Nas análises de Berilo acerca da lapidação no município de Poxoréu é que seja


transformado num polo de lapidação de pedras, tem competência nesta área, assim como é em
Minas Gerais, há possibilidade de formar pessoas do estado todo. Mas, infelizmente não há
uma política que fortaleça este processo, o SEBRAE desenvolve o treinamento, orienta, mas é
necessário que haja maior visibilidade do Estado.
Diante do modelo neoliberal reafirmando a sua necessária redução do Estado, na
perspectiva capitalista, vimos que:

O Estado torna-se mais escandalosamente defensor de interesses monopolistas


financeiros, abrindo-se para a terceirização de serviços e funções e para ampliações
de fundos de investimentos criados a partir de suas próprias empresas estatais. Traz
para o interior de sua função pública, agentes comprometidos diretamente com
critérios de lucratividade e eficiência econômica privados. [...] A partir desse tipo de
compreensão do Estado e dos interesses de classe em jogo, sucessivos governos no
Brasil têm se prestado a cumprir a agenda neoliberal de forma cada vez mais
autoritária e com resultados sociais cada vez mais danosos (PANIAGO, 2008, p.
131-132).

A expectativa do SEBRAE é que o município caminhe na direção do fortalecimento


da lapidação, que dê continuidade, nas palavras de Berilo “está plantada uma sementinha
para que o Estado, o governo e a prefeitura, tenha nesta atividade uma prioridade para
120

transformar num processo muito maior, mas não se tem esse olhar, uma política pública que
apoie infelizmente o Estado trava o desenvolvimento”.
O SEBRAE tem por finalidade estabelecer:

Por meio de parcerias com os setores público e privado, o SEBRAE promove


programas de capacitação, estímulo ao associativismo, desenvolvimento territorial e
acesso a mercados. Trabalha pela redução da carga tributária e da burocracia para
facilitar a abertura de mercados e ampliação de acesso ao crédito, à tecnologia e à
inovação das micro e pequenas empresas. Parte deste esforço ganhou visibilidade
com a aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei Complementar
123/06). A lei estabeleceu um ambiente que favorece o crescimento dos pequenos
negócios. A legislação contabiliza avanços especialmente no Simples Nacional
(Supersimples) e no incentivo à formalização do Empreendedor Individual (Lei
Complementar 128/08). Outro dispositivo, o de Compras Governamentais,
beneficiou o segmento por representar um nicho de negócios fundamental ao
aumento do faturamento e da competitividade dos pequenos negócios. Essas ações
reforçam o papel do Sebrae como indutor do empreendedorismo e revelam a
importância da formalização para a economia brasileira (SEBRAE/NA, 2012, p. 2)

Além de apoiar e desenvolver várias atividades em Mato Grosso, o SEBRAE insiste,


treina, faz com que o produto se aperfeiçoe cada dia mais. No mês de agosto de 2012 acontece
a “Oficina de Criatividade”, ação programada para o projeto de lapidação em Poxoréu. Assim,

“O SEBRAE não saiu do projeto, administramos de acordo com o ritmo do


trabalho assim, atuamos em conformidade com o andamento do projeto,
damos sustentabilidade ao projeto, pois não trabalhamos com começo, meio
e fim, o suporte é contínuo. O projeto é mantido pela prefeitura, e pelo
SEBRAE, o custo é dividido em 80% para o SEBRAE e 20% para a
Prefeitura, a qual tem apoiado muito neste sentido, sempre apoia o
SEBRAE”. (BERILO)

Em relação à busca de parceria com o estado através da Metamat,

“O SEBRAE não abandonou o projeto, “há quem diga que não deu
resultado este projeto, mas o trabalho com a comunidade, em grupo é difícil,
damos a oxigenação, a ideia está posta, mas é preciso que haja a
organização própria. Oxigena e vai embora, até que se tenha a
independência”. Entre as diversas tentativas para a vocação econômica em
Poxoréu há na lapidação uma grande expectativa, porém é preciso que o
Estado acredite no projeto, “a ideia está posta, é preciso construir a
organização, ter força e o estado que acredite neste processo. É necessário
ter densidade, criar uma rede no ramo da lapidação, assim como em
Poxoréu, também em Tesouro e Alto Paraguai, assim ficará fortalecido terá
densidade, pois somente em Poxoréu não é suficiente”. (BERILO)

Ao viver uma época de crise e simultaneamente de expectativas em relação ao Estado,


sobretudo na área social as políticas neoliberais, ao guiar-se centralmente pela retração do
121

Estado, abrindo espaços para a extensão das relações mercantis, se chocam diretamente com
os interesses públicos e com os direitos universais da grande maioria dos cidadãos (SADER,
2004).
Assim:

Pode-se dizer que historicamente, a intervenção do Estado na área social, inscreveu-


se no interior das relações capital x trabalho. Nota-se que as complexas e
desarticuladas políticas sociais brasileiras evidenciaram na sua trajetória histórica,
um funcionamento ambíguo na perspectiva de acomodar interesses da classe que
vive do trabalho e daquela possuidora dos meios de produção. Porém, as precárias
intervenções das políticas públicas no campo social, evidenciam carências que
afetam a sobrevivência de muitos trabalhadores, o que resulta na precarização das
condições de vida destes sujeitos, os quais se tornam demandas crescentes nas áreas
da educação, da saúde, habitação, emprego entre outros. Evidenciam necessidades
que se constituem em direito a ser alcançado por grande parte da população da
sociedade brasileira (DALLAGO, 2007, p. 4-5).

No entanto, evidencia-se o retrocesso no avanço às políticas públicas desenvolvidas à


população que busca estratégias que garantam estabilidade socioeconômica, assim como em
Poxoréu necessita do olhar e direcionamento efetivo do Estado para o enfrentamento da
questão social, o Estado não fez suas escolhas. Não lhe é visível a forte vocação econômica da
região junto aos trabalhadores ao lidar durante muitas décadas com as pedras no garimpo,
antes pelo diamante e na cena contemporânea a nova expectativa nas pedras semipreciosas
através da lapidação.
Para que os projetos tenham resultados favoráveis, Berilo (2012) aponta que:

É preciso levar em conta a cultura local, aquilo que se construiu ao longo do tempo,
é necessário que se tenha lastro com a atividade proposta, com capacidade para o
trabalho. No entanto, o que ocorre muitas vezes é uma política social do Estado que
tem em seu bojo, a Saúde, a Educação a Assistência, e é preciso eleger alguns ícones
para valorizar a produção local condizente com a cultura estabelecida regionalmente.
Em Mato Grosso, por exemplo, há que se fortalecer uma política que valorize o seu
produto regional, no tocante a eleger o empreendedorismo, como apoiar as
iniciativas com produtos como a pedra, a tecelagem, a piscicultura, a madeira entre
outros produtos que fortaleçam a atividade e propicie a sustentabilidade
socioeconômica da região.

É necessário valorizar o produto culturalmente, pois “O Brasil foi um país que não
teve educação, então não dá para fazer com que estas pessoas detenham uma tecnologia que
não alcança, pois as pessoas não têm essa cultura de cuidar minuciosamente, não
conseguem”. (BERILO). Os sulistas têm uma habilidade diferenciada tem outra cultura dos
nordestinos e outros. Por isso a importância em se desenvolver projetos pensando neste
aspecto da cultura, do povo, que se tenham lastros com a cultura local para o sucesso do
projeto.
122

Nas considerações acerca da cultura com bases gramsciana, enraizada na relação


orgânica estrutura/superestrutura, como mediação que materializa nexos entre os
interesses econômicos, políticos e ideológicos, conferindo a discussão pedagógica
uma consequência teórico-política-social enriquecedora do debate e das práticas
sociais na desmistificação da prática educativa dominante e na construção de
processos educativos direcionados para a conquista da emancipação humana
(ABREU, 2007, p. 14).

Associar a pobreza, a exclusão social a uma política educacional deficitária, levou o


Banco Mundial a afirmar: “melhorar a educação, a saúde, a nutrição é um modo de lidar
diretamente com as consequências da pobreza” (COSTA, 2006, p. 209).
Desta maneira, ressalta-se que as políticas sociais na visão neoliberal, ao invés de
reduzir as desigualdades sociais aprofundam o distanciamento social, fortalecendo a
dependência de diversificados segmentos populacional.

3.6.1 Projeto de Moda: um dos segmentos, a Lapidação

Se, num primeiro momento pensamos diretamente no Projeto de Lapidação


especialmente centrado nesta discussão direcionada para ações do novo garimpo, nos
surpreendeu no aprofundamento desta pesquisa ao compreender que a lapidação é um
segmento do Projeto de Moda desenvolvido pelo SEBRAE.

“Como não há densidade, como também não há uma política de Estado,


nem garantia deste processo para que seja um projeto propriamente dito, a
Lapidação está dentro do “Projeto de Moda”, este agrega outros segmentos
dentro de um contexto, não é um projeto sozinho, é um conjunto, envolvendo
a amplitude da moda desenvolvendo ações diversas e contínuas nas regiões
da baixada cuiabana, como: a Tecelagem em Rondonópolis/Primavera do
Leste/Pedra Preta; Trabalho com as mulheres na área com Resíduos da
Cana de Açúcar em Nova Olímpia; e a Lapidação de Pedras em Poxoréu,
estes três projetos são contínuos, entramos na iniciativa e vamos
trabalhando naquilo que nos compete, de acordo com o andamento com o
treinamento, assim o projeto nunca morre”. (BERILO)

Enquanto a Lapidação não tem densidade, um projeto estabelecido para a Lapidação


vai-se caminhando assim, “já tem uma programação de atividades definidas e estruturadas
no nosso planejamento dentro do Projeto de Moda, temos contato com todos os segmentos,
vamos caminhando conforme o andamento do projeto e a necessidade dos municípios”.
(BERILO)
E, conforme a pretensão do SEBRAE segundo nos indica Berilo está programado a
entrar na Lapidação os municípios de Tesouro e Alto Paraguai, para assim dar volume e
123

consistência ao Projeto de Lapidação. No planejamento anual se estrutura nas ações que vão
acontecendo e se desenvolvendo.
Sabe-se que em Poxoréu tem um problema político, com modelo de gestão de política
muito antigo, portanto:

“O SEBRAE não interfere na decisão partidária, dá passos em


conformidade com o que vai acontecendo, não interfere na política, o
projeto não é da secretária, houve um tempo em que ela queria dominar a
produção para si, então o SEBRAE buscou outras lideranças, buscamos as
mulheres, nas reuniões constantes dá para ter uma noção do contexto, se
está havendo conflitos, e assim buscamos alternativas para fortalecer a
comunidade”. (BERILO)

Segundo as informações do Coordenador da Carteira de Indústria do SEBRAE, a


programação para Poxoréu na lapidação em 2012 é a Oficina de Criatividade; no mês de julho
aconteceu o Desenvolvimento de Coleções; Curso de Montagem de Joias; Projeto de 200 mil
reais no Ministério da Integração para a implantação da Escola de Ourivesaria para montar a
segunda fase do projeto, a prefeitura de Poxoréu encaminhou; toda a produção da lapidação
será apresentada no Seminário de Design de 31/10 a 01/11 de 2012 no Centro de Eventos do
Pantanal na cidade de Cuiabá (Figura 20).

Figura 20 - Resultados da Lapidação- o novo garimpo


Fonte: Leila Chaban, 2012.

De acordo com os relatos de Berilo, a partir da ideia da Lapidação, algumas pessoas


desacreditavam, pois acostumados com o pensamento de que a única pedra valorizada seria o
124

diamante, havia certa resistência quanto à proposta da lapidação das pedras semipreciosas,
diante de uma cultura restrita ao diamante, e ao conhecer a pedra lapidada em Pedro II, é que
se abriu para novas alternativas, visto pela abundância mineral em Poxoréu.
Portanto,

“Partimos para um garimpo ampliado, que tem valor é muito significativo,


na descoberta da pedra que tem em abundância, tem potencial maior que
estas terras que temos em Mato Grosso, é o pequeno produtor se vendo
como artesão com condições de nascer deste projeto, é o estágio que tem
comercialização com rapidez, tem uma ótima aceitação”. (BERILO)

To tocante à formação de um novo garimpo em Poxoréu, Berilo afirma que:

“É um novo garimpo sim, pois é um garimpo ampliado tem outras


oportunidades, que o Estado não vê. Em Mato Grosso há um enorme
potencial, tem um valor muito maior em termo do pequeno produtor, que
está dentro desta cadeia produtiva, é uma descoberta, pois em Minas Gerais
não tem o diamante, só tem pedra semipreciosas, e são muito valorizadas”.

Desta maneira ao considerar e afirmar o novo garimpo, Berilo “concordo plenamente


com o novo garimpo, a joia tem uma probabilidade de sobressair com mais facilidade do que
o artesanato em peças maiores, não precisa ser um artesão, pois para se produzir um
artesanato mais refinado requer uma política de Estado muito maior”.
O novo garimpo está posto, é visível à sociedade e aos parceiros nesta nova tendência
para Mato Grosso, afinal tudo começou na busca por diamante, ouro, almejando a riqueza
mineral do estado, basta agora encarar o novo, perceber sua potencialidade atrelada à alta
tecnologia. Propomos neste estudo desvelar a formação do novo garimpo, conseguimos
ultrapassar Poxoréu, evidenciamos as demais regiões mato-grossenses associadas a esta nova
prática como forte vocação econômica. O grande desafio proposto é que o Projeto de
Lapidação seja consolidado e efetivado sem que esteja ancorado ao Projeto de Moda.

3.6.2 O cenário das Políticas Públicas em Poxoréu: família e a população infanto-


juvenil

Nas últimas décadas, tem-se intensificado o interesse pela (re) utilização de materiais e
produtos como instrumentos econômicos que viabilizem a produção e geração de emprego às
famílias como alternativa de uso não predatório dos recursos naturais sustentáveis. É notório
que a utilização dos instrumentos de forma isolada, revela-se insuficiente para assegurar os
125

resultados esperados das políticas públicas, em particular no que diz respeito ao uso dos
rejeitos de gemas em Poxoréu como uma nova prática de garimpagem, através de cursos na
Oficina de lapidação. Desta forma, é fundamental que as políticas públicas se articulem às
dimensões econômica e social no processo de desenvolvimento municipal.
O universo que envolve o garimpo é historicamente representado pela figura
masculina, no entanto, mulheres e crianças compõem este cenário intensamente. No tocante a
realidade de Poxoréu não é diferente, pois identificamos no trilhar deste estudo que as
mulheres principalmente sempre estiveram presentes neste cenário em áreas próximas ao
garimpo. Nos primeiros períodos da formação de Poxoréu:

“[...] vivenciamos muito a prostituição na década de 1940, de 1970 até no


máximo 1990, até nessa época teve veiculação na mídia em que Poxoréu era
um dos municípios em que mais havia prostituição infanto-juvenil.
Discordei, até duvidei deste dado, imaginei que fosse em proporcionalidade,
em toda cidade tem isso - entendi que foi meio para macular a cidade, em
reunião foi divulgado esta informação por um órgão oficial do estado”.
(ÔNIX)

Em se tratando de regiões de garimpo, confirma-se a presença de prostituição em


Poxoréu:

“E realmente naquela época tinha-se zona de baixo meretrício era oficial no


município, era o grande point dos garimpeiros, situado à Rua Bahia e Rua
Maranhão, mas desapareceu literalmente, era na área central, foi lá que a
cidade iniciou. Hoje não tem mais isso, inclusive essas ruas forma tombadas
como patrimônio histórico do município”. (ÔNIX)

A realidade é diferente, pois a partir de 1990 com a Constituição Federal de 1988, no


advento da garantia de direitos às mulheres, as crianças e adolescentes, como também ao meio
ambiente, o cenário brasileiro ganha novas configurações. Atualmente nas palavras de Opala,
“a Rua Bahia, onde era a zona, não existe mais, a Rua Bahia acabou, as mulheres que
moravam lá, foram embora ou ficaram de idade”.
A situação socioeconômica inferiorizada do município de Poxoréu advém de uma
cultura antiga, a qual segundo relatos de moradores mais antigos, muitos garimpeiros da
época não investiam em lucratividade, e atualmente vivem da aposentadoria. No entanto, a
realidade de décadas passadas se diferenciava como nos indica Afonso, (2011, p. 2), que os
jovens garimpeiros aos finais de semana se vestiam com terno de linho branco um bom
chapéu e gastavam o que ganhavam com a venda dos diamantes jogando baralho, bebendo e
126

se divertindo nos cabarés da Rua Bahia, no centro antigo da cidade. Havia uma crença nos
garimpos: “o garimpeiro deve gastar todo seu dinheiro, senão não terá mais sorte".
Nos relatos ainda nostálgicos das décadas de 1970 e 1980:

Os cabarés eram como a Caixa Econômica que recebiam os "depósitos" durante as


visitas dos garimpeiros, relembra Benedito Augusto Ferreira dos Santos, 57 anos,
nascido em Cuiabá e desde os 5 anos é morador de Poxoréu. Trabalhou 30 anos
como garimpeiro e entre os anos de 1978 e 1984 administrou um bar na Rua Bahia
ao estilo cabaré, onde recebia uma porcentagem de cada programa feito pelas
prostitutas que usavam os quartos. Algumas eram de outras cidades e estados, a
idade variava dos 14 até mais de 50 anos. Eram como a grande variedade de pingas
expostas nas prateleiras, atendiam a todos os gostos, lembra sorrindo Benedito.
(AFONSO, 2011, p. 2).

A realidade vivida pelas mulheres trabalhadoras dos cabarés (Figura 21) era de
exclusão, pois muitas eram mães solteiras, sustentavam seus filhos com o dinheiro adquirido
nos cabarés, lugar violento, onde aconteciam brigas e até mortes. As mulheres discriminadas
sofriam preconceito, estas eram proibidas de frequentar ambientes em que as famílias
poxoreenses frequentavam, como por exemplo, o Diamante Clube (Figura 22), a ponto de que
se descumprissem a ordem, poderiam passar a noite presas. Como todas eram conhecidas dos
policiais quase nenhumas descumpria a ordem estabelecida pelo delegado (AFONSO, 2011).

Figura 21 - Ponto histórico aos arredores dos cabarés de Poxoréu, conhecido como
a “Pedra do Jigolô” - pedra que acomodava os amantes das prostitutas, estes
aguardavam o término dos programas para dormirem juntos e pegar o dinheiro de
algumas .
Fonte: Luciene Ferreira Afonso. Blog Poxoréu, 2011.
127

Figura 22 – O Diamante Clube, frequentado por pessoas ilustres e suas famílias.


Fonte: Luciene Ferreira Afonso. Blog Poxoréu, 2011.

É importante perceber o ranço de uma história que não foi esquecida, a busca por uma
vida melhor rumo ao desconhecido, reféns do seu próprio sonho, assim como percebemos no
o relato de quem viveu esta realidade:

A vida de discriminação que as prostitutas da época levavam não deixou boas


recordações em Jô B. da Silva, 60 anos, rondonopolitana, que veio pra Poxoréu na
década de 80 a procura de uma vida melhor. Morou e se prostituiu nos cabarés da
Rua Bahia e depois trabalhou como cozinheira de garimpo. "Você se deitar com um
homem às vezes sujo, que você nem conhece, não ama, é a coisa mais triste do
mundo. Eu já vi muita coisa feia por aqui". (AFONSO, 2011, p. 4).

As políticas de atendimento as famílias, adolescentes e jovens do município iniciam-se


com a abertura do Centro Juvenil por iniciativa dos italianos que aqui estavam, chegaram em
1968 na chamada Operação Mato Grosso, quando o garimpo começava a declinar. Nas
palavras de Menezes (2009, p. 4) “dá até para dizer que se não fossem eles a situação local
teria sido muito pior.”
Em 2012, Poxoréu comemora setenta anos da presença das Irmãs Salesianas em
Poxoréu e da criação do Externato São José, o mais antigo e tradicional educandário do
município, no ano de 1942, três freiras, deram início a uma escola para meninos e meninas em
turnos diferentes, em uma zona garimpeira no interior de Mato Grosso.
Esta obra filantrópica representava um grande desafio, pois funcionava em plena sede
de garimpo, tornou-se famosa e deu a Mato Grosso e ao Brasil, homens ilustres e professoras
de renome.
128

Vejamos:

Inicialmente por volta de 1970 o Centro Juvenil funcionou como escola primária e
secundária frequentada pelos filhos dos “garimpeiros” que chegaram a região em
busca de sustento para a própria família. Um dos prédios construídos hospedou por
muito tempo o Posto de Saúde, com atendimento médico-odontológico,
oferecimento de vacinas, etc. Com o passar dos anos, o Centro Juvenil iniciou os
seus trabalhos de atendimento social, diante da necessidade vista pelos Salesianos de
se oferecer aos jovens uma formação não apenas humano-religiosa, mas também
profissional, cultural, lúdica e esportiva (BATISTA, 2012, p. 1).

Conforme as análises de Barbosa (2012, p. 15), com as mudanças sociais e a queda do


garimpo, a escola Externato São José foi extinta no início dos anos 70, mais o ideal de educar
permaneceu: outras Irmãs Salesianas também pioneiras, unidas aos italianos da Operação
Mato Grosso abriram no mesmo local, em convênio com o Estado de Mato Grosso, a Escola
Estadual Poxoréu pautada na educação da infância e da juventude poxoreense. Oferecendo
atividades como: teatro, dança, coral, jogos, fanfarra, pastoral da juventude estudantil.
O Centro Juvenil é uma grande referência para o povo de Poxoréu, é composto de uma
infraestrutura ampla, pois:

Um Centro Juvenil em Poxoréu com quadras, campo gramado de futebol, espaço


para lazer a estudos. Este ano foi comemorado os 40 anos do chamado Troféu da
Juventude que é disputado nele. Construíram e tomam conta de outro Centro Juvenil
no Distrito de Paraíso do Leste. Construíram e tomam conta de uma escola de
segundo grau no Distrito de Jarudore. Ali também se aprende marcenaria, cerâmica
e macheteria. Também em Poxoréu foi construída uma creche. Um lugar de enorme
importância para tantas mães. Toma-se conta de 200 crianças. Quem buscou
recursos na Europa para a construção e a dirige é a médica pediatra italiana Edviges
Dassi. Ela também está envolvida com a escola técnica (MENEZES, 2009, p. 01).

Muitas crianças foram atendidas e inseridas no Centro Juvenil, pois:

“Muitos filhos desta geração foram atendidos através de um serviço de


educação, não na época do município, mas dos italianos que vieram pra cá,
que ajudaram muito que é o Centro Juvenil. Na época foi comandado pelo
mestre Armando, este Centro ajudou muito a tirar as crianças de rua. Não
tem uma família que não deve muito ao Armando e aos italianos que aqui
chegaram. Fui educado no Centro Juvenil, meus filhos foram educados ali
dentro e podemos dizer que 100% dos poxoreenses foram educados no
Centro Juvenil porque se não fosse isso, seria muito, muito pior, mas mesmo
assim ainda ficaram aqueles que não entraram”. (OPALA)

Na trajetória educacional em Poxoréu no ano de 2009, apontada por (BARBOSA,


2012), a Fundação Lar do Menino Jesus, firmou convênio de comodato com o Estado de
Mato Grosso e pela Secretaria de Ciências e Tecnologia (SECITEC), possibilita a
129

estadualização da Escola Agropecuária "Cidade dos Meninos" e criação de novos cursos


através da Escola Agropecuária Cidade dos Meninos, em Poxoréu, segue a política da
educação profissionalizante, de interiorizar e ampliar vagas para jovens. A instituição de
ensino passa a ser a Escola Técnica Estadual de Poxoréu, cuja finalidade é ofertar cursos de
educação profissional e tecnológica na região Sul, cidade considerada a Capital dos
Diamantes, e, portanto de economia garimpeira exaurida.
O público infanto-juvenil de Poxoréu, muitos encontram-se em situação de trabalho
infantil, como nos informa Safira:

“Temos muitos casos de trabalho infantil, como meninos vendendo picolé


por exemplo. Falamos com a família, orientamos. E como estratégias de
enfrentamento, é falar como o proprietário do estabelecimento, falamos com
a família, verificamos que estão recebendo beneficio do BF, mas é um
problema, eles recebem mais que o Bolsa Família. Eles param de vender um
tempinho e depois voltam”.

Do mesmo modo, ocorre denúncia de exploração sexual infanto-juvenil, que segundo


Safira são “poucas as denúncias, aquelas que a gente identifica, às vezes temos dificuldade
de entrar na família porque a mãe apoia a atividade da filha, até incentiva, pois é uma forma
de renda, entra dinheiro.”
Neste sentido, a evidência quanto ao índice de pobreza no município, o qual se
justifica diante dos relatos, pelo fato da família trabalhar e as crianças e adolescentes ficarem
sozinhos/as, pois:

“Agora temos uma Granja que tá contratando muitas mulheres para


trabalhar. Temos uma firma do Asfalto, buscando muitos senhores para
trabalhar, mais para mão de obra pesada. Mas, já mudou o perfil do
município. Quando visitamos as famílias que tem algum problema social,
percebemos que as famílias estão trabalhando”. (SAFIRA)

Em relação à exploração sexual infanto-juvenil no contexto do garimpo:

“Naquele tempo acho que exploração era muito menor, eu falo infantil ou
de jovens, era muito menos porque as pessoas tinham dinheiro. A
exploração sexual vem da falta econômica, poder econômico porque você
chega as vezes numa residência em que a pessoa não é muito esclarecida,
não tem estudo e não tem o poder econômico, as vezes a própria mãe
empurra a filha pra aquilo dali, pra ganhar o dinheiro, e naquele tempo não
precisava porque tinha dinheiro na cidade. Então a gente vê muito esse
lado, em todo lugar pode olhar a droga e a prostituição ela é pelo poder
aquisitivo ela surge da camada baixa porque o alto compra e manda o
coitado ir vender pra receber uma coisinha pra ele fica fora daquilo lá né?
130

Ele ganha o dinheiro grande e o pequenino se expõe, é sempre assim”.


(OPALA)

Em relação à exploração sexual infanto-juvenil no contexto do novo garimpo:

“Antigamente com a cultura do garimpo, que ainda perdura até hoje, tem
uma “Zoninha” aqui mas, não funciona mais, temos bastante demanda da
exploração sexual devido a cultura do garimpo. Hoje o maior problema
também é a droga, elas se prostituem para ganhar seu dinheiro. Temos um
problema, com os postos de gasolina, os caminhoneiros não se
conscientizam, é muito difícil. A maioria é do sexo feminino. A região mais
crítica é na Av. Tinópolis, tem uma grande concentração de drogas”.
(CRISTAL)

Ainda neste sentido, ao se referir aos prostíbulos:

“Eles acontecem na rua das associações, tem a fachada de Bar, mas nos
fundos tem o prostíbulo. Na Rua Bahia não tem mais prostíbulo desde 1990,
nem morador quase. Ela funcionou em 1980 no auge do garimpo, agora não
tem mais nada. Foi no começo de Poxoréu. E tem, sempre aqueles que nós
sabemos, tem os agenciadores”. (SAFIRA)

Foi-nos relatado que nas Pedreiras, também ocorrem casos tem exploração sexual
infanto-juvenil.
Vejamos:

“Teve um caso que as meninas foram para uma pedreira, fomos verificar e
eles foram presos. Sempre fiscalizamos neste caso o rapaz era filho de
político. Em uma outra denuncia, fomos fiscalizar na região das pedreiras,
ao chegarmos vimos que estavam assando uma carne, tomado cerveja, nada
de mais, mas mesmo assim pedimos para irem embora. Aqui não tem área
de lazer, não tem opção, então o pessoal vai para o rio, não tem nada aqui”.
(CRISTAL)

Os índices de exploração sexual no município de Poxoréu não são advindos do


garimpo, e sim na área urbana, o município enfrenta uma realidade difícil de controlar, pois:

“Atendemos muitos casos de exploração sexual. Mas, não de áreas do


garimpo. No garimpo só vai o chefe da família. Não atendemos mais
meninas exploradas sexualmente no contexto do garimpo. Ainda tem a
prática do garimpo, mas são poucas famílias que trabalham no garimpo.
São famílias do contexto geral, inclusive do Bolsa Família. No município
são poucos os compradores de diamante. Agora tem toda a questão da
legalidade. Próximo daqui, no Alto Coité retira a pedra e descasca ela.
Agora essas PEDREIAS retiram as pedras e lavam o cascalho”. (SAFIRA)
131

A exploração sexual infanto-juvenil é algo que esteve relacionado ao garimpo durante


muito tempo, hoje, porém o município está atento quanto ao fato do funcionamento das
pedreiras no tocante à prática ilegal do garimpo, como também a exploração sexual, como
citados alguns casos já foram identificados e agressores punidos.
A exploração sexual infanto-juvenil aparece tanto em cidades grandes, como em
longínquos e pequenos municípios, ganhando contornos diversos e contando com a ação
organizada de redes que reduzem meninas e meninos à condição de mercadoria, sem valor
outro que o de uso, tratados como objeto para dar prazer ao adulto, evidenciado em:

Um problema de múltiplas dimensões, que passa pela condição de vulnerabilidade


das crianças que são submetidas a várias formas de exploração de seu corpo, desde a
prostituição autônoma, passando pela tradicional, realizada em bordéis, pela
exploração nas ruas e por redes criminosas (CPMI, 2004, p. 25).

A exploração sexual infanto-juvenil é percebida em vários pontos do município de


Poxoréu, estudos foram levantados.
Os focos estão:

“Sim, tem muitos focos - já identificamos alguns pontos que geralmente tem
essa prática na cidade, um deles fica na rua próxima ao Posto de Gasolina;
tem também uma região que tem vários Bares, que fica próximo à Rodovia
na saída para Primavera do Leste; na Rua da Associação dos Garimpeiros,
que são trabalhadores de granjas, pessoas que se reúnem final de semana
nessa região, ou moradores daqui, e até mesmo pessoas que nem
imaginamos, são pessoas que nem é deste perfil”. (SAFIRA)

Diante de uma realidade como esta, é possível notar a exploração sexual infanto-
juvenil como resquício do garimpo como algo cultuado culturalmente, assim como em alguns
lugares evidenciados por este universo, como na Amazônia mato-grossense, por exemplo,
pois sabemos que as avós, as mães, e consequentemente as filhas seguiram a prática do vivida
no contexto do garimpo.
Notemos no relato referente à ligação da exploração sexual como resquício de
garimpo:

“Não é não. Acredito que não, até porque as adolescentes que nós
atendemos não são filhos de garimpeiros. Podemos dizer que não tem mais
garimpo, já tá tão escasso. Hoje a gente já não fala que é do garimpo, pois
as adolescentes já tem 13 anos. Se formos pensar em relação à geração,
podemos dizer que sim, pois aqui todo mundo já garimpou, todos
participaram de uma forma ou outra, praticamente todos participaram do
garimpo”. (SAFIRA)
132

Poxoréu volta à pauta da justiça em 2007, pois conforme informações do Tribunal de


Justiça de Mato Grosso – TJMT uma Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público
Estadual (MPE), ocorreu o afastamento do conselheiro tutelar que estimulava adolescentes a
realizar programas sexuais, o juiz decretou afastamento de função, pois o conselheiro não
apresentava postura correta para o trato com crianças e adolescentes. O magistrado
determinou ainda que o pagamento da remuneração do ex-conselheiro fosse suspenso, porém
respeitando os dias trabalhados e a legislação trabalhista (CASA JURÌDICA, 2012 apud,
TJMT, 2007).
Nas considerações do magistrado:

A prostituição infantil é um problema por deveras severo e, infelizmente, comum


nesta Comarca, seja pela tradição de garimpo ou pela extrema pobreza que a cidade
vem sendo flagelada. A sociedade não pode admitir que um conselheiro tutelar
instigue ou facilite que menores pratiquem atos de prostituição, como os descritos
no inquérito civil (CASA JURÌDICA, 2012 apud TJMT, 2007, p. 1).

A criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento, nos reportamos aos dados


da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, 2004, p. 352) devendo receber proteção
integral por parte da família, da sociedade e do Estado, os quais devem reconhecê-los como
sujeitos de direito. Essa é uma conquista histórica da humanidade que, no Brasil, foi
incorporada à ordem jurídica com a adoção do art. 227 da Constituição Federal que afirma:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,


com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CF/88).

As ações que perpassam o campo das políticas sociais ineficientes e de conotação


filantrópica, apoiadas no clientelismo, pautadas no assistencialismo, tais políticas se
caracterizam segundo Raichelis (2010) pela insuficiente efetividade social e pelo
condicionamento a interesses dominantes, revelando incapacidade de interferir no perfil de
desigualdade e pobreza que caracteriza a sociedade brasileira.
No entanto, a partir da Constituição de 1988 é que a Política de Assistência Social se
institui no tripé da Seguridade Social trazendo fortes traços históricos de descontinuidade e
fragmentação das ações. Para Yazbek, (1995) como política social pública, a Assistência
Social inicia seu trânsito para um novo campo: o campo dos direitos, da universalização dos
acessos e da responsabilidade estatal.
133

É no âmbito da Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social –


LOAS (1993), estabelecendo o campo dos direitos na implementação da Seguridade Social e
da Proteção Social pública inicia-se a trajetória de legislações que permitiram a
materialização desta política e a implantação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS
(2004) no país, tendo caráter de direito não contributivo e que durante todo esse percurso
histórico de significativos avanços nos revela na contramão uma forte tendência à focalização,
seletividade e fragmentação, comprometendo os princípios e diretrizes estabelecidas pela
mesma.
Para Yazbek (1995, p. 10 apud Raichelis, 2010, p. 33):

Sem dúvida um avanço, ao permitir que a assistência social, assim posta, transite do
assistencialismo clientelista para o campo da Política Social. Como política de
Estado, passa a ser um campo de defesa a atenção dos interesses dos segmentos mais
empobrecidos da sociedade.

“O processo de implementação ocorre numa conjuntura antagônica fortalecida e


legitimada pelo ideário neoliberal, reconhecendo o dever moral do socorro aos pobres não
reconhece os seus direitos” (RAICHELIS, 2010, p. 34).
Desta maneira, em Poxoréu a um forte ranço clientelista, de dependência e ausência do
Estado:

“A dificuldade de município pequeno com relação à ação social é porque


antigamente o governo financiava 100% todos os programas, hoje todos os
programas a prefeitura tem que tirar parte do município para completar.
Um exemplo é o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil),
AGENTE JOVEM, PROJOVEM (Programa Nacional de Inclusão de
Jovens), AABB COMUNIDADE (Associação do Banco do Brasil), nós temos
tudo isso daí. AABB COMUNIDADE poucos municípios têm, e nós temos,
damos reforço na ABB até por ser ex-bancário e ainda ser sócio da ABB, o
presidente da ABB é um amigo irmão temos ai em torno de 200 crianças que
a gente dá alimentação todos os dias pra eles, reforço escolar, atividades
escolares, outros tipos de trabalhos que faz com que a criança não fique na
rua, tem ocupação, os pais sabem que eles estão lá, o ônibus pega e leva de
volta”. (OPALA)

Ainda neste sentido:

“[...] a dificuldade às vezes é a complementação. Nossa secretária de Ação


social é uma pessoa que tem uma habilidade muito grande com jovens, com
idosos. [...] o idoso é assistido, a criança é assistida, nós temos convênio
com o Centro Juvenil, com o Lar dos Idosos, temos a Creche, e estamos
fazendo uma Pré-escola no valor de 1 milhão e 300 mil reais de
investimento pra atender 300 crianças. Então a promoção social é uma das
áreas junto com a saúde é uma das áreas que o município tem demonstrado
134

evolução muito grande. [...] os médicos são todos do município, as


ambulâncias são do município, além do convênio, alugamos o Pronto
Atendimento do hospital só para o município, temos plantões todos os dias,
médicos e enfermeiros por nossa conta. [...] nós capacitamos a saúde de
uma maneira, que não precisa a pessoa ir à Secretária para depois ir ao
hospital, pode ir direto. Tudo pago pelo município”. (OPALA)

O cenário de direitos é constituído lentamente, porém segundo Raichelis (2010, p. 34):

[...] os avanços são notados e apontam para o reconhecimento de direitos permitindo


trazer para esfera pública a questão da pobreza e da desigualdade social,
transformando constitucionalmente essa política social em campo de exercício e
participação política, por outro, a inserção do Estado brasileiro na contraditória
dinâmica e impacto das políticas econômicas neoliberais coloca em andamento
processos desarticuladores, de desmontagem e retração de direitos e investimentos
no campo social.

A questão social32 frente às desigualdades sociais da política neoliberal se configura na


escassez de trabalho formal às famílias, o trabalho infantil, a exploração sexual infanto-
juvenil. Assim, no tocante aos Programas Sociais voltados ao atendimento de crianças e
adolescentes vítimas da exploração sexual comercial infanto-juvenil na região, identificam-se
estratégias de enfrentamento a esta violação de direitos.
Notemos:

“Temos um relatório mensal de atendimento, de exploração sexual foi no


distrito de Jones Burgo, um caso de abuso sexual, encaminhamos para o
CREAS. Os adolescentes são daqui do município, do entorno. Aqui tem
muito caso de abuso, estupro no meio intrafamiliar, a maioria da denúncia é
por telefone de plantão (pelo Disque 100 é pouco), as pessoas se
identificam, mas elas pedem sigilo. Nós mandamos para a cadeia, pedófilos,
pessoas da sociedade, professor. Tem muito caso de abuso sexual de
criança, houve um flagrante de um escritor conhecido da UPE – União
Poxoreensse dos Escritores trabalhava na Câmara, abusou de uma menina
de 10 anos, da igreja, ele foi preso, está preso ainda. Fazemos um trabalho
de informação, há muita divulgação, nós trabalhamos bastante”.
(CRISTAL)

Ainda no tocante à visibilidade e parceria na rede de atendimento da política social,


baseado nos relatos, verifica-se que a violência sexual compõe o cenário de violação de
direitos em Poxoréu, pois:

32
É entendida pelo “conjunto das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção
social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-
se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 1998, p. 27).
135

“Teve um rapaz conhecido na sociedade, garimpeiro, ele abusou de uma


menina no rio, ficou preso quatro meses, aqui nós trabalhamos mesmo. Na
sociedade há apoio, e outro não, até criticam. O maior parceiro do CT
(Conselho Tutelar)é a Promotoria, o CREAS (Centro de Referência
Especializado de Assistência Social), o CRAS, a Prefeitura e Assistência é
bem pouco, e infelizmente o Conselho Municipal de Direitos não são
parceiros, precisamos deles, de apoio, eles querem derrubar a gente. Tudo
que pedimos a eles, não podem”. (CRISTAL)

Contudo, as condições de trabalho são restritas, sendo que:

“A nossa situação é difícil, trabalhamos no plantão, não paramos, não


temos telefone há 8 meses, o fax não funciona, sem internet há 7 meses,
ficamos sem motorista por muito tempo, ainda bem que 2 conselheiras
habilitadas dirigiam, e liberaram um carro, mas elas nunca receberam por
isso. Trabalhamos porque gostamos, não somos reconhecidas”. (CRISTAL)

O Conselho Tutelar tem o dever de zelar, orientar a família e/ou cuidadores de


crianças e adolescentes para que os seus direitos não sejam violados. Assim como assegura o
Estatuto da Criança e do Adolescente ao criar a rede de proteção responsável por cumprir os
direitos do público infanto-juvenil, em sua composição traz dois órgãos centrais neste sistema
de proteção, sendo os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente e os Conselhos
Tutelares. É fundamental que estas instâncias tenham completa articulação entre si no
cumprimento das exigências legais na construção de uma cidadania plena às crianças e
adolescentes.
Em relação à família, os resultados apresentados na pesquisa no campo da assistência
social, a qual nos indica que:

“O perfil da família aqui em Poxoréu é do Bolsa Família. Tem uma


indústria de Primavera tem buscado trabalhadores daqui, que é uma mão de
obra mais barata, melhorando a renda das famílias. Encaminhamos ao
CREAS, ao PROJOVEM, Centro Juvenil, até porque há uma resistência
muito grande por parte das adolescentes, por muitas vezes as mães não
apoiam essa atitude dessas meninas. É feito um trabalho com as mães, com
psicólogas, assistentes sociais. Vemos se encaixamos essas famílias em
algum curso. Não existe mais aquela composição familiar como antes,
agora é tudo misturado, não é mais pai, mãe e filhos, aqui são mais mães,
filhos e netos, a composição geralmente é essa”. (SAFIRA)

Diante da doutrina de Proteção Integral no tocante a responsabilidade de proteção aos


direitos infanto-juvenis destacamos que, “a família, a sociedade e o Estado são reconhecidos
como as três esferas formais de garantia de direitos estabelecidos pelo ECA. Sendo “a
136

referência inicial à família, na sua condição de esfera primeira, natural e básica de atenção”
(CONANDA, 2007, p. 12).
No entanto, é preciso que a família tenha como aliado formal e legal o Estado, no
sentido de receber condições de trabalho, e estrutura que garantam a educação efetiva às
crianças e aos adolescentes, assim como saúde, à assistência social, ao lazer, a cultura, enfim
efetivar realmente que “a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (ECA: Art. 70).
O cenário do novo garimpo no âmbito da exploração sexual infanto-juvenil, Poxoréu
se inclui na pauta de notícias nacionais com alto índice desta prática. É o que nos indica a
reportagem (A GAZETA, 2005 apud BARBOSA, 2006, p. 2), com a seguinte matéria:
“Poxoréu na triste lista nacional de exploração sexual de crianças e adolescentes”. As crianças
e adolescentes devem ser protegidas pelo Estado, pela família e pela sociedade como prevê o
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990.
Esta realidade que envolve o público infanto-juvenil exposto a diversas situações de
violação de direitos, é presenciada em regiões de garimpo, que diferentemente de décadas
anterior a de 1990 não havia enfrentamento no tocante à violência sexual anunciados em
Poxoréu, pois

No dia 18/05/06, aconteceu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração


Sexual de Crianças e Adolescentes. O objetivo é mobilizar o governo e a sociedade
para combater essa forma de violação de direitos de meninas, meninos e jovens
brasileiros (BARBOSA, 2006, p. 2).

Verificamos ainda nas informações do Blog Poxoréu (BARBOSA, 2006, p. 3) que:

Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2005, pela Secretaria Especial dos
Direitos Humanos (SEDH), ligada ao Ministério da Justiça, em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e coordenado pela Universidade
de Brasília (UNB), identificou que Poxoréu está incluída entre as 937 cidades do
Brasil identificadas com o fenômeno de exploração sexual de crianças e
adolescentes com fins comerciais.

Outras regiões mato-grossenses também fazem parte deste contexto de violação dos
direitos do público infanto-juvenil, vejamos:

Além de Poxoréu, outros 29 municípios de Mato Grosso estão incluídos na triste


lista nacional de exploração sexual, a saber: Água Boa, Alta Floresta, Alto Boa
Vista, Apiacás, Barra do Garças, Cáceres, Campo Verde, Comodoro, Cuiabá,
Jaciara, Jangada, Juara, Juscimeira, Lucas do Rio Verde, Matupá, Nobres, Nova
Olímpia, Peixoto de Azevedo, Poconé, Pontes e Lacerda, Primavera do Leste, Rio
137

Branco, Rondonópolis, Santo Antônio de Leverger, São Félix do Araguaia, Sinop,


Sorriso, Tangará da Serra e Várzea Grande (A GAZETA 2005 apud BARBOSA,
2006, p. 3).

Apresentado nos relatos as dificuldades enfrentadas pela realidade socioeconômica


diante de um processo históricocultural, principalmente por ser uma região de garimpo, os
desafios são extensos é o que nos indica o posicionamento posto à Política de Assistência
Social no município de Poxoréu compreendemos no relato que:

“Na realidade, o maior desafio aqui é o desemprego das famílias, se ela está
empregada, agente consegue colocar o filho na escola. O problema maior é
o desemprego. Temos o problema da “desestrutura” familiar. Tem família
que não tem pra onde ir. Tem a questão cultural muito forte, do garimpo,
muitas famílias se acostumaram com aquela questão de pedir e doar. Mas,
está melhorando, tá mudando. Percebemos que as pessoas querem
trabalhar, mas não tem a oportunidade. Aqui em Poxoréu, as pessoas são
funcionários Público ou você tem comércio, já tá começando a mudar, tem
muitas dificuldades tem famílias com 5 pessoas que estão todas
desempregadas. Adolescentes de famílias de melhor situação financeira vão
para fora estudar e que geralmente não voltam para Poxoréu. As pessoas
que tem comércio, com os filhos de 15 e 16 anos vão embora. Ficam aqui
somente quem não tem condições de sair”. (SAFIRA)

Nesta direção, pensar a intervenção do Serviço Social nesse novo campo apresentado
pelas transformações de uma realidade que esteve no topo da produção econômica
direcionada à garimpagem de diamantes, e vai ao declínio total reunido às novas demandas
diante do campo socioambiental e econômico, a intervenção profissional necessita de respaldo
teórico metodológico a partir de uma leitura crítica, tendo em vista uma ação não alienada,
pautada nos princípios éticopolítico que orientam a profissão, torna-se imprescindível
entender as transformações da contemporaneidade e o que se revela por trás do discurso legal,
tanto na defesa ao meio ambiente como na garantia de direitos à população infanto-juvenil.
Ganhos representados pelo marco histórico de conquistas advindas dos movimentos
sociais trazendo um novo paradigma à sociedade brasileira, assim o campo socioambiental e o
econômico, na medida em que os espaços ocupacionais forjam condições e relações de
trabalho específicas que devem ser elucidadas.
Parafraseando Iamamoto (1993) é na história da sociedade, na prática social que se
encontra a fonte de nossos problemas e a chave das nossas soluções.
Diante da ótica da política neoliberal como projeto de Estado sustenta os direitos
individuais, já no campo dos direitos sociais, em sua trajetória:
138

[...] retoma a lógica do mercado e da filantropia para o atendimento das demandas


geradas por eles. Se o indivíduo tem dinheiro, deverá comprá-los no mercado,
transitando na ótica do direito a mercadoria. Se não possui condições de comprá-los,
deverá acessá-los através da benevolência da sociedade, que retoma o papel de
responsável por atender as demandas sociais. [...] A regulação que pode e deve ser
feita pelo Estado é, nesse caso, aquela que fornece as condições efetivas de pleno
funcionamento do mercado (COUTO, 2008, p. 72).

Para tanto, a análise de dados revela e sinaliza os elementos acerca da concepção de


direitos sociais presentes e ausentes na sociedade poxoreense constituída de um histórico de
corajosos desbravadores do sertão rumo a Mato Grosso aguerridos pela conquista de uma vida
melhor, atraídos pela riqueza do diamante, que na contemporaneidade tomou novas formas,
agora no formato do novo garimpo evidenciado na Lapidação de pedras semipreciosas como
estratégia de revelar a potencialidade econômica, ambiental e cultural, demonstrada na
esperança de uma perspectiva pós-estagnação do diamante, pois a busca por melhores dias é
algo contínuo. Poxoréu declinou economicamente e populacionalmente, porém há um
potencial de recursos naturais a ser explorado de forma sustentável que dê condições
socioeconômicas de emancipação da sociedade poxorensse.
139

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo dissertativo, durante o seu percurso nos aproximou da realidade construída
historicamente ganhando destaque o trilhar de homens, mulheres e crianças em constituir a
história local, enfrentar o novo, superar o velho e encarar uma nova proposta, esta que
possibilita sistematicamente a perceber um novo sonho e alcançá-lo.
Nas abordagens desta pesquisa evidenciamos o paradigma entre o garimpo e o novo
garimpo, conhecemos através deste uma realidade de sonhos, conquistas e declínio. Desta
maneira, partimos do sonho ao recomeço, do auge ao declínio da extração do diamante em
Poxoréu, esta que foi durante décadas a principal vocação econômica do município, que
atualmente ocorre a tentativa em se estabelecer o novo garimpo como uma nova proposta
efetivada na lapidação, na utilização das gemas semipreciosas rejeitadas no período auge do
garimpo, estas visivelmente valorizadas economicamente, socialmente e especialmente por ter
sua identidade social com fortes lastros culturais. O novo garimpo apresenta uma nova
roupagem com propostas à extinção do diamante, como também pelo fato da ilegalidade
ambiental, da sustentabilidade, degradação ambiental e social.
Ao pensar a trajetória dos participantes da história local, cada qual com sua função a
ser desempenhada, assim como o lugar de homens, mulheres e crianças. No percurso da
pesquisa percebemos que as relações econômicas e sociais se alteram ao longo do tempo, as
condições da mulher na sociedade se modificam. Neste processo de transição, especialmente
rumo ao garimpo, nos deparamos em vários momentos em que a mulher aparece em
constantes funções, como instrumento de procriação, no cuidado com os filhos e os homens,
realizando o trabalho doméstico, cuidando dos animais, no cenário da prostituição. Contudo,
passa a desempenhar funções fora de casa, como força produtiva, sem abandonar sua antiga
função de produção das forças produtivas.
A mulher sempre esteve presente na construção da sociedade, no garimpo e agora no
novo garimpo, estando à frente do Projeto de Lapidação, assim como identificamos sua
ocupação em espaços de diretoria, coordenadoria, estando à frente de decisões e
gerenciamento de espaços anteriormente ocupados por homens.
Homens e mulheres não ocupam posições iguais na sociedade brasileira, pois as
relações que se estabeleceram historicamente como resultados de interações sociais entre eles
são assimétricas e hierárquicas. Os seres humanos nascem machos ou fêmeas, e é por meio da
140

educação que recebem que se tornam homens ou mulheres. A identidade sexual é, portanto,
socialmente construída.
Poxoréu assistiu o declínio do garimpo de diamante, e que apesar das políticas
públicas e sociais terem um lugar específico no que se refere às formas de enfrentamento da
pobreza, esta que deve ser encarada como um problema coletivo é preciso que seja efetivada
realmente para a redução de seu impacto, que seja articulada entre diversos setores sociais
como educação, emprego e renda, saúde, habitação, saneamento e urbanização.
Contudo, no percurso em questão, principalmente neste período de transição
econômica diante de várias tentativas para o desenvolvimento econômico, inúmeras disputas
internas, numa sociedade enfraquecida economicamente, caminhando na contracorrente do
contexto sociocultural, as ações requerem esforços coletivos entre o Estado e a sociedade com
disposição para novas conquistas. Dentre as alternativas criadas para substituir o garimpo, o
grande impasse se dá pela descrença no trabalho ordenado por novas tecnologias, pois a
herança cultural dos garimpeiros tem causado um distanciamento neste enfrentamento de
alternativas e estabilidade no manejo da agricultura, do solo, da piscicultura, da lapidação e
especialmente no seu modo de (des) organização social.
A materialização da formação do novo garimpo enquanto vocação econômica para o
município de Poxoréu não é tarefa fácil, pois construir o novo envolve política pública de
responsabilidade do Estado e da sociedade neste processo de transição pautada nos valores
sociais, culturais e econômicos de uma sociedade com fortes lastros com o garimpo, inclusive
na sua formação e instituição. Os desafios são constantemente apontados pelo conjunto dos
sujeitos sociais, especialmente envolvidos na Lapidação em Poxoréu, considerando
influências de determinações políticas, interesses pessoais situadas para além do campo
específico e dinâmico para a socialização deste processo como um todo responsável que
permeia as relações sociais.
No cenário atual, a população infanto-juvenil aparece no campo social e econômico
com evidências à exploração sexual, porém explicitamos que nos novos garimpos, com
características ao formato que ele enseja não se vislumbra esta atividade. No entanto, há
registros desta prática identificados na pesquisa através do Conselho Tutelar, que embora
tenha surgido apenas uma da situação estudada foi possível descobrir seu desempenho
fundamental como defensor dos direitos de crianças e adolescentes, e como grande articulador
da rede de proteção junto à população de Poxoréu. O município enfrenta uma séria questão
neste sentido, pois as evidências da exploração sexual infanto-juvenil estão fortemente
presente, e ligada a outro fator agravante que é a droga. A maioria das denúncias ocorre em
141

locais próximos aos Postos de gasolina instalados na rodovia estadual que atravessa Poxoréu,
saída para Primavera do Leste, há também denúncias nas Pedreiras, e a região mais crítica
apontada por Cristal é na Av. Tinópolis, a qual tem uma grande concentração de
comercialização e consumo de drogas. Afirma ainda que, “hoje o maior problema é a droga,
elas se prostituem para ganhar seu dinheiro. Temos um problema, com os postos de gasolina,
os caminhoneiros não se conscientizam, é muito difícil. A maioria é do sexo feminino”.
Nas palavras de Safira e Cristal (Entrevistadas) fica evidente que a situação
envolvendo a exploração sexual é proveniente da “cultura do garimpo, que ainda perdura até
hoje, tem uma ‘Zoniha’ aqui, mas, não funciona mais, temos bastante demanda da
exploração sexual devido à cultura do garimpo”.
O que se verifica na pesquisa é que entre o paradigma do garimpo, também nos
deparamos com outros paradigmas, o ECA é uma grande conquista, pois reconhece a
população infanto-juvenil como sujeito de direitos. E nas afirmações de Faleiros e Faleiros
(2006), o Conselho Tutelar é fundamental como articulador da rede, e por estar mais próximo
da comunidade, porém é necessário que os conselheiros e conselheiras estejam capacitados,
sobretudo em agilizar, requisitar os serviços, acompanhar os processos, garantindo direitos.
A parceria entre o Ministério Público, a Vara da Infância e da Juventude, o Conselho
de Direitos da Criança e do Adolescente junto ao Conselho Tutelar é a maneira mais eficaz na
efetivação ao novo paradigma do ECA enquanto garantia de direitos, não se restringindo a
proteger e reduzir os danos provocados, mas enfrentá-los de maneira que a sociedade e o
estado seja responsabilizado pelos danos causados e que a vítima seja completamente
protegida e com seus direitos garantidos.
Durante o processo investigativo permeado por realidades distintas, que não podem ser
universalizadas, apontam elementos que se repetem em diversas cidades brasileiras
apresentando um cenário de desigualdade significativo, principalmente lugares com
características garimpeiras. É preciso discutir e implantar uma política de Estado que
contemple a cidadania plena que garanta a emancipação e qualidade de vida à população.
Destacamos que é possível estabelecer a lapidação em Poxoréu, pois muito da
degradação ambiental proveniente das atividades garimpeiras mal conduzidas e presentes em
Áreas de Preservação Permanente (APPs) em áreas de Reserva Legal (RL) são atreladas ao
uso impróprio dos solos e das águas, processos estes largamente realizados ao longo do
tempo. Assim, a responsabilidade de reverter às ações prejudiciais ao meio ambiente é de toda
a população, desde a comunidade poxorense até a população mundial, somando-se esforços
142

entre as comunidades científicas e civis, recuperando as áreas degradadas de forma a tentar


restabelecer sua biodiversidade original, no uso sustentável, ou seja, o processo de Lapidação
apresenta características que possibilitem essa prática contrária à degradação, sendo
perfeitamente adequada, principalmente por utilizar os rejeitos como fonte de produção
econômica, social e cultural.
Concluímos que a prática garimpeira ressignificada em seus rejeitos e seus sujeitos,
encontra-se em oportunidades de crescimento, visibilidade socioeconômica, visível ao Estado,
pelos participantes deste projeto, nessa nova fase posta à sociedade de Poxoréu, não atrelada
unicamente ao padrão convencional ditado pela cultura pioneira enraizada pelo tradicional,
mas à questão revelada pelo reaproveitamento das pedras semipreciosas, sobretudo, na
emancipação socioeconômica local.
O sucesso da Lapidação está assegurado desde que se desenvolva um processo que
garanta a participação efetiva dos lapidários, do Estado e da sociedade, conectados à
organização do município de Poxoréu e suas potencialidades em recursos naturais que
permitem antecipar esta atividade como uma forte expressão na produção de joias, como
produto de trabalho digno a homens, mulheres e jovens.
Na dialética de um processo em movimento, os achados da pesquisa nos indicam para
um movimento criativo em direção à constituição do novo garimpo. Pois, podemos afirmar
que o reaproveitamento das pedras através da lapidação em Poxoréu tende a se transformar
num produto potencialmente capaz de se solidificar economicamente, de se desenvolver de
forma ambientalmente adequada às exigências brasileiras, assim como propiciar a
sociabilidade humana, e ainda está direcionado culturalmente às práticas garimpeiras.
Portanto, é imprescindível que ocorra o fortalecimento e articulação entre os sujeitos
envolvidos garantido nas políticas públicas nesse processo primordial para que se possa
instalar o novo garimpo no município de Poxoréu, evidenciado em solo fértil.
143

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APÊNDICE
156

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Titulo da pesquisa: CONTEXTO HISTÓRICOSOCIAL DO GARIMPO AO
NOVO GARIMPO EM POXORÉU-MT: caminhos percorridos por homens,
mulheres e crianças personagens desta história
Prezado (a) Senhor (a):
Gostaríamos de convidá-lo a participar da Contexto históricosocial do garimpo ao
novo garimpo em Poxoréu-MT: caminhos percorridos por homens, mulheres e crianças
personagens desta história realizada no município de Poxoréu em Mato Grosso.
Os objetivos da pesquisa são:
Desvelar a formação dos novos garimpos diante do contexto social, econômico e
cultural no cotidiano de homens, mulheres, crianças e adolescentes no cenário do garimpo ao
novo garimpo em Poxoréu ao Sudeste mato-grossense.
Caracterizar a formação de novos garimpos na região sudeste de Mato Grosso a partir
do processo da Lapidação.
Identificar o perfil socioeconômico e cultural das crianças e adolescentes residentes
em áreas próximas ao garimpo, e as Políticas Públicas de atendimento as crianças e
adolescentes vítimas da exploração sexual na região.
Diante desses objetivos a serem pesquisados com a sua participação, esta que é muito
importante para o esclarecimento deste estudo que será através de uma entrevista em local de
sua escolha. Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária, podendo
você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem que isto acarrete
qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Informamos ainda que as informações serão
utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e
confidencialidade, de modo a preservar a sua identidade. As fitas com a gravação da
entrevista serão destruídas. Os benefícios esperados são os de contribuir para o
aperfeiçoamento dos modelos de avaliação e monitoramento relacionados aos aspectos
qualitativos. Informamos que sua participação não acarretará riscos. Informamos que o/a
senhor/a não pagará nem será remunerado por sua participação na pesquisa.
Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar na
pesquisa de campo referente ao projeto/pesquisa intitulado: A formação de novos garimpos e
exploração sexual infanto-juvenil: indícios em regiões mato-grossenses
Assinatura do(a) participante: ________________________________________________
Assinatura do(a) pesquisador(a): _____________________________________________
Assinatura do(a) testemunha(a): ______________________________________________
157

APÊNDICE 2

EIXOS TEMÁTICOS PARA A ENTREVISTA

Eixo 1: Caracterizar a formação de novos garimpos na região mato-grossense de 2000 a


2010. (garimpeiros, líder sindical, gestores).

- Há quanto tempo o garimpo é realizado na região?


- Quando se iniciou o processo de legalização ambiental para a realização do garimpo?
- Quantos garimpos estão legalizados atualmente? Qual o órgão fiscalizador?
- Quais as vantagens ao trabalhador filiado ao Sindicato/Cooperativa?
- A formação dos novos garimpos trouxe benefícios ao trabalhador? Se sim, o município
ofereceu alguma orientação técnica para o planejamento das atividades para a legalização?
- Há mulheres trabalhadoras no garimpo? Quais atividades desenvolvidas por elas?
- Antigamente havia mulheres e crianças trabalhando no garimpo. Atualmente ainda tem?
- Há prostituição de mulheres adolescentes e adultas no garimpo?
- Como o garimpo se organiza atualmente em estrutura física, equipamentos, instrumentos
adequados, moradia? Tem famílias que habitam nos garimpos? Tem crianças e adolescentes?
- Quais as atividades desenvolvidas no seu dia de folga?

Eixo 2: Identificar o perfil socioeconômico e cultural das crianças e adolescentes em


áreas próximas ao garimpo. (Conselho Tutelar, Coordenadores de Pesquisas,
Delegacias da Proteção Social).

- Qual é a faixa etária do público infanto-juvenil (número de meninas, números de meninos)?


- As crianças e adolescentes nasceram na região, ou vieram de outra localidade, qual?
- As crianças e os adolescentes moram com as famílias? Quem compõe a família?
- A população infanto-juvenil frequenta a escola? Se sim, em que série está? Se não frequenta,
qual o motivo?
- Qual a situação econômica familiar das crianças e adolescentes residentes em regiões
garimpeiras?
- Há crianças e adolescentes em situação de exploração sexual comercial na região? Se sim,
em quais locais?
158

Eixo 3: Verificar se existem Programas Sociais voltados ao atendimento de crianças e


adolescentes vítimas da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes na
região. (CREAS).

- Quais os Programas de atendimento as crianças e adolescentes vítimas da exploração sexual


na região?
- De que forma se realiza o atendimento à população infanto-juvenil? Quais as orientações
dadas?
- Há o acompanhamento das famílias por parte dos profissionais capacitados junto ao
Programa?
- A exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é visível à população da região?
- De que forma pode-se identificar a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes?

Eixo 4: Identificar se há estratégias de enfrentamento da exploração sexual comercial de


crianças e adolescentes. (CREAS, Conselho Tutelar, Coordenação Geral do Estado –
SETAS – Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social).

- Quais as estratégias de enfrentamento à exploração sexual comercial de crianças e


adolescentes?
- Quem são os parceiros/instituições do enfrentamento à exploração sexual comercial de
crianças e adolescentes?
- De que forma se desenvolve o trabalho frente às demandas que se apresentam no
atendimento às vítimas da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes?
- Qual a faixa etária das crianças e adolescentes exploradas sexualmente? Qual o gênero?
- Em qual período entre 2000 a 2010 houve maior demanda? Por quê?
- É percebida a presença de crianças e adolescentes no garimpo?
- Há identificação de prostíbulos na cidade que tenham crianças e adolescentes sendo
exploradas sexualmente? Quais as providências tomadas? Quem atua nesta intervenção?

Eixo 5: Identificar a participação do SEBRAE no contexto da Lapidação em Poxoréu,


desde o processo inicial aos dias atuais (SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas; Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia - Sicme)

1. Qual a participação do SEBRAE no Projeto de Lapidação em Poxoréu?


2. Quando iniciou a parceria, quem são os parceiros?
3. Qual a meta principal deste projeto?
159

4. A sociedade de Poxoréu, o setor público tem participação efetiva?


5. Qual o público alvo do Projeto de Lapidação, a quem está direcionado?
6. O gerenciamento e monitoramento do Projeto de Lapidação é satisfatório?
7. Qual o principal desafio deste projeto?

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