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LEILA CHABAN
CUIABÁ/MT
2012
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LEILA CHABAN
CUIABÁ/MT
2012
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LEILA CHABAN
Situação: Aprovada
Banca Examinadora
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Profª. Drª. Liliane Capilé Charbel Novais – UFMT (Orientadora)
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Lemos de Souza – UFMT (Examinador Externo)
___________________________________________________________
Profª. Drª. Irenilda Ângela dos Santos – UFMT (Examinadora Interna)
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AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Dra. Liliane Capilé Charbel Novais, pela sua sabedoria, tranquilidade,
leveza, ensinamentos constantes e fundamentais no trilhar desta dissertação.
Aos membros da banca examinadora, Dr. Leonardo Lemos de Souza e Dra. Irenilda Ângela
dos Santos, por aceitarem examinar este estudo e muito contribuir e ensinar.
À Ednéia, Katiúscia, Alcynara, Jacinta, Idelene, Fernanda, Vanessa, as amigas mais lindas
deste mundo, agradeço imensamente pelo carinho, pelo incentivo e por estar sempre perto, é
muito bom ter amigas como vocês.
Aos gestos de carinho e incentivos os quais foram fundamentais para a realização desta
dissertação. As amizades conquistadas pela admiração e respeito à: Luciana Lima, Luciana
Guim, Luciana Trugillo, Denise, Rosana Ravache, Anna Maria, Cláudia Delgado, Dulce
Amorim, Josiley Carrijo Rafael (meu lindo Mestre). Valeu pelos momentos de descontração e
valorização desta construção!
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A Vida do Viajante
(Luíz Gonzaga)
Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa
Sigo o roteiro
Mais uma estação
E a saudade no coração
Mostre o sorriso
Mostre a alegria
Mas eu mesmo não
E a alegria no coração
RESUMO
Este estudo traz compreensões acerca da formação dos novos garimpos no município de
Poxoréu em Mato Grosso, através da Oficina de Lapidação de pedras semipreciosas, atividade
desenvolvida recentemente, por iniciativa da Prefeitura de Poxoréu através da Secretaria
Municipal de Comércio, Indústria e Mineração, em parceria com o SEBRAE – Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Mato Grosso. O Projeto, elaborado em
2008, implantado em 2009, fundamenta-se no princípio da articulação, da cooperação e da
interinstitucionalidade com intenção de empregabilidade e renda na realidade socioeconômica
dos trabalhadores do antigo garimpo e às famílias de baixa renda, esta atividade traz requisitos
de ação socialmente justa, ambientalmente adequada e economicamente viável. Para
compreender a formação dos novos garimpos, nos remetemos ao contexto histórico-social da
concepção do garimpo no município de Poxoréu no passado marcado por diferentes
elementos constitutivos, como o processo migratório da colonização impulsionada pela
extração do diamante composta por variadas culturas, fatores econômicos e sociais da
população poxoreense a partir do recorte temporal em diferenciados períodos da história em
breves paragens caracterizadas pela dinâmica econômica e social da extração do diamante
alcançando o auge à decadência da sua produção no contexto da garimpagem com a situação
atual, nos períodos de 1920 a 2012. Partimos das discussões do pensamento colonial ao
neoliberal e seus reflexos na sociedade. A reflexão sugere a necessidade de entender o
movimento da história, desvelando o papel do Estado diante do intenso quadro de
necessidades socioeconômicas contemporâneas, sobretudo na perspectiva do novo garimpo
envolvendo trabalhadores e trabalhadoras. Pretendemos neste estudo desvelar de que maneira
as políticas públicas atuam e garantem os direitos à população neste novo contexto de atuação
legal e sustentável diante do paradigma da utilização e extração dos recursos naturais. No
cenário atual nos deparamos com outros paradigmas ao identificar o lugar da mulher, como
também da população infanto-juvenil com evidências à exploração sexual, prática constante
em regiões garimpeiras. Fator não evidenciado nos novos garimpos, com o formato que ele
enseja, e sim identificada na pesquisa através do Conselho Tutelar, como um grande problema
enfrentado pelo município, onde a exploração sexual infanto-juvenil está ligada à droga. A
metodologia deste estudo está alicerçada em fontes bibliográficas e documentais, de campo,
empíricas e orais. Utilizamos instrumentais como: entrevista semiestruturada e acervos
fotográficos do município de Poxoréu. A Dissertação apresenta-se em Seções evidenciadas
nas abordagens do trajeto sócio-histórico e a constituição das atividades garimpeiras e de
mineração no município de Poxoréu, como também na participação de homens, mulheres e
crianças no universo do garimpo demonstrado a partir da relação de gênero e a sexualidade. E
por fim, o paradigma do garimpo ao novo garimpo, seu modo de produção e o impacto na
vida de homens e mulheres da sociedade poxoreense, a participação dos envolvidos
diretamente na produção das oficinas de lapidação revelando o novo garimpo em Poxoréu,
como uma nova proposta com vocação socioeconômica na geração de renda e
reaproveitamento das gemas rejeitadas na garimpagem da extração diamantífera. O novo
garimpo possibilita o crescimento socioeconômico potencializado no processo de lapidação.
ABSTRACT
This study provides insights about the formation of new mines in the municipality of Poxoréu
in Mato Grosso, through the Office of Lapidary of semiprecious stones, activity recently
developed at the initiative of the Municipality of Poxoréu through the Municipal Bureau of
Commerce, Industry and Mining, in partnership with SEBRAE - Service of Support for Micro
and Small Enterprises in the State of Mato Grosso. The project, developed in 2008,
implemented in 2009, is based on the principle of joint, inter-institutional cooperation and
with intent to employability and income of workers in the socioeconomic reality of the old
mine and the low-income families, this activity brings requirements action socially just,
environmentally appropriate and economically viable. To understand the formation of new
mines, we refer to the socio-historical context of the design of mining in the municipality of
Poxoréu past marked by different constituent elements, such as the migratory process of
colonization driven by comprised of diamond extraction varied cultures, and economic factors
social poxoreense population from the time frame in different periods of history in brief stops
characterized by social and economic dynamics of diamond extraction reaching the peak of its
production to decay in the context of mining with the current situation in the periods 1920 to
2012 . We start the discussion of the colonial neoliberal thought and its effects on society. The
reflection suggests the need to understand the movement of history, unveiling the role of the
state in the face of intense frame of contemporary socio-economic needs, particularly in view
of the new mining involving workers. We intend this study to reveal how public policies
operate and guarantee rights to the people in this new context of legal and sustainable action
on the paradigm of extraction and use of natural resources. In the current scenario we
encounter other paradigms to identify the place of women, as well as the juvenile population
with evidence of sexual exploitation, constant practice in prospecting regions. Factor not
evidenced in the new mines, with the format that it entails, but identified in the research
through the Guardian Council, as a major problem faced by the municipality, where the
sexual exploitation of children and adolescents is linked to the drug. The methodology of this
study is based on bibliographic sources and documentary field, empirical and oral. We use
instruments such as structured interview and photographic collections of the municipality of
Poxoréu. A Dissertation presented in Sections highlighted in the approaches of the socio-
historical path and the constitution of the prospecting and mining activities in the municipality
of Poxoréu, as well as the participation of men, women and children in the world of mining
shown from the relationship of gender and sexuality. Finally, the paradigm of the new mining
prospecting, their mode of production and impact in the lives of men and women in society
poxoreense, the participation of those involved directly in the production of workshops
stoning revealing the new mining in Poxoréu as a new proposal vocation with socioeconomic
income generation and reuse of discarded gems in diamond mining extraction. The new
mining permits socioeconomic growth boosted in the process of stoning.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO
Tais mudanças alcançam fortemente a prática ambientalmente correta que aqui nos
referimos ao cenário do garimpo, este que se desenvolveu durante décadas causando alto
índice de degradação ambiental. A mineração de pequena escala no Brasil, habitualmente
conhecida como garimpagem, ocorre desde a primeira metade do século XVIII período que
evidencia a grande procura por ouro e diamantes em território nacional. Grandes descobertas
de minérios e pedras preciosas ocorreram no século XIX, em diversas regiões ricas nestes
recursos naturais, sendo Mato Grosso um grande palco da mineração no país. Destacamos o
município de Poxoréu cenário deste estudo, rico em diamantes, os quais foram fortemente
explorados e praticamente esgotados atualmente.
No cenário contemporâneo as mineradoras atuam de acordo com a legislação
ambiental através de um conjunto de leis, advindas da Política Nacional do Meio Ambiente de
1981, conforme a Lei 6.938/81, instituindo o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio
Ambiente) com a finalidade de estabelecer normas que possibilitem a sustentabilidade através
de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção, que
através do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) está vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), tem a função de formular,
coordenar, fiscalizar, controlar, fomentar e executar a Política Nacional do Meio Ambiente e
da preservação e conservação dos recursos naturais.
Desta maneira, a atividade extrativista para obter êxito deve estar em condições legais
para o seu funcionamento, assim como, os trabalhadores devem estar devidamente
credenciados aos Sindicatos, Associações e ou Cooperativas dos trabalhadores do garimpo.
Partindo deste novo paradigma, pretendemos desvelar a formação dos novos garimpos, onde
se pode observar um contexto diferenciado com maior clareza no seu desenvolvimento e a
realidade que o cerca.
O panorama traçado nas análises estudadas no universo da pesquisa perpassam pelo
contexto histórico-social do garimpo ao novo garimpo em Poxoréu-MT no caminho
percorrido por homens, mulheres e crianças personagens desta história, a partir da década de
1920 à 2012. O objetivo é analisar a formação dos novos garimpos em Poxoréu a partir do
contexto socioeconômico, como também identificar a participação humana neste cenário no
tocante à sexualidade e o trabalho com possibilidades de vitimização infanto-juvenil pela
exploração sexual na região de Poxoréu em Mato Grosso.
Neste aspecto, as diversas formas de exploração se alteram conforme o
“desenvolvimento econômico das localidades ou regiões nas quais existe. Por exemplo, no
Brasil, próximo a atividades econômicas primárias de extração (garimpos) existem bordéis
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na luxúria e prazer. Atualmente a Rua Bahia, lugar onde havia prostíbulos, foi tombada como
patrimônio histórico de Poxoréu, as casas foram derrubadas.
Neste percurso, apresentamos na Seção III a sistematização dos dados produzidos no
tocante à formação do novo garimpo evidenciado pelo processo de Lapidação em Poxoréu,
este posto a uma nova roupagem para o desenvolvimento da garimpagem. Desvelamos este
caminhar partindo da proposta sonhada inicialmente por desbravadores em busca de riquezas
pelo diamante, e que após o seu declínio e estagnação econômica, surge uma nova proposta,
agora rumo ao novo e efetivo projeto: a Lapidação, sonhada por idealizadores e seus
parceiros, trabalhadores e trabalhadoras que compõe este quadro transformador e sustentável
na geração de emprego, renda para as famílias de Poxoréu.
Na intenção de provocar um estudo acerca da formação dos novos garimpos, com
possibilidade em conhecer seu universo e apresentar o contexto de sociedade e suas formas de
enfrentamento à questão social e à busca por Políticas Públicas e a intervenção do Estado
para, assim, desvelar as verdades pesquisadas no cenário da garimpagem mato-grossense.
Os rumos da investigação do estudo permeiam nas implicações dos garimpos e a
formação dos novos garimpos no cotidiano que envolve homens, mulheres, crianças e
adolescentes neste universo marcado por violência, poder, prostituição, o sonho de conquistar
riqueza através do extrativismo diamantífero na região de Poxoréu em Mato Grosso. Esta
relação que contempla a formação de Poxoréu através da colonização para o Eldorado mato-
grossense, trazendo inúmeras famílias desbravadoras ao desconhecido sertão, na descoberta
do diamante e demais gemas preciosas recém descobertas na garimpagem atual, na prática da
Lapidação. A compreensão desta realidade é possível diante do método dialético que concebe
o mundo como um conjunto de processos.
Assim, para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas
em movimento: nenhuma coisa está “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se
transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro. (LAKATOS,
2006, p. 101).
Consideramos a partir de Lakatos (2006, p. 106-107), partindo do princípio de que as
formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante
pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função. Portanto, o método histórico
dialético permite investigar acontecimentos, processos do passado a fim de verificar a sua
influência na sociedade atual.
Assim, para compreender a formação dos novos garimpos, nos remetemos ao contexto
histórico da formação do garimpo no município de Poxoréu no passado marcado por
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1
Dados do Censo 2010 publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010. Disponível em:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=51. Acesso em 07 mai. 2012.
18
Esta seção traz abordagens acerca das novas configurações nas atividades garimpeiras2
e de mineração3 o que denominados de novos garimpos. Busca-se compreender a dinâmica
que envolve o Estado, a participação dos gestores municipais, em articular políticas públicas,
para a legalização dos garimpos em seus municípios. Para tanto, serão expostas as discussões
quanto ao desempenho do Estado diante do pensamento colonial ao neoliberal e seu reflexo
na sociedade capitalista. A reflexão sugere a necessidade de entender o movimento da
história, desvelando o papel estatal diante do intenso quadro de necessidades socioeconômicas
contemporâneas. Sobretudo, na tentativa de demonstrar de que maneira as políticas públicas
atuam e garantem os direitos aos trabalhadores do garimpo neste novo contexto de atuação
legal e sustentável tão discutida no contexto que o Brasil apresenta hoje.
Com o objetivo de compreender o que denominamos de novos garimpos, formados no
século XXI, diante de legislações ambientais e segurança do trabalhador. Tais preocupações
não faziam parte do contexto inicial, pois pensar em garimpo em terras mato-grossenses
significava falar de colonização em vários cantos do estado, evidenciando o sonho de muitos
desbravadores em busca de uma vida farta de riqueza e poder.
Assim, pretendemos demonstrar as novas configurações do garimpo representadas no
contexto atual, passando por transformações significativas. A partir da década de 1920, em
um breve percurso pela história é apresentada, a fim de evidenciar os avanços e retrocessos,
2
Conforme o inciso I do Art. 70 (revogado) do Decreto Lei 227/67 (Código de Mineração), considerava-se
garimpagem “o trabalho individual de quem utilize instrumentos rudimentares, aparelhos manuais ou máquinas
simples e portáteis, na extração de pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou não metálicos, valiosos, em
depósitos de eluvião, nos álveos de cursos d’água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos secundários ou
chapadas (grupiaras), vertentes e altos de morros; depósitos esses genericamente denominados garimpos”
(MIRANDA, 1997).
3
No Brasil, a mineração, de um modo geral, está submetida a um conjunto de regulamentações, onde os três níveis de
poder estatal possuem atribuições com relação à mineração e o meio ambiente. Em nível federal, os órgãos que têm a
responsabilidade de definir as diretrizes e regulamentações, bem como atuar na concessão, fiscalização e cumprimento
da legislação mineral e ambiental para o aproveitamento dos recursos minerais são os seguintes: Ministério do Meio
Ambiente – MMA; Ministério de Minas e Energia – MME; Secretaria de Minas e Metalurgia – SMM/MME;
Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM; Serviço Geológico do Brasil – CPRM (Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais). (Relatório do CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e
Inovação, Carlos Eugênio Gomes Farias, 2002).
19
No tempo em que se descobriu ouro nas regiões das minas, foi criada, em 1693, a
capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Entretanto, com o massacre dos
paulistas em 1709 no conflito que ficou conhecido como "guerra dos emboabas"
(confronto entre bandeirantes paulistas e forasteiros na procura pelo ouro e pedras
preciosas), teve início uma intervenção mais efetiva da Coroa na região de Minas
Gerais: Minas foi separada da capitania do Rio de Janeiro, tendo sido criada a
capitania de São Paulo, em substituição à de São Vicente. No mesmo período, a
Coroa comprou várias capitanias, como as de São Vicente (1710), Pernambuco
(1716) e Espírito Santo (1718), dando nova feição à administração portuguesa na
colônia, mais presente e interiorizada (BRASIL, 2000, p. 45).
Após a vinda da família Real para o Rio de Janeiro, no início do século XIX,
também chegou cerca de quinze mil nobres e pessoas da alta sociedade portuguesa,
quando se instalaram basicamente nos centros urbanos de São Paulo e Rio de
Janeiro, ao contrário de italianos e alemães que preferiram o campo (MACHADO,
2008, p. 97).
A expansão populacional em Mato Grosso conforme Corrêa Filho (1969) se deu pela
zona portuária em viagens fluviais, as monções pelos rios Tietê, Pardo, Taquari, Paraguai e
Cuiabá. Por Goiás, também utilizou o caminho terrestre. Esse movimento de expansão
resultou na abertura e na liberação da navegação pelo rio Paraguai, o que possibilitou o
crescimento da economia baseada na atividade mercantil de importação e exportação, quando
a comercialização na região foi implantada.
Esse fluxo mercantil se estabeleceu no final do século XIX e início do XX, muitos
comércios se instalaram em Mato Grosso, abastecendo as cidades portuárias como Corumbá,
Cáceres e Cuiabá, trazendo perfumes, cristais, medicamentos, móveis, ferragens, chapéus,
roupas, calçados, armas de fogo, entre outros. Desta maneira,
Houve uma “andeja corrente humana”, proveniente dos “sertões, mineiro e goiano,
que os baianos e nordestinos vararam” até chegar a Mato Grosso atraídos pelas
jazidas de diamantes das regiões do rio Graças e das cabeceiras do rio São Lourenço,
fundando cidades no leste do Estado (CORRÊA FILHO, 1969, p. 113 apud
MACHADO, 2008, p. 101).
A ocupação de áreas até então desocupadas foi o eixo central das políticas de
integração, que se deparou com o desafio de construir uma nacionalidade em meio à
diversidade. Dessa forma, impuseram-se questões como qual modelo democrático
deveria ser seguido, ou qual o paradigma de civilização a ser adotado. Mesmo
depois do fim do regime do Estado Novo, em 1945, a Expedição Roncador-Xingu
continuou a avançar pelas regiões Oeste e Norte, seguindo o mesmo plano proposto
inicialmente e contando com o apoio do Governo Federal. Somente em 1948, por
decisão da FBC (Fundação Brasil Central), foi encerrada, enquanto uma nova
expedição, liderada pelos irmãos Villas-Bôas, continuou a empreitada, agora com o
nome de Expedição Xingu-Tapajós. O projeto da marcha esteve em consonância
com o da integração, saneamento e desenvolvimento nacional (GALVÃO, 2011, p.
11).
Desta maneira:
Vargas prometeu distribuir terras para os índios e caboclos que viviam na região. Ao
"fixar o homem a terra", o Estado extirpou as raízes do nomadismo, convertendo índios e
sertanejos em cidadãos produtivos. O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) doutrinou os
índios, "fazendo-os compreender a necessidade do trabalho" (GARFIELD, 2000, p. 15).
O deslocamento de Getúlio Vargas, considerado o “Pai dos Pobres”, ia rumo ao
Centro-Oeste em 1940, pois:
de São Paulo, de Minas Gerais, de Mato Grosso e de Goiás e o mercado incorporava cada vez
maiores territórios. Portanto, a conquista do Oeste representava para o regime:
Dourado (2007) sinaliza que a política varguista no caminho para o Oeste visou determinadas
medidas incipientes como pré-requisitos para a ocupação.
Para elucidar tal fato evidenciado por uma política instituída pelo Estado Novo, em
ocupação dos “lugares vazios”, em consonância com Júlio Muller interventor do Estado de
Mato Grosso, trazemos um significativo relato, a qual apresenta o processo migratório para a
região sudeste de Mato Grosso.
Vejamos o relato:
Diante do relato visto acima, percebe-se que a vinda das famílias ao “desconhecido”
da criação do novo tipo de trabalhador da terra pensado por Vargas, a dificuldade no trajeto é
notório visto que entre a partida e a chegada até Paraíso do Leste enfrentaram o não
cumprimento de metas propostas pelo regime, assim como a construção de estradas e pontes.
O grupo era obrigado em suas paragens dormir ao relento, em roteiros improvisados até a
chegada à terra a ser ocupada. Portanto, nordestinos vinham para uma realidade
completamente diferente. Ao se quebrar sua resistência cultural, impunha-se ao migrante uma
causa que não lhe pertencia.
Nesta onda incorporadora da participação do trabalhador na construção da nova
colonização, o período do Estado Novo (1937-1945) culminou com a segunda Guerra
Mundial, de 1939-1945 (DOURADO, 2007). O posicionamento brasileiro foi de neutralidade,
momento que intensificou o empenho dos setores produtivos. As dificuldades de importação
29
Parafraseando Faleiros (1997), nos moldes atuais, a relação entre sociedade e Estado, a
condição de distanciamento ou aproximação, as formas de utilização ou não de canais de
comunicação entre os diferentes grupos da sociedade e os órgãos públicos que refletem e
incorporam fatores culturais, como acima referidos no tocante às reivindicações de grupos de
interesse de avanço econômico para a sua localidade, que certamente estabelecem contornos
próprios para as políticas pensadas para uma sociedade. As formas de organização, o poder de
pressão e articulação de diferentes grupos sociais no processo de estabelecimento e
reivindicação de demandas são fatores fundamentais na conquista de novos e mais amplos
direitos sociais, incorporados ao exercício da cidadania. Trata-se de uma pobreza e uma
indigência estrutural, vinculadas a relações sociais concentradoras de renda, poder e
privilégios para poucos.
Em um Estado neoliberal as ações e estratégias sociais governamentais incidem
essencialmente em políticas compensatórias, em programas focalizados, voltados àqueles que,
em função de sua "capacidade e escolhas individuais", não usufruem do progresso social. Tais
ações não têm o poder e frequentemente, não se propõem a alterar as relações estabelecidas na
sociedade.
Ancorada na tese de que este novo cenário não comportava mais a excessiva
presença do Estado, a ideologia neoliberal em ascenssão passou, cada vez mais, a
avaliar políticas de ingerência privada. Isso teve como resultado uma alteração na
articulação entre Estado e sociedade no processo de proteção social, concorrendo
para o rebaixamento da qualidade de vida e de cidadania de consideráveis parcelas
da população do planeta (FALEIROS, 2007, p. 159).
A política neoliberal foi implementada a partir da década de 1970, suas ideias surgem
na Europa e nos Estados Unidos. Sader (1995) ressalta que em pouco tempo alcançou a
América Latina. Essas ideias foram organizadas pelos teóricos do Banco Mundial, do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e do Consenso de Washington. Assim, a chegada do
neoliberalismo esteve atrelada a grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973,
quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão,
combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação,
mudou tudo. Desta maneira, as ideias neoliberais passaram a ganhar terreno e se fortalecer
cada vez mais. O modelo político-econômico adotado por Fernando Henrique Cardoso e sua
equipe, seguiu as regras do FMI para o caminho da globalização de mercado.
Mato Grosso, como grande produtor agrícola, minério, pecuária e significativo
exportador do Brasil está criando cada vez mais uma nova dinâmica para gerar formas de
extração de renda e inovadoras modalidades de emprego no contexto rural. Mas essa não é
31
uma dinâmica capaz de criar condições para solucionar os sérios problemas que assolam a
pobreza junto ao desemprego estrutural difundida pelo próprio desenvolvimento nacional. É
preciso uma forte mobilização social, junto às lideranças, buscar essas novas formas é estar
envolvido conjuntamente numa ação coletiva de efetivação das conquistas sociais e
econômicas.
No compasso da história, evidenciamos a formação de um povo que reúne culturas
diferenciadas, que em sua maioria viveu sob o domínio das forças da Coroa, da burguesia, da
república, do Estado. Das colônias agrícolas, de posse de terras doadas, depois terras vendidas
para incentivo da migração, sempre na intenção de garantir a sedimentação da mão de obra
que deveria conservar-se como canteiro de trabalhadores disciplinados e produtivos, para
atender a futura demanda do país que caminhava para a industrialização.
No sentido de demonstrar o velho para compreender o novo, nos deparamos com as
práticas desenvolvidas em Poxoréu, município que foi palco de grandes produções
diamantíferas no período de 1970 a 1990, as formas rudimentares da garimpagem já não
fazem parte do contexto atual. A forma mecanizada deu lugar às pedreiras e à lapidação das
gemas rejeitadas no período de grande produção do diamante, esta que atendia uma grande
demanda comercial, e que agora se transforma em lapidação e produção de joias produzidas
em técnicas modernizadoras na utilização de maquinários e novos moldes produtivos.
4
Dados do Censo 2010 publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010. Disponível em:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=51. Acesso em 07/05/2012.
32
todos os fatores externo à sua vontade, graças ao empenho de valorosos cidadãos que
mantiveram o sonho de um município forte. Ganha destaque, a agricultura e a pecuária de
subsistência ganha seus primeiros passos, com advento dos assentamentos agrários.
Entretanto, com a forte motivação garimpeira, essas modalidades econômicas resistiram ao
novo perfil econômico que se traçava para o município.
Atualmente os trabalhadores pedem apoio do governo para lapidação das pedras no
aproveitamento dos recursos abundantes da natureza local e estimular o fortalecimento da
economia é o desejo dos representantes do município de Poxoréu, que estiveram reunidos
com o dirigente da SICME (Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia). No
encontro, ocorrido na cidade, os líderes solicitaram ao secretário investimentos para a
implantação de uma oficina de lapidação de pedras semipreciosas, com o objetivo de
capacitar os garimpeiros e estimular a prática da lapidação como um arranjo Produtivo Local.
De acordo com a idealizadora do projeto e presidente licenciada da ONG Perspectiva
21, Poxoréu é um grande potencial para este tipo de atividade.
Assim:
“Temos nove tipos de pedras abundantes aqui: opala, ágata, jaspe, safira são algumas
delas. Se conseguirmos implantar o projeto será mais uma alternativa para aqueles que
desejam prosseguir no setor. Será um momento importante para a comunidade” (SICME,
2008, p. 1).
Para conseguir essa capacitação, além dos incentivos do governo do estado de Mato
Grosso, que servirá para a compra de equipamentos e construção do espaço, a Perspectiva
ONG 215 pede parceria ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
(SEBRAE), que ficará responsável pela capacitação dos trabalhadores. Segundo informação
do Presidente da Perspectiva 21, “Estamos com o desejo de inicialmente treinar 180
garimpeiros, em um treinamento com tempo de duração de seis meses” (SICME, 2008).
Nas palavras do Secretário de Indústria Comércio Minas e Energia (SICME)
assegurou aos representantes que:
5
A Perspectiva 21 é uma ONG voltada para o desenvolvimento do turismo e do meio ambiente no município de
Poxoréu, e participa do Projeto de Lapidação principalmente na disponibilização de meios para participação em
feiras e eventos setoriais (SICME, 2008).
34
Sonhamos com essa oficina há muito tempo. A atividade garimpeira tem sido
deixada de lado e as pedras não estão sendo valorizadas aqui. Precisamos agregar
valor ao produto e viabilizar a comercialização para outros Estados. Acredito que
será o começo de um novo tempo para o município ((SICME, 2008, p. 1).
Dar todo suporte logístico necessário para o início dos trabalhos é o comprometimento
do SEBRAE (Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) com a população de
Poxoréu na concretização do projeto.
Assim:
Sem crescimento sustentável não há bases para a adoção de políticas que possam expandir a
oferta de postos qualificados ou incrementar a formalidade.
A perspectiva dos “novos garimpos” traz uma nova roupagem vinculada à legalização
ambiental, à inserção do trabalhador nos sindicatos e cooperativas onde as políticas
macroeconômicas devem estar alinhadas ao cenário internacional justo. É a partir delas que
se torna possível a expansão e o fortalecimento dos mercados internos, responsável por gerar
demanda e estimular melhorias nos processos produtivos, atendendo aos anseios da população
propiciando o crescimento econômico, o fortalecimento das instituições e o desenvolvimento
humano. Em Mato Grosso é preciso o amadurecimento das concepções tecidas no passado e
ultrapassar as impossibilidades, mobilizar o Estado para que atenda a demanda das
necessidades da população.
O garimpo é uma atividade que precisa ser reformulado em sua atuação, pois a
configuração das relações de trabalho junto à extração do solo decorrem da união de classes
em torno de um objetivo comum, a alternativa, dado o cenário atual, é democratizar as
relações de trabalho, conferindo aos atores sociais, verdadeiramente, dar maior autonomia de
atuação para a formação dos “novos garimpos”.
Para tanto, a atuação garimpeira atual estabelece parâmetros legais para o seu
funcionamento, pois as agressões ao meio ambiente em solo brasileiro estão sob os olhos do
mundo inteiro. É preciso estabelecer regras legais para garantir o extrativismo, assim como a
situação do trabalhador no contexto das associações e sindicatos.
Durante este estudo faremos uma análise para buscar a compreensão acerca das
condições legais para o funcionamento atual dos garimpos como demonstramos na
garimpagem com a extração de diamante no contexto de Poxoréu.
36
Os meninos devem realizar tarefas que estejam ligadas a força física e ir aos poucos
provando sua masculinidade e dominação. A menina segue um padrão diferenciado
deste, onde suas atividades estão sempre ligadas ao âmbito doméstico e seu
comportamento deve ser permeado de traços delicados e retraídos. O que é
permitido e proibido passa a ser internalizado ainda na infância, afetando assim, um
desenvolvimento saudável e igualitário. [...] O menino que cresce acreditando ter na
mulher seu objeto de satisfação de suas vontades e dominação terá imensas chances
de se tornar um agressor a ela na fase adulta. Já a menina que tem seu universo
restrito aos afazeres domésticos, a servir os homens da casa, a ser submissa e ter
seus desejos e vontades anulados frente a eles terá inúmeras chances de ser vítima de
violência doméstica em sua fase adulta (COELHO, 2010, p. 12).
situação de violência sexual, faremos uma ligação direta com as questões relacionadas ao
gênero apreendidas na sociedade.
Deste modo, nos estudos de Pereira6 (2005, p. 6) Gênero, antes de tudo, é relação
social. “Gênero não se refere estritamente às questões das mulheres ou do sexo feminino, mas
às relações sociais de poder e às representações sobre os papéis e comportamentos dos
gêneros masculino e feminino na nossa sociedade”.
Assim, “Conceitualmente, gênero diferencia-se de sexo” (COELHO, 2010, p. 12),
assim:
6
Assistente social da FASE/RJ. Mestre pelo IPPUR/UFRJ. Doutoranda pelo IPPUR/UFRJ. Caderno Especial
n.10 - Serviço Social e Questão de Gênero. Edição 04 a 18 de março de 2005.
38
– que pode ser de força física, de gênero, de geração – na qual os envolvidos encontram-se em
posições diferentes, sendo que, aqueles que são mais vulneráveis acabam se tornando as
vítimas dessas relações de violência como, por exemplo, as mulheres, as crianças e
adolescentes, idosos, deficientes, e outros.
A violência é uma relação de poder, uma relação entre desiguais, é neste sentido que
os mais vulneráveis muitas vezes são as vítimas, as quais destacam-se crianças e os
adolescentes. Situamos a exploração sexual neste contexto (SAFFIOTTI, 1995 apud
CECRIA, 1999, p. 22) “pode ser explicada a partir de quatro eixos fundamentais: classe
social, gênero, etnia, e relação adultocêntrica7”. Ainda em suas contribuições a autora nos
remete ao Congresso de Estocolmo em 1996, o qual marca um novo momento da história no
combate a exploração sexual comercial de crianças.
Assim,
7
Em uma sociedade adultocêntrica, a criança é considerada um dado universal, uma categoria natural ou cópia
do adulto, uma tábua rasa, e a infância é vista como o período do ainda não, em que a criança é só um projeto de
adulto, ou ainda como uma primeira etapa de um percurso linear, no qual, inevitavelmente, a criança passará da
irracionalidade para a racionalidade, da imaturidade para a maturidade, do não saber para o saber
(FERNANDES, 2007, p. 10).
39
acesso a direitos impostos aos homens e às mulheres, em que as mulheres se situam no pólo
mais desfavorável dessa relação”.
Por exemplo,
[...] na socialização das crianças, meninos e meninas, em geral, são estimulados a ter
comportamentos diferentes, que, se analisados cuidadosamente, explicitam o lugar
(naturalizado) de homens e mulheres na nossa sociedade. Enquanto meninos são
incentivados a serem livres, a brincar e a brigar na rua, no espaço público, e a
namorar, as meninas aprendem a se comportar de forma mais submissa, a ocupar o
espaço doméstico, a cuidar dos afazeres do lar e das pessoas da família, e a viver sua
sexualidade e agressividade de modo mais reprimido. Em consequência, meninos e
homens também pagam um preço por essa (de)formação (PEREIRA, 2005, p. 6).
O que queremos não é inverter a ordem a ordem atual das coisas, através de uma
troca pura e simples de papéis sociais que levariam a subordinar os homens às
mulheres. Entendemos que novas relações podem ser pensadas de tal forma que,
homens e mulheres sendo biologicamente diferentes, possam tratar-se como seres
humanos iguais em direitos face a vida (VIEZZER, 1989, p. 9).
[...] uma “bateia8”, uma sacola de roupa dentro de um carumbé atado como uma
corda, soltos rio a fora. Vez por outra, paravam, retirando do leito do rio ou de suas
margens, cascalhos. Perceberam que a medida que se aproximavam da localidade
onde hoje está estabelecida a cidade de Poxoréu, as amostras colhidas iam ficando
cada vez mais ricas em formas para o achamento de diamantes (AMORIM, 2001, p.
38).
Amorim (2001) diz que os rios Poxoréu, Jácomo e Bororo se confluem neste local
fartamente abrilhantado por jazidas preciosas. Os baianos chamavam de sopé esta formação
8
Gamela de madeira usada para a lavagem de material aurífero e diamantífero. Em Poxoréu, a bateia foi
substituída por peneira. (BAXTER, 1975, p. 271).
43
no alto da maior elevação da região denominada de Morro da Mesa, assim chamado pelo seu
formato inconfundível ao de uma mesa. Esta descoberta foi em 9 de julho de 1926, já se
formava um populoso povoado. Que tão logo passou a se chamar Poxoréu (AMORIM, 2001).
Assim, Poxoréo tornou-se lugar de referência na região, ponto de escala de avião na
rota Cuiabá-Goiás. O município foi criado em 05 de março de 1939, através dos Decretos-Lei
nº 145 e nº 208. Inicialmente dizia-se Poxorêu, com pronúncia fechada. No entanto, o povo
habituou-se com a pronúncia aberta Poxoréu. Mais tarde, um estudo de numerologia,
executado a pedido do prefeito Lindberg Nunes Rocha, em seu segundo mandato, determinou
a mudança da grafia para Poxoréo, através da Lei Municipal nº 01, de 7 de julho de 1968 9.
Porém, a partir de 25 de maio de 2005, de acordo com a Lei n. 976, o prefeito municipal Sr.
Antônio Rodrigues da Silva decreta em art. 10 o seguinte: Fica suprimido do topônimo
“Poxoréo” passando a ser “Poxoréu”, conforme o estudo etimológico da Língua Bororo e as
regras gramaticais da Língua Portuguesa.
Situado a 280 km da capital Cuiabá, está na divisa da bacia Amazônica e a bacia
Platina, ao norte está o rio das Mortes, ao sul está na linha divisória das águas do rio São
Lourenço, e na parte superior do rio São Lourenço está o rio das Garças, refúgio final dos
índios Bororos do leste, representando a herança da origem da palavra Poxoréo, derivada do
Bororo Pô (“água”, “curso d’água”, “rio”) e cereu (“escuro”, “preto”), este foi o nome dado
ao rio – “rio das águas pretas e escuras”, que com a frequência da atividade garimpeira passou
a ter uma coloração marrom clara (BAXTER, 1975, p. 35).
Garimpeiros fazem parte da história do Brasil rural, como nos aponta Baxter (1975), e
traz seu significado enquanto sujeito colonizador, integrante e participativo deste movimento
da história contada a partir da metade do século XVIII, neste período é demarcado a grande
procura por ouro e diamantes no Brasil.
Assim:
9
Histórico. www.seplan.mt.gov.br http://www.coisasdematogrosso.com.br/site/cidades/cidade.asp?cod=61 –
acesso em 05-05-2011. CRÉDITOS: Mato Grosso e Seus Municípios, Autor: João Carlos Vicente Ferreira -
Cuiabá: Buriti, 2004. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2005, Associação Mato-Grossense dos Municípios-
AMM. Data de publicação: 07/06/2008
44
O próprio nome “garimpeiro” foi cunhado para descrever uma pessoa que desafiava
a propriedade real dos campos diamantíferos, e por isso se tornava um infrator
sujeito ao exílio em Angola. Hoje, longe de serem foras da lei, os garimpeiros são
reconhecidos por muitos brasileiros como um elo com os Bandeirantes, como
pessoas das quais depende a nação para sua exploração e colonização. Como
folclore vivo, o garimpeiro tem feito surgir incontáveis alusões e ilusões (BAXTER,
1975, p. 17).
10
GARIMPEIRO – ASSISTÊNCIA. Cria a Fundação de Assistência aos Garimpeiros, e dá outras providências.
Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 1957; 136º da Independência e 69º da República. Juscelino Kubitschek
Parsifal Barroso, José Maria Alckmin. Disponível em: http://www.soleis.adv.br/garimpeirosfundacao.htm.
Acesso em 22/05/2012.
11
Derivado de faiscar. Os mineradores teriam sido atraídos pelo brilho do ouro nos leitos dos rios em lugares de
pouca profundidade. A palavra “faisqueiro” hoje é incomum, substituída por faiscador. (BAXTER, 1975).
45
[...] eles tem em comum, características suficientes para serem vistos como um
grupo coeso e a garimpagem como uma ocupação distinta. [...] a rudimentar
tecnologia de mineração é essencialmente a mesma para todos os produtos. A
garimpagem é levada a efeito amplamente numa base individual, e apoiada por
aviamento, um sistema de patronagem encontrado por todo Brasil rural. O status
socioeconômico do garimpeiro é baixo e para a maior parte a sobrevivência se dá
numa base de subsistência (BAXTER, 1975, p. 18).
12
Porcentagem paga pelo garimpeiro ao proprietário da terra e ao dono dos direitos sobre a água. Um quinto era
15%, mas agora são 15% para garimpeiros que exploram garimpo por canal e 10% para garimpeiros em minas
secas. (BAXTER, 1975, p. 282).
46
Nas andanças, no trilhar dos caminhos que lavam as pessoas à Poxoréu, emerge do
perigo das estradas e o medo da morte. Este trilhar também significava além da morte,
também o roubo, os acidentes e incidentes. Se expressa neste longo percurso, a presença das
mulheres, podendo identificar como se estabeleciam as relações dos trabalhadores com as
crianças, como também os diferentes papéis e atividades diárias, assumidas pelas mulheres
nas caravanas. (DOURADO, 2007, p. 91),
No tocante a atuação das mulheres neste universo praticamente masculino, nos permite
conhecer a luta feminina neste percurso, vejamos:
[...] a mulher exercia um papel muito importante para o bom desfecho dessas
viagens, pois elas conjugavam os afazeres de mãe – de preparar os alimentos, de
cuidar das roupas – com os trabalhos da labuta do trajeto, como cuidar da carga,
alimentar os animais e ajudar o marido nas estratégias e na solução dos problemas.
48
[...] cabia ainda a elas, em direitura a Poxoréu, cuidar dos doentes, buscando as ervas
para os chás e banhos e ainda, preparando uma alimentação especial. Muitas dessas
tarefas ocupavam-nas por todo o percurso da viagem [...] (DOURADO, 2007, p. 92).
A presença da mulher nesta trajetória incluía os acordos familiares acerca das suas
tarefas, estas controladas diretamente pelo marido, demonstrando o seu domínio e autoridade.
O poder masculino centrava-se na figura do pai-marido-patrão (DOURADO, 2007, p. 92).
Percebe-se o cerceamento impostos pelos homens sob as mulheres explicitados pela
existência de uma organização social diferenciadora, na qual se achavam inseridas as relações
familiares praticadas por aqueles homens que caminhavam rumo à Poxoréu (DOURADO,
2007, p. 92). Nesta passagem, identificamos que:
Nos estudos de Dourado (2007), diante do itinerário das caravanas, dos tropeiros
baianos e garimpeiros viajantes do sertão em direção à Poxoréu, abre-se a possibilidades nas
ações e representações dos grupos, na sua forma de organização e distribuição dos grupos, em
relação ao trabalho e ao mesmo tempo em manter as tradições, agora em um novo lugar.
Também se materializava a abertura de novos mercados para as áreas de mineração, a
chegada das mercadorias e as tropas pelo sertão de Mato Grosso traziam novas linhas
comerciais.
Entres estas, a:
Ainda:
Para compreender esta forte presença da prostituição nos cabarés em regiões
garimpeiras nos remetemos ao período colonial, em uma análise mesmo que breve
para ultrapassar as fronteiras do prazer, do pecado, da cena doméstica,
especialmente da sua participação em realizar tarefas para garantir a sobrevivência,
ir além de meros instrumentos de prazer e/ou de reprodução (COELHO, 2007, p.
35).
Nos estudos realizados por Del Priore (2004), sobretudo acerca da participação
feminina na história do Brasil, começando pela mulher indígena, escrava, nobre, pobre,
operária, patroa, mãe, esposa, boia fria, prostituta, amante, entre outras, no sentido de delinear
sua trajetória anônima ou não diante da participação social e econômica no Brasil, o que
tentaremos trazer à realidade de Mato Grosso. Mulheres que colaboraram na construção da
nossa sociedade, passando por uma série de entraves impostos pela sociedade machista,
preconceituosa, atravessada de mitos e lendas sobre o papel da mulher, muitas vezes usados
50
No século XIX, Del Priore (2011) descreve que a grande novidade são os bordéis, as
prostitutas francesas, as cocottes, as preferidas eram as francesas loiras, era o padrão de beleza
na época, a França, aliás, era modelo não só para a beleza feminina, como também das casas,
da mobília, pois reproduzem a casa burguesa. A beleza estava representada na prostituta, nas
13
Afluxo de homens, por possibilidades de achar diamantes (RIBEIRO, 1945, p. 298).
51
mulheres dos salões, as casas eram frequentadas por fazendeiros e políticos, mulheres eram
mantidas por eles, assim são implantados os bordéis no Brasil, principalmente nas cidades
portuárias como fundadoras dos bordéis e cabarés.
Desta maneira:
A pesquisa realizada pelo CECRIA (Leal e Leal, 2002, p. 29) ainda aponta que:
14
Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial –
PESTRAF. Relatório Nacional - Brasil / Maria Lúcia Leal e Maria de Fátima Leal, organizadoras. Brasília:
CECRIA, 2002.
53
2.2.2 A condição do ser criança: realidades que perpassam pela cena garimpeira
[...] está dado pelo caráter de “dominação”, na relação social e invisível que se
estabelece entre explorado e explorador. A relação de poder muitas vezes se baseia
na violência individual, mas, em geral, responde a uma construção social que
sustenta essa desigualdade, fazendo socialmente aceitável a condição de gênero e de
estratificação socioeconômica. São estes sistemas de estratificação social que fazem
com que a desigualdade seja aceita naturalmente; a exploração sexual não se dá
exclusivamente nos setores mais pobres – ela perpassa todas as classes sociais. O
que é diferente por extratos é o controle social e a visibilidade dessas formas
cotidianas de exploração (CECRIA, 1999, p. 22).
56
[...] a exploração sexual comercial infantil é todo tipo de atividade em que as redes,
usuários e pessoas usam o corpo do(a) menino(a) e do adolescente para tirar
vantagem ou proveito de caráter sexual com base numa relação de exploração
comercial e poder e declara que a exploração sexual comercial de meninos, meninas
e de adolescentes é um crime contra a humanidade (CECRIA, 1999, p. 22).
O fato é que através das pesquisas do CECRIA, nos deparamos com evidencias, as
quais apontam para a violação dos direitos da população infanto-juvenil, assim como
percebemos que no Brasil, a exploração sexual manifesta-se por meio de quatro formas (Leal,
1999 apud Cerqueira-Santos, 2008, p. 02). Na primeira, acontece em lugares fechados, com
maior frequência em regiões onde há um mercado de extração de minérios, como nos
garimpos, caracterizando-se por cárcere privado, vendas, tráfico, leilões de virgens,
mutilações, desaparecimento, prostituição nas estradas e em portos marítimos. A segunda
refere-se à exploração de crianças e adolescentes em situação de rua e/ou vítimas de violência
doméstica. Na terceira, a exploração acontece por meio do turismo e da pornografia, com
maior frequência nas capitais do Nordeste e outros centros. A quarta manifesta-se pelo
turismo portuário e de fronteiras, em regiões do Norte banhadas por rios navegáveis, e
fronteiras nacionais e internacionais do Centro-Oeste.
A exclusão social, as propostas neoliberais e a lei do mercado estão incluídas nesse
cenário. A história brasileira, assim como a da América Latina, foi marcada por colonização
escravagista e por uma elite oligárquica dominante que tinha como característica a exclusão
daqueles considerados inferiores (FALEIROS e CAMPOS, 2000, p. 2). Os critérios utilizados
para a exclusão social eram baseados na cor, raça, gênero e idade, dando origem a uma
sociedade machista, sexista e adultocêntrica, que predomina até os dias atuais (CERQUEIRA-
SANTOS, 2008).
Assim, é fundamental compreender a exploração sexual como uma violação de
direitos e o enfrentamento desta questão é de responsabilidade da sociedade e do Estado.
De maneira que:
mulherio, que é grande atentado à estética; e a jogatina livre, que se compõe de todos os
processos em voga nas capitais adiantadas” (SILVA, 1954, p. 86).
O garimpo cultua até os dias atuais uma prática de que “o dinheiro ganho nos
garimpos tem que ser gasto ali mesmo”, se gasta nos cabarés e no jogo, este que é outra
tentação – é o termômetro do progresso regional, índice exato dos movimentos dos
monchões15, e uma das lucrativas indústrias dos povoados (RIBEIRO, 1945, p. 78).
As bases materiais que vão sendo produzidas ao longo da história determinam modos
de produção e tipos de relações sociais, políticas e jurídicas na sociedade, sendo estas
responsáveis também pela concepção de homem e pelas relações culturais e de poder que este
estabelece no grupo social. Os padrões culturais vão sendo definidos e organizados, tal como
os papéis sociais que cada membro da sociedade desempenha em seu interior.
A subordinação da mulher ao homem ultrapassa os tempos, atravessa as mais variadas
formas, em todos os períodos da civilização. Pretendemos assim, identificar a sexualidade da
mulher na trajetória do mundo masculino e feminino nas formas de funcionamento do corpo,
sendo este um instrumento (a máquina) que faz o sistema funcionar. A nossa sexualidade é o
combustível (MURARO, 1993).
Buscando a compreensão acerca da sexualidade está presente em diferentes classes
sociais, pois:
15
Depósito de diamantes em terra firme, a certa distância do curso dos rios. Provavelmente derivado de mancha,
uma bolsa de diamantes. (BAXTER, 1975, p. 281)
61
É diante deste contexto, que a mulher vem ao longo da sociedade, caminhando para
conquistar seu espaço evidenciado na desigualdade de gênero, pois:
posição que o homem ocupa nessa sociedade. No tocante a longa jornada de trabalho que
possibilitou à mulher ter uma vida fora de casa, sua função se coincidia a do homem, mas o
valor de sua força de trabalho era, e ainda é inferior ao do homem.
A mulher, gradativamente, passa a preencher cada vez mais os postos de trabalho,
assim como parte constituinte da formação das cidades. Vale destacar, contudo, que essa
substituição ocorreu em virtude do barateamento da mão de obra feminina, uma vez que seu
trabalho não é valorizado como o trabalho masculino. Tal valorização só passa a ser
reconhecida com o advento da industrialização ao final do século VIII e início do século XIX.
A história das mulheres e os estudos de gênero tende a ampliar os campos de
investigação ao que propomos escrever no cenário do garimpo apontando para a valorização
daqueles que tiveram sua participação diminuída ou apagada. Pois, segundo os estudos de
Coelho (2007) é preciso reconstruir a história a partir do ponto de vista dos, até então,
excluídos e estigmatizados. A realidade vem reforçar a coragem das mulheres assinaladas no
percurso rumo ao garimpo em Poxoréu, em tempos que não lhes restavam muitas alternativas,
a não ser confinar-se em conventos, casar-se e viver a sombra do marido dominador, ou
prostituir-se ou ser explorada sexualmente e ficar a mercê da brutalidade e da violência que
imperavam nos bares e cabarés. No entanto, ao passar do tempo, elas, de um modo ou de
outro, sempre encontravam uma forma de impor a sua vontade, seu modo de ser.
As fontes principais da migração para Poxoréu eram o vale árido do São Francisco e
a área de mineração da Chapada Diamantina. Em contraste com a inclinação de
garimpar entre os baianos e maranhenses, os primeiros fazendeiros eram em grande
parte das famílias bem estabelecidas no ramo, na vizinhança de Goiás. As iniciativas
agrícolas iniciais são atribuídas a homens oriundos de Goiás e Minas Gerais
(BAXTER, 1975, p. 94).
Os diamantes têm sido garimpados na área das Pombas – São Pedro desde 1924,
mas hoje as atividades mineradoras no local são insignificantes. No vale do Rio
Poxoréu e nos vales dos rios tributários; O Coité, Areia e Jácomo, assim como nos
riachos menores na mesma bacia; os diamantes foram aqui encontrados em 1926 e
desde aquela época essa área tem sido a mais importante zona de garimpagem de
Poxoréu (BAXTER, 1975, p. 115).
propriedades dos donos das terras onde eles se localizam. Porém, Baxter (1975) indica em sua
pesquisa que sugere um número bem maior, pois, os indivíduos proprietários desses garimpos
são numerosos: somente 15 dos 80 garimpos que estão sendo trabalhados são de uma pessoa
com pelo menos um outro garimpo.
Dentre as maneiras de garimpar, havia no inicio a submersão parcial com água até o
joelho do garimpeiro ou submersão total tendo o apoio de um matame16, que para Baxter
(1975) era a mais simples realizada em leitos de riachos com cascalhos do leito utilizando um
ralo, uma lata, ou um prato velho, depois colocado em peneiras e depois lavado.
Na garimpagem em Poxoréu também se utilizava um método de maneira agressiva ao
meio ambiente, pois era realizado o desvio de riacho (virada) nesta prática:
16
Matame é um tripé formado por forquilhas de 2 ou 3 metros de altura, as quais se entrelaçam na parte mais
alta. É utilizado para controlar a correnteza do rio, no auxílio ao mergulho e a retirada das pedras maiores em
riachos mais profundos e na proteção do trabalhador, que geralmente trabalham em grupo de 3 ou 4 pessoas.
(BAXTER, 1975).
66
Para esta técnica utilizava-se a enxada (ferramenta comum também utilizada no Brasil
rural) e o carumbé (prato sem alça, com capacidade para uma carga de 30 a 40 kg de
cascalho). Feita as paredes de pedras do depósito, era preciso impedir o vazamento de água,
podendo minar as paredes, sendo preciso drenar para que o cascalho ficasse exposto para ser
extraído. “Desta maneira, já neste período de 1973 a 1974 já se fazia o uso de motores
pequenos para a drenagem da mina, esta que era manejada pelo dono da bomba, ou pelo
organizador da mina, assim que a água enche a pia e se espalha pela mina o motor é ligado”
(BAXTER, 1975, p. 123).
Neste aspecto, é visível avistar quase 40 anos depois em Poxoréu os bancos de pedras,
paredes construídas com as pedras maiores em ambos os lados do rego d’água, as quais eram
jogadas no auge do garimpo, formando os montes que eram chamados de “despejo”. Este
cenário compõe a paisagem atual do município de Poxoréu, como também em Alto Coité, e
são exatamente essas pedras que estão sendo reaproveitadas na lapidação atual, a qual
veremos mais adiante.
É importante destacar que a forma como os garimpeiros descartavam as pedras
maiores, jogando-as nos montes de proteção da barragem, na atualidade elas são totalmente
reaproveitadas em manuseio da lapidação realizada nos dias atuais em Poxoréu.
Neste sentido:
Partindo desta prática, o cascalho maior e mais pesado, era deixado de lado nos
monchões, a importância dada era somente pelo diamante. É sob este paradigma que trazemos
à luz a prática do novo garimpo, através da Oficina de Lapidação em Poxoréu, pois a
aproximadamente 40 anos, os garimpeiros não tinham conhecimento da valorização que se
tem na atualidade acerca das pedras semipreciosas utilizadas hoje nesta prática, os lapidários
fazem uso desta matéria prima para a técnica inovada que garante o sustento de muitas família
de Poxoréu, assim como de outras cidades que estão desenvolvendo a mesma prática em Mato
Grosso.
67
Pretendemos nesta seção apresentar um novo formato de garimpo, diante de uma nova
roupagem, partindo da sonhada inicialmente a real efetivação do projeto, idealizadores e seus
parceiros, trabalhadores e trabalhadoras que compõe este quadro transformador e sustentável
na geração de emprego, renda para as famílias de Poxoréu, região sul mato-grossense.
Os dados analisados através dos conteúdos empíricos, teóricos e documentais serão
apresentados em partes distintas, sendo a primeira, a percepção da transformação do garimpo
em novo garimpo, seu modo de produção e o impacto na vida de homens e mulheres da
sociedade poxoreense, e na segunda a percepção dos envolvidos diretamente na produção das
oficinas de lapidação relevando o novo garimpo em Poxoréu, como uma nova proposta
socioeconômica na geração de renda e reaproveitamento das gemas rejeitadas no período auge
da extração diamantífera, e as demais percepções e propostas apresentadas para o crescimento
socioeconômico, no surgimento de novas possibilidades encontradas neste estudo.
“tornou-se complicado garimpar, deixou de ser um diamante artesanal para ser industrial.
Poxoréu é uma região muito rica em diamante, e conforme os dados pesquisados ele está em
solo profundo” (JASPE).
No município, criaram-se alternativas para o sustento de muitas famílias, pois de
acordo com os dados do IBGE (Censo 2010), em 1996, Poxoréu foi incluído no rol dos
municípios brasileiros miseráveis com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da
linha de pobreza, o município foi incluído no Programa Comunidade Solidária. O período
pós-garimpo impulsionou gestores a discutir vários projetos, como: farinheiras, rapadura,
maracujá, piscicultura, artesanato – “temos grandes artesãos, temos lindas cachoeiras, fontes
de águas quentes para fomentar o turismo em Poxoréu” (JASPE).
Os projetos estão sendo apresentados como importantes alternativas que colaborem
para a movimentação da economia local, apresentando um significativo cunho social, pois
proporcionam oportunidades de emprego e renda. No entanto, é preciso que haja
planejamento, organização no desempenho das atividades para obtenção de bons resultados.
Através dos Relatórios Dinâmicos Indicadores Municipais17 (ODM, 2010), Poxoréu
encontra-se na relação quanto à Proporção de moradores abaixo da linha da pobreza e
indigência.
Pensado a partir desta problemática social e econômica, o Projeto de Lapidação
impulsionado pelo mercado econômico de Poxoréu, muitos estão envolvidos no projeto. Para
o aprofundamento desta análise na busca pela compreensão da formação dos novos garimpos
perpassa pelo estudo mais aprofundado da constituição do garimpo e da garimpagem na
região de Poxoréu.
Para tanto, utilizamos como instrumental para a coleta de dados, a entrevista
semiestruturada, dividida em dois Eixos Temáticos, que combina “perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem
se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2009, p. 64).
Seguimos com a apresentação do Eixo 1 da entrevista, o qual compreende: “A
constituição inicial do garimpo à formação dos novos garimpos em Poxoréu, atravessando a
história a partir de 1920 a 2012”. Os sujeitos da pesquisa presentes neste Eixo são:
17
Neste município, de 1991 a 2010, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário
mínimo reduziu em 33,8%; para alcançar a meta de redução de 50%, deve ter, em 2015, no máximo 31,1%. Para
estimar a proporção de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza foi somada a renda de todas as pessoas do
domicílio, e o total dividido pelo número de moradores, sendo considerado abaixo da linha da pobreza os que
possuem rendimento per capita menor que 1/2 salário mínimo. No caso da indigência, este valor será inferior a
1/4 de salário mínimo. (PORTAL ODM – ACOMPANHAMENTO MUNICIPAL DOS OBJETIVOS DE
DESESNVOLVIMENTO DO MILÊNIO, 2010).
70
Neste estudo visualizamos que, com o passar dos anos os garimpos artesanais deram
lugar aos garimpos industrializados, modernos na utilização de dragas, tecnologias avançadas
para facilitar o trabalho e maior produção na extração de diamantes, fator este que
providenciou a degradação ambiental acelerada causando assoreamento nos regos d’água e
rios do município. Desta maneira, destacamos a formação de novos garimpos como novas
71
“Aqui não há mais garimpo clandestino como era na época, pois na verdade
o garimpo sempre foi uma atividade ilegal, desde as minas de ouro das
Minas Gerais. Já vem desde a origem do nome garimpeiro, vem da
tradução do termo “grimpeiro” do contraventor, do cara que sai que vai
morar nas grimpas de serras, quando não tinham fiscais das fazendas, do
Império ainda, daí o nove aportuguesou do grimpeiro para garimpeiro”.
(ONIX)
sul do território, ocasionando assim em 1977 a divisão do Estado, sendo Mato Grosso do Sul
e com a participação de 50 municípios, estes melhor desenvolvidos economicamente.
Para melhor compreender algumas das consequências da divisão do Estado para
Poxoréu acompanhamos o relato:
E assim, o leste fica permeado pela imensa terra ainda por desenvolver. Este foi um
dos fatores predominantes para povoar o leste mato-grossense, pois vivia-se um Brasil
agrário, não sob a ótica da reforma, pois não se tratava de redistribuição de terras, mas sim de
terras devolutas. Assim, “O Estado incentiva a disposição de terras para os indivíduos, muitos
atraídos pela fama do diamante, diante desta nova oportunidade, e como atividade paralela
desenvolviam também a agricultura como o seu novo berço” (AMORIM, 2001, p. 40).
Destaca-se que, foi oficialmente pelo Decreto no 86/1937 que reservava para a
povoação de Poxoréu, 1.800 hectares pelo interventor federal Capitão Manoel Ary
da Silva Pires e em 1949 pelo Decreto no 714, reservava para o município 12.000
hectares através do governo Arnaldo Estevão de Figueiredo, assim o patrimônio de
Povoação de Poxoréu foi criado pelo Decreto no 856, de 11 de maio de 1929, tendo
uma área de 3.595 (AMORIM, 2001, p. 41).
A notícia da região atraía novos garimpeiros, dando forma a cidade que depois se
chamaria Poxoréu, nome advindo da língua bororo, Pó-Ceréu, a qual significa “córrego das
águas escuras” (AMORIM, 2001, p. 39).
73
Morro da Mesa18 e o Rio Poxoréu. Ai eles descobriram que não só lá, mas
em toda a região podiam extrair o diamante”. (OPALA)
18
O ajojo formava-se ao sopé da elevação mais alta da região, podendo ser vista a mais de 40 km de distância, a
que os chegantes chamaram de Morro da Mesa, pelo formato rochoso inerente a uma mesa. E numa questão de
semanas, o garimpo do morro da Mesa, descoberto no dia 9 de julho de 1926, era um imenso povoado
(AMORIM, 2001, p. 38).
75
em boa parte pelo garimpo, tendo a presença de alguns garimpos iniciantes em torno da
região, que permanecem até a atualidade, como é o caso de Alcantilado, Raizinha, São Paulo
e outros.
Os efeitos promovidos pela violência aos sobreviventes da região afirmaram que em
uma semana 4 a 5 pessoas eram assassinadas em São Pedro, em decorrência do livre acesso a
bebida alcoólica, como também entrada de armas e o crescimento estrondoso do povoamento
(BAXTER, 1975, p. 34).
Desta maneira, ocorre o ciclo de povoamento, diante da historicidade contada a partir
dos dados produzidos na pesquisa de campo referente aos pioneiros desbravadores, os quais
encontram pela primeira vez o diamante, e a luta pelo território, pois:
A falta de autoridade viável no leste de Mato Grosso que desafiasse a hegemonia dos
líderes locais e a independência como a qual os garimpeiros trabalhavam tornou a disputa
inevitável entre a “Liga dos Garimpeiros do Garças” comandada por Morbeck e seus
comparsas à entrada do governo numa região há muito tempo ignorada (BAXTER, 1975, p.
68).
Para Amorim (2001) a verdadeira batalha inicia-se quando a relação dos “compadres”
Manoel Balbino de Carvalho (Carvalhinho) e Morbeck divergiam totalmente, havia oposição
de ideias denunciando indícios de rivalidades entre os mandões do Garças, sendo uma em
defesa dos interesses do Estado e, outra que surge em defesa dos garimpeiros, sobretudo a
partir das denúncias das atrocidades contra os lavristas de São Pedro. Desta forma, os grupos
se debandaram, e no percurso se chega ao Morro da Mesa (Figura 2), lugar que logo se
formaria o município de Poxoréu, e ao se aproximar cada vez mais, os garimpeiros baianos
carregavam a “bateia”, uma sacola de roupa, soltos rio afora, e em suas paragens iam
descobrindo nos cascalhos as jazidas de riquezas expressadas em diamantes.
76
Diante destes fatos em 1925 que Carvalhinho aceita o cargo de delegado de polícia do
Araguaia e do Garças, cargo proposto pelo então governador do Rio de Janeiro, Pedro
Celestino, com intuito de abalar o mandonismo de Morbeck.
Muitos conflitos e mortes ocorreram de 1925 a 1926, fundado o município de
Poxoréu, local em que Carvalhinho faz sua morada.
A vida do novo povoamento não era de convivência tranquila, muito embora
comparado a São Pedro houvesse um sentimento de maior segurança física, assim como a
fartura das jazidas, atraindo os garimpeiros, porém as informações sobre os primeiros anos em
Poxoréu são bem restritas. Encontra-se nos estudos de Baxter (1975) que desde o começo
havia crianças na corrutela, sendo que em agosto de 1927 tem-se uma escola primária
estabelecida, (Figura 3).
No garimpo costuma-se desenvolver a prática de se gastar tudo que tem como se fosse
uma fonte inesgotável, como nos indica Opala em seus relatos, pois, “garimpeiro é o
seguinte, ele pegava o diamante, e é assim em todo lugar, ele pega o diamante hoje, ele gasta
tudo hoje, ele acha que amanhã ele mexe lá e acha de novo”. (Figura 4)
aponta que o garimpo “trouxe para a região homens de todo o país com a promessa de
adquirir as riquezas incalculáveis que ouviam falar. Hoje, o passado de glória só existe na
lembrança das pessoas de uma época que deu a cidade o título de Capital dos Diamantes.”
Ainda, Poxoréu “tinha cerca de 5 mil garimpeiros à procura das riquezas escondidas neste
solo”.
A riqueza de Poxoréu era demonstrada nos depósitos de diamantes pela sua
abundância, sua produção econômica estava mais ligada à mineração em sua fonte econômica
do que a pecuária. Porém, somente nos anos de 1940 que alcançou grandes proporções, tendo
descoberto todas as principais jazidas nas imediações do povoado. Os dados acerca do
pagamento de impostos, verifica-se que até 1938, a agência coletora de impostos em Poxoréu
arrecadou impostos igual a um décimo (1/10) do valor dos diamantes. Desta maneira, tornava-
se facilmente fraudar a compra de diamantes, como também facilitar o contrabando das
pedras, era uma prática comum, pela ausência das investigações pelos agentes coletores nas
transações com maior rigor, pois os impostos, afirmam os compradores, “eram raramente
pagos em mais de um quarto (1/4) do comércio real” (BAXTER, 1975, p. 85).
Indicado também nos estudos de Baxter (1975), o destino dos diamantes no Brasil
seria o Rio de Janeiro, Cuiabá, e o Lageado. O meio de transporte utilizado pelos
compradores era dividido entre cavalos, mulas ou veículos automotores. Os maiores
exportadores, os quais compradores (capangueiros) de diamantes estavam divididos entre
quatorze pessoas, e estes pagavam imposto de exportação em 1933, ainda haviam abaixo
deles um segundo comprador (agentes e faiscadores) que operavam localmente e vendiam
largamente para os capangueiros. Estavam registrados 24 compradores oficialmente em
Poxoréu em toda a década de 1930, estes compradores estavam nos centros de São Pedro,
Pombas e toda região de Poxoréu. No final desta década demarca o apogeu da garimpagem
em Poxoréu.
É neste período de 1934 que também:
19
Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão federal que regula o setor mineral no Brasil, planejando e
executando estudos geológicos e fiscalizando e controlando a exploração mineral no país.
20
II Plano Nacional de Desenvolvimento 1974-1979 (AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 2).
79
Figura 5 - Campo de Aviação, Aéreo entre o Rio São Lourenço e o Rio Manso, no
alto do Chapadão, entre Poxoréu e Cuiabá município de Poxoréu..
Fonte: Biblioteca IBGE, Registro 25911, 2012.
serviço aos passageiros e cargas duas vezes por semana fazia escala na cidade. O itinerário
era Goiânia - Aragarças - Poxoréu e Cuiabá.
E quanto ao destino da produção das jazidas, havia uma grande demanda para a
exportação, aqui relatado:
“Naquele tempo eles faziam assim: 35% era do garimpeiro, 10% era do dono da
terra e o restante do dono da draga. O dono do garimpo era o dono da terra. O
dono da terra arrendava, às vezes tinha 10 hectares de terra, tinha 20 a 30 dragas e
cada um pagava 10% daquilo que vendesse se não vendesse nada, não pagava nada
também. Na época em 1982, nas eleições de 1982, eu e um colega, hoje tá
aposentado, demos ideia para os políticos que iam ao Banco fazer as palestras de
campanha e nós focamos para dois deles que fizessem uma política de assistência a
família do garimpeiro, em troca disso, que os garimpeiros vendessem as coisas
legalizadas para o município, eu dei ideia. Falei pra ele: cabe a vocês melhora a
ideia. Seria mais ou menos assim: a Prefeitura abrir vários postos fiscais no final de
semana só para entregar nota fiscal. Na sexta nós íamos aos vizinhos para começar
a vender, sábado chegava pra vender os diamantes, ia num posto daquele pegava
uma nota levava, vendia e trazia de volta. O imposto ia sair do comprador, não do
dono da draga, nem do garimpeiro”. (OPALA)
Os acordos eram tratados na confiança, não havia fiscalização pelo que percebemos
nos relatos travava-se de acordos e a relação da compra e venda dos diamantes era algo
esperado e exposto aos olhos de todos, pouco ou muito todo mundo vendia e sabia o que
acontecia a nossa ideia foi em cima disso, que no final do mês os compradores chegavam ao
Banco fazia o DAN (Documento de Arrecadação Municipal). (OPALA)
No Código de Minas - Decreto-lei nº 1.985, de 29 de Março de 1940, consta no
Capítulo I do Art. 1º que:
Este Código define os direitos sobre as jazidas e minas, estabelece o regime do seu
aproveitamento e regula a intervenção do Estado na indústria de mineração, bem
como a fiscalização das empresas que utilizam matéria prima mineral. § 1º
Considera-se jazida toda massa de substância mineral, ou fóssil, existente no interior
ou na superfície da terra e que apresente valor para a indústria; mina, a jazida em
lavra, entendido por lavra o conjunto de operações necessárias à extração industrial
de substâncias minerais ou fósseis da jazida. § 2º Entende-se por produção efetiva da
mina a que realmente for extraída e utilizada (JUSBRASIL, 2012, p. 1).
[...] as secas nordestinas mais uma vez colocavam grandes parcelas da população em
estado de miséria. Naquele ano, na esteira de um patético discurso proferido do
Presidente Médici, no Recife, no qual reconhecia a miséria e as multidões de
famintos do Nordeste, foi criado o Programa de Integração Nacional – PIN, pelo
qual se determinava a construção da Transamazônica e de Cuiabá-Santarém, e da
rede de aeroportos asfaltados; reserva-se uma faixa de 10 km às margens das
rodovias para colonização e reforma agrária; é criado o INCRA – Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária, o agente executor desta política (IANNI, 1979;
MIRANDA NETO, 1979, apud SALOMÃO, 1984, p. 53).
“[...] era muito forte o garimpo em Poxoréu, tínhamos aqui uma base de
três mil dragas, empregando cerca de 20 mil homens, tendo sete homens
trabalhando diretamente na draga. Então com três mil dragas, fora outros
de garimpos, garimpos com motor, garimpo manual, garimpo de água, que
eles falam de rego d’água. Então nesse tempo ai a nossa população em
Poxoréu atingiu 29 mil pessoas, marcando assim o apogeu da década de
1970, de 1980 até meados da década de 1990 com a chegada dos
maquinários para os garimpos, acelerando a extração de diamante através
do maquinário”. (OPALA)
“Com a queda do garimpo, início de 95 pra cá, pelas dificuldades normais do custo
de vida, do preço das coisas ficaram muito alto, difícil contratar uma draga, além
disso, mais ainda, os órgãos governamentais, os órgãos de fiscalização ambientais
que começaram a travar isso ai. Porque o garimpo joga muito areão dentro do rio.
Prejudica a natureza”. (OPALA)
Neste sentido, no relato dos entrevistados e afirmado ter muito diamante só que a
extração é mínima, quase ninguém quer trabalhar na área do garimpo. Em relação aos
garimpos legalizados se posiciona da seguinte maneira:
É possível afirmar de acordo com Baxter (1975) que, em algumas áreas do Brasil onde
a mineração avançou, distintas fronteiras espaciais e conceituais existem entre as esferas rural
e urbana. Tal distinção era percebida no período mais próspero, quando as classes mais
abastadas permitiam elos com as distantes metrópoles. Portanto, com a decadência da
produtividade mineral os elos foram sustentados, sobretudo por “nostalgia”, que mantinham
um sentimento de deslocamento no interior, de ter mais coisas em comum com a população
das cidades distantes do que com os habitantes rurais que permaneceram no local.
21
Esta Lei foi publicada por afixação no saguão da Prefeitura de Poxoréu, em 10 de outubro de 2006, no Jornal Oficial dos
Municípios e no site oficial do município, de conformidade com o art. 106 da Lei Orgânica de Poxoréu e Lei nº. 1.041/2006.
89
As alternativas perpassam pelo que restou do garimpo, pois muitos buracos foram
abertos e assim permaneceram, pois:
“Hoje, nós estamos tentando fazer do garimpo uma outra alternativa, que é
a piscicultura. Pois, no garimpo cateado, eles abrem um monte de buraco e
ficam lá. E nossa região tem a melhor água do estado. Nós temos aqui uma
lagoa que tá saindo o turismo. [...] solicitamos e conseguimos máquinas do
Governo Federal, chega final do mês, fizemos o convênio. Temos a
Associação de Piscicultores com 80 associados, já está com a área
legalizada e nós vamos chegar com essas máquinas e fazer os tanques,
muitos desses tanques na região do Alto Coité, Buritizal que era a área de
garimpo, lá nós já temos o tanque pronto é só moldar”. (OPALA).
de terras pelos trabalhadores por meio de financiamento do Banco do Brasil, é o que nos
informa o Jornal “A Crônica” (2012, p. 1).
Neste sentido, há o subsídio do Estado para outros investimentos, pois:
Poxoréu ao enfrentar este ciclo de alternativas pós- garimpo ao final dos anos de 1990,
o plantio de Maracujá delineou um universo com perspectivas econômicas, que rapidamente
se frustraram na ordem gerencial, técnica e cultural, pois, que o seu advento exigia um
empreendedor liberto da cultura garimpeira e preparado para executar um novo paradigma
econômico (AMORIM, 2011). A expectativa desta atividade econômica era a seguinte:
Tinha-se ali uma ideia nova, mas ainda um modelo antigo, de modo que, ainda que a
cultura do maracujá não tenha atingido as nossas expectativas, seu fracasso ainda
não significa sua inviabilidade econômica. Temos, hoje, um trabalhador rural (o
antigo garimpeiro) mais amadurecido e podemos corrigir, talvez, o principal erro da
cultura do maracujá: A MONOCULTURA, podendo evoluir, por exemplo, para o
TECNOFRUTAS, já que em alguns assentamentos rurais sobressai-se, ainda em
pequena escala, a cultura de algumas frutas, sem contar, é claro, a possibilidade de
exploração e beneficiamento das frutas nativas dos biomas naturais. Em termos de
desenvolvimento rural sustentável é importante afirmar-se na POLICULTURA e no
desenvolvimento do SELO DE QUALIDADE capaz de configurar a identidade da
linha de produção para o atendimento de demandas externas (AMORIM, 2011, p. 6).
Neste sentido, podemos considerar que o garimpo ainda tem uma parcela da rotação
econômica do município de Poxoréu? Nas considerações expostas na entrevista, “pouco, hoje
não dá 5%, quem vive do garimpo é só o pessoal das pedreiras. Mas esse garimpo só dá
dinheiro para o dono da pedreira, porque para os outros dá o emprego”. (OPALA). E ainda
93
afirma que “de todas as pedreiras extrai-se o diamante, mas esse diamante só dá lucro para o
dono da pedreira, para os outros não”.
Alguns estudos significativos foram levantados para perceber que a mineração precisa
ser rigorosamente fiscalizada, pois traz danos irreparáveis ao meio ambiente.
Vejamos:
Rondônia, garimpos de ouro nas regiões do Alto e médio rio Madeira e rio Paranari-
Amana; em Mato Grosso, garimpos de ouro em Alta Floresta e Peixoto de Azevedo
(que atualmente já estão praticamente esgotados), e diamante em Poxoréu; em Goiás
garimpos de cassiterita em Campo Alegre, de esmeralda em Santa Terezinha e de
quartzo e diamantes nos vales dos rios Paranaíba, Claro e Araguaia, no município de
Cristalina (SCLIAR, 1996 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 10).
No Mato Grosso do Sul existem garimpos de diamante no leste do Estado, nos cursos
dos rios Jauru, Taquari, Piqueri e Coxim e na borda Noroeste da Bacia do Paraná, nos
municípios de Pedro Gomes, Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Corguinho, Rochedo e
Aquidauana; garimpos de cobre, chumbo e zinco no município de Bodoquena; garimpos de
ouro nos municípios de Bonito, Maracaju e Coxim (SILVA, 1990 apud AZEVEDO e
DELGADO, 2002).
Uma característica dos garimpos são os conflitos entre garimpeiros e empresas
mineradoras. O governo chegou a criar algumas áreas especiais para garimpeiros, a fim de
resolver conflitos mais graves: em 1978 foi criada a reserva garimpeira do rio Madeira, em
Rondônia, para a exploração de ouro, e a reserva garimpeira de Poxoréu, no Mato Grosso,
para a exploração de diamantes (SCLIAR, 1996 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p. 10).
A realidade em direção às práticas de extração de diamantes podem ser encontradas
nas pedreiras, porém não declaradas, pois atualmente são direcionadas à construção civil.
94
Assim:
“Acho que isso nem é mais garimpo, que eles nem estão mais atrás do
diamante, eles tão vendendo material para construção, e isso ai nós estamos
numa luta danada em cima das pedreiras, porque as pedreiras agora que
estão começando a dar nota fiscal, a prefeitura tem fiscalizado com rigor.
Se você ficar aqui passa de 20 a 30 caminhões para Rondonópolis, em
direção a Santos carregados de material de construção, e se não cuidar eles
passam todos sem nota. Para Primavera, das 15 pedreiras, saem 100
caminhões de material de construção todos os dias, com areia, brita para
asfalto, pedrisco para construção. Primavera e Campo Verde foi construído
100%, não só as casas, mas as ruas, a pavimentação, 100% com material de
Poxoréu. E Poxoréu viu muito pouco disso ai, ta vendo agora, ta
começando a ver agora porque os outros não tiveram”. (OPALA)
[...] responde por mais de 85% da produção oficial, ou por mais de 91% da
estimada; dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que, no Brasil,
existem cerca de 10.000 empresas pequenas e médias atuando no ramo de
mineração, gerando entre 100.000 e 250.000 empregos, com 90% de informalidade
no trabalho (VALE, 2000). O caráter informal e clandestino dessas atividades, que
dificilmente são fiscalizadas pelas autoridades competentes, acaba resultando em
degradação ambienta l16 e más condições de segurança e de saúde dos
trabalhadores, permitindo a intensa exploração do trabalho e a exploração
indiscriminada dos recursos naturais.
“Eles fazem o que querem, tem uma pedreira que tira oito caminhões por
dia, e sabe o que ele faz, tira com uma nota fiscal só, não sei como ele
consegue (porque tem que tirar na hora), não tem controle porque estão
andando sem nota, porque para Rondonópolis não tem fiscalização. O
Imposto da Mineração – CFEM, conseguimos neste mandato e foi muito
bom, porque nenhuma pedreira pagava o CFEM, agora todos pagam, até
para controlar a questão do lixo. Há três anos tinha 6 mil reais na conta do
CFEM, no segundo ano 16 mil, neste ano foi 27 mil. A expectativa é de
alcançar os 50 mil no próximo ano”. (ÁGATA)
22
A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida pela Constituição de 1988,
em seu Art. 20, § 1o, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da
União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. Ao
Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM compete baixar normas e exercer fiscalização sobre a
arrecadação da CFEM (Lei Nº 8.876/94, art. 3º - inciso IX). Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/
conteudo.asp?IDSecao=60 – Acesso 01/08/2012.
96
Desta maneira:
“Só tem duas pedreiras que tiraram a licença para a garimpagem, o resto
trabalha e vende clandestinamente, e preciso que o DNPM fiscalize, esteja
presente, em três anos, estiveram aqui uma vez só, temos 11 pedreiras
atuantes, totalmente sem fiscalização, a devastação está grande, tenho uma
grande frustração em relação a isso, não consegui controlar isso, pois há
muita politicagem, sempre que monta uma ação, os políticos não deixam. O
promotor disse que ia organizar o garimpo (as pedreiras) - fez um pacto
ambiental com elas, se reuniu com o prefeito, o coordenador da mineração.
Disse para montar uma fiscalização e se não houver controle é para chamar
a polícia, para tomar iniciativa. Mas, o prefeito não concordou”. (ÁGATA)
“As pedras que são rejeitos principais das Pedreiras abastecem Primavera
do Leste, Rondonópolis, as casas são feitas com as pedras e com a mesma
perversidade de antes, porque se o garimpo não deixava um centavo de
renda, com a pedreira acontece a mesma coisa estão condicionadas a um
alvará de 2 mil reais e ganham 1 milhão ao ano, saem muitos caminhões por
dia, pouco é declaro. Não fica nada para o município. Quem tem poder
econômico abre a sua empresa. E em termo de riqueza para o município,
não fica nada, para o restante da população fica com a degradação
ambiental, a violência, problema social. Por um lado continua o garimpeiro
neste mesmo trabalho, não mais com o diamante, mas agora com as
pedras”. (JASPE)
Distrito do Alto Coité, no município de Poxoréu, [...] conhecida como Planalto dos
Alcantilados, na porção Sudeste do Estado de Mato Grosso, em associação com
estudos geológicos, geomorfológicos e sócioeconômicos, para ser estabelecida sua
divisão em unidades ambientais. Esta região ainda é palco de atividades garimpeiras
para a busca de diamantes, o que vem apresentando problemas relacionados com sua
qualidade ambiental. Desta forma esse mapeamento foi realizado [...] através do
Projeto de Pesquisa denominado “Estudo das Rochas com Potencial para o
Desenvolvimento de Crostas e suas Relações na Elaboração do Relevo nas Áreas
das Bacias Hidrográficas do Alto Rio Paraguai, do Rio Juruena e do Rio Teles Pires
no Estado de Mato Grosso”.
98
[...] esta área apresenta problemas sérios no que tange à questão ambiental, alguns
relativos a acontecimentos naturais, embora, a maior parte seja resultado de
intervenções de natureza humana, que são oriundas do uso indevido do solo, dos
desmatamentos, sobretudo, para a atividade garimpeira desenfreada, tal como
pudemos observar nos trabalhos de campo na região (ROSA, 2007, p. 18).
No aspecto legal a Política Nacional do Meio Ambiente sob a Lei N. 6.938/81 em seu
Art. 2º - ressalta que,
23
Segundo o Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), área de preservação permanente é toda aquela constante
em seus artigos 2º e 3º, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.
Lei N. 9433/1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
100
Pedreiras em Poxoréu, os crimes datam do período de 2010, estes são amparados pelo Decreto
n. 3.358/2000 que expõe no:
“Aqui agora tem muitas pedreiras, estão em áreas de APP, tem muitos
gaúchos que compraram terras para Pedreiras. Tem um conchavo muito
grande, eles tem mais de 100 carretas, pagam um imposto irrisório, é
preciso rever tudo, estão em áreas de APP. Muitas cidades utilizaram de
nossas pedras, Primavera do Leste está rica com nossas pedras, compra
muito para construção civil, a Rodovia de Paranatinga utilizou para fazer
piso de asfalto, foi feito com as nossas pedras”. (JASPE)
Desta maneira, visualizamos uma nova prática de garimpo em Poxoréu, através das
Pedreiras, que desenvolve uma prática na produção de pedras para a construção civil, no
entanto ocorre a extração do diamante em algumas delas. A região é rica em recursos
minerais, porém:
24
Autorização concedida pelo poder público para o funcionamento de quaisquer empresas poluidoras, como as
extrativas minerais (Lei 7.804/89 e Decreto Federal 99.274/90).
102
O impacto ambiental causado pelas lavras de diamantes e demais gemas são: erosão;
desmonte de rochas com acumulação de pilhas de cascalho, suprimindo a vegetação;
construção de diques nos riachos e canais de água para suprir a lavagem de cascalho e
assoreamento dos cursos d'água (BAXTER, 1988 apud AZEVEDO e DELGADO, 2002, p.
18).
Nos estudos de Azevedo e Delgado (2002) indicam que com a diminuição da
produção e estagnação dos garimpos, no final dos anos 80 aos anos 90, provocou uma
diminuição populacional, com a retomada de atividades agropecuárias, menos intensivas no
uso de mão de obra. Este fenômeno é observado em regiões, principalmente que atraíram
garimpeiros, que com a estagnação da atividade ficam sem opções de trabalho, ocasionando
graves problemas para o município, que além dos problemas sociais e econômicos herdam os
problemas ambientais provocados pela mineração. Esta é uma realidade de Poxoréu por ter
perdido populações ao longo dos anos.
25
A lapidação é um tratamento as quais são submetidas as gemas a fim de obter a forma que mais ressalte a sua
beleza, bem como o máximo de brilho. Compreende várias fases: corte, formação, facetamento e polimento. Nas
gemas transparentes a lapidação deve ser tal que proporcione o retorno da luz que nela penetra na mesma direção
103
e com intensidade máxima. MORAES, Pércio. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. Editora Oficina de
Texto, 2008.
26
A Gemologia é um ramo da ciência proveniente da mineralogia, com participação da cristalografia, química e
física. A gemologia é a ciência que estuda gemas. Disponível em: http://gemologia.webnode.com.br/gemologia.
104
27
A METAMAT está vinculada à Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme).
107
“[...] temos mais de 10 tipos de pedras coradas, eles falam pedras coradas,
que nem os garimpeiros sabiam, eles sempre foram atrás do diamante e
28
Os gemólogos são pessoas que estão capacitados a classificar gemas, tendo conhecimento básico da
gemologia, nomenclatura, históricos, províncias gemológicas, lapidação, tipos de gemas, natureza e propriedades
das gemas. http://gemologia.webnode.com.br/gemologia.
108
jogavam essas pedras ai, nós temos um material para 100 anos de trabalho
sem precisar escavar o chão, só com a que foi tirada do subsolo e foi jogada
no solo, então nós temos coisa ai pra 100 anos”. (OPALA)
“Aqui temos uns 10 tipos de pedra, a Safira (tem um valor grande), ônix,
citrino, jaspe e ágata, estas duas últimas são mais valorizadas atualmente.
Antes as pessoas vinham buscar as pedras aqui e levava a preço de banana,
às vezes nem cobravam, pois os garimpeiros só se interessavam pelo
diamante. Não tinham ideia do valor que se teria”. (ÁGATA)
“A nossa Opala não tem igual, é diferente da Austrália e do Piauí, aqui
temos várias gemas, como: Ágata; Jaspe; Onix; Opala; Safira; Granada;
Berillo etc.” (JASPE)
“Atuam com seus maquinários, sendo uma empresa individual, outra minha
que está quase pronta, através dos maquinários, pretendo produzir bolinhas
para a confecção de colares, e tem as pessoas que não tem condições para
montar a própria e procuram a Oficina de Lapidação para aprender”.
(ÁGATA)
A ideia inicial da Oficina de Lapidação (Figura 14) era para agregar filhos de
garimpeiros, mas nas palavras da Secretária Municipal de Comércio, Indústria e Mineração,
“os jovens não se interessam, não há antigos garimpeiros neste novo processo, pois hoje são
aposentados, encostados, já velhos, hoje a garimpagem sai muito caro para o garimpeiro.” E
em relação às mulheres garimpeiras, a mesma diz que nas pedreiras não tem mulheres
trabalhadoras no garimpo, “mas na lapidação sim, tem muitas.” (ÁGATA).
29
Disponível em: http://gemasejoiasdepoxoreu.blogspot.com.br/2011/10/historia-da-lapidacao-em-poxoreu.html.
109
As pessoas de Poxoréu estão interessadas no projeto, é o que nos aponta Jaspe, “os
lapidários são pessoas daqui, são filhos de ex-garimpeiros. O SEBRAE investiu tudo, estão
sempre por aqui. Individualizei tenho a minha própria lapidação. Tenho todo o maquinário, é
tudo muito caro. Precisamos adequar o maquinário.”
O grande desafio para os lapidários de Poxoréu é montar a Ourivesaria, com
possibilidade através de uma emenda parlamentar para apoiar trabalhadores de ourivesaria e
fundição de Poxoréu com recursos no valor de R$ 200 mil (RDNEWS, 2010, p. 1).
O projeto conta com a habilidade e competência profissional de Design de Joias, no
desenho das peças, e muitas outras as quais foram premiadas internacionalmente. Segundo
Ágata,
Além do Cravejamento das Joias, projeto este motivado pela exportação, que diante
dos relatos de Ágata a expectativa referente à lapidação afirma que: “em três anos de
implantação da Lapidação estamos caminhando bem, há uma empresa do Canadá
interessada nas pedras, porém há uma série de exigências para a exportação, todos os
lapidários são cadastrados no COAF30 – Conselho de Controle de Atividades Financeiras,
mas há muita procura, vendemos muitas peças para Brasília.”
Na técnica de lapidação foram capacitadas três turmas, Ágata aponta que “todas as
vagas foram preenchidas no curso havendo interesse da população em aprender. Agora
estamos esperando a próxima etapa para o próximo passo do andamento do projeto, pois
paramos no design, foi feito todas as aulas e o SEBRAE ainda não sinalizou a vinda para dar
continuidade com a terceira turma, que inclusive as outras duas turmas foram convidadas
para participar. De todos as 50 pessoas que foram treinadas, somente 20 estão atuando.”
30
Art. 1º O Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, órgão de deliberação coletiva com
jurisdição em todo território nacional, criado pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, integrante da estrutura do
Ministério da Fazenda, com sede no Distrito Federal tem por finalidade disciplinar, aplicar penas
administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas em sua
Lei de criação, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. Parágrafo único. O COAF poderá
manter núcleos descentralizados, utilizando-se da infraestrutura das unidades regionais dos órgãos a que
pertencem os Conselheiros, objetivando a cobertura adequada de todo o território nacional. (COAF CAPÍTULO
I - DA NATUREZA E FINALIDADE, COAF, 2012).
110
Em relação à característica das pedras de Poxoréu nos relatos de Ágata explica que:
“Todas as nossas pedras são “roladas” (quer dizer que são brutas, roladas
no rio) o processo natural delas, e algumas vem como se fossem lapidadas.
São essas as preferidas, escolhidas pelo lapidário. Temos em abundância a
ágata e a jaspe. A diferença entre elas é que a ágata é transparente e a jaspe
não, a nossa ágata é diferente com a do Rio Grande do Sul. Cada pedra tem
uma cor própria, inclusive não aceitamos encomenda de uma mesma cor,
por cada pedra é diferente, com cores variadas. Por aqui virou mania, todos
que trabalham na secretaria são lapidários”.
A B
Figuras 16 A e B - Amostra de pedra bruta e pedra fatiada, sendo preparada para a lapidação.
Fonte: Leila Chaban, 2012.
A B
A produção através da Lapidação, que nas palavras de Nascimento (2010 apud Loydi,
2010, p. 1), “depois de muito tempo sendo mascaradas pelo diamante, finalmente as gemas
brasileiras ganham espaço e admiração.”
112
Vendo muito as minhas peças para Milão, vem muito italiano comprar minhas
peças, o mercado é disputado. Mas, tenho um controle de qualidade, vou
desenhando as pedras, ela própria se dá o formato, daí defino se ela será com ouro
amarelo, branco. Utilizo prata mil, couro grego de ovelha, próprio para joia,
maleável – fiz uma composição do Jaspe com couro, ficou show, linda diferente.
Tenho um estoque bom de peças, e estou me recuperando de uma unha que perdi na
máquina. O mercado é concorrido, a intenção pessoal é em transformar em produto
turístico. Coloco todo o meu carinho, tenho um diferencial, a pedra tem uma
característica própria, crio uma identidade própria para cada lote de pedra, cada lote
é de uma região tradicional, crio uma personalidade, a regionalidade tem um valor
específico. O público alvo é o turista, é preciso agregar vários nichos de mercado,
aqui tem potencial para isso (OSMAR NASCIMENTO, 2010).
Exploração em minas; garimpagem com rego d’água; desvio de rios e riachos para
exploração e mergulhagem. Todos estes poderiam ser explorados através de minas
114
(catas), embora alguns o sejam com água, e outros a seco, utilizando as ferramentas
adequadas, sendo a principal delas a enxada e o carumbé31.
Assim, o material mais leve do cascalho era levado pela corrida, e com as pedras
maiores construía-se uma parede formando montes chamados de despejo (BAXTER, 1975, p.
123). Embora outras técnicas avançadas ocorreram, ainda numa prática simplificada há
utilização do martelo para selecionar a melhor pedra na cata atual, é justamente nestes
despejos que se busca a matéria prima sendo visíveis, valorizados e utilizados atualmente em
Poxoréu na Lapidação, a qual denominamos de novo garimpo.
Desta maneira, ao perceber novas alternativas que supere a estagnação social e
econômica, pensar no filho do ex-garimpeiro, nas mulheres, jovens, e assim ao se referir à
lapidação em Poxoréu, é possível destacar novas técnicas, propor mudanças a uma nova
prática garimpeira.
Assim, afirma que:
31
O carumbé é um prato sem alça, redondo de madeira e localmente fabricado, usado para carregar (no ombro)
desmonte e cascalho. (BAXTER, 1975, p. 123 ).
115
No entanto:
“Na realidade, quem veio dar o curso, tá levando as peças para serem
montadas em outro estado, fora daqui, segundo as pessoas que fazem a
lapidação. Acho que ele é do nordeste. E assim, é uma coisa bem restrita, é
um grupo de se fechou, tem um grupo individual. Tem uma associação que
tá fazendo este projeto, mas pelo pouco que eu sei na hora de vender, cada
um comercializa o seu”. (SAFIRA)
116
Ainda:
“Houve uma tentativa de formar uma cooperativa, mas não deu certo, o
SEBRAE acredita que só acontecerá quando a comunidade tiver
maturidade, administração. Cada um tem o seu, tem muito terceirizado, o
processo é esse mesmo, é um processo natural, há o produto, o SEBRAE não
117
afirmar que ela não será uma mera luta pelo poder político, mas uma dinâmica para
impressão de resultados econômicos e progresso social, muito menos fazer política
da administração, mas da administração, uma política (AMORIM, 2011, p. 2).
transformar num processo muito maior, mas não se tem esse olhar, uma política pública que
apoie infelizmente o Estado trava o desenvolvimento”.
O SEBRAE tem por finalidade estabelecer:
“O SEBRAE não abandonou o projeto, “há quem diga que não deu
resultado este projeto, mas o trabalho com a comunidade, em grupo é difícil,
damos a oxigenação, a ideia está posta, mas é preciso que haja a
organização própria. Oxigena e vai embora, até que se tenha a
independência”. Entre as diversas tentativas para a vocação econômica em
Poxoréu há na lapidação uma grande expectativa, porém é preciso que o
Estado acredite no projeto, “a ideia está posta, é preciso construir a
organização, ter força e o estado que acredite neste processo. É necessário
ter densidade, criar uma rede no ramo da lapidação, assim como em
Poxoréu, também em Tesouro e Alto Paraguai, assim ficará fortalecido terá
densidade, pois somente em Poxoréu não é suficiente”. (BERILO)
Estado, abrindo espaços para a extensão das relações mercantis, se chocam diretamente com
os interesses públicos e com os direitos universais da grande maioria dos cidadãos (SADER,
2004).
Assim:
É preciso levar em conta a cultura local, aquilo que se construiu ao longo do tempo,
é necessário que se tenha lastro com a atividade proposta, com capacidade para o
trabalho. No entanto, o que ocorre muitas vezes é uma política social do Estado que
tem em seu bojo, a Saúde, a Educação a Assistência, e é preciso eleger alguns ícones
para valorizar a produção local condizente com a cultura estabelecida regionalmente.
Em Mato Grosso, por exemplo, há que se fortalecer uma política que valorize o seu
produto regional, no tocante a eleger o empreendedorismo, como apoiar as
iniciativas com produtos como a pedra, a tecelagem, a piscicultura, a madeira entre
outros produtos que fortaleçam a atividade e propicie a sustentabilidade
socioeconômica da região.
É necessário valorizar o produto culturalmente, pois “O Brasil foi um país que não
teve educação, então não dá para fazer com que estas pessoas detenham uma tecnologia que
não alcança, pois as pessoas não têm essa cultura de cuidar minuciosamente, não
conseguem”. (BERILO). Os sulistas têm uma habilidade diferenciada tem outra cultura dos
nordestinos e outros. Por isso a importância em se desenvolver projetos pensando neste
aspecto da cultura, do povo, que se tenham lastros com a cultura local para o sucesso do
projeto.
122
consistência ao Projeto de Lapidação. No planejamento anual se estrutura nas ações que vão
acontecendo e se desenvolvendo.
Sabe-se que em Poxoréu tem um problema político, com modelo de gestão de política
muito antigo, portanto:
diamante, havia certa resistência quanto à proposta da lapidação das pedras semipreciosas,
diante de uma cultura restrita ao diamante, e ao conhecer a pedra lapidada em Pedro II, é que
se abriu para novas alternativas, visto pela abundância mineral em Poxoréu.
Portanto,
Nas últimas décadas, tem-se intensificado o interesse pela (re) utilização de materiais e
produtos como instrumentos econômicos que viabilizem a produção e geração de emprego às
famílias como alternativa de uso não predatório dos recursos naturais sustentáveis. É notório
que a utilização dos instrumentos de forma isolada, revela-se insuficiente para assegurar os
125
resultados esperados das políticas públicas, em particular no que diz respeito ao uso dos
rejeitos de gemas em Poxoréu como uma nova prática de garimpagem, através de cursos na
Oficina de lapidação. Desta forma, é fundamental que as políticas públicas se articulem às
dimensões econômica e social no processo de desenvolvimento municipal.
O universo que envolve o garimpo é historicamente representado pela figura
masculina, no entanto, mulheres e crianças compõem este cenário intensamente. No tocante a
realidade de Poxoréu não é diferente, pois identificamos no trilhar deste estudo que as
mulheres principalmente sempre estiveram presentes neste cenário em áreas próximas ao
garimpo. Nos primeiros períodos da formação de Poxoréu:
se divertindo nos cabarés da Rua Bahia, no centro antigo da cidade. Havia uma crença nos
garimpos: “o garimpeiro deve gastar todo seu dinheiro, senão não terá mais sorte".
Nos relatos ainda nostálgicos das décadas de 1970 e 1980:
A realidade vivida pelas mulheres trabalhadoras dos cabarés (Figura 21) era de
exclusão, pois muitas eram mães solteiras, sustentavam seus filhos com o dinheiro adquirido
nos cabarés, lugar violento, onde aconteciam brigas e até mortes. As mulheres discriminadas
sofriam preconceito, estas eram proibidas de frequentar ambientes em que as famílias
poxoreenses frequentavam, como por exemplo, o Diamante Clube (Figura 22), a ponto de que
se descumprissem a ordem, poderiam passar a noite presas. Como todas eram conhecidas dos
policiais quase nenhumas descumpria a ordem estabelecida pelo delegado (AFONSO, 2011).
Figura 21 - Ponto histórico aos arredores dos cabarés de Poxoréu, conhecido como
a “Pedra do Jigolô” - pedra que acomodava os amantes das prostitutas, estes
aguardavam o término dos programas para dormirem juntos e pegar o dinheiro de
algumas .
Fonte: Luciene Ferreira Afonso. Blog Poxoréu, 2011.
127
É importante perceber o ranço de uma história que não foi esquecida, a busca por uma
vida melhor rumo ao desconhecido, reféns do seu próprio sonho, assim como percebemos no
o relato de quem viveu esta realidade:
Vejamos:
Inicialmente por volta de 1970 o Centro Juvenil funcionou como escola primária e
secundária frequentada pelos filhos dos “garimpeiros” que chegaram a região em
busca de sustento para a própria família. Um dos prédios construídos hospedou por
muito tempo o Posto de Saúde, com atendimento médico-odontológico,
oferecimento de vacinas, etc. Com o passar dos anos, o Centro Juvenil iniciou os
seus trabalhos de atendimento social, diante da necessidade vista pelos Salesianos de
se oferecer aos jovens uma formação não apenas humano-religiosa, mas também
profissional, cultural, lúdica e esportiva (BATISTA, 2012, p. 1).
“Naquele tempo acho que exploração era muito menor, eu falo infantil ou
de jovens, era muito menos porque as pessoas tinham dinheiro. A
exploração sexual vem da falta econômica, poder econômico porque você
chega as vezes numa residência em que a pessoa não é muito esclarecida,
não tem estudo e não tem o poder econômico, as vezes a própria mãe
empurra a filha pra aquilo dali, pra ganhar o dinheiro, e naquele tempo não
precisava porque tinha dinheiro na cidade. Então a gente vê muito esse
lado, em todo lugar pode olhar a droga e a prostituição ela é pelo poder
aquisitivo ela surge da camada baixa porque o alto compra e manda o
coitado ir vender pra receber uma coisinha pra ele fica fora daquilo lá né?
130
“Antigamente com a cultura do garimpo, que ainda perdura até hoje, tem
uma “Zoninha” aqui mas, não funciona mais, temos bastante demanda da
exploração sexual devido a cultura do garimpo. Hoje o maior problema
também é a droga, elas se prostituem para ganhar seu dinheiro. Temos um
problema, com os postos de gasolina, os caminhoneiros não se
conscientizam, é muito difícil. A maioria é do sexo feminino. A região mais
crítica é na Av. Tinópolis, tem uma grande concentração de drogas”.
(CRISTAL)
“Eles acontecem na rua das associações, tem a fachada de Bar, mas nos
fundos tem o prostíbulo. Na Rua Bahia não tem mais prostíbulo desde 1990,
nem morador quase. Ela funcionou em 1980 no auge do garimpo, agora não
tem mais nada. Foi no começo de Poxoréu. E tem, sempre aqueles que nós
sabemos, tem os agenciadores”. (SAFIRA)
Foi-nos relatado que nas Pedreiras, também ocorrem casos tem exploração sexual
infanto-juvenil.
Vejamos:
“Teve um caso que as meninas foram para uma pedreira, fomos verificar e
eles foram presos. Sempre fiscalizamos neste caso o rapaz era filho de
político. Em uma outra denuncia, fomos fiscalizar na região das pedreiras,
ao chegarmos vimos que estavam assando uma carne, tomado cerveja, nada
de mais, mas mesmo assim pedimos para irem embora. Aqui não tem área
de lazer, não tem opção, então o pessoal vai para o rio, não tem nada aqui”.
(CRISTAL)
“Sim, tem muitos focos - já identificamos alguns pontos que geralmente tem
essa prática na cidade, um deles fica na rua próxima ao Posto de Gasolina;
tem também uma região que tem vários Bares, que fica próximo à Rodovia
na saída para Primavera do Leste; na Rua da Associação dos Garimpeiros,
que são trabalhadores de granjas, pessoas que se reúnem final de semana
nessa região, ou moradores daqui, e até mesmo pessoas que nem
imaginamos, são pessoas que nem é deste perfil”. (SAFIRA)
Diante de uma realidade como esta, é possível notar a exploração sexual infanto-
juvenil como resquício do garimpo como algo cultuado culturalmente, assim como em alguns
lugares evidenciados por este universo, como na Amazônia mato-grossense, por exemplo,
pois sabemos que as avós, as mães, e consequentemente as filhas seguiram a prática do vivida
no contexto do garimpo.
Notemos no relato referente à ligação da exploração sexual como resquício de
garimpo:
“Não é não. Acredito que não, até porque as adolescentes que nós
atendemos não são filhos de garimpeiros. Podemos dizer que não tem mais
garimpo, já tá tão escasso. Hoje a gente já não fala que é do garimpo, pois
as adolescentes já tem 13 anos. Se formos pensar em relação à geração,
podemos dizer que sim, pois aqui todo mundo já garimpou, todos
participaram de uma forma ou outra, praticamente todos participaram do
garimpo”. (SAFIRA)
132
Sem dúvida um avanço, ao permitir que a assistência social, assim posta, transite do
assistencialismo clientelista para o campo da Política Social. Como política de
Estado, passa a ser um campo de defesa a atenção dos interesses dos segmentos mais
empobrecidos da sociedade.
32
É entendida pelo “conjunto das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção
social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-
se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 1998, p. 27).
135
referência inicial à família, na sua condição de esfera primeira, natural e básica de atenção”
(CONANDA, 2007, p. 12).
No entanto, é preciso que a família tenha como aliado formal e legal o Estado, no
sentido de receber condições de trabalho, e estrutura que garantam a educação efetiva às
crianças e aos adolescentes, assim como saúde, à assistência social, ao lazer, a cultura, enfim
efetivar realmente que “a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (ECA: Art. 70).
O cenário do novo garimpo no âmbito da exploração sexual infanto-juvenil, Poxoréu
se inclui na pauta de notícias nacionais com alto índice desta prática. É o que nos indica a
reportagem (A GAZETA, 2005 apud BARBOSA, 2006, p. 2), com a seguinte matéria:
“Poxoréu na triste lista nacional de exploração sexual de crianças e adolescentes”. As crianças
e adolescentes devem ser protegidas pelo Estado, pela família e pela sociedade como prevê o
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990.
Esta realidade que envolve o público infanto-juvenil exposto a diversas situações de
violação de direitos, é presenciada em regiões de garimpo, que diferentemente de décadas
anterior a de 1990 não havia enfrentamento no tocante à violência sexual anunciados em
Poxoréu, pois
Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2005, pela Secretaria Especial dos
Direitos Humanos (SEDH), ligada ao Ministério da Justiça, em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e coordenado pela Universidade
de Brasília (UNB), identificou que Poxoréu está incluída entre as 937 cidades do
Brasil identificadas com o fenômeno de exploração sexual de crianças e
adolescentes com fins comerciais.
Outras regiões mato-grossenses também fazem parte deste contexto de violação dos
direitos do público infanto-juvenil, vejamos:
“Na realidade, o maior desafio aqui é o desemprego das famílias, se ela está
empregada, agente consegue colocar o filho na escola. O problema maior é
o desemprego. Temos o problema da “desestrutura” familiar. Tem família
que não tem pra onde ir. Tem a questão cultural muito forte, do garimpo,
muitas famílias se acostumaram com aquela questão de pedir e doar. Mas,
está melhorando, tá mudando. Percebemos que as pessoas querem
trabalhar, mas não tem a oportunidade. Aqui em Poxoréu, as pessoas são
funcionários Público ou você tem comércio, já tá começando a mudar, tem
muitas dificuldades tem famílias com 5 pessoas que estão todas
desempregadas. Adolescentes de famílias de melhor situação financeira vão
para fora estudar e que geralmente não voltam para Poxoréu. As pessoas
que tem comércio, com os filhos de 15 e 16 anos vão embora. Ficam aqui
somente quem não tem condições de sair”. (SAFIRA)
Nesta direção, pensar a intervenção do Serviço Social nesse novo campo apresentado
pelas transformações de uma realidade que esteve no topo da produção econômica
direcionada à garimpagem de diamantes, e vai ao declínio total reunido às novas demandas
diante do campo socioambiental e econômico, a intervenção profissional necessita de respaldo
teórico metodológico a partir de uma leitura crítica, tendo em vista uma ação não alienada,
pautada nos princípios éticopolítico que orientam a profissão, torna-se imprescindível
entender as transformações da contemporaneidade e o que se revela por trás do discurso legal,
tanto na defesa ao meio ambiente como na garantia de direitos à população infanto-juvenil.
Ganhos representados pelo marco histórico de conquistas advindas dos movimentos
sociais trazendo um novo paradigma à sociedade brasileira, assim o campo socioambiental e o
econômico, na medida em que os espaços ocupacionais forjam condições e relações de
trabalho específicas que devem ser elucidadas.
Parafraseando Iamamoto (1993) é na história da sociedade, na prática social que se
encontra a fonte de nossos problemas e a chave das nossas soluções.
Diante da ótica da política neoliberal como projeto de Estado sustenta os direitos
individuais, já no campo dos direitos sociais, em sua trajetória:
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo dissertativo, durante o seu percurso nos aproximou da realidade construída
historicamente ganhando destaque o trilhar de homens, mulheres e crianças em constituir a
história local, enfrentar o novo, superar o velho e encarar uma nova proposta, esta que
possibilita sistematicamente a perceber um novo sonho e alcançá-lo.
Nas abordagens desta pesquisa evidenciamos o paradigma entre o garimpo e o novo
garimpo, conhecemos através deste uma realidade de sonhos, conquistas e declínio. Desta
maneira, partimos do sonho ao recomeço, do auge ao declínio da extração do diamante em
Poxoréu, esta que foi durante décadas a principal vocação econômica do município, que
atualmente ocorre a tentativa em se estabelecer o novo garimpo como uma nova proposta
efetivada na lapidação, na utilização das gemas semipreciosas rejeitadas no período auge do
garimpo, estas visivelmente valorizadas economicamente, socialmente e especialmente por ter
sua identidade social com fortes lastros culturais. O novo garimpo apresenta uma nova
roupagem com propostas à extinção do diamante, como também pelo fato da ilegalidade
ambiental, da sustentabilidade, degradação ambiental e social.
Ao pensar a trajetória dos participantes da história local, cada qual com sua função a
ser desempenhada, assim como o lugar de homens, mulheres e crianças. No percurso da
pesquisa percebemos que as relações econômicas e sociais se alteram ao longo do tempo, as
condições da mulher na sociedade se modificam. Neste processo de transição, especialmente
rumo ao garimpo, nos deparamos em vários momentos em que a mulher aparece em
constantes funções, como instrumento de procriação, no cuidado com os filhos e os homens,
realizando o trabalho doméstico, cuidando dos animais, no cenário da prostituição. Contudo,
passa a desempenhar funções fora de casa, como força produtiva, sem abandonar sua antiga
função de produção das forças produtivas.
A mulher sempre esteve presente na construção da sociedade, no garimpo e agora no
novo garimpo, estando à frente do Projeto de Lapidação, assim como identificamos sua
ocupação em espaços de diretoria, coordenadoria, estando à frente de decisões e
gerenciamento de espaços anteriormente ocupados por homens.
Homens e mulheres não ocupam posições iguais na sociedade brasileira, pois as
relações que se estabeleceram historicamente como resultados de interações sociais entre eles
são assimétricas e hierárquicas. Os seres humanos nascem machos ou fêmeas, e é por meio da
140
educação que recebem que se tornam homens ou mulheres. A identidade sexual é, portanto,
socialmente construída.
Poxoréu assistiu o declínio do garimpo de diamante, e que apesar das políticas
públicas e sociais terem um lugar específico no que se refere às formas de enfrentamento da
pobreza, esta que deve ser encarada como um problema coletivo é preciso que seja efetivada
realmente para a redução de seu impacto, que seja articulada entre diversos setores sociais
como educação, emprego e renda, saúde, habitação, saneamento e urbanização.
Contudo, no percurso em questão, principalmente neste período de transição
econômica diante de várias tentativas para o desenvolvimento econômico, inúmeras disputas
internas, numa sociedade enfraquecida economicamente, caminhando na contracorrente do
contexto sociocultural, as ações requerem esforços coletivos entre o Estado e a sociedade com
disposição para novas conquistas. Dentre as alternativas criadas para substituir o garimpo, o
grande impasse se dá pela descrença no trabalho ordenado por novas tecnologias, pois a
herança cultural dos garimpeiros tem causado um distanciamento neste enfrentamento de
alternativas e estabilidade no manejo da agricultura, do solo, da piscicultura, da lapidação e
especialmente no seu modo de (des) organização social.
A materialização da formação do novo garimpo enquanto vocação econômica para o
município de Poxoréu não é tarefa fácil, pois construir o novo envolve política pública de
responsabilidade do Estado e da sociedade neste processo de transição pautada nos valores
sociais, culturais e econômicos de uma sociedade com fortes lastros com o garimpo, inclusive
na sua formação e instituição. Os desafios são constantemente apontados pelo conjunto dos
sujeitos sociais, especialmente envolvidos na Lapidação em Poxoréu, considerando
influências de determinações políticas, interesses pessoais situadas para além do campo
específico e dinâmico para a socialização deste processo como um todo responsável que
permeia as relações sociais.
No cenário atual, a população infanto-juvenil aparece no campo social e econômico
com evidências à exploração sexual, porém explicitamos que nos novos garimpos, com
características ao formato que ele enseja não se vislumbra esta atividade. No entanto, há
registros desta prática identificados na pesquisa através do Conselho Tutelar, que embora
tenha surgido apenas uma da situação estudada foi possível descobrir seu desempenho
fundamental como defensor dos direitos de crianças e adolescentes, e como grande articulador
da rede de proteção junto à população de Poxoréu. O município enfrenta uma séria questão
neste sentido, pois as evidências da exploração sexual infanto-juvenil estão fortemente
presente, e ligada a outro fator agravante que é a droga. A maioria das denúncias ocorre em
141
locais próximos aos Postos de gasolina instalados na rodovia estadual que atravessa Poxoréu,
saída para Primavera do Leste, há também denúncias nas Pedreiras, e a região mais crítica
apontada por Cristal é na Av. Tinópolis, a qual tem uma grande concentração de
comercialização e consumo de drogas. Afirma ainda que, “hoje o maior problema é a droga,
elas se prostituem para ganhar seu dinheiro. Temos um problema, com os postos de gasolina,
os caminhoneiros não se conscientizam, é muito difícil. A maioria é do sexo feminino”.
Nas palavras de Safira e Cristal (Entrevistadas) fica evidente que a situação
envolvendo a exploração sexual é proveniente da “cultura do garimpo, que ainda perdura até
hoje, tem uma ‘Zoniha’ aqui, mas, não funciona mais, temos bastante demanda da
exploração sexual devido à cultura do garimpo”.
O que se verifica na pesquisa é que entre o paradigma do garimpo, também nos
deparamos com outros paradigmas, o ECA é uma grande conquista, pois reconhece a
população infanto-juvenil como sujeito de direitos. E nas afirmações de Faleiros e Faleiros
(2006), o Conselho Tutelar é fundamental como articulador da rede, e por estar mais próximo
da comunidade, porém é necessário que os conselheiros e conselheiras estejam capacitados,
sobretudo em agilizar, requisitar os serviços, acompanhar os processos, garantindo direitos.
A parceria entre o Ministério Público, a Vara da Infância e da Juventude, o Conselho
de Direitos da Criança e do Adolescente junto ao Conselho Tutelar é a maneira mais eficaz na
efetivação ao novo paradigma do ECA enquanto garantia de direitos, não se restringindo a
proteger e reduzir os danos provocados, mas enfrentá-los de maneira que a sociedade e o
estado seja responsabilizado pelos danos causados e que a vítima seja completamente
protegida e com seus direitos garantidos.
Durante o processo investigativo permeado por realidades distintas, que não podem ser
universalizadas, apontam elementos que se repetem em diversas cidades brasileiras
apresentando um cenário de desigualdade significativo, principalmente lugares com
características garimpeiras. É preciso discutir e implantar uma política de Estado que
contemple a cidadania plena que garanta a emancipação e qualidade de vida à população.
Destacamos que é possível estabelecer a lapidação em Poxoréu, pois muito da
degradação ambiental proveniente das atividades garimpeiras mal conduzidas e presentes em
Áreas de Preservação Permanente (APPs) em áreas de Reserva Legal (RL) são atreladas ao
uso impróprio dos solos e das águas, processos estes largamente realizados ao longo do
tempo. Assim, a responsabilidade de reverter às ações prejudiciais ao meio ambiente é de toda
a população, desde a comunidade poxorense até a população mundial, somando-se esforços
142
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