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EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO RURAL

INTEGRADA AO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE

ANDRIONI, Ivonei1

RESUMO
Este trabalho objetiva apresentar como uma escola do campo, no caso a Escola Estadual
Cafenorte, na modalidade de Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio, organiza o
Projeto Político Pedagógico e o Projeto Educação Profissional em Administração Rural Inte-
grada ao Ensino Médio; como a concepção de gestão, currículo e avaliação se manifestam
no Projeto Politico Pedagógico, no Projeto Sala de Educador e no Projeto do Curso Educação
Profissional Integrada ao Ensino Médio em Administração Rural; como os princípios da Edu-
cação do Campo, os princípios da escola unitária e da formação omnilateral e politécnica
estão presentes no cotidiano da Escola. É um estudo de caso, de abordagem qualitativa, na
perspectiva histórica crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo - Ensino Médio Integrado - Escola Unitária -
Formação Omnilateral.

ABSTRACT
This project aims to presente how a field school, in case the Cafenorte State School, in the
modality of Integred Professional Education in High School, arranges the Pedagogical Politi-
cal Project and the Professional Education Project in Rural Administration Integred in High
School; with the management conception, curriculum and evaluation are manifested in the
Pedagogical Political Project, in the Educator’s Room Project and in the Professional Educa-
tion Project in Rural Administration Integred in High School; as the principles of the Field
Education, the principles of the unitarian school and the integral and polytechnic formation
are present in the school routine. Is a case study, of quality approach, in the historical and
critical perspective.
KEYWORDS: Field Education - Integred High School - Unitarian School - Integred Formation.

1
Mestre em Educação (PPGE/UNEMAT). Professor Formador da Área de Ciências Humanas do Centro de Forma-
ção dos Profissionais da Educação de Mato Grosso (CEFAPRO) – Polo do município de Sinop.
Email: ivoneiandrioni@yahoo.com.br

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AO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE
INTRODUÇÃO revela as catástrofes sociais, econômicas,
naturais, mas não revela, não consegue
Este artigo é parte da pesquisa de explicar a origem/causa da controvertida
Dissertação realizada como pré-requisito situação de fome, desemprego, desigual-
para obtenção do título de mestre em E- dade e injustiça social.
ducação. A pesquisa com o tema Educa-
ção Profissional Integrada ao Ensino Médio
A ESCOLA CAFENORTE
no/do Campo em Mato Grosso: Limites e
Possibilidades teve como empiria uma A Escola Estadual Cafenorte vi-
Escola do Campo, no interior do Estado de veu/vive a histórica realidade de contradi-
Mato Grosso. Os sujeitos envolvidos na ções presentes nas escolas rurais brasilei-
pesquisa são/foram os gestores, professo- ras. Um misto de esperança e decepções,
res, alunos, pais que estão envolvi- porém, sempre acreditando no potencial
dos/fazem parte da construção e efetiva- da escola como mediadora, como base
ção da proposta Educação Profissional para melhorar as condições de vida e tra-
Integrada ao Ensino Médio em Administra- balho, como espaço de construção e efeti-
ção Rural. vação de justiça social, rumo à construção
de outra sociedade que supere a explora-
A partir das Orientações Curricula- ção do homem pelo homem.
res da Educação Básica (2010), as escolas
da rede pública estadual podem optar em Machado (2015) afirma que o ensi-
oferecer Ensino Médio regular e/ou Educa- no regular na zona rural brasileira nunca
ção Profissional Integrada ao Ensino Mé- foi preocupação da elite agrária. Segundo
dio. O referido documento (2010) afirma a autora, “certo impulso nesta área ocor-
que “um dos aspectos relevantes é supe- reu com o advento da monocultura cafeei-
rar a concepção dualista, tayloris- ra aliada ao fim da escravidão, que passou
ta/fordista, ainda presente na maioria das a mostrar necessidade de um tipo de tra-
escolas da rede” (MATO GROSSO, 2010, p. balhador mais especializado, correspon-
25). dendo à qualificação pretendida pelos
grandes proprietários” (MACHADO, 2015,
A perspectiva metodológica utiliza- p. 192).
da foi a crítico-dialética ou materialista
histórico dialética, por entendemos que o Segundo a gestora da Escola a
mundo histórico, da ciência, da técnica, da história da Cafenorte não é diferente do
organização social, política e econômica é que acontece com a maioria dos projetos
dinâmico, sujeito às transformações e crí- das escolas do campo. Ou seja, a partir do
ticas, não é pronto e acabado. Assim como ano de 1980, um grupo de pais se reúne e
o mundo histórico, o mundo natural tam- o que era uma clareira no meio da mata,
bém está sujeito à interferência humana e, entroncamento de várias picadas, aos
é dinâmico, é um constante vir a ser. poucos foi ganhando corpo, culminando
com a construção de duas salas que além
Para Frigotto (2012, p. 270), é a de escola servia para atender demandas
partir do materialismo histórico dialético da comunidade. O espaço servia como
que a educação ganha caráter de cientifi- escola e, também, para reuniões e even-
cidade, possibilita a partir da situação atu- tos da comunidade, tais como reza do
al, por meio da investigação científica, terço, novenas natalinas, enceramento dos
superar “as formas fragmentárias, funcio- grupos de reflexão, missas, bem como
nalistas, pragmáticas e utilitaristas da ci- para a realização de festividades comemo-
ência burguesa, a qual separa os objetos rativas do dia das mães, dia dos pais, fes-
do conhecimento das medicações e cone- tas juninas, casamentos. O objetivo era
xões que os constituem”, ciência essa que construir um espaço para

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[...] acolher os filhos das famílias or da escola, aguardando reforma na rede
que chegavam de vários lugares do elétrica, pois, a rede que fornece energia
Brasil, que com o passar dos anos para a escola não dispõe de carga sufici-
percebeu a necessidade de ampliar ente para alimentar os aparelhos.
o espaço para os futuros filhos e
netos da comunidade. Uma profis- A escola possui água encanada nos
sional que se destaca para que essa banheiros, cozinha, horta e com torneiras
unidade sempre sobrevivesse foi a disponíveis no pátio para uso comum. A
Professora e atual Diretora “Dirce mesma fonte que fornece água para as
da Escola Cafenorte”. Particular- demais dependências (poço semi-
mente ela nunca mediu esforços
artesiano), também fornece água para que
para a melhoria dos cursos e das
instalações da escola (GESTORA a comunidade escolar possa saciar a sede.
II). Percebe-se um comprometimento
A Gestora (III) afirma que no início da equipe gestora, dos técnicos e dos pro-
tudo era muito difícil, desde a infraestrutu- fessores com a organização do espaço e a
ra, passando pela falta de material de a- receptividade/acolhida aos alunos e famili-
poio pedagógico e culminando com a insu- ares. O que é do alcance da comunidade
ficiência de profissionais com formação escolar está bem cuidado e organizado,
para atender as diferentes áreas do co- porém, existe uma demanda em aberto
nhecimento. Ou seja, a Escola Estadual que é a falta de material didático e de
Cafenorte não é diferente do que afirma pesquisa, falta de laboratórios para que os
Machado (2015, p. 193): “a educação no professores e alunos possam desenvolver
campo enfrenta problemas de diversas os experimentos e as pesquisas específicas
ordens: infraestrutura inadequada, educa- do ensino médio técnico.
dores pouco qualificados, baixos salários,
alto índice de crianças em atraso escolar, O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
material didático insuficiente e inadequado
e poucos recursos financeiros”. Para a Escola Estadual Cafenorte o
Projeto Político Pedagógico é o documento
A partir do Projeto Político Pedagó- referência que expressa o dia a dia da
gico (2014a) constata-se que a Escola escola: filosofia, objetivos, caracterização
Estadual Cafenorte adotou como filosofia da comunidade, metodologia de trabalho,
“desenvolver processos de mediação na concepção de homem e de mundo, bem
formação de cidadãos com capacidade de como, as perspectivas dos pais, alunos e
pensar e agir mediante a elaboração de dos profissionais da educação para com a
conhecimentos científicos eruditos univer- escola e seu entorno.
sais”. Tem como objetivo a “formação de
Percebe-se que o Projeto Político
um aluno crítico, autônomo e participati-
Pedagógico é o documento referência,
vo”, bem como “fortalecer a escola como
construído com a participação de toda a
espaço público, lugar de debates, do diá-
comunidade escolar e seu entorno. O ob-
logo fundado na reflexão coletiva, buscan-
jetivo é dar vida ao planejamento, superar
do a cooperação dos líderes comunitários
o tecnicismo que burocratiza a escola e a
no trabalho educativo” (ESCOLA
distancia das perspectivas dinâmicas e
ESTADUAL CAFENORTE, 2014a, p. 08 e
dialética da comunidade escolar. Ou seja,
33).
a Proposta Politico-Pedagógica da escola
Mesmo sendo um prédio em “esta- [...] não é tema acabado, nem as-
do de novo”, ter passado por reformas sume forma definitiva, pois é de
recentemente, os climatizadores (dezes- sua natureza intrínseca, não esca-
seis) continuam em um depósito no interi- par à historicidade, à contingência

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de um mundo em constante trans-
formação. A permanente revisão é DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA
parte integrante do processo, per-
mitindo assim, a inclusão de novas O processo de democratização das
ideias e soluções, num dinamismo escolas da rede pública estadual no Estado
constante, para que a Instituição de Mato Grosso teve significativa mudança
atinja seus objetivos na construção a partir da publicação da Lei nº 7.0402 de
do saber integral (ESCOLA 1998. Lei essa que estabelece, no Art. 1º,
ESTADUAL CAFENORTE, 2014a, p. que são preceitos da Gestão Democrática
26). do Ensino Público Estadual, entre outros, a
[...] co-responsabilidade entre Po-
Para as gestoras da Escola a cons- der público e sociedade na gestão
trução e atualização do Projeto Político da escola e; a autonomia pedagógi-
Pedagógico ocorrem da seguinte forma, ca, administrativa e financeira da
escola, mediante organização e
Primeiro faz-se a leitura o Projeto funcionamento dos Conselhos Deli-
Político Pedagógico com a comuni- berativos da Comunidade Escolar,
dade escolar. Faz-se a reinvindica- do rigor na aplicação dos critérios
ção dos pontos que estão fora do democráticos para escolha do dire-
ano letivo para poder fazer a inte- tor da escola e da transferência au-
gração da teoria com a prática u- tomática e sistemática de recursos
sando a ementa do curso às unidades escolares (MATO
(GESTORA I); GROSSO, 2002).
Através de grupos de estudos onde
toda a comunidade escolar participa São instâncias que participam co-
de todo o processo (GESTORA II);
mo representantes dos segmentos da Es-
Através de reuniões com os seg- cola Cafenorte: a direção e coordenação
mentos da comunidade escolar. da escola que são eleitos pela comunidade
Faz-se levantamento das priorida- escolar; o Conselho Consultivo e Delibera-
des e em seguida elege um grupo tivo da Comunidade Escolar e o Conselho
para reconstruir contemplando to-
Fiscal que são eleitos pelos pares; o Con-
das as ações necessárias no Projeto
selho de Professores, formado pelos pro-
Político pedagógico e no projeto do
Ensino Médio Integrado à Educação fessores de cada modalidade de ensino.
Profissional (GESTORA III). Instâncias representativas que trabalham
coletivamente sugerindo, planejando, exe-
cutando e avaliando as mais diversas a-
A partir da publicação das Orienta- ções que a escola promove. Entre as quais
ções Curriculares para a Educação Básica citamos: festivais; trocas de encontros
do Estado de Mato Grosso (2010), o que com escolas da região; gincanas; jogos
se pretende é a implantação de uma pro- interclasses; reuniões com a comunidade;
posta pedagógica capaz de superar “as
barreiras entre o pensar e o fazer, na su- 2
“A Lei de nº 7.040, de 1º de Outubro de 1998,
peração de uma prática educacional desti- regulamenta os dispositivos do Art. 14 da Lei Fede-
nada a reforçar a lógica de formação de ral nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996 (Diretri-
duas espécies de homem, aquele que de- zes e Bases da Educação Nacional), bem como
inciso VI do Art. 206 da Constituição Federal, que
ve ser formado para o trabalho manual e o
estabelecem Gestão Democrática do Ensino Público
outro que pensa e para o qual se destina o Estadual, adotando o sistema eletivo para escolha
trabalho intelectual” (MATO GROSSO, dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino e a
2010, p.8). criação dos Conselhos Deliberativos da Comunidade
Escolar nas Unidades de Ensino” (MATO GROSSO,
2002, p. 121).

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visitas às instituições; construção, avalia- exista relação harmoniosa entre os seres
ção e reconstrução do Projeto Político Pe- humanos e o meio natural. O projeto se
dagógico e do Regimento Interno; conse- justifica pela “necessidade de criarmos na
lho de classe e planejamento semestral escola um espaço harmonioso, bonito e
e/ou anual por área de conhecimento. que inclua crianças e adolescentes na e-
ducação ambiental estimulando o interes-
se pela natureza, sensibilizando e consci-
ATIVIDADES COLETIVAS NA ESCOLA entizando as crianças de que a vida de-
Freitas (1994), afirma que o capital pende do meio ambiente” (ESCOLA
pensou a organização da escola de manei- ESTADUAL CAFENORTE, 2014c, p.1);
ra que “inibe a participação de alunos e c) Projeto Revitalização de Nascente: Cílio
professores no processo de gestão”. Para D´água. O projeto foi criado com o objeti-
o autor, a escola é um dos instrumentos vo de
para manter a segmentação, hierarquiza-
ção e formação desigual, não estimula a Orientar os estudantes e o proprie-
“participação crítica na formulação do pro- tário sobre a importância da pre-
jeto político pedagógico”, bem como igno- servação das nascentes e matas ci-
ra a “valorização do coletivo de alunos e liares, criando uma consciência eco-
lógica para que possamos assegu-
professores como instância decisória” na
rar o futuro das próximas gerações
gestão da escola (FREITAS, 1993, p. 108). com o direito de usufruir de água
Para a Escola Estadual Cafenorte potável e de qualidade em abun-
as atividades coletivas são coordenadas dância para as futuras gerações
(ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE,
pela gestão. Ou seja, “a Gestão Escolar é
2014d, p. 1).
o processo que rege o funcionamento da
escola, compreendendo tomada de deci-
são conjunta no planejamento, execução, d) Projeto Sala de Educador, onde partici-
acompanhamento e avaliação das ques- pam gestores, professores e técnicos. É
tões administrativas e pedagógicas, envol- um projeto de formação continuada de-
vendo a participação de toda comunidade senvolvido pela Escola, vinculado à Secre-
escolar” (ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE, taria de Estado de Educação de Mato
2014a, p. 80). Grosso e com acompanhamento do Centro
No ano de 2014 a Escola Cafenorte de Formação e Atualização dos Profissio-
estava desenvolvendo, sob a coordenação nais de Educação, polo do município de
dos professores e em parceria com os alu- Sinop. O objetivo é promover estudos,
nos e moradores do entorno os seguintes formações, construções sobre temas que
projetos: contribuem para a compreensão e desen-
volvimentos das ações que envolvem a
a) Projeto Horta Escolar, que tem como comunidade escolar.
objetivos reforçar a merenda escolar e
resgatar a cultura da horta doméstica. É
um projeto desenvolvido de forma inter- AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDANTES
disciplinar e tem como objetivo “contribuir
Organizar-se na perspectiva de
com a formação integral das crianças e
ciclos de formação humana significa afir-
adolescentes” (ESCOLA ESTADUAL
mar que a proposta politico-pedagógica da
CAFENORTE, 2014b, p. 2);
escola, bem como toda sua organização
b) Projeto “Pneu em Ação”. É um projeto deve partir do princípio da cooperação, da
desenvolvido interdisciplinarmente e obje- construção coletiva, da democratização
tiva conscientizar de que é necessário que onde é oportunizado aos gestores, pais,

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profissionais da educação e alunos o direi-
to de manifestar-se. Ou seja,
[...] não basta que os ciclos se con- FORMAÇÃO CONTINUADA DOS
traponham à seriação, alterando PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO
tempo e espaços. É fundamental al-
terar também o poder inserido nes- No Estado de Mato Grosso, segun-
ses tempos e espaços, formando do as Orientações Curriculares (2010), a
para a autonomia, favorecendo a proposta de formação continuada dos pro-
auto-organização dos estudantes. fissionais de educação é de responsabili-
Isso significa criar coletivos escola-
dade da Secretaria de Estado de Educa-
res nos quais os estudantes tenham
identidade, voz e voto. Significa fa- ção, que “num diálogo franco e direto com
zer da escola um tempo de vida, e o Ministério de Educação e Cultura (MEC)”,
não de preparação para a vida. construiu juntamente com os municípios
Significa permitir que os estudantes do Estado e em parceria com “as universi-
construam a vida escolar (FREITAS, dades públicas, Sindicato dos Trabalhado-
2003, p. 60). res no Ensino Público de Mato Grosso
(SINTEP), Conselho Estadual de Educação
Freitas (1994), afirma que não po- (CEE), Centro de Educação Federal Técni-
demos confundir a auto-organização ape- ca (CEFETs/INFETs), entre outras entida-
nas com o “cuidar da horta, ter um grê- des, plano de formação de professores”
mio, cuidar da limpeza da sala de aula e (MATO GROSSO, 2010, p. 9).
da escola. Estas tarefas poderão estar Machado (2015), afirma que a pro-
incluídas, mas haverá, sempre, que se ter posta de formação continuada
claro a função educativa da atividade”. Ou
seja, a “auto-organização dos alunos visa [...] é fundamental para a implan-
permitir que participem da condução da tação de um currículo dessa natu-
sala, da escola e da sociedade vivencian- reza, e para a efetivação da pro-
do, desde o interior da escola, formas de- posta de educação do campo de-
terminada pelos Movimentos Soci-
mocráticas de trabalho que marcarão pro-
ais e entidades apoiadoras. Eviden-
fundamente sua formação” (FREITAS,
cia-se, neste sentido, a imperiosa
1994, p. 108-109). necessidade de definição de um
Os alunos elegem seus represen- conjunto de medidas nos aspectos
tantes para fazer parte do Conselho Con- físico-estrutural, humano e didático
que são determinantes para tanto.
sultivo e Deliberativo da Comunidade Es-
Não é suficiente construir o prédio
colar. Porém, afirmam que não se lem-
escolar, se nas salas faltam equi-
bram de ter ocorrido reuniões convocadas pamentos e materiais didáticos, se
e organizadas pelo segmento alunos, para os alunos não têm como se deslo-
tratar de assuntos específicos dos alunos. car de suas casas para a escola, se
as famílias de trabalhadores sofrem
Segundo os alunos, não existe
com a péssima infraestrutura dos
Grêmio Estudantil na Escola; não estão
assentamentos, e se a educadora
filiados em Partido Político; não fazem não sabe muito bem o que dizer e
parte de nenhum movimento social; não o que fazer com sua turma de alu-
participam de Grupo de Jovens, e que não nos, pois falta qualificação e ins-
é prioridade da escola o trabalho de politi- trumentos teórico-práticos indis-
zação dos alunos (CADERNO DE CAMPO, pensáveis para entender a comple-
2014). xidade do trabalho pedagógico
(MACHADO, 2015, p. 199).

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Todo início de ano a Escola elabora toda a comunidade escolar e seu entorno,
o Projeto Sala de Educador, com temas que se define o currículo e consequente-
eleitos pelos profissionais interessados na mente as disciplinas. E “os objetivos relati-
formação continuada. Os temas escolhi- vos a cada disciplina escolar estão subor-
dos, segundo a gestão da escola, geral- dinados aos objetivos gerais da escola. E
mente, relacionados com as demandas são estes objetivos gerais que determina-
atuais de interesse dos profissionais e, rão a escolha desta ou daquela distribui-
também, de interesse dos alunos. Ou seja, ção de disciplinas pelos cursos” (PISTAK,
geralmente são abordados temas como: 2000, p. 145).
Ciclos de Formação Humana; Currículo e
Formação Humana; Avaliação da aprendi- Conforme o Parecer nº 11/2012 do
zagem na perspectiva da Escola Organiza- CNE/CEB, a proposta curricular da Educa-
da por Ciclo de Formação Humana. ção Técnica Profissional de Nível Médio
deve ser construída a partir dos eixos que
Para a Escola Estadual Cafenorte orientam para o “trabalho como princípio
(ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE, 2009, p. educativo e a pesquisa como princípio
25), “a formação continuada se faz neces- pedagógico”. Ou seja, “o princípio educati-
sária para capacitar os professores a atua- vo do trabalho, e o princípio pedagógico
rem de forma integrada, articulando os da pesquisa, devem estar presentes em
conteúdos da Base Nacional Comum com toda a Educação Básica e, de modo espe-
os da Formação Específica, envolvendo cial na Educação Profissional Técnica de
todos os professores que atuam no curso”. Nível Médio, em todas suas formas de
oferta e organização” (BRASIL, 2012, p.
CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO 31).

Segundo as Orientações Curricula- Conforme o plano de curso daEdu-


res (2010), a organização do currículo cação Profissional em Administração Rural
para a modalidade de ensino médio inte- Integrada ao Ensino Médio da Escola Es-
grado “implica em tomar a prática social e tadual Cafenorte (2009),
os processos de trabalho como ponto de
A seleção de conteúdos no currículo
partida para a construção do currículo,
no integrado exige que a relação
organizado pela lógica interdisciplinar, entre conhecimentos gerais e espe-
envolvendo vários professores e por vezes cíficos seja construída continua-
constituindo-se em projetos” (MATO mente ao longo da formação, sob
GROSSO, 2010, p. 80). os eixos do trabalho, da ciência e
da tecnologia, mediante tratamento
Para Machado (2010, p. 215), “o
metodológico que possibilite: pro-
currículo é o instrumento político e técnico blematizar os fenômenos: explicitar
que norteia as ações pedagógicas da esco- teorias e conceitos fundamentais
la, constituindo-se um dos principais ele- para a compreensão do objeto es-
mentos da proposta pedagógica da esco- tudado; situar os conceitos como
la”. conhecimentos de formação gerais
e específicas, tendo como referên-
Para Pistrak (2000), o currículo cia a sua base científica e sua a-
deve ser construído a partir da realidade propriação tecnológica, social e cul-
atual a qual denomina de complexo. Para tural; organizando os componentes
o autor o complexo é que determina o curriculares e as práticas pedagógi-
currículo e as disciplinas que darão susten- cas a partir das suas múltiplas rela-
tação a efetivação da proposta pedagógica ções (ESCOLA ESTADUAL
da escola. Pois, é a partir da proposta da CAFENORTE, 2009, p. 23).
escola, construída com a participação de

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Conforme afirmações observadas Ensino Médio, na Escola Estadual Cafenor-
no Projeto Político Pedagógico da Escola te a
Estadual Cafenorte (2014), existe preocu- [...] verificação da aprendizagem
pação com a questão legal oficial como escolar será realizada de forma di-
referência para a construção do currículo. versificada através de provas escri-
A proposta curricular é elaborada a partir tas e/ou orais, trabalhos de pesqui-
da ementa sugerida pelo Ministério da sa, seminários, exercícios, aulas
Educação e pela Secretaria de Estado de práticas e estágios no perímetro da
Educação, bem como “com base nos crité- escola e outros a fim de atender às
rios definidos nos termos da Lei de Diretri- diversidades de aprendizagem dos
zes e Bases 9394/1996, nos Parâmetros alunos e de oportunizar uma avali-
ação adequada aos diferentes obje-
Curriculares Nacionais, no Referencial Cur-
tivos de cada disciplina. [...] A re-
ricular Nacional para a Educação Infantil e cuperação de estudos será realiza-
na Indicação CEE nº 77/ 2008” (ESCOLA da de forma contínua, concomitan-
ESTADUAL CAFENORTE, 2014a, p. 60). te ao desenvolvimento dos compo-
nentes curriculares, para os alunos
que apresentarem deficiência de
CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO
aprendizagem, utilizando-se estra-
Freitas (2009), afirma que “um dos tégicas adequadas de acordo com
equívocos dos materiais didáticos é situar as características de cada disciplina.
a avaliação como uma atividade formal (ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE,
2009, p. 24).
que ocorre no final do processo ensino-
aprendizagem”. Para o autor, a concepção
de avaliação presente nos materiais didáti- A ESCOLA E O PROJETO DE SOCIEDADE
cos subentende que a organização da pro-
Pelo registro que consta no Projeto
posta pedagógica da escola ocorre de
Sala do Educador da Escola Cafenorte
forma linear, que “o planejamento didático
(2014e) “Os pais trabalham em atividades
é uma sucessão de etapas que começa
diversas como: diaristas, empregadas do-
com a definição dos objetivos do ensino,
mésticas, boias-frias, funcionários públicos
passa pela definição dos conteúdos e dos
e pequenos comerciantes”. São famílias
métodos, pela execução do planejamento
que residem, em sua grande maioria, em
e finalmente pela avaliação do estudante”
casas de madeira, com ensino fundamen-
(FREITAS, 2009, p. 14).
tal incompleto, dependem da agricultura e
Segundo o autor no processo de da pecuária para sobreviver e no momento
construção escolar a avaliação deve estar (2014) muitos estão à procura de empre-
go (ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE,
[...] justaposta aos próprios objeti-
vos, formando um par dialético com 2014e, s. p).
eles. São os objetivos que dão base Ou seja, os familiares dos alunos
para a construção da avaliação. Os da Escola Cafenorte
conteúdos e o nível de domínio
destes, projetados pelos objetivos, [...] são trabalhadores ou agriculto-
permitem extrair as situações que res da bacia leiteira, seguindo-se de
possibilitarão ao aluno demonstrar um pequeno número de funcioná-
seu desenvolvimento em uma situ- rios públicos e autônomos; onde a
ação de avaliação (FREITAS, 2009, média de salário varia de um a três
p. 15). salários mínimos. A maior parte dos
pais não possui o ensino fundamen-
tal completo. A maioria das mães
Segundo consta no Plano de Curso exerce a atividade no lar, ajudando
da Educação Profissional Integrada ao nos afazeres do campo, e a renda

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familiar varia de uma a duas pesso- ção: um destinado aos que vivem do tra-
as que contribuem (ESCOLA balho, com terminalidade prevista com a
ESTADUAL CAFENORTE, 2014a, p. conclusão do ensino médio e outro, ape-
11). nas para os que vivem da exploração do
trabalho de outros seres humanos, com
A comunidade Café Norte afirma objetivo de formação científica e para
no Projeto Político Pedagógico (2014a) a prosseguir nos estudos.
necessidade de construir um projeto de No Campo, não foi diferente, o
sociedade a partir de valores como igual- mesmo teve seu projeto de educação pos-
dade, justiça, harmonia. Bem como desta- tergado. E, quando lembrado, era na con-
ca a necessidade de outra escola, diferen- dição de formar mão de obra qualificada
te da do passado, para atender os avanços tecnológicos do
[...] uma nova escola para este no- capital e/ou para impedir o êxodo rural e,
vo tempo, uma escola realmente consequentemente a grande aglomeração
comprometida com a socialização de desempregados, despossuídos, vivendo
do saber elaborado, com a real me- à margem dos centros urbanos e do aces-
lhoria da qualidade de ensino e, so à moradia, educação, saúde e seguran-
portanto, com a aprendizagem sóli- ça. A preocupação era com a segurança
da e duradoura do aluno bem como
da burguesia e não com a situação de
a permanência do mesmo na esco-
precariedade a que a grande maioria dos
la. Uma escola preocupada com a
formação do homem atual em rela- migrantes estava submetida.
ção a sua época e comprometida Com a redemocratização do Brasil,
com a construção de uma socieda- com a promulgação da Constituição Fede-
de igualitária, sabendo que não po-
ral de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da
demos pensar e conceber “socieda-
de igualitária”, onde as pessoas não
Educação Nacional de 1996, abre-se a
desfrutam de emprego, moradia, possibilidade de legislação complementar
aprendizagem e lazer (ESCOLA nos Estados da Federação, com o objetivo
ESTADUAL CAFENORTE, 2014a, p. de criar e organizar a gestão das escolas,
64) a partir dos princípios democráticos, bem
como organizar a proposta política peda-
A partir dos registros que constam gógica a partir dos ciclos de formação hu-
no Projeto Político Pedagógico da Escola mana; o currículo de forma a integrar co-
Cafenorte (2014a), no Projeto Sala de nhecimentos da base comum com os da
Educador e nas falas dos gestores, profes- base específica; a avaliação de maneira a
sores e técnicos, percebe-se a preocupa- superar a velha concepção de classificação
ção em fazer com que a Escola mantenha e exclusão.
proximidade com o projeto da comunidade Arroyo, Caldart e Molina (2011)
e proporcione formação ao aluno para que afirmam que a Educação do Campo se
tenha condições de fazer opções ao con- diferencia por objetivar ir além da escola.
cluir o ensino médio. Ou seja, o projeto protagonizado pelos
educadores comprometidos com a Educa-
ção do Campo, além de comprometer-se
CONSIDERAÇÕES FINAIS
com o processo de formação humana,
Do que alcançamos na análise aci- objetiva formar para a cidadania, propor-
ma, sem ter a pretensão de esgotar a dis- cionar base para que o aluno tenha capa-
cussão, algumas considerações podem ser cidade para intervir na realidade atual e
feitas. Primeiramente ter a clareza de que, construir uma sociedade mais justa e hu-
no Brasil, existem dois projetos de educa- manamente mais plena.

EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO RURAL INTEGRADA 22


AO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE
Os grandes protagonistas do proje- mento para projetos que objetivam apre-
to de Educação do Campo são os movi- sentar alternativas para o homem do cam-
mentos sociais do campo que unidos aos po permanecer e viver da produção do
movimentos sociais urbanos, pressionaram campo.
os órgãos responsáveis pela elaboração e
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da A Secretaria de Estado de Educa-
Educação Nacional ao afirmar que a edu- ção reconhece que ainda é desafio “viabili-
cação é direito de todos e objetiva o pleno zar, para todos os alunos, o acesso à ciên-
desenvolvimento da personalidade huma- cia, cultura e tecnologia capacitando-os
na, bem como seu preparo para a cidada- para a vida social e produtiva, sem render-
nia, para o trabalho e para efetivar as se à seletividade” (MATO GROSSO, 2010,
transformações que se fazem necessárias, p. 70). Ou seja, o desafio é superar a dua-
entre as quais a Reforma Agrária, a redis- lidade, construindo uma proposta com
tribuição da renda e a ressignificação dos concepção e conteúdos que oportunize os
poderes institucionalizados. alunos reconhecer a realidade atual, bem
como a interlocução entre teoria e prática,
Os movimentos sociais do campo, entre educação e trabalho, escola e vida
bem como os educadores comprometidos social.
com outro projeto de educação escolar
para contrapor o projeto protagonizado Para a Escola Estadual Cafenorte
pelo capital, identificam uma série de au- entre os desafios estão a efetivação das
sências e limitações que pressionam o políticas públicas de formação inicial e
homem do campo a buscar melhores con- continuada para os profissionais que atu-
dições de vida e trabalho na cidade. am na escola do campo, bem como insta-
Entre as limitações destacam-se a lar, equipar e manter laboratórios de ciên-
precária estrutura física a que estão sub- cias da natureza, ciências humanas e soci-
metidas a maioria das escolas do campo, ais, de informática, de comunicação e lin-
bem como a política de fechamento das guagem e equipamento multimídia para as
escolas, protagonizada por instituições escolas do campo.
públicas que deveriam construir escolas e
Percebe-se a preocupação de al-
proporcionar condições de funcionamento.
guns dos profissionais da Escola com as
Já que a escola, para o trabalhador do-
dificuldades que os trabalhadores do
campo, é uma importante referência, pois
Campo estão se submetendo/enfrentando
é na escola que ocorrem as reuniões do
para sobreviver de seu trabalho como me-
sindicato, da cooperativa, da associação
eiro, motorista, vaqueiro e/ou pequeno
de produtores e criadores, das pastorais,
proprietário. O que pode ser um bom co-
as novenas, os dias de vacinas, bem como
meço, mas para que tenha êxito faz-se
encontros festivos e comemorativos. Além
necessário comprometimento entre o pro-
de ser a escola o centro de referência na
jeto da Escola e o projeto da Comunidade,
formação para a cultura e preparação da
e estes com o projeto de Sociedade. Faz-
juventude trabalhadora para prosseguir
se necessário que seja intensificada a rela-
nos estudos e para o domínio das tecnolo-
ção com sindicato, pastorais, associação
gias de produção.
de produtores, diretorias comunitárias
Outra limitação é a falta de políti- presentes na comunidade Café Norte, par-
cas públicas de formação inicial e continu- tido (s) político (s) comprometidos com a
ada para profissionais que atuam nas es- causa do trabalhador, bem como com as
colas do campo, bem como material peda- instituições públicas de caráter assistencial
gógico, laboratórios para pesquisa, qua- e financiadoras de projetos e programas
dras poliesportivas, bem como financia- para os trabalhadores do campo.

EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO RURAL INTEGRADA 23


AO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE
Constatamos com os questionários a vida escolar e/ou a comunidade como
que existe certa fragilização nos processos um todo; h) A escola organiza a matriz
de aprofundamento da base teórica que curricular de modo que predomina a sepa-
sustenta a integração. Ou seja, os profis- ração entre as disciplinas tanto entre as da
sionais bem como os alunos e os pais des- base comum como as de base comum
conhecem os princípios da escola unitária, com a parte específica do profissionalizan-
da formação politécnica e Omnilateral. te.
Princípios estes que fundamentam a Edu-
Existe a possibilidade de construir
cação Profissional Integrada ao Ensino
outro projeto de educação/escola como
Médio e a Educação do Campo. A pesquisa
contraponto ao projeto imposto pelo capi-
permitiu identificar a ausência de políticas
tal. Para isso faz-se necessário identificar,
públicas de financiamento, de infraestrutu-
compreender que existem projetos anta-
ra e de formação dos profissionais, limita-
gônicos de educação/escola. Um projeto
ram a efetivação da proposta de Educação
que limita, submete, pré-determinado,
Profissional Integrada ao Ensino Médio em
alheia aos interesses e demandas do tra-
Administração Rural, bem como o projeto
balhador. Projeto este que hipoteca a vida
de formação na perspectiva de Educação
do estudante, por meio de um currículo
do Campo.
determinado pelas instâncias que não
Para que o projeto da Educação do conversam com a comunidade escolar e
Campo na modalidade integrada na Escola seu entorno, imbricado por valores ocultos
Cafenorte se efetive, faz-se necessário com o objetivo de perpetuar a segmenta-
superar algumas fragilidades, entre as ção social.
quais destacamos: a) Grande rotatividade
Outro projeto de educação/escola,
dos profissionais, principalmente do ensino
sociedade, em construção, protagonizado
médio profissionalizante; b) Falta de pro-
pelos outros, os de baixo, que Arroyo
fessores com formação específica para
(2014, p. 9), os nomeia como “os grupos
atuar na Educação do Campo e no Ensino
sociais que se fazem presentes em ações
Médio Integrado; c) Além da rotatividade
afirmativas nos campos, nas florestas, nas
do professor integralizador, faltam profis-
cidades, questionando as políticas públi-
sionais com formação e/ou que se dispo-
cas, resistindo à segregação, exigindo di-
nibilizam a exercer tal atividade; d) A con-
reitos”.
cepção de escola unitária, formação Omni-
lateral e escola humanista ainda é tabu Vejo que a Formação Continuada
para a escola em estudo; e) A participação dos Profissionais de Educação por meio do
da comunidade nas decisões e construção Projeto Sala de Educador é a grande opor-
da proposta pedagógica e administrativa tunidadepararealizar reflexões, problema-
da escola ainda é muito restrita; f) Disci- tizações, e efetivar estudos para conhecer
plinas como Reforma Agrária, Agroecolo- os princípios da Escola do Trabalho de
gia e Socioeconomia Solidária ainda não Pistrak, da Educação Profissional Integra-
fazem parte da matriz curricular do curso da ao Ensino Médio e da Educação do
Educação Profissional em Administração Campo, bem como os documentos oficiais
Rural da escola; g) A participação dos alu- que sustentam legalmente esta proposta
nos nas decisões da escola está restrita à que está em construção no Estado de Ma-
representação no Conselho Consultivo e to Grosso. Poderão ser estudados temas
Deliberativo, pois, ainda não foi criado o como: interdisciplinaridade; currículo inte-
Grêmio Estudantil e não identificamos re- grado; escola humanista; avaliação pro-
gistros em que os alunos tomaram a inici- cessual e formativa; formação omnilateral
ativa de criar algum fato para discutir, e politécnica; escola unitária; cooperati-
encaminhar, sugerir, cobrar algo referente vismo; agroecologia; reforma agrária; e-

EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO RURAL INTEGRADA 24


AO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA ESTADUAL CAFENORTE
ducação do campo; movimentos sociais; ao projeto hegemônico do capital. Ou se-
economia solidária; juventude do campo; ja, a escola objetiva preparar alunos para
perspectivas econômicas para a juventude atender as demandas profissionais, bem
do campo. Ou seja, na formação continu- como formar cidadãos com capacidade
ada dos profissionais da educação poderão para posicionar-se frente à realidade atual
ser problematizados assuntos específicos e criar alternativas para que o projeto de
para a Educação do Campo e para a Edu- reforma agrária, o cooperativismo e a so-
cação Profissional Integrada ao Ensino cioeconomia solidária se efetivem, tam-
Médio, visto que estas especificidades não bém, para os que pretendem viver da a-
fizeram parte da matriz curricular da gra- gricultura familiar.
duação dos profissionais que hoje prota-
gonizam o projeto da Escola. Ou seja, existe uma escola no
campo com estrutura para funcionar, com
Percebo como forças e que podem alunos, professores, gestores, técnicos
ajudar a escola a prosseguir com o projeto com vontade e comprometidos, que estu-
de Educação do Campo da Educação Pro- dam, trabalham, sonham, criam expectati-
fissional Integrada ao Ensino Médio, entre vas e torcem, lutam para sua efetivação.
outros aspectos: a) Determinação da ges- Por outro lado existe a inoperância de polí-
tão, dos técnicos, dos alunos e alguns ticas públicas que por razões diversas não
professores em fazer com que o projeto se dão conta de acompanhar as expectativas,
efetive; b) A preocupação da comunidade demandas da Escola.
escolar e seu entorno em oportunizar edu-
cação escolar no campo; c) A visão da
gestão, do Conselho Deliberativo e Consul- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tivo Escolar, bem como dos técnicos e
alguns profissionais em incentivar a comu- ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA,
nidade em lutar por melhorias na escola e M. C. Por uma Educação do Campo. 5º ed.
na comunidade como um todo; d) A luta Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
por transporte escolar dos alunos e dos ARROYO, M. G. Outros Sujeitos, Outras
profissionais, o comprometimento com a Pedagogias. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
formação continuada, a valorização do 2014.
espaço escolar como referência para a
comunidade, o intercâmbio entre as uni- BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 11/2012.
dades escolares do campo; e) O acesso a Diretrizes Curriculares Nacionais para a
bibliografias que tratam da possibilidade Educação Profissional Técnica de Nível
de outro projeto de educação/escola que Médio. Diário Oficial [da República Federa-
contrapõe o projeto do capital; f) A tiva do Brasil]. Seção 1. Brasília, de 9 de
UNEMAT com o programa de graduação setembro de 2012. p. 98.
em Pedagogia do Campo e com o progra-
ma de Mestrado em Educação e Diversi- FERREIRA, J. C. V. Mato Grosso e Seus
dade. Municípios. Editora Buriti, Secretaria de
Estado de Educação, Cuiabá, MT. 2001.
Concluímos que existe um com-
prometimento, uma vontade, uma luta de FREITAS, L. C. Crítica da Organização do
toda a comunidade escolar em construir Trabalho Pedagógico e da Didática. Tese
um projeto de educação que prepare para de Livre Docência apresentada à Faculda-
o trabalho, para prosseguir nos estudos e de de Educação da UNICAMP (1994). Dis-
para o exercício da cidadania, a partir de ponível em http://www.bibliotecadigital.
um currículo que integra formação geral e unicamp.br/document/?view=000080153.
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