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Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde)

CESÁRIO VERDE: SÍNTESE DA UNIDADE

▸ Friso cronológico
▸ A representação da cidade e dos tipos sociais
▸ Deambulação e imaginação: o observador acidental
▸ Perceção sensorial e transfiguração poética do real
▸ O imaginário épico em “O Sentimento dum Ocidental”
▸ Recursos expressivos

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Friso cronológico

Séc. XVII Séc. XIX


BARROCO ROMANTISMO REALISMO

Cesário Verde (1855-1886)


Cânticos do Realismo
(O Livro de Cesário Verde)
1887
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A POESIA DE Cesário Verde

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A POESIA DE Cesário Verde

A representação da cidade e dos tipos sociais


A descrição da cidade

Os contrastes sociais

A vertente crítica

As preocupações sociais: solidariedade


social face aos desfavorecidos

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A POESIA DE Cesário Verde
A representação da cidade e dos tipos sociais
A dicotomia campo/cidade

Cidade Campo

Morte e doença Vida e saúde

Aprisionamento Liberdade
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A POESIA DE Cesário Verde
A representação da cidade e dos tipos sociais
A mulher

Fatal Natural

Bela, atraente e Simples, frágil e


sedutora sedutora

Associada à Associada ao
cidade campo
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A POESIA DE Cesário Verde

Deambulação e imaginação: o observador acidental


O carácter deambulatório

O real como inspiração

A observação objetiva enquanto


ponto de partida para o trabalho de
poetização

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A POESIA DE Cesário Verde

Deambulação e imaginação: o observador acidental

A poética de cariz realista

A apresentação do quotidiano

O gosto pelo pormenor

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REPRESENTAÇÃO DA CIDADE E DOS TIPOS SOCIAIS
DEAMBULAÇÃO E IMAGINAÇÃO: O OBSERVADOR ACIDENTAL

Espaço confinador e
Representação minuciosa e
destrutivo, marcado
realista, segundo a perceção
pela ausência ou
sensorial e a reflexão / análise
perversão do amor.
do sujeito poético.

Representação
Captação de exteriores e
Espaço oposto ao da cidade
interiores e de pequenos
campo (vitalidade, episódios do quotidiano,
energia, ânimo, decorrente da deambulação
expressão do sujeito poético pela cidade
idílica do amor). e da observação acidental.

Deambulação e
imaginação: o
observador acidental
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Representação da cidade

Tipos sociais

Povo / classes Marginais que vivem


trabalhadoras Burguesia na cidade

Produtividade, Ociosidade, inércia, Degradação social e


vitalidade, autenticidade. artificialidade. moral.
Ex.: vendedora de Ex.: criado do bairro Ex.: ladrões, bêbedos,
legumes, calafates, burguês, dentistas, jogadores, prostitutas…
obreiras, varinas… arlequins, lojistas…

Alvo de simpatia e Alvo de crítica e ironia


solidariedade por parte por parte do sujeito Alvo de crítica por parte
do sujeito poético. poético. do sujeito poético.
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A POESIA DE Cesário Verde

Perceção sensorial e transfiguração poética do real


A descrição objetiva da realidade

As breves “fugas imaginativas”

A influência impressionista:
. as sensações e impressões
. o visualismo e o cromatismo
. a dimensão cinética

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PERCEÇÃO SENSORIAL E TRANSFIGURAÇÃO POÉTICA DO REAL

PERCEÇÃO TRANSFIGURAÇÃO POÉTICA DO


SENSORIAL REAL

Primado das sensações Conceção duma nova realidade, a partir de elementos


(visuais, auditivas, reais, através da visão transfiguradora do sujeito
poético.
olfativas, gustativas,
táteis). Ex.: “Num bairro moderno”
(criação, pelo sujeito
Ex.: “De tarde” poético, de uma figura
(predomínio de antropomórfica,
sensações visuais, a partir dos legumes
complementadas com e os frutos da giga
sensações gustativas) (melancia – cabeça;
repolhos – seios;
azeitonas – tranças…) Giuseppe Arcimboldo,
13 O Verão, 1573 [pormenor]
A POESIA DE Cesário Verde

O imaginário épico em “O
sentimento dum
ocidental”

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O IMAGINÁRIO ÉPICO EM “O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL”

Poema longo Estruturação do poema


• Constituído por 44 quadras,
divididas em quatro partes • Poema com uma estrutura narrativa:
(de onze estrofes cada).  Progressão narrativa na noite, encadeada
• Versos alexandrinos/ pelas quatro partes (Ave-Marias  Noite
dodecassilábicos (com doze sílabas Fechada  Ao Gás  Horas Mortas);
métricas) e decassilábicos (com  Relato de pequenos episódios; rapidez da
dez sílabas métricas) no início de narrativa; inesperado da aventura.
cada estrofe.

Tris/te/ ci/da/de! Eu/ te/mo/ que/ me a/vi[ves]


→ Decassílabo

U/ma/ pai/xão/ de/fun/ta! Aos/ lam/pi/ões/ dis/tan[tes]


→ Alexandrino

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Relações com o poema épico
“O sentimento dum Ocidental” Os Lusíadas
Cesário Verde Luís de Camões

Espírito antiépico (atitude face à realidade Espírito épico –


Também está
observada: descrença nas capacidades exaltação das
presente o
humanas no universo citadino). capacidades
espírito antiépico.
humanas.
Viagem pela cidade (representação da
degradação social e moral da cidade). Viagem marítima (epopeia dos
Descobrimentos).
Personagens antiépicas:
Também há Personagem coletiva épica:
• marginais (ladrões,
exaltação das povo português
bêbedos, jogadores,
personagens (representado por Vasco da
prostitutas); Gama e pelos marinheiros
“épicas”
• ociosas, artificiais que com ele percorrem o
(classes
(dentistas, arlequins, caminho marítimo para a
trabalhadoras).
lojistas). Índia).
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A homenagem insólita a Camões

A representação do reverso da
epopeia camoniana

A denúncia da realidade
decadente e antiépica do final do
século XIX

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A intertextualidade com
Os Lusíadas, com intenção crítica e
depreciativa face à atualidade da
escrita do poema

O desfasamento entre a realidade


desejada (o imaginário épico) e a
realidade efetiva
(o real antiépico)

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RECURSOS EXPRESSIVOS

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Metáfora
Utilização de um termo para designar algo diferente daquilo que
designa habitualmente, a partir de elementos que são comuns a esse
termo e ao que ele refere.
Com esta metáfora
“Assim as bestas vão curvadas!”
reforça-se a natureza
(“Num Bairro Moderno”)
animalesca dos
trabalhadores e os
sacrifícios por eles feitos.

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Comparação
Relação de analogia entre dois termos com o objetivo de assinalar as
suas diferenças ou semelhanças, recorrendo a uma palavra ou
expressão comparativa.

“Dos teus dois seios


como duas rolas” Com esta comparação
(“De Tarde”) realça-se a beleza e a
forma dos seios da figura
feminina descrita.

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Comparação
Relação de analogia entre dois termos com o objetivo de assinalar as
suas diferenças ou semelhanças, recorrendo a uma palavra ou
expressão comparativa.

“Dos teus dois seios


como duas rolas” Com esta comparação
(“De Tarde”) realça-se a beleza e a
forma dos seios da figura
feminina descrita.

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Enumeração
Apresentação ou listagem sucessiva de elementos relacionados entre
si e, geralmente, da mesma classe gramatical, de forma a intensificar
uma ideia.
Com esta enumeração
“Madeiras, águas, realça-se a quantidade e
multidões, telhados!” diversidade de elementos
(“Num Bairro Moderno”) que dão vida à cidade.

Assíndeto – supressão de elementos de ligação


(geralmente as conjunções coordenativas copulativas)
entre palavras de uma frase ou entre frases.

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Hipérbole
Exagero de uma realidade com a finalidade de acentuar determinado
aspeto.

“E os rapagões, morosos,
duros, baços, / Com esta hipérbole
Cuja coluna nunca se acentua-se o trabalho
endireita!” árduo dos calceteiros.
(“Num Bairro Moderno”)

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Sinestesia
Associação de sensações resultantes da perceção sensorial de
sentidos diferentes (isto é, de sensações que pertencem a sentidos
diferentes).
Com esta sinestesia (em
“Com choques que se associam
rijos, ásperos e cantantes” sensações tácteis e
(“Num Bairro Moderno”) auditivas) acentuam-se as
impressões causadas no
sujeito poético pelo
impacto do metal na pedra.

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Uso expressivo do adjetivo
Emprego do adjetivo com o intuito de conferir beleza/ expressividade
ao texto e de realçar a característica por ele expressa. O uso
expressivo do adjetivo pode resultar da associação de um nome que
designa uma qualidade física e um adjetivo de carácter afetivo/
emocional. O adjetivo pode ainda ser utilizado para criar a metáfora, a
sinestesia, a ironia…

“Com lentidão, Com os adjetivos “terrosos”


terrosos e grosseiros” e “grosseiros” enfatiza-se a
(“Num Bairro Moderno”) natureza objetiva dos
trabalhadores no seu
contacto com o meio
envolvente.

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Uso expressivo do advérbio

Emprego do advérbio com o intuito de conferir beleza/expressividade


ao texto e de realçar determinado valor semântico. O uso expressivo
do advérbio pode contribuir para a construção da ironia.

“Encaram-na sanguínea, Com o advérbio


brutamente” “brutamente” foca-se o
(“Num Bairro Moderno”) desejo instintivo, animal
dos trabalhadores ao
observarem a mulher que
passa.

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