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CESÁRIO VERDE (Lisboa, 1855-1886)

- Cesário Verde inspira-se no real, privilegia a descrição objetiva, a pintura de objetos, figuras e ambientes, numa
apreensão viva e pictórica. Procura a captação da realidade exterior, de episódios e situações do quotidiano, decorrente
da deambulação do sujeito poético pela cidade e da observação acidental. Regista poeticamente as impressões
suscitadas por essa análise.
- É um poeta-pintor, repórter do quotidiano, que colhe as impressões do dia a dia. Próximo do Realismo e do
Naturalismo, dedica toda a sua atenção aos pormenores passíveis de transmitir as perceções sensoriais (minúcia
descritiva).
- O campo (Linda-a-Pastora), cenário bucólico, inspira o canto da vida rústica, de canseiras e trabalho árduo. O “eu”
enunciador exalta a vitalidade, fertilidade e plenitude inerentes a esse espaço natural e sadio/saudável/salutar.
- A cidade é um espaço que inspira o poeta, porém, paradoxalmente, também o perturba e inquieta, simbolizando
clausura, dor, miséria constrangedora/opressiva, poluição aterradora, cheiros nauseabundos, injustiça cruel (os
exploradores, ricos pretensiosos que desprezam os humildes – clivagens/desigualdades sociais), angústia, doença e
morte.
- Ao contrário da libertação e felicidade que o campo lhe confere, o espaço citadino empareda-o, incomoda-o,
associando-o ao sofrimento, à destruição, à hipocrisia, ao aprisionamento e à solidão.
- A oposição/dicotomia/antinomia cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em
Cesário Verde uma repulsa pela cidade, espaço enclausurante (metaforicamente conotado com prisão, cárcere),
todavia, é nas ruas, nos becos e nos cais que deambula, ao mesmo tempo que mergulha em divagações e reflexões
(evasão).
- A mulher citadina (mulher fatal) é apresentada como frígida, frívola/fútil/artificial, calculista, destrutiva, dominadora,
insensível, aquela que reduz o amante à condição de presa fácil, por oposição à mulher campesina (mulher angélica),
frágil, terna, ingénua, simples, genuína e despretensiosa, capaz de motivar um amor puro. Mesmo que enquadrada na
cidade, como é o caso da mulher que é retratada em “A Débil”, esta desperta no poeta o desejo de protegê-la, mas não
o de se prostrar/curvar a seus pés.
- Cidade - espaço confinante e destrutivo, marcado pela ausência ou perversão do amor Versus Campo - energia, ânimo,
expressão idílica do amor.
- Espírito antiépico (atitude face à realidade observada: descrença nas capacidades humanas no universo citadino).
- Exaltação das personagens “épicas” (classes trabalhadoras).
BINÓMIO CIDADE/CAMPO
POETIZAÇÃO DO REAL
Poeta-pintor descreve:
Capta as impressões do quotidiano:
*a cidade — representação da degradação social e moral:
*com objetividade e pormenor – visão - ruas soturnas e melancólicas, sombras, bulício, dor…
realista.
- personagens antiépicas: marginais (ladrões, bêbedos,
*com subjetividade - graças à imaginação
jogadores, prostitutas); ociosas, artificiais (dentistas,
transfiguradora cria uma visão de artista,
arlequins, lojistas).
pictórica.
*o campo — a vida campestre, o cansaço do trabalho
árduo, o vigor, a autenticidade, a liberdade...
INOVAÇÃO DA ARTE POÉTICA
Modelo de naturalidade e de "sereno QUESTÃO SOCIAL
realismo visual": Realismo de intenção naturalista:
*realista, escolhe as palavras que refletem *anatomia do homem oprimido pela
a realidade. TEMÁTICAS cidade – denúncia social.
*a escrita poética está implícita, sugestiva, *integração da realidade vulgar,
sob a observação objetiva da realidade. simples, no mundo poético.

SUBJETIVIDADE DO TEMPO E A MORTE HUMILHAÇÃO


*Cidade de homens vivos, contudo, doentia, *Humilhação sentimental - a mulher formosa, fria,
enferma, febril, mórbida. distante e altiva.
*Presença da dor, da miséria, da decomposição, *Humilhação estética - a revolta pela incompreensão
da degradação, da violência, da que os outros manifestam em relação à sua poesia.
imoralidade… *Humilhação social - povo oprimido, explorado e
abandonado.
Professora Fátima Barros 😊

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