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Fazer historiografia é decifrar enigmas nos vestígios deixados pelos mais diversos
meios e lugares em que os indivíduos percorreram e demarcaram, enquanto indícios, sua
passagem e imprimi-los para dar testemunho sobre a história desses indivíduos e das
sociedades em que viveram. É de se concordar que as fontes materiais podem nem sempre
existir de forma a responder as questões da pesquisa historiográfica. Dessa maneira, o
historiador que se debruça sobre o urbano deve tentar perceber a cidade em sua sensibilidade.
Por essa perspectiva,
Olhar a cidade em sua sensibilidade significa apreender elementos que nos ajudem a
construir um arsenal de palavras que nos sirvam para nomear a cidade. Dizer a cidade
também é uma forma de construir seus significados, “Fala-se e conta-se, então, dos mortos,
dos lugares que não mais existem, de sociabilidades e ritos já desaparecidos, de formas de
falar desusadas, de valores desatualizados. Traz-se ao momento do agora, de certa forma, o
testemunho de sobreviventes de outro tempo, de habitantes de uma cidade que não mais
existemii”
Esses dias, andando pelas ruas de Arapiraca, deparei com diversas demolições. Casas
antigas, velhos imóveis, arquitetura de outrora. Tudo que fora construído, e que não serve
mais para a paisagem urbana atual tem sido posto em escombros. Esses escombros levam
consigo fragmentos da história da cidade, dia arcaica, dia moderna. Cidade confusa, usando
uma expressão do cineasta arapiraquense, Leandro Alves.
Diante do exposto até aqui, mais alguns questionamentos devem ser levantados para
que haja reflexões sobre como se construir uma historiografia arapiraquense: é importante
que no centenário de Arapiraca, os fazedores da historiografia, profissionais ou amadores
devam continuar disputando as verdades sobre o mito fundador do que seria Arapiraca? Será
possível que ninguém consegue enxergar que a pratica da ciência histórica deve debruçar-se
sobre os problemas da sociedade atual? Se, ao invés de escreverem tratados imensos
desprovidos de referencial teórico metodológico, pautados na descrição de documentos
frágeis, memórias cada vez mais seletivas e individuais, esses intelectuais buscarem entender
os processor que trazem Arapiraca à luz de uma confusão sem dimensões? A quem interessa
que o que se convém chamar de história de Arapiraca?
Notas.
i
(PESAVENTO, Sandra. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. Revista Brasileira de
História, 2007, vol.27, n. 53.
ii
(Ibdem, p.20).
iii
(PESAVENTO, 2 Sensibilidades no tempo, tempo das sensibilidades. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul/BR. Nuevo Mundo Mundos Nuevos n°4, 2004.
iv
(PESAVENTO, Sandra. Muito Além do Espaço: Por Uma História Cultural do Urbano. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, n. 16, 1995.
v
PESAVENTO, Sandra J. O imaginário da cidade. Visões literárias do urbano. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2002.
vi
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Trad. Sergio Paulo Rouanet. 10. reimpr. São Paulo: Brasiliense,
1996. v. 1: magia e técnica, arte e política.
vii
POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XIX: Do monumento aos
valores. São Paulo: Estação da Liberdade, 2009.