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Ana Cláudia Lodi chama a atenção da importância dessas leis, pois a falta da difusão
da Libras pode fazer com que os surdos sintam-se estrangeiros no próprio país, enquanto que,
muitas vezes, os verdadeiros estrangeiros recebem um melhor atendimento numa língua
estrangeira. A autora ainda coloca que os espaços onde o surdo não tem dificuldade de se
integrar tornam-se espaços de incomunicação, quando deveriam ser justamente o contrário.
A criança surda, muitas vezes nasce numa família ouvinte que não é fluente em libras,
o que a coloca em “desvantagem”, pois não está, desde já, inserida na relação com o outro.
Daí a importância de usuários de libras nesse segmento do aprendizado da criança, para que
estas não sejam prejudicadas. Esse ator se faz ainda mais necessário se considerarmos que só
ele é capaz de transmitir aspectos culturais e o próprio sentimento de pertencimento a
comunidade surda, além disso, seu maior conhecimento das práticas de letramento em Libras
são fundamentais para a alfabetização desta criança.
Lodi ressalta ainda a importância de ter estes agentes usuários de libra no ambiente
escolar. Além disso, ela aponta três razões que justificam a ausência deles nesses espaços,
sendo elas: o não aceitamento deles por parte dos gestores educacionais, por estes não
compreenderem as especificidades do processo educacional de uma criança surda; o
questionamento, por parte dos professores ouvintes, sobre a falta de recursos pedagógicos
desses agentes; o caráter imediatista, pautado em resultados rápidos, que as escolas brasileiras
possuem atualmente, que justifica estas priorizarem o ensino da escrita do português, ao invés
da Libras, tida por elas como fator de atraso escolar. A autora aponta que a união de esforços
entre professores ouvintes e esses agentes é extremamente necessária para que, pelo menos
alguns, desses pontos sejam superados.
Como é de conhecimento geral, muitas vezes o intérprete acaba tendo uma função de
“substituir” o professor. Quando este não tem uma preocupação com o aluno surdo, seja por
ignorância ou descaso, o intérprete passa a ser a única fonte de conhecimento do aluno, além
do material didático, onde precisa ouvir, interpretar e falar por Libras simultaneamente, de
forma que o aluno saia o menos prejudicado possível.
No atual modelo de ensino, é notório que o aluno é muito prejudicado se não possuir a
dominância da língua portuguesa. Naturalmente, os alunos dependem do português para todas
as atividades disciplinares. A começar pelas ferramentas de pesquisa, todos os livros didáticos,
apostilas, materiais de consulta e sites na internet são escritos na língua portuguesa, o que é
um grande desafio para alguém que não domina totalmente a língua. Na própria escrita do
aluno, caso ele venha a escrever algo, seja numa avaliação ou num trabalho próprio, existirão
marcas que apontam para uma falta de domínio da língua. Dessa forma, o aluno que não
domina a língua portuguesa deve receber uma avaliação condizente com as suas limitações.
Não se pode exigir que o aluno leia como os outros, que escreva como os outros, se apenas ele
possui limitações na língua. E isto não se aplica apenas à disciplina de Língua Portuguesa,
mas todas as outras que também utilizam materiais didáticos e explicações em português. Por
fim, vale ressaltar que a língua portuguesa pode ser ensinada como L2 se os processos
educacionais forem respeitosos com o desenvolvimento linguístico dos alunos surdos.
Bibliografia:
DA SILVA , João Paulo Ferreira ; ROJAS, Angelina Accetta; TEIXEIRA, Gerlinde Agate
Platais Brasil. Acessibilidade comunicacional aos surdos em ambientes
culturais. Conhecimento & Diversidade, Niterói, jan/jun 2015.
LODI, Ana Cláudia Balieiro. Ensino da língua portuguesa como segunda língua para surdos:
impacto na Educação Básica. In: COLEÇÃO UAB−UFSCAR - PEDAGOGIA. Língua
brasileira de sinais – Libras uma introdução. São Carlos: UFSCar, 2011.