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O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS


DEFICIENTES AUDITIVOS

OLIVEIRA, Érica Lyandra

SCHULTZ, Jucimara

RESUMO

Utilizando o método de pesquisa bibliográfica, o presente trabalho tem como


objetivo abordar sobre o ensino de língua portuguesa para alunos deficientes
auditivos, visando conhecer os obstáculos de ensinar o português na
modalidade escrita como segunda língua para esses alunos, com foco principal
no ensino fundamental II, por ser um nível o qual se aprimora e se conhece
diferentes aspectos da língua portuguesa. Ao decorrer do trabalho falaremos
muito brevemente sobre história da língua de sinais, abordando então sobre o
bilinguismo, a importância da aprendizagem da língua portuguesa para o
desenvolvimento humano, principalmente no que diz respeito a formação e
autonomia dos alunos surdos, mas esse ensino possui inúmeros desafios, pois
estaremos trabalhando com duas línguas diferentes, a partir do momento que
iremos compreender que a língua brasileira de sinais é própria e não uma
representação da língua falada, apresentaremos também metodologias de
ensino, além de levantar questões sobre os materiais didáticos e interpretes
em sala de aula, concluindo sobre a importância desses materiais, de
interpretes e de professores bem preparados para que seja possível oferecer
uma educação de qualidade para os alunos deficientes auditivos.

Palavras-chave: Deficientes Auditivos. Educação. Língua portuguesa. Libras.

1. INTRODUÇÃO

A relevância desse assunto justifica a escolha do tema, pois ainda é um


assunto pouco pautado, porém muito significativo que merece ser discutido
e analisado, principalmente no que diz respeito aos obstáculos no ensino de
língua portuguesa para alunos deficientes auditivos, quando fala-se na
história, em métodos, em inclusão e realidades, trás a tona problemas que
afetam diretamente o desenvolvimento escolar, linguístico e social desses
alunos.
A surdez acompanha a humanidade desde o primórdio, mas a educação
dos surdos deu-se bem depois disso. A língua de sinais chegou ao Brasil
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mudando a realidade dos surdos, que passaram a ter acesso a ela como
sua língua oficial sendo um sistema linguístico próprio e não uma
representação do português falado, mas a importância da aquisição da
língua portuguesa para os surdos se dá por inúmeros motivos.
A educação é uma conexão com capacidade de promover mudanças e a
língua portuguesa junto à escola promove a formação de alunos críticos e
desenvolvidos linguística e socialmente, nessa concepção percebemos a
importância de aprender a língua portuguesa, que para alunos surdos é o
ensino de uma segunda língua a ser adquirida na forma escrita.
Concordando com Freire, afirmamos que:
[...] a aprendizagem de Língua Portuguesa, como primeira ou como segunda
língua, é direito de todo cidadão brasileiro e que o ensino desta língua é de
responsabilidade da escola. Se o fracasso existe, ele tem que ser enfrentado a
partir de uma proposta nova calcada nas reais necessidades do aprendiz surdo,
para quem a primeira língua é a Língua de Sinais e para quem a Língua
Portuguesa é uma segunda língua com uma função social determinada.
(FREIRE, 1999. p. 26).

Nesta ideia falaremos sobre a proposta bilíngue, a importância do


ensino da língua portuguesa na educação dos surdos. O ensino da língua
portuguesa como segunda língua é uma fonte de conhecimento ampla,
proporcionando ao deficiente auditivo diversas possibilidades, partindo do
ponto de vista que essa nova língua terá aquisição na forma de leitura e
escrita, isso está diretamente ligada a própria autonomia desses alunos, a
partir do momento que tornará seu cotidiano mais fácil.
A delimitação do tema refere-se ao ensino da língua portuguesa para
alunos surdos no ensino fundamental II por ser o período o qual o ensino
toma uma forma diferente com a ampliação de diversos aspectos da língua
portuguesa, com temas mais complexos e importantes, através disso
iremos analisar o que o aluno surdo precisa saber antes de ingressar no
ensino médio, quais as formas de avaliá-lo e entre outros aspectos
importantes na educação dos surdos, para isso foi feita uma pesquisa
qualitativa, onde a metodologia adotada foi pesquisas através de leituras de
livros e artigos, sites e endereços eletrônicos.
No processo de ensino existem diferentes formas para trabalhar com
esse aluno como metodologias específicas, visando sempre o
desenvolvimento do mesmo, o que falta são recursos adequados para ser
realizado um trabalho de qualidade. Existem leis que regem a educação dos
surdos, porém a realidade ainda é um pouco distante, fazendo com que o
aprendizado desses alunos seja comprometido, fazendo com que não haja
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também a inclusão, e sim apenas a integração desses alunos no ambiente


escolar, pois a partir do momento que não é disposto os recursos
necessários para o ensino, que vai desde o material didático adequado,
interpretes de LIBRAS nas salas de aula e até mesmo professores pouco
qualificados, ferindo assim, a sua educação e seu desenvolvimento quanto
aluno.
Diante disso esse estudo reflete sobre os obstáculos no ensino de língua
portuguesa para alunos deficientes auditivos, com o objetivo de analisar
métodos de ensino que contribuam de forma relevante na aprendizagem
desses alunos, demonstrando que o ensino e, aprendizagem do português
escrito requer práticas diferenciadas, compreendendo e analisando as
dificuldades e realidades das salas de aula brasileiras.

2. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS


DEFICIENTES AUDITIVOS, METODOLOGIAS E OBSTÁCULOS

A surdez é tão antiga quanto a humanidade, porém em diferentes épocas


e contextos históricos os surdos não eram respeitados e por vezes nem
reconhecidos como seres humanos, a surdez não era vista e pautada como
hoje, havendo muita discriminação com os surdos, associando a surdez até
com a falta de inteligência.
Por muitos anos, no Brasil, os surdos foram obrigados a se comunicar
exclusivamente por meio da Língua Portuguesa na modalidade oral ou da
leitura orofacial, os sinais eram proibidos, pois acreditava que o seu uso
pudesse prejudicar o desenvolvimento da fala. A língua de sinais surgiu no
Brasil em 1857, com a vinda Ernest Huet que trouxe da França sinais que
foram misturados com gestos já usados no Brasil fundando a primeira
escola brasileira para surdos. Enfim, foi reconhecida a segunda língua
oficial do Brasil a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tornando um meio
legal de comunicação e expressão dos surdos.
A língua de sinais é a língua natural para a pessoa surda e funciona
como mecanismo do pensamento, as crianças surdas filhas de pais surdos
já possuem contato com a língua de sinais desde o nascimento, assim
como crianças ouvintes tem acesso a língua portuguesa desde o
nascimento, sendo sua língua materna. Quando a criança não tem acesso
à língua de sinais desde muito cedo e sua aquisição for tardia ela
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enfrentará maiores dificuldades, pois é o aperfeiçoamento de sua língua


natural que lhe abrirá portas para o aprendizado de uma nova língua.
No entanto, quando a criança não possui acesso à língua de sinais
desde o nascimento, a escola torna-se, normalmente, o primeiro espaço
em que a criança surda tem contato com a LIBRAS, fazendo assim, da
escola um espaço linguístico fundamental, onde será capaz de
compreender duas línguas.
Nesse processo de aquisição da língua de sinais a criança surda passa
por um processo assim como a ouvinte na sua aquisição da língua falada,
nesse processo se ela obtiver o contato com a LIBRAS desde muito cedo
começa por volta dos dois anos de idade, onde através da convivência
com adultos usuários da língua de sinais a criança já começa a usar
algumas restritas configurações de mãos, com o passar dos anos essas
configurações vão passando a ser mais complexas, incluindo o uso do
espaço e expressões faciais, até que torna-se completamente
compreensível a sua comunicação, a partir desse momento considera-se
que a criança está pronta para começar a adquirir a língua portuguesa
como sua segunda língua.
O bilinguismo defende o uso de duas línguas na educação dos surdos: a
língua de sinais como primeira língua, e a Língua Portuguesa (no caso dos
surdos brasileiros), como segunda língua. Numa proposta bilíngue a
aquisição da Língua de Sinais como primeira língua para os surdos é
fundamental, pois ela, por ser uma língua visuoespacial, permitirá que os
alunos surdos vivenciem práticas sociais que envolvem a escrita e, deste
modo, constituam o conhecimento da Língua Portuguesa. Como previsto por
Le a garantia à educação dos deficientes auditivos, o decreto no afirma que:
Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação
básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência
auditiva, por meio da organização de: I - escolas e classes de educação
bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues,
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II -
escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas
a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental,
ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes
áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos alunos
surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras
- Língua Portuguesa. § 1o São denominadas escolas ou classes de
educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da
Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no
desenvolvimento de todo o processo educativo [...] (BRASIL, 2005, CAP.
VI).
A Língua de Sinais é um sistema linguístico próprio, que tem como
diferencial a sua modalidade de articulação, a visual-espacial ou cinésico-
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visual, o que compõem as unidades básicas dessa língua são os sinais, que
são as combinações de configuração de mãos, movimentos, pontos de
articulação, (locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos), e
expressões faciais e corporais que transmitem o sentimento, que para os
ouvintes na língua falada é transmitido pela entonação da voz. São esses
sinais únicos e próprios da língua que não permitem que a Língua de Sinais
se torne uma representação da Língua Portuguesa, ou seja, nem todas as
palavras da Língua Portuguesa possuem um sinal próprio para elas, e em
muitas vezes apenas um sinal da Língua de Sinais pode representar uma
frase ou uma oração da Língua Portuguesa.
Compreendendo que, a língua brasileira de sinais é visual e espacial e a
Língua Portuguesa é auditiva e oral, conseguimos perceber que tornar o
ensino da Língua Portuguesa para os surdos como segunda língua pode
não ser uma tarefa muito fácil, principalmente quando se diz respeito ao
ensino da mesma nos anos finais do ensino fundamental, pois é o nível que
começa a exigir dos alunos muito mais do que o saber ler e escrever,
trazendo a tona, regras do Português a serem compreendidas e usadas
corretamente.
Alunos ouvintes por sua vez já possuem contato com a língua
portuguesa através da língua materna, isso o facilita compreender os
principais aspectos da linguagem, para os mesmos, basta padronizar a
língua mostrando-lhes suas variáveis e sua forma correta de usá-la quanto à
escrita. Já para os alunos deficientes auditivos isso se torna mais
complicado, pois ele, além do domínio de sua primeira língua, que é a
Língua Brasileira de Sinais, precisa da visualização para que possa melhor
compreender a língua portuguesa e suas regras. Como afirma Vigotski,
2001:
A linguagem é responsável pela regulação da atividade psíquica humana,
pois é ela que permeia a estruturação dos processos cognitivos. Assim, é
assumida como constitutiva do sujeito, pois possibilita interações
fundamentais para a construção do conhecimento.

O aprendizado da língua portuguesa como segunda língua para alunos


surdos é na modalidade escrita, ou seja, aprender a ler e escrever. Pois
assim como para os ouvintes o objetivo da língua portuguesa é formar um
cidadão crítico, responsável e construtivo, a alfabetização do surdo irá
proporcionar a ele vivencias diversas, como por exemplo, ir ao cinema
assistir a um filme e acompanhar a legenda e entre inúmeras outras
capacidades que a aquisição da segunda língua irá lhe prover.
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Para isso não basta apenas a alfabetização, não basta apenas o saber
ler e escrever palavras soltas, ou textos mecanizados, o objetivo é que os
surdos saibam redigir textos coesos e coerentes, usando de sua autonomia
textual, impondo de forma clara suas ideias e reflexões, e para que isso seja
possível é importante trabalhar a habilidade de produzir textos, sendo no
mundo textual, que os conhecimentos concretizados na língua de sinais são
traduzidos para o português. Assim devemos ter em mente que:
O domínio do português escrito só acontecerá por meio de seu uso
constante, assim, os surdos, como os ouvistes, precisam ter acesso aos
diferentes tipos de texto escrito. Além disso, o trabalho com a escrita
deve partir do que esses indivíduos já possuem, ou seja, a língua de
sinais, pois é essa a língua que dará toda a base linguística para
aprendizagem de qualquer língua. (GUARINELLO, 2007, p. 142)

Mas para que o processo de aquisição da leitura e escrita seja iniciado é


necessário que o aluno perceba a importância da Língua Portuguesa na
modalidade escrita, que ele entenda que o processo de alfabetização lhe
permitirá ler e escrever em língua portuguesa, mesmo que sua língua
natural seja a de sinais, e que ele possa perceber e compreender a
importância da modalidade escrita, pois a de sinais nem sempre poderá ser
compreendida por todos.
Esse processo de aprendizagem da Língua Portuguesa para alunos
surdos apresenta alguns aspectos fundamentais, como o potencial das
relações visuais estabelecidas pelos surdos, a possibilidade de transferência
de língua de sinais para o português, um sistema de escrita alfabética
diferente do sistema de escrita de língua de sinais e as diferenças nas
modalidades das línguas no processo educacional. Nessa aquisição
observa-se variações individuais tanto no nível do êxito como no processo
de aprendizagem, esse processo irá apresentar diversos estágios, ou seja,
durante a aquisição da segunda língua o aluno vai apresentar alguns
desenvolvimentos até que chegue à aquisição da sua língua alvo, a Língua
Portuguesa.
Durante esse desenvolvimento vai destacar-se primeiramente a falta ou
inadequação de elementos funcionais como artigos, preposições e
conjunção, por exemplo, o raro emprego de verbos de ligação, e às vezes
com o uso incorreto, falta de flexão dos nomes em gênero, número e grau,
pouco emprego ou o emprego inadequado de preposição e muito pouca
flexão verbal, aos poucos as duas línguas irão começar a se mesclar
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tornando a escrita um pouco mais clara, mas ainda em muitas vezes não se
pode compreender o sentido do texto, mas começa a apresentar o uso de
algumas preposições e conjunções, mas nem sempre adequadas, até que
começam a demonstrar na sua escrita o emprego da gramática, como
estruturas frasais na ordem direta do português, o aparecimento de palavras
funcionais, como artigos, preposições e conjunção com mais acertos e até
mesmo com uso plenamente correto, flexões verbais com maior adequação
e maiores aparecimentos de estruturas complexas.
Deve-se então trabalhar com metodologias diversas para melhor
atender as necessidades desses alunos, para que os mesmo possam atingir
com êxito a sua língua alvo. Nesse contexto, nosso papel como educador é
refletir sobre a natureza visual das atividades a serem desenvolvidas para
melhor ensino-aprendizagem dos alunos deficientes auditivos.
Frente a essa realidade, impõe-se à educação de surdos organizar uma
pedagogia que contemple a visualidade, assim, vídeos, imagens, figuras,
gráficos, textos, expressões faciais e corporais devem ser explorados e
incorporados no ambiente escolar.
Espera-se que o aluno com deficiência aditiva a partir do sexto ano, seja
capaz de escrever textos mesmo que ainda simples, mas coerentes, já que a
coesão diz respeito aos aspectos semânticos de um texto, e que, devido às
diferenças estruturais entre a língua portuguesa oral e a língua de sinais, é
mais comum que alunos deficientes auditivos apresentem mais dificuldades
em escrever textos coesos, já a coerência a partir da alfabetização e trabalhos
com a realidade de leitura e escrita no cotidiano desses alunos, é um aspecto
de aprendizagem mais acessível. Por isso o mais importante é atentar para a
coerência nas produções textuais de alunos surdos, mas é claro que no
decorrer dos anos, ainda no ensino fundamental, o professor deve trabalhar
atividades regulares de leitura e reestruturação de texto, enfatizando a
importância do aprendizado de morfemas, parágrafos, orações e ligações de
palavras e entre outros fatores importantes para a construção de um texto
coeso e coerente, aprimorando assim, a língua portuguesa como segunda
língua.
Ainda nessa etapa, é desejável que o aluno consiga interpretar e
reconhecer diferentes gêneros textuais, como: crônicas, contos, científicos,
poesia, jornalístico, relatos históricos, biográficos, etc. Para isso o educador
pode organizar esquemas que estimulem a produção textual e a leitura,
realizando atividades compartilhadas em grupos, incluindo todos os alunos,
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realizando leituras de diferentes tipos de textos, em LIBRAS, pelo intérprete e


até mesmo pelo próprio professor, dessa forma estará estimulando a
autonomia e a segurança do aluno surdo, em produzir, ler e reestruturar textos.
O aluno surdo, precisa antes de ingressar no ensino médio, ser capaz
de refletir sobre os principais aspectos da Língua Portuguesa, tendo
reconhecimentos básicos sobre verbos, artigos, pronomes, preposições,
pontuação, acentuação gráfica, tipos textuais, interpretação textual, coesão e
coerência, leitura e produção de textos. Sendo respeitada, não só suas
limitações, como também as características da gramática de LIBRAS, pois
como já falado antes, é uma linguagem com sistema próprio, e não uma
representação da Língua Portuguesa, partindo desse princípio é necessário
que seja trabalhado a aceitação do erro, pois a partir do momento que o surdo
tem como apoio de aprendizado a sua língua própria é preciso que seja
respeitada e aceita suas características.
Ao fazer a análise explícita entre as duas línguas, estamos utilizando a
linguística contrastiva, ou seja, estamos comparando as semelhanças e
diferenças entre as línguas em seus diferentes níveis de análise. Por
exemplo, na língua portuguesa temos um conjunto de preposições que
estabelecem algum tipo de relação entre o verbo e o resto da oração. Na
língua de sinais, esta relação é estabelecida pelo uso do espaço
incorporado ao verbo ou da indicação (apontação). (Quadros, Ronice Pag.
24, 2006)

Uma das características da gramática de LIBRAS é a ausência da


categoria do artigo, então nosso papel como educador nesse sentido é frisar
para o aluno surdo que a ausência do artigo em português implica e uma
interpretação genérica, outro aspecto é que em LIBRAS não existe flexão de
gênero e número nos determinantes, mas no português os determinantes
devem concordar em gênero e número com o núcleo nominal, mas não é só
diferenças, há semelhanças, como por exemplo, na expressão da posse,
ambas as línguas tem morfologia de caso genitivo, formando um paradigma de
pessoa.
Os pronomes possessivos em LIBRAS são indicados com a configuração
de mão em “k” (no alfabeto de LIBRAS) usando também para pronomes
pessoais, singular e plural, sendo o plural expresso por sinais circulares, com
as duas mãos ou repetitivos, diferente da língua portuguesa, na língua de
sinais os pronomes pessoais não possuem gênero e número, portanto não há
concordância
As preposições em LIBRAS possuem um número bastante reduzido de
elementos, sendo representadas por meio de sinais espaciais, para
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trabalhar a semântica, as categorias ou expressões é preciso partir da


contextualização, pois não se trata de ensinar o uso de cada preposição
individual, mas de verificar em que tipo de contexto ela aparece. Quando há
indicações de movimento, como a determinação de algo ou alguém num
lugar específico, a LIBRAS não precisa de algo que marque essas relação,
pois trata de um deslocamento ou posicionamento em geral que não deixa
margem para a ambiguidade.
Na ausência de codificação das relações semânticas pelas preposições,
encontramos como recurso a posição lexical e a contribuição semântica, o
que torna possível a interpretação do contexto, outra situação é a
preposição no próprio verbo, que forma um único sinal em LIBRAS.
Quando o assunto refere-se a tempo e aspecto, há recursos que
consistem na repetição de sinais para indicar a progressão ou repetição do
evento, como também há marcadores de tempo não verbais, bem como, o
tempo e o aspecto não estão codificados por meio de processos flexionais
do verbo.
Referindo-se a acentuação é um aspecto da Língua Portuguesa que
depende da tonicidade, e quando não há a possibilidade da pronuncia da
palavra, torna-se mais difícil, assim como para a pontuação que está
diretamente vinculada à oralidade. Esses aspectos tornam-se mais difíceis
para o aluno surdo, pois irá depender da visualização e do convívio com a
leitura e a escrita, para memorizar a necessidade de acentuação e até
mesmo em alguns casos de pontuação, por isso a importância da presença
da leitura no cotidiano desses alunos.
Sendo assim, a leitura deve ser uma das principais preocupações no
ensino de português como segunda língua para os surdos, sendo ela uma
etapa fundamental para aprendizagem da escrita. E o professor deve estar
atento para conduzir da melhor maneira a aprendizagem desse aluno
quanto à leitura e escrita textual, que envolvem aspectos como, gênero,
tipologia, pragmática, semântica, gramática, léxico e morfologia, por
exemplo.
Outros aspectos importantes que o professor deve trabalhar com esses
alunos é a analise e compreensão de tudo o que acompanha o texto escrito,
como figuras, desenhos, pinturas, ilustrações, etc, fazer a identificação do
nome do autor, de referências temporais e de lugares, explorar a capa do
livro e os personagens antes mesmo da leitura, também é importante, outros
aspectos bem como, elaborar uma sinopse antes da litura do texto,
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identificar gênero textual, identificar tipologia textual, relacionar o texto, título


e subtítulo, reconhecer palavras chaves, expressões, períodos, frases,
parágrafos, estrofes e versos, observar a lógica das relações lexicais,
morfológicas e sintáticas. Ressaltando que para cada tipo de texto há um
conjunto adequado de compreensão, por isso a importância de conhecer e
reconhecer os diversos tipos textuais e suas características.
Uma das dificuldades que o surdo apresenta na produção textual é fazer
ligações entre palavras, segmentos, orações, períodos e parágrafos, ou seja,
organizar cadeias coesivas na língua portuguesa, mas isso não significa que
os textos produzidos por alunos surdos não possuem coerência. Os surdos
conseguem expressar de forma compreensível suas ideias, embora nem
sempre apresentem características formais de coesão textual. Por outro lado, o
fato de o texto estar compreensível não significa que a estrutura não possa ser
reformulada de acordo com as regras da língua portuguesa, sendo assim, é
dever do professor desenvolver, junto a esse aluno, diferentes maneiras de
reestruturar esse texto, garantindo a ele diversas possibilidades de
aprendizagem.
Quando nos referimos à avaliação no espaço escolar, já surgem inúmeras
questões, mas quando se refere avaliação de alunos com necessidades
educativas especiais essas questões parecem bem mais complexas. Para
avaliar um aluno com deficiência auditiva é importante lembrar de todas as
questões aqui já citadas, como todos os aspectos e barreiras na aprendizagem
língua portuguesa para alunos surdos. O Decreto 5.626/2005, cap. IV, afirma
que o sistema de ensino deve utilizar mecanismos que favoreçam a avaliação
do surdo em decorrência de um aprendizado de segunda língua, havendo
então previsão legal para a avaliação do surdo em língua portuguesa.
A avaliação escolar é um momento do processo ensino-aprendizagem que
tem como objetivo verificar a compreensão do aluno sobre o que foi proposto
mas o principal passo para a avaliação deve ser o alcance do nível de
desempenho adequado, compreendendo a sua singularidade linguística,
avaliando o desenvolvimento social e cultural desse aluno, também destacar
que é de suma importância a disposição de recursos, sejam eles humanos,
materiais, metodológicos ou outros.
Levantando a questão de disposição de recursos para a educação dos
surdos nos deparamos com um dos maiores desafios de ensinar língua
portuguesa para alunos deficientes auditivos: A falta de recursos. Seja de
materiais didáticos adequados, interpretes em sala de aula e até de
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professores bem preparados. A integração desses alunos em escola regulares


não está sendo satisfatória na aprendizagem dos mesmos, visando que
integrar um aluno no meio social não é incluí-lo, a inclusão só é feita quando
dispõem recursos necessários para a verdadeira aprendizagem e
desenvolvimento desses alunos, como Augusta cita a seguir:
Tanto a integração quanto a inclusão são formas de inserção social, mas
enquanto a primeira trata as deficiências como problema pessoal dos
sujeitos e visa à manutenção das estruturas institucionais, a segunda
considera as necessidades educacionais dos sujeitos como problema social
e institucional, procurando transformar as instituições [...] a inclusão exige
medidas mais afirmativas para adequar a escola a todos os alunos,
inclusive os que apresentam necessidades especiais (AUGUSTA, 2006,
p.24).

Sabemos também que existem leis que garantem o direito a educação de


pessoas deficientes auditivas, no entanto sabemos que o distanciamento entre
a lei e a realidade diária das salas de aula é muito grande, esse
distanciamento apresenta reflexos em todo o processo escolar. A carência não
só de materiais didáticos, mas como de livros e publicações em geral sobre o
ensino de alunos surdos, comprometem o trabalho dos professores. Pois é de
responsabilidade do mesmo ir atrás de recursos, pesquisar e elaborar
atividades para esse aluno, sendo a realidade do professor brasileiro
agravante nessa situação, pois ele nem sempre dispõem de tempo para esse
trabalho. Essas constatações nos fazem perceber que o desenvolvimento dos
alunos surdos não apenas linguístico, como em inúmeros outros aspectos fica
inteiramente comprometido.
Ainda há inúmeras escolas em que os professores desconhecem a língua
de sinais e não possuem nenhum recurso humano para garantir aos alunos
surdos uma educação de qualidade, e direitos a informação, comunicação e
inclusão. Independente do contexto de cada escola, a educação bilíngue
depende da formação de profissionais que dominem as duas línguas, assim
como a educação de qualquer outra língua extra do currículo escolar. Assim
como transcreve o artigo 5.626/2005 no seu artigo 3º:
A LÍBRAS deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em
nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições
de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Fala-se em educação bilíngue e em inclusão escolar, mas a realidade das


escolas regulares para receber e dar a estes alunos uma boa aprendizagem
está mais distante do que imaginamos, as barreiras ainda são muitas, a falta
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de interprete em salas de aula é descomunal, a falta de professores


qualificados é imensa, a falta de recursos em geral é preocupante.
Os obstáculos no ensino de língua portuguesa para alunos deficientes
auditivos são muitos, mas mesmo com todo o revés o professor, ainda possui
o poder de tentar sempre proporcionar uma educação melhor.

2.1 METODOLOGIA

Esta pesquisa utilizou análise de fontes bibliográficas, onde foram


coletados informações de autores de livros, artigos, sites e textos eletrônicos,
sobre a abordagem do ensino de língua portuguesa para alunos deficientes
auditivos, metodologias e obstáculos no ensino, levantando a importância do
ensino da língua portuguesa como segunda língua.
Através desses estudos foram estruturadas as informações necessárias
para que pudesse ser desenvolvido o trabalho, que se deu da seguinte forma.
Primeiramente foi feita uma breve pesquisa sobre a história da língua de
sinais, como surgiu e como viviam os surdos na antiguidade. Em seguida
abordamos sobre a aquisição da linguagem, tanto para língua portuguesa
falada como para a língua de sinais, surgindo sobre o bilinguismo e sua
importância na vida dos surdos.
Em seguida as pesquisas foram sobre as relações entre as duas línguas,
observando as diferenças e fazendo algumas conclusões importantes que
levam para a percepção de alguns desafios no ensino da segunda língua.
Partimos para o processo da aquisição da língua portuguesa na
modalidade escrita para os surdos, alertando para alguns aspectos
fundamentais no seu desenvolvimento, pesquisando e compreendendo o que
se espera do desenvolvimento desses alunos durante os anos no ensino
fundamental II, trazendo o que deve ser trabalhado e algumas metodologias.
Por fim as pesquisas referiram-se a forma avaliativa, levantando também a
questão de materiais didáticos adequados, a presença de interpretes em sala
de aula e a qualificação e preparação dos professores para dar aos alunos
deficientes auditivos uma educação de qualidade.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Vimos que a língua brasileira de sinais é a língua oficial dos surdos


brasileiros, mas que o conhecimento da língua portuguesa na modalidade
escrita como segunda língua é de suma importância, constatamos também que
a LIBRAS é um sistema linguístico próprio, com suas particularidades, sendo
também uma língua visual e espacial, e a língua portuguesa por sua vez é
auditiva e oral, para o desenvolvimento dessa nova língua o aluno passa por
diversas etapas, principalmente no ensino fundamental II, onde muitos
aspectos da língua portuguesa devem ser adquiridos.
Observamos também que ainda nesse nível de ensino é esperado que o
aluno com deficiência auditiva saiba produzir, interpretar e reconhecer
diferentes tipos e gêneros textuais, tendo conhecimentos básicos de aspectos
da língua portuguesa como verbos, artigos, preposições, pronomes e etc. Já a
avaliação desses alunos leva-se em considerando suas limitações, avaliando
seu desenvolvimento social, cultural e linguístico, pois como percebemos ao
longo desse trabalho, o ensino vai muito além da matéria.
A partir disso percebemos que o ensino da língua portuguesa para os
alunos surdos possui muitos desafios, para isso a escola e seus docentes
devem estar preparados.
O papel do professor e da instituição de ensino está diretamente ligada
com a formação pessoal de cada indivíduo, pois a escola é o local onde reunem-
se diversos grupos sociais, e para que a união e a vivencia ocorra de forma eficaz
é preciso que todos compreendam a realidade de cada um deles. Como cita
Libâneo:

[...] educação é o conjunto das ações, processos, influências, estruturas,


que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua
relação ativa com o meio natural e social [...] É uma prática social que atua
na configuração da existência humana individual e grupal, para realizar nos
sujeitos humanos as características de “ser humano”. [...] (LIBÂNEO,
1998a, p. 22).

Neste contexto vemos que o professor junto à escola possui a grande


missão de estruturar uma nação sem desigualdades, de formar seres humanos
melhores, de proporcionar vivências e aprendizados e acima de tudo construir
a autonomia desses indivíduos. Quanto à educação de alunos deficientes
auditivos, incluí-los em uma escola vai muito além de superar preconceitos, um
aluno incluso é aquele que tem o mesmo direito à educação, que consegue
aprender e desenvolver-se através dela, para isso é fundamental que a escola
disponha de recursos didáticos e humanos.
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Apesar de existir leis que amparam os direitos à educação de pessoas


com deficiência auditiva, sabemos que a realidade das escolas brasileiras não
condizem com tudo o que é proposto, e que hoje na educação dos surdos no
Brasil ainda existem muitas dificuldades, principalmente no que diz respeito a
materiais didáticos adequados e a falta de interpretes em sala de aula, além
disso, a pouca e até mesmo falta de preparação dos professores para trabalhar
com esses alunos.
Através da metodologia usada para a realização desse trabalho, sendo o
acesso a diferentes tipos de materiais, como livros, artigos, sites e endereços
eletrônicos, adquirimos amplos conhecimentos no que diz respeito ao ensino
de língua portuguesa para alunos surdos, principalmente no nível de ensino
fundamental II, observando os obstáculos no ensino dessa língua para os
alunos com deficiência auditiva, compreendendo métodos que contribuem para
a formação dos mesmos e demonstrando que o ensino e, aprendizagem do
português escrito requer práticas diferenciadas, como materiais didáticos
adequados, e principalmente reconhecendo que a formação e qualificação dos
professores é fundamental para que possamos oferecer uma educação de
qualidade para esses alunos, proporcionando assim o desenvolvimento de sua
autonomia e seu progresso como um cidadão crítico, responsável e construtivo.

REFERÊNCIAS

A construção de instrumentos de avaliação da aprendizagem de Português por


alunos surdos;
https://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=120
Acesso em 20 de outubro de 2019.

Artigo 22 do Decreto nº 5.626 de 22 de Dezembro de 2005;


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