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INTÉRPRETE DE LIBRAS

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Sumário

2. Introdução ........................................................................................................... 3

3. LIBRAS NO BRASIL: Conceitos Introdutórios ................................................. 3

1. Marcos legais ................................................................................................................... 4

4. A FUNÇÃO DO INTÉRPRETE COMO MEDIADOR DA APRENDIZAGEM E DA


ENSINAGEM............................................................................................................... 5

1. Intérpretes Código de Ética ............................................................................................. 8

5. A INTERAÇÃO INTÉRPRETE E ALUNO SURDO ............................................ 10

6. Referencial Teórico........................................................................................... 16

7. O tradutor-intérprete de LIBRAS na escola .................................................... 20

8. Metodologia ....................................................................................................... 23

1. Tipo de estudo ............................................................................................................... 23

2. Campo de estudo........................................................................................................... 23

3. Dados e Análises ............................................................................................................ 24

4. Fator Relacional ............................................................................................................. 24

9. Conclusões ....................................................................................................... 31

10. Referências .................................................................................................... 33

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. Introdução

2. LIBRAS NO BRASIL: Conceitos Introdutórios

A história reporta que o Brasil ainda era uma colônia portuguesa governada
pelo imperador Dom Pedro II quando a língua de sinais para surdos aportou no país,
mais precisamente no Rio de Janeiro. Em 1856, o conde francês Ernest Huet
desembarcou na capital fluminense com o alfabeto manual francês e alguns sinais.
Segundo estudiosos do assunto, o material trazido pelo conde, que era surdo, deu
origem à Língua Brasileira de Sinais (Libras).

O primeiro órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos e mudos surgiu


em 1857. Foi do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES), que saíram os principais divulgadores da
Libras. A iconografia dos sinais, ou seja, a criação dos símbolos só foi apresentada
em 1873, pelo aluno surdo Flausino José da Gama.

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Ela é o resultado da mistura da Língua de Sinais Francesa com a Língua de
Sinais Brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil.
Mesmo com língua própria, os surdos ainda sofrem com a diversidade e o preconceito.
Infelizmente a concepção dos ouvintes é a do surdo como incapaz de opinar e de
tomar decisões sobre seus próprios assuntos. O papel da língua de sinais na
educação regular é um fator relevante na vivência social dos surdos, pois promoverá
um maior entendimento entre a cultura ouvinte e não-ouvinte. Entretanto, o desafio de
inclusão na sociedade estudantil tem se tornado algo efetivo, com oficialização da lei
da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

1. Marcos legais
A LIBRAS é uma língua formalmente estruturada e nasceu da necessidade dos
surdos se comunicarem. A Lei n.10.436, de 24 abril de 2002 legalizou a Língua
Brasileira de Sinais no Brasil, pois assim diz no artigo 1° : É reconhecida como meio
legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros
recursos de expressão a ela associados e ainda define no parágrafo único:

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais-Libras a forma


de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual motora,
com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de
ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei n.10.436,
de 24 abril de 2002)

O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 regulamenta esta Lei e


estabelece a Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de
Professores. A importância deste decreto está no número de professores que
desconhecem ou não se consideram com habilidades adequadas para o uso desta
língua. As justificativas são diversas, entre elas, a inexistência de um curso de Libras
em algumas localidades dos estados brasileiros, ou a falta de coordenação motora na
configuração (posição) dos sinais.

Todavia, os deficientes auditivos, também são penalizados com essa falta de


adequação dos educadores. A expressão real disso é o fracasso de muitos alunos na
tentativa de leitura labial, a incompreensão e falta de interpretação de textos de modo
geral, a dificuldade na escrita do português e, por consequência, a evasão escolar.

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A escolarização de surdos não esteve e não está voltada para a legitimação de
um sujeito letrado. Desconsiderou a língua dos surdos brasileiros, a Libras (Língua
Brasileira de Sinais), vendo-a como simplórios gestos agramaticais para tentar se
expressar para o falante da língua portuguesa, e em muitos espaços educacionais e
para muitas pessoas no Brasil tal descaracterização vale-se até o presente momento.

Todavia, a Libras possui gramaticalidade própria e reformula a concepção de


língua, e engendra na comunidade que a utiliza uma identidade linguística autêntica.
(RIBEIRO, apud MELLO e RIBEIRO, 2004, p.65). Tendo a escola, principalmente a
pública, o papel de formar para a cidadania, cabe ater-se ao verdadeiro papel do
intérprete, uma vez que o educador de escola regular não se encontra preparado para
atender os educandos surdos. Se o aluno surdo não mantém uma comunicação
eficiente em sala de aula e na sociedade e o homem como ser histórico-cultural é
também formado pela linguagem, a essência do processo educativo ficaria assim,
comprometida.

3. A FUNÇÃO DO INTÉRPRETE COMO MEDIADOR DA


APRENDIZAGEM E DA ENSINAGEM

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O trabalho do intérprete ultrapassa a mera decodificação dos conteúdos
ministrados e/ou situações de interação, ele é o elo de sedimentação na construção
da cultura. O professor não capacitado encontra significativas barreiras na
comunicação com o aluno surdo, assim a atuação do intérprete é de extrema
importância para junto com o professor propiciar a construção do conhecimento que
leve o aluno ao pleno exercício de sua cidadania.

Embora alguns professores sejam capacitados, são frutos de uma sociedade


que supervaloriza a escrita como a chave do conhecimento, pois tem poder aquele
que sabe cifrar e decifrar códigos. Assim a presença do intérprete não será
dispensada, pois a estratégia do professor que ministra aulas em português e Libras,
já foi utilizada e não funcionou de forma efetiva. Atualmente com salas superlotadas,
uma inclusão feita com pouco apoio especializado e quase nenhuma capacitação para
o professor que está em sala de aula seria no mínimo irreal. Chega a ser desumano
exigir de um professor que sozinho atenda a todas as diversidades: educacionais e
culturais encontradas na sala de aula. Sendo a educação de qualidade aquela que
realmente parte da situação real em que o educando se encontra, deve-se, portanto
refletir criticamente sobre a postura do intérprete que melhor se adapte à realidade
brasileira. O intérprete de língua de sinais é a pessoa que traduz e interpreta a língua
de sinais para a língua falada e vice-versa em qualquer modalidade que se apresentar
(oral ou escrita) (MEC. 2002). O mesmo documento afirma que a tradução da língua
oral para a língua de sinais tem como foco de estudo e treinamento dos profissionais
intérpretes, o vocabulário e as palavras. Todavia os significados das palavras podem
variar de acordo com os contextos, com as pessoas que participam do processo
comunicativo e impreterivelmente com o intérprete, sua formação, seu entendimento
quanto a sua função e a visão que a instituição onde está trabalhando tem de sua
função.

Principalmente quando esta instituição é uma instituição educacional ou seu


evento tenha, mesmo que momentaneamente, um objetivo educacional. Caso a
postura do intérprete fosse neutra, o que é impossível em qualquer ato comunicativo,
implicaria em comprometimento com o objetivo de todo ato educativo. Se a figura do
intérprete deve apenas decodificar, poderá ocorrer no processo de ensino o que
FREIRE denominou “ensino bancário”, o qual deforma educando e educador. Como
o próprio reafirma em: É por isso que transformar a experiência educativa em puro

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treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no
exercício educativo, o seu caráter formador. (FREIRE,1996).

A postura do intérprete em sala de aula não deve promover a redução das


oportunidades comunicativas, pois está embutido em seu papel o atendimento de
necessidades imediatas, situar o aluno no tempo e no espaço.

No Brasil o ensino de Libras, logo a “formação” do intérprete, ocorria até a


regulamentação da língua de sinais em instituições que lutam em prol do surdo e os
organizam bem como suas famílias. Temos a Feneis e as Apadas com cursos de
carga horária variada mas todos de curta duração com o objetivo de disseminar a
língua de sinais e capacitar pessoas para o auxílio à comunidade surda, bem como
sua comunicação.

A Feneis reconhecendo a importância do papel do intérprete e valorizando o


tempo de dedicação que levam para se aprimorarem, vem esclarecendo em palestras,
encontros e em cursos que não basta a pessoa ter noções de Língua de Sinais e ser
avaliada apta para exercer a profissão de intérprete, uma vez que a interpretação é
muito mais do que sinalizar é um processo complexo para transmissão de informações,
onde deverão garantir ao Surdo o pleno entendimento do que está sendo traduzido.
E como se preparar para ser um intérprete? Inicialmente as pessoas interessadas
deverão frequentar cursos de Língua de Sinais ter convivência com os Surdos nas
associações, a fim de praticarem o que têm aprendido.

Não basta apenas ter conhecimento da língua de sinais, é muito importante que
se tenha uma boa fluência para ser tornar um profissional versátil para interpretar da
Língua de Sinais para a Língua Portuguesa e vice-versa. Assim como o respeito e a
postura ética em sua atuação com a Pessoa Surda são fundamentais para o
reconhecimento positivo de seu trabalho (FENEIS 1).

O que tem orientado os intérpretes no modelo de relações a serem


estabelecidas no ambiente de trabalho, inclusive o intérprete educacional, é o código
de ética organizado pela Feneis.

Este faz parte do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes


e entende que o intérprete deve intermediar a interação comunicativa. O referido
código foi aprovado em 1992 no II Encontro Nacional de Intérpretes na cidade do Rio

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de Janeiro, adaptado do Interpreting for Deaf People, Stephen (Ed) USA reproduzido
a seguir (Brasil. Secretaria Nacional de Justiça, 2009, p.13).

1. Intérpretes Código de Ética

1) O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente,
confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não
poderá trair confidências, as quais foram confiadas a ele;

2) O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da


interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja
perguntado pelo grupo a fazê-lo.

3) O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre


transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar
os limites da sua função particular - de forma neutra - e não ir além da sua
responsabilidade.

4) O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e usar prudência


em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais,
quando necessário, especialmente em palestras técnicas.

5) O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços,


mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo,
durante o exercício da função;

6) O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar


serviços de interpretação, em situações onde fundos não são disponíveis.
7) Acordos a níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de
cada estado, aprovada pela FENEIS;

8) O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou


outras em seu favor;

9) O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais. Em


casos legais, o intérprete deve informar à autoridade quando o nível de comunicação
da pessoa surda envolvida é tal, que a interpretação literal não é possível e o intérprete,

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então, terá de parafrasear de modo crasso o que se está dizendo para a pessoa surda
e o que ela está dizendo à autoridade.

10) O intérprete deve se esforçar para reconhecer os vários tipos de assistência


necessitados pelo surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades
particulares.

11) Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o


intérprete deve se agrupar com colegas profissionais com o propósito de dividir novos
conhecimentos e desenvolvimentos, procurar compreender as implicações da surdez
e as necessidades particulares da pessoa surda alargando sua educação e
conhecimento da vida, e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em
interpretação e tradução.

12) O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza da Língua


de Sinais. E também deve estar pronto para aprender e aceitar sinais novos, se isto
for necessário para o entendimento.

13) O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que
possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) tem surgido por causa
da falta de conhecimento do público na área da surdez e comunicação com o surdo
(FENEIS 2).

Para assegurar o acesso à comunicação, à informação e à educação a atuação


do intérprete deve ocorrer de forma a estabelecer padrões de linguagem, a
tradução/interpretação deve ser feita de maneira que o significado seja estabelecido
diante das diferenças lexicais e culturais, visando proporcionar uma completa
compreensão.

Ainda não estamos preparados devidamente para colocarmos intérpretes nas


instituições, pois há controvérsias nas interpretações de alguns. Porém, com as
universidades criando cursos de graduação e pós-graduação para esta área, talvez
futuramente tenhamos intérpretes fiéis ao que os surdos dizem.

Não há nada contra os atuais, mas são poucos os intérpretes em que os surdos
realmente confiam e que compreendem o que dizem fielmente. A maior parte dos que
interpretam, atualmente, são oriundos de igrejas e têm pouco conhecimento dos

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aspectos educacionais que englobam a tradução e interpretação dentro de uma
instituição de ensino.

4. A INTERAÇÃO INTÉRPRETE E ALUNO SURDO

Para que a escola assuma uma postura inclusiva, visando atender a qualquer
tipo de necessidade especial principalmente ao surdo cuja comunicação se dá em
outra língua, é de grande importância que todos participem ativamente dessa nova
proposta educativa, uma vez que a comunicação é condição indispensável para a
inclusão. “Sem a interação, o monologismo nega ao extremo, pois no enfoque
monológico o outro permanece inteiramente apenas objeto da consciência e não outra
consciência” (BAKHTIN, 2003.p 348).

Segundo a SEESP (1997) compete ao professor regente liderar a classe, o


processo de ensino-aprendizagem, resumir as aulas no quadro e avaliar os alunos e
ao intérprete interpretar somente e não explicar o conteúdo, porém, existem
instituições que têm organizado seu trabalho pedagógico sobre outro prisma no qual
o intérprete na sala de aula não é um estranho na educação e sim parte integrante do
sistema.

Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e


interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal.

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Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de
tradução e interpretação. O profissional também deve ter formação específica na área
de sua atuação - por exemplo, a área de educação (FAETEC - Gerência do Programa
de Inclusão: Eliminando barreiras à aprendizagem e à participação). Na educação é
indispensável que o intérprete seja um educador e tenha para tal a devida formação.
Hoje na filosofia do bilinguismo, lidamos com uma clientela que ainda se encontra em
processo de formação e transição. No que tange a atuação e a aceitação desta nova
filosofia de educação de surdos e têm os envolvidos no processo sua postura muito
influenciada por antigos ideais e linhas de atuação, além de grande influência da visão
cultural preconceituosa da sociedade.

Os surdos que estão nas escolas nos dias de hoje, passaram por muito tempo
em classes especiais, em sua maioria não leem, não têm uma boa comunicação oral
e em alguns casos não dominam a Libras. Esse grande período sem uma
comunicação adequada que em Libras ou Português gera dificuldades na
aprendizagem até mesmo em resolver problemas simples do cotidiano.

Segundo as orientações dadas aos intérpretes, a função destes é apenas


codificar e decodificar as interações comunicativas. Porém, diante da realidade
escolar em que a maioria dos professores desconhecem o embasamento teórico da
educação especial, incluindo a educação de surdos, é necessário que tais
determinações sejam vistas por outro prisma.

Diante deste quadro: salas superlotadas, alunos incluídos, formação


acadêmica insuficiente, carência de apoio especializado; é essencial um total
entrosamento do profissional intérprete neste contexto. Este, portanto, deve ser visto
como parte do apoio especializado, pois está inteirado da realidade do trabalho com
surdos. Desde que tenha formação atualizada para isso, pode também, favorecer o
atendimento a outros educandos com necessidades especiais.

Hoje entendemos que o surdo participa de uma cultura na qual poucos ouvintes
estão inseridos, a cultura surda; assim este tem formas de compreender o mundo e
se relacionar com ele bem diferentes dos ouvintes. No universo escolar, isso se
acentua, em relação às diferenças lexicais entre a língua portuguesa e a língua de
sinais, os professores desconhecem-nas e isso impossibilita e ou dificulta a avaliação
do aluno surdo em atividades escritas. Nessas situações onde o retorno, resposta em

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português gramaticalmente correto, não é o alcançado, somado ao desconhecimento
das especificidades do educando surdo, o professor entende que o aluno também tem
problemas de ordem cognitiva, confirmando o senso comum que é atribuído ao surdo.

Na atuação do intérprete quanto à língua portuguesa é preciso que este faça


intervenções que favoreçam o aluno, uma vez que tratamos do intérprete escolar e o
objetivo é proporcionar a construção do conhecimento do educando. Como por
exemplo, em uma aula de Português, o sentido conotativo para o surdo é muito
complicado, pois quando se faz a tradução literal ele não atribui sentido (com o foco
da tradução nas palavras), como acontece com as classes populares no ambiente
escolar que privilegia a visão elitista de língua.

Por outro lado, quando o intérprete faz a tradução com o objetivo de informar o
conteúdo (com o foco da interpretação na mensagem) que foi dito e não pode intervir
neste processo fazendo paralelos entre o Português e a Libras o aluno perde, afinal
teve a informação contextualizada, todavia não teve a oportunidade de perceber a
diferença da língua portuguesa para a Libras. Entendo como indispensável tal
intervenção, proporcionando a informação e consequentemente um maior contato
com a língua portuguesa que auxiliará na leitura de texto e em sua produção.

O aluno deve ser preparado para atuar com a maior autonomia possível na
sociedade uma vez que o intérprete está presente apenas na sala de aula.
Na comunicação que não se baseia na língua portuguesa nem na língua de sinais, ao
tentar compreender as expressões faciais, por exemplo, os olhares dos educandos
surdos os quais não são os mesmo dos ouvintes, o professor pode fazer
interpretações errôneas, podendo explicar novamente, usando outros meios para se
fazer entender e com o surdo isso não é possível, porque algumas expressões de
sentido figurado pode ser algo extremamente complexo, o que poderá fazer com que
sua compreensão seja limitada.

Em momentos como este é indispensável que o intérprete comunique ao


professor, obviamente de forma discreta e sem atrapalhar o andamento e sem
demonstrar questionamento frente a sua autoridade, evitando assim que uma dúvida
seja levada adiante e atrapalhe futuramente o processo de aprendizagem.
Conhecendo um pouco a postura e reações das minorias sejam étnicas, sociais,
linguísticas e tomando também como base situações vivenciadas por todos nós nas

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quais somos, mesmo que por um momento, minorias, sabemos que por via de regra,
minorias e pessoas em situações desfavoráveis tendem a omitir-se.
Principalmente nas relações de aprendizagem ninguém quer deixar em evidência que
não sabe, embora esta seja uma postura que a educação tenta mudar atribuindo o
erro como parte do processo de aprendizagem a cultura dominante e magnetizada
pelos apelos da mídia.

Diante de tais considerações verifica-se ser de suma importância uma


estruturação das perspectivas que vêm orientando o trabalho do intérprete
educacional, buscando uma proposta que se adéque a nossa realidade, na qual o
intérprete também é um educador e age ativamente em harmonia com o professor
para galgar um maior desenvolvimento de seus alunos.

Consequentemente, para tal postura o profissional intérprete deve ter formação


acadêmica na área educacional. Assim como os cursos de formação para estes
profissionais devem oferecer uma estrutura curricular e metodológica organizada a fim
de suprir a carência, no que tange às teorias da educação, bem como proporcionar
uma atualização de profissionais que possam já possuir formação profissional na área
da educação. Qualquer pessoa, surda ou não, necessita ser aceito, sentir-se: amado,
importante e útil na sociedade em que vive, precisa ser capaz de lutar por seus
objetivos e de ter oportunidade para realizá-los. No Brasil as escolas utilizam a forma
de comunicação bimodal, no entanto, valoriza-se mais a oralidade do que o conteúdo.
Os professores colocam-se como fonoaudiólogos e tratam os surdos como um doente
a ser curado (pela fala) para ser integrado no mundo ouvinte (mundo são/normal), por
isso é fundamental aceitar a opinião dos surdos sobre a melhor forma para educá-los.

O ideal seria que existissem várias formas de trabalho com as crianças de


acordo com as suas características individuais e sua forma de comunicação até ela
adquirir certa maturidade para reconhecer e valorizar sua cultura e sua língua. É
fundamental que se faça um diagnóstico da criança o mais cedo possível para detectar
o tipo de surdez, que pode ser do tipo leve, moderada ou profunda, sendo que, os dois
primeiros necessitam de encaminhamento a protetização.
Acriança deve ser estimulada na escola pelo professor, em casa pela família e em
clínicas especializadas por profissionais habilitados.

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Essa estimulação deve começar com a criança ainda bebê, pois é nessa fase
que a criança aprende mais rápido. Vale salientar que devemos respeitar a opinião
dos pais ao se eleger uma metodologia para educar seus filhos, no entanto, eles
precisam estar conscientes sobre as limitações de cada uma delas. A inteligência não
verbal é igual entre surdos e ouvintes.

O uso da linguagem gestual desde a primeira infância, pelo surdo, proporciona


um desenvolvimento normal de inteligência e de pensamento não verbais que é
comprovado através da aplicação de testes. A forma como a escola vai desenvolver
o currículo com as crianças surdas vai depender de sua proposta pedagógica e do
número de crianças surdas matriculadas.

É importante ter a clareza de que o que faz a diferença na educação do surdo


não é se a escola é especial ou se é escola comum, mas sim a excelência de seu
trabalho. Portanto, o mais importante é que a escola tenha um programa pedagógico
que atenda às necessidades do aluno com surdez, que ofereça capacitação para a
comunidade escolar, que busque parcerias e que tenha em seu quadro de
profissionais todos os elementos necessários para o desenvolvimento do trabalho, de
forma a educar um indivíduo socialmente ajustado, pessoalmente completo,
autônomo e competente, ou seja, um cidadão. A construção de uma educação
inclusiva requer uma mudança de paradigma na percepção do que é educação. O
papel fundamental da educação das pessoas e das sociedades amplia-se ainda no
despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola
voltada para a formação de cidadãos. (Brasil, 1999)

Há necessidade de se ver a pessoa como um todo, respeitar as suas diferenças


e utilizá-las para a construção de uma sociedade, na qual o somatório das diferenças
resulte na construção de um todo mais harmonioso e feliz. Assim sendo, todos têm a
contribuir uns com os outros para construção de um novo homem.

Percebendo a necessidade de uma educação de qualidade ao aluno surdo, é


imprescindível a capacitação, qualificação e a pesquisa por parte do profissional de
Libras, pois são muitas as peculiaridades envolvidas no processo de ensino-
aprendizagem, e ele é o canal direto entre o aluno e o professor.
Visando um ensino de qualidade, a escola deve proporcionar ao aluno surdo meios
que propiciem a ele o máximo desenvolvimento de suas capacidades e habilidades,

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utilizando-se de estratégias e recursos diversificados e adequados a cada aluno;
respeitando suas peculiaridades e necessidades, levando-o a ter condições de vida
dignas dentro de seu grupo social.

É preciso fazer uma ligação direta entre o ensino regular e o ensino da Libras,
por meio do intérprete, tornando-se um só, gerando ganhos reais a todos os
envolvidos neste processo educacional. Porém ainda requer ajustes e interação entre
professores regentes e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, pois o intérprete é
sem dúvida, o elo entre professor e aluno, acabando assim, com as barreiras
comunicativas e interagindo o aluno surdo integralmente com o grupo no qual convive.

O presente capítulo apresenta uma pesquisa que tem como foco o tradutor
intérprete de LIBRAS e sua atuação na sala de aula e, como objeto de estudo a
mediação entre este profissional e o/a aluno/a surdo/a. A política de inclusão cada vez
mais estimula a matrícula de estudantes com deficiência nas escolas regulares,
conforme demonstrado pelos inúmeros CENSOS Escolares do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas em Educação.

Quando se trata da educação de estudantes surdos, o debate sobre sua


inclusão envolve desacordos, polêmicas e inúmeras dúvidas acerca da efetividade
deste processo porque o surdo usa uma língua diferente da portuguesa para se
comunicar: a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e necessita de um suporte
muito especifico e especializado na sala de aula: o tradutor interprete.
Como esta língua não é a língua da maioria das pessoas que constituem a
comunidade escolar, o estudante surdo precisa que o tradutor intérprete esteja
sempre ao seu lado na sala de aula e nos outros espaços escolares para poder se
comunicar e se integrar às atividades e grupos.

Atualmente, como apresento neste capítulo, uma série de documentos oficiais


oferecem aporte legal à consolidação desta atividade como uma atividade
profissional, tendo sido publicadas leis e decretos que tratam da formação e
contratação do T-I. Em 1º de setembro de 2010 foi reconhecida a profissão do
intérprete de Língua de Sinais através da Lei n° 12.312. Anseio que essa pesquisa
influencie o interesse de outros pesquisadores para que construam estudos que
reflitam sobre a importância do intérprete de LIBRAS, profissional esse responsável
diretamente pela inclusão do surdo na escola e no futuro na sociedade. Ressalto que

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a importância desse estudo se dá pelo aumento do número de alunos surdos e
consequentemente pelo aumento da contratação de T-I nas instituições de ensino.
Ao sugerir estudar a atuação do intérprete de LIBRAS, acredito na importância
desse profissional na formação acadêmica e social do surdo.

Por este motivo faz se necessário conhecer as relações por ele vividas para
assim compreendermos melhor a importância dessas relações nesta formação.
Em geral se referem às pessoas com surdez de formas diferentes, como deficientes
auditivos, pessoas com deficiência auditiva, portadores de necessidades especiais e
etc. Neste capítulo usarei a designação da Convenção dos Direitos da PcD (ONU,
2006), respeitando a escolha da comunidade surda, qual seja, “pessoa surda/aluno
surdo”. Este capítulo foi organizado em quatro partes. Na primeira abordo o
profissional T-I, a história de sua profissionalização, sua formação e sua atuação na
escola.

Na segunda trago o percurso metodológico adotado para a realização do


presente estudo exploratório descritivo. Na terceira apresento os dados
organizados em forma de categorias, as quais são analisadas e relacionadas ao
referencial teórico e, finalmente, a quarta parte apresenta a conclusão do
estudo.

5. Referencial Teórico

O Tradutor-Intérprete: um apoio educacional especializado necessário


“Considerando a realidade brasileira, onde as escolas públicas e
privadas têm surdos matriculados nos diferentes níveis de ensino, seria impossível
atender ás exigências da legislação que determina
o acesso e permanência do aluno na escola observando suas
diferenças sem a presença de intérpretes de língua de sinais”.
(QUADROS, 2004, p. 59)
As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), com relação à inclusão do aluno surdo
estabelece que “o atendimento educacional especializado é realizado mediante a
atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino

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da LIBRAS e da Língua Portuguesa na modalidade escrita como
segunda língua...” (p. 23.)
De acordo com a política, portanto, o AEE destinado ao surdo implica a oferta
de serviços específicos no ensino e aprendizagem de Língua Brasileira de
Sinais - LIBRAS nas escolas públicas e privadas, ou seja, a presença e
atuação do tradutor-intérprete (T-I). O T-I em língua de sinais domina a
língua de sinais e a língua falada do país e é “qualificado” para desempenhar
a função de intérprete.(Na sessão 1.2 discuto especificamente a formação
deste profissional.)
Claudia Parada, servidora da Procuradoria Geral Da República, em entrevista,
conceitua o T-I como ´o profissional que tem competência e proficiência para
interpretar da LIBRAS para a Língua Portuguesa, ou vice-versa (de forma
simultânea ou consecutiva)´. Rodrigues (2012), por sua vez, afirma que o T-I
é aquela pessoa “responsável por transpor discursos falados e escritos da
Língua Portuguesa para a LIBRAS e da LIBRAS para Língua Portuguesa”
(P.14), mas a transposição dos textos escritos se dá principalmente da
LIBRAS para a língua escrita. Ou seja, a pessoa que interpreta de uma dada
língua de sinais para outra língua, ou desta língua para uma língua de sinais,
é considerado um T-I da LIBRAS”. (QUADROS 2005, p. 7), que
responsabiliza-se „por dar uma forma ao sentido percebido, garantindo o
melhor modo de fazer a mensagem chegar ao outro, sem ficar preso a formas
linguísticas da língua partida´.(LACERDA, 2010, p. 16)
Com o reconhecimento da LIBRAS, pela Lei N° 10.436 de 24 de Abril de
2002, enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso
à mesma como um direito linguístico. Como consequência desta garantia
legal, as instituições escolares são obrigadas a garantir acessibilidade ao
aluno surdo através do profissional T-I.
Em vários países há profissionais da área de Tradução e Interpretação de
Língua dos Sinais. A história da emergência deste profissional se deu
paralelamente às conquistas sociais do movimento da comunidade surda.
Inicialmente o T-I atuava como voluntário, mas gradualmente seu papel
ganhou valor e reconhecimento profissional. Breve História da profissionalização do
T-I no Brasil A presença do trabalho de intérpretes de LIBRAS no Brasil iniciou por
volta dos anos 80 em trabalhos religiosos (QUADROS, 2004). Em 1988, ocorre o I

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Encontro Nacional de Intérpretes de LIBRAS organizado pela Federação
Nacional de Educação de Surdos - FENEIS que, pela primeira vez,
proporcionou o intercâmbio entre os intérpretes brasileiros e a avaliação
sobre a ética do profissional intérprete.
Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de LIBRAS, também
organizado pelo FENEIS que promoveu o intercâmbio entre as diferentes experiências
dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento interno do Departamento
Nacional de Intérpretes. A partir dos anos 90 foram estabelecidas unidades de
intérpretes ligadas ao escritório da FENEIS. Em 2000 foi disponibilizada a página4
dos intérpretes de LIBRAS, na qual há uma lista de discussão via e-mail para
participação dos intérpretes. A lista é aberta também aos interessados.
O início do século testemunha a expansão dos direitos dos surdos com a
abertura de seis escritórios da FENEIS em todas as regiões brasileiras: São Paulo
(SP), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte e Teófilo Otoni (MG), Recife
(PE) e Brasília. Entre 2000 e 2012 inúmeras leis foram aprovadas no Brasil e
dão a sustentação legal à valorização profissional do T-I. Como a Lei de
Acessibilidade No. 10.098/2000; o Plano Nacional de Educação - Lei No.
10.172/01; as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica - Resolução MEC/CNE No. 02/2001; Portaria 3284/2003 que substituiu
a Portaria 1670/1999 e a Lei nº 12.319.
Juntas essas leis e portarias reconhecem o T-I como profissional, estabelecem
a obrigatoriedade da sua atuação em diferentes tipos de instituições e,
regulamentam sua formação, conforme detalhada a seguir. A formação do tradutor-
intérprete de LIBRAS.
A profissão de T-I da LIBRAS foi reconhecida no dia 1º de setembro de 2010
com a aprovação da Lei nº 12.319 que regulamenta a formação do T-I em
nível médio. Mas foi cinco anos antes, em 2005, com a aprovação do Decreto
5.626/05, que foram estabelecidos os critérios com relação às exigências para
a formação deste profissional. O artigo 17 do Capítulo V do Decreto acima
citado, determina que a formação deste profissional deva ocorrer ´por meio
de curso superior de tradução-interpretação, com habilitação em Letras
Libras´(BRASIL 2005, p.02).
O artigo recomenda ainda o reconhecimento da profissão igualmente com os
tradutores - interpretes de outras línguas. Todavia, há um debate sobre a

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necessidade dessa formação ser vinculada a cursos de Letras ou não. Muitos
defendem que a formação do T-I deva ocorrer dentro do currículo do curso de
Letras, mas muitos cursos de formação em Tradução e Interpretação de
Língua de Sinais se estabelecem de forma autônoma em diferentes
instituições de ensino superior, em diferentes países (LACERDA 2010).
O artigo 19 do mesmo Decreto (BRASIL 2005, p.04) define os critérios para a
atuação em instituições de ensino do T-I que não conseguiram adquirir a
titulação exigida de graduado em Letras e Libras durante os 10 anos após a
aprovação do Decreto Nº 5.626/05: ser ouvinte, ter nível superior, possuir
competência e fluência em LIBRAS, ser aprovado no Exame de Proficiência (exame
que mede o conhecimento sobre uma outra língua, no caso a LIBRAS)
promovido pelo MEC.
Apesar da legislação que regulamenta a profissão de T-I ser recente no Brasil,
a atuação do T-I teve início nos anos 80, como atividade voluntária. Não podemos
negar que os anos de experiência proporcionaram aos interpretes a construção sem
caráter científico de padrões importantes para o processo de sua
profissionalização (QUADROS, 2004)
A Lei nº 12.319/2010 que trata da formação do T-I da LIBRAS, estabelece que
a formação em nível médio, deve ser realizada por meio de “cursos de educação
profissional reconhecidos pelo sistema que os credenciou; cursos de extensão
universitária; e cursos de formação continuada promovidos por instituições de
ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação ou por
intermédio de organizações da sociedade representativas da comunidade surda, que
tenham o seu certificado convalidado por uma das Secretarias de Educação.”
Vale ressaltar que um curso de formação de T-I difere de um curso de LIBRAS
comum. Em geral, os participantes curso de formação de T-I já possuem um
bom nível de fluência na língua brasileira de sinais, pois durante o curso é
esperado que o T-I aprofunde seu conhecimento teórico de diversas temáticas
relacionadas a LIBRAS, além de atingir uma maior fluência nas duas modalidades
linguísticas em questão e desenvolver técnicas de tradução/interpretação.
Em 2005, também por influência do Decreto nº 5.626, foi criado o exame
PROLIBRAS reconhecido pelo Ministério da Educação, que tem como objetivo
avaliar a Proficiência em LIBRAS da pessoa que pretende se profissionalizar em
T-I.

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Este exame possui autoridade para certificar em território nacional a atuação
de novos profissionais, independente de sua formação inicial, tanto aqueles com
formação superior quanto os com formação em nível médio, sendo aprovados no
PROLIBRAS estarão aptos a atuar como T-I, a fim de emergencialmente garantir
o cumprimento legal da disponibilização de T-I nas escolas, e demais espaços
onde os surdos estejam inseridos, como parte da inclusão das pessoas surdas
nas várias esfera sociais. Este exame anual é previsto como medida temporária e
seu vigor será até o dia 22 de dezembro de 2015.

6. O tradutor-intérprete de LIBRAS na escola

O T-I é o profissional que atua como interprete de língua de sinais nos espaços
educacionais. Esta constitui uma área bastante requisitada atualmente porque a cada
ano cresce o número de pessoas surdas que tem acesso a LIBRAS e à escolarização
regular. Apesar de ainda não ser possível “distinguir formalmente
as áreas de atuação do intérprete de LIBRAS, a categoria vem distinguindo sua

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atuação de acordo com a sua formação, afinidade e conhecimento na área em
que atua”.(QUADROS, 2004, p. 35) o que favorece a especialização em áreas.
Apesar da legislação que torna obrigatória desde 2006 a disponibilização de T-
I nas escolas onde há matriculas de alunos surdos e também apenas da crescente
presença do surdo nas escolas brasileiras, alguns profissionais da educação ainda
resistem a este profissional em suas turmas. Sua ação pedagógica é pautada no
processo de tradução e não no de ensino.
Dessa forma, na sala de aula os T-I são orientados a redirecionar os
questionamentos dos alunos ao professor, caracterizando seu papel na intermediação.
Nesse contexto, o professor precisa passar pelo processo de aprendizagem de ter no
grupo um contexto diferenciado com a presença de alunos surdos e de interpretes. A
adequação da estrutura física da sala de aula, a
disposição das pessoas em sala de aula, a adequação da forma de
exposição por parte do professor são exemplos de aspectos a serem reconsiderados
em sala de aula. (QUADROS, 2004, p. 63) De acordo com o Decreto nº 5.626/05, a
função do intérprete é disponibilizar ao aluno surdo o acesso aos conteúdos
curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas, e agir como apoio a
acessibilidade aos serviços e às atividades da instituição de ensino.
Além disso, a Lei nº 12.319/10 (BRASIL 2010) ainda ressalva que:
Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos
valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e,
em especial:
I – pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da
informação recebida;
II – pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo
religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;
III – pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber
traduzir;
IV – pela postura e conduta adequadas aos ambientes que
frequentar por causa do exercício profissional;
V – pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão
é um direito social, independentemente da condição social e
econômica daqueles que dele necessitem;

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VI – pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.
Para favorecer a aprendizagem do aluno surdo, professor de sala de aula
regular e o T-I devem desenvolver parceria pedagógica. Por exemplo, se os temas
discutidos em sala forem anteriormente debatidos entre eles, o intérprete poderá
se preparar melhor e, nessa interação, o intérprete também poderá contribuir
com o professor ao, como afirma (QUADROS, 2004, p. 62): fazer comentários
específicos relacionados à linguagem da criança, à
interpretação em si e ao processo de interpretação quando estes forem
pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem.
Na área de educação, o T-I é um importante aliado do professor para apoiar o
aluno surdo. Mas, não se pode esquecer ou negligenciar o fato de que a inserção
escolar do T-I somente não garantirá a inclusão efetiva e o desenvolvimento dos
surdos.
O trabalho do intérprete educacional vai além de fazer escolhas ativas sobre o
que deve traduzir, envolvendo também modos de tornar conteúdos acessíveis para o
aluno (...) É fundamental que o T-I esteja inserido na equipe educacional, ficando claro
qual é o papel de cada profissional frente à integração e aprendizagem da
criança surda (LACERDA, 2010, p. 35).
A ausência do T-I em sala de aula prejudica a interação entre o aluno-surdo e
ouvintes, mas a presença do T-I não garante que questões metodológicas sejam
consideradas e também não existe garantia de que o espaço
sócio educacional em um sentido mais geral seja adequado, pois a criança poderá
permanecer às margens da experiência a vida escolar, usando uma língua restrita a
sua relação com o T-I”. (IDEM. p. 34)
Ao estar em sala de aula o T-I posiciona-se de forma positiva tanto para o surdo
como para sua atuação, seguindo normas que permeiam, baseiam e asseguram seu
trabalho e postura no local em que está inserido. Essas normas são
encontradas no código de ética do T-I que o orienta como se comportar diante
do aluno surdo, da professora da sala regular e demais profissionais da escola.

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7. Metodologia

1. Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa de campo, através do estudo qualitativo exploratório
descritivo.
Participantes
Participaram o tradutor-interprete, aluno surdo, professora da sala regular,
diretor adjunto da escola campo (surdo).

2. Campo de estudo
Os dados foram coletados em uma escola municipal, situada no bairro Alto da
Boa Vista, na cidade de Bayeux. O bairro localiza-se a menos de 3 quilômetros
do centro da cidade, às margens da BR 230.

Instrumentos
Diferentes instrumentos foram utilizados na coleta de dados, incluindo,
observação do espaço escolar, observação de atividade em sala de aula, entrevista
com roteiro, entrevista informal e fotos.
Descrição dos Instrumentos
(I) Observação do espaço escolar - A observação do espaço escolar foi feita no
segundo contato com a escola, onde caracterizei todos os espaços físicos da
escola através de fotos e registros.
(II) Entrevistas - As entrevistas com roteiros foram realizadas com a profissional
tradutor-intérprete, o aluno surdo, a professora da sala regular, o diretor adjunto
da escola e o CRIS.
(III) Caracterização do roteiro de entrevistas – Os roteiros de entrevista foram
divididos em três tópicos ( identificação, formação e entrevista), tendo questões
discursivas e objetivas, sendo 30 direcionada para o tradutor-interprete, 11 para
o aluno surdo e 14 para a professora da sala regular.

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3. Dados e Análises
Apresento aqui os dados colhidos na escola campo deste estudo, a partir dos
quais descrevo os elementos constitutivos desta mediação. Os dados estão
organizados na forma de categorias identificadas a partir das falas dos participantes
da pesquisa. Os dados revelam que há inúmeros elementos que caracterizam a
mediação entre o TI e o surdo. Identificamos quatro fatores que considero relevantes
para o estabelecimento (ou não) do que aqui denominarei de uma mediação de
qualidade, isto é, fatores que oferecem as melhores condições de acesso,
participação e aquisições (aprendizagens) pelo estudante surdo, conforme
determinado pelo marco legal (BRASIL 2008).
Estes fatores são (a)relacionais, (b) emocionais, (c) comunicacionais, e
(d)pedagógicos

4. Fator Relacional
A política de inclusão assegura que qualquer aluno surdo, quando matriculado
em escolas públicas, deve ter acesso a serviços específicos às suas necessidades
educacionais: a LIBRAS e a presença do T-I. Além de qualificado para
desempenhar seu papel apropriadamente o T-I no exercício de sua função estar
em contínuo contato com o estudante nos vários contextos escolares, e sobre
tudo, na sala de aula. Neste sentido, é fundamental que o T-I estabeleça uma
relação positiva com o estudante surdo, a qual segundo os dados colhidos no
campo implica:
Fator relacional: Conhecer o aluno surdo
A voz dos entrevistados revela que o T-I deve estar interessado e aberto para
conhecer o aluno surdo no início da interação profissional. A aproximação inicial,
portanto deve ser caracterizada pela busca de informações por meio do diálogo,
conversas informais, identificação de atividades e interesses que o surdo tenha,
assim como o que ele não gosta.
Este contato inicial na escola deve ser criterioso e formal, porém amistoso o
suficiente para que o aluno se sinta acolhido. Em entrevista o T-I participante deste
estudo quando indagado sobre como deve se caracterizar a mediação entre
profissional T-I e o seu aluno, respondeu „o contato inicial na escola, ajuda o

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desenvolvimento de um vínculo de confiança, senão a vida de intérprete/surdo não
dá certo´ (Entrevista, T-I ,18/03/13)
Este vínculo de confiança mencionado é fundamental para o surdo se sentir
seguro uma vez que suas opiniões, necessidades, dúvidas, emoções e etc. vão
ser transmitidas por uma terceira pessoa. Enquanto profissional por tanto o T-I é
o responsável por fazer a mensagem chegar de forma íntegra á pessoa com
quem o surdo conversa, (LACERDA 2010, QUADROS 2005).
A interpretação, para além do âmbito linguístico constitui um ato cognitivo, que
deve expressar as intenções comunicativas da pessoa surda, ou seja, não é
suficiente ao T-I ter apenas proficiência na LIBRAS, é necessário a este
profissional desenvolver a compreensão acerca da importância do tipo de relação que
ele estabelece com o aluno surdo.
Cabe aqui enfatizar que deve haver um cuidado particular por parte do T-I,
especialmente quando houver uma diferença de idade significativa entre os dois, para
que a sua relação profissional com a criança, jovem ou adulto surdo não seja
comprometida com fatores emocionais. Considero que, antes e acima de tudo, a
relação entre T-I e o aluno surdo na escola deva ter como objetivo o acesso, a
participação e o aprendizado do surdo. Nesse sentido deve haver um equilíbrio entre
a relação pessoal e a profissional para evitar situações como a descrita pela T-I.
Um deles se apaixonou por mim e quando eu disse que não queria,
pediu para trocar de intérprete, e outro (uma menina) não se dava
bem comigo de jeito nenhum, também não fiquei como intérprete
dela, não deu certo”. (T-I, Entrevista dia 18/03/2013)
Fator Emocional: Ter paciência
Outro elemento encontrado que contribui na mediação entre o TI e o surdo é a
paciência por parte do primeiro com relação ao segundo. As atividades escolares
com frequência colocam aos estudantes exigências acadêmicas tais como,
leitura, resolução de problemas na sala de aula, organização e elaboração de
trabalhos em grupo, apresentação de seminários, provas e etc. Como para
qualquer outro aluno essas atividades geram sentimentos que desorganizam,
principalmente quando o aluno sabe que não possui determinadas capacidades
para realizar as atividades escolares, no caso do surdo, é provável que surjam dúvidas
e inquietações sobre a tarefa a ser realizada. Assim que nos conhecemos nos demos

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bem, conversamos um pouco, ele me contou como era sua vida na escola e como
queria que fosse comigo
Quero dizer que se o surdo não gostar do intérprete, ele vai fazer birra, não vai
prestar atenção, vai questionar quase tudo que você falar e isso prejudica o nosso
trabalho.
Também, prejudica muito ele, mas não querem saber, se não gostam da gente,
fica impossível trabalhar. (Entrevista, T-I, 21/03) Considerando-se que a maior parte
das atividades nas escolas comuns são permeadas pela comunicação oral (língua
portuguesa), é natural que o dia a dia da sala de aula provoque no surdo
comportamentos que não sejam entendidos pelos seus colegas e T-I. Por isso o T-I
deve estar preparado para mediar conflitos usando na sua tradução uma linguagem
que expresse o que o surdo está comunicando, mas que seja ponderada, afim de
evitar que as interações entre o aluno surdo e seus colegas se desgastem como
consequência das diferentes culturas.
No capítulo II (Sessão 2.4) discuto como a cultura surda se
diferencia das demais porque faz com que a comunidade surda tenha um jeito
próprio de compreender o mundo e interagir com o outro a fim de tornar ambos
acessíveis e compatíveis com as suas percepções. (STROBELL 2008) A surdez
constitui a cultura surda que tem como diferença a linguagem e a identidade
compartilhada entre indivíduos para os quais a língua de sinais é o seu idioma
natural. (PERLIM 2004). Neste contexto o T-I, para além da sua função de
mediador de uma língua deve ser qualificado sobre as diferenças culturais entre
os alunos surdos e os outros. Portanto, a paciência é uma competência que deve
fazer parte da atitude deste profissional. O T-I e o surdo estarão juntos durante todo o
ano letivo, então a atitude do T-I em relação ao comportamento do aluno surdo e vice-
versa, é um dos pontos que podem influenciar de forma direta uma mediação de
qualidade.
Durante entrevista, com relação a esse fator o aluno surdo expressou “Ela é
muito legal, tem paciência comigo (...). A minha intérprete faz tudo certo”. Entrevista,
Aluno surdo, ).
Fator comunicacional - Domínio da LIBRAS
Como vimos nos capítulos I e II desta monografia, a comunicação por meio da
LIBRAS constitui condição sine qua non para a inclusão do surdo na vida escolar e
nas atividades em sala de aula. Dessa forma é fundamental que o T-I tenha um bom

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domínio desta língua, isto é ir além do conteúdo mais óbvio da mensagem,
compreender as sutilezas dos significados, valores culturais, emocionais e outros
envolvidos no texto de origem e dos modos mais adequados de
fazer esses mesmos sentidos serem passados para a língua alvo. (LACERDA 2010,
p. 20)
O domínio da LIBRAS é imprescindível para o trabalho do T-I.
Durante a entrevista com a T-I na escola visitada ficou evidenciado que a
mesma fez curso de LIBRAS e considera seu conhecimento sobre esta língua muito
bom, assim como considera que a experiência prática é um dos elementos que
influencia sua atuação profissional de forma positiva, como sua fala demonstra: Com
o Antônio eu me dou muito bem, mas já interpretei para surdos que não deu certo.
Ao fazer essa declaração, a T-I informa que houve outras oportunidades de
atuação como T-I que lhe ajudaram a compreender a importância do estabelecimento
de uma relação de qualidade com o aluno surdo.
A professora da sala de aula regular onde o aluno surdo que participou desta
pesquisa está matriculado, em entrevista declara que a T-I ´explica tudo direitinho,
quando ele tem dúvida, ela(T-I) pede para ele(o aluno surdo) me perguntar e quando
respondo ela passa a resposta para ele em LIBRAS”. (Professora da sala de aula
regular, Entrevista dia 18/03/2013 )
As falas dos entrevistados estão interligadas, confirmando-se mutuamente: A
relação entre o aluno surdo e sua intérprete é mostrada de forma positiva e harmônica
por todos os entrevistados.
Fatores Pedagógicos
As pessoas com deficiência auditiva constituem um grupo heterogêneo, assim
como a população em geral (GESSER 2012). Embora a surdez ainda seja vista
como uma condição humana desfavorável, a pessoa surda que tem acesso as
condições favoráveis à sua participação: meios e recursos de acordo com a
política nacional de inclusão (BRASIL, 2008).
O surdo não teria que enfrentar barreiras à sua inclusão educacional, social,
laboral. (SALLES 2005). Pedagogicamente, portanto, o ambiente escolar e o espaço
da sala de aula – espaço de aprendizagens por definição, devem incorporar os
recursos e meios necessários à participação do aluno surdo, entre os quais destaco:
o acesso a LIBRAS e T-I, a atitude da professora com relação a aprender LIBRAS e

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se comunicar com o aluno, compreensão da comunidade sobre a cultura surda,
reconhecimento da língua de sinais como primeira língua e etc).
As falas abaixo nos ajudam a compreender a crucial importância do professor
de estudantes surdos, na sala de aula regular, conhecer estes apoios pedagógicos.
Eu já disse, ela [professora] não sabe muito LIBRAS. Converso com ela pouco, porque
tem coisas que eu falo e ela não entende. Quando tenho dúvida a intérprete pede para
eu [aluno surdo] perguntar a ela, eu pergunto. Hoje a gente conversa mais do que no
começo do ano, ela tá aprendendo LIBRAS. É legal ela. Não tem problema entre a
gente, quando precisa conversar comigo ela conversa, quando eu preciso conversar
com ela eu converso”. (Aluno surdo, entrevista no dia
09/08/2012)
Eles [professora e aluno surdo] conversam. Ela sabe um pouco a LIBRAS,
então o pouco que sabe usa para se aproximar dele, conversam sozinhos as vezes,
sem minha presença, mas ainda tem muita coisa que ela não sabe, fico feliz por saber
que ela tem muita vontade de aprender. Eu acho que eles têm uma boa relação, só
algumas vezes reclamam um do outro. Ele reclama que ela é chata demais, e ela
reclama que ele é preguiçoso, mas acho isso normal na escola”. (Tradutor-intérprete,
entrevista no dia 07/08/2012)
Como quase todos aqui na escola, conheço um pouco da LIBRAS. O
conhecimento que tenho e a convivência diária com meu aluno facilita a
conversa e a interação entre nós”. (Professora da sala de aula regular, entrevista no
dia 13/08/2012).
A tentativa de aproximação por meio do uso da LIBRAS por parte da professora,
mesmo que precariamente, indica ao mesmo tempo, uma atitude pedagógica
apropriada do docente e, uma limitação da maior parte dos docentes porque não
conhecem a língua dos surdos e não tentam se relacionar com o aluno surdo.
Cabe aqui lembrar que a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(ONU 2008) assegura o direito de ajustamento razoável para qualquer pessoa
com deficiência em qualquer espaço social. Portanto, o ideal seria que todos os
professores procurassem aprender o mínimo razoável necessário para interagir
pedagogicamente com o aluno surdo.
O professor de alunos surdos, que tenham em sua sala de aula um T-I, deve
pedagogicamente estar atentos para o posicionamento deste profissional e do

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aluno de forma a favorecer tanto a visão da comunicação por meio da LIBRAS
como todas as atividades que estão ocorrendo em sala de aula.
O depoimento abaixo do T-I indica a preocupação de professora com estes
aspectos:
“Ele [aluno surdo] sempre senta na primeira cadeira do lado da parede, então eu[T-I]
sento em uma cadeira na frente dele sem tirar a visão dele na professora, da
professora nele e dos demais colegas. Então interpreto todo o conteúdo e contextos.
Dificilmente preciso intervir em uma conversa dele com algum colega, eles se
comunicam muito bem, mas quando é preciso ele me chama, isso acontece
raramente”. (Tradutor-intérprete entrevista dia 07/08/2012)
Dessa forma a ação pedagógica de um professor de alunos surdos na sala de
aula regular não se restringe apenas à didática, currículo e atividades. Neste
caso, diz também respeito à interação entre a professora e o T-I. As falas dos
entrevistados, abaixo apresentadas, revelam a importância desta interação de forma
saudável.
Nós [T-I e professora] nos damos bem. Sempre que preciso conversamos sobre
o Antônio, sobre o aprendizado dele, as rebeldias, a preguiça (kkk)”. (Tradutor-
intérprete, entrevista dia 07/08/2012) “Elas[T-I e Professora] são amigas, eu acho.
Conversam muito antes e depois da aula. A professora sempre diz a Virginia o que
vai fazer na aula”. (Aluno surdo, entrevista dia 09/08/2012) Acho que já falei demais...
Mas quero só dizer que acredito que a amizade entre o professor e o T-I ajuda no
trabalho, pois se eles não se derem bem, a convivência fica difícil, quase impossível”.
(Professora da sala de aula regular, entrevista dia 13/08/2012)
Nas escolas tradicionais, excludentes, o professor é detentor do poder.
(Ferreira 2007, p. 47). A autora afirma que A vida nas escolas tende a estimular o
trabalho individual e a encorajar um caminho solitário (...). A cultura das escolas
desenvolve a crença de que cada professor deve „fazer tudo
sozinho´ (...). Essa afirmativa deve ajudar os docentes e T-I a aceitarem a atuação
mútua e em parceria. Os entrevistados demonstram em suas falas que, na escola
campo deste estudo exploratório, a interação e aceitação da presença e ação do
tradutor-intérprete pela professora é positiva, expressam que existe um
interesse em comum entre as duas: o aprendizado do aluno surdo. A articulação
do objetivo comum das duas profissionais, aproxima-as e constitui um vínculo
produtivo.

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Posso dizer que no geral é tranquilo trabalhar aqui, pois a escola já está
acostumada com a inclusão e os profissionais que trabalham aqui também, então o
respeito é evidente da parte dos alunos, professores e dos outros funcionários, tanto
em relação ao aluno deficiente quanto ao cuidador, intérprete e outros”. (Tradutor
intérprete, entrevista dia 07/08/2012)
Em uma sociedade preconceituosa e excludente como é a nossa, é difícil ter
clareza de como as pessoas com deficiência são vistas e aceitas nos meios
sociais. Nas instituições educacionais, é mais fácil enxergar essa realidade,
graças a Educação Inclusiva que desde que começou a ser debatida e implantada
no Brasil, vem trazendo mudanças nesse campo.
A educação inclusiva pressupõe que TODAS as crianças tenham a mesma
´oportunidade de acesso, de permanência e de aproveitamento na escola,
independentemente de qualquer característica peculiar que apresentem ou não. (GIL
2005, P.24)
Mas isso só é possível se essas pessoas com deficiência tiverem o apoio que
precisam para sua permanência na escola. ´No caso do aluno surdo, necessita da
presença do Tradutor-intérprete no ambiente escolar. Todo mundo aqui fala comigo,
tenho amigos e todas pessoas da escola me conhece. No começo do ano tinha uns
meninos novatos de outra sala que tiravam brincadeira chata comigo, mas depois que
eu bati em um e a diretora chamou nós dois para brigar [com a gente]
09/08/2012) eles pararam”. (Aluno surdo, entrevista dia)

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8. Conclusões

Como um estudo exploratório em nível de graduação, este estudo é superficial


com relação à coleta de dados no campo, na escola pública. Todavia, os dados
colhidos por meio de entrevistas realizadas com o T-I, um aluno surdo (o único da
escola), e o docente desse estudante, foi possível identificar alguns fatores
chave para favorecer o processo de mediação entre o T-I e o aluno surdo.
Os dados revelam que há inúmeros elementos que caracterizam a mediação
entre o TI e o surdo. Identificamos quatro fatores que considero relevantes para
o estabelecimento (ou não) do que aqui denominarei de uma mediação de
qualidade, isto é, fatores que oferecem as melhores condições de acesso,
participação e aquisições (aprendizagens) pelo estudante surdo, conforme
determinado pelo marco legal estudado no capítulo I (BRASIL 2008).
Estes fatores são (a)relacionais, (b)emocionais, (c) comunicacionais e
(d)pedagógicos.
No âmbito do fator relacional foi abordado e discutido a importância
aproximação entre o T-I e o surdo desde o início de forma que este profissional possa
conhecer este estudante e apoiá-lo de maneira imparcial e competente no futuro.
A atitude do profissional destacada no estudo foi a necessidade de paciência –
um fator emocional - e da função de medição ponderada nas situações que
envolvem conflitos. No âmbito do fator emocional o estudo identificou a
necessidade de clareza de papel profissional por parte do T-I no sentido de
assegurar um certo limite no envolvimento pessoal a fim de impedir que
barreiras possam surgir no futuro: é importante ser próximo e amistosos, mas é
mais importante ainda ser profissional com competências apropriadas para
apoiar a inclusão do aluno surdo na sala de aula e na comunidade escolar como
um todo.
Na esfera comunicacional, o fator acesso a LIBRAS e seu reconhecimento
como língua natural dos surdos é fundamental para assegurar o respeito a forma
diferenciada do surdo se comunicar.
No âmbito pedagógico o estudo identifica importância do professor de
estudantes surdos na sala de aula regular, conhecer todos os recursos e apoios
pedagógicos disponíveis ao surdo, assim como reconhecer o calor de sua identidade

31
cultural como uma pessoa surda. Nesse sentido, a aproximação sistemática e o
interesse com a língua de sinais é um elemento chave para melhorar as chances de
aprendizagem do estudante surdo.
Considerando-se o papel fundamental na inclusão do aluno surdo nas
atividades escolares, a ação pedagógica do professor deste estudante, na sala de
aula regular, não deve se restringir à didática, currículo e atividades apenas, mas
também ao modo como interage com o T-I de forma educativa e com vistas a
favorecer a aprendizagem de seu aluno surdo.
Além destes elementos, há inúmeros outros que perpassam o universo do
debate e desenvolvimento da educação de surdos em ambientes educacionais
inclusivos e ambiente sociais onde a interação surdo-ouvinte se dá pela ação do T-I.
Estes elementos constituem muitas vezes temas delicados, sensíveis porque
envolvem os entraves que afetam as relações humanas em geral. Entre estes destaco
alguns riscos e problemas que podem emergir desta relação comunicativa
intermediadora de comunicação e mediadora entre surdo e seu T-I na escola.
Na esfera da comunicação, cabe questionar sempre se a tradução–interpretação,
de fato, traduz o que foi fito. Ou seja, qual é o nível de credibilidade com relação à
correção da mensagem pesada pelo surdo ao ouvinte e vice-versa?
As entrevistas realizadas mostraram sempre uma faceta positiva desta
mediação, mas considero que a mesma precisa ser discutida nesta questão em
particular. As competências profissionais em qualquer campo de conhecimento são
diferenciadas entre profissionais de mesma área. No caso do T-I o mesmo
acontece. Assim, cabe sempre estar atento sobre o nível de competência em
termos de conhecimento do assunto a ser traduzido, em particular dos conteúdos
curriculares e termos técnicos ou conceitos.
O ideal para aumentar a qualidade do apoio na classe seria o T-I ter acesso
aos materiais com antecedência. Da mesma forma, deve se ter um cuidado especial,
particular para que o T-I não ´tome o lugar do surdo na educação´ e passe a falar por
ele... A expressar suas ´visões´ sem consultá-lo ou sem permitir que o estudante surdo
fale por si próprio, responda à pergunta dirigida a ele. Todos esses fatores juntos,
certamente somado a outros não abordados, constituem a base da inclusão nos
espaços escolares, do êxito educacional e do empoderamento necessário para
viver plenamente na sociedade.

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9. Referências

______. Decreto nº 5.626, que regulamenta a Lei 10.436, de 24 de Abril de


2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e o art. 18 daLei
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_______. MEC/INEP. Censo Escolar. Sinopse Estatística, 2008. Disponível em:


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Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC/ SEESP, 2004.
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______. Lei Nº 10.436, Regulamenta a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS ,de
24 de abril de 2002. Brasília:Congresso Nacional, 2002.

FERREIRA, Windyz Brazão. De docente para docente:práticas de ensino e


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torno da língua de sinais e da realidade surda.Ed. Parabola, São Paulo:
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LACERDA, Cristina B. F. Intérprete de libras: em atuação na educação infantil


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STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis.


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