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ÉTICA NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Sumário
Sumário .................................................................................................................... 1

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................. 13

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14

AS LÍNGUAS E A NECESSIDADE DO PROFISSIONAL TRADUTOR INTÉRPRETE ....................... 14

O TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS E OS SURDOS ............................................................ 16

A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LIBRAS ...................................................... 20

O CÓDIGO DE ÉTICA DOS TILS ............................................................................................... 22

1. ........................................................................................................................................ 24

INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS: UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO ............................... 24

2. A política de inclusão social é fomentada, numa conjuntura de afirmação dos direitos


à acessibilidade, o respeito à diversidade e à igualdade de oportunidades. Entre os
instrumentos legais para garantir a inclusão social temos a lei de acessibilidade nº
10.098/2000, a lei do Plano Nacional de Educação nº 10.172/2001 e o decreto nº
5626/2005 que regulamenta a leis nº 10.436/2002, que dispõe sobre o reconhecimento
da língua brasileira de sinais da pessoa surda e seu direito de comunicar-se em Libras. A
legislação representou um passo fundamental no processo de reconhecimento e
formação do profissional intérprete de língua de sinais, bem como, sua inserção oficial no
mercado de trabalho. ........................................................................................................ 24

3. Antes de respaldo legal, o intérprete já era figura presente na comunidade surda


estabelecendo a comunicação entre a língua portuguesa e a Libras, seu envolvimento
com a comunidade surda levava a pratica do trabalho voluntariado, assistindo o surdo no
dia a dia, quando necessária a interlocução. Adquiria o conhecimento da língua através
do convívio. ....................................................................................................................... 24

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4. A prática da interpretação inicialmente esteve vinculada a atividades religiosas na
década de 80, ainda nos anos oitenta realizou-se o primeiro encontro nacional de
intérpretes com o apoio da Feneis (Federação Nacional Educação e Integração do Surdo),
o qual deu sequência a outros, inclusive ao nível estadual e nos anos 90 instituiu unidade
de intérpretes nos escritórios da Feneis. Mais tarde, serão formadas as primeiras
associações de intérpretes. As mais recentes associações estão localizadas em Mato
Grosso do Sul com o nome Apilsms, em São Paulo com o nome Apilsbesp e no Rio Grande
do Sul. ................................................................................................................................ 24

5. É do conhecimento, que a formação do intérprete de Libras está em processo, as


capacitações técnicas para esse profissional têm sido ofertadas em nível de pós-
graduação. Tem a fluência da língua de sinais através da prática, sem dispor de aparatos
teóricos que lhe concederia uma graduação especifica na interpretação e tradução da
Libras. A falta de formação acadêmica também é prejudicial e que é fundamental para
divulgação e aperfeiçoamento desse técnico. .................................................................. 25

6. O mais recente instrumento legal de garantia aos direitos do surdo é o decreto nº


5626, dispõe sobre o profissional intérprete e sua inserção no mercado de trabalho. O
decreto prevê o reconhecimento e admissão como intérprete de Libras, em nível médio
e em nível superior, além de outras instituições, onde exista a necessidade da
interlocução em Libras; ainda que não tenha formação especifica, enquanto se estrutura
a formação de tradutor-intérprete ................................................................................... 25

7. Intérpretes Postura ........................................................................................................ 25

8. O intérprete é a pessoa em que o surdo mantém extrema confiança, tanto


profissional como pessoal. Devendo ser uma pessoa íntegra e cumprir somente com o
seu papel de interpretar priorizando sempre em sua prática a ética. ............................. 25

9. O intérprete independente de seus conceitos e valores pessoais deverá sem


preconceito interpretar em locais como: grupo de conscientização de homossexuais e em
eventos religiosos. ............................................................................................................. 25

10. O intérprete deverá manter sigilo quando for acompanhar o surdo não devendo
revelar seu nome e o local aonde foi designado para atuar. O intérprete por ser a voz do

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surdo e do ouvinte deverá manter sempre sua neutralidade diante de qualquer situação.
25

11. O intérprete deverá sempre estar se aprimorando, se possível, frequentando


cursos de capacitação e outros eventos que venham colaborar para o seu
aperfeiçoamento profissional e na aquisição de conhecimentos sobre a cultura surda. 25

12. O intérprete precisa ter expressão facial para que o surdo possa entender melhor
a situação e, principalmente, ter postura, ou seja, não atuar de forma exagerada com o
intuito de chamar a atenção. ............................................................................................ 26

13. O intérprete durante a sua atuação deverá ter intervalo de vinte em vinte minutos
de revezamento com outro profissional em eventos de longa duração. ......................... 26

14. O intérprete precisa ser um profissional ético tanto com os surdos como com os
seus colegas de profissão. Devendo estar sempre pronto a apoiar o próximo e estar
disposto para o trabalho em equipe. ................................................................................ 26

15. ...................................................................................................................................... 26

16.
26

17. ...................................................................................................................................... 26

18. ...................................................................................................................................... 26

19. Atribuição dos Intérpretes .................................................................................... 26

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20. O intérprete é aquele que tem o papel de intermediar a comunicação entre o
idioma do emissor ao idioma do receptor. Dispõe da capacidade técnica para realizar
escolhas lexicais, estruturais e semânticas apropriadas às duas línguas em tramite na
interpretação. Possibilita tanto ao emissor quanto ao receptor entender e ser entendido
nas nuances de suas respectivas línguas. Um intérprete de Libras executa o mesmo
processo na interpretação em língua de sinais. Contudo, a modalidade espacial-visual é
fator que torna ainda mais complexa a interpretação. Implica em um processo mental
que opera a compreensão e a apropriação da mensagem em sua língua na modalidade
oral e um mecanismo para organização e efetuação da interpretação na língua espacial-
visual. Além do que, conta com a presteza da resposta técnica motora. ........................ 26

21. Contudo, o intérprete do idioma oral é reconhecido como profissional proficiente


em uma língua estrangeira, tecnicamente capacitado, que realiza um trabalho que exige
erudição............................................................................................................................. 27

22. Quanto ao profissional intérprete de língua de sinais, ainda é conotado como apoio
didático e recurso estratégico de comunicação com o surdo; em muitas situações, ainda
denominado por “portador” de deficiência auditiva........................................................ 27

23. A função do intérprete é realizar a interlocução da língua fonte à língua alvo e


trabalhar com uma língua espacial-visual. Compete a este profissional estar atualizado
em relação às nuances e dinâmica da língua alvo. Ser ativamente participante na
equipede profissionais, como profissional a ser consultado no que compete à
interlocução para a Libras e para efetivar a comunicação entre surdos e ouvintes. Não
compete ao intérprete de Libras a função de educador, ainda que execute a interpretação
no espaço de ensino, seja em nível básico ou superior. ................................................... 27

24. O intérprete não repassa conteúdos durante a interpretação, sua preocupação


deve ser a escolha acertada da estrutura e sinalização na passagem da língua fonte para
a língua alvo....................................................................................................................... 27

25. Uma vez que a profissão segue critérios de neutralidade no desempenho da


função, como um canal que não exerce qualquer influência na mensagem em tramite.27

26. ...................................................................................................................................... 27

CÓDIGO DE ÉTICA DO INTÉRPRETE DE LIBRAS ..................................................................... 28

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27. Para que serve o código de ética do interprete? ................................................... 28

28. O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua


atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete
estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um
processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas.
Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das
informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. A seguir é descrito o
código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional
de Intérpretes (FENEIS). .................................................................................................... 28

29. Dia em que foi feito o Código de ética do interprete ............................................ 28

30. Registro dos Intérpretes para Surdos - em 28-29 de janeiro de 1965, Washington,
EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo
Sander. Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros - Aprovado por ocasião do
II Encontro Nacional de Intérpretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil - 1992.............................. 28

31. Código de Ética do Interprete ............................................................................... 28

32. CAPÍTULO 1............................................................................................................. 28

33. Princípios fundamentais ......................................................................................... 28

34. Artigo 1 ................................................................................................................... 28

35. São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa de
alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele
guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram
confiadas a ele;.................................................................................................................. 28

36. ...................................................................................................................................... 28

37. Artigo 2 ................................................................................................................... 28

38. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da


interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido
pelo grupo a fazê-lo; ......................................................................................................... 29

39. Artigo 3 ................................................................................................................... 29

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40. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre
transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar dos
limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; ............................................. 29

41. Artigo 4 ................................................................................................................... 29

42. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em
aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando
necessário, especialmente em palestras técnicas; ........................................................... 29

43. Artigo 5 ................................................................................................................... 29

44. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços,
mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo,
durante o exercício da função........................................................................................... 29

45. CAPITULO II............................................................................................................. 29

46. Relações com o contratante do serviço ................................................................. 29

47. Artigo 6 ................................................................................................................... 29

48. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a


providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis; .. 29

49. Artigo 7 ................................................................................................................... 29

50. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela
de cada estado, aprovada pela FENEIS. ............................................................................ 29

51. CAPITULO III............................................................................................................ 29

52. Responsabilidade Profissional ................................................................................ 29

53. Artigo 8 ................................................................................................................... 29

54. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou
outras em seu favor; ......................................................................................................... 30

55. Artigo 9 ................................................................................................................... 30

56. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem
como da Língua Portuguesa; ............................................................................................. 30

57. Artigo 10 ................................................................................................................. 30

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58. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de
comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é
possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito
à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; .................................................... 30

59. Artigo 11 ................................................................................................................. 30

60. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas
envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso
for necessário para o entendimento; ............................................................................... 30

61. Artigo 12 ................................................................................................................. 30

62. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao


surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. ........................ 30

63. CAPITULO IV ........................................................................................................... 30

64. Relações com os colegas ........................................................................................ 30

65. Artigo 13 ................................................................................................................. 30

66. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o


intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos
conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em
interpretação e tradução. ................................................................................................. 30

67. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao
surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm
surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a
comunicação com o surdo. ............................................................................................... 30

68. Diante deste código de ética, apresentar-se-á a seguir diferentes situações que
podem ser exemplos do dia-a-dia do profissional intérprete. Tais situações exigem um
posicionamento ético do profissional intérprete. Sugere-se que, a partir destes contextos,
cada intérprete reflita, converse com outros intérpretes e tome decisões em relação a
seu posicionamento com base nos princípios éticos destacados no código de ética. ..... 31

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69. 1) Deverá ter respeito pela Libras, zelar pelo seu uso adequado, mas estar aberto
para aprender e aceitar sinais novos, porque isso é uma característica de qualquer Língua;
31

70. 2) Deverá reconhecer a necessidade de se aperfeiçoar, fazer um curso superior e


estar aberto para conhecer novos métodos de ensino; ................................................... 31

71. 3) Deverá esclarecer às Pessoas Surdas sobre a importância do trabalho dos


Instrutores para a divulgação e ensino da Libras;............................................................. 31

72. 4) Deverá ter respeito a cada indivíduo Surdo, sendo este oralizado ou não, mesmo
que saiba pouco a Libras, incentivando-o a usá-la; .......................................................... 31

73. 5) Nos assuntos gerais, sempre respeitar as decisões da diretoria dos órgãos
competentes, quando esta estiver de acordo com o estatuto e regimento da Instituição
onde esteja trabalhando; .................................................................................................. 31

74. 06) Deverá lembrar dos limites da sua função e não ir além de sua
responsabilidade, respeitando seu colega de trabalho como também seus coordenadores
e diretores; ........................................................................................................................ 31

75. 07) Deverá manter o respeito à sua Identidade e Cultura Surda quando necessitar
do apoio de profissionais ouvintes para auxiliá-lo no desenvolvimento das capacidades
expressivas e receptivas em Libras e na Língua Portuguesa; ........................................... 31

76. 08) Deverá esclarecer aos alunos no que diz respeito à Cultura Surda sempre que
possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido por causa da
falta de conhecimento do público sobre a Surdez e a comunicação com o Surdo; ......... 31

77. 09) Deverá, durante o exercício da função, adotar uma conduta adequada e, ao se
vestir e utilizar adereços, não chamar a atenção sobre si mesmo; .................................. 32

78. 10) Deverá ter assiduidade e pontualidade durante o curso; ............................... 32

79. 11) Deverá ter sempre organizado o planejamento das aulas do curso e, caso haja
dúvida, procurar ajuda para preparar a aula antecipadamente;...................................... 32

80. 12) Deverá ensinar, dando o melhor de sua habilidade, sempre transmitindo os
conhecimentos sobre a Libras de que dispõe e que já estudou; ...................................... 32

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81. 13) Deverá se esforçar para dar assistência aos alunos, esclarecendo suas dúvidas
sobre Libras; ...................................................................................................................... 32

82. 14) Deverá ter paciência com os alunos Surdos e com os Ouvintes que têm mais
dificuldade em aprender a Libras;..................................................................................... 32

83. 15) Deverá se manter neutro e tratar os alunos com igualdade, sem dar
preferências aos alunos mais inteligentes ou que já saibam um pouco mais a Libras; ... 32

84. 16) Deverá manter uma atitude neutra durante o transcurso do curso, evitando
interferências e opiniões pessoais não relacionadas às aulas; ......................................... 32

85. 17) Deverá saber controlar as emoções e não levar os problemas pessoais para a
turma; ................................................................................................................................ 32

86. 18) Deverá refletir e cumprir essas recomendações sobre ÉTICA PROFISSIONAL e
POSTURA DO(A) INSTRUTOR(A), procurando aprimorá-las.............................................. 32

87. ...................................................................................................................................... 32

88. ...................................................................................................................................... 32

89. ...................................................... 33

90. ...................................................................................................................................... 33

91. ...................................................................................................................................... 33

92. LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010. ....................................................... 33

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93. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei: .................................................................................................... 33

94. Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da


Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. .................................................................................. 33

95. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2
(duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e
interpretação da Libras e da Língua Portuguesa............................................................... 33

96. Art. 3o (VETADO).................................................................................................... 33

97. Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua


Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:......................................... 34

98. I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou;


34

99. II - cursos de extensão universitária; e................................................................... 34

100. III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior
e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. ............................................... 34

101. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada
por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o
certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. ................. 34

102. Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou por intermédio
de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução
e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. ................................................................ 34

103. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras -


Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento
dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de
Libras de instituições de educação superior. .................................................................... 34

104. Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas


competências: ................................................................................................................... 34

105. I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-
cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; ...... 34

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106. II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades
didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis
fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;
34

107. III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos
concursos públicos; ........................................................................................................... 35

108. IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições


de ensino e repartições públicas; e ................................................................................... 35

109. V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou


policiais. ............................................................................................................................. 35

110. Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos
valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em
especial: ............................................................................................................................. 35

111. I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação


recebida;............................................................................................................................ 35

112. II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo
ou orientação sexual ou gênero;....................................................................................... 35

113. III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; ..... 35

114. IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa
do exercício profissional;................................................................................................... 35

115. V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito


social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele
necessitem; ....................................................................................................................... 35

116. VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. ..................... 35

117. Art. 8o (VETADO).................................................................................................... 35

118. Art. 9o (VETADO).................................................................................................... 35

119. Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. ................................. 35

120. Brasília, 1º de setembro de 2010; 189o da Independência e 122o da República.


35

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121. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ................................................................................... 35

122. Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto ........................................................................... 36

123. Fernando Haddad Carlos Lupi............................................................................. 36

124. Paulo de Tarso Vanucchi ........................................................................................ 36

MEIO LEGAL DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO .................................................................... 36

CÓDIGOS DE ÉTICA E CONDUTA ........................................................................................... 40

REFLEXOS DA ANÁLISE DOS CÓDIGOS NA FORMAÇÃO DE TRADUTORES/INTÉRPRETES..... 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 55

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

13
INTRODUÇÃO
O Tradutor/Intérprete de Língua de Sinais – TILS é o profissional responsável
pela mediação entre dois mundos culturalmente diferentes: o mundo surdo e o mundo
ouvinte.

O trabalho de tradutor teve início em eras antigas desde quando se teve a


necessidade de se entender a comunicação entre duas línguas sejam orais ou
gestuais. A atuação do Tils, assim como qualquer outra profissão, é norteada por um
código de ética que descrevem princípios como: confiabilidade, neutralidade ou
parcialidade, fidelidade, distância profissional, entre outros.

A pesquisa deteve-se a investigar esses pontos do código de ética trabalhando


com a seguinte problemática: É possível manter a neutralidade e imparcialidade em
todos os momentos? O código de ética é mantido á risca em qualquer situação pelo
intérprete mesmo quando em conflito cultural e ético entre o surdo e o ouvinte?

Para o desenvolvimento da pesquisa foram entrevistados dez profissionais


intérpretes de Libras por meio de um questionário básico e com perguntas objetivas
que perpassavam sobre profissionalização, local de atuação, conhecimento do código
de ética e momentos de atuação conflituosa sobre os itens do código de ética.

Diante dos questionamentos, a pesquisa constatou que a maioria dos


intérpretes alegam ter infligido o código de ética no que concerne a fidelidade da
tradução, quando se depararam com informações vindas do emissor que seriam mal
interpretadas e possivelmente geraria um desentendimento muito grande por parte do
destinatário, fazendo com que eles, para evitarem problemas para ele intérprete e
também para o surdo ou o ouvinte, mudasse a intenção e as palavras no decorrer do
discurso.

AS LÍNGUAS E A NECESSIDADE DO PROFISSIONAL


TRADUTOR INTÉRPRETE

A profissão de Tradutor Intérprete surge a partir do momento em que dois


grupos com línguas diferentes não se compreendem, necessitando então de alguém

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que faça parte dos dois mundos linguísticos para fazer a mediação, a tradução e
interpretação para ambas as partes.

É alguém dotado de um grande saber cognitivo-linguístico com pleno domínio


gramatical e cultural das línguas a serem traduzidas. Não se sabe, ao certo, quando
essa profissão teve início. Podemos imaginar que começou junto com as línguas, se
considerarmos a história da Torre de Babel. Na Bíblia sagrada, mais precisamente no
capítulo 11 do livro de gênesis, é descrita a história da Torre de Babel e a confusão
das línguas. “No mundo todo havia apenas uma língua, um só modo de falar” (Gn 11:1,
SIQUEIRA NOVA VERSÃO INTERNACIONAL).

Após o dilúvio, os habitantes do mundo pensaram em construir uma torre tão


alta que ultrapassaria o mais alto pico e chegaria ao céu. Assim, caso Deus mandasse
outro dilúvio, os seres humanos seriam salvos na torre. Aquela obra parecia um
desafio ao Deus do céu e Ele confundiu as línguas para que pudesse atrapalhar o
andamento da obra e gerando uma grande confusão, daí a origem do nome babel
(confusão).

Os grupos linguísticos semelhantes migraram para lugares comuns,


perpetuando a língua daquele povo. Não se sabe que língua era falada antes, mas
agora não se entendiam mais. Devido à necessidade de comunicação e relações
comerciais, algumas pessoas foram aprendendo a língua dos outros grupos e se
tornando intérpretes daqueles que não sabiam. Tudo isso era feito de forma amadora
e espontânea.

Com o desenvolvimento das grandes civilizações, a tradução oral e escrita foi


sendo cada vez mais necessária. Há relatos que um dos primeiros trabalhos em
público de um tradutor intérprete tenha sido na Alemanha nazista e o discurso a ser
interpretado era do próprio Adolf Hitler. Imagine o que foi para esse intérprete começar
sua carreira traduzindo o discurso daquele que entraria para a história como o mentor
do holocausto de tantas pessoas inocentes. (MAGALHÃES, 2007)

No Brasil temos relatos da grande necessidade de um tradutor intérprete


quando nossos colonizadores portugueses encontraram um povo diferente com uma
língua mais diferente ainda.

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A língua dos índios era bem diversa das línguas neolatinas faladas por toda a
Europa. Esta era da ramificação tupi-guarani. Era necessário alguém que pudesse
aprender a língua indígena, e esse trabalho de tradução, durante muito tempo foi
realizado pelos padres jesuítas. Estes aprenderam a língua dos índios com o intuito
de catequizá-los e doutriná-los para a fé cristã. (NAVARRO, 2013, p. 537)

Hoje, o trabalho do Tradutor Intérprete é mundialmente conhecido e


reconhecido como necessário, principalmente nos grandes eventos em que
representantes de diversos países estão dialogando sobre assuntos de interesses
mundiais.

A mediação entre falantes de línguas diferentes é necessária tanto nas línguas


orais como nas gestuais.

O TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS E OS SURDOS

A profissão de Tradutor Intérprete de LIBRAS surge lado a lado com a luta dos
sujeitos surdos. As histórias até se confundem. É quase inevitável falar dessa
profissão sem falar daqueles que estão diretamente envolvidos no processo tradutório
as pessoas surdas. (LEITE, 2005, p. 37)

Os surdos passaram por grandes lutas culturais, sociais e linguísticas, ao longo


dos séculos. Do momento que eram considerados imbecis, incapazes, deficientes e
loucos até o momento de serem chamados “estrangeiros linguísticos”, foram anos de
sofrimento e exclusão. Até que homens como Pedro Ponce de Leon e Michel L’Epee
conseguiram, aos poucos mudar essa história. Michel L’Epee viu o surdo não como
um ser incapaz, mas como uma pessoas incompreendidas, marginalizada por não
conseguir se comunicar com os ouvintes. QUADROS (2006), afirma que o Abade
percebia que os surdos se comunicavam pelas mãos e dessa maneira eles iriam ser
alfabetizados e fazer fluir sua comunicação com o mundo ouvinte, como segue: No
convívio com os surdos, o abade L’Epée percebe que os gestos cumpriam as mesmas
funções das línguas faladas e, portanto, permitiam uma comunicação efetiva entre
eles. E assim inicia-se o processo de reconhecimento das línguas de sinais. Não
apenas em discursos, mas em práticas metodológicas desenvolvidas por ele.
(QUADROS, 2006, p. 23)

16
Então, surge em Paris a primeira escola para surdos com uma didática
totalmente voltada para o surdo utilizando a língua gestual. Dessa forma, surge
também, por meio do uso e da prática da comunidade surda parisiense, a língua
francesa de sinais. Nessa escola, os surdos se tornaram pessoas qualificadas
linguisticamente e profissionalmente e junto com esse progresso, surge também, meio
que a propósito, o profissional intérprete da língua de sinais. Da mesma forma que
entre as línguas orais necessitam de mediação de intérpretes como mediadores, entre
a língua de sinais e as línguas orais também precisam de intérpretes que liguem o
entendimento dos dois mundos. Os primeiros tradutores intérprete foram ouvintes
professores, familiares e amigos de surdos que também conheciam e gostavam dessa
língua. Estes fizeram as primeiras interpretações amadoras entre surdos e ouvintes,
traduzindo de forma espontânea algo que anos depois viria a ser uma atuação
profissional.

A educação de surdos no Brasil se deu com a chegada do professor surdo


francês Ernest Huet, que veio aqui a convite de Dom Pedro II, afim de que se abrisse
uma escola para pessoas surdas. Essa escola criada em 1857 com o nome de
Imperial Instituto dos Surdos-mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos
– INES, tem sido uma das maiores instituições nacionais responsáveis pela difusão
da LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS. Dessa forma, podemos afirmar que
a profissão de intérprete de LIBRAS surge nesse mesmo período junto com a
comunidade surda brasileira, visto que a mediação do intérprete entre pessoas
ouvintes e surdas existem desde que se tem notícias que há surdos no mundo,
conforme Eriksson 1998 apud Leite 2005.

As línguas de sinais no mundo parecem ser tão antigas quanto a existência de


pessoas surdas na face da Terra. É o que se pode inferir pelos relatos da existência
das pessoas surdas, através dos registros históricos de civilizações, como a dos
Egípcios, Persas, Gregos, Romanos, e, ainda, em registros do Alcorão, Bíblia, etc...
(cf. Eriksson, 1998:12-18).

Obviamente, quando a história menciona surdos, não menciona a sua língua


como sendo algo reconhecido e aceito, a comunicação de surdos era tida como
mímica ou gestos aleatórios e, por essa razão, o trabalho de interpretação estaria
também fadado a um entendimento de ser apenas a representação oral dessa
mimicas.

17
Foi no INES, na década de 80 que se tem as primeiras notícias do trabalho do
tradutor intérprete da LIBRAS. Leite (2005, p.37), afirma que havia um funcionário que
atuava como inspetor de alunos chamado Francisco Esteves que era respeitado por
todos como sendo o mediador entre a comunidade surda e ouvinte. Porém não fazia
traduções públicas, pois na época, a LIBRAS não era reconhecida e havia ainda forte
influência do oralismo.

Quando a Constituição de 88 deu margem para a inclusão, a comunidade surda


começou a se reunir com o intuito de lutar pelo desenvolvimento linguístico e cultural
dos surdos, Ana Regina e Souza Campello e João Carlos Carreira Alves, surdos
militantes na causa, eram acompanhados pela intérprete pernambucana Denise
Coutinho, sendo esta reconhecida como a primeira intérprete do Rio de Janeiro e
provavelmente a do Brasil a fazer trabalhos públicos de interpretação dando uma
visão mais acentuada ao trabalho que já era feito, todavia sem reconhecimento.

Sabe-se que a interpretação sempre existiu por meio de familiares de surdos


conhecedores de LIBRAS e que faziam a mediação dependendo da ocasião e da
necessidade da pessoa surda. Isso se deu também, nas igrejas.

A maioria dos intérpretes começaram seu trabalho de interpretar com a primeira


missão de evangelizar os surdos. Ouvintes amigos de surdos convidavam-nos para
irem à sua igreja e lá faziam o trabalho de interpretação.

Esse trabalho ficou na clandestinidade até que o país se dispôs de marcos


legais que realmente favorecessem a comunidade surda. Em 2000 é publicada a lei
da acessibilidade (lei nº 10.098) falando sobre a necessidade de derrubarmos as
barreiras comunicacionais, menciona língua de sinais como sendo o meio eficaz de
comunicação com as pessoas surdas como cita a referida lei, capítulo VII, (BRASIL,
2000)

Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na


comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem
acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras
de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes
o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao
transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.

18
Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais
intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes,
para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.

Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens


adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da
linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à
informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo
previstos em regulamento.

No entanto, dois anos depois é que surge a lei que reconhece a LIBRAS como
a língua oficial da comunidade surda, lei 10.436 de 24 de abril de 2002. A partir de
então, os surdos teriam a sua língua oficializada e a difusão da mesma poderia
começar por todo o país. Mas ela ficou “engavetada” por três longos anos até surgir o
decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que detalha pormenorizadamente o
objetivo, a extensão a profundidade da lei 10.436/2002, mostrando a necessidade da
difusão de LIBRAS por meio de cursos de formação e extensão; a necessidade da
formação profissional e acadêmica por meio do curso de Letras/ Libras; a
obrigatoriedade a disciplina de LIBRAS nos cursos de licenciatura; a proposta de
ensino bilíngue e a presença imprescindível do profissional interprete da LIBRAS.

Surge então uma grande expansão no número dos profissionais intérpretes


devido à demanda em sala especiais e posteriormente em salas inclusivas. Não só as
escolas, mas também programas de TV, palestras públicas, câmaras políticas, igrejas,
enfim, qualquer setor ou lugar que puder passar um surdo, aí estará a presença do
intérprete.

Entretanto, a maioria dos intérpretes não tinham formação testificada para


atuarem como intérpretes, apesar da prática e do amplo conhecimento da
LIBRAS/Língua portuguesa. Daí vieram as medidas provisórias, como PROLIBRAS
(Exame de proficiência em LIBRAS) estabelecido pelo decreto 5.626/2005 como um
meio de certificar profissionais intérpretes e instrutores de LIBRAS que já estavam
trabalhando todavia, sem certificação.

Em 2006, surge o curso superior em Letras/Libras com as modalidades de


licenciatura para formação de professores e bacharelado para formação de intérpretes.

19
Os governos municipal, estadual e federal, teriam também ampla liberdade
para abrirem formação de instrutores e intérpretes e conhecedores da LIBRAS. E à
frente de todos está a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdo), pioneira no Brasil, nos cursos de formação e capacitação na área. Com esses
avanços importantes na comunidade surda e também na profissão do intérprete, o
governo brasileiro em 2010 faz a lei nº12.319 de 1 de setembro, reconhecendo assim,
a profissão do Tradutor intérprete da LIBRAS, explicando sua atuação e
exemplificando os preceitos éticos dessa nova profissão.

A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LIBRAS

A atuação do intérprete de LIBRAS vai além do gostar e conhecer a língua,


requer um grande conhecimento cognitivo-linguístico para o exercício da mesma,
como enfatiza Quadros (2003) Traduzir um texto em uma língua falada para uma
língua sinalizada ou vice-versa é traduzir um texto vivo, uma língua viva. Acima de
tudo deve haver um conhecimento coloquial da língua para dar ao texto fluidez e
naturalidade ou solenidade e sobriedade se ele for desse jeito. QUADROS (,p. 73).

O ato de interpretar parece muito simples, mas é algo extremamente delicado


que envolve uma atividade cerebral intensa e ativa para que a mensagem chegue ao
receptor de maneira clara e concisa. Robertz (1992 apud Quadros, 2003: 73-4)
apresenta seis categorias para analisar o processo de interpretação, as quais serão
destacadas a seguir por apresentarem as competências de um profissional
tradutor/intérprete:

1- Competência linguística – Habilidade de entender o objeto da


linguagem usada em todas as suas nuanças e expressá-las corretamente,
fluentemente e claramente a mesma informação na língua alvo, ter habilidade
para distinguir as ideias secundárias e determinar os elos que determinam a
coesão do discurso.
1- Competência para transferência – Essa competência envolve
habilidade para compreender a articulação do significado no discurso da língua
fonte, habilidade para interpretar o significado da língua fonte para a língua alvo,
sem distorções, adições ou omissão, sem influência da língua fonte para a
língua alvo.

20
1. Competência metodológica – Habilidade em usar diferentes
modos de interpretação, para encontrar o item lexical e a terminologia
adequada avaliando e usando-os com bom senso e para recordar itens lexicais
e terminologias.
2. Competência na área- Conhecimento requerido para
compreender o conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada.
3. Competência bicultural- Conhecimento das crenças, valores,
experiências e comportamentos dos utentes da língua fonte e da língua alvo.
4. Competência técnica – Habilidade para posicionar-se
apropriadamente para interpretar. Claro que tudo isso citado acima acontece
de maneira rápida e totalmente imperceptível aos olhos dos expectadores.

O processo tradutório é totalmente fantástico. O TILS tem diferentes ambientes


de atuação, como escola, igreja, empresa, hospitais, senado e TV, todavia a
competência tradutória deve ser a mesma mas com conhecimentos específicos para
cada setor. Falaremos da atuação em cada ambiente.

O TILS que atua na escola é chamado de Intérprete Educacional. Ele trabalha


diretamente em sala de aula acompanhando alunos ou professores surdos. Quando
acompanha alunos, está inserido na sala todas as horas em que estes estão, em todas
as disciplinas e com todos os professores. Precisa estar o tempo todo se atualizando
nas disciplinas lecionadas, pois geralmente tem formação específica em apenas uma.
Sua carga horária é definida de acordo com a necessidade do aluno e, por não termos
ainda a profissão de TILS ainda regularizada, mas só reconhecida, este profissional
ganha como professor ou como técnico administrativo.

O intérprete que atua em igrejas é chamado de Intérprete Religioso. Esse deve


ter um profundo conhecimento bíblico e de sinais relativos à religião para que sua
atuação seja bem-sucedida.

Esse ambiente é considerado por muitos como o berço desse profissional, pois
a maioria dos TILS começaram a atuar fazendo trabalhos em missões evangelísticas
ou eram amigos de surdos e resolveram levá-los para a igreja.

O intérprete das empresas é chamado de Intérprete Empresarial. Seu trabalho


é requisitado quando necessita de palestras dentro ou fora da empresa, entrevistar
novos funcionários surdos ou ser o elo na comunicação destes dentro da mesma.

21
Já o intérprete que atua na saúde, nos ambientes de hospitais e clínicas é
aquele responsável para fazer a comunicação entre pacientes surdos e os médicos,
visto que a maioria desses profissionais não sabem Libras. Por fim, o intérprete que
atua nas câmaras de vereadores, deputados e senado, são aqueles que interpretam
as reuniões e decisões políticas que, na maioria das vezes, são transmitidas para TV.
Agora nos deteremos a falar do código de ética desse profissional.

O CÓDIGO DE ÉTICA DOS TILS

Ética vem do grego ethose está relacionada ao hábito, bons costumes. Foi
traduzida para o latim como mor /mores, (no plural), dando origem na língua
portuguesa à palavra moral.

Podemos dizer então, que ética é o conjunto de regras que norteiam a moral e
os bons costumes entre as relações sociais humanas. Foi criada para nortear as
relações políticas, na antiga Grécia, pois várias cabeças pensantes e cada uma
idealizando à sua maneira, não iria chegar ao um consenso. Está dividida em
diferentes ramificações como: ética social, religiosa, política e profissional. Essa última
define a atuação e postura de cada profissão. Analisemos alguns artigos do código de
ética dos TILS descrito em Quadros (2007), que são passiveis de discussão nessa
pesquisa.

Artigo 1º- São deveres fundamentais do intérprete:

O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto,


consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações
confidenciais e não poderá trair confidências, as quais foram confiadas a ele;
O primeiro artigo expressa que o intérprete deve ser honesto e ter um
excelente caráter moral, isso é devido à atuação deste profissional que se
depara com determinadas situações que requerem dele prudência, controle
emocional e total discrição. Ele interpretará coisas da vida íntima da pessoa
surda e deverá ajudar o surdo a separar o profissional em atuação e a pessoa
por detrás do intérprete. E isso só consegue quando se porta como dignidade,
sem deixar vasar informações que não dizem respeito com sua vida. Ter o

22
respeito e a confiança do surdo é de fundamental importância para a atuação
do intérprete. O segundo e o quarto artigos serão discutidos mais adiante.

2º- O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e


ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes
e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas;
reconhecer o próprio limite de atuação profissional é um requisito fundamental
para o trabalho tradutório do intérprete.

O artigo 4º esclarece justamente o fato de se o nível a ser interpretada, como


um tema que lhe é desconhecido, uma palestra com um nível inacessível a sua
formação ou experiência, este deve pedir ajuda a outros profissionais mais
experientes que eles ou simplesmente não interpretar. Fazer a interpretação de algo
desconhecido pode correr o risco de alterar o resultado final que é o entendimento e
compreensão do assunto por parte da pessoa surda. No artigo 9º diz “que o interprete
deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da Língua
Portuguesa”, de fato. No processo tradutório, o TILS estará constantemente envolvido
com essas duas línguas, jogando de um lado para o outro as informações das
mensagens. Portanto esse profissional deve estar sempre se atualizando e se
aprofundando no conhecimento gramatical e também nas variações linguísticas e
neologismo que aparecem a cada dia. Traduzir/interpretar não é uma tarefa fácil. É
necessário conhecimento, desenvoltura, criatividade e claro, domínio das línguas
envolvidas.

O artigo 3º preescreve o seguinte:

3º- O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade,


sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve
lembrar dos limites de sua função e não ir além de sua responsabilidade; percebe-se
que a palavra fielmente aparece na redação desse artigo, mostrado que o intérprete
deve transcorrer a mensagem usando toda a fidelidade na tradução, mostrando a real
intenção do emissor. Tendo sempre em mente que objetivo de seu trabalho e fazer
com que o receptor receba e entenda a mensagem em sua própria língua. Todavia, o
interesse geral desse artigo está relacionado com o artigo 2º que diz “O intérprete
deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando
interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo”.

23
Diante disso, questiona-se: até que ponto o intérprete é imparcial no processo
tradutório? É possível manter essa neutralidade e imparcialidade em todos os
momentos? O código de ética é mantido á risca em qualquer situação

1.

INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS: UMA POLÍTICA EM


CONSTRUÇÃO

2. A política de inclusão social é fomentada, numa conjuntura de


afirmação dos direitos à acessibilidade, o respeito à diversidade e à igualdade
de oportunidades. Entre os instrumentos legais para garantir a inclusão social
temos a lei de acessibilidade nº 10.098/2000, a lei do Plano Nacional de
Educação nº 10.172/2001 e o decreto nº 5626/2005 que regulamenta a leis nº
10.436/2002, que dispõe sobre o reconhecimento da língua brasileira de sinais
da pessoa surda e seu direito de comunicar-se em Libras. A legislação
representou um passo fundamental no processo de reconhecimento e
formação do profissional intérprete de língua de sinais, bem como, sua inserção
oficial no mercado de trabalho.

3. Antes de respaldo legal, o intérprete já era figura presente na


comunidade surda estabelecendo a comunicação entre a língua portuguesa e
a Libras, seu envolvimento com a comunidade surda levava a pratica do
trabalho voluntariado, assistindo o surdo no dia a dia, quando necessária a
interlocução. Adquiria o conhecimento da língua através do convívio.

4. A prática da interpretação inicialmente esteve vinculada a


atividades religiosas na década de 80, ainda nos anos oitenta realizou-se o
primeiro encontro nacional de intérpretes com o apoio da Feneis (Federação
Nacional Educação e Integração do Surdo), o qual deu sequência a outros,
inclusive ao nível estadual e nos anos 90 instituiu unidade de intérpretes nos
escritórios da Feneis. Mais tarde, serão formadas as primeiras associações de
intérpretes. As mais recentes associações estão localizadas em Mato Grosso
do Sul com o nome Apilsms, em São Paulo com o nome Apilsbesp e no Rio
Grande do Sul.

24
5. É do conhecimento, que a formação do intérprete de Libras está
em processo, as capacitações técnicas para esse profissional têm sido
ofertadas em nível de pós-graduação. Tem a fluência da língua de sinais
através da prática, sem dispor de aparatos teóricos que lhe concederia uma
graduação especifica na interpretação e tradução da Libras. A falta de
formação acadêmica também é prejudicial e que é fundamental para
divulgação e aperfeiçoamento desse técnico.

6. O mais recente instrumento legal de garantia aos direitos do surdo


é o decreto nº 5626, dispõe sobre o profissional intérprete e sua inserção no
mercado de trabalho. O decreto prevê o reconhecimento e admissão como
intérprete de Libras, em nível médio e em nível superior, além de outras
instituições, onde exista a necessidade da interlocução em Libras; ainda que
não tenha formação especifica, enquanto se estrutura a formação de tradutor-
intérprete

7. Intérpretes
Postura

8. O intérprete é a pessoa em que o surdo mantém extrema


confiança, tanto profissional como pessoal. Devendo ser uma pessoa íntegra e
cumprir somente com o seu papel de interpretar priorizando sempre em sua
prática a ética.

9. O intérprete independente de seus conceitos e valores pessoais


deverá sem preconceito interpretar em locais como: grupo de conscientização
de homossexuais e em eventos religiosos.

10. O intérprete deverá manter sigilo quando for acompanhar o surdo


não devendo revelar seu nome e o local aonde foi designado para atuar.
O intérprete por ser a voz do surdo e do ouvinte deverá manter sempre sua
neutralidade diante de qualquer situação.

11. O intérprete deverá sempre estar se aprimorando, se possível,


frequentando cursos de capacitação e outros eventos que venham colaborar
para o seu aperfeiçoamento profissional e na aquisição de conhecimentos
sobre a cultura surda.

25
12. O intérprete precisa ter expressão facial para que o surdo possa
entender melhor a situação e, principalmente, ter postura, ou seja, não atuar
de forma exagerada com o intuito de chamar a atenção.

13. O intérprete durante a sua atuação deverá ter intervalo de vinte


em vinte minutos de revezamento com outro profissional em eventos de longa
duração.

14. O intérprete precisa ser um profissional ético tanto com os surdos


como com os seus colegas de profissão. Devendo estar sempre pronto a apoiar
o próximo e estar disposto para o trabalho em equipe.

15.

16.

17.

18.

19. Atribuição dos Intérpretes

20. O intérprete é aquele que tem o papel de intermediar a


comunicação entre o idioma do emissor ao idioma do receptor. Dispõe da
capacidade técnica para realizar escolhas lexicais, estruturais e semânticas
apropriadas às duas línguas em tramite na interpretação. Possibilita tanto ao
emissor quanto ao receptor entender e ser entendido nas nuances de suas

26
respectivas línguas. Um intérprete de Libras executa o mesmo processo na
interpretação em língua de sinais. Contudo, a modalidade espacial-visual é
fator que torna ainda mais complexa a interpretação. Implica em um processo
mental que opera a compreensão e a apropriação da mensagem em sua língua
na modalidade oral e um mecanismo para organização e efetuação da
interpretação na língua espacial-visual. Além do que, conta com a presteza da
resposta técnica motora.

21. Contudo, o intérprete do idioma oral é reconhecido como


profissional proficiente em uma língua estrangeira, tecnicamente capacitado,
que realiza um trabalho que exige erudição.

22. Quanto ao profissional intérprete de língua de sinais, ainda é


conotado como apoio didático e recurso estratégico de comunicação com o
surdo; em muitas situações, ainda denominado por “portador” de deficiência
auditiva.

23. A função do intérprete é realizar a interlocução da língua fonte à


língua alvo e trabalhar com uma língua espacial-visual. Compete a este
profissional estar atualizado em relação às nuances e dinâmica da língua alvo.
Ser ativamente participante na equipe de profissionais, como profissional a ser
consultado no que compete à interlocução para a Libras e para efetivar a
comunicação entre surdos e ouvintes. Não compete ao intérprete de Libras a
função de educador, ainda que execute a interpretação no espaço de ensino,
seja em nível básico ou superior.

24. O intérprete não repassa conteúdos durante a interpretação, sua


preocupação deve ser a escolha acertada da estrutura e sinalização na
passagem da língua fonte para a língua alvo.

25. Uma vez que a profissão segue critérios de neutralidade no


desempenho da função, como um canal que não exerce qualquer influência na
mensagem em tramite.

26.

27
CÓDIGO DE ÉTICA DO INTÉRPRETE DE LIBRAS

27. Para que serve o código de ética do interprete?

28. O código de ética é um instrumento que orienta o profissional


intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de
relação que o intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O
intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve
determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o
intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das
informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. A seguir
é descrito o código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do
Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS).

29. Dia em que foi feito o Código de ética do interprete

30. Registro dos Intérpretes para Surdos - em 28-29 de janeiro de


1965, Washington, EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People,
Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. Adaptação dos Representantes dos
Estados Brasileiros - Aprovado por ocasião do II Encontro Nacional de
Intérpretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil - 1992.

31. Código de Ética do Interprete


32. CAPÍTULO 1

33. Princípios fundamentais

34. Artigo 1

35. São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser


uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de
equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair
confidencias, as quais foram confiadas a ele;

36.

37. Artigo 2

28
38. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o
transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a
menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo;

39. Artigo 3

40. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua


habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do
palestrante. Ele deve lembrar dos limites de sua função e não ir além de a
responsabilidade;

41. Artigo 4

42. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e


ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes
e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas;

43. Artigo 5

44. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem


adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção
indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função.

45. CAPITULO II
46. Relações com o contratante do serviço

47. Artigo 6

48. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se


dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não
são possíveis;

49. Artigo 7

50. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de


acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS.

51. CAPITULO III

52. Responsabilidade Profissional

53. Artigo 8

29
54. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem
decisões legais ou outras em seu favor;

55. Artigo 9

56. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua


Brasileira de Sinais bem como da Língua Portuguesa;

57. Artigo 10

58. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o


nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação
literal não é possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro
o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade;

59. Artigo 11

60. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a


pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e
aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento;

61. Artigo 12

62. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de


assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades
particulares.

63. CAPITULO IV

64. Relações com os colegas

65. Artigo 13

66. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento


profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o
propósito de dividir novos conhecimentos de vida e desenvolver suas
capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução.

67. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz


respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos
(má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre
a área da surdez e a comunicação com o surdo.

30
68. Diante deste código de ética, apresentar-se-á a seguir diferentes
situações que podem ser exemplos do dia-a-dia do profissional intérprete. Tais
situações exigem um posicionamento ético do profissional intérprete. Sugere-
se que, a partir destes contextos, cada intérprete reflita, converse com outros
intérpretes e tome decisões em relação a seu posicionamento com base nos
princípios éticos destacados no código de ética.

69. 1) Deverá ter respeito pela Libras, zelar pelo seu uso adequado,
mas estar aberto para aprender e aceitar sinais novos, porque isso é uma
característica de qualquer Língua;

70. 2) Deverá reconhecer a necessidade de se aperfeiçoar, fazer um


curso superior e estar aberto para conhecer novos métodos de ensino;

71. 3) Deverá esclarecer às Pessoas Surdas sobre a importância do


trabalho dos Instrutores para a divulgação e ensino da Libras;

72. 4) Deverá ter respeito a cada indivíduo Surdo, sendo este


oralizado ou não, mesmo que saiba pouco a Libras, incentivando-o a usá-la;

73. 5) Nos assuntos gerais, sempre respeitar as decisões da diretoria


dos órgãos competentes, quando esta estiver de acordo com o estatuto e
regimento da Instituição onde esteja trabalhando;

74. 06) Deverá lembrar dos limites da sua função e não ir além de sua
responsabilidade, respeitando seu colega de trabalho como também seus
coordenadores e diretores;

75. 07) Deverá manter o respeito à sua Identidade e Cultura Surda


quando necessitar do apoio de profissionais ouvintes para auxiliá-lo no
desenvolvimento das capacidades expressivas e receptivas em Libras e na
Língua Portuguesa;

76. 08) Deverá esclarecer aos alunos no que diz respeito à Cultura
Surda sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má
informação) têm surgido por causa da falta de conhecimento do público sobre
a Surdez e a comunicação com o Surdo;

31
77. 09) Deverá, durante o exercício da função, adotar uma conduta
adequada e, ao se vestir e utilizar adereços, não chamar a atenção sobre si
mesmo;

78. 10) Deverá ter assiduidade e pontualidade durante o curso;

79. 11) Deverá ter sempre organizado o planejamento das aulas do


curso e, caso haja dúvida, procurar ajuda para preparar a aula
antecipadamente;

80. 12) Deverá ensinar, dando o melhor de sua habilidade, sempre


transmitindo os conhecimentos sobre a Libras de que dispõe e que já estudou;

81. 13) Deverá se esforçar para dar assistência aos alunos,


esclarecendo suas dúvidas sobre Libras;

82. 14) Deverá ter paciência com os alunos Surdos e com os Ouvintes
que têm mais dificuldade em aprender a Libras;

83. 15) Deverá se manter neutro e tratar os alunos com igualdade,


sem dar preferências aos alunos mais inteligentes ou que já saibam um pouco
mais a Libras;

84. 16) Deverá manter uma atitude neutra durante o transcurso do


curso, evitando interferências e opiniões pessoais não relacionadas às aulas;

85. 17) Deverá saber controlar as emoções e não levar os problemas


pessoais para a turma;

86. 18) Deverá refletir e cumprir essas recomendações sobre ÉTICA


PROFISSIONAL e POSTURA DO(A) INSTRUTOR(A), procurando aprimorá-
las.

87.

88.

32
89.
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

90.

91.

92. LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010.

Regulamenta a profissão de Tradutor e


Intérprete da Língua Brasileira de Sinais -
LIBRAS.

93. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso


Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

94. Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor


e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.

95. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar


interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e
proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa.

96. Art. 3o (VETADO)

33
97. Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras
- Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:

98. I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema


que os credenciou;

99. II - cursos de extensão universitária; e

100. III - cursos de formação continuada promovidos por instituições


de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

101. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras


pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da
comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das
instituições referidas no inciso III.

102. Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente


ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional
de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa.

103. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e


Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca
examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes
surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de
educação superior.

104. Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de


suas competências:

105. I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos,


surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a
língua oral e vice-versa;

106. II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua


Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas
instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a
viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

34
107. III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de
ensino e nos concursos públicos;

108. IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-


fim das instituições de ensino e repartições públicas; e

109. V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos


administrativos ou policiais.

110. Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico,
zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e
à cultura do surdo e, em especial:

111. I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da


informação recebida;

112. II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo


religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;

113. III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber
traduzir;

114. IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que


frequentar por causa do exercício profissional;

115. V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão


é um direito social, independentemente da condição social e econômica
daqueles que dele necessitem;

116. VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade


surda.

117. Art. 8o (VETADO)

118. Art. 9o (VETADO)

119. Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

120. Brasília, 1º de setembro de 2010; 189o da Independência e


122o da República.

121. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

35
122. Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

123. Fernando Haddad Carlos Lupi

124. Paulo de Tarso Vanucchi

MEIO LEGAL DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO

Na esteira da legislação que instituiu a Libras e outros recursos de expressão


a ela associados como meio legal de comunicação e expressão (Lei no 10.436/2002),
temos, por exemplo:

(i) a determinação da formação do professor de Libras em nível


médio e superior, definindo o perfil mínimo para o exercício da profissão;
(i) a inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia e como optativa nos demais
cursos (Decreto no 5.626/2005); e
1. a regulamentação da profissão de Tradutor/Intérprete de Libras
(Lei no 12.319/2010).

É possível afirmar que, desde a promulgação da Lei de Libras, houve um


aumento significativo da demanda por tradutores e intérpretes de Libras Português,
não só para atuação no ambiente educacional, como também para conferências; por
professores de Libras (para atuarem em todos os níveis de escolaridade e no ensino
superior ministrando a disciplina de Libras como obrigatória/opcional) e por
professores bilíngues Libras-Português preparados para trabalharem em turmas
mistas inclusivas no ensino fundamental, médio e superior.

Para formar profissionais plenamente capacitados a atuar nessas áreas, as


universidades foram instadas a criar cursos de graduação capazes de suprir essa
demanda. Todavia, as necessidades não pararam de crescer.

A magnitude dos efeitos multiplicadores decorrentes da legislação promulgada


nos últimos anos está se fazendo sentir de maneira muito forte em todas as áreas
mencionadas, sem que se possa ainda definir qual será seu ponto ótimo.

No âmbito acadêmico, o universo

36
(i) da pesquisa linguística envolvendo a Libras;
(i) da pesquisa em tradução/interpretação no par Português-Libras;
1. da pesquisa histórica sobre o ensino de surdos e sobre a
constituição das entidades representativas dos surdos no Brasil;
2. da pesquisa literária tratando da literatura surda e
3. da pesquisa cultural tratando das manifestações culturais surdas
vive momentos de grande efervescência, marcados pela realização de
novos estudos e pela produção de dissertações de Mestrado e teses de
Doutorado visando à formação de massa crítica nessas áreas.

No que tange, especificamente, ao ensino de surdos em nível superior, a


curiosidade é rivalizada pelo desconhecimento desse assunto, em grande parte por
razões históricas.

Até o início da década de 1980, poucas pessoas com deficiência tinham acesso
à educação superior no Brasil. Foi a partir da instituição do Ano Internacional da
Pessoa com Deficiência (1981) e da Década das Nações Unidas para a Pessoa com
Deficiência (1983-1992), que a discussão sobre a situação de exclusão social
vivenciada por essas pessoas se intensificou, ocasionando paulatinamente uma
ampliação de seu acesso à educação superior. Porém, as formas de acesso não eram
adaptadas, isto é, somente os que não apresentassem “necessidades educacionais
especiais” que não exigissem mudanças acentuadas nos processos seletivos
obtinham sucesso.

Mais recentemente, as autoridades brasileiras vêm alcançando avanços


consideráveis na garantia de acesso da pessoa com deficiência à educação superior,
através de leis e regulamentos que legalizem esses direitos.

Em relação aos surdos, a presença de um intérprete de Libras em sala de aula


foi legalmente garantida e as instituições de ensino estão precisando se adaptar a
essa nova realidade, bem como promover processos seletivos acessíveis a esses
alunos.

As dificuldades são muitas, pois nem sempre o aluno encontra no ensino


superior professores conscientes e sensíveis a sua cultura e características de
aprendizagem (desconhecimento sobre o desenvolvimento linguístico diferenciado,
má disposição dos móveis em sala de aula dificultando a visualização da face do

37
professor e leitura labial, avaliação padronizada etc.), o que leva alguns a desistirem
e abandonarem o curso superior.

O curso Letras-Libras envolvendo as habilitações de Licenciatura e


Bacharelado, que visam a formar professores e tradutores e intérpretes,
respectivamente, se iniciou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, a
partir dessa experiência muito bem-sucedida, foi constituído em outras universidades
públicas por todo o Brasil. Outro exemplo é a experiência da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), iniciada em nível de pós-graduação lato sensu, com o Curso
de Especialização em Libras: ensino, tradução e interpretação, ao qual foi
acrescentada a graduação, oferecendo turmas regulares desde 2014. Turmas
especiais para o público-alvo de professores da rede pública (PARFOR) em 2014. Nas
grades curriculares dos departamentos de Letras-Libras tanto na UFSC (curso
presencial) quanto na UFRJ, constam disciplinas de Estudos da Tradução e da
Interpretação, variando o número de disciplinas entre as habilitações do bacharelado
e da licenciatura.

Enquanto a habilitação de licenciatura prevê somente uma disciplina


(Introdução aos Estudos da Tradução, na UFRJ, e Fundamentos da Tradução e da
Interpretação, na UFSC) comum ao bacharelado e à licenciatura no primeiro semestre
de estudos, a habilitação do bacharelado na UFSC prevê mais quatro disciplinas
teórico-conceituais e quatro disciplinas de laboratório e prática — Estudos da
Tradução I e II, Estudos da Interpretação I e II, Laboratório de Interpretação I, II e III e
Prática de Tradução I —, além de dois estágios obrigatórios, e a habilitação do
bacharelado na UFRJ prevê mais duas disciplinas teórico conceituais e quatro
disciplinas de laboratório — Estudos da Tradução I e II, e Laboratório de
Tradução/Interpretação I, II, III e IV — além de dois estágios obrigatórios, ao longo
dos períodos letivos subsequentes.

A partir dessa observação, percebe-se que os elaboradores dos currículos


desses cursos conferiram grande importância a essa matéria teórico-conceitual para
a formação dos futuros professores e intérpretes de Libras/Português. Essa
característica é diferenciadora e definidora dessa formação, já que os cursos de
bacharelado bilíngue (ou formação de tradutor) e cursos de formação de intérpretes
de conferências não costumam dar tanta importância e preeminência a essa matéria
teórica, dando muito mais ênfase às disciplinas de prática de tradução e/ou

38
interpretação. Apenas para fazer um paralelo com os tradicionais cursos da PUC-Rio
de bacharelado inglês/português – Formação de Tradutor e especialização lato sensu
em Formação de Intérpretes de Conferências, o primeiro só prevê em sua grade uma
matéria de Estudos de Tradução, no 4o período (só no currículo inaugurado em 2012
a disciplina passou a ter esse título, tendo antes a denominação de Teorias de
Tradução, sendo prevista para o 5º período), e o segundo não tem uma disciplina com
essa denominação, focando diretamente nos Estudos da Interpretação, em meio a
muitas disciplinas de prática de interpretação o que mostra que o interesse teórico
está bastante voltado para aplicações práticas em situações reais.

O interesse dos cursos de Letras-Libras pelos Estudos de Tradução vai muito


além da construção dos seus currículos da graduação, estendendo-se para a pós-
graduação, que nos últimos anos vem reivindicando a afiliação da área de pesquisa
Tradução e Interpretação em Línguas de Sinais (TILS) ao campo disciplinar dos
Estudos da Tradução, como fica patente na defesa de Maria Lúcia Vasconcellos no
excerto a seguir:

A inserção estratégica do tradutor e do intérprete de línguas de sinais


em um campo disciplinar já estabelecido, longe de diminuir a importância de sua
questão identitária, pode contribuir para o fortalecimento do empoderamento
(“empowerment”) desses profissionais que, mesmo filiados a um campo disciplinar já
constituído, não perdem sua especificidade ou visibilidade. (VASCONCELLOS, 2010,
p. 121).

Em desenvolvimento posterior, posicionam-se Rodrigues & Beer (2015) na


defesa de um campo disciplinar emergente específico para a Tradução e Interpretação
de Línguas de Sinais, congregando perspectivas tanto dos Estudos da Tradução
quanto dos Estudos da Interpretação. Na sua conclusão, após fazerem um
levantamento de textos sobre interpretação e tradução de línguas de sinais em
importantes obras dos Estudos da Tradução e dos Estudos da Interpretação e um
recenseamento de pesquisas sobre o assunto feitas na pós-graduação no Brasil, os
autores apresentam a seguinte posição:

Enfim, as reflexões propostas no decorrer deste texto convidam-nos a


reconhecer e a celebrar os ETILS [Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas
de Sinais] como um campo específico de conhecimento que congrega perspectivas

39
dos ET [Estudos da Tradução] e dos EI [Estudos da Interpretação] como base para a
investigação da tradução e da interpretação envolvendo línguas gesto-visuais. Vimos
que os ETILS têm uma existência única, pois ao mesmo tempo em que só têm razão
de ser no interior dos ET e dos EI, eles projetam uma existência para além desses
campos, no sentido de emergirem como uma profícua área interdisciplinar de
investigação dos processos tradutórios e interpretativos intermodais. (RODRIGUES;
BEER, 2015, p. 43)

No campo disciplinar dos Estudos da Tradução, a questão da ética sempre


esteve presente, mas nos últimos tempos o tema tem aquecido discussões
interdisciplinares importantes como mostram as publicações de Lenita Esteves (2014),
pesquisadora em Estudos da Tradução e professora da USP, Atos de tradução, e de
organização de Lenita Esteves e Viviane Veras, pesquisadora em Estudos da
Tradução e professora da Unicamp (2014), Vozes da tradução, éticas do traduzir.
Discutir ética na tradução e na interpretação, com pesquisadores da
tradução/interpretação e com tradutores/intérpretes profissionais e em formação,
parece estar na ordem do dia. Foi a partir desse interesse que desenvolvi o estudo e
as reflexões a seguir.

CÓDIGOS DE ÉTICA E CONDUTA

Na definição de “ética” no Dicionário Aurélio, temos que ela é o “estudo dos


juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto
de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo
absoluto” (HOLLANDA, 1988, p. 849), já aparecem as duas vertentes principais da
ética, ora vista como estudo das ações e costumes, baseada em juízos de valores,
muitas vezes sob uma ótica absoluta, ora vista como a própria realização de um tipo
de comportamento, considerando aspectos culturais e sociais, o que levaria à
relativização de seus preceitos. Assim sendo, a ética pode ser encarada tanto como
uma ciência normativa quanto como uma ciência descritiva. No Dicionário de Filosofia
online, Só Filosofia, a definição de “ética” é tripartite, acrescentando-se aos dois
aspectos anteriores, a arte do convencimento:

Ciência da conduta. Existem três concepções fundamentais:

40
1 - A que a considera como ciência do bem para o qual a conduta dos homens
deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo tanto o fim quanto os
meios da natureza do homem;

2 - A que a considera como a ciência do fundamento da conduta humana e


procura determinar tal fundamento com o objetivo de dirigir ou disciplinar essa conduta.

3 - A de que a ética é a busca de argumentos para que os outros façam aquilo


que nós acreditamos ser justo fazer.

Assim sendo, os problemas teóricos da ética podem separar-se em dois


campos principais: problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência,
bem, valor, lei etc.) e problemas específicos, de aplicação concreta a situações dadas
(ética profissional, ética política, ética sexual, ética matrimonial, bioética etc.) (VALLS,
1994, p. 8).

Este é um procedimento didático e acadêmico, pois, na vida real, as


separações estanques não se mantêm. Contudo, para os fins específicos deste artigo,
é a segunda categoria que mais nos interessa, principalmente no que tange à ética
profissional, e sua relação com a formação profissional. Paulo Oliveira, pesquisador
em Estudos da Tradução e professor da Unicamp, faz uma distinção diferente, mas
assemelhada, entre ética deontológica, com foco em valores, a priori, e ética
consequencialista, de caráter finalístico, interessada nas consequências do agir. O
autor distingue, portanto, a ética como hábito, influenciada pela construção aristotélica
de ética como fundada na experiência e inerente ao ser humano, e ética como
“sistema de normas e procedimentos a serem seguidos, de modo bastante consciente,
no exercício profissional” (OLIVEIRA, 2014, p. 259260). Essa é apenas uma das
possibilidades de divisão dos campos da ética, mas parece ser a mais adequada para
a análise que será empreendida a seguir. Com base nessas distinções, esperar-se-
ia encontrar, nos códigos de ética das associações e federações de intérpretes,
indicações de modos de agir profissionais de caráter finalístico, pois o que se quer,
em última instância, é que os intérpretes prestem um bom serviço, deixem seus
clientes satisfeitos e tenham seus direitos e deveres bem determinados, para que não
haja reclamações entre as partes interessadas na contratação. Nos códigos
analisados dois de associações de interpretes de conferência: o código de ética da
APIC (Associação Profissional de Intérpretes de Conferência) e o da AIIC Brasil

41
(Associação Internacional de Intérpretes de Conferência Região Brasil); e cinco de
associações de intérpretes de línguas de sinais: o código de ética da FENEIS
(Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos); o Regulamento para
Atuação como Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais da FENEIS/RS; o código de
conduta profissional da APILRJ (Associação dos Profissionais Tradutores/Intérpretes
de Língua Brasileira de Sinais do Rio de Janeiro), o código de conduta ética da AGILS
(Associação Gaúcha de Intérpretes de Língua de Sinais) e o código de conduta e ética
da FEBRAPILS (Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores
e Intérpretes e Guia intérpretes de Língua de Sinais) percebe-se, na verdade, que os
conceitos de ética deontológica e consequencialista se confundem, como veremos a
seguir. Antes de seguir com a análise, é importante apresentar uma justificativa do
porquê de se escolher dois códigos de associações que congregam, em sua maioria,
intérpretes de línguas orais.

A ideia de comparar esses códigos com os especificamente escritos para os


intérpretes de línguas de sinais surgiu da leitura do texto de Jemina Napier, professora
da Universidade Heriot-Watt, em Edimburgo, na Escócia, hoje considerada uma das
maiores pesquisadoras na área de interpretação em línguas de sinais no mundo,
intitulado Comparing Signed and Spoken Language Interpreting (NAPIER, 2015).

No seguinte trecho, Napier comenta sobre a comparação entre códigos de


intérpretes de línguas orais e de sinais:

A profissão do intérprete de língua de sinais ainda está surgindo em muitos


países, o que explica o motivo da recente criação de tantas associações, sendo que
a World Association of Sign Language Interpreters [Associação Mundial de Intérpretes
de Línguas de Sinais] só foi fundada em 2005.

Essas associações tradicionalmente adotaram códigos de ética de associações


de intérpretes de línguas orais congêneres e copiaram as mesmas características
principais de imparcialidade/neutralidade, exatidão/fidelidade e confidencialidade
encontradas nos códigos de línguas orais (Rodriguez e Guerrero, 2002), apesar de
mudanças também estarem sendo percebidas. (NAPIER, 2015, P. 131)

Assim sendo, a partir da sugestão de que os primeiros códigos de ética de


intérpretes de línguas de sinais seriam quase cópias de códigos de intérpretes de
línguas orais, decidi também levar em consideração esses códigos na minha análise.

42
Essa cópia não foi imotivada, apesar de ter sido inadequada. Como os intérpretes de
línguas orais já se encontravam bem estabelecidos quando os intérpretes de línguas
de sinais começaram a se organizar mais formalmente, o “modelo” do intérprete de
conferência de línguas orais bem formado, profissional, empoderado, distanciado da
plateia e aparentemente “neutro” pareceu ser o ideal a ser perseguido naquele
momento.

A inadequação adveio do fato de que os intérpretes de línguas de sinais não


surgem nas conferências, mas na comunidade, em situações interacionais dialógicas,
que não seguem o modelo estrito do distanciamento e da neutralidade.

Como Napier tão bem aponta, os códigos de intérpretes de línguas de sinais


precisam ser revistos na atualidade para mais bem retratar as situações interpretativas
dos intérpretes de línguas de sinais, procurando dar conta de suas especificidades,
apesar de os intérpretes de línguas de sinais fazerem parte do grupo profissional muito
mais largo e abrangente dos tradutores e intérpretes de quaisquer línguas que sejam.
Com esse intuito, foram então escolhidos códigos de intérpretes de línguas orais, bem
como códigos de intérpretes de Libras escritos em momentos históricos diferentes.

Os escolhidos não são os únicos existentes. Para uma pesquisa de maior


fôlego e não no escopo da elaboração de um artigo acadêmico de extensão limitada
seria preciso analisar mais códigos brasileiros, bem como os internacionais.

Há um núcleo comum entre os sete códigos analisados, de cunho mais


deontológico, que diz respeito a questões como confidencialidade (não revelar
informações obtidas no decorrer da atividade profissional), competência e
profissionalismo (não aceitar trabalhos para os quais o profissional não se sinta
qualificado), probidade (não se utilizar de informações obtidas para ganho pessoal),
idoneidade (abstenção de atividade que prejudique o conceito da profissão),
solidariedade (prestação de assistência moral e profissional aos colegas), decoro
(apresentação pessoal adequada e postura profissional), integridade (não praticar
atos de concorrência desleal) e evitação de conflitos de interesses (entre interesses
pessoais e dever profissional).

Essas recomendações poderiam servir para qualquer profissional ou, no limite,


para qualquer indivíduo honesto que viva em sociedade, não distinguindo de maneira
especial a categoria profissional em questão.

43
É nas recomendações de caráter mais finalístico, que se entremeiam às de
caráter mais deontológico, que os códigos de fato se distinguem de quaisquer outros,
e entre si.

Em primeiro lugar, há que se atentar para as datas de adoção dos códigos


mencionados.

O mais antigo deles é o da FENEIS, aprovado por ocasião do II Encontro


Nacional de Intérpretes, no Rio de Janeiro, em 1992.

Apesar de ser o mais antigo, ainda é um dos mais referenciados em cursos


livres de formação de TILS (Tradutores-Intérpretes de Língua de Sinais) e em
concursos públicos. Em seguida, por ordem cronológica, vem o da FENEIS-RS (2004),
APILRJ (2009), AIIC (2009), AGILS (2011) e FEBRAPILS (2014). Não foi encontrada
a data de adoção do código da APIC, mas ele ainda está em vigor em 2018, disponível
no site da Associação na Internet. No longo período de 1992 a 2014, muito da
legislação sobre o reconhecimento da Libras e regulamentação dos tradutores-
intérpretes de Libras foi promulgada, mudando indiscutivelmente o status da Libras e
do TILS no Brasil, bem como a educação de surdos e o aprendizado da Libras por
professores, pedagogos, profissionais de saúde, licenciados, sem falar em pelo
público em geral.

Assim sendo, esperava-se encontrar mudanças mais significativas na redação


dos códigos mais modernos em relação ao mais antigo, o da FENEIS. Isso se verificou
apenas em parte. Entre os aspectos práticos abordados nos códigos analisados,
destaca-se a questão da remuneração e das condições de trabalho.

O código da APIC remete aos Regulamentos, que o complementam e definem


mais detalhadamente a forma de cobrança, a composição de equipes, a determinação
dos honorários e a contratação. No item III do código da AIIC Brasil, também se toca
na questão das condições de trabalho. Por serem os intérpretes de conferência de
línguas orais organizados como categoria há mais tempo do que os intérpretes de
línguas de sinais, os códigos demonstram bem o que é aceitável ou não no exercício
da profissão, constituindo parâmetros bem internalizados e razoavelmente seguidos
tanto para o profissional experiente, quanto para o novato que está se iniciando no
ofício.

44
Já os códigos das associações de TILS demonstram claramente que a
categoria vem se organizando mais recentemente e ainda precisa esclarecer de forma
mais especificada o que seria eticamente aceito nas situações de interpretação.

No código da APILRJ, por exemplo, há um capítulo inteiro (Capítulo VIII)


versando sobre a necessidade de desenvolvimento profissional, com a busca de
educação superior e capacitação contínua; e outro capítulo (Capítulo VII) dedicado a
advertências a que se honrem os compromissos profissionais, sem atrasos ou faltas
injustificadas; e cobrança pelo seu trabalho (“Os TILS profissionais dão-se ao direito
de se sustentarem através de suas qualificações e experiência, Capítulo VII, Artigo 8º,
caput), em distinção ao trabalho voluntário, que também pode ser prestado, “de
maneira justa e razoável” (Capítulo VII, Artigo 8º, item V).

Essas advertências não constam dos códigos dos intérpretes de conferências


de línguas orais, uma categoria, de modo geral, profissionalizada há mais tempo, em
que as exigências de qualificação são uma constante e a concorrência entre
intérpretes de alta escolaridade é muito acirrada.

A questão do trabalho voluntário nem sequer é tocada nestes últimos. É óbvio


que todo profissional pode prestar trabalho voluntário, segundo seu desejo e
conveniência, até mesmo os intérpretes de línguas orais. Porém, esse assunto não
consta de seus códigos porque esta é uma questão de cunho pessoal, cabendo a que
cada um decidir trabalhar segundo o bom senso e o respeito aos colegas.

Já na profissão do intérprete de línguas de sinais, o trabalho voluntário é bem


constante, mesmo quando o intérprete se profissionaliza. E, segundo o código da
FENEIS, de 1992, isso é até mesmo uma obrigação (“Artigo 6º. O intérprete deve ser
remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de
interpretação, em situações onde fundos não são possíveis.”).

Já o regulamento da FENEIS/RS, datado de 2000, apresenta o trabalho


voluntário como obrigação, mas exceção e não regra (Item 13. “Todo intérprete,
quando contratado, receberá pagamento por seu trabalho, mas também deverá se
dispor quando lhe é solicitado o trabalho voluntário. Este último diz respeito às
exceções e não à regra.”).

45
Historicamente, a grande maioria dos intérpretes de Libras começou fazendo
trabalho voluntário em igrejas, associações de surdos etc., e assim aprendeu e
começou a se profissionalizar, passando, eventualmente, a cobrar por seus serviços.
Outros nunca saem da situação de voluntariado, pois não fazem disso o seu sustento,
atuando por motivos religiosos e/ou humanitários.

A maneira como o assunto é abordado no código da APILRJ diz muito da


situação de profissionalização em que a categoria se encontrava no momento de sua
adoção (2009), quando muitos intérpretes buscavam se profissionalizar e cobrar por
seus serviços: “Os TILS profissionais dão-se ao direito de se sustentarem através de
suas qualificações e experiência” (Capítulo VII, Artigo 8º, caput) e “Prestar serviços
voluntários de maneira justa e razoável” (Capítulo VII, Artigo 8º, item VII) .

Os códigos mais recentes (AGILS e FEBRAPILS) mencionam o trabalham


voluntário, deixando bem claro que essa é uma decisão eletiva e opcional, e
remetendo à Lei Federal 9.608/98 que versa sobre o serviço voluntários e dá outras
providências. Entretanto, ainda hoje se encontram algumas resistências aos TILS que
só trabalham por remuneração, não só das comunidades surdas em que se inserem,
como internas à própria categoria em afirmação profissional.

Contudo, o momento de grande demanda por intérpretes de Libras e a


consequente concorrência na contratação de intérpretes competentes e qualificados,
como citado no início deste texto, tende a mudar a atual situação desses profissionais
no que concerne à controvérsia trabalho remunerado versus trabalho voluntário.

Os códigos mais recentes (AGILS e FEBRAPILS) já fazem menção a tabelas


de honorários, evidenciando que, para o TILS profissional, o trabalho visando
remuneração é a situação default, sendo o trabalho voluntário totalmente opcional,
como a própria designação “voluntário” deve fazer crer. O Código da AGILS, por
exemplo, reza: “A condição do serviço de voluntariado em hipótese alguma deverá ser
realizada em detrimento às condições de serviços remunerados” (Capítulo V, Artigo
19º, item II) (grifo nosso).

De fato, a questão do voluntariado é abordada pelo código da AGILS, de 2011,


com ainda mais precisão. No Capítulo V, “Do Respeito aos Colegas”, há três itens que
abordam o assunto, demonstrando a necessidade de regular esse tipo de serviço,
para que não entre em conflito com o serviço remunerado, o que demonstra um

46
avanço na situação de remuneração dos intérpretes, em relação aos dispositivos dos
códigos mais antigos, como os da FENEIS (1992), FENEIS-RS (2004) e APILRJ
(2009):

II. A condição do serviço de voluntariado em hipótese alguma deverá ser


realizada em detrimento às condições de serviços remunerados; III. O TILS e GI em
condição de serviços de voluntariado está sujeito ao disposto na Lei Federal 9.608/98
que versa sobre o serviço voluntário e dá outras providências.

IV. É direito e dever do TILS e GI celebrar contrato de prestação de serviços


voluntários.

É importante destacar que a categoria de profissionais guias-intérpretes não é


mencionada nos outros três códigos de ética direcionados aos intérpretes de língua
de sinais. E, nisso, a questão da datação dos códigos é importante. Como
mencionamos acima, o código da FENEIS é de 1992, o regulamento da FENEIS/RS
é do início dos anos 2000, o da APILRJ é de 2009 e o da AGILS, de 2011.

Esse tipo de profissional vem se profissionalizando mais tardiamente abrindo


uma possibilidade de trabalho inclusive para o intérprete surdo, o que explica só ser
mencionado nos códigos mais recentes (AGILS e FEBRAPILS). A questão da
datação também deve ser levada em conta ao se analisar a menção à fidelidade. Os
dois códigos mais antigos, o da FENEIS e o da FENEIS/RS apresentam a questão da
fidelidade de forma bastante essencializada, e não adaptada à situação ou aos
contextos tradutórios. O da FENEIS preconiza que o intérprete deve se manter
imparcial, distanciado, evitando interferências e opiniões próprias e “transmitindo o
pensamento, a intenção e o espírito do palestrante” (Capítulo 1, Artigo 3º).

Já o regulamento da FENEIS/RS apresenta o intérprete como “ponte de


ligação”, sem voz nem vez (no item 6, temos o seguinte: “a) Ser imparcial: [...] O
intérprete deverá ter tão somente o cuidado de passar a informação pela e/ou
Português. Não é ele que está falando. Ele é apenas a ponte de ligação entre os dois
lados.”) e com a função precípua de fidelidade (no item 6, também podemos ler: “c)
[…] Ser fiel tanto em Libras quanto no Português.”).

Apesar de o código da APILRJ, de 2009, ainda tocar explicitamente na questão


da fidelidade, ele já admite a intervenção do intérprete para adaptar a mensagem

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segundo o público alvo e corrigir erros (“Capítulo III, item III. Passar a mensagem
fielmente por transmitir o conteúdo e o espírito do que está sendo comunicado, usando
a língua mais flexível para o entendimento dos clientes e corrigindo erros discreta e
prontamente.”)

Já o código da AGILS não fala mais em fidelidade, mas sim em equivalência


linguística e extralinguística (“Capítulo III, Do Profissionalismo, Artigo 6º. É dever dos
TILS/GI: [...] III. Assegurar a equivalência linguística e extralinguística nos atos de
tradução e interpretação e guiainterpretação”), dando a entender que existe uma
“contextualização” a que os intérpretes devem levar em conta e apresentando os TILS
e os GI como “intermediadores linguísticos e culturais” (Capítulo II, Confidencialidade,
Artigo 3º).

Na mesma esteira, o código da FEBRAPILS, de 2014, abole a menção à


fidelidade, introduzindo os conceitos de “competência tradutória” adequada a cada
situação (“Artigo 8º. O TILS e o GI devem aceitar serviços de acordo com o seu nível
de competência tradutória e com as circunstâncias e necessidades dos Solicitantes e
Beneficiários [...]”) e de “equivalência de sentido” (Artigo 9º. O TILS e o GI devem
buscar a equivalência de sentido no ato de tradução e/ou interpretação e/ou
guiainterpretação”).

Percebe-se então, que, com o passar do tempo, o conceito de “fidelidade” vai


sendo alterado, acabando por ser abandonado de vez, sofrendo, assim, influências
das teorias linguísticas e de tradução mais recentes que põem em xeque uma visão
essencialista da linguagem e uma visão da tradução como transporte de conteúdo.

Dois dos códigos mais recentes (APILRJ e AGILS) trazem dispositivos falando
de mentoria de profissionais mais experimentados a intérpretes em formação, indo ao
encontro de tendências mais contemporâneas de formação profissional.

O código da AGILS, em seu Artigo 17º, reza: “Compartilhar informações e servir


como mentores, quando possível, junto a TILS e GI em formação”, e o código da
APILRJ, no Capítulo VIII, Norma de Desenvolvimento Profissional, no Artigo 6º, item
IV, e no Artigo 8º, item I c., refere-se a que o TILS aumente e fortaleça habilidades
através de atividades tais como:

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“Ajudar e encorajar colegas por compartilhar informações e servir como
mentores quando apropriado” e “Procurar oportunidades de mentoring e supervisão”.
Podemos até levantar uma hipótese de que a questão da menção à mentoria tenha
sido uma influência do Código de Conduta Profissional do RID (Registry of Interpreters
for the Deaf / Registro de Intérpretes para Surdos), de 2005, que fala especificamente
em mentoria no seu 7º Princípio (Desenvolvimento Profissional):

“Aumentar o conhecimento e fortalecer as habilidades por meio de atividades


como: [...] buscar oportunidades de mentoria e supervisão”.

No geral, os códigos mais recentes parecem estar mais coadunados com a


situação de formação e profissionalização atuais, trazendo mais especificidades de
atuação.

Contudo, salta aos olhos o fato de que nenhum dos cinco códigos das
associações de intérpretes de línguas de sinais toque no assunto do intérprete
educacional de Libras, que é aquele que atua como profissional intérprete na
educação, parte integrante da interação entre o aluno surdo e o professor ouvinte com
pouca ou nenhuma proficiência em Libras, no contexto de sala de aula.

Esse é o tipo de intérprete de línguas de sinais mais requisitado no Brasil e em


outros países do mundo, possuindo um perfil diferenciado. Ronice Müller de Quadros
apresenta a especificidade desse profissional nos seguintes termos:

Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo


de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do
intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor.

Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam


discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor.

O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o


ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor
consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele
a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito.

O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos
professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o
seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale

49
ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais
difícil torna-se a sua tarefa.

As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que
está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está
intermediando a relação entre o professor e ela. (QUADROS, 2004, p. 60).

Face a essas dificuldades, algumas instituições, principalmente internacionais,


vem buscando criar códigos de ética específicos para os intérpretes educacionais,
tentando dar conta das várias funções que esse intérprete pode assumir em sala de
aula junto ao professor.

Se for permitido que o intérprete dê feedback do processo de ensino-


aprendizagem ao professor, esse intérprete assumiria a função de tutoria,
constituindo-se em intérprete-tutor. Se a ele forem atribuídas responsabilidades com
o ensino, deveria ser professor bilíngue, e não intérprete. Essas minúcias de funções
e atribuições possuem impacto direto sobre as condições de contratação e os salários.

Segundo Quadros (2004), se assim não for, os intérpretes devem se ater a suas
funções básicas e não as extrapolar, não devendo, portanto, tutorear os alunos (em
qualquer circunstância); apresentar informações a respeito do desenvolvimento dos
alunos, acompanhar os alunos, disciplinar os alunos; realizar atividades gerais
extraclasse, como auxiliar na elaboração de tarefas em casa. Nesse sentido, os
Estados Unidos se mostram mais preocupados em regular tais limites de atribuições
do que o Brasil (QUADROS, 2004, p. 61).

Estranho é perceber que a situação e a especificidade dos intérpretes


educacionais nem sequer é mencionada nos códigos analisados, sendo que dois
deles (AGILS e FEBRAPILS) mencionam e regulam a atividade dos Guias-Intérpretes,
que existem em muito menor número do que os intérpretes educacionais.

Vê-se, portanto, que a situação e as funções dos intérpretes educacionais de


Libras ainda precisam ser muito discutidas e delimitadas no nosso país. Não
queremos, com essa consideração, dizer que os intérpretes educacionais não devam
ser incluídos na categoria mais geral dos TILS, mas que, por suas funções acessórias
à interpretação propriamente dita e por sua agentividade na atuação junto ao

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professor, deveriam ter dispositivos nos códigos que se referissem especificamente à
sua atuação ou, no limite, códigos de ética e conduta específicos para eles.

Dentre os achados e percepções oriundos da análise dos códigos de ética e


conduta profissional das associações de intérpretes de conferências e dos intérpretes
de línguas de sinais mencionados, podemos ressaltar alguns pontos:

1. os códigos de ética das associações de intérpretes de conferências têm


cunho mais deontológico e menos finalístico. Isto se reflete no próprio título, “Código
de Ética” dos dois analisados. As questões de caráter mais consequencialista são
apresentadas em regulamentos à parte, quando ocorrem;

2. o aspecto enfatizado no item acima demonstra uma organização e uma


profissionalização maior dos intérpretes de conferência de línguas orais em relação
aos de Libras. Os aspectos mais práticos da atuação dos primeiros estão calcados
nas condutas e hábitos internalizados de seus componentes, sendo os casos
particulares tratados em bases individualizadas pelas associações;

3. os códigos das associações de intérpretes de Libras possuem caráter mais


finalístico, regulando aspectos práticos da conduta diária dos profissionais, o que se
reflete em sua própria denominação, “Código de Conduta Profissional” da APILRJ,
“Código de Conduta Ética” da AGILS, “Regulamento para Atuação como Tradutor e
Intérprete de Língua de Sinais” da FENEIS/RS e “Código de Conduta e Ética” da
FEBRAPILS.

A única que mantém a denominação de “Código de Ética” é a FENEIS, num


código datado de 1992, não mais em vigor, mas referenciado em material
governamental oficial (QUADROS, 2004);

4. os códigos mais recentes apresentam visões de “fidelidade” (APILRJ),


“equivalência linguística e extralinguística” (AGILS) e “equivalência de sentido”
(FEBRAPILS), nos quais já se fazem ecoar, mesmo que de maneira tênue e instável,
os mais recentes desdobramentos das teorias de linguagem e tradução
contemporâneas, que discutem e relativizam a fidelidade, introduzindo questões como
contextualização, função da tradução, características do público-alvo e questões
culturais;

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5. os códigos das associações de intérpretes de língua de sinais deixam
entrever a situação de formação e profissionalização ainda recente desses
profissionais. A questão do voluntariado, em contraposição ao trabalho remunerado,
ainda é um problema mal definido, bem como a especificidade do intérprete
educacional, nos códigos estudados, sendo que o mais recente data de 2014, distante
quatro anos no tempo em relação à data de elaboração do presente artigo;

6. a pesquisa na área de tradução e interpretação em línguas de sinais


avançou muito nos últimos anos, mas suas conclusões e desenvolvimentos ainda não
se deixam totalmente entrever nos códigos de ética e conduta em vigor. Urge uma
revisão dos códigos de TILS no sentido de se coadunarem ao tempo atual da
formação desses profissionais e das pesquisas na área dos Estudos da Tradução e
dos Estudos da Interpretação em línguas de sinais.

Para concluir, resta notar que os sites oficiais das associações de intérpretes
de conferências, AIIC Brasil e APIC, não mencionam intérpretes de línguas de sinais
em seus quadros, nem instruções para admissão dessa categoria (diferentemente da
AIIC Internacional, que já possui em seus quadros intérpretes de Língua de Sinais
Americana (ASL), Língua de Sinais Britânica (BSL), Língua de Sinais Holandesa (DSL)
e Língua de Sinais Flamenga (FSL), por exemplo).

A pergunta que ressoa é a seguinte: se alguns intérpretes de língua de sinais


atuam em conferências também, por que não poderiam ser considerados intérpretes
de conferências como os outros intérpretes de línguas orais? Isso traduz um mero
esquecimento ou um preconceito explícito?

Ocorrer-nos-ia indagar se algum intérprete de Libras já pediu a filiação na APIC


ou na AIIC e qual teria sido a reação das associações ao pedido. Em princípio, a
admissão não é vedada, mas, na prática, ter sucesso na candidatura ainda é uma
possibilidade um pouco remota, devido às exigências de apresentação/indicação por
parte de outros intérpretes, número alto de horas de atuação certificada em
conferências e valores altos das anuidades das associações de intérpretes de línguas
orais, compatível com os ganhos dos intérpretes de conferência de línguas orais, mas
ainda não com os ganhos dos TILS.

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REFLEXOS DA ANÁLISE DOS CÓDIGOS NA FORMAÇÃO DE
TRADUTORES/INTÉRPRETES

O campo disciplinar dos Estudos da Tradução, tal como descrito primeiramente


por James Holmes (HOLMES, 1988, p. 68-80), possui um componente “puro” (estudos
descritivos e teóricos) e outro “aplicado” (direcionado à prática), ambos subdivididos
em subáreas. Esse escopo mais amplo diferencia os Estudos da Tradução das antigas
denominações Teoria da Tradução, Teorias de Tradução e Tradutologia, que
tradicionalmente estabelecem princípios gerais por meio dos quais o fenômeno da
tradução e das traduções podem ser explicados e previstos, com caráter
eminentemente prescritivo.

Os estudos aplicados interessam-se também por assuntos práticos, ligados à


realidade empírica, ou descritivos de traduções reais ou atividades ligadas à tradução.
Assim sendo, interessam-se por assuntos ligados ao ensino da tradução, ferramentas
de auxílio à tradução, política da tradução e crítica da tradução.

O assunto tratado neste artigo está na confluência de dois desses interesses:


a formação de tradutores e intérpretes e os aspectos políticos do ofício. Portanto, tem
seu foco na investigação da atividade das associações de tradutores/intérpretes que,
ao mesmo tempo, defendem os interesses da classe e de seus membros e regulam
suas atividades, inclusive pela imposição de códigos de ética e de conduta.

Os códigos de ética e conduta profissional das associações de


tradutores/intérpretes trazem significativas indicações ou recomendações de como
esses profissionais devem se portar, constituindo importante fonte de pesquisa para
os tradutores em formação, inclusive constituindo conteúdo programático das aulas
de Estudos da Tradução ou Estudos de Interpretação (de caráter teórico-conceitual)
ou de Laboratórios de Tradução/Interpretação (de caráter mais prático).

Conhecer as regras do jogo, para segui-las ou subvertê-las conscientemente,


saber em que ponto está a organização de sua classe profissional, saber da
importância da regulamentação da profissão, discutir princípios ético-profissionais
ligados à sua área de atuação, torna os tradutores/intérpretes aprendizes mais atentos
às regras do jogo e ao que ainda precisa ser feito para dar maior visibilidade à sua

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profissão e combater o apagamento a que muitos dos tradutores/intérpretes se
submetem, sem crítica nem reflexão.

Segundo Oliveira (2014), o tradutor (e, acrescento, o intérprete) tanto melhor


desempenhará suas funções quanto mais estiver atento às questões de cunho ético.
E as discussões que envolvem ética devem começar cedo na profissão, de
preferência desde as fases de treinamento.

(...) resta a ele [o tradutor] ponderar as consequências de cada


decisão tomada na construção do texto traduzido, do grau de estranhamento
a que pode ou deve submeter seu leitor — a depender do projeto tradutório
em jogo, sem necessariamente submeter-se de modo acrítico às chamadas
“demandas do mercado”, mas também sem ignorá-las, seja enquanto
limitantes reais de sua margem de ação seja como compreensão do próprio
jogo no qual está envolvido. Por esse motivo, é fundamental que a formação
de futuros tradutores leve em conta esse tipo de questão, tanto no nível
epistêmico (impossibilidade lógica de apagamento do tradutor) quanto no
ético (responsabilidade decorrente do tipo de autoria que lhe compete).
(OLIVEIRA, 2014, p. 269-270).

Como vimos acima, os códigos de ética e conduta profissional dão a ver muito
do status quo de cada categoria profissional. Para os intérpretes de línguas de sinais,
que ocupam uma posição sui generis no campo profissional da tradução — por um
lado prestigiosa, por serem a única categoria regulamentada, juntamente com os
tradutores públicos juramentados, no Brasil e por estarem ocupando posição de cada
vez maior visibilidade no campo de atuação e na academia, mas, por outro
secundarizada, por ainda terem que combater preconceitos internos e externos que
os coloca em posição de relativa inferioridade frente aos intérpretes de línguas orais
essa discussão parece ainda mais pertinente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Internacional. São Paulo: editora Vida, 2000.

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