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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

BELO HORIZONTE / MG

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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

SUMÁRIO

1 LÍNGUA ................................................................................................................... 4
2 LINGUAGEM ........................................................................................................... 5
3 LINGUAGEM E SOCIEDADE .................................................................................. 8
3.1 Hymes ................................................................................................................ 10
3.2 Labov ................................................................................................................ 11
3.3 A noção de comunidade de fala ......................................................................... 11
4 ORALIDADE E ESCRITA ...................................................................................... 13
5 AS LÍNGUAS DO BRASIL ..................................................................................... 14
6 OS CONDICIONAMENTOS SOCIAIS E ESTILÍSTICOS' ...................................... 16
7 PLURALIDADE LINGUÍSTICA .............................................................................. 19
8 TIPOS DE VARIEDADES LINGUÍSTICAS ......................................................... 22
9 PRECONCEITO LNGUÍSTICO E PRÁTICAS DISCURSIVAS ESCOLARES ........ 23
10 O ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E MULTICULTURAIS NOS ANOS
INICIAIS ............................................................................................................................... 24
11 GÊNEROS TEXTUAIS ........................................................................................ 30
12 TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ......................................................................... 31
12.1 Exemplos de tipos textuais ............................................................................... 32
12.2 Gêneros textuais pertencentes aos textos narrativos: ....................................... 32
12.3 Gêneros textuais pertencentes aos textos descritivos: ..................................... 32
12.4 Gêneros textuais pertencentes aos textos expositivos: ..................................... 33
12.5 Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos: .............................. 33
12.6 Gêneros textuais pertencentes aos textos injuntivos: ....................................... 33
12.7 Gêneros textuais pertencentes aos textos prescritivos: .................................... 33
12.8 Gêneros textuais e gêneros literários ............................................................... 33
12.9 Texto Narrativo ................................................................................................. 34
12.10 Texto Descritivo .............................................................................................. 34
12.11 Texto Dissertativo-Argumentativo ................................................................... 35
12.12 Texto Expositivo ............................................................................................. 35
12.13 Texto Injuntivo ................................................................................................ 35
13 REDAÇÃO OFICIAL CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES ................. 36
13.1 O que é uma redação oficial? ........................................................................... 37
13.2 Formalidade ..................................................................................................... 37
13.3 Padronização.................................................................................................... 37
13.4 Concisão .......................................................................................................... 37
13.5 Clareza ............................................................................................................. 38
13.6 Impessoalidade ................................................................................................ 38
14 SINTAXE E SEMÂNTICA .................................................................................... 39
14.1 Funções e Relações sintáticas ......................................................................... 39
14.2 Funções sintáticas ............................................................................................ 39

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14.3 Relações sintáticas ........................................................................................... 40


15 SEMÂNTICA ....................................................................................................... 40
16 REPRESENTAÇÃO, MULTICULTURALISMO E IDENTIDADE ........................... 42
17 PRODUÇÃO DE TEXTOS ................................................................................... 46
17.1 Como produzir um texto?.................................................................................. 48
17.2 Tipos de Textos ................................................................................................ 49
17.3 Como Produzir um Bom Texto? ........................................................................ 50
17.4 Crie a Estrutura do Texto – Tema e Título ........................................................ 50
17.5 Apresentação ................................................................................................... 50
17.6 Conclusão ........................................................................................................ 51
18 DICAS PARA PRODUZIR UM BOM TEXTO ....................................................... 51
19 PRODUÇÃO DE TEXTO EM DIFERENTES FORMATOS .................................. 52
20 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ...................................................................................... 53
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .......................................................................... 53

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1 LÍNGUA

A língua é uma forma de linguagem, é um dos instrumentos de interação


sociocomunicativa e, assim como as religiões, a culinária, as vestimentas, integra-se na
cultura dos povos. Os idiomas são mecanismos de expressão das manifestações culturais e
estão a serviço da comunicação social. As aquisições culturais são ensinadas e transmitidas,
em grande porte, pela língua.
Existem no mundo pelo menos, 3 mil línguas. Além dessas línguas faladas hoje,
existem entre 7 a 8 mil dialetos que são variantes de um idioma. Cada língua desenvolveu
seus próprios padrões de nomeação de experiência perceptivas. Não há duas línguas iguais
quanto à maneira de dividir a realidade conceitual. Os esquimós têm uma serie de palavras
para designar diferentes tios de neve, enquanto outros povos têm apenas um termo para
‘’neve’’. Existem povos que só tem uma palavra para designar o azul e o verde, enquanto nós
temos essas duas palavras para essas cores.
Todos os países têm sua língua oficial, que é aquela em que o governo conduz seus
trabalhos e foi adotada com essa finalidade por decisão governamental; é a conhecida como
língua do país. É a língua de um Estado, a qual e obrigatória. Nem sempre ela é a língua
materna, ou seja, a língua cujos falantes praticam por ser a primeira aprendida, geralmente,
em ambiente familiar.
No Brasil, a língua oficial é a língua portuguesa, embora nosso país seja multilíngue.
Em nosso país, são faladas línguas indígenas, além das origens africanas, ainda praticadas
nos quilombos, e das línguas dos imigrantes que vieram principalmente da Europa e da Ásia.
Entre elas, é possível citar o alemão, o árabe, o chinês, o coreano, o espanhol, o holandês, o
inglês, o italiano e o japonês. Além dessas línguas, existem em nosso país, as línguas de
fronteiras que são os idiomas praticados pelas diferentes etnias índios, espanhóis, árabes,
portugueses alemães, entre outros – em contato.
Em todos os países, existe uma variedade da língua de prestigio social, denominada
língua padrão; é aquela eleita como a mais apropriada nos contextos formais e educacionais.
A íngua padrão é a variedade da língua que tem um status especial na sociedade e é adquirida
pelo ensino formal. A maior parte das publicações acadêmicas, dos noticiários nacionais é
feita em língua padrão. Ela é a recomendada para a escrita formal, tem prestigio social e é
protegida por lei.
Podemos conceber língua como um fenômeno natural, um organismo dinâmico, que
evolui com o passar do tempo; como um sistema formal em funcionamento numa comunidade.
Pelos usos diferentes no tempo e nos diversos agrupamentos sociais, as línguas passam a
existir como um conjunto de falares diferentes, todos muito semelhantes entre si, mas cada
qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos linguísticos.
A língua de um povo surge e se constrói junto com seu modo de ver o mundo, sua
história e sua cultura, e, nessa construção, ela se transforma e deixa que o tempo lhe traga
novas nuances. A língua não é um sistema homogêneo, ela varia no espaço e na hierarquia
social. Não é um sistema fixo e imutável. Além de evolui no tempo, a língua ainda está em
evolução, em constante mudança, pela ação dos falantes. Sua história ainda não acabou;
está sempre se fazendo pela ação dos falantes.
Como o homem dispõe e inúmeras possibilidades para se comunicar, cada língua

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corresponde à expressão de uma escolha entre essas possibilidades, apresentando variações


relevantes em função de valores sociais, regionais, de faixa etária, de situação, etc.,
concretizando, dessa forma, a relação entre linguagem, língua e cultura. 1

2 LINGUAGEM

Uma língua, seja ela qual for, tem a função de permitir a comunicação entre os
indivíduos. Essa é sua função primordial. Há uma relação direta e indissolúvel entre sociedade
e língua ou língua e sociedade, que não permite que se pense em indivíduos vivendo
conjuntamente sem o estabelecimento de comunicação entre si e, da mesma forma, não é
possível a comunicação sem que haja uma convenção social a respeito dessa comunicação,
o que chamamos de língua.
Língua nada mais é que um conjunto de convenções sociais historicamente
constituídas, que permite que os seres humanos se comuniquem entre si. Somente os seres
humanos têm essa capacidade, uma capacidade relacionada talvez com algum dispositivo
biológico, que permite que se formule e se entenda um conjunto de sons e a eles se associe
um sentido.
É possível que outros seres vivos se comuniquem como é o caso, por exemplo, das
abelhas, que, com um conjunto de movimentos (danças) são capazes de transmitir
informações a respeito da localização de alimento ou mesmo do risco iminente à colmeia,
porém não se pode confundir esse tipo de comunicação, de propósito restrito, com linguagem
ou mesmo língua.

Fonte: www.ericasitta.wordpress.com

Da mesma forma, observam-se alguns pássaros que são capazes de produzir um


conjunto de sons muito parecidos com os sons produzidos pelos seres humanos, o que não

1
Texto adaptado: www.pt.slideshare.net

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permite às aves, porém, dialogar com seres humanos ou entre si, estabelecendo um raciocínio
a respeito dos sons produzidos e produzindo, como os seres humanos, outros conjuntos de
sons, como resposta. Os macacos, animais que guardam grande semelhança com o homem,
também não possuem um mecanismo capaz de estabelecer comunicação por meio da língua,
ainda que seu raciocínio beire o raciocínio humano.
As baleias também têm sua ‘’linguagem’’, produzem, ao menos, dois tipos de sons: os
que intervêm e seu sistema de eco localização, funcionando como uma espécie de sonar
biológico, e as vocalizações, conhecidas canções das baleias, que parecem ser um meio de
comunicação entre os membros da mesma espécie. Inúmeros estudos com animais em
cativeiro e selvagens tem mostrado que esses mamíferos marinhos são capazes de
comunicação com qualquer ouro usando uma ‘’linguagem’’. Embora essa forma de linguagem
não possa ser comparada com a linguagem humana, e um sistema articulado de
comunicação, no qual cada som e modulado em tons e frequências que são repetidos
constantemente durante atos específicos e situações particulares.
Animais domésticos se comunicam com seus donos. Podemos dizer que os cachorros
emitem sons que nos permitem identificar sentimentos como medo, raiva e dor. Um cão abana
o rabo, demonstrando satisfação; rosna, expressando ameaça. Os animais em modos de se
expressar; entretanto, a natureza dessa comunicação não se compara à utilizada pelo
homem. A ‘’linguagem’’ animal possui características bem distintas da linguagem humana. Em
linhas gerais, trata-se de uma forma de adaptação à situação concreta, relacionada a uma
forma fixa de resposta e determinado estímulo.
A linguagem está no limiar do universo humano porque caracteriza o homem e o
distingue do animal. O homem tem a capacidade de ultrapassar os limites da vida animal ao
entrar no mundo do símbolo. A natureza da comunicação animal não se compara à revolução
que a linguagem humana provoca na relação do homem como o mundo.
A diferença entre a linguagem humana e a ‘’linguagem’’ do animal está no fato de que
este não conhece o símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado com a forma
fixa e a única com a coisa a que se refere. Por exemplo, as frases com que adestramos o
cachorro devem ser sempre as mesmas, pois são índices, isto é, indicam alguma coisa muito
específica.
A linguagem humana é uma manifestação cultural; relaciona-se com padrões de
comportamentos, crenças, conhecimentos, realizações, costumes que podem ser
transmitidos de gerações. O homem imprime sentido às linguagens que cria. Ele cria palavras,
gestos, símbolos, enfim, formas de expressar suas ideias.

A linguagem é atividade. É forma de ação, ação entre indivíduos, orientada


para uma finalidade, e lugar de interação que possibilita aos membros de uma
sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos
semelhantes reações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de
vínculos e compromissos anteriores inexistentes. (KOCK, 1997,p.9)

A linguagem humana envolve a representação simbólica de conceitos e diversos tipos


de relações entre eles. Ela está em toda parte; sem ela, as sociedades não seriam o que são.
Por meio da apresentação simbólica e abstrata, o homem dá sentido ao mundo, distancia-se
da experiência vivida é capaz de compreender o mundo e nele agir.

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Desde que nascemos, estamos mergulhados no mundo da linguagem. Crescemos


imersos em um universo de sons, de gestos e sinais, através dos quais passamos a interagir
com tudo o que nos cerca. Nosso pensamento, a forma de entendermos as coisas, começa
então a ter por primordiais as palavras, a linguagem, o nome das coisas existentes no mundo.

A linguagem impregna nossos pensamentos, é intermediária em nossas


relações com os outros, e se insinua até em nossos sonhos. O volume
esmagador de conhecimentos humano é guardado e transmitido pela
linguagem. A linguagem é, de tal modo, onipresente que a aceitamos e
sabemos que sem ela a sociedade, tal cm a conhecemos, seria impossível.
(LANGACKER,1972, p.11)

A linguagem e o pensamento se misturam à medida que a capacidade da


comunicação simbólica se desenvolve. Uma criança, com cerca de dois anos de idade,
começa a usar o idioma para se comunicar. Seu conhecimento sobre o mundo, antes baseado
em experiências sensoriais e motoras, torna-se lentamente mais e mais simbólico. A partir de
então, a criança não precisa mais aprender tudo através de suas próprias experiências – ela
pode aprender através da linguagem.
O mundo que resulta do pensar e o agir humanos não pode ser chamado de natural,
pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre pessoa e
animal não são apenas de grau, porque, enquanto o animal permanece mergulhado na
natureza, nós somos capazes de transforma-la, ornando possível a cultura.

Fonte: www.vitaclinica.com.br

A linguagem e a comunicação por meio de uma língua são, portanto, atividades


estritamente humanas. A facilidade com que uma criança adquire sua língua materna é algo
quase inexplicável, levando em consideração a complexidade de uma língua. Em
aproximadamente três anos, adquire-se um conjunto razoavelmente grande de palavras,
aliado às regras de uso da língua, as chamadas regras da gramática dos usuários de uma
língua, algo que permite que se estruturem frases coesas e coerentes, ou seja, que permite
que se diga “O bebê está com fome” em vez de “Fome bebê com está”, uma operação que

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parece simples, mas que possui uma grande complexidade, mesmo para adultos que tentam
adquirir uma segunda língua.
Além dessa facilidade na apreensão das estruturas e do léxico (palavras), somese a
isso a estruturação, por parte da criança, de frases nunca ouvidas, demonstrando sua
capacidade criativa e não somente reprodutiva, provando que o ser humano possui uma
estrutura em seu cérebro capaz de criar e modificar a língua.
É essa capacidade única que coloca o homem como espécie central do planeta terra,
essa capacidade de se organizar em sociedade e se comunicar que faz do ser humano um
animal capaz de exercer dominação sobre outras espécies e permite-lhe, dentre outras
coisas, o desenvolvimento e a manipulação de objetos, o que o torna tão diferente das demais
espécies. O que permite a esse ser alterar seu meio e traçar o seu destino, mas, por outro
lado, o que lhe permite galgar a própria destruição.2
A linguagem é um sistema organizado de símbolos a serviço das sociedades
humanas. Esse sistema é amplo, complexo, extenso e possui propriedades particulares que
possibilitam a codificação, a estruturação das informações sensoriais, a capitação a
transmissão de sentidos, que favorecem a interação entre os homens.

3 LINGUAGEM E SOCIEDADE

Os estudos sistemáticos que tratam da relação entre linguagem e sociedade começam


a se solidificar ao longo de 1960, quando a sociolinguística emerge como um campo de saber
interdisciplinar, com suas bases fortemente ancoradas na linguística, na antropologia e na
sociologia. Como se trata de uma relação, duas questões antagônicas naturalmente se põem:
a linguagem determina a realidade social?
A sociedade determina a linguagem? Dada a natureza da temática proposta neste
ensaio, abordo três diferentes perspectivas: de Sapir e Whorf, de Hymes e de Labov',
examinando a hipótese determinística no que concerne à maneira pela qual linguagem e
sociedade podem se implicar. Consideramos, então, uma terceira questão: em que medida é
possível falar em determinismo sob a ótica dos referidos autores?
Na discussão aqui proposta releva aos seguintes aspectos: a realidade social como
produto linguístico, segundo Sapir e Whorf o papel do contexto e da competência
comunicativa no que diz respeito à relação entre linguagem e mundo, na visão de Dell
Hymes; e a importância do conceito de comunidade de fala e da correlação entre fatos
linguísticos, estratificação social e estilo, para Labov. Concluo que as relações entre
linguagem e sociedade são permeadas por um certo determinismo (de diferentes tipos e em
diferentes graus) nas três perspectivas abordadas.
Inicialmente, chamamos atenção para o fato de que Sapir e Whorf tratam
explicitamente das relações linguagem/cultura e linguagem/ pensamento. Entretanto,
considerando-se que "cultura pode ser descrita como conhecimento adquirido socialmente,
isto é, como o conhecimento que uma pessoa tem em virtude de ser membro de determinada
sociedade' (Hudson 1980: 74 apudLyons 1987: 274 grifo meu), pode-se dizer que há uma
estreita ligação entre cultura e sociedade. Ademais, segundo Sapir, "não há duas línguas que
sejam bastante semelhantes para que se possa dizer que representam a mesma realidade
social' (1969:20 grifo meu). Assim, para efeito da discussão proposta nesta seção, tomo o
termo 'sociedade' como equivalente a 'realidade social' e, grosso modo, a 'cultura'.

2
Texto extraído: https://www.portaleducacao.com.br

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De acordo com Sapir, a realidade é produzida pela linguagem, o que significa dizer
que não há mundos iguais, visto que não há línguas iguais. Para o autor, a linguagem possui,
sobretudo, o papel de produzir e organizar o mundo mediante o processo de simbolização. O
caminho para compreensão do(s) mundo(s) se dá pela decifração dos símbolos, que referem
(produzem) a realidade e remetem a conceitos (pensamento). Por exemplo: entender um
poema exige a "compreensão plena de toda a vida da comunidade, tal como ela se espelha
nas palavras ou as palavras a sugerem em surdina" (op. cit).
O processo de simbolização da linguagem exige um sistema fonético que articule
imagens acústicas "gerando" o símbolo, o qual proporcionará condições para a produção de
conceitos/pensamentos. Sem os símbolos na matemática, por exemplo, um raciocínio
matemático não seria possível, o que vale dizer que a matemática não existiria e muito menos
se expandiria em níveis de complexidade. Os símbolos, por sua vez, geram um efeito sobre
a linguagem que é o de sua ampliação (abstração), mediante um processo de classificação,
categorização e seriação - característicos do pensamento. É dessa forma que o mundo ao
nosso redor é possível/ construído, segundo Sapir.
Uma ilustração clássica da construção da realidade a partir da linguagem é
apresentada por Whorf em relação à língua hopi, na qual não é possível pensar o tempo de
forma linear como em outras línguas, pois não há palavras, expressões ou formas gramaticais
que permitam isso. Ao invés das noções de tempo e espaço (passado, presente e futuro),
essa língua permite organizar o contraste entre partícula e onda 2, obrigando, "ao ser
obrigatório pela forma de seus verbos, o povo hopi a perceber e observar os fenômenos
vibratórios, animando-os além disso a encontrar nomes e a classificar esta classe de
fenômenos" (1971:72).

Fonte: www.atosociologico.blogspot.com
Para o autor, é possível descrever qualquer fenômeno observável no universo sem
levar em consideração os contrastes entre espaço e tempo, ou seja, sem considerar o espaço
como algo homogêneo e independente do tempo, mas sim levando em conta as inter-relações
existentes entre os fenômenos. Segundo Whorf, "o ponto de vista da relatividade, pertencente
à física moderna, é um desses pontos concebidos em termos matemáticos, e a concepção
universal do hopi é outra muito diferente e que não é matemática, mas sim linguística" (p. 74).
As ideias desses dois estudiosos costumam ser referidas como a "hipótese de Sapir-
Whorf", podendo ser assim sintetizadas: a linguagem determina a forma de ver o mundo, e
consequentemente, de se relacionar com esse mundo (hipótese do determinismo linguístico);
isso significa que para diferentes línguas há diferentes perspectivas e diferentes
comportamentos (hipótese do relativismo linguístico).
É interessante destacar que, para Sapir, tanto a língua como a cultura (realidade
social) é passível de modificações: é da natureza da linguagem a mudança, visto que "não há
nada perfeitamente estático" e a "deriva geral de uma língua tem fundo variável" (1969: 137).
Entretanto, existe um paradoxo: embora ambas estejam sujeitas a mudanças, essas se dão
em velocidades diferentes - a língua se modifica mais lentamente, pois "um sistema
gramatical, no que depende dele próprio, tende a persistir indefinidamente. Em outras

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palavras, a tendência conservadora se faz sentir muito mais profundamente nos lineamentos
essenciais da língua do que da cultura" (p. 61). As consequências disso são que as culturas
não poderão WORKING PAPERS EM LINGÜÍSTICA, UFSÇ N.8, 2004 130 - Cristine Gorski
Severo ser sempre simbolizadas pela linguagem, conforme a passagem do tempo; e que será
muito mais fácil simbolizar a cultura no passado do que no momento atual.
Posto isso, remeto-me às questões colocadas na introdução: para Sapir e Whorf, a
linguagem determina a realidade social. Todavia, a versão forte da hipótese do determinismo
linguístico parece se enfraquecer diante do descompasso verificado entre as mudanças na
língua e na cultura, conforme exposto no parágrafo acima.

3.1 Hymes

Fonte: www.ello.uos.de
Hymes pauta sua teoria no pressuposto da linguística constituída socialmente, o que
implica uma relação entre ideologia/cultura e linguagem no que diz respeito à utilização da
forma linguística motivada pelo uso social. Esse pressuposto estipula que usos linguísticos se
diferenciam mediante instituições, valores, crenças e diferenças individuais, no sentido de que
são as diferenças do mundo/ da realidade/ do contexto que causam diferenças linguísticas:
"valores culturais e crenças são em parte constitutivos da realidade linguística" (Hymes apud
Figueroa 1994:42).
O autor não está preocupado com o sistema gramatical formal, mas compreende a
linguagem dentro de uma perspectiva comunicativa'', o que invoca outras áreas para o seu
estudo, uma vez que a linguagem pode ser considerada como uma "parte integrada de uma
organização sociocultural geral do comportamento" (Figueroa 1994:33). Para ele, a definição
de língua é complexa e deve levar em conta diferentes aspectos, como o histórico, o social, o
cultural e as particularidades individuais. Com a inserção do contexto histórico e etnográfico
há a consequente supremacia do aspecto funcional em detrimento do formal. Segundo o
autor, "não é a forma linguística que cria o padrão social, mas o padrão social informa a forma
linguística. Nesse caso, a inferência é dos dados etnográficos para as funções da língua" (p.
42). Vemos assim que Hymes atribui ao contexto social uma propriedade causal - prioritária -
em relação ao uso linguístico. Mesmo a estrutura formal está subordinada ao contexto que,

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para ele, é sempre comunicativo.


Dessa forma, o autor subordina a competência gramatical à competência
comunicativa, que implica "a habilidade de escolher, dentre uma variedade de falas possíveis,
aquela que é mais apropriada para a situação (...) a competência consiste numa variedade
de habilidades, incluindo conhecimento gramatical, mas sem se reduzir a esse" (op. cit p.53).
Ainda na visão do linguista, diferentes línguas refletem diferentes mundos e isso implica um
certo relativismo linguístico, que, em seu grau máximo, nos remete à hipótese de Sapir-Whorf
(discutida na seção anterior). Como características desse relativismo, destacam-se: que ele
se baseia em um princípio de diversidade e heterogeneidade ao invés de homogeneidade ou
invariância; que os aspectos a priori e universais da língua não são suficientes e que não há
igualdade linguística entre os falantes (devido, por exemplo, à natureza política da interação)
(cf. Figueroa 1994: 42).
Novamente aqui percebemos em evidência o caráter heterogêneo da língua
permeando a relação linguagem e sociedade. Em síntese: ao atribuir relevância ao contexto
social/cultural como constitutivo da realidade linguística, Hymes não deixa de operar com um
certo determinismo. Só que, diferentemente de Sapir e Whorf o autor não prevê que a
linguagem cria o contexto, mas que diferentes contextos motivam diferentes linguagens. Seria
um tipo de determinismo sócia

3.2 Labov

Fonte: english.osu.edu
Em relação à teoria laboviana, dois aspectos principais merecerão nossa atenção:
o contexto social (sociedade) traduzido pela noção de comunidade de fala e (os
condicionamentos sociais e estilísticos.

3.3 A noção de comunidade de fala

Labov propõe "o estudo da estrutura e da evolução da língua dentro do contexto social
da comunidade de fala "(1972: 184 grifos meu). Interessa a ele, sobretudo, um certo tipo de
macro linguística, que "coloca os lócus da linguagem em algum tipo de ordem social (a
comunidade de fala) ao invés do indivíduo" (Figueroa 1994: 70).
A preocupação de Labov com a fala da comunidade fica patente em sua definição de
linguagem como "o instrumento de comunicação utilizado por uma comunidade de fala, um
sistema comumente aceito de associações entre formas arbitrárias e seus significados"
(Labov 1994: 09).

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Daí a questão: quais os limites que fazem com que um falante pertença a uma
determinada comunidade de fala e não a outra? Para o sócio linguista, os limites não estão
presentes no fato de um falante se considerar pertencente a uma dada comunidade, mas sim
nas características essenciais - as regras gramaticais - do sistema linguístico abstrato daquele
falante, em relação à comunidade a que pertence.
A aquisição desse sistema linguístico não se dá conscientemente, ou seja, não diz
respeito à vontade do falante de falar de determinada forma; a aquisição da gramática ocorre
de forma inconsciente, como também são também inconscientes, em grande parte, as
reações subjetivas s dos falantes em relação à língua.
Além disso, para o autor, a característica principal da comunidade de fala está no fato
de que seus integrantes devem compartilhar as mesmas atitudes e os mesmos valores em
relação à língua: "atitudes sócias em relação à língua são extremamente uniformes numa
comunidade de fala" (Labov 1972: 248). Guy (2001), com base em Labov, aponta três
características essenciais na definição de uma comunidade de fala 6: os falantes devem
compartilhar traços linguísticos que sejam diferentes de outros grupos; devem ter uma
frequência de comunicação alta entre si; e devem ter as mesmas normas e atitudes em
relação ao uso da linguagem.
Entretanto, a identificação de uma comunidade de fala, ou o estabelecimento de seus
limites, não é uma tarefa fácil, o que pode ser ilustrado pelo seguinte exemplo fornecido pelo
autor: há diferenças entre o falar dos nativos de Fortaleza e de Florianópolis em relação aos
três aspectos colocados acima, o que permite distinguir duas comunidades de fala; contudo,
ao se considerar Brasil e Portugal, provavelmente os nativos de Fortaleza e de Florianópolis
integrariam uma mesma comunidade de fala. Guy levanta então algumas questões: quais
seriam os limites internos de uma comunidade? Até que ponto uma comunidade de fala seria
caracterizada pelo uso linguístico?
Guy considera aspectos quantitativos e qualitativos para limitar uma comunidade de
fala. Quanto aos primeiros, tem-se como exemplo a frequência com que uma certa
comunidade apaga o -r final no português brasileiro. Isso teria uma implicação (e motivação)
social e dialetal, mas, também, poderia ser motivado pelo efeito de contexto', havendo uma
grande frequência de apagamento do -r final em verbos no infinitivo para quase todos os
brasileiros, diferentemente do apagamento do -r final em outras palavras.
Avançando em suas reflexões, o linguista aponta duas possibilidades: pode haver
diferenças de frequência em diferentes comunidades de fala, sendo que o efeito de contexto
permanece semelhante; ou pode haver diferenças em termos do efeito de contexto (peso
relativo) entre as comunidades, o que determinaria diferenças estruturais ao invés de
diferenças simplesmente quantitativas. Assim, a sua hipótese é: falantes que variam apenas
na frequência possuem a mesma gramática e falantes que variam em termos de efeito de
contexto possuem gramáticas diferentes.
Daí os limites postos por Guy: as diferenças em uma mesma comunidade de fala
implicam diferenças em uma mesma gramática (não-gramaticais) enquanto que diferentes
comunidades de fala fazem uso de diferentes gramáticas. Essa hipótese lançada por Guy não
só encontra respaldo nos pressupostos labovianos - pois, conforme visto acima, Labov
considera que os limites de uma comunidade de fala devem ser buscados no sistema
linguístico abstrato dos falantes, além do compartilhamento de atitudes sociais -, como
também operacionaliza uma forma de medir o partilhamento de traços linguísticos pelos
falantes. Diante do exposto parece possível falar em um certo determinismo linguístico, uma
vez que usos linguísticos de uma mesma gramática funcionariam como identificadores de
uma mesma comunidade de fala, ao passo que usos de gramáticas diferentes apontariam

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para diferentes comunidades de fala. Em outras palavras, a estrutura gramatical estaria


delineando a comunidade de fala. As bases para a identificação de uma comunidade de fala
seriam, nesse sentido, de natureza linguística'.

4 ORALIDADE E ESCRITA

A relação entre a oralidade e a escrita é tema de estudo de várias áreas de


conhecimento e, dependendo da abordagem escolhida, esses termos podem aparecer em
uma relação de oposição ou de integração. A oposição entre escrita e oralidade foi utilizada
como a grande divisão que separa as sociedades históricas e pré-históricas, civilizadas e
selvagens. Os etnólogos que estudaram os costumes ameríndios, africanos e dos habitantes
da Oceania mostraram que a narrativa mítica sempre prevaleceu sobre a análise lógica, os
rituais de iniciação sobre as transmissões formais, o ver fazer e o ouvir dizer sobre o
procedimento científico. Contudo, a crença de que a oralidade induziria a um pensamento pré-
lógico deixou de ser dominante após o fim do colonialismo.
A Psicologia, por sua vez, descreveu a gênese das funções psicológicas e simbólicas,
analisando como o discurso oral de uma criança se transforma em discurso interior, isto é, em
pensamento. Esse processo acontece tanto com crianças que vivem em sociedades ágrafas
(sem escrita) quanto com crianças que convivem cotidianamente com a escrita. Já a
Sociologia analisou a face oculta da cultura escolarizada, os saberes inscritos em redes de
poder, a violência simbólica das classificações eruditas vinculadas exclusivamente ao domínio
da escrita.
A existência da escrita acarreta várias consequências na construção de registros, na
mudança de lugares de poder e nos sistemas de funcionamento da sociedade. A escrita
modifica o sistema jurídico (contrato escrito versus palavra dada), confere à pessoa instruída
autoridade sobre o iletrado –, mas não anula as culturas populares em que persistem
tradições orais e transmissões práticas. A oposição popular/erudito, que reduz a cultura
escrita aos discursos teóricos mais formais, esquece que os letrados também falam e que,
simultaneamente ao uso da escrita, a oralidade é uma modalidade fortemente presente nas
interações sociais.
A oposição oralidade/escrita aponta não só as distâncias e transferências entre a voz
e a letra, mas também sua coexistência instável nas diversas interações sociais que
praticamos. As novas mídias que circulam na sociedade e na escola mesclam recursos orais,
verbais e visuais, colocando em questão as grandes divisões entre o que constitui as
especificidades da escrita e as da oralidade. As mídias audiovisuais nos habituam a
considerar como oral o que é uma escrita falada: apresentadores de rádio e televisão leem
textos previamente elaborados; palestrantes e conferencistas também preparam suas falas
por escrito, mas é preciso dar a esses usos da palavra a aparência de uma expressão oral
espontânea.
A escola trabalha com uma cultura escrita, com dispositivos que são organizados pela
escrita, como livros, cadernos, fichários, quadros e tabelas. Os escritos que circulam nesses
materiais acabam conduzindo a um modo de se expressar e pensar que é nutrido pelo modelo
escrito e pelos poderes da escrita. No entanto, a escola é, além disso, espaço de encontro de
culturas da oralidade, quando os alunos produzem textos orais de sua tradição familiar e de
seus grupos de convivência, quando diferentes falares convivem no espaço escolar, quando
muitos conhecimentos são transmitidos pela via da oralidade. A presença de escritos na vida
social ou escolar e as tecnologias têm modificado as fronteiras entre a escrita e a oralidade:
fala-se a distância (por telefone), a pessoas ausentes (recados na secretária eletrônica);

13
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

dialoga-se por escrito (através de emails, chats, tweets). O oral passa a deixar seus traços
em registros escritos e os numerosos escritos podem ser efêmeros como a fala. A grande
diferença entre os modos de funcionamento oral e escrito deve ser relativizada quando as
sociedades se tornam letradas. Além disso, a existência da escrita não é marco para
estabelecer o fim de algumas práticas sociais que ocorrem numa cultura típica da oralidade.

5 AS LÍNGUAS DO BRASIL

No Brasil se fala português, certo? Sim, esse é o idioma falado pela maioria das
pessoas que aqui vivem. No entanto, em nosso território convivem falantes de línguas
indígenas, de imigração, de fronteira e de sinais. Em razão das relações entre seus falantes,
essas línguas influenciam-se e modificam-se. Nós figuramos entre os países de maior
diversidade linguística do mundo. Estima-se que cerca de 250 línguas são faladas no país,
entre línguas indígenas, de imigração, de sinais e de comunidades afro-brasileiras.
De acordo com o levantamento do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), 274 línguas são faladas por indígenas de 305 etnias
diferentes. No entanto, esse resultado foi considerado inflacionado por incluir nomes de etnias
ou mesmo línguas que já não são mais faladas. “Temos apenas uma estimativa do número
de línguas faladas no Brasil. Em relação às línguas indígenas, os dados do Censo são
maiores daqueles que os pesquisadores costumam reproduzir, que é em torno de 180 línguas
indígenas. Além dessas pesquisas mostram que há 56 línguas faladas por descendentes de
imigrantes que vivem no Brasil há pelo menos três gerações”, diz Rosângela Morello,
coordenadora-geral do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística
(Ipol).

Com tanta diversidade, o Brasil tem suas particularidades linguísticas, já que as


línguas são objetos históricos e estão sempre relacionadas aos seus falantes. A maioria da
população brasileira é monolíngue, isto é, fala apenas o português, que é a sua língua
materna e também a língua franca, oficial e nacional do país.
Contudo, não é possível dizer que somos um país monolíngue, já que temos cenários
multilíngues, ou seja, grupos populacionais que falam línguas maternas diferentes, mas são
capazes de se comunicar em outra língua. Há também grupos que além de suas línguas

14
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

maternas utilizam outras línguas para a comunicação, como ocorre em São Gabriel da
Cachoeira (AM), onde convivem falantes de quatro línguas oficiais: português, nheengatu,
tucano e baníua.

Fonte: www.plataformadoletramento.org.br
“As três possibilidades – monolinguismo, multilinguismo e plurilinguismo – se
entrelaçam no Brasil, mas podemos afirmar que o Brasil é um país multilíngue que inclui
espaços onde há plurilinguismo. Por sua vez, o país tem uma única língua oficial e nacional,
que é a língua portuguesa", analisa Eduardo Guimarães, professor de Semântica do
Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade de
Campinas. “Há cidades em que se fala outra língua, mas normalmente é o português que
sempre predomina no espaço de línguas das cidades. Os mecanismos de ensino de línguas
são elementos decisivos no modo de distribuição e funcionamento das línguas. ”

Fonte: www.plataformadoletramento.org.br
Apesar da enorme diversidade linguística no Brasil, a relação dos falantes e de suas
línguas é desigual em comparação à língua portuguesa. A percepção dominante, inclusive, é
de que aqui se fala apenas uma língua. Considerando a importância de conhecer essa
diversidade e de preservar tantas línguas com alto risco de desaparecimento, foi criado, por
meio do Decreto Federal 7.387/2010, que institui o Inventário Nacional da Diversidade
Linguística (INDL), um instrumento para inserir as línguas como referência cultural brasileira,
administrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

15
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Fonte: www.plataformadoletramento.org.br
“O contingente populacional que fala outras línguas é numericamente pouco
expressivo em relação ao quantitativo de falantes de português. Esse
desequilíbrio, sobretudo das línguas indígenas e das línguas de imigração,
torna o português uma espécie de ameaça à preservação dessas outras
línguas, pois o português é o veículo por excelência de comunicação em
todos os campos da nossa sociedade. Isso leva ao desestímulo e ao paulatino
abandono da utilização das línguas maternas”.

Fonte: www.plataformadoletramento.org.br

6 OS CONDICIONAMENTOS SOCIAIS E ESTILÍSTICOS'

Weinreich, Labov e Herzog (1968), ao postularem a noção de comunidade de fala, a

16
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

justificam em termos de que "as estruturas variáveis contidas na língua são determinadas por
funções sociais" (p.188 grifo meu), destacando que "fatores linguísticos e sociais estão
fortemente inter-relacionados no desenvolvimento de uma mudança linguística"(op. dt).
Nessa mesma direção, Labov (1972) aponta como uma das propriedades de uma variável
sociolinguística que a "distribuição do traço deve ser altamente estratificado"(p. 08). Observa-
se, assim, uma correlação sistemática entre a estratificação social e o uso variável da língua.
Segundo Figueroa, Labov "mantém a posição realista de que o contexto social é
formado por fatos sociais que atuam sobre o indivíduo, mas que não são criados pelo
indivíduo", entendendo como fato social "uma forma de comportamento, que é geral na
sociedade e exerce condicionamento sobre os indivíduos; mas esse condicionamento é
peculiar em termos de geralmente ser inconsciente e, portanto, não poder agir diretamente"
(p. 72).
Nos moldes labovianos, através da linguagem é possível tirar "um retrato" da realidade
social. Em outras palavras, o indivíduo se identifica ao falar ("função de identificação", cf.
Labov 1978). Desse modo, o determinismo soda/preconizado por Weinreich, Labov e Herzog
(1968) estaria mantido. Mas isso deve ser visto com reservas diante de indagações como: até
que ponto se pode dizer que o uso de certa estrutura linguística define o grupo ao qual a
pessoa "genuinamente" pertenceria? O uso "consciente" do [r] em posição pós-vocálica pelos
empregados da loja de padrão alto, por exemplo, não identifica necessariamente as
características sociais "naturais" do falante, podendo esse ser "enquadrado" em um grupo
social diferente daquele ao qual realmente pertence.
Assim, através do uso "consciente" de certas formas, o falante" pode mostrar
características sociais tais que lhe permitam ser "identificado" como pertencendo a um grupo
X (embora de fato pertença ao grupo Y), e isso romperia com a perspectiva determinística de
que o contexto social determina a linguagem. Essa questão, entretanto, deve ser examinada
sob a ótica da variação estilística, o que será discutido adiante.
Por outro lado, Weiner & Labov (1983) mostram, em seu estudo da passiva sem
agente, que a variação entre o uso da construção passiva e da ativa em inglês não é sensível
a fatores sociais, sendo condicionado apenas por fatores de natureza linguística. Nesse caso,
uma das exigências originariamente formuladas para se caracterizar uma variável linguística
- a de que a mesma fosse estratificada -, deixou de ser atendida. Como fica, então, a questão
do condicionamento social, nesse caso? Para Labov (1972), os indivíduos variam seu modo
de falar conforme a situação em que se encontram", considerando a relação entre diferentes
estilos (informal, cuidado, de leitura, etc.) e diferentes usos linguísticos, no que diz respeito
especialmente à atenção e ao monitoramento
Retomando o exemplo anterior, o uso do [r] pelos Working Papear em linguística,
UFSÇ N.8,2004 136 - Cristine Gorski Severo diferentes grupos sociais mostram também a
relação entre fatores estilísticos (fala cuidada ou não) e a pronúncia ou não da vibrante. Nesse
caso, teríamos o que Labov (1978) chama de "função de acomodação"" da linguagem, em
que o falante se adequa à situação comunicativa. Posteriormente, Labov (2003) amplia sua
noção de variação estilística, postulando que as variações linguísticas no indivíduo de acordo
com o contexto, são determinadas por três aspectos: as relações entre os interlocutores,
particularmente as relações de poder e solidariedade entre eles; o contexto social mais amplo
- escola, trabalho, vizinhança; e o tópico" (p234). Desse modo, a par de condicionamentos
sociais (normalmente inconscientes), que podem ser observados na comunidade de fala,
existem também condicionamentos estilísticos, que operam no plano individual, no âmbito das
escolhas linguísticas conscientes.
Apesar de a noção de sociedade e suas implicações ser explorada de forma

17
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

diferenciada pelos autores aqui discutidos, com enfoque ora em aspectos concernentes à
realidade social; ora no contexto histórico social e no conceito de competência comunicativa;
ora na noção de comunidade de fala, estratificação social e estilo, parece possível abstrair as
especificidades de enfoque e tecer considerações de caráter comparativo mais geral entre os
autores e suas respectivas visões de linguagem e sociedade, na tentativa de evidenciar qual
o tipo de relação que permeia o binômio em questão, a partir de uma hipótese determinística.
Na formulação de Sapir-Whorf, a maneira pela qual a linguagem determina formas de
percepção do mundo e o próprio mundo é identificada na literatura como determinismo
linguístico. Todavia, o desencontro entre linguagem e cultura em termos de evolução
(mudança), conforme apontado por Sapir, é um indício de que tal determinismo deve ser
amenizado.
Na proposta de Hymes, o papel atribuído à influência do contexto social/cultural sobre
os usos linguísticos parece apontar para a direção do que se poderia chamar de um certo
determinismo social- originado pelo contexto. O falante seria dotado de competência
comunicativa para se adequar linguisticamente a diferentes situações comunicativas. Pode-
se dizer que esse mesmo tipo de relação entre contexto e linguagem sustenta o que Labov
chama de condicionamento estilístico. Contudo, diferentemente de Hymes, que prioriza o
contexto, Labov considera a função de "acomodação" como secundária, o que parece colocar
em segundo plano a importância das interações sociais no uso linguístico.
Esse aparente paradoxo deve-se ao fato de que o papel de adequação ao contexto
cabe ao indivíduo. Na teoria sociolinguística de Labov, percebem-se implicações
determinísticas de diferentes tipos e em diferentes graus. Ao caracterizar a comunidade de
fila-os lócus do objeto de estudo variacionista -, o autor atribui um importante papel à língua
(uma mesma gramática recobrindo usos variáveis implica uma mesma comunidade de fala,
segundo Guy), de tal modo que uma comunidade de fala poderia ser delimitada por certos
usos linguísticos, entre outras propriedades (um certo determinismo linguístico).

Fonte: www.opera10.com.br
Por sua vez, os falantes de uma comunidade operam com regras linguísticas variáveis,
e a seleção das variantes pode ser socialmente condicionada por fatores que dizem respeito
à estratificação social (um certo determinismo social). A escolha das variantes pode ser
também estilisticamente condicionada por fatores de natureza contextuai (um certo
determinismo linguístico). Concluindo, tento responder, em termos amplos, as questões
colocadas na introdução do trabalho: a sociedade determina a linguagem" - do ponto de vista
do contexto e da estratificação social e estilo, segundo Hymes e Labov, respectivamente; a
linguagem determina a sociedade - na produção e representação da realidade social e na
delimitação de uma comunidade de fala, de acordo com Sapir-Whorf e Labov (Guy),

18
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

respectivamente; as relações entre linguagem e sociedade são permeadas por um certo


determinismo nas três perspectivas WORICING PAPERs EM LINGÜÍSTICA, UFSÇ N.8, 2004
138 - Cristine Gorski Severo aqui analisadas, sendo que há uma aproximação maior entre as
postulações de Hymes e Labov. Esse determinismo parece atuar unilateralmente em Sapir e
Whorf (linguagem à realidade social) e em Hymes (contexto social à linguagem), mas parece
ser bilateral em Labov (fatores sociais e estilísticos à linguagem; e linguagem à comunidade
de fala). Daí a indagação que fica em suspenso:
não haveria em Labov uma certa dialética?

7 PLURALIDADE LINGUÍSTICA

A língua não é, como muitos acreditam, uma entidade imutável, homogênea, que paira
por sobre os falantes. Pelo contrário, todas as línguas vivas mudam no decorrer do tempo e
o processo em si nunca para. Ou seja, a mudança linguística é universal, contínua, gradual e
dinâmica, embora apresente considerável regularidade.
A crença em uma língua estática e imutável está ligada principalmente à normatividade
da gramática tradicional, que remota à Grécia Antiga, numa época em que os estudiosos
estavam interessados principalmente em explicar a linguagem usada nos textos dos autores
clássicos e em preservar a língua grega da "corrupção" e do "mau uso". A língua escrita -
especialmente a dos clássicos - era tão valorizada que era considerada mais pura, mais bonita
e mais correta do que qualquer outro tipo de linguagem.
A linguística moderna, no entanto, prioriza a língua falada em relação à língua escrita
por vários motivos, dentre eles pelo fato de que todas as sociedades humanas conhecidas
possuem a capacidade da fala, mas nem todas possuem a escrita. Analisando a nossa própria
sociedade, podemos concluir que a escrita pertence a poucos, uma vez que grande parte da
população brasileira é constituída por analfabetos ou semianalfabetos e que mesmo os que
tiveram acesso à escola não a usam muito.
Além da língua falada ser mais utilizada do que a escrita e atingir muito mais situações,
o ser humano a adquire naturalmente, sem precisar de treinamento especial. Apenas em
contato com o modelo, ou seja, apenas exposta a uma determinada língua, qualquer criança
normal é capaz de falar essa língua e compreendê-la perfeitamente nas mais variadas
situações e em um período de tempo muito curto. Aos três anos, mais ou menos, uma criança
já adquiriu quase todas as regras de sua língua, podendo ser considerada um falante
competente da comunidade linguística da qual faz parte. Mesmo quando parece que ela não
conhece a sua língua nativa, o dizer, por exemplo, "eu di" ou "eu fazi" no lugar de "eu dei" e
"eu fiz", a criança está mostrando que sabe muito sobre ela, pois já compreendeu que o
passado, no português, termina regularmente com "i" e está aplicando uma regra geral da
língua em vez de aplicar uma particular.
O processo de aquisição da escrita difere do da fala no sentido de não ser natural.
Crianças que têm mais contato com a escrita sem dúvida a aprendem mais fácil e
rapidamente, mas ainda assim necessitam de algum tipo de instrução. Quanto à
homogeneidade, as pessoas de uma mesma comunidade linguística podem até pensar que
falam exatamente a mesma língua, mas isso não é verdade. As diferenças linguísticas podem
ser percebidas em todas as línguas do mundo, mesmo em pequenas comunidades de fala,
nos níveis fonéticos, fonológico, morfológico, sintático ou semântico. Por exemplo, a palavra
"porta" pode ser pronunciada de várias maneiras, tais como poxta, pota ou pôrta; a palavra
"mulher" pode ser pronunciada "muié"; as frases "Maria assistiu ao filme" e "faz dois anos que
parei de fumar" também podem ser ditas "Maria assistiu o filme" e "fazem dois anos que parei

19
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

de fumar", respectivamente.
Na verdade, toda língua é um conjunto heterogêneo e diversificado porque as
sociedades humanas têm experiências históricas, sociais, culturais e políticas diferentes e
essas experiências se refletirão no comportamento linguístico de seus membros. A variação
linguística, portanto, é inerente a toda e qualquer língua viva do mundo. Isso significa que as
línguas variam no tempo, nos espaços geográfico e social e também de acordo com a situação
em que o falante se encontra.
Podemos exemplificar a variação temporal com a forma "você", que passou por uma
grande transformação ao longo do tempo. No século XII, as pessoas diziam "vossa mercê" e
hoje, na linguagem falada, e mesmo na escrita informal, encontramos "cê", que não é a melhor
nem a pior que "você" ou "vossa mercê", embora entre os não-linguistas a tendência seja a
de considerá-la ruim, feira ou deteriorada. Isso acontece porque a sociedade normalmente é
conservadora e demora para aceitar as mudanças, inclusive as linguísticas.
O espaço linguístico também produz variação em um momento sincrônico de uma
língua, o que pode ser explicado tanto pela existência de limites físicos como montanhas,
mares ou rios que separam uma comunidade linguística de outra, como pela ideia de "rede
de comunicação". Considerando-se uma população espalhada em um determinado espaço
geográfico, uma pessoa se comunicará mais com aqueles que estão mais próximos a ela do
que com as que se encontram mais distantes. Haverá, assim, um padrão de maior densidade
de comunicação entre os indivíduos que estão mais próximos e de menor densidade de
comunicação entre os que se encontram mais distantes. A maior densidade provocará maior
interação entre as pessoas e, consequentemente, as formas linguísticas de uns se estenderão
aos membros do grupo mais denso (que estão mais próximos) do que aos membros dos
agrupamentos mais distantes. Aparecerão, dessa maneira, em cada região, diferentes
variedades. No Brasil, por exemplo, a fala da região nordestina se caracteriza pela abertura
das vogais pretônicas "e" e "o", como em "mérgulho" e "cólete", normalmente fechadas em
outras regiões. Há lugares onde se diz ‘’tomati’’, pimênta e kaska.
As variações também podem ser notadas nas estruturas sintáticas ou no nível lexical.
Assim, conforme a região, encontramos "nós fomos ir embora" em vez de "nós fomos embora"
e a banana pode ser "anã", "nanica" ou "d'água".

Fonte: www.descomplica.com.br

20
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

A densidade de comunicação também pode explicar as variedades linguísticas que


existem entre os diferentes grupos sociais, uma vez que cada um formará a sua própria rede
de comunicação. Assim, sociedades rurais e urbanas são importantes fatores sociais, bem
como sexo, idade, escolaridade, classe socioeconômica, dentre outros. Sabemos, por
exemplo, que pessoas que vivem nas áreas urbanas falam variedades diferentes dos falantes
do meio rural, onde são comuns formas como "nóis vai" ou "eles prantô" em oposição às
formas padrão "nós vamos" e "eles plantaram", mais características das regiões urbanas.
As mulheres, por outro lado, são linguisticamente mais conservadoras e geralmente
mais sensíveis à norma culta do que os homens, além de usarem expressões e até
entonações mais associadas à feminilidade, enquanto os homens, de modo geral, distanciam-
se da norma padrão e usam formas que acentuam sua masculinidade. Segundo Possenti,
"muitos meninos não podem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem
marcados pelos colegas, porque em nossa sociedade a correção é considerada uma marca
feminina". Os grupos etários também diferem linguisticamente: os mais jovens, por exemplo,
tendem a ser menos conservadores que os mais velhos e isso se refletirá na sua maneira de
falar.
A escolaridade também é um fator muito relevante na questão da variação linguísticas
e, em nosso país, está diretamente relacionada à classe socioeconômica, porque os que têm
acesso à escola pertencem, de modo geral, ao grupo socioeconômico mais privilegiado.
Dessa maneira, as pessoas pertencentes aos estratos sociais mais altos tendem a usar mais
as formas padrão do português do que aquelas dos grupos menos privilegiados e menos
escolarizados.
A língua varia, ainda, de acordo com a situação em que o falante se encontra.
Situações formais exigem uma variedade de língua mais cuidada, uma vez que a sociedade
impõe certas regras sociais - e, consequentemente, linguísticas - que espera ver cumpridas,
e que qualquer desrespeito a essas regras pode provocar não só o constrangimento ao falante
como também a sua não-aceitação pelo grupo. Linguisticamente, porém, todas as formas
associadas a grupos sociais e a diferentes situações são igualmente perfeitas. Nenhuma é
melhor, ou mais correta ou mais bonita que outra, embora umas tenham prestígio social e
outras não tenham, e embora algumas possam ser mais adequadas a certas situações sociais
que outras.
A aceitação ou não de certas formas linguísticas por parte da comunidade falante está
relacionada com o significado social que lhe é imposto pelo grupo que as usam, ou seja, estão
relacionadas com o conjunto de valores que simbolizam e que se uso comunica. Algumas
variedades são estigmatizadas ou ridicularizadas não porque são feias, incorretas ou ruins
em si, mas porque a sociedade, preconceituosamente, associa seu uso a situações e/ou
grupos sociais com valores negativos. Cientificamente, porém, todas as variedades de uma
língua qualquer são igualmente consideradas, porque possuem uma gramática, ou seja, todas
possuem regras, todas têm organização e todas são funcionais.
A escola, de modo geral e tradicionalmente, tem desconsiderado a questão da
variação linguística e dos usos das variedades pela comunidade falante, o que é bastante
grave, já que muito do que é classificado como problema de fala e escrita, principalmente na
alfabetização, está diretamente relacionado ao fenômeno. O professor alfabetizador,
geralmente imbuído dos conceitos da gramática tradicional, atribui valores de certo e errado
aos textos de seus alunos, desconsiderando que as crianças, nesta fase, além de não possuir
o domínio do sistema gráfico e das complexidades que lhe são características, tende a
escrever conforme o seu dialeto regional e/ou social.
Mattoso Câmara Jr., em um artigo denominado "Erros de escolares como sintomas de

21
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

tendências linguísticas no português do Rio de Janeiro", apresenta resultados parciais de


análises de textos em que mostra que a oralidade e a percepção fonética estão presentes na
produção escrita dos alunos.
Luiz Carlos Cagliari, em Alfabetização e linguística, afirma que as crianças relacionam
a fala e a escrita ortográfica a todo momento e que seus erros não são frutos de distração,
irreflexão ou descuido. Para ele, os alunos aprendem a escrever produzindo textos
espontâneos, aplicam nessa tarefa um trabalho de reflexão muito grande e se apegam a
regras que revelam usos possíveis do sistema de escrita do português. Essas regras são
tiradas dos usos ortográficos que o próprio sistema de escrita tem ou de realidades fonéticas,
num esforço da criança para aplicar uma relação entre letra e som que nem sempre é
previsível, mas que também não é aleatória.3

8 TIPOS DE VARIEDADES LINGUÍSTICAS

Variedades geográficas

Varia conforme o lugar, a região ou pais em que é desenvolvida. As mudanças de tipo


geográfico se chamam dialetos. Diz-se que uma língua é um conjunto de dialetos cujos
falantes podem se entender.
Exemplos: “menino” é dito no Sudeste.” Guri” para os gaúchos e “piá” para os
paranaenses.

Variedades históricas

Ela varia com o tempo, com o desenvolvimento da história. Como por exemplo, a
palavra “Você”, que antes era “vosmecê” e que agora, diante da linguagem reduzida no meio
eletrônico, é apenas “VC”.

Variedades sociais

Os fatores podem variar dependendo da classe social, educação (alfabetizado e


analfabeto), profissão (médico e economista), idade (criança e idoso), procedência étnica, etc.
É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas.
Gírias usadas por grupos como jogadores de “games”, surfistas etc. Temos a
linguagem coloquial, usada no dia a dia das pessoas; Jargões usados por profissionais como
médicos, técnicos de informática, advogados e a linguagem formal, usada pelas pessoas que
tem uma maior classe social.

Variedades situacionais

Incluem as modificações na linguagem decorrentes do grau de formalidade da situação


ou das circunstâncias em que se encontra o falante. Ocorre de acordo com o contexto o qual

3
Texto adaptado: www.scielo.br

22
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

está inserido, por exemplo, as situações formais e informais.


Exemplo: Conversa em uma rede social será informal. Em uma entrevista de emprego
será formal
E você, qual o concurso você vai fazer? Deixe um comentário para mim, pois posso
fazer postagens direcionadas para ele e te ajudar mais. Aproveita também para inscrever seu
e-mail para receber conteúdos todos os dias.4

Fonte: www.mscamp.wordpress.com

9 PRECONCEITO LNGUÍSTICO E PRÁTICAS DISCURSIVAS ESCOLARES

O termo preconceito designa uma atitude prévia que assumimos diante de uma pessoa
(ou de um grupo social), antes de interagirmos com ela ou de conhecê-la, uma atitude que,
embora individual, reflete as ideias que circulam na sociedade e na cultura em que vivemos.
Assim como uma pessoa pode sofrer preconceito por ser mulher, pobre, negra, indígena,
homossexual, nordestina, deficiente física, estrangeira etc., também pode receber avaliações
negativas por causa da língua que fala ou do modo como fala sua língua.
O preconceito linguístico resulta da comparação indevida entre o modelo idealizado
de língua que se apresenta nas gramáticas normativas e nos dicionários e os modos de falar
reais das pessoas que vivem na sociedade, modos de falar que são muitos e bem diferentes
entre si. Essa língua idealizada se inspira na literatura consagrada, nas opções subjetivas dos
próprios gramáticos e dicionaristas, nas regras da gramática latina (que serviu durante séculos
como modelo para a produção das gramáticas das línguas modernas) etc. No caso brasileiro,
essa língua idealizada tem um componente a mais: o português europeu do século XIX. Tudo
isso torna simplesmente impossível que alguém escreva e, principalmente, fale segundo
essas regras normativas, porque elas descrevem e, sobretudo, prescrevem uma língua
artificial, ultrapassada, que não reflete os usos reais de nenhuma comunidade atual falante
de português, nem no Brasil, nem em Portugal, nem em qualquer outro lugar do mundo onde
a língua é falada.
Mas a principal fonte de preconceito linguístico, no Brasil, está na comparação que as
pessoas da classe média urbana das regiões mais desenvolvidas fazem entre seu modo de

4
Texto extraído: www.centraldefavoritos.com.br

23
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

falar e o modo de falar dos indivíduos de outras classes sociais e das outras regiões. Esse
preconceito se vale de dois rótulos: o “errado” e o “feio” que, mesmo sem nenhum fundamento
real, já se solidificaram como estereótipos. Quando analisado de perto, o preconceito
linguístico deixa claro que o que está em jogo não é a língua, pois o modo de falar é apenas
um pretexto para discriminar um indivíduo ou um grupo social por suas características
socioculturais e socioeconômicas: gênero, raça, classe social, grau de instrução, nível de
renda etc.
A instituição escolar tem sido há séculos a principal agência de manutenção e difusão
do preconceito linguístico e de outras formas de discriminação. Uma formação docente
adequada, com base nos avanços das ciências da linguagem e com vistas à criação de uma
sociedade democrática e igualitária, é um passo importante na crítica e na desconstrução
desse círculo vicioso.

10 O ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E MULTICULTURAIS NOS ANOS


INICIAIS

As aulas de Língua Portuguesa costumam centrar-se no ensino da gramática,


ensinando centenas de regras, que muitas vezes se distanciam da realidade dos falantes
brasileiros. Com isso, causam certa antipatia por parte dos estudantes, pois eles se sentem
como aprendizes de um idioma estrangeiro que, por mais que se esforcem, dificilmente
chegarão à fluência. Para Antunes (2003, p. 40):

O conhecimento teórico disponível a muitos professores, em geral, se limita


a noções e regras gramaticais apenas, como se tudo o que é uma língua em
funcionamento coubesse dentro do que é uma gramática. Teorias linguísticas
do uso da prosódia, de morfossintaxe, da semântica, da pragmática, teorias
do texto, concepções de leitura, de escrita, concepções, enfim, acerca do uso
interativo e funcional das línguas, é o que pode embasar um trabalho
verdadeiramente eficaz do professor de português.

Para Terra (2008), “a gramática normativa apresenta características semelhantes aos


códigos de natureza ética ou moral, que nos impõem o que devemos ou não fazer, o que é
permitido e o que é proibido” (Terra, 2008, p 53). Sendo assim, parece tornar o ensino
autoritário e descontextualizado com a prática linguística de muitos estudantes, que têm que
decorar as regras para realização de uma prova, mas que, na sua vida, muitas delas não
serão utilizadas. De que adianta ter centenas de regras gramaticais, as quais não representam
o modo como a grande massa dos falantes brasileiros usa a língua? Muitas dessas regras,
no entanto, para os dias atuais, são obsoletas. É o que pensa Terra (2008, p. 59) quando nos
diz que:
Dado o caráter estático da norma e o caráter dinâmico da fala, a distância
entre ambas é, em cada momento maior. A fala, por ser a realização concreta
da língua, representando sua diversidade, evolui a cada instante,
acompanhando as transformações da sociedade.

Ensina-se a língua portuguesa como se fosse só gramática, tudo que uma língua tem
de riqueza e dinamismo é posto em segundo plano. Alguns professores questionam: por que
os estudantes não gostam da Língua Portuguesa? “O que a escola ensina não é a língua,
mas a nomenclatura. As aulas de Língua Portuguesa costumam se caracterizar por ensinar o

24
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

nome das coisas” (Terra, 2008, p 79). Pressupõe-se que o mais importante da língua não é
ensinado. O seu uso social e a funcionalidade entre os homens que a utilizam parecem não
ser lembrados durante as aulas.
Estas mesmas aulas de português, quando dispõem de tempo para o ensino das
variações linguísticas, o fazem de maneira intolerante, como aponta Bagno (2008, p. 16):

É preciso evitar a prática distorcida de apresentar a variação como se ela


existisse apenas nos meios rurais ou menos escolarizados, como se também
não houvesse variação (e mudança) linguística entre os falantes urbanos,
socialmente prestigiados e altamente escolarizados, inclusive nos gêneros
escritos mais monitorados.
Considerando as variações como algo que compromete a existência da Língua
Portuguesa, os próprios livros didáticos contribuem para agravar esta situação, favorecendo
umas variações e criticando outras. Bagno (2008, p. 16) defende que:
Todos os aprendizes devem ter acesso às variedades linguísticas urbanas de
prestígio, não porque sejam as únicas formas “certas” de falar e de escrever,
mas porque constituem, junto com outros bens sociais, um direito do cidadão,
de modo que ele possa se inserir plenamente na vida urbana contemporânea,
ter acesso aos bens culturais mais valorizados e dispor dos mesmos recursos
de expressão verbal (oral e escrita) dos membros das elites socioculturais e
socioeconômicas.
O ensino da Língua Portuguesa necessita com urgência de uma reorganização, não
só no ensino das variações linguísticas, como em todas as áreas, como defendem os
Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa (PCNs):
Essas evidências de fracasso escolar apontam à necessidade de
reestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar
formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita (Secretaria
de Educação Fundamental,1997, p. 19).
A escola não pode discriminar o estudante pelo seu jeito de se comunicar. Pois, essa
maneira de falar representa muito mais que um processo comunicativo, é a identidade do
falante. Nela, é possível perceber de onde vem este falante, a que classe social pertence, que
cultura possui, etc. É de grande relevância para o falante do português saber identificar e
diferenciar sua variação linguística das demais, não para desprestigiar, e sim para respeitar e
encantar-se com a riqueza que a língua materna possui. É uma das propostas dos PCNs da
Língua Portuguesa dos anos iniciais:
(...) conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro,
bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-
se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe
social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e
sociais (Secretaria de Educação Fundamental, 1997, p. 15).
O conhecimento das diversas variações linguísticas também possui sua finalidade
para a compreensão da linguagem do cinema, teatro e telenovelas, para a caracterização do
modo de falar dos personagens, que muitas vezes o fazem de forma exagerada e totalmente
diferente da realidade, por falta de informação ou intencionalmente. Um bom exemplo disso
são os sotaques dos personagens nordestinos exibidos nas novelas, que muitas vezes são

25
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

exagerados e tornam-se cômicos, representando quase sempre pessoas de classes


populares e notadamente com pouco nível de instrução. Segundo Bagno (2008) esse sotaque
deve ser de um nordestino de marte.
Por conta desta ação e do ensino discriminatório, é que o preconceito linguístico vem
se expandindo. Com a mesma importância que o ensino da norma padrão representa para
qualquer cidadão no seu uso social, as variações não padrão também estão presentes.
Durante o dia e, dependendo de com quem se fala, é necessário mudar o jeito de falar para
ser compreendido. É o que acontece com os inúmeros gêneros textuais, cada um com sua
função para auxiliar a escrita.
O direito que é dado para todos aprenderem a norma padrão deve ser o mesmo para
o ensino das variações. O estudante não pode em momento algum sentir-se linguisticamente
inferior, nem superior às outras variações, pois “diferença não é deficiência nem inferioridade”
(Bagno, 2008, p. 29). O autor ainda defende que:
Seria mais justo e democrático explicar ao aluno que ele pode dizer “bulacha”
ou “bolacha”, mas que só pode escrever bolacha, porque é necessária uma
ortografia única para toda a língua, para que todos possam ler e compreender
o que está escrito (Bagno, 2008, p. 69).
O que se espera da escola e dos docentes é uma mudança nesta concepção do que
é ensinar uma língua para o próprio falante do idioma. Que deixe de olhar para a gramática
como se fosse um livro sagrado e olhe mais para os estudantes de língua Portuguesa, não
como assassinos da língua, mas sim continuadores. A falta de conhecimento dos docentes e
das escolas de ciências como a Linguística e a Sociolinguística deixa o ensino-aprendizagem
da Língua Portuguesa intolerante. A definição de Linguística, segundo Cagliari (2007. P. 42)
é:
(...) a linguística é o estudo científico da linguagem. Está voltada para a
explicação de como a linguagem humana funciona e de como são as línguas
em particular, quer fazendo o trabalho descritivo usando os conhecimentos
adquiridos para beneficiar outras ciências e artes que usam de algum modo,
a linguagem falada ou escrita
É imprescindível que os estudantes aprendam seu idioma de forma lúdica quando for
possível ou de maneira prazerosa. Que não se considerem incapazes de falar sua própria
língua e que vejam que a comunicação humana é um instrumento tão poderoso, que pode até
resolver conflitos ideológicos, políticos e sociais quando se faz necessário um diálogo. É nítido
que não só o ensino das variações linguísticas, como o de toda Língua Portuguesa está
acontecendo de forma descontextualizada, para não dizer errada.
É o que Cagliari (2007) mostra:
Neste país, o aluno passa 8 anos na escola de 1° grau, 3 anos na de 2° grau
e pode passar mais 4 anos na faculdade, sem contar o ano de cursinho
preparatório e as reprovações [...] e, se um especialista em problemas
relacionados à Língua Portuguesa fizer uma pesquisa séria para ver o que
esse aluno aprendeu em mais de uma década de estudos, sem dúvidas ficará
decepcionado. Então o que o aluno faz nesses anos todos de escola? Será
que o ser humano precisa de tanto tempo para aprender tão pouco? O que
está errado nesta história? (Cagliari, 2007, p. 23).

26
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Parece que a parte pedagógica do ensino não se importa com a bagagem que o
estudante tem linguisticamente desde que entra na escola. É como se ele tivesse que
esquecer tudo que já aprendeu socialmente sobre Língua Portuguesa e tenha que aprender
outra língua que nada tem a ver com a forma que ele se expressa. É fundamental que o
docente assuma o papel de estudioso, investigador, cientista, buscando construir o próprio
conhecimento da língua, assumindo uma postura crítica que consequentemente o auxiliará a
ressignificar sua prática, pois segundo Bagno (2008, p. 115), como docentes devemos:
(...) acionar nosso sendo crítico toda vez que nos depararmos com um
comando gramatical e saber filtrar as informações realmente úteis, deixando
de lado (e denunciando, de preferência) as afirmações preconceituosas,
autoritárias e intolerantes. Da parte do professor em geral, (...) essa mudança
de atitude deve refletir-se na não-aceitação de dogmas, na adoção de uma
nova postura (crítica) em relação a seu próprio objeto de trabalho: a norma
culta.
A escola e os docentes, principalmente dos anos iniciais, estão tão incutidas da norma
padrão, que parecem acreditar que sua principal função é ensinar a criança a falar segundo
essa norma. É um terrível engano que podemos cometer se aderirmos essa ideia, quando
sabemos que isso não corresponde ao que nos diz os PCNs:

Não é papel da escola ensinar o aluno a falar: isso é algo que a criança
aprende muito antes da idade escolar. Talvez por isso, a escola não tenha
tomado para si a tarefa de ensinar quaisquer usos e formas da língua oral.
Quando o faz, foi de maneira inadequada: tentou corrigir a fala “errada” dos
alunos – por não ser coincidente com a variação linguística de prestigio social,
com a esperança de evitar que escrevesse errado. Reforçou assim o
preconceito contra aqueles que falam diferente da variedade prestigiada.
(Secretaria de Educação Fundamental, 1997, p. 48)
Se fosse assim, o estudante chegaria ao ambiente escolar mudo e, com o avançar das
séries, começaria a falar como o que acontece com quem está aprendendo um novo idioma,
como aponta Cagliari (2007, p. 83):
Um aluno na escola não pode chegar à conclusão que seus pais são “burros”
porque falam errado, não pode achar que as pessoas de sua comunidade são
incapazes porque falam errado, não têm valor porque falam errado, ao passo
que a cultura só está com quem fala o dialeto padrão, que a lógica do
raciocínio só pode ser expressa nessa variedade linguística, que o bom, belo
e perfeito só pode ser expresso através das “palavras bonitas” do dialeto
padrão.
Não se trata de uma apologia ao falar diferente da norma padrão, mas tão só de
respeitar as variações que não seguem a normatização. Tendo em vista que toda sociedade
se constitui da individualidade de cada um “não se trata de ensinar a falar ou a fala
“correta”, mas sim as falas adequadas ao contexto de uso” (Secretaria de Educação
Fundamental, 1997 p. 22).

27
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Fonte: www.provafacilnaweb.com.br

Uma união entre um homem e uma mulher ganha mais credibilidade quando existe
uma certidão de casamento. A escravidão só terminou com a assinatura da Lei Áurea. Como
se percebe a sociedade dá um status de seriedade para a escrita. Por ter um papel muito
relevante no mundo letrado, como nos diz Cagliari (2007, p. 96): “O ensino do português tem
sido fortemente dirigido para a escrita, chegando mesmo a se preocupar mais com a
aparência da escrita do que com o que ela realmente faz representar”. Porém, não se pode
esquecer que, da mesma forma que a escrita tem uma funcionalidade, a fala também tem. É
o que afirmam os PCNs:
O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social
efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à
informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões
de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a
responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes
linguísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de
todos (Secretaria de Educação Fundamental, 1997, p. 19).
Por isso o ensino da Língua Portuguesa concentra-se na escrita (produção textual,
resolução de questões, leitura silenciosa). Já a fala raramente é trabalhada em sala de aula e
quando acontece é de forma errônea, criticando a maneira como certo grupo social fala. Da
mesma forma que não existe variação superior a outra, o mesmo ocorre entre a escrita e a
fala durante o ensino; as duas têm que ser coniventes no processo de ensinoaprendizagem,
uma vez que “pode-se perceber agora que o ensino da Língua Portuguesa não só é
problemático pelo que se ensina, mas também é falho porque se deixa de ensinar muita coisa”
(Cagliari, 2007, 48).
As aulas de Língua Portuguesa podem dar o direito para o estudante falar, discutir seu
idioma, brincar com a fonologia das palavras, como acontece com a escrita. Diante dos
pressupostos, entende-se que as variações linguísticas não são muito apreciadas pela escola,
por apresentarem características que “promovem” o desvio da norma padrão, pois “a escola,
como espelho da sociedade, não admite o diferente e prefere adotar só as noções de certo e

28
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

errado, numa falsa visão da realidade” (Cagliari, 2007, p. 65). Com essa premissa, como o
professor dos anos iniciais pode ensinar a Língua Portuguesa, sem desvalorizar as variações
linguísticas?
Aprender português (...) não é só aprender como a língua (e suas variedades)
funcionam, mas também estudar ao máximo os usos linguísticos; e isso não
significa só aprender a ler e escrever, mas inclui ainda a formação para
aprender e usar as variedades linguísticas diferentes, sobretudo o dialeto-
padrão. A escola dessa forma não só ensinaria português, como
desempenharia ainda o papel imprescindível de promover socialmente os
menos favorecidos pela sociedade (Cagliari, 2007, p. 83).
Geralmente, as variações linguísticas são alvo de discriminação, principalmente, por
serem relacionadas à fala de pessoas das camadas sociais menos privilegiadas. A escola e
o professor precisam demonstrar o respeito pela liberdade de expressão dessas pessoas e a
língua precisa ser ensinada de forma a combater esse preconceito. Os PCNs discutem que a
língua deve ser também objeto de reflexão, apoiando-se em dois fatores: “a capacidade
humana de refletir, analisar, pensar sobre os fatos e os fenômenos da linguagem, e a
propriedade que a linguagem tem de poder referir-se a si mesma, de falar sobre a própria
linguagem” (Secretaria de Educação Fundamental, 1997, p. 53).
É possível fazer com que o estudante aprenda sobre a linguagem verbal e sobre os
contextos sociais nos quais ela se aplica. Um dos principais objetivos do ensino da Língua
Portuguesa nos primeiros ciclos é trabalhar com o estudante a capacidade de “participar de
diferentes situações de comunicação oral, acolhendo e considerando as opiniões alheias e
respeitando os diferentes modos de falar” (Secretaria de Educação Fundamental, 1997, p.
68).
A formação do sujeito está além da sala de aula, mas é nela que podemos intervir
nesse processo, pois a partir do momento em que o estudante reflete sobre suas atitudes, ele
também pode ter uma compreensão ampla dos fatores que implicam em determinadas
situações que envolvam as variações linguísticas, se reconhecendo como agente
transformador que pode e deve combater o preconceito linguístico. A escola pode e deve
formar bons usuários da língua padrão, mas fazendo com que possam reconhecer e utilizar
as variedades linguísticas, respeitando-as como característica de um determinado grupo
social, tal como aponta Cagliari (2007, p. 84).
Se os alunos aprenderem a verdade linguística das variantes, geração após
geração, a sociedade mudará seu modo de encarar esse fenômeno e passará
a ter um comportamento social mais adequado com relação às diferenças
linguísticas.
Com isso, teremos falantes conscientes da diversidade linguística da Língua
Portuguesa, abolindo a intolerância e o desrespeito com as variações linguísticas. Geraldi
(1997) diz que miséria social e miséria de língua confundem-se. Essa frase nos faz refletir
sobre o que acontece com vários brasileiros que se sentem miseráveis, por não ter o básico
para sobreviver, e mais ainda, por não falar a língua padrão exigida pela gramática, que
considera a sua forma de falar errada e que não pertence à língua portuguesa. Milhares de
pessoas são excluídas socialmente por não seguirem a normatização de uma determinada
gramática, escolhida há séculos numa sociedade totalmente diferente da de hoje.

29
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Fonte: www.novosalunos.com.br
Como nos afirma Bagno (2008, p. 29) “assim, tal como existem milhões de brasileiros
sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros que
poderíamos chamar de sem línguas”. Isso nos faz refletir sobre o nosso papel de docente e
nossa prática em sala de aula e, também, sobre a nossa relação com os milhares de
estudantes que deverão passar por nós, que refletirão nossos pontos de vista e nossas
esperanças, pois que é através deles que poderemos combater o preconceito linguístico.5

11 GÊNEROS TEXTUAIS

São textos que exercem uma função social específica, ou seja, ocorrem em situações
cotidianas de comunicação e apresentam uma intenção comunicativa bem definida. Os
diferentes gêneros textuais se adequam ao uso que se faz deles. Adequam-se,
principalmente, ao objetivo do texto, ao emissor e ao receptor da mensagem e ao contexto
em que se realiza.
Você já se deu conta da infinidade de situações comunicacionais às quais somos
expostos ao longo de nossa vida? Nem precisa tanto, pois durante um único dia podemos
estar envolvidos em diferentes contextos e ambientes que exigem de nós um comportamento
linguístico específico. A linguagem é um dos mais eficientes meios de comunicação, pois ela
nos permite interagir com pessoas, assim como alterar nosso discurso de acordo com as
necessidades do momento.
Dessa constante necessidade que o ser humano tem de interagir e comunicar-se com
o outro, surgiram os gêneros textuais. Os gêneros textuais não podem ser numerados, visto
que variam muito e adaptam-se às necessidades dos falantes. Mesmo que não possamos
contá-los, é possível observar que eles possuem peculiaridades que nos permitem identificá-
los e reconhecê-los entre tantos outros gêneros. Entre as características dos gêneros textuais
estão a apresentação de tipos estáveis de enunciados, além de estruturas e conteúdos
temáticos que facilitam sua definição.

5
Texto extraído: www.ipv.pt

30
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Diferentemente dos tipos textuais, que apresentam uma estrutura bem definida, além
de um número limitado de possibilidades (podem variar entre cinco e nove tipos), os gêneros
textuais são diversos e cumprem uma função social específica. Além disso, os gêneros podem
sofrer modificações ao longo do tempo, embora muitas vezes preservem características
preponderantes. Como exemplo dessa “evolução”, temos a carta, que depois do advento da
tecnologia foi transformada no e-mail, meio de comunicação que substituiu o papel, a caneta
e a necessidade de postagem pelos correios, visto que pode ser recebido instantaneamente
pelo destinatário. Contudo, alguns elementos linguísticos foram preservados, como as
saudações, o remetente e, claro, o destinatário.
Os gêneros são utilizados todas as vezes que os falantes estão inseridos em alguma
situação comunicativa. Ainda que inconscientemente, selecionamos um gênero que melhor
se adapta àquilo que desejamos transmitir aos nossos interlocutores, sempre com a intenção
de sobre ele obter algum efeito. Seja no bilhetinho deixado na porta da geladeira, seja nas
postagens feitas nas redes sociais ou até mesmo nas piadas que contamos para os nossos
amigos, os gêneros estão lá, trabalhando a serviço da comunicação e da linguagem.6

Fonte: pt.slideshare.net
Embora os diferentes gêneros textuais apresentem estruturas específicas, com
características próprias, é importante que os concebamos como flexíveis e adaptáveis, ou
seja, que não definamos a sua estrutura como fixa. Os gêneros textuais possuem
transmutabilidade, ou seja, é possível que se criem novos gêneros a partir dos gêneros já
existentes para responder a novas necessidades de comunicação. São adaptáveis e estão
em constante evolução.

12 TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

Tipos e gêneros textuais são duas categorias diferentes de classificação textual.


Os tipos textuais são modelos abrangentes e fixos que definem e distinguem a
estrutura e os aspectos linguísticos de uma narração, descrição, dissertação e explicação.

6
Texto adaptado: www.portugues.uol.com.br

31
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Fonte: www.revistaestante.fnac.pt

12.1 Exemplos de tipos textuais

a) Texto narrativo;
b) Texto descritivo;
c) Texto dissertativo expositivo;
d) Texto dissertativo argumentativo;
e) Texto explicativo injuntivo;
f) Texto explicativo prescritivo.

Os aspectos gerais dos tipos de texto concretizam-se em situações cotidianas de


comunicação nos gêneros textuais, textos flexíveis e adaptáveis que apresentam uma
intenção comunicativa bem definida e uma função social específica, adequando-se ao uso
que se faz deles.

12.2 Gêneros textuais pertencentes aos textos narrativos:

a) Romances;
b) Contos;
c) Fábulas;
d) Novelas;
e) Crônicas;

12.3 Gêneros textuais pertencentes aos textos descritivos:

a) Diários;
b) Relatos de viagens;
c) Folhetos turísticos;
d) Cardápios de restaurantes;
e) Classificados;

32
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

12.4 Gêneros textuais pertencentes aos textos expositivos:

a) Jornais;
b) Enciclopédias;
c) Resumos escolares;
d) Verbetes de dicionário;

12.5 Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos:

a) Artigos de opinião;
b) Abaixo-assinados;
c) Manifestos;
d) Sermões;

12.6 Gêneros textuais pertencentes aos textos injuntivos:

a) Receitas culinárias;
b) Manuais de instruções;
c) Bula de remédio;

12.7 Gêneros textuais pertencentes aos textos prescritivos:

a) Leis;
b) Cláusulas contratuais;
c) Edital de concursos públicos;

12.8 Gêneros textuais e gêneros literários

Conforme o próprio nome indica, os gêneros textuais se referem a qualquer tipo de


texto, enquanto os gêneros literários se referem apenas aos textos literários. Os gêneros
literários são divisões feitas segundo características formais comuns em obras literárias,
agrupando-as conforme critérios estruturais, contextuais e semânticos, entre outros.
Exemplos de gêneros literários:

a) Gênero lírico;
b) Gênero épico ou narrativo;
c) Gênero dramático.

Os gêneros textuais são classificados conforme as características comuns que os


textos apresentam em relação à linguagem e ao conteúdo. Existem muitos gêneros textuais,
os quais promovem uma interação entre os interlocutores (emissor e receptor) de determinado
discurso.
São exemplos resenha crítica jornalística, publicidade, receita de bolo, menu do
restaurante, bilhete ou lista de supermercado. É importante considerar seu contexto, função

33
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

e finalidade, pois o gênero textual pode conter mais de um tipo textual. Isso, por exemplo,
quer dizer que uma receita de bolo apresenta a lista de ingredientes necessários (texto
descritivo) e o modo de preparo (texto injuntivo).
Cada texto possuiu uma linguagem e estrutura. Note que existem inúmeros gêneros
textuais dentro das categorias tipológicas de texto. Em outras palavras, gêneros textuais são
estruturas textuais peculiares que surgem dos tipos de textos: narrativo, descritivo,
dissertativo-argumentativo, expositivo e injuntivo.

Fonte: www.conceptodefinicion.de

12.9 Texto Narrativo

Os textos narrativos apresentam ações de personagens no tempo e no espaço. A


estrutura da narração é dividida em: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.
Alguns exemplos de gêneros textuais narrativos:

a) Romance
b) Novela
c) Crônica
d) Contos de Fada
e) Fábula
f) Lendas

12.10 Texto Descritivo

Os textos descritivos se ocupam de relatar e expor determinada pessoa, objeto, lugar,


acontecimento. Dessa forma, são textos repletos de adjetivos, os quais descrevem ou
apresentam imagens a partir das percepções sensoriais do locutor (emissor).
São exemplos de gêneros textuais descritivos:

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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

a) Diário
b) Relatos (viagens, históricos, etc.)
c) Biografia e autobiografia
d) Notícia
e) Currículo
f) Lista de compras
g) Cardápio
h) Anúncios de classificados

12.11 Texto Dissertativo-Argumentativo

Os textos dissertativos são aqueles encarregados de expor um tema ou assunto por


meio de argumentações. São marcados pela defesa de um ponto de vista, ao mesmo tempo
que tentam persuadir o leitor. Sua estrutura textual é dividida em três partes: tese
(apresentação), antítese (desenvolvimento), nova tese (conclusão). Exemplos de gêneros
textuais dissertativos:

a) Editorial Jornalístico
b) Carta de opinião
c) Resenha
d) Artigo
e) Ensaio
f) Monografia, dissertação de mestrado e tese de doutorado

12.12 Texto Expositivo

Os textos expositivos possuem a função de expor determinada ideia, por meio de


recursos como: definição, conceituação, informação, descrição e comparação. Alguns
exemplos de gêneros textuais expositivos:

a) Seminários
b) Palestras
c) Conferências
d) Entrevistas
e) Trabalhos acadêmicos
f) Enciclopédia
g) Verbetes de dicionários

12.13 Texto Injuntivo

O texto injuntivo, também chamado de texto instrucional, é aquele que indica uma
ordem, de modo que o locutor (emissor) objetiva orientar e persuadir o interlocutor (receptor).
Por isso, apresentam, na maioria dos casos, verbos no imperativo. Alguns exemplos de

35
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

gêneros textuais injuntivos:

a) Propaganda
b) Receita culinária
c) Bula de remédio
d) Manual de instruções
e) Regulamento
f) Textos prescritivos

Fonte: www.feitonuvem.com

13 REDAÇÃO OFICIAL CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES

É fundamental se citar algumas diferenças entre a Redação Oficial de um padrão


oficial, de uma forma específica de linguagem isto irá pertencer aos meios administrativos. E
pelo contrário, por ter algumas finalidades básicas toda a comunicação de cunho mais claro
e mais objetivo possível acaba se impondo a redação oficial. Com isto muitos parâmetros de
utilização da língua que diferem dos utilizados pela literatura, pelo texto jornalístico, e ainda
por formas consideradas muito mais subjetivas de comunicação específica.
Vale dizer ainda que a redação oficial não deve ser algo necessariamente árido, ou
ainda ofensivo para a evolução da língua. E a sua finalidade básica acaba impondo diversos
parâmetros a utilização que se faz da língua de forma diversas daquele da literatura, de textos
jornalísticos, e ainda de toda a correspondência particular.
A impessoalidade é algo fundamental, e a finalidade da língua é exclusivamente se
comunicar, quer seja pela fala, quer seja pela escrita. E para que exista uma boa comunicação
é importante que alguém nos comunique, que tenha algo a ser comunicado e ainda alguém
receba esta comunicação.
Tudo isto deverá ser sempre as atribuições de um órgão que acaba comunicando o
destinatário, ou é o público o conjunto de todos os cidadãos ou ainda outros órgãos de ordem

36
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

pública e poderes da união.7


A redação oficial tem sido a causa de muita preocupação para muitos concurseiros,
pois sua cobrança em provas de concurso é muito grande. É possível compreender toda essa
preocupação uma vez que escrever uma redação oficial exige o conhecimento de normas e
técnicas estabelecidas para essa escrita. Se você faz parte desse grupo de concurseiros
então continue lendo esse artigo. Você encontrará aqui os seis principais pilares para a
produção da redação oficial que irão diminuir, ou até mesmo, acabar com a sua angústia.

13.1 O que é uma redação oficial?

Redação oficial é uma forma específica de escrever que deve seguir algumas normas
e técnicas estabelecidas. É comumente utilizada em momentos formais que necessitam ser
documentados ou quando envolvem os três poderes constituído pelo Estado: o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário. Neste caso, a redação oficial, é a maneira pela qual o Poder Público
redige atos normativos e comunicações.
Assim como qualquer correspondência, essa forma de escrita deve apresentar
algumas características básicas:

a) Formalidade;
b) Padronização;
c) Concisão;
d) Clareza;
e) Impessoalidade;
f) Uso do padrão culto da língua;

13.2 Formalidade

A redação oficial deve ser sempre formal e é importante se preocupar em obedecer


certas regras de forma. Além de usar a norma culta da língua portuguesa e ser impessoal, é
obrigatório certa formalidade de tratamento. Por esse motivo é essencial que você estude
também o uso correto dos pronomes de tratamento.

13.3 Padronização

Ligada a formalidade de tratamento está a necessidade de padronização, ou seja, a


uniformidade das comunicações. Ao redigir uma comunicação oficial deve-se seguir um
mesmo padrão atento para todas as características da redação oficial e sempre tomando
cuidado com a apresentação dos textos.

13.4 Concisão

O texto conciso é aquele que consegue transmitir um máximo de informações com um

7
Texto extraído: ww.blog.qconcursos.com

37
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

mínimo de palavras. Para isso, é importante que se tenha conhecimento sobre o assunto,
assim como também, tempo para revisar o texto depois de pronto. Mas atenção! Redigir um
texto conciso não quer dizer que você deve eliminar partes importantes do texto com o objetivo
de reduzi-lo. O que se deve fazer é cortar partes inúteis, redundâncias, ambiguidades,
passagens que nada acrescentam ao texto.

13.5 Clareza

Um texto claro é aquele que transmite seu conteúdo de forma que seu leitor possa
compreender a mensagem facilmente. Sendo assim, a clareza deve ser uma qualidade básica
de todo texto oficial. Para que haja a clareza é necessário que o texto apresente as outras
características aqui citadas.

13.6 Impessoalidade

Ao produzir um texto oficial, torna-se necessário deixa-lo impessoal, ou seja, devese


eliminar qualquer impressão pessoal. A redação oficial deve ser isenta da interferência da
individualidade. A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos
para elaborar o texto contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária
impessoalidade.
Para deixar um texto impessoal, podem ser usados três recursos:

a) Na voz ativa com sujeito indeterminado na terceira pessoa do plural, sem núcleo
que mostre o(s) agente(s) ou com verbo na terceira pessoa do singular, com a
partícula de indeterminação do sujeito(SE);
b) Na voz passiva analítica, com o verbo ser seguido de particípio;
c) Na voz passiva sintética, com verbo no singular ou no plural, concordando com o
sujeito paciente, agregado a uma partícula apassivadora (SE)8

8
Texto extraído: www.refinandoaescrita.com

38
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Fonte: www.oenem.com.br/

14 SINTAXE E SEMÂNTICA

A sintaxe visa a determinar quais combinações de palavras são bem formadas em


determinada língua. É uma das partes da Gramática na qual são estudadas as disposições
das palavras nas orações, nos períodos, bem como a relação lógica estabelecida entre elas.
Podemos considerar a Gramática como sendo o conjunto das regras que determinam
as diferentes possibilidades de associação das palavras de uma língua para a formação de
enunciados concretos. A Sintaxe própria de cada língua impede que sejam realizadas
combinações aleatórias entre as palavras.
Embora sejam bem distintas entre si, todas as línguas, além de possuírem um léxico
composto por milhares de palavras, possuem também um conjunto de regras as quais
determinam a forma como as palavras podem se relacionar para formar enunciados
concretos.
Sendo assim, a Sintaxe organiza a estrutura das unidades linguísticas, os sintagmas,
que se combinam em sentenças. Para que o falante de uma língua possa interagir
verbalmente com outros, ele organiza as sentenças linguísticas para que possa transmitir um
significado completo e, assim, ser compreendido.

14.1 Funções e Relações sintáticas

O enunciado se encaixa em uma organização/estruturação específica prevista na


língua. Essa organização é sempre regulada pela Sintaxe, a qual define as sequências
possíveis no interior dessas estruturas. Vejamos agora quais são os tipos de relações e de
funções sintáticas da nossa língua:

14.2 Funções sintáticas

Consiste na função específica de cada elemento na sentença ao se relacionar com

39
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

outros elementos que também compõem o enunciado.

a) João vendeu um baú antigo ano passado.


b) João: sujeito do verbo 'vender'.
c) Um: adjunto adnominal.
d) Um baú antigo: objeto direto de 'vendeu'.

14.3 Relações sintáticas

Consiste nas relações estabelecidas entre as palavras que definem as estruturas


possíveis na Sintaxe das línguas.

João vendeu um baú antigo ano passado.

- João: agente da ação expressa pelo verbo 'vender';


- Ano passado: quando a ação foi realizada.

15 SEMÂNTICA

Já a Semântica investiga as propriedades do significado bem como o estudo do


significado das expressões das línguas naturais. Entretanto, essa ciência tem causado
debates e controvérsias tanto terminológicos quanto substanciais, sobre a natureza do
significado. Para Gomes (2003, p. 14), estudar semântica passou a ser, antes de tudo uma
opção metodológica sobre a dimensão natural, formal, ou social da linguagem. Há diferentes
linhas de pesquisa da Semântica, desde a época dos filósofos até as tendências mais
contemporâneas, mas nenhuma dessas linhas conseguiu elucidar ou apresentar uma
resposta satisfatória ao termo significado.
Perini (2005, p. 244) afirma que a descrição da semântica de uma língua apresenta
dois aspectos principais: a semântica dos itens lexicais e a semântica das formas gramaticais.
A primeira se ocupa do significado individual dos itens lexicais e a segunda trata das
contribuições da estrutura morfossintática à interpretação semântica. Percebe-se que os itens
lexicais têm um significado próprio, porém de acordo com sua posição sintática, podem
adquirir novos significados. Ilari e Geraldi (1995) no livro Semântica, mais especificamente no
capítulo II, cujo título é “A significação das construções gramaticais”, discutem a relação entre
sintaxe e semântica. A partir desta análise feita pelos autores, pode-se depreender algumas
considerações importantes.
Um dos pontos tratados por Ilari e Geraldi (1995, p. 8) é a crítica imediata em relação
a alguns conceitos adotados pela Gramática Tradicional no que diz respeito à definição de
oração. De acordo com a maioria das Gramáticas Normativas, a oração é descrita como a
junção de um sujeito e de um predicado, inclusive é prescrito que sujeito e predicado são
termos essenciais da oração.
Contudo, observa-se que esse conceito é inconsistente, uma vez que há oração sem
sujeito como nos exemplos:

40
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Choveu muito.
Há muitos homens na fila.

Perini (1999) também chama a atenção para a concepção gramatical de sujeito. Para
a gramática de Cunha (1975), por exemplo, o sujeito é o termo sobre o qual se faz uma
declaração. Observe a oração:

Carlinhos machucou Camilo.

Nessa oração, embora Carlinhos seja o sujeito, há, sem dúvida, uma declaração sobre
Camilo que não é o sujeito da oração. Dessa forma, muitos conceitos prescritos pela
Gramática Normativa se tornam frágeis, no entanto, as relações semânticas possibilitam
estabelecer uma versão com maior fundamentação em relação às prescrições gramaticais e
aos próprios fatos da língua.
Outro item fundamental tratado por Ilari e Geraldi (1995) está relacionado ao verbo de
ligação. Para a Gramática Tradicional esse tipo de verbo é um mero componente de ligação,
de certa forma, até desprovido de significado. Essa concepção pode ser revista com o auxílio
da Gramática de Port-Royal de Arnauld e Lancelot.
Para tanto, Ilari e Geraldi (1995, p. 11) afirmam que a Lógica Clássica entendeu a
relação sujeito-predicado como expressão de juízos. Por exemplo:

Pedro é leitor.

Nessa oração, há um juízo expresso, um sentido pleno, pois se subentende que Pedro
lê, i.e., o verbo de ligação expressa que a segunda ideia (é leitor-predicado) convém à primeira
(Pedro sujeito). Assim, pode-se rever a tamanha importância que o verbo de ligação
estabelece. Ele possui um sentido bastante significativo na sentença.
Ilari e Geraldi (1995, p. 15) recorrem a Frege para explicar esse fenômeno na língua,
para ele, as frases têm uma estrutura semântica e não sintática. Nas frases a seguir percebe-
se que elas possuem uma estrutura sintática semelhante (sujeito=>predicado), entretanto
com valor semântico distinto.

Pedro perde a mala.


Qualquer passageiro da Varig perde a mala.

Lopes (2003, p. 233) reforça a ideia de que o significado de uma sentença é o produto
tanto do significado lexical quanto do gramatical. Desse modo, a análise semântica não pode
considerar apenas o item lexical isolado. Esse aspecto é perceptível no uso dos diminutivos
no cotidiano da Língua Portuguesa. Por exemplo, o vocábulo vaquinha, isolado, significa “vaca
pequena”, porém essa palavra em uma sentença como:

Não tinha dinheiro, então, fez-se uma vaquinha entre os amigos para comprar a carne do
churrasco.
Nessa situação, vaquinha não é mais vaca pequena (diminutivo), mas adquire
outro significado: ajuda mútua. Constata-se, portanto, que a palavra em determina
sentença consegue esclarecer seu sentido mais próximo do exato.
Das classes gramaticais pode adquirir uma nova versão, diferente da adotada pela

41
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Gramática Tradicional e dicionários. A palavra ‘’velho’’, por exemplo, é um adjetivo, mas em


determinadas situações, ou melhor, construções sintáticas, pode ser classificada como um
substantivo.
O homem velho acidentou-se. (velho=adjetivo)
O velho acidentou-se. (velho=substantivo)
Gomes (2003) faz uma constatação bastante pertinente em relação à significação
determinada pelo contexto:
...o fato de que em todas as línguas ocorrem formas significantes passíveis
de realizações conceituais distinta desperta na Semântica Tradicional a
preocupação com o contexto. Ou seja, a determinação do significado estaria
na dependência de suas possíveis realizações contextuais... No entanto, por
mais flutuante que seja a significação de uma palavra ela não se define
exclusivamente pela sua situação no contexto; ele somente pode torná-la
mais precisa. (GOMES, 2003, p.31).
Posto isso, é importante considerar várias nuances na língua a fim de que se possa
capturar o significado preciso e não “cair” em superficialidades. Quanto mais o pesquisador
ou até mesmo o professor considerar o significado existente na palavra, por exemplo,
vinculado a seu contexto, mais eficaz serão seus resultados no entendimento acerca da
língua. Assim, um elemento não pode prejudicar o outro, mas sim devem se complementar.9

Fonte: www.bibliotecamadre.blogspot.com

16 REPRESENTAÇÃO, MULTICULTURALISMO E IDENTIDADE

Se olharmos para uma multidão veremos que não existe uma única pessoa com o
rosto igual outro. Somos todos diferentes. Temos tons de voz diferentes, andamos diferente
um dos outros, gesticulamos diferentemente, enfim, cada um é único. Por que então a escola
quer tanto massificar os alunos? Por que não se respeita a individualidade de cada um?
Como pode a escola, lidando com seres tão diferentes querer avaliar de 0 a 10 o que
o aluno “aprendeu” se a maneira como lhe foi explicada foi igual para todos. Fala-se de
maneira igual para entendimentos diferentes. Como pode o entendimento do aluno ser
avaliado se ele não teve oportunidade de vivenciar nada do que foi dito! E quanto ao aluno
que tem potencialidades diferentes das abordadas em sala de aula? Como a escola poderá
saber se nunca olhou para este aluno de forma diferenciada. Nunca proporcionou
possibilidades que permitisse esse afloramento.
Devemos acreditar que é aí que mora o segredo. Permitir que o aluno se manifeste

9
Texto extraído: file:///C:/Users/Colaborador/Downloads/3807-16914-1-PB%20(2).pdf

42
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

em relação ao que lhe é importante. Sobre suas habilidades, preferências. Sobre qual é o seu
ritmo, seu tempo de desenvolvimento. É o respeito à individualidade. É saber que cada um é
cada um. No momento em que as diferenças forem somadas numa sala de aula, aí sim haverá
o desenvolvimento das competências. Ao se respeitar a individualidade se está respeitando o
direito à criação, e a criatividade é a ferramenta principal numa época em que o conhecimento
é o diferencial.
Atrelado a tudo isso deverá a escola propiciar, além de uma formação sólida,
conhecimentos extras que serão condições de oportunidades para o aluno atuar em diferentes
áreas passando a dominar as diferentes informações culturais e tecnológicas, bem como
desenvolver sua capacidade de inovação tornando-se predisposto a mudanças mantendo-se,
dessa forma, atualizado e desenvolvendo postura crítica que lhe propiciará a interpretação
antecipada das necessidades futuras da sociedade.

Fonte: www.annaramalho.com.br

A educação estará, dessa forma, investindo nas principais características para se


formar um profissional de sucesso. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” – Paulo Freire. A frase acima
do renomado educador do século XX, Paulo Freire, se encaixa em uma das maiores
tendências da educação no país: o olhar individualizado para cada aluno.
Quando a escola assume o papel de oferecer ensino de excelência, unido a atitudes
humanistas, ela se propõe, também, a destinar uma atenção individualizada para cada
estudante. Este acompanhamento próximo e contínuo, respeitando as particularidades de
cada um, permite que o professor tenha uma visão mais detalhada de onde o aluno está,
aonde ele pode chegar e quais estratégias poderão ajudar esse processo a ser mais efetivo
e que faça com que o próprio aluno participe ativamente da construção do seu conhecimento.
Para alcançar esse objetivo é necessário que toda a equipe pedagógica se dedique a
conhecer seus alunos e a elaborar planos de ensino que estimulem o estudante a alcançar o
seu maior potencial. O olhar individualizado não anula a genuína missão das escolas, que é
integrar a todos, sem distinções, possibilitando que todos os alunos tenham as mesmas
oportunidades. O diferencial, neste caso, é que as oportunidades podem ser aplicadas de

43
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

forma única, percebendo e respeitando as limitações de cada aluno.10


Conhecer, aproximar-se e acolher. Esses são os princípios básicos para que um aluno
ingresse e permaneça na escola, sentindo-se seguro e apto para iniciar a aprendizagem e o
convívio social com os colegas. Esse momento acontece, principalmente, na Educação
Infantil, quando as crianças têm o primeiro contato com o ambiente escolar. Por isso, é muito
importante que a instituição de ensino elabore uma programação com horários e atividades
especiais que, com o acompanhamento contínuo da família, possam garantir que o processo
de adaptação seja tranquilo e progressivo, respeitando as particularidades de cada aluno.
Valorizar a identidade da criança nas pequenas ações do dia a dia também faz a
diferença na fase de adaptação. Por exemplo, ao escolher com criança aonde ela deseja
sentar ou quais podem ser as cores de seus materiais, o professor dá a ela a liberdade de se
expressar, além de permitir uma maior interação com o ambiente.
Nas séries subsequentes, como no Ensino Fundamental, o processo de adaptação
deve respeitar as especificidades da faixa etária. O acolhimento também é de extrema
importância nessa fase, já que o medo de ficar longe dos pais, presente na Educação Infantil,
foi substituído pela ansiedade em ser aceito em um novo grupo. Uma forma de integração
interessante neste período são as brincadeiras e as dinâmicas em grupo, oportunidades nas
quais o aluno fala sobre sua personalidade e experiências, além de ser uma maneira efetiva
de estreitar a relação com os novos colegas.
Ensinar a importância do respeito que se deve ter com as diferenças dos colegas no
ambiente escolar é de fundamental importância, esse ensino deve ser aplicado desde os
primeiros anos de escolaridade. Em primeiro lugar, convém explicar a complexibilidade do
termo preconceito, considerado como um ato pensado, elaborado e praticado não só pelos
adultos, mas também no meio infantil, visto que nem mesmo as crianças estão excluídas das
inúmeras formas de discriminação.
Sendo assim, é de extrema importância que seja eliminado o preconceito desde os
primeiros anos da Educação Infantil. É fundamental que, desde o início, a hipocrisia seja
deixada de lado na afirmação de que todos somos iguais, mesmo porque se todos realmente
fossem iguais não haveria preconceito. É a partir das diferenças que surgem os preconceitos.
É notório que muitas escolas são reprodutoras da própria discriminação e que não
desenvolvem, nem se quer tem interesse em buscar, propostas pedagógicas para se
contrapor em relação às questões apresentadas.
O ideal é que o educador, antes de trabalhar o assunto em questão na sua sala de
aula, deixe bem claro para o seu alunado três conceitos fundamentais, são eles:
a) Preconceito: julgamento ou ideia preconcebida, a respeito de uma pessoa ou de um
povo.
b) Discriminação: quando os preconceitos são exteriorizados em atitudes ou ações
que invadem os direitos das pessoas, utilizando como referência critérios injustos
(idade, religião, sexo, raça, etc.)
c) Racismo: superioridade de certa raça humana em relação às demais,
características intelectuais ou morais por se considerar superior a alguém.
O ideal é que todo educador tenha em mente a importância de propiciar ao seu aluno

10
Texto adaptado: www.marupiara.com.br

44
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

um ambiente que priorize e estimule o respeito à diversidade, ajudando a formar cidadãos


mais educados e respeitosos que se preocupam com os outros, possuindo o espírito de
coletividade.11
Tom de pele, tipo de cabelo, sotaque, limitação física. Quando as características
pessoais fogem ao padrão estético predominante de determinado grupo, a pessoa costuma
chamar a atenção e, muitas vezes, acaba sendo alvo de preconceito. Em meio à diversidade
cultural, fechar os olhos para o valor do diferente é um erro crucial.

Fonte: www.envolverde.cartacapital.com.br

Na infância, os comportamentos em relação à diferença não seguem um padrão, as


condutas nesta fase irão depender da influência dos pais ou do meio em que vivem.12
As diferenças de classe social, idade, gênero, capacidade intelectual, raça, interesses
entre os alunos como chave do aprimoramento do ensino e do sucesso na aprendizagem
acadêmica são ainda parcialmente aceitas e constituem um forte impacto no conservadorismo
dos sistemas educacionais, que insistem na eliminação dessas diferenças para melhorar a
qualidade do ensino em suas escolas. Questionam-se os limites da diversidade, além dos
quais os alunos são inelegíveis para os programas escolares. A tendência é encorajar os
alunos a ignorar suas próprias diferenças e as dos outros.
Não lidar com as diferenças é não perceber a diversidade que nos cerca, nem os
muitos aspectos em que somos diferentes uns dos outros e transmitir, implícita ou
explicitamente, que as diferenças devem ser ocultadas, tratadas à parte. Essa maneira de agir
remete, entre outras formas de discriminação, à necessidade de separar alunos com
dificuldades em escolas e classes especiais, à busca da "pseudo-homogeneidade" nas salas
de aula para o ensino ser bem-sucedido, remete, enfim, à dificuldade que temos de conviver
com pessoas que se desviam um pouco mais da média das diferenças, conduzindo-as ao
isolamento, à exclusão, dentro e fora das escolas.

11
Texto extraído: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br
12
Texto adaptado: www.gauchazh.clicrbs.com.br

45
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

As escolas abertas à diversidade são aquelas em que todos os alunos se sentem


respeitados e reconhecidos nas suas diferenças, ou melhor, são escolas que não são
indiferentes às diferenças. Ao nos referirmos a essas escolas, estamos tratando de ambientes
educacionais que se caracterizam por um ensino de qualidade, que não excluem, não
categorizam os alunos em grupos arbitrariamente definidos por perfis de aproveitamento
escolar e por avaliações padronizadas e que não admitem a dicotomia entre educação regular
e especial. As escolas para todos são escolas inclusivas, em que todos os alunos estudam
juntos, em salas de aulas do ensino regular. Esses ambientes educativos desafiam as
possibilidades de aprendizagem de todos os alunos, e as estratégias de trabalho pedagógico
são adequadas às habilidades e às necessidades de todos.
Os alunos, em sua totalidade, experimentam em momentos de sua trajetória escolar
um ou outro problema, obstáculo, dificuldade nas aprendizagens acadêmicas. As razões pelas
quais os alunos fracassam em algumas situações escolares são complexas e não devem
recair única e inteiramente no que é inerente ao aprendiz. Grande parte dessas dificuldades
e incapacidades é devida à própria escola. Nesse sentido, podemos afirmar que o número de
pessoas com problemas de aprendizagem em uma escola está relacionado com a qualidade
da educação nela oferecida.
Da mesma forma, todos os alunos devem se beneficiar do apoio escolar e de suportes
individualizados quando estão passando por situações que os impedem de conseguir sucesso
nas atividades escolares.13

17 PRODUÇÃO DE TEXTOS

Houve um tempo em que a escrita era algo incomum nas comunidades agrafas e
quando ela começou a ser utilizada era uma atividade apenas de uma parte da população,
devido à falta de acesso dos menos abastados, e ainda que parte da população detivesse
dinheiro, apenas alguns tiveram o privilégio de obter este acesso. Com o tempo, a escrita foi
fazendo parte da população, de tal forma que hoje em dia ela faz parte do cotidiano, uma vez
que em todo momento é preciso fazer uso dela, seja por meio de um bilhete, um e-mail, ou
ainda, porque entramos em contato com toas as formas de escrita, como placas, anúncios,
rótulos de embalagens ou textos mais formais.
A prática da escrita e sua atividade, no entanto, envolvem alguns aspectos,
constituindo-se como um produto sócio-histórico-cultural, de modo que a leitura e a maneia
como vai ocorrer a aquisição de uma língua por pare de um aprendiz serão determinantes na
maneira como a escrita será concebida. Esse modo de entender a escrita é que vai traduzir
como compreendemos a linguagem e consequentemente vai direcionar a prática e o uso que
fazemos dela.
Assim, Ingedore Vilaça Koch (2010) apresenta algumas concepções de
sujeitos/escritor, uma é em que o:
[...] sujeito como (pré)determinado pelo sistema, o texto é visto como simples
produto de uma codificação realizada pelo escritor a ser decodificado pelo
leitor, bastando a ambos, para tanto o conhecimento do código utilizado.

13
Texto adaptado: www.lite.fe.unicamp.br

46
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

(KOCH,2010, p. 33, grito do autor).


A autora completa, ainda, que nesse tipo de concepção não há espaço para ilicitudes,
pois o que está escrito está dito, assim essa visão está centrada no que Koch define como
‘’linearidade’’.
A outra definição, diz respeito ao:
[...] sujeito psicológico, individual, dono e controlador de sua vontade e de
suas ações. Trata-se de um sujeito visto com um ego que constrói uma
representação mental, ‘’transpõe’’ essa representação para o papel e deseja
que esta esteja ‘’captada’’ pelo leitor de maneira como foi mentalizada.
(KOCH, 2010. p 33, grifo autor).
Segundo esta última concepção, texto é visto como um produto do pensamento do
autor/escritor, de forma que a escrita ‘’[...] é entendida como uma atividade por meio da qual
aquele que escreve expressa seu pensamento’’ (KOCH, 2010, p.33) porem neste processo
não se considera s conhecimentos do leitor nem a interação envolvida.

Fonte: www.arabalmanya.com

Por último, diferentemente das definições anteriores, Koch apresenta a concepção de


escrita em que escritor ativa seus conhecimentos e lança mão de estratégias para realizar a
sua produção textual. Dessa forma, esse tio de produção textual não e concebida de maneira
linear, já que o autor ‘’pesa’’ e que e como ira redigir, revê seu texto, modifica o que acha
necessário, etc.
Essas atitudes desse escritor são pautas por meio principio interaciona. De acordo
com Koc (2010, p. 34),
Nessa concepção interacional (dialógica) da língua, tanto aquele que escreve
como aquele para que se escreve são vistos como atores/construtores
sociais, sujeitos ativos que dialogicamente – se constroem e são construídos
no texto .... (KOCH,2010, P 34, grifo d autor).
Diante disso, a autora propõe que a escrita é uma atividade que demanda usos

47
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

estratégias, tais como uso de conhecimentos que possam contribuir na construção


comunicativa, seleção e organização das ideias que serão expostas no texto, o
balanceamento ente as informações ‘’novas’’ e ‘’dadas’’ e pôr fim a revisão da escrita ao longo
de odo o processo. Assim, esse tipo de escrita e definida como um ‘’constructo’’, de modo que
e produzida por meio da interação e dessa maneira o sentido do texto vai sendo desenvolvido.
Para que o escritor possa redigir de maneira correta um texto, e preciso que ele tenha
a seus dispor um leque de conhecimentos de sua língua, como a ortografia, léxico e a
gramatica. Assim, e de fundamental importância que o sujeito como produtor de um texto
detenha o conhecimento linguístico na produção textual, sabendo grafar corretamente as
palavras, bem com acentua-las. Além disso, saber pontuar um texto também é importante,
pois ‘’marca os ritmos da escrita’’, conforme aponta Koch. Esse comportamento por arte do
escritor demonstra conhecimento e também contribui no processo comunicativo.
Outros recursos também utilizados pelo escritor de texto é o seu conhecimento sobre
o mundo que está armazenado em sua memória, esses conhecimentos se referem a leituras
ou aquilo que é adquirido nas diversas experiências vividas. Koch chama este tipo de
conhecimento especifico de conhecimento enciclopédico.
Ademais, a autora revela a importância de destacar que o conhecimento textual está
também relacionado à presença de um texto ou mais dentro de outro que isso e o que ela
denomina de ‘’intertexto’’. Então, falar em um texto requer que se fale em ‘’intertextualidade’’,
um princípio que entra na constituição de um texto, já que é produzido em resposta a outro
texto e assim por diante. Portanto, a escrita ou o ato de escrever em si é uma atividade que
requer a retomada de outros textos, implicitamente ou não, conforme o intuito da
comunicação.
Por último, Ingedore vai dizer que o ‘’conhecimento interacional’’ que o produtor de
textos possui, vai determinar a atividade de escrita, a partir de práticas interacionais por ele
vividas, tais como seu conhecimento histórico e culturalmente adquiridos, bem como as
intenções configuradas em sua escrita, a seleção da quantidade de informação necessária
numa situação comunicativa real, a adequação de gênero textual a um contexto comunicativo,
além de recurso a estratégias, como o uso de expressões linguísticas, ente outros. Todos
esses traços
Definem o conhecimento que o escritor carrega e são compartilhados como o leitor
no momento em que ele escreve e faz uso desses conhecimentos. Dessa forma, toda escrita
sempre vai pressupor um leitor e, por meio dessa interação, os sujeitos irão negociar uns
com s outros a ‘’intersubjetividade’’ que será construída ‘’sociocognitivamente’’.14

17.1 Como produzir um texto?

Devemos começar este raciocínio com a pergunta óbvia e básica, isto é, o que é
produção? Segundo os vários dicionários que circulam pelo meio estudantil: ato ou efeito de
produzir, construir, fazer, criar pela imaginação. Outras duas perguntas também óbvias e
fáceis:
• O que é textual?

14
Texto adaptado: www.bdm.unb.br

48
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

• O que é texto?

Texto é tecido (o escritor como um tecelão, tecendo palavras, parágrafos, períodos e


pôr fim a obra completa). Já, textual é tudo o que é relativo ao texto, ou seja, tudo o que vem
transcrito em um texto. Respondendo à pergunta principal:

Produção Textual é a disciplina (matéria de ensino) que estuda a construção (produção) de


textos, que nada mais é do que a reunião de palavras que compõem a Língua Portuguesa,
com o auxílio da imaginação (CRIATIVIDADE) para formar um conjunto de parágrafos (frases
que formam um período e depois um texto completo) e que tem por objetivo um todo (textual)
composto de coesão (concordância) e coerência (razão, harmonia) e beleza.

Fonte: ww.noticias.universia.com.br
A produção de textos é o ato de expor por meio de palavras as ideias, sendo uma ação
deveras importante. Saber produzir um texto pode ser um pré-requisito para conseguir um
emprego, uma vaga na faculdade, dentre outros. Pessoas que escrevem bons textos
conseguem se expressar melhor. A leitura, intimamente ligada à escrita, é um ato essencial
para se produzir um bom texto.
Enquanto lemos estamos ampliamos nosso vocabulário e, consequentemente, nosso
universo interpretativo. Ou seja, com o ato da leitura estamos aumentando nossa capacidade
de entender melhor tudo que nos rodeia. Assim, é muito importante saber escrever bons
textos, e sobretudo, ter o hábito da leitura.

17.2 Tipos de Textos

Antes de mais nada, para produzir um bom texto é muito importante conhecer os
diversos tipos de textos existentes, para que seja coerente com a proposta. Assim, os
principais tipos de textos são:

49
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

a) Dissertação: texto argumentativo e opinativo, por exemplo, artigos, resenhas,


ensaios, monografias, etc.
b) Narração: narra fatos, acontecimentos ou ações de personagens num determinado
tempo e espaço, por exemplo, crônicas, novelas, romances, lendas, etc.
c) Descrição: descreve objetos, pessoas, animais, lugares ou acontecimentos, por
exemplo, diários, relatos, biografias, currículos, etc.
Para ampliar seus conhecimentos, leia também:
a) Tipos de Textos
b) Tipos de Redação
c) Gêneros Textuais

17.3 Como Produzir um Bom Texto?

Observe que não existe uma “fórmula mágica” para produzir um bom texto, no entanto,
há estratégias interessantes para melhorar sua produção. Cada indivíduo tem um estilo de
escrita, no entanto, o que importa não é necessariamente o estilo e sim, a coesão e a
coerência apresentadas no texto.
De tal modo, a coerência é uma característica textual que está relacionada com o
contexto. Ou seja, ela significa a relação lógica entre as ideias expressas, de forma que não
haja contradição no texto. A coesão, por sua vez, está relacionada com a regras gramaticais
e os usos corretos dos conectivos (conjunções, preposições, advérbios e pronomes).
Em suma, para que um texto seja considerado bom, o importante é conhecer o tipo e
o gênero do texto. Além disso, não fugir do tema pedido e sobretudo, cumprir as regras
gramaticais essenciais para sua compreensão. Para tanto, pesquisar sobre o tema antes de
escrever o texto é muito importante para dar consistência e mais propriedade à argumentação
textual agregando maior valor ao texto. Vale lembrar das novas regras gramaticais da língua
portuguesa, apresentadas pelo “Novo Acordo Ortográfico”.

17.4 Crie a Estrutura do Texto – Tema e Título

Observe que o tema da redação é diferente do título. Assim, o tema representa o


assunto a ser abordado, enquanto o título é o nome dado ao texto. Na maioria dos casos, o
título é muito importante, sendo que algumas pessoas preferem começar por ele. Outras,
escrevem o texto primeiro e a palavra ou expressão que o define é escolhida posteriormente.

17.5 Apresentação

A apresentação do texto (também chamada de tese) é de suma importância pois são


nos primeiros parágrafos que o leitor vai ficar interessado em ler o restante do texto. Portanto,
é o momento em que você irá instigar o leitor, sendo essencial pontuar as principais
informações que serão desenvolvidas no decorrer do texto. Claro que nem toda a informação
deve estar presente na apresentação, que deverá ser breve. Porém, os principais dados e
elementos que serão abordados devem surgir nesse momento do texto.
Desenvolvimento

50
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Após definir a apresentação, o segundo momento da produção do texto é o


desenvolvimento (também chamado de antítese). como o próprio nome indica, nessa etapa é
fundamental o desenvolvimento das ideias. Aqui o escritor irá argumentar e oferecer os dados
e/ou as informações obtidas na pesquisa e fazer uma reflexão sobre o tema abordado.
Assim, fica claro que quanto melhor a sua argumentação, melhor será o texto.

Fonte: www.medium.com

17.6 Conclusão

Muitas pessoas não se preocupam com essa parte fundamental do texto, ou seja, o
momento da conclusão (também chamado de nova tese). Finalizar o texto é tão importante
quanto começá-lo. Assim, não adianta fazer uma boa introdução e desenvolvimento, e deixar
o texto sem conclusão. Após a argumentação faz se necessário que o escritor chegue numa
conclusão e opine (no caso dos textos dissertativos), apresentando assim um novo caminho.
Note que, quanto mais criativa for a conclusão, mais interessante ficará o texto.

18 DICAS PARA PRODUZIR UM BOM TEXTO

Segue abaixo, algumas dicas para melhorar sua produção de textos:

a) Mantenha o hábito da leitura e da escrita;


b) Tenha o conhecimento das novas regras gramaticais;
c) Preste atenção à grafia, pontuação, parágrafos e concordâncias;
d) Seja criativo e espontâneo;
e) Não utilize palavras de baixo calão, palavrões;
f) Se distancie da linguagem coloquial, informal;
g) Tenha opinião e faça críticas próprias;
h) Atenção à relação lógica das ideias (coerência);
i) Não se afaste do tema e do tipo de texto proposto;
j) Faça um rascunho para evitar rasuras;
k) Se necessário, leia o texto em voz alta;
l) Cuidado com as repetições de palavras e ideias;
m) Não utilize palavras ou expressões que não conheça;
n) Se necessário, recorra ao dicionário;

51
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

o) Seja claro e conciso.15

19 PRODUÇÃO DE TEXTO EM DIFERENTES FORMATOS

Para produzir bons textos, além do hábito de leitura é importante conhecer os diversos
formatos existentes, para que você siga corretamente a proposta. É bom lembrar que não
existe fórmula mágica para criar um bom texto, mas quanto mais conhecimento você tiver
sobre o tema abordado, melhor se sairá.
a) Argumentativo – são conteúdos mais acadêmicos ou de convencimento, pois
demandam mais argumentação dentro do corpo de texto. Dessa forma, você
precisa ter o mínimo de conhecimento sobre o assunto para conseguir escrevê-lo;
b) Narrativo – é muito comum em romances que lemos no dia a dia. Nesse formato
de texto é comum uma narrativa de acontecimentos dentro de um universo
(fantasioso ou não);
c) Descritivo – é o formato de texto que percorre os dois primeiros. Tem como
característica principal a descrição, seja de objetos, pessoas, lugares, entre
outros.16

15
Texto extraído: www.todamateria.com.br
16
Texto extraído: www.eadbox.com/producao-de-texto

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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

20 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BAGNO, M. Preconceito linguístico. São Paulo: Parábola, 2015.

BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 2018.

FIORIN, J. L. Introdução à linguística: I. objetos teóricos. 6 ed. São Paulo: Contexto, 2015.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BATTISTI, J.; SILVA, B. C. Linguística aplicada ao ensino do português. [recurso


eletrônico]. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

MEDINA, J. Linguagem: conceitos-chave em filosofia. [recurso eletrônico]. Porto Alegre:


Artmed, 2007.

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