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Ireny Caldeira de Souza Oliveira

José Lúcio Ferreira Higino

FILOLOGIA
ROMÂNICA

LETRAS/INGLÊS

4º PERÍODO
Ireny Caldeira de Souza Oliveira
José Lúcio Ferreira Higino

FILOLOGIA
ROMÂNICA

Montes Claros - MG, 2010


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Coordenadora do Curso de Letras/Inglês a Distância


Hejaine de Oliveira Fonseca
AUTORES

Ireny Caldeira de Souza Oliveira


Especialista em: Filologia (curso em andamento. PUC - Minas); Docência de
Ensino Superior (disciplina isolada do Mestrado em Desenvolvimento
Social-Unimontes); Linguística Aplicada ao Ensino de Português (Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais - PUC - Minas); Língua Portuguesa:
Leitura e Produção de Textos (PUC - Minas); Língua Portuguesa (PUC -
Minas): Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (PUC - Minas); Língua
Portuguesa (PUC - Minas): Língua Portuguesa e Literatura Brasileira
(Fundação Norte Mineira de Ensino Superior- FUNM- Unimontes);
Graduada em Letras /Francês e suas Literaturas pela Unimontes (FUNM);
Curso Superior de Francês (Alliance Française-FUNM). Professora,
organizadora e conteudista dos cadernos de texto das disciplinas:
Fundamentos do Português; Literatura Infantil; Leitura e Produção Textual;
Fundamentos do Ensino de Português ( para o curso Normal
Superior(Unimontes); das disciplinas Estilística, Filologia, Fundamentos da
Linguística; Linguística Aplicada, Língua Portuguesa, Semântica, Gramática
Histórica( para os cursos emergenciais e modulares de Letras/Português e
Letras/Inglês). Atualmente: Coordenadora da área de Português do Projeto
NAP/Unimontes; Professora dos cursos de: Letras/Português, Administração
e Ciências Contábeis. Professora, com experiência em ensino superior, há 30
anos.

José Lúcio Ferreira Higino


Formação: Docência de Ensino Superior (disciplina isolada do Mestrado em
Desenvolvimento Social-Unimontes). Professor Pós-graduado em Ensino de
Língua Inglesa, graduado em Letras/Inglês, pela Universidade Estadual de
Montes Claros. Professor de Língua Inglesa, Língua Latina, Filologia
Românica e Gramática Histórica da Língua Portuguesa na Universidade
Estadual de Montes Claros. Professor Conteudista e Formador da disciplina
Língua Latina, dos Cursos de Letras/Português e Letras/Inglês da
Universidade Aberta do Brasil – UAB. Professor de Língua Inglesa, Literatura
Inglesa e Norte-Americana na Universidade Presidente Antônio Carlos -
Unipac, na Cidade de Bocaiúva-MG.
SUMÁRIO
DA DISCIPLINA

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Unidade I: Filologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Filologia: da Antiguidade ao século XX . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Diacronia das línguas românicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Unidade II: O trabalho filológico e métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.1 Crítica textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.2 Crítica Histórico-Literária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.3 Edição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.4 Métodos da Filologia Românica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.5Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . . . . 65
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
APRESENTAÇÃO

A arte do saber
O conhecimento é um investimento a longo prazo.
Sua moeda é o saber que vai se acumulando durante a vida.
O que se constrói não se destrói tão fácil.
Conhecimento e sabedoria fazem da vida uma verdadeira arte.
(Gleidson Melo).

Prezados Acadêmicos e Acadêmicas:

Com muita satisfação, damos-lhes as boas-vindas ao estudo de


Filologia Românica. Somos José Lúcio Higino e Ireny Caldeira de Souza
Oliveira, professores de Filologia Românica na Universidade Estadual de
Montes Claros. Esperamos despertar em todos vocês o interesse e o gosto por
essa disciplina.
Devido à exiguidade da extensão do curso, bem como ao imenso e
rico campo de estudo de Filologia Românica, ater-nos-emos apenas aos
principais pontos da história externa das línguas românicas, com uma visão
geral dessas línguas (especialmente da língua portuguesa), expressões de
nossa riquíssima herança latina na cultura, na visão do mundo e em tantos
outros aspectos. A interna, embora interdependente, será explorada em
seus aspectos estritamente relevantes.
Filologia Românica estuda as línguas, ditas românicas, do português
ao romeno, passando pelo castelhano, catalão, gascão, provençal (hoje
occitano), francês, rético (com suas três variedades), sardo, italiano e
dalmático.
A Filologia não se prende a teorias: ao tomar o fato linguístico, não o
teoriza, apenas procura explicá-lo sob todos os aspectos, com o auxílio de
todos os ramos do conhecimento que se fizerem necessários. Isso porque
considera a língua uma herança social de evolução multissecular.
Adquirimos e desenvolvemos a língua materna na nossa família e no nosso
meio social, mas não a inventamos nem nos cabe o direito de modificá-la. E
ao mergulhar em sua fascinante história, conheceremos a sua verdadeira
estrutura, desde a ortografia à semântica, do léxico à morfologia e à sintaxe.
Para arrefecer nosso estudo, vejam como é interessante o estudo de
Filologia.

07
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Por isto, queridos acadêmicos, que nossa galáxia se chama “Via


DICAS Láctea”, pela sua coloração branca, láctea, da cor do leite.
Gostaram? Isso é só o começo! Vamos adiante!
O resgate e a preservação da memória através da documentação
O resgate e a preservação da manuscrita, que se amontoa nos arquivos do Brasil e do mundo,
memória através da
representam hoje trabalho de diferentes áreas do conhecimento. Preservar
documentação manuscrita, que
se amontoa nos arquivos do essa documentação, a qualquer tempo, se faz necessário porque ela revela
Brasil e do mundo, as mudanças linguísticas ocorridas, as origens de famílias, de instituições, de
representam hoje trabalho de
cidades, as relações de poder nos diversos níveis da sociedade etc.
diferentes áreas do
conhecimento. Preservar essa Para a compreensão do que significa Filologia, devemos vivenciá-la.
documentação, a qualquer Apenas assim, com muita dedicação e empenho, pode-se dizer que
tempo, se faz necessário
conhecemos o que a sua história representa e qual tem sido a importância de
porque ela revela as mudanças
linguísticas ocorridas, as origens seu papel para os estudos literários, históricos, linguísticos, sociais etc.
de famílias, de instituições, de Desvendar toda essa informação tem importância não só para a História mas
cidades, as relações de poder
também para a Linguística, a Antropologia, o Direito, a Religião.
nos diversos níveis da
sociedade etc. Dividimos o nosso conteúdo de estudo em duas unidades muito
Para a compreensão do que significativas. Na Unidade 1, estudaremos, numa visão geral, a Filologia
significa Filologia, devemos
vivenciá-la. Apenas assim, com desde a Antiguidade até o século XX, apresentando os seus conceitos,
muita dedicação e empenho, objeto, evolução e classificação etc. Abordaremos ainda: a diacronia das
pode-se dizer que conhecemos Línguas Românicas em sua origem, as denominações romanus e românia, as
o que a sua história representa
e qual tem sido a importância características e afinidade latino-românica, os substratos, os adstratos e os
de seu papel para os estudos superstratos linguísticos.
literários, históricos,
Na Unidade 2, apresentaremos os passos fundamentais de um
linguísticos, sociais etc.
Desvendar toda essa Trabalho Filológico: começa-remos pela Crítica Textual e suas fases
informação tem importância fundamentais: recensio, collatio codicum, estemática e emendatio.
não só para a História mas
Terminada essa fase de reconstituição de texto, iremos ao estudo dos vários
também para a Linguística, a
Antropologia, o Direito, a aspectos da chamada Crítica Histórico-Literária que, ao abordar a
Religião. autenticidade, datação, fontes, circunstâncias, sorte, unidade e integridade,
linguagem do texto e avaliação crítica, tem como finalidade procurar
esclarecer os pontos obscuros e eliminar as lacunas no conhecimento de
dados sobre o texto. Para finalizar o trabalho filológico, o autor escolherá o
tipo de edição para publicar seu trabalho, ou seja, edição crítica,
diplomática, paleográfica etc.
Para o desenvolvimento do seu trabalho, o autor contará com os
seguintes métodos da Filologia Românica: histórico-comparativo, idealista,
geografia linguística, “palavras e coisas”, onomasiológico, neo-linguístico ou
espacial e teoria das ondas. Iremos evidenciá-los somente no que for
essencial no momento dessa nossa fundamentação de estudo. Uns métodos
são produtivos, outros poderão trazer alguma contribuição para um
conhecimento mais aprimorado do conteúdo da Filologia Românica.

08
Filologia Românica UAB/Unimontes

CURIOSOS? Então, vamos começar o nosso passeio pela disciplina.


DICAS
Entrem no mundo da Filologia já conhecendo uma imagem de
manuscrito da Bíblia.

A história se repete. Muitos dos


fenômenos que acreditamos
atuais já aconteciam na época
dos romanos, quando estes
estavam levando a língua latina
para diferentes partes da
Europa, África e Ásia, e que se
repetem em outras épocas e
outros lugares, com outros
povos.

B GC
Figura 3: Manuscrito, executado com uma pena. Caligrafia gótica, de grande regularidade.
GLOSSÁRIO E
Bíblia latina de 1407, exposta em Malmesbury Abbey, Wiltshire, Reino Unido.
Fonte: http://tipografos.net/glossario/manuscrito.html/ A F
Um manuscrito é qualquer
Cruzados executando judeus documento "escrito a mão".
Documentos em papiro,
pergaminho ou papel.Tradução
Na visita à Terra Santa em celebração pela passagem do segundo literal do latim manu scriptum,
em oposição a documentos
milênio do Cristianismo, o papa João Paulo II pediu perdão aos judeus e
impressos ou reprodu-zidos de
muçulmanos pela Igreja Católica ter, há 900 anos atrás, instigado a Cruzada outras maneiras, como a
que terminou por produzir um terrível massacre da população civil judaica e tipografia ou litografia. Um
documento "manuscrito", i.e.,
árabe de Jerusalém, por parte dos cavaleiros cristãos. Saiba como se deu esse
que tenha sido produzido pela
assalto à Cidade Santa. Na expedição escrita direta no papel, com o
vinham ainda, sob o comando dos uso de instrumentos como o
lápis ou a caneta, é
barões, uns dez mil homens, tendo a
erroneamente confundido por
fome e a sede como companheiras. aquele datilografado ou
Fanatizado, o cristão comum, conside- digitado por computador,
operações em que as mãos
rando-se um vingador celestial, virara
também são empregadas.
um animal feroz a quem um estripa- Outro emprego do termo
mento, uma carótida esguichando, ou "manuscrito" refere-se ao texto
original de um autor (escritor,
a degola dos gentios parecia a justa
poeta, ensaísta etc.), em
revanche dos tormentos de Cristo. oposição ao texto revisado ou
Figura 4 Quem respirasse era morto. Mataram editado posteriormente,
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/vo constituindo versões
ltaire/antiga/indice.htm inclusive os animais domésticos.
elaboradas por outras pessoas
que não o autor.

09
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Traje da Idade Média

Só temos essas informações graças aos trabalhos de reconstituição


histórica filológica.

Figura 5
Fonte: http://sitededicas.uol.com.br/clip_roupas.htm

PARA REFLETIR

Onde o conhecimento está


apenas num homem, a Figura 6
monarquia se impõe. Onde Fonte: http://www.google.com.br/images
está num grupo de homens,
deve fazer lugar à aristocracia.
Queridos Acadêmicos: “na procura de conhecimentos, o primeiro
E quando todos têm acesso às
luzes do saber, então vem o passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro relembrar, o quarto praticar e o
tempo da democracia. (Victor quinto ensinar aos outros”. (Texto Judaico)
Hugo)

10
1
UNIDADE 1
FILOLOGIA

Queridos Acadêmicos: “na procura de conhecimentos, o primeiro


passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro relembrar, o quarto praticar e o
quinto ensinar aos outros”. (Texto Judaico)

Figura 7:
Fonte: dagg-ilustração e artes gráficas postado por Daniel Gomes

O vocábulo Filologia provém de dois radicais gregos: phílos,


“amigo”, “amante”, e logos, “estudo,” “ciência” (öéëü-ëüãüá). O vocabulo
entrou na lingua portuguesa atraves do latim philologus, “amigo das letras”,
cujo significado etimologico e “amor da ciencia”, “culto da erudicao”. A
palavra passa as linguas modernas de cultura como eruditismo. Frances:
philologie; espanhol: filologia, de 1732; portugues e italiano: Filologia;
ingles: philology, de 1614 (provavelmente atraves do frances); alemao:
Philologie, todos entre o seculo XIV e XVIII. O termo nao e univoco; portanto,

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Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

a partir de agora, voces verao como ele recebe tantas definicoes. Vamos la!
Segundo Lázaro Carreter (1990, p. 187), a Filologia é “[...] ciência
que estuda a linguagem, a literatura e todos os fenômenos de cultura de um
povo ou de um grupo de povos por meio de textos escritos”.
O vocábulo “Filologia”, preocupando-se com as atividades da
linguagem do homem e de suas manifestações através das obras de arte
escritas nessa linguagem, mais as disciplinas que delas cuidam metodica
O vocábulo Filologia provém de dois radicais gregos: phílos,
“amigo”, “amante”, e logos, “estudo,” “ciência” (öéëü-ëüãüá). O vocabulo
entrou na lingua portuguesa atraves do latim philologus, “amigo das letras”,
cujo significado etimologico e “amor da ciencia”, “culto da erudicao”. A
palavra passa as linguas modernas de cultura como eruditismo. Frances:
philologie; espanhol: filologia, de 1732; portugues e italiano: Filologia;
ingles: philology, de 1614 (provavelmente atraves do frances); alemao:
Philologie, todos entre o seculo XIV e XVIII. O termo nao e univoco; portanto,
a partir de agora, voces verao como ele recebe tantas definicoes. Vamos la!
Segundo Lázaro Carreter (1990, p. 187), a Filologia é “[...] ciência
que estuda a linguagem, a literatura e todos os fenômenos de cultura de um
povo ou de um grupo de povos por meio de textos escritos”.
O vocábulo “Filologia”, preocupando-se com as atividades da
linguagem do homem e de suas manifestações através das obras de arte
escritas nessa linguagem, mais as disciplinas que delas cuidam metodica-
mente, comporta vários conceitos em suas primeiras definições, daí a
conceituação variar de acordo com o que se segue abaixo.
O significado da palavra Filologia quase sempre esteve relacionado
à ciência da cultura. É uma ciência muito antiga, mas modernamente, o
vocábulo tornou-se ambíguo, porque, com o passar da história e dos
acontecimentos no mundo, outras ciências foram aparecendo com campo
definido de estudo sobre o que anteriormente era o objeto da Filologia.
Heinrich Lausberg (1974, p. 21) aponta como seu objeto de estudo
as “obras” ou “textos”, tanto os textos de uso pragmáticos como também os
textos de uso repetido, ou seja, literários.
Basseto (2001, p.17) assevera que “[...]o filólogo é aquele que
apreende a palavra, a expressão da inteligência, do pensamento alheio e
com isso adquire conhecimentos, cultura e aprimoramento intelectual”.
Dubois (1993, p. 278), em seu Dicionário de linguística, afirma que
“a filologia é uma ciência histórica que tem por objeto o conhecimento das
civilizações passadas através dos documentos escritos que aquelas nos
deixaram, os quais nos permitem compreender e explicar as sociedades
antigas”.

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Filologia Românica UAB/Unimontes

DICAS

A necessidade de constituir
textos autênticos se faz sentir
quando um povo de alta
civilização toma consciência
dessa civilização e deseja
preservar dos estragos do
tempo as obras que lhe
constituem o patrimônio
espiritual; salvá-las não
somente do olvido como
também das alterações,
mutilações e adições que o uso
popular ou o desleixo dos
copistas nelas introduzem. Tal
necessidade se fez já sentir na
época dita Helenística da
Antiguidade grega, no terceiro
século a.C., quando os eruditos
que tinham seu centro de
atividades em Alexandria
Figura 9: Uma letra "P" capitular iluminada na Bíblia de Malmesbury, um livro manuscrito
medieval Ficheiro: Histórico de edições de "Iluminura”. registraram por escrito os textos
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. da antiga poesia grega,
sobretudo Homero, dando-lhes
forma definitiva. Desde então,
a tradição da edição de textos
antigos se manteve durante
toda a Antiguidade; teve
igualmente grande importância
quando se tratou de constituir
os textos sagrados do
Cristianismo. (AUERBACH,
1973, p. 11).
Reparem, pessoal, a data
dessa fotografia: 1904.

Figura 10: Imagem da folha de rosto de um manuscrito.


Fonte:http://images.google.com.br/images?gbv

Figura 8: Typos das ruas - O


Aguadeiro.
Edição: F.A. Martins - n°2.
ANo: 1904 / Colecção Hugo D.
Fonte: http://postaisportugal.
canalblog.com/

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Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Miazzi (1972, p.15) assume uma posição clara e de consenso.


Segundo ela, “do ponto de vista filológico, portanto, cabe ao romanista a
pesquisa e publicação de textos, enquanto, no plano linguístico, estuda ele
os múltiplos aspectos da história das línguas neolatinas, sua evolução a partir
do latim vulgar, as influências externas que receberam, os contactos que
mantiveram entre si, a sua fragmentação dialetal, enfim, todos os fenômenos
concernentes à fonética, à morfologia, à sintaxe e ao léxico".
Modernamente, com efeito puramente didático, alguns autores
têm dividido o estudo da Filologia em duas perspectivas:
1ª) Da Linguística – que estuda, cientificamente, as línguas do
ponto de vista sincrônico (em uma dada época, em seu estado atual), ou
seja, a Linguística Descritiva; e/ou diacrônico (através dos tempos), ou seja, a
Linguística Histórica. Mais especificamente, o que melhor delimita este
campo é o estudo comparativo e histórico das línguas.
2ª) Da Filologia Textual/Crítica Textual – que estuda o processo de
transmissão dos textos, com o objetivo de restituir e fixar sua forma original.
Embora historicamente a Crítica Textual tenha privilegiado o estudo dos
textos literários, atualmente considera tanto os textos literários como os não-
literários.
Carvalho (2003) afirma:

[...] nossa abordagem amplia-se pelo terreno da Filologia


Textual/Crítica Textual que se caracteriza por sustentar uma
investigação de natureza interdisciplinar, ou seja, tanto a
Filologia, enquanto crítica de textos, fornece matéria-prima -
textos fidedignos, portadores de conteúdos historiográficos,
literários, doutrinários, linguísticos - para diversos especialis-
tas, linguistas, literatos, historiadores, por exemplo, quanto
outras disciplinas oferecem subsídios para o trabalho do
filólogo. Teremos então de reconhecer à Crítica Textual um
estatuto determinante, na medida em que condiciona os
objetos de outras disciplinas e influi, consequentemente, na
qualidade e no alcance dos respectivos produtos, nas
edições que apresenta. Por mais rígidos que sejam os
pesquisadores, se não forem precavidos quanto aos
cuidados críticos relacionados à constitutio textus, se não
tiverem por base um texto crítico, poderão ter questionadas
as suas conclusões.

Filologia x literatura
A atual definição de Filologia não difere, em sua
essência, daquela que se fazia anteriormente, ou seja, enquan-
to disciplina do saber, continua estudando a língua e a literatu-
ra. No plano linguístico, considera os vários aspectos da história
das línguas, sua evolução, as influências que receberam, a
fragmentação dialetal, todos os fenômenos relacionados com a
fonologia, a morfologia, a sintaxe e o léxico.

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Filologia Românica UAB/Unimontes

Quanto à literatura, trata dos autores e obras literárias;


PARA REFLETIR
revisa a história da literatura através dos movimentos culturais e
estéticos, tendências e estilos mais relevantes; analisa temas,
gêneros e formas literárias comuns a diversas línguas e culturas; Linguística não é Filologia
discute como as diferentes correntes de pensamento têm Linguística é o estudo da
influenciado na estética, na arte e na comunicação ao longo do linguagem humana
considerada na base da sua
tempo. manifestação como língua.
Trata-se de uma ciência
desinteressada, que observa e
interpreta os fenômenos
Enfim, as "Filologias" trabalham as línguas, os textos e as linguísticos para depreender os
culturas, a partir de motivações diferentes. Cabe, portanto, ao princípios fundamentais que
regem a organização e o
filólogo posicionar-se criticamente em relação aos objetos funcionamento da faculdade
linguísticos, estético-literários e culturais. da linguagem entre os homens,
a) numa dada língua, b) numa
família ou bloco de línguas, c)
Houaiss (1970, p.4599) define a Filologia em sua acepção mais nas línguas em geral (cf.
geral, “como destinada a pesquisar, estudar, perpetuar, através das manifes- CÂMARA JR., 1986, 159).
Continuando, no mesmo
tações linguísticas de um povo, seu gênio próprio, sua civilização e sua
verbete "Linguística", acrescenta
evolução cultural”. Ainda, que “suas fontes de informações são os textos Mattoso: A Linguística é uma
legados por esse povo em diferentes épocas, textos não só literários, mas ciência recente, pois data do
século XIX o estudo científico e
também religiosos, históricos, filosóficos e científicos”.
desinteressado dos fenômenos
linguísticos. A princípio,
concentrava-se nos fenômenos
1.1 FILOLOGIA: DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XX
de mudança linguística através
do tempo como Linguística
O estudo da língua inicia-se com os Hindus, os quais sentiram Comparativa, especialmente
indo-europeia, baseada na
necessidade de preservar os textos religiosos dos Vedas, considerados técnica do comparativismo.
sagrados, para que os hinos e cânticos não sofressem nenhuma alteração, Hoje alargou-se-lhe o âmbito,
durante a sua execução nos ritos religiosos, pois sendo apenas falada, a distinguindo-se, ao lado do
estudo histórico (Linguística
língua tende a deturpar-se. Esse povo então passou a estudar sobre sua Diacrônica), o estudo descritivo
língua, resultando em trabalhos considerados muito mais completos do que (Linguística Sincrônica), porque
os da gramática tradicional do ocidente, no que diz respeito à fonética e à "a fixidez aparente da língua,
sendo uma realidade social, é
estrutura interna dos vocábulos. que a permite funcionar nos
Deu-se na Índia maior importância à língua escrita, pois os textos grupos humanos como meio
essencial de comunicação e
sagrados induziram naturalmente a isso. Trataram os hindus, melhor que os
esteio de toda a vida mental –
gregos, a fonética, havendo introduzido as noções de raiz, afixo, flexão e individual e coletiva" (CÂMARA
desinência. Também distinguiram as classes de palavras, fazendo distinção JR.,1977, p.39-40). (CÂMARA
JR., 1986, p.160)
entre substantivo e verbo, preposições e particípios, e estabeleceram
glossários a fim de garantir a interpretação dos textos clássicos.
Os gramáticos hindus precederam os gregos nos estudos da língua;
porém, mantiveram a tradição científica autônoma sem influência para fora
do seu meio. Foram, finalmente, pouco antes de 1.800, descobertos pelos
linguistas do Ocidente, os quais estabeleceram uma nova e maior síntese
geral, explicativa de todo o contexto das línguas indo-europeias.

15
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

B GC
GLOSSÁRIO E
A F
Denominam-se Vedas os
quatro textos, escritos em
Sânscrito por volta de 1500
a.C., que formam a base do
extenso sistema de escrituras
sagradas do hinduísmo, que
representam a mais antiga
literatura de qualquer língua
indo-europeia. Consistem de
vários tipos de textos, todos
datando aos tempos antigos. O
núcleo é formado pelos
Mantras que representam
hinos, orações, encantações,
mágicas e fórmulas rituais,
encantos etc. Os hinos e
orações são endereçados a
uma grande quantidade de
deuses (e algumas deusas), dos
quais importantes membros
são Rudra, Varuna, Indra, Agni Figura 11: O Livro dos Vedas
etc. Os mantras são Fonte: Dados Técnicos Tradutor: Raul Xavier. Coleção:
Suprema Joia da Sabedoria. Ano: 1972
suplementados por textos
relativos aos rituais sacrificiais
nos quais são utilizados esses
mantras e também textos
explorando os aspectos
filosóficos da tradição ritual,
narrativas etc. A palavra Veda,
em sânscrito, vid- (reconstruída
como sendo derivada do
Proto-Indo-Europeu weid-) que
significa conhecer, escreve-se
veda no alfabeto devanágari e
significa "conhecimento". É a
forma guna da raiz vid-
acrescida do sufixo nominal -a.
Nos tempos modernos, estudos
védicos são cruciais para a
compreensão da linguística
Indo-Europeia, como também
da história indiana
antiga. WIKIPÉDIA (acessada
em 15 de agosto de 2009).

Figura 12: Povo Hindu de hoje


Fonte: http://www.semipa.org.br/galeriafotos

16
Filologia Românica UAB/Unimontes

Portanto, deste povo não podemos esquecer. Os Hindus tiveram


como seu representante maior, nos estudos da língua, o gramático Pãnini,
cuja obra só agora vem sendo conhecida. Ao estudar a língua Sânscrita,
ele não ficou limitado apenas a estudar os textos sagrados, mas estudou,
principalmente, a língua de seu tempo. Dedicou-se ao estudo do valor e do
emprego das palavras e fez de sua língua, com precisão e minúcias admirá-
veis, descrições fonéticas e gramaticais que são modelares no gênero. Sua
gramática foi modelo para muitos estudiosos das Escolas Linguísticas da era
moderna. Pãnini estudou, observou e analisou esses textos, e compilou a
primeira gramática do Sânscrito, expondo minuciosamente em 4.000 regras
o sistema gramatical desta língua.
Não podemos nos esquecer também que foi muito significativa a
descoberta do Sânscrito, no final do séc. XVIII, pelos sábios do Ocidente.
Essa língua alcançou sua forma clássica e, a partir de então, ela só se desen-
volveu em seu vocabulário. Essa descoberta foi muito importante, pois a
partir dela pôde-se descrever o parentesco existente entre as diversas
línguas. Os linguistas perceberam, por exemplo, as semelhanças entre o
sânscrito e o grego e o latim. O sânscrito foi considerado língua-mãe de todas
as outras línguas, mas isso durou pouco tempo, e logo se percebeu que o
sânscrito era uma língua irmã do latim e do grego, e que todas variavam de
uma língua ainda mais antiga. A partir daí, começa-se a comparar as línguas à
procura de parentescos entre elas.
Os saberes sobre a tradição gramatical da Índia foram fundamentais
ao desenvolvimento das pesquisas feitas pela corrente dos comparatistas. A
linguística do séc. XIX revela clara influência dessa tradição, e estudos mais
recentes, no campo da linguagem, comprovam a importância dos princípios
propostos por Pãnini, tais como o da “exaustividade”, da “coesão” e da
“economia”.
Foi na Grécia que o termo Filologia foi usado pela primeira vez, com
variados sentidos em relação às épocas e aos autores que o utilizavam. Antes
de surgir como substantivo ou verbo (Filologia e Filologar) foi encontrado
como adjetivo (Filólogo) em Platão e em Aristóteles. O significado etimológi-
co da palavra é “o amigo da palavra”, sendo palavra, neste caso, sinônimo de
expressão, exteriorização da inteligência, “por isso, o filólogo é aquele que
apreende a palavra, a expressão da inteligência, do pensamento alheio e
com isso adquire conhecimentos, cultura e aprimoramento cultural”.
(BASSETO, 2005, p.17). Mais tarde, quando a escrita se tornou mais comum,
o termo passou a designar aqueles que sabiam ler e escrever, e, depois,
aqueles que gostam de falar ou aprender, ouvindo.
O estudo da língua, na Grécia, data do séc. V a.C. Os gregos
pensavam e estudavam apenas em sua própria língua. O estudo da língua era
feito com a intenção de se compreender e preservar textos antigos, e como
tomavam por base somente o grego, sem compará-lo com outras línguas,
chegavam a falsas conclusões, pois davam mais valor às suposições do que às

17
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

experiências. Assim, a base filosófica tornava as definições muito abstratas, e


DICAS
por ser puramente normativa, a gramática grega só ensinava a ler e a
escrever. Apesar dessas restrições, “os gregos foram os precursores dos
estudos da linguagem por lançarem as bases fundamentais e as categorias
Correspondência entre Som e gramaticais que permanecem até hoje traduzidas”. (BORBA,1975)
Símbolo. A gramática era vista sob dois aspectos: “plano estético” (os
O Sânscrito é foneticamente
procedimentos de estilo) e o “plano filosófico” (adequação da linguagem ao
preciso, isto é, cada som é
representado através de um pensamento). Essa preocupação com a língua foi a base gramatical, estabele-
símbolo único. Isto é bem cida pelos gregos, que fundamentou os estudos linguísticos na Europa
diferente quando vemos, por
séculos depois, embora os gregos considerassem tal estudo da língua não
exemplo, em português, que o
símbolo “x” pode ser como gramatical, mas sim como filosófico, tendo como tema central a
pronunciado e usado de relação pensamento/palavra, ou seja, o que leva determinada coisa a ter
diversas formas.
aquele determinado nome. As gramáticas tinham como objetivo:
O prof. Bruno Basseto, em seu
livro Elementos de Filologia a) explicar e fixar a língua dos autores clássicos;
Românica, faz um b) proteger o grego, pois ao ser “falado por pessoas incultas”,
levantamento de textos de
autores clássicos em que o correria o risco de corromper-se. Os representantes dessa escola foram os
termo aparece, para comprovar bibliotecários Zenódoto, Aristófanes de Bizâncio e Aristarco da Samotrácia.
essa variação. Entre autores
Assim, fazendo a gramática parte da filosofia, os fatos linguísticos
gregos e romanos, foram
inventariadas cinquenta e seis formaram a base das discussões por parte de filósofos das escolas filosóficas
ocorrências. de Platão, Aristóteles, estoicos e sofistas. No séc. III a.C., ao redor da
biblioteca de Alexandria - a chamada “escola ‘alexandrina’” - reuniam-se os
sábios para fazer pesquisas linguísticas e literárias. Além do conhecimento
fundamental, os sábios de Alexandria davam grande importância ao saber
prático.

Figura 13: Biblioteca ou Escola de Alexandria


Representação artística da antiga cidade.
Fonte: http://www.angelfire.com/al/alexandriano1/bibliot.html

Os textos escritos, como os de Homero, já não se mostravam em


estado de pureza, e para melhor restabelecer o original e caracterizar os
manuscritos autênticos e apócrifos, os estudiosos usaram os conhecimentos
de história, de geografia e de mitologia. Para Duarte Nunes, na época dos
alexandrinos, acreditava-se que o tempo desfigurava e corrompia as
palavras. Esse sentimento, de certa forma, impregnaria o espírito racionalista

18
Filologia Românica UAB/Unimontes

dos filósofos e escritores dos séculos XVII e XVIII, os quais precisavam se dar a
DICAS
certeza de que nada se tinha perdido e que as línguas nacionais eram até
melhores que o latim para a expressão das ideias e sentimentos, uma
concepção que passou a perdurar após ter sido feita a opção pela expressão
nas línguas vernáculas. A Biblioteca de Alexandria se
A língua grega da época helenística, isto é, o período da história da distinguiu por ser um centro
universal, aberto ao saber e à
Grécia compreendido entre a morte de Alexandre III (O Grande) da pesquisa sem fronteiras. O
Macedônia em 323 a.C. e a anexação do Egito por Roma em 31 a.C., já acervo da biblioteca teve uma
apresentava diferenças em relação à língua dos textos clássicos e pré- grande expansão no reinado
de Ptolomeu III, que solicitava
clássicos. Para facilitar a leitura das obras publicadas e fazer comentários, os livros de todo o mundo para
alexandrinos viram a necessidade de preservar a língua, escrevendo copiar e utilizava os mais
gramáticas. Desse momento até o séc. XIX, a língua literária, então, passa a diversos meios para obtê-los.
Com isso, Alexandria se tornou
ser a língua mais “pura” e mais “correta” que a língua falada. um grande centro de
Os filólogos alexandrinos eram levados a estudar as antigas fases da fabricação e comércio de
papiros, e uma legião de
língua e os traços distintivos dos dialetos gregos. Conforme Câmara Jr (1986-
trabalhadores, ao lado de
a, p.19): inúmeros copistas e tradutores
“Assim, em um dicionário de Hesíquio, que viveu provavel- se dedicavam a esse ofício.
mente no século V de nossa era, encontramos não somente Dizem que a biblioteca chegou
palavras áticas, mas, também, vocábulos de outros dialetos a ter 700.000 pergaminhos. Era
gregos, do latim e, mesmo, de muitas línguas ‘não clássicas’, suporte para estudos de
tais como o egípcio, o acadiano, o lídio, o persa, o frígio, o diversas áreas do
fenício, o cita e o parto. Vemos, assim, o início do estudo ‘de conhecimento, como Filosofia,
língua estrangeira’ como consequência do estudo
Matemática, Medicina,
Ciências Naturais e Aplicadas,
‘filológico’”.
Geografia, Astronomia,
Filologia, História, Artes, etc.
1.1.1 Os Povos Latinos Os pesquisadores alexandrinos
organizavam expedições para
aprender mais em outras partes
Os povos latinos foram influenciados pelos gregos em todos os do mundo e desenvolveram
aspectos humanos e sociais. Entretanto, demonstraram grandes dificuldades tanto as ciências puras como as
em estabelecer regras e acordos com as teorias gregas, mas terminaram aplicadas. Fala-se de inúmeras
invenções, como bombas para
ampliando os estudos casualmente. Adotaram, então, os pontos de vista dos puxar água, sistemas de
estoicos – que estudaram os problemas filosóficos da origem da linguagem, engrenagens, odômetros, uso
ao estudo da lógica, retórica e pesquisas etimológicas buscando a verdade da força do vapor de água,
instrumentos musicais,
na origem das palavras – “a linguagem se origina naturalmente na alma dos instrumentos para uso na
homens e a palavra expressa a coisa conforme a natureza dela, suscitando, astronomia, construção de
do mesmo modo, no ouvinte, uma impressão conforme a dita nature- espelhos e lentes.
http://www.dm.ufscar.br/
za”(BORBA, 1975, p. 13), – e dos alexandrinos, que, além de se ocuparem hp/hp855/hp855001/
com o estabelecimento de textos, também fizeram a crítica literária. hp855001.html#antiga
Nesse período, a preocupação com a relação coisa/nome foi
substituída pela relação anomalia/analogia, sendo a anomalia a “falta de
consequência continuamente observada entre palavra e pensamento”
(BORBA, 1975, p. 14), e a analogia a “tendência niveladora da língua”
(BORBA, 1975, p. 14).
A gramática surgida nesse período era puramente normativa, sendo
usada para diferenciar o certo do errado e estava ligada à interpretação de
textos. Os romanos já reconheciam as partes de um discurso, mas sem

19
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

nomeá-las sujeito, predicado etc. Os primeiros tratados dirigidos aos


escolares apareceram entre 37 e 52 d. C. e, depois, nos séculos IV e VI,
outros também discursavam sobre as partes do discurso, as regras da
retórica, métrica etc. Dessas partes do discurso, os romanos distinguiam o
Nome (substantivos e adjetivos), Pronome, Verbo, Particípio, Advérbio,
Preposição, Conjunção e Interjeição, com a exclusão do Artigo, que não
tinha correspondente em latim. A morfologia visava os sons (vogais, conso-
antes, semivogais, mudas etc.).
Em Roma, a gramática continuou a integrar-se à filosofia e os
filólogos a fazerem a crítica enquanto aprofundavam os estudos de retórica.
A língua latina, por sua vez, deveria seguir as regras elaboradas pelos gregos.
Entre os estudiosos latinos, destaca-se Varrão (116 a 27 a.C.), que escreveu a
obra De língua latina (Sobre a língua latina), a fonte principal dos estudos
latinos “e fez grande esforço para definir a Gramática ao mesmo tempo
como ciência e como arte e que vislumbrou, com mais lucidez que os
gregos, o valor da oposição de aspectos no sistema do verbo” (BORBA,
1975, p.19). Embora, com as mesmas limitações dos gregos, tenham criado
semelhantes fantasiosas explicações e derivações para as palavras, os
romanos avançaram ao estudar duas línguas.
Prosseguem-se os trabalhos filológicos numa compilação enciclo-
pédica, tomando novo rumo com as escolas dos séculos III, IV e V d. C, cujos
nomes representativos são Cássio Longino, Porfírio, Donato, Macróbio e
Prisciano. Donato e Prisciano produziram uma gramática que serviu de
suporte didático da Idade Média até o séc. XVII. Eles estudaram, sobretudo,
a língua literária, portanto, o latim clássico, apoiando-se em Cícero e Virgílio.
Outra obra significativa, que teve seu uso por muito tempo, foi De
nuptiis Philologie et Mercurii (Sobre as bodas da Filologia com Mercúrio),
escrita por Marciano Capela (Martianus Capella) no séc. V, que, partindo das
ideias de Isócrates e de Aristóteles, reuniu em torno das obras-primas da
poesia as partes do conhecimento humano e as valoriza por essa função.

1.1.2 A Filologia na Idade Média

Na Idade Média, os bizantinos deram continuidade à tradição


filológica clássica, muito longe do antigo esplendor. Entre eles, sobressai-se
Fócio, no século IX. No Ocidente europeu, os trabalhos filológicos entraram
em visível decadência. O único trabalho digno de menção foi a cópia de
manuscritos, pagãos ou cristãos, que os monges faziam nos mosteiros,
seguindo a tradição inaugurada por Cassiodoro no século V. Essa tarefa teve,
porém, fundamental importância, porquanto, com a destruição das
enormes bibliotecas de Alexandria e Constantinopla, foi graças a tais cópias
que se pôde salvar uma parte significativa da cultura clássica, a qual, de outro
modo, provavelmente teria desaparecido.

20
Filologia Românica UAB/Unimontes

PARA REFLETIR

Durante a Idade Média, a


Igreja Católica detinha grande
poder na Europa, fazendo com
que a sociedade, a cultura e a
política estivessem sob o
controle da instituição. Este
poder concentrado fez com
que os religiosos criassem
doutrinas absurdas para
extorquir dinheiro do povo. É o
caso da venda de indulgências.
O indivíduo só conseguiria o
perdão de seus pecados
mediante o pagamento de uma
Figura 14: O cristianismo ortodoxo, uma das particularidades do Império taxa equivalente ao pecado
Bizantino cometido. Quanto maior o
Fonte: http://www.brasilescola.com/historiag/ pecado, maior a taxa para a
absolvição. Outra doutrina era
a simonia, ou seja, a venda de
relíquias como fios de cabelo
de santos, pedaços da cruz de
Cristo e ossos da tíbia dos
apóstolos.

Figura 15: Venda das indulgências


Fonte: Arquivo Pessoal

O latim foi a língua do Estado e da Igreja, da diplomacia, da


erudição e da cultura, língua de transmissão dos ensinamentos ministrados
aos alunos nas escolas seculares e nas universidades, do estudo e explicação
das Sagradas Escrituras, das discussões diplomáticas, dos encontros entre
intelectuais, enfim, ela fornecia os subsídios necessários para um maior
desenvolvimento da cultura medieval, sendo, com isso, uma marca de sua
autonomia. O sagrado e o profano, frutos da tradição escrita e oral, confluem
no tecido linguístico desse latim. Sua gramática foi escrita baseada em
Donato e Prisciano, como auxiliar no ensino do latim nas escolas. Língua
que, ao ser levada e falada em outras regiões e países, se “corrompia”. No
seu contato com povos de língua “bárbara“, isto é, na propagação do
cristianismo, a tradução da Bíblia em gótico no séc. IV, em armênio no séc. V,
e em eslavo no séc.IX, o latim alterou algumas teorias da tradição greco-
latina.

21
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

DICAS

O colapso do Império Romano


sentiu um de seus maiores
golpes quando, em 395, o
imperador Teodósio dividiu os
territórios em Império Romano
do Ocidente e do Oriente. Em
330, o imperador Constantino Figura 16: Texto medieval escrito em latim.
criou a cidade de Fonte: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/latim.htm
Constantinopla no local onde
anteriormente se localizava a
colônia grega de Bizâncio. Não
sentindo os reflexos da
desintegração do Império
Romano, a cidade de
Constantinopla aproveitou de
sua posição estratégica para
transformar-se em um
importante centro comercial.
Cercada por águas e uma
imponente fortificação, tornou-
se uma salvaguarda aos
conflitos que marcaram o início Figura 17: Manuscritos da Idade Média
da Idade Média. Com o passar Fonte: images.google.com.br/images?gbv=2&hl=
do tempo, o Império Bizantino pt-BR&q=imagens+de+manuscritos&sa= N&start=
alcançou seu esplendor graças 80&ndsp=20
à sua prosperidade econômica
e seu governo centralizado. No A filologia, reconhecendo o particular, o individual, tornou-se
governo de Justiniano (527 – estudo da língua, gramática e também comentários anedóticos. Seus
565), o império implementou objetivos eram os “de analisar e fixar o texto correto; propor sua leitura
um projeto de expansão
territorial que visava recuperar correta; explicar palavras e passagens incompreensíveis; fornecer dados
o antigo esplendor vivido pelo sobre o autor, sobre as fontes da obra e as circunstâncias em que foi escrita;
Antigo Império Romano. julgar qualitativamente a mesma” (HOUASSIS, 1970). A tendência à exegese
http://www.brasilescola.com/
historiag/imperiobizantino.htm. alegórica foi herança dos estoicos, que se preocuparam muito com os
problemas de significação – relação entre a palavra e o que designa, entre
significante e o referente. Essa discussão reaparece no séc. XIII, com os
escolásticos, que veem na língua um instrumento de análise real.
Os primeiros Padres da Igreja – Agostinho, Ambrósio, Orígenes –
com a intenção de carrear toda produção escrita para as Escrituras, insistiram
na tendência de que os sábios da Idade Média achassem em todas as obras a
sua origem e seu fim na teologia e na filosofia. Assim, a filologia passa por
algum tempo no esquecimento. A tradição cultural fica sob a responsabilida-
de dos monges a partir de Cassiodoro (séc. VI). As escolas irlandesa (sécs. VI
e VII), anglo-saxônica (sécs. VI e VIII) e carolíngia (sécs. IX e X) ficaram
responsáveis pela conservação dos manuscritos clássicos, que depois serão
materiais de estudos na Renascença. Os objetivos eram de interpretações
teológicas e, em razão da preocupação com a exegese alegórica, não viam
relevância com a originalidade e a pureza do manuscrito.

22
Filologia Românica UAB/Unimontes

Acadêmicos e Acadêmicas, viram como é rica a história filológi-


ca? Vamos tomar fôlego, pois ainda temos um pouco de caminhada
cultural. Reparem o cuidado em produzir uma capa bonita para os
trabalhos!

Figura 18: Latino no manuscrito


Fonte: http://images.google.com.br/images?gbv=2&hl=pt-BR&q=
imagens+de+manuscritos&sa=N&start=966&ndsp=21

1.1.3 A Renascença

Sabe-se que, nessa época, o interesse pela Antiguidade greco-latina


renasceu na Europa, se bem que nunca tenha deixado totalmente de existir.
Não obstante, antes da Renascença, não se trabalhava sobre os textos
originais dos grandes autores, mas antes, sobre remanejamentos e adapta-
ções secundárias. A descoberta da medicina e do direito romano exigiram
que se tivessem textos merecedores de fé.
No período anterior, não se importavam com esta verdade: os
textos sofriam arranjos e adaptações e os autores da Antiguidade Clássica
eram lidos em manuais de épocas muito posteriores e, de longe, apenas
mostravam a cultura literária greco-latina. Os textos autênticos teriam

23
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

sumido, desaparecidos nas guerras, catástrofes, negligências e esquecimen-


to; e os existentes eram cópias, devidas, na maioria dos casos, a monges, e
espalhadas por bibliotecas dos conventos. Muitas vezes elas estavam
incompletas, sempre inexatas, algumas vezes mutiladas e fragmentárias ou
eram simplesmente fragmentos dos originais. De numerosas obras não há
praticamente autor da Antiguidade cuja obra inteira tenha chegado a nós, e
de muitos livros antigos se tinha uma só cópia, muitas vezes totalmente
incompleta.

Figura 19: Monge escriba medieval.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Média

Mexias-Simon (2009) afirma:

[...] o trabalho que se impunha aos humanistas era,


primeiramente, encontrar os manuscritos que ainda
existissem, em seguida compará-los e tentar extrair a
redação autêntica do autor. Era uma tarefa muito difícil.
Alguns manuscritos foram localizados pelos colecionadores,
outros se perderam. Séculos transcorreram até que se
reunisse tudo que existia. Um grande número de documen-
tos só foi descoberto muito mais tarde, nos séculos XVIII e XIX
e nos chamados Papirus do Egipto, que, ainda recentemen-
te, enriqueceram nosso conhecimento dos textos, sobretudo
da Literatura Grega. Em seguida, foi necessário comparar e
julgar o valor dos manuscritos. Eram, quase todos, cópias de
cópias feitas sobre cópias e essas já tinham sido escritas numa
época em que a tradição já estava muito obscurecida.
Muitos erros foram introduzidos nos textos; alguns copistas
não sabiam ler bem a escritura de seu modelo, anterior, às
vezes, de vários séculos. Há troca de palavras, mudanças de
posição e modificações arbitrárias. por falta de correto
entendimento; os manuscritos podem também ser alterados
por censura, gastos pelo tempo e pelos vermes. A partir dos
humanistas, um método rigoroso de reconstituição foi
estabelecido. Hoje em dia, é possível fotografar os textos, o
que evita novos lapsos. Quando o filólogo tem, diante de si,
várias versões do mesmo manuscrito, é preciso compará-las,
por um método preestabelecido. O trabalho do filólogo é o
de um genealogista.

24
Filologia Românica UAB/Unimontes

A Filologia renasce fortemente com a tradição filológica árabe-


DICAS
islâmica, crescendo, a partir do século IX, e influenciando o Ocidente,
salvando documentos importantíssimos da Época Clássica. O grego e o
latim, depois o hebraico são estudados minuciosamente. A partir dessa
época, surge a edição de textos como pensam os estudiosos modernos. Ela Alguns linguistas
se transforma no principal fundamento do humanismo, na Itália, primeira- contemporâneos acham que a
mente, depois em toda a Europa. No final do século XIII, muitos manuscritos fala é um objeto de estudo
mais importante do que a
são identificados e publicados. No séc.XIV, ressurge o interesse dos estudio- escrita. Talvez porque ela seja
sos para os documentos da Antiguidade. O grande invento de época é a uma característica universal dos
descoberta da imprensa que vem multiplicar, fielmente, os documentos. seres humanos, e a escrita não
(pois existem muitas culturas
Dando continuidade ao nosso estudo, vamos aprender que, que não possuem a escrita). O
mesmo passando tantos séculos, a língua estudada era a escrita e literária, de fato de as pessoas aprenderem
a falar e a processar a
escritores considerados “bons”. Os dados científicos serão considerados ao
linguagem oral mais facilmente
se estudar a veracidade das fontes desses documentos. À Filologia apresen- e mais precocemente do que a
tam-se, então, duas perspectivas de estudo: linguagem escrita também é
outro fator. Alguns acham que
a) uma formal cujo representante foi Júlio César Escalígero (1484- o cérebro tem um "módulo de
1558) que exerceu grande influência, tanto pela disputa mantida com linguagem" inato e que
Erasmo de Roterdã como por suas edições das obras de Aristóteles e podemos obter conhecimento
sobre ele estudando mais a fala
Teofrasto. Seu trabalho intitulado De Causis Linguae Latinae foi visto como a que a escrita. Wikipédia:
primeira proposta de uma gramática latina científica. Como médico, poeta e acessada em 28/8/2009.
humanista, foi o modelo renascentista do sábio, do filólogo na acepção grega
e latina. O termo “filólogo” volta a qualificar os expoentes intelectuais.
b) Outra mais histórica e enciclopédica de José Justo (1540-1609),
filho de Júlio César, promotor da escola holandesa do séc. XVII. Esta última
tendência começa com Guillaume Budé (1468-1540), e Robert Estienne
(1503-1559) e seu filho Henri Estienne (1531-1598). Uma perspectiva ainda
mais formal (língua escrita e literária) surge primeiramente no início do séc.
XVIII em Cambridge, com Richard Bentley (1662-1742).

1.1.4 Os séculos XVII e XVIII

O tempo passa, outras tradições não tão velhas suscitam o interesse


dos eruditos. As outras línguas da Europa começam a despertar o interesse
dos sábios. Surge a primeira gramática do Irlandês no séc. XII, uma do
Provençal no séc. XIII, e várias do Francês, redigidas por viajantes ingleses,
nos sécs. XIV e XV. O Basco já havia sido estudado no séc. X. Todos estes
trabalhos só serão considerados durante a Renascença.
Em 1678, Charles Du Fresne Du Cange (1610-1688) publica seu
Glossarium mediae et infimae latinitatis (Dicionário da Latinidade média e
ínfima). Familiarizado com muitas línguas, Du Cange foi consultado por
todos os lados, e obteve informações por meio de sua correspondência. Sua
forte energia foi em grande parte gasta com a história da França e de
Constantinopla. Para garantir uma base sólida para suas pesquisas, ele

25
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

começou a dominar as línguas dos textos e foi incessante em seus esforços


para aumentar o seu conhecimento do Bizantino Grego e do Baixo Latim.

O Latinitatis Glossarium mediae


et infimae, publicado originalmente por
Charles du Fresne, Sieur Canges (1610-
1688), é um glossário de latim medieval e
latim da sua época. Este livro é, apesar de
sua idade, uma referência para a pesquisa
histórica e linguística do Ocidente
medieval. A edição eletrônica do
Glossarium com base nos arquivos
resultantes da digitalização de imagens e
um modo de texto (codificação em XML
de acordo com o modelo TEI P5) do
Glossarium. Atualmente, apenas o volume
6 do livro (letras O, P, Q, é de cerca de 620
páginas cerca de 6 000 páginas a serem
processados) é processado e disponível. O
aplicativo é o resultado do trabalho de
uma equipe multidisciplinar, incluindo
um objetivo a longo prazo é o de ajudar a
entender melhor a semântica do latim
medieval.

Breves sunt dies hominis ... sola


Aetemitas longa.
(Breves são os dias dos homens Figura 20: Du Cange
Fonte: http://ducange.enc.sorbonne.fr/
... apenas a eternidade é longa.)

Outro estudioso que deixou um legado também importante foi La


Curne de Sainte-Palaye(1697-1781). Ele pesquisou, nos textos medievais, a
história dos trovadores e foi o precursor do estudo comparativo das línguas
românicas.
Queridos Acadêmicos: São muitas informações, mas ainda temos
muito a dizer, assim vocês compreenderão melhor.
Os beneditinos de Saint-Maur-des-Fossés (quer dizer Fossos;
Fossati em Latim Medieval), uma abadia, nos arredores de Paris, fundada em
638 pela Rainha Nanthild, regente pelo seu filho Clóvis II, começaram, em
1733, a publicação da Histoire littéraire de France (História Literária da
França), na qual são analisados e interpretados diversos documentos da
Idade Média.

26
Filologia Românica UAB/Unimontes

Também significativos, foram os estudos de Leibniz. Ele não admitia


PARA REFLETIR
a teoria de que a “língua-mãe” daria origem a outras línguas e deixa claro, a
todos, que os documentos antigos só poderiam ser analisados e interpreta-
dos em comparação com os de línguas modernas.
Em 1660, os gramáticos de Port-Royal, Antoine Arnauld [1612-
1694] e Claude Lancelot [1616-1695] publicaram a Grammaire générale et
raisoné (Gramática de Port Royal), a primeira tentativa mais coerente de
oferecer uma teoria da gramática, com vista a incorporar as propriedades
universais da linguagem humana. Nela, eles defendiam uma filosofia da
linguagem racionalista, oposta à linguagem de modelo empirista, que surgirá
depois. A linguagem seria regida por princípios gerais, que são racionais. É Figura 21:
marcante o encontro tenso da gramática particular produzida até então, Fonte: www.vortex.unb.br/f
frc/news.php
com a filosofia, num contexto em que o latim,
Leibniz e o Pensamento

“desafiado por um vernáculo após o outro como veículo de Quase todas as obras de
produção intelectual, e totalmente inútil fora da Europa Leibniz estão escritas em
ocidental, estava empenhado numa batalha desesperada. francês ou latim e poucas em
Defrontados com a perspectiva iminente da fragmentação alemão, língua que não era
linguística numa escala desconhecida na Europa desde a muito destinada às obras de
partida dos romanos, os eruditos e também o público filosofia. Ortodoxas e otimistas,
reagiram, lançando o foco do interesse sobre o aspecto proclamando que o plano
universal da linguagem” (WEEDWOOD, 2002, p. 96-97). divino fez deste o melhor de
todos os mundos possíveis, um
ponto de vista satirizado por
A luta da obra, então, é a de construir uma gramática que pudesse Voltaire (1694-1778) no
Candide. Leibniz é conhecido
servir a todas as línguas, sem aceitar uma língua específica como sendo
entre os filósofos pela
universal. Assim, seria possível amenizar a fragmentação supracitada, amplitude de seu pensamento
dando, ao mesmo tempo, valor aos vernáculos. Após a publicação da sobre ideias e princípios
fundamentais da filosofia,
mesma, passaram a exigir dos falantes clareza e precisão no uso da lingua-
incluindo a verdade, os
gem: “Ideias claras e distintas deviam ser expressas de forma precisa e mundos possíveis, o princípio
transparente. Sua principal intenção era mostrar que a estrutura da língua é de razão suficiente (isto é, que
nada ocorre sem uma razão), o
um produto da razão” (LYONS, 1979). Sua principal intenção era mostrar
princípio da harmonia pré-
que a estrutura da língua é um produto da razão. A gramática que desejavam estabelecida (Deus construiu o
construir deveria funcionar como uma máquina que pudesse separar, universo de tal modo que os
fatos mentais e físicos ocorrem
automaticamente, o que é válido do que não é. O objetivo era traçar uma
simultaneamente), e o
língua-ideal, universal, lógica, sem equívocos nem ambiguidades, capaz de princípio de não contradição
assegurar a unidade da comunicação do gênero humano. (que uma proposição da qual
se pode derivar uma
contradição é falsa). Teve por
É preciso ainda clarear um pouco mais sobre esta gramática? toda a vida interesse, e
Vamos lá... perseguiu a ideia de que os
princípios da razão pudessem
Quanto à obra em si, a definição de gramática e do objeto de ser reduzidos a um sistema
estudo deles já aparece na primeira página, antes do prefácio, no qual simbólico formal, uma álgebra
ou cálculo do pensamento no
Arnauld e Lancelot (1192, p.3) deixam claro que a gramática é a arte de falar.
qual controvérsias seriam
Falar é explicar seus pensamentos por meio de signos que os homens acertadas por meio de cálculos.
inventaram para esse fim ... Assim, pode-se considerar duas coisas nesses http://gballone.sites.uol.
com.br/hlp/leibniz.html
signos. A primeira: o que são por sua própria natureza, isto é, enquanto sons

27
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

e caracteres. A segunda: sua significação, isto é, o modo pelo qual os homens


DICAS
deles se servem para expressar seus pensamentos. A Gramática de Port-
Royal explicita o conceito de signo como meio, através do qual os homens
exprimem seus pensamentos. A relação pensamento/linguagem era dada
RODRIGUES, Aryon Dall´Igna. por princípios gerais, que se estenderiam a todas as línguas.
A classificação do tronco No desenvolvimento dela, os autores se apegam na base lógica dos
linguístico Tupi. Revista de
pensadores da época, afirmando que há no espírito dos homens três
Antropologia, São Paulo, v.12,
n. 1/2, p. 99-104, jun./dez., operações: conceber (formar um conceito), julgar (afirmar coisas a respeitos
1964. Neste artigo, depois de dos conceitos) e raciocinar (fazer um julgamento a partir de julgamentos já
mencionar algumas noções
estabelecidos). Estas seriam a base da expressão dos pensamentos em todas
sobre parentesco linguístico e
reconstrução de proto-línguas, as línguas, por isso, segundo Weedwood (2002, p.99), “essas operações e as
o autor mostra evidências suas consequências linguísticas são universais, elas podem ser exemplifica-
linguísticas da presença do
das por meio de qualquer língua”.
piolho da cabeça, do bicho-de-
pé e do berne entre os falantes Além disso, Arnauld e Lancelot distinguem dois tipos de palavras: os
de Proto-Tupi na Amazônia objetos do pensamento (nomes, artigos, pronomes, particípios, preposições
ocidental há cerca de 5.000
anos e também dos dois
e advérbios) e o modo do pensamento (verbos, conjunções e interjeições),
primeiros entre os falantes de afirmando a existência de uma ordem natural de expressão do pensamento
Proto- Karíb, assim como da na qual essas palavras são exteriorizadas. Em linhas gerais, a análise feita no
ocorrência da muquirana ou
piolho do corpo e também do
decorrer da obra tem características prescritivas e descritivas ao mesmo
pente (a prática de tirar os tempo. As primeiras aparecem sempre que se referem às regras do bem falar
piolhos com o auxílio do pente sem que seja dada uma explicação plausível sobre a regra. Um exemplo é o
e matá-los entre os dentes. É
um nome que mostra qual a
capítulo sobre os advérbios. A descrição aparece toda vez que os autores da
função básica do pente, ainda gramática se atêm numa análise mais detalhada e comparativa entre línguas,
que este tenha adquirido geralmente latim e francês, com um pouco de grego e hebraico. A utilização
também, entre alguns povos,
uma função nitidamente
de poucas línguas faz com que, em alguns pontos determinados, o texto
ornamental, como os belos pareça apenas conter uma lista de regras do francês e do latim, como é o
pentes das mulheres Ka’apór, caso dos artigos que eles afirmam não se tratarem de uma característica
no Maranhão) entre os falantes
de Proto-Tupí-Guaraní, há
presente em todas as línguas. Os critérios utilizados também são bastante
cerca de 2.000 anos. flutuantes, mas geralmente levam em conta a significação, fato este que a
aproxima da semântica, principalmente no que diz respeito ao conceito de
proposição e de suas relações com as operações mentais.
Deve-se ressaltar, aqui, que não se pode ignorar a contribuição da
gramática filosófica aos estudos linguísticos. Dela é tributária a própria
gramática tradicional, não só na sua divisão e estruturação enquanto
compêndio mas também na apresentação e descrição de fatos gramaticais,
principalmente na classificação e descrição dos sons fundamentais, na
distribuição e classificação das partes da oração, na divisão e classificação
das orações, nas sintaxes de regência, concordância e construção etc. Disso
testemunham os que sobre ela se debruçaram em algum momento de suas
pesquisas.
A Gramática de Port-Royal também exerceu grande influência
entre os estudiosos eruditos de toda a Europa, por mais de dois séculos.
Serviu de base para as gramáticas filosóficas portuguesa e italiana. Em
Portugal, esse corte vem manifestar-se mais tardiamente, no final do séc.

28
Filologia Românica UAB/Unimontes

XVIII. A Academia das Ciências propôs premiação a quem escrevesse a


melhor gramática filosófica. Muitos foram os concorrentes. Jerônimo Soares PARA REFLETIR
Barbosa é considerado o principal representante do movimento.

Antigamente os homens
escreviam utilizando diversos
suportes, tais como: moedas,
mármores, madeira, bronze,
papiros e pergaminhos. Hoje, o
suporte não é tão resistente
nem tão duradouro como os
de antes. O que se utiliza em
larga escala desde o
Humanismo é o frágil papel. A
umidade, a poeira, os fungos, o
sol, os insetos em geral podem
desfazer e destruir a imensa
massa de papel em que está
depositada toda a história da
humanidade, ou seja, aquilo
que lhe é mais caro e precioso.
O corpus que vem sendo
editado é constituído por
documentos eclesiásticos –
Figura 22: BARBOSA, Jerónimo Soares, 1737-1816 Grammatica philosophica da lingua
livros de batismo, casamento e
portugueza ou principios de grammatica geral applicados à nossa linguagem / por J. S. B..
óbito, e livro de tombo – e
Lisboa : Academia Real das Sciencias, 1822. - XIV, 466 p. ; 20 cm http://purl.pt/128/
LiÂngua portuguesa--Gramática-1822/ CDU 811.134.3'36"1822" 811.134.3-112 cíveis: cartas de alforria,
Fonte: http://purl.pt/128/2/l-296-v_PDF/l-296-v_PDF_24-C-R0072/l-296-v_0000_ queixa-crime, inventários,
capa-v_t24-C-R0072.pdf certidões de venda, declaração
de venda, cartas imperiais,
correspondências pessoais,
A gramática filosófica (Grammatica Philosophica da Lingua queixas de defloramento, livro
de notas de compra e venda de
Portugueza ou Principios da Grammatica Geral applicados à Nossa escravos etc.
Linguagem), de Jerônimo Soares Barbosa, foi lançada nos primeiros anos do
séc. XIX (1ª edição, póstuma, em 1822, mas estava voltada para o espírito
filosófico do séc. XVIII, com base na Gramática de Port-Royal (1660). Apesar
de publicada, em 1ª edição, em 1822, é de se deduzir que foi concluída em
1803, uma vez que sua Introdução data de 24 de junho desse ano.]

29
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Vamos refletir sobre um trecho da Gramática de Jerônimo:


DICAS

Normas e Usos em Jerônimo Soares Barbosa: O primeiro


estudo fundamental “a todo homem bem creado”, esclarece, seria o
Pe. Jerônimo Soares Barbosa
(1737-1816), filólogo da gramática da língua nacional, posto que “ainda que não aspire a
português. Bateu-se pela outra litteratura deve ter ao menos a de fallar e escrever correcta-
renovação dos métodos de
mente a sua lingua [...]”. (BARBOSA, 1881, p.XIII). Considera que “o
ensino de então, contra a
pedagogia dos jesuítas, pela meio unico, e o mais geral, para emendar ao povo” dos “vicios da
qual primeiro se ensinava a linguagem, e rectificar a sua pronunciação é o das escolas publicas
gramática latina para, só então,
das primeiras lettras”, “sob a direcção de bons mestres”. (Barbosa,
ensinar-se a do português.
Preconizava que se procedesse 1881, p.38).
primeiramente ao ensino da Nas gramáticas, observa, [...] “há coisas que so os mestres
língua materna para só então
ensinar-se o latim. Sua obra
devem estudar para expplicar a seus discipulos; outras que estes
tem como fundamentação devem apprender, como os usos particulares e idiotismo da lingua; e
teórica a da gramática geral e muitas que devem decorar, como são os paradigmas todos das
filosófica. Ela apresenta, ao
final de cada lição, orientações
partes da oração e regras de suas terminações, conjugações e
aos mestres-escola. Como syntaxe.” (Barbosa, 1881, p. XV e XVI).
homem de seu tempo, (Apud. Normas e usos em Jerônimo Soares Barbosa – uma
malgrado bater-se pela
renovação no ensino, análise crítica e comparativa da Grammatica Philosophica da Lingua
prescreve, em sua gramática, Portugueza ou Principios da Grammatica Geral applicados à Nossa
normas que atendiam a Linguagem, 494p. digitadas, em fase final de revisão, com texto de
interesses sócio-políticos e
culturais. Malgrado pautar-se apresentação do Prof. Dr. Antônio Martins de Araújo, comentada
por princípios ligados à fé por Hilma Ranauro (UFF).
católica, num período
eminentemente missionário,
Soares Barbosa deu
contribuição decisiva para a À época da Gramática de Port-Royal, desenvolve-se um pensamen-
reforma do ensino da língua to para revalorizar e reexaminar a história. Entre as figuras significativas desse
vernácula, especificamente o
período, destacaram-se Giambattista Vico (1668-1744) que escreveu De
português. Nela, Barbosa
antecipa muitas das conclusões constantia philologiae (Sobre a continuidade da filologia) e La Scienza nuova
apresentadas como ovo-de- (A Ciência nova), obras em que ele apresenta a teoria de uma nova ciência,
colombo por alguns estudiosos
cujo objeto seria o mundo histórico, por oposição ao mundo natural. Essa
mais recentes.
http://www.ub.uio.no/uhs/ ciência se confunde com a filologia. Há um vínculo entre filologia – no caso,
sok/fag/RomSpr/mislingbrasil/ estudo das obras como produto da vontade humana – e a filosofia, fundada
ponencias/abstractRanauro.pdf
sobre a razão. A filologia renasce e amplia os seus domínios. Além disso, Vico
publicou, em 1710, o De Antiquíssima Italorum Sapientia (A Antiga
Sabedoria dos Italianos), no qual tentava apresentar a sabedoria dos sábios
jônios e etruscos através de uma análise filológica das palavras latinas.
A filologia renasce como uma “neofilologia” e se preocupa em
estudar textos de línguas modernas, cujos precursores são encontrados entre
os editores das canções que vieram dos séculos XIII e XIV. No final do séc.
XVIII e início do seguinte, há, paralela a uma “filologia clássica”, uma
“filologia germânica”, uma “filologia românica”, seguindo-se estudos
filológicos do eslavo e do inglês.

30
Filologia Românica UAB/Unimontes

1.1.5 O século XIX e a filologia comparada

O Ocidente intensificou os seus contatos com a Índia, só a partir do


século XVI, com a utilização das rotas marítimas, mas nesse primeiro século
de relações mais frequentes entre Ocidente e Oriente, chegaram à Europa
poucas notícias relativas ao sânscrito, as quais não tiveram divulgação, como
as cartas de Filippo Sassetti a seus parentes, amigos e personalidades da
Europa.
As referidas cartas só foram publicadas quase dois séculos mais
tarde, na primeira metade do século XVIII, em Prose Fiorentine, cujo volume
II, parte IV, divulgou 34. Não sabemos se, na época, tiveram muita repercus-
são, mas no século XIX, certamente, foi-lhes atribuída importância porquan-
to foram republicadas e comentadas. Duas cartas tornaram-se famosas:
uma, dirigida a B. Davanzati e outra a Pier Vettori, ou Valori, nas quais fazia
referência às semelhanças que observara entre o sânscrito e as línguas
européias, em particular o italiano, como por exemplo deva? / dio, "Deus",
sarpa? / serpe, "serpente", sapta / sette, "sete", a??a / otto, "oito", nava / nove,
"nove").
O jesuíta francês Gaston Coeurdoux e outros estudiosos fizeram
observações semelhantes quanto às comparações entre o grego e o latim.
Coeurdoux fez uma comparação minuciosa das conjugações do sânscrito,
do grego e do latim, no fim da década de 1760, sugerindo uma possível
relação entre eles. A hipótese ressurgiu em 1786, quando Sir William Jones
deu sua primeira palestra a respeito
das semelhanças entre quatro das
línguas mais antigas conhecidas na
sua época: o latim, o grego, o
sânscrito e o persa. Foi Thomas Young
quem usou pela primeira vez o termo
indo-europeu, em 1813, que se
tornou o termo científico padrão
(exceto na Alemanha) através da obra
de Franz Bopp, cuja comparação
sistemática destas e de outras línguas
antigas deu suporte à teoria.
A Gramática Comparativa
Figura 23
de Bopp, que surgiu entre 1833 e Fonte: wapedia.mobi/pt/Ficheiro:Franz_
1852, é considerada como o ponto Bopp.jpg
de partida para os estudos indo-
europeus como uma disciplina acadêmica, trazendo uma visão mais
historicista dos estudos gramaticais e abrindo perspectivas para o surgimento
dos estudos linguísticos. Bopp destaca elementos morfológicos: trata da
importância das inflexões na conjugação dos verbos, comparando este
fenômeno linguístico em várias línguas distintas.

31
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Bopp preferiu o fenômeno à essência; estudou a língua por si


mesma, através da sua fala e começou por comparar diversas línguas
tradicionais, procurando descobrir seus pontos de intersecção e suas
estruturas mais remotas. Os estudos gramaticais anteriores, que recaíam
sobre o significado, passaram a priorizar o significante, e, aos poucos, a
filosofia da escritura foi se ampliando em linguística da fala, inaugurando-se
assim, com Bopp, uma nova idade nos estudos linguísticos. A gramática
passa a se preocupar mais com o signo, as flexões, as raízes etc., e, segundo
ele, há três tipos de línguas relativamente às flexões e afixos: uma língua
pode ser justapositiva, quando agrega os afixos à raiz, como é o caso do
Chinês e do Basco; pode ser flexiva, quando flexiona internamente o radical,
como no Sânscrito e no Celta; e finalmente, uma soma dos dois casos
anteriores, mistura de flexões e afixações, como ocorre no Árabe. Outra
conclusão é de que o estudo de um sistema linguístico qualquer pode dar-se
em duas direções: ou começa pela palavra (etimologia), ou pela estrutura
(sintaxe) (DOMINGUES, 1991, p.339), ou seja, ou pela palavra, tendo a raiz
como seu elemento irredutível, ou pelas relações que ela estabelece. Bopp,
portanto, se preocupou com o mistério das raízes.
Vários estudiosos começam a afirmar, a partir da Gramática
Comparativa, os conceitos de “parentesco lingüístico” e “protótipo
comum”. Explicando: “duas línguas são aparentadas quando derivam de
uma mesma língua - pertencem, então, à mesma família”’. Ex.:
Indo Europeu pertencem aos ramos:

1.Germânico: alemão, inglês, holandês e sueco etc.


2. Românico, provindo do latim: português, espanhol, francês, italiano etc.
3. Grego
4. Indo-iraniano: sânscrito, persa etc.
5. Eslavo: russo, polonês, theco etc.
6. Celta: gaélico, bretão, gaulês etc.

Outras famílias também são definidas:

1. Camito- semítica: hebraico, árabe, egípcio, etiópio etc.


2. Sino-tibetana: chinês, tibetano etc.
3. Altaica: turco, mongol, mandchu etc.
4. Ugro-fínica: finlandês, húngaro etc.

Ressalta- se, aqui, que, no decorrer do séc. XIX, os estudos filológi-


cos são direcionados no sentido de serem fixados princípios e métodos para
a definição das famílias linguísticas, de uma teoria geral relacionada às
mudanças linguísticas e às relações entre as línguas. Em 1840, surge, pela
primeira vez, o termo filologia comparada ou gramática comparada ou
linguística histórica e comparada.
A corrente literária romântica ou Romantismo contribuiu para que
as línguas da Europa tivessem grande importância no cenário europeu. Os
românticos discordavam que a tradição clássica fosse modelo, em sua

32
Filologia Românica UAB/Unimontes

totalidade, na literatura. Para que isso acontecesse, procuraram conhecer e


valorizar suas próprias raízes, editando textos alemães e estudando e
analisando os dialetos germânicos.
J.G.von Herder (1744-1803) escreveu, em 1772, Abhandlung über
den Ursprung der Sprache (Ensaio sobre a origem da linguagem), oportuni- B GC
dade que teve de estreitar relações entre a língua e a mentalidade de um GLOSSÁRIO E
povo. Johann Gottfried Herder insistiu também no caráter natural evolutivo A F
da linguagem, que teria surgido da imitação dos sons da natureza e seria
Línguas indo-europeias
capaz de evolução e crescimentos contínuos. resultam de transformações
Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, Barão von Humboldt históricas de um idioma
hipotético, falado há mais ou
(1767-1835), baseando-se na obra de Bopp (que havia apresentado, com
menos 4.500 anos, por um
dados precisos, a aproximação do sânscrito com as línguas europeias), povo que hoje denominamos
procurou estudar a linguagem de um ponto de vista global e estabeleceu ários, dos quais pouco se
conhece. Deu-se o nome indo-
uma teoria geral da linguagem. Atento às diferenças estruturais das diversas
europeu porque os atuais
línguas, declarou que cada uma delas tem sua própria estrutura e que essa idiomas que se originaram dela
estrutura mostra e condiciona a maneira de pensar e de manifestar-se de são falados na Índia e em
quase toda a Europa. (Freitas,
cada grupo étnico. Deu, também, importantes contribuições à filosofia da
J.Távora. (1969) Pontos
linguagem, à teoria e prática pedagógica e influenciou o desenvolvimento da essenciais de gramática
filologia comparativa. Foi reconhecido como sendo o primeiro linguista histórica. Col. Champagnat).
europeu a identificar a linguagem humana como um sistema governado por
regras, e não simplesmente uma coleção de palavras e frases acompanhadas
de significados. Essa ideia é uma das bases da teoria da Linguagem, de Noam
Chomsky (gramática transformacional).
Vico, Herder e Humboldt, então, proporcionaram o desenvolvi-
mento e a fixação das concepções da linguagem como uma atividade do
homem e em criação permanente. Também a linguística geral teve a fixação
de objeto e método que diferenciou daqueles que primeiramente preocu-
param os especialistas do séc. XX. O vocábulo “gramática” – estudo da
estrutura da linguagem – passou a ser substituída por “lingüística”, o que
implica, por sua vez, que a língua considerada seja a falada, susceptível de
transformações e independente de suas manifestações escritas.
É na Alemanha que se encontram os fundadores da filologia
comparada. A segunda versão da obra de Vico foi publicada em 1827, em
francês e sem o título original Principe de la philosophie de l’histoire (Princí-
pio da filologia da história). As ideias de Vico eram conhecidas pelos
filólogos alemães.
Schelling (1775-1854), ao discorrer sobre sua teoria, afirma que é
de competência da filologia perceber e expor a história das obras de arte e
das ciências, enquanto August Boeckh (1785-1867) apresenta um ponto de
vista filosófico do objeto da filologia: “os fatos históricos são em si um saber
cujo conteúdo (a ideia) cabe à filologia precisar e explicar”. Ao lado de
Boeckh, estão Friedrich Von Schlegel (1772-1835), que estudou o contraste
entre a literatura clássica e a literatura romântica e expandiu a teoria da
"ironia romântica", ou seja, a consciência da lacuna existente entre o ideal

33
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

artístico e as possibilidades e meios para atingi-lo, e Jacob Grimm, que fez


estudos relacionados à fonética.
Na França, vale destacar François-Juste-Marie Raynouard (1761-
1836), F.Michel (1809-1887) e Paulin Paris (1800-1881), que estudaram
documentos medievais e fizeram as primeiras interpretações globais.
Karl Lachmann (1793-1851) publica em 1824 sua edição do Novo
Testamento e, em 1850, a de Lucrécio. São obras que foram acompanhadas
por prefácios explicativos sobre o método utilizado para a classificação de
manuscritos e o estabelecimento de textos. Esse método só vai ser usado,
cientificamente, no final do século XIX, quando se faz o estema das várias
lições de um manuscrito, o que facilita a fixação de critérios de valor e
reconstituição do texto. Este método vigora, até hoje, com pequenas
modificações.
Entre 1815 e 1850, o conceito de filologia estende-se ao “estudo
geral” das línguas, ao estudo de documentos escritos e sua devida transmis-
são, e ainda, à ciência universal da literatura.

1.1.6 De 1860 ao início do séc.XX

Foi uma época de grandes realizações no âmbito da Filologia.


Vários documentos de civilizações diversas foram reconstituídos e publica-
B GC dos. O espírito positivista e científico do final do século contribuiu muito
GLOSSÁRIO E
para o restabelecimento do texto e suas fontes, e ainda, para uma especiali-
A F zação dos vários ramos da filologia.
Vocábulo estema: s.m. Coroa,
grinalda. Árvore genealógica; Gröber (1844-1911) reconstruiu, fundamentado em comparações
raça, linhagem./Zoologia Um românicas em seus Vulgärlateinische Substrate romanischer Wörter, em
dos olhos simples de um
inseto, ocelo
ALLG, toda uma série de palavras latinas vulgares, cuja existência foi
confirmada mais tarde. Seu estudo formou o núcleo do Dicionário
Etimológico das Línguas Românicas, redigido mais tarde por Meyer-Lübke,
no qual as palavras que levam asterisco, ou seja, reconstruídas, formam
aproximadamente 10% das 10.000 que encabeçam os artigos. Em 1880,
Gröber fez uma distinção entre uma “filologia real” (Sachphilologie), que se
ocupava dos textos, e uma “filologia pura” que estudava os documentos
antigos da língua. Surge, então, uma divisão entre o que é da língua como tal
e o que é literatura como expressão. Em relação à língua e a linguagem, assim
se expressou:
E se uma língua ou a linguagem fosse imutável, não haveria
absolutamente possibilidade de filologia. É aqui que se
reconhece, sem ambiguidade, o campo da atividade
específica do filólogo: o discurso e a língua não compreendi-
dos, ou que se tornaram incompreensíveis. Somente nesse
caso, o investigador do passado de um campo de realizações
espirituais tem necessidade de ajuda do filólogo. Aliás, não é
senão junto a ele que encontrará ajuda: somente ele [o
filólogo] possui a chave que permite abrir a significação do

34
Filologia Românica UAB/Unimontes

escrito mudo, somente ele faz com que os tempos passados


nos falem e que as línguas desconhecidas nos sejam
compreensíveis; a filologia é, portanto, a ciência do discurso
desconhecido. [Trad. a partir do francês]. (Apud: Filologia e
Linguística Portuguesa, n. 2, p. 5-18, 1998. Filologia e
Linguística: Enlace, Divórcio, Reconciliação, Pierre
Swiggers).
A seguir, ressaltam-se as publicações das obras de Hermann Paul
(1846-1921), Gastón Paris (1893-1903) e Bertoni (1878-1942), que se
preocupavam com o substrato étnico, daí proveio a linguística francesa, com
Ferdinand Saussure, que era sociólogo, indo-europeista. Seus discípulos,
entretanto, já serão romanistas.
Também foram publicadas várias revistas dedicadas aos estudos
filológicos, tais como a Revista de Filologia Românica (Zetschrift Jür
Romanische Philologie), e a Revista de Língua e Literatura Francesa,
Neofilólogo, Revista Belga de Filologia e História, Filologia Moderna, Cultura
Neolatina e România. Os artigos nelas publicados relatavam sobre o
estabelecimento da edição e da interpretação – linguística ou histórica – de
textos escritos em línguas antigas.

1.1.7 Século XX

A Alemanha foi o berço dos grandes filólogos do século XX. Erich


Auerbach (1892-1957), Curtius (1886-1956), Karl Vossler (1872-1949) e
Spitzer (1887-1961). Todos eles procuraram identificar o fundamento da
filologia como relação particular existente entre a obra literária e o leitor.
Revalorizaram a filologia ao buscar nos textos um testemunho da humanida-
de, desde quando ela surgiu e participa da história. Auerbach conceituou “
filologia românica” como “um dos ramos do historicismo romântico, no
qual o fato histórico da România era visto como uma totalidade semântica”.
Spitzer preocupou-se com a estética da língua. Estudou a etimologia com a
estilística e, como Vossler, estudou a história da língua com a história da
literatura. A diferença entre ambos é apenas formal. Diferenciam a língua
literária da língua de um falante qualquer. Uma é objeto de estudo de
literatura, a outra é a língua normal.
A partir de 1900, surgem diversas ciências autônomas, com
princípios e métodos próprios, preocupando-se com os fatos linguísticos e
literários, e determinando a área do campo de estudos linguísticos. Os
estudos de filologia comparada foram de grande valia para a formação de
ideias da nova ciência, a linguística. Os primeiros comparatistas foram muito
presos à ideia clássica de que a língua escrita e literária era a mais importante
e que ela deveria ser objeto de estudo. Logo, reconheceram que as letras
eram símbolos e que representavam sons. Até então, a língua falada ainda
não tinha sido estudada. A gramática, por sua vez, tinha um caráter normati-
vo, estabelecendo “regras” para uso “correto” da linguagem.

35
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Os estudiosos da língua preocuparam-se em estabelecer a distinção


PARA REFLETIR entre língua e dialeto, em razão da valorização das línguas europeias. As
transformações das línguas não eram mais vistas como um processo de
decadência delas. Fatores de ordem política e social contribuíam para que as
É preciso, também, levar em
conta a afetividade, o estado línguas e certos dialetos sofressem mudanças. Surge a dialetologia ou
emocional do falante. Esse geografia linguística, que é a apresentação dos fatos linguísticos em forma de
fator, que se estende ao estado
mapas. Esses estudos mostraram que as palavras, como as pessoas, migram e
físico, produz modificação na
fala, incluindo o som e o assim se modificam.
significado. O erro na fala seria Inicia-se, então, o estabelecimento da distinção entre língua e
consequência de estado
emocional. Para Freud, seria
dialeto. Tem-se a língua com um dialeto que foi alçado ao status de língua,
resultado de Nebengedanken isto é, a rigor todo falar é dialeto, nas suas diversas variantes, que são,
(pensamentos laterais). Os conforme Mexias-Simon (2009):
objetos passam a ter
denominações em relação a 1 - de estrato social – para classificá-la, usam critérios extralinguísti-
outros objetos já existentes e cos (econômicos ou de escolaridade) – estudos diastráticos;
também em consequência da
2 - de espaço – estudos diatópicos – localização espacial das
afetividade. É o caso de
sambódromo, em relação a línguas;
hipódromo e autódromo. O 3 - de geração – estudos diafásicos – fase da vida em que o indiví-
nome original, Passarela do
Samba, não agradou. Em
duo se encontra;
relação a sambódromo, 4 - de situação (formal ou informal, culta, semiculta, coloquial etc) -
formaram-se fumódromo, estudos diassituativos.
namoródromo, tendo o radical
-dromo passado a significar Portanto, os dialetos não pertencem à língua, eles são a língua. Um
‘lugar onde’, ao invés de sistema é formado por mais de um elemento que tem características comuns
‘corrida’ ( Maria Lucia Mexias-
e algumas divergências.
Simon, 2009).
Em 1933, S.Étienne, em Défense de La philologie (Defesa da
filologia), definiu a filologia como “estudo insubstituível e irredutível do texto
na sua relação interna com o autor”. Mais tarde, N.E.Enkvist apresentou a
ideia de que o estudo da linguagem comportaria três ciências: a) crítica
literária, estética, histórica e sociológica; b) linguística descritiva; c) filologia
com o trabalho de crítica textual e a estilística. Atualmente, determina-se
que o objeto específico da filologia é o estabelecimento de textos, criando
uma confusão entre esse conceito e um dos seus aspectos, a ecdótica, de
que trataremos adiante.
A história literária e a crítica literária obtiveram métodos próprios de
estudos, sendo que a crítica mantém estreito relacionamento com outras
ciências, como a antropologia, a sociologia e a psicologia. Já a estilística
cuida da interpretação de texto. O universo semântico está na semântica e
na semiologia.
Evidencia-se, aqui, que o termo filologia, ainda hoje, é usado com o
sentido de estudos literários, enquanto nos países anglo-saxões é frequente a
referência aos estudos linguísticos.
Segundo Segismundo Spina, a filologia também tem funções:
a) função substantiva, que seria a explicação do texto, restituição à
sua forma genuína através dos princípios da Crítica Textual e preparação
técnica para publicação. Tem caráter erudito;

36
Filologia Românica UAB/Unimontes

b) função adjetiva: a filologia também se interessa por uma série de


B GC
problemas, que não estão no texto, mas deduzem-se dele, nas etapas da E
GLOSSÁRIO
investigação literária: determinação de autoria, biografia do autor, datação A F
do texto, sua posição na literatura do autor e da época bem como a sua "Formidável", o primeiro
avaliação estética (valorização) perante os textos da mesma natureza; significado é "pavoroso,
diabólico, horrendo,
c) função transcendente: o filólogo agora não se concentra no texto,
assustador". Mas, depois, essa
nem deduz aquilo que não está no texto, mas procura transpô-lo. O texto palavra passou a significar algo
deixa de ser um fim em si mesmo da tarefa filológica para se transformar na como "maravilhoso, excelente,
fantástico".
reconstituição da vida espiritual de um povo ou de uma comunidade em
"Bárbaro". Os gregos e os
determinada época. A individualidade ou presença do texto praticamente romanos chamavam bárbaros
desaparece, pois o leitor, abstraindo do texto, apenas se compraz no estudo todos os estrangeiros. Bárbaro
também é um indivíduo dos
que dele resultou. Vocação ensaística do filólogo, em busca da história da
bárbaros, povos do Norte da
cultura. (SPINA, 1977, p.77). Europa, que, por sinal,
Para facilitar o estudo da Filologia, diversos autores fazem a seguinte invadiram parte do Império
Romano. A palavra também
classificação: Filologia Clássica; Filologia Românica e Filologia Portuguesa.
assumiu o significado de "rude,
sem civilização, inculto,
selvagem". No Brasil, essa
Filologia Clássica
palavra possui ainda o sentido
de "muito bom, excelente".
Reafirmando o que já abordamos, que a filologia tem como Muita gente de mais de 40
anos continua usando essa
objetivo conhecer a civilização e a cultura de um povo através de seus palavra com esse sentido muito
documentos escritos, tendo como principal instrumento a língua em que comum na época da Jovem
estes documentos foram produzidos, valemo-nos de Silveira Bueno (idem, Guarda.
"Sofisticado": usada com o
p. 22) para dizer: “quantas forem as civilizações deixadas em certas e sentido de "chique, muito
determinadas línguas, tantas e quantas serão as filologias”. chique, de extremo bom gosto,
de alto nível", essa palavra
Conforme Ilari (2002), a partir do Humanismo, muitos estudiosos
aparece nos dicionários como
começaram a se interessar pela cultura clássica surgindo, assim, um especial derivada de "sofisticar",
gosto pelos textos produzidos pelos gregos e romanos. Tais documentos sinônimo de "sofismar", ou seja,
"falsificar, adulterar, deturpar". E
eram tidos como fontes de informações sobre a época a que se referiam os
um sofisma nada mais é do que
textos antigos, o que exigia um conhecimento muito grande das línguas "argumento falso formulado de
antigas. A esse interesse pelas literaturas antigas, chamou-se Filologia propósito para induzir alguém
a erro".
Clássica, que busca analisar e desvendar a civilização greco-romana através
"Relevar": "Relevar um fato"
do estudo da produção literária deixada por seus poetas e prosadores. De pode ser "destacá-lo", dar-lhe
acordo com Silveira Bueno (1959), este estudo poderá ser realizado tanto importância, salientá-lo, ou
"deixá-lo de lado, ignorá-lo,
independentemente um do outro como também, comparativamente,
atenuar sua importância". A
confrontado os aspectos semelhantes nas línguas e literaturas desses povos. palavra simplesmente tem
sentidos quase opostos. E mais
um que quase passa
Filologia Românica despercebido: "tornar a levar,
levar de novo".
"Percalço" que significa
Vocês aprenderam que, durante a expansão do Império Romano,
"problema, obstáculo,
houve a dialetação do latim dando origem a diversas línguas modernas, as dificuldade", como é mais
línguas românicas, que, por sua vez, desenvolveram uma literatura própria. usada hoje. Mas também pode
significar "lucro, vantagem,
Com o passar do tempo, essas línguas foram modificando-se, também, no
provento, rendimento,
limite de se tornarem incompreensíveis aos leitores modernos, necessitan- proveito".

37
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

B GC do, portanto, de estudo para a sua interpretação. Nasce a filologia românica,


GLOSSÁRIO E responsável por buscar a compreensão de civilizações distintas, mas com
A F origem em comum – o latim – como a italiana, a espanhola, a francesa, a
romena, o provençal e a portuguesa, através de seus documentos e produ-
"Sanção": pode significar ção literária.
"aprovação" (a sanção que o
presidente dá a uma lei, por
ex.). Mas também pode Filologia Portuguesa
significar "castigo, punição" (as
sanções impostas aos que
desrespeitam o código de A Filologia Portuguesa aparece no século XII com o poema “A
trânsito, por ex.). Canção da Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós, considerado o texto mais
antigo da literatura portuguesa. Nessa época, a língua falada era o galego-
português, devido à integração linguística e cultural existente entre Portugal
e a região da Galiza. As primeiras produções literárias portuguesas estão
registradas em galego-português e, do ponto de vista literário, constituem
um período denominado de Trovadorismo. Mas, há de se lembrar que a
Galiza é anexada ao território espanhol, e gradativamente essa região vai
perder a sua influência sobre Portugal, sendo que, no século XV, o português
se separa do galego, tornando-se uma língua independente.
Caros Acadêmicos e Acadêmicas, vocês já estudaram um pouco do
latim, no primeiro período desse curso, mas vamos aqui recordar algumas
contribuições dessa língua que fundamentam os estudos de nossa Língua
Portuguesa e a Filologia, que a resgata e faz a sua preservação.

1.2 DIACRONIA DAS LÍNGUAS ROMÂNCIAS

As mais antigas inscrições latinas datam aproximadamente do


século VI a.C. A tradição literária, porém, inicia-se em Roma no século III a.
C., com o aparecimento dos primeiros escritores: Lívio Andronico, Ênio,
Plauto e Terence. O período de ouro do latim clássico, cujos principais
representantes são Cícero e Vírgílio, abrange aproximadamente um século,
das últimas décadas da República ao fim do reinado de Otaviano (Augusto),
primeiro imperador romano. Antes dessa época, o latim, porém, já apresen-
ta dois aspectos que, com o correr do tempo, se tornam cada vez mais
distintos: o clássico (língua escrita, literária, um tanto artificial) e o vulgar
(falado pelas classes inferiores da sociedade romana).
O latim, primeiramente um simples dialeto de pastores e agriculto-
res, foi falado no Lácio (Latium), pequena região às margens do rio Tibre,
onde, depois, se edificou a cidade de Roma, na Península Itálica. Passou-se
depois a ser a língua dominante da península, e foi levada pelos romanos
para os países por eles conquistados, onde o adotaram, por fim, para língua
própria, as populações vencidas e romanizadas.

38
Filologia Românica UAB/Unimontes

Ao se propagar, o latim vai se modificando e surgem então as


DICAS
chamadas Línguas Românicas, neolatinas ou latinas, línguas que represen-
tam continuações históricas do latim vulgar falado na România (nome que
designava o conjunto de territórios ocupados pelos romanos e onde se falava
o latim). Elas não descendem do latim, mas são os diversos aspectos A variação no número das
assumidos pelo latim na sua evolução através dos territórios sujeitos a Roma línguas românicas decorre da
diferença de critérios usados
ou aos romanos, cuja língua era o latim e que conservam plenamente o seu
pelos estudiosos. Alguns se
vestígio no vocabulário, na sintaxe e, sobretudo, na morfologia. As línguas baseiam no critério literário
românicas vivas são: francês, português, italiano, espanhol, catalão, romeno, (considera-se como língua
aquela variedade que possui
sardo, provençal e reto-românico.
farta literatura); outros utilizam
o critério político (consideram-
se como um grupo de dialetos
de uma mesma língua aquelas
variedades que se encontram
em uma dada região, que
constitui uma unidade política)
e outros, ainda, fundamentam-
se no critério linguístico
(consideram-se como dialetos
de uma língua aquelas
variedades que possuem certas
características linguísticas em
comum). CHAVES DE
MELO,G. Iniciação à filologia e
Figura 24: Legenda: laranja-português; verde-espanhol; azul-francês; amarelo-italiano; à linguística portuguesa,1981).
vermelho-romeno (cores escuras indicam língua oficial; cores claras, língua de uso comum).
Fonte: www.tiosam.net

Afinidade latino-românica:
No quadro abaixo, podemos observar a proximidade de uma língua
com a outra:
Quadro 1: O latim e as línguas românicas
LATIM ESPANHOL FRANCÊS ITALIANO PORTUGUÊS
octo Ocho Huit Otto Oito
aurícula oricla oreja Oreil Orecchia Orelha
nocte noche Nuit Notte noite
oculu oclu ojo Oeil Occhio olho
cantare cantar chanter cantare cantar

Conforme Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) e Maria da


Conceição Reis Teixeira (UNEB), no texto Contribuições da Filologia para o
ensino de línguas, percebe-se que os resultados apresentados nas línguas
românicas são muitos próximos, tendo ocorrido os seguintes fatos:
1- no encontro das consoantes oclusivas "c" e "t', tem-se no espanhol
a palatalização do grupo "ct" em "ch" "([tS])"; no francês, a palatalização do
primeiro elemento oclusivo, passando a "it"; no italiano, a perda do primeiro
elemento oclusivo e a geminação do segundo, "tt"; e no português, com o
mesmo processo do francês, "it".
2 -Nos casos do encontro formado pela oclusiva mais líquida, "cl",
têm-se os seguintes resultados: em espanhol "j" "([z&])"; a palatalização do
elemento oclusivo no francês, "il"; a palatalização no italiano "cchi ([ki])"; a
palatalização no português "lh ([? ])";

39
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

3 - no exemplo em que consta o verbo latino cantare, tem-se: em


espanhol e português, há a apócope da vogal final e; em italiano, há a
manutenção da forma latina; e, em francês, ocorre um fenômeno típico
desta língua, ou seja:
4 - quando a consoante oclusiva "[k]" está diante da vogal "[a]" em
início de palavra, ocorre a palatalização, passando a "[S]", a vogal final sofre
apócope e a vogal a passa a e.
Quando se tem conhecimento desses resultados e um conheci-
mento básico da língua latina, assimilam-se melhor as realizações nas línguas
românicas. Toda palavra em que ocorra o que foi aqui exemplificado, exceto
para aquelas que não seguem este paradigma, os resultados serão os
mesmos.
Abaixo, no quadro 2 se constata certa similitude nas formas
apresentadas. É clara a influência da língua latina, pois foi dela que as formas
nas outras línguas se estabeleceram. Observa-se, entretanto, que, nestes
casos, há as particularidades de cada língua, principalmente quanto à
pronúncia (que envolve a fonética e a prosódia, por exemplo). As línguas
estão sempre em processo de intercâmbios, de empréstimos, mesmo entre
línguas de origens aparentemente distintas, pois as línguas evoluem, se
diferenciam, tomam empréstimos, são substituídas, dominam e são
dominadas.

Quadro 2: O latim, o inglês e as línguas românicas.


LATIM INGLÊS ESPANHOL FRANCÊS ITALIANO PORTUGUÊS
bicycle Bicicleta bicyclette bicicletta bicicleta
problema problem problema problème problème problema
paupertas poverty pobreza pauvreté povertà pobreza
translatio translation traducción traduction traduzione tradução
admirabilis admirable admirable admirable admirable admirável

O Império Romano, que teve sua florescência entre os séculos III


a.C. e V d.C., expandiu-se por uma boa extensão da Europa, África e Oriente
Próximo. Essas ocupações tinham um caráter principalmente político-
econômico, mas também ajudaram a difundir o latim, a arte e a cultura
romana.
Para se compreender as transformações ocorridas na língua latina,
citam-se três causas: a histórica, a etnológica e a política.
A causa histórica deve-se ao fato de as conquistas romanas
acontecerem em diferentes épocas; um exemplo disso é a distância tempo-
ral entre a conquista da Sardenha e da Dácia, que durou aproximadamente
quatro séculos. Segundo o professor Ismael Coutinho, as primeiras terras
romanizadas receberam a linguagem mais popular, enquanto as últimas
conheceram um latim mais erudito. Isto se deu pelo fato de a língua literária
ser mais recente do que a popular.

40
Filologia Românica UAB/Unimontes

A causa etnológica pode ser notada através dos diversos povos de


raças e idiomas diversos dominados pelo Império Romano. Um exemplo
disto é a Península Itálica, onde eram falados muitos outros idiomas, como o
etrusco, o céltico, o ligúrio. Esses idiomas constituem os substratos linguísti-
cos, que abordaremos adiante.
A razão política é explicitada pelas invasões e imposição cultural e
linguística que deram origem a dialetos mistos. É a causa mais importante,
porque a unidade linguística se mantém forte enquanto um povo está
politicamente sujeito a outro. Quando isso ocorre, a língua inicia um
processo de divergência, e as diferenças aumentam à medida que os elos
entre o país dominante e o país dominado se tornam enfraquecidos. Desse
modo, originam-se os dialetos, que, posteriormente, podem transformar-se
em línguas independentes, como ocorreu com o latim.
Além dessas, outras causas são consideradas: diversidade do meio,
extensão territorial e topografia irregular de vários domínios romanos,
criando um relativo isolamento geográfico dos grupos entre si; o desenvolvi-
mento de unidades políticas separadas; as circunstâncias educacionais; as
diferenças dialetais na língua dos colonos latinos; os substratos linguísticos
originais; os superstratos linguísticos subseqüentes e as influências dos
adstratos.

1.2.1 Origem: as denominações Romanus, Romania

Caros Acadêmicos e Acadêmicas, a Seção intitulada “As


Denominações Romanus, Romania” apresenta um breve percurso histórico
do Império Romano e da língua latina, desde o início da expansão territorial
romana, por intermédio de violentas guerras. As conquistas do Império
Romano contribuíram para a divulgação do latim como língua oficial do
Império, que, ao entrar em contato com as diferentes famílias linguísticas dos
povos dominados, deram origem a novas línguas, denominadas então de
línguas românicas, isto é, as línguas formadas a partir do latim vulgar.
Estudaremos ainda o significado das denominações Romanus e România e o
surgimento destes termos.
Vamos lá! Não se sabe ao certo, mas a origem do Estado romano se
deu entre os séculos X ou IX a.C., porém, a tradição histórica fixa a data de
753 a.C. como marco da fundação de sua capital, a cidade de Roma. É
importante lembrar que a história de Roma se divide em três fases, e estas
correspondem às três formas de governo que os romanos tiveram. A primeira
é a fase da monarquia, que perdurou desde a origem do Estado até o ano de
509 a.C. A segunda é a República, cujo início se deu em 509 a.C. e se
estendeu até 27 a.C. A terceira fase é o Império, que vigorou de 27 a.C. até o
ano de 476 d.C.

41
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Entre os séculos V a.C. e II d.C., o Estado romano conseguiu uma


fabulosa expansão territorial, quase sempre às custas de sangrentas ações
militares. Por exemplo, contra Cartago, Roma empreendeu três sangrentas
guerras que duraram mais de cem anos e ficaram conhecidas como Guerras
Púnicas. Após obter a vitória definitiva sobre Cartago, a região da Tunísia,
terra dos cartagineses, tornou-se território romano, com o nome de África.

Figura 25: Os domínios romanos no século IV


Fonte: www.ime.usp.br

Cerca de trinta anos depois da vitória sobre Cartago, Roma já


dominava quase toda a Europa mediterrânea, alguns territórios da África do
Norte e ainda da Ásia Menor. Deu-se, então, o nome de România ao
conjunto dos territórios sujeitos a Roma, isto é, os territórios que se uniram
linguística e culturalmente por intermédio do latim e da cultura romana. O
termo Romania formou-se a partir de romanus, isto é, habitante de Roma,e
os povos latinizados ou romanizados (povos que assimilaram o latim vulgar e
a cultura dos romanos) que habitavam essas regiões se autodenominavam
romanus para distinguirem-se dos bárbaros, ou seja, daqueles que não
agiam segundo os costumes romanos e tampouco falavam dialetos latinos.
Foi a partir de romanus que se formou o advérbio romanice, ou “à maneira
ou costume romano”, que, por sua vez, originou um novo advérbio denomi-
nado romance, que se aplicava a qualquer texto ou composição escrita em
uma das línguas vulgares. Podemos dizer que o romance nada mais é do que
o prenúncio do surgimento de uma nova língua, que só receberia esta
denominação após o surgimento dos primeiros escritos literários.
O termo românia é empregado, modernamente, em toda área
ocupada por línguas de origem latina, sendo que os limites da România atual
e os do antigo Império Romano não coincidem pois, por um lado, através

42
Filologia Românica UAB/Unimontes

dos movimentos de propagação do catolicismo e das grandes navegações, as


línguas românicas chegaram a novos continentes, chegando a atingirem o
status de línguas oficiais como o português, o espanhol e o francês; por outro
lado, antigas províncias romanas, como a Britânia, atualmente não utilizam o
idioma de origem latim. Entre os fatores que contribuíram para que o latim
não se mantivesse como a língua falada em todo o Império, podemos citar: a
romanização superficial, a superioridade cultural dos povos vencidos e a
superposição maciça de populações não-romanas.
Sobre esses fatores é que passa-se a tratar agora.

Figura 26: A România atual


Fonte: http://www.ime.usp.br

1.2.2 Os substratos, os adstratos e os superstratos linguísticos

Elementos linguísticos dos povos que chegaram depois de consoli-


dado o Romance e que o influenciaram. Os mais importantes são o germâni-
co e o árabe.

O substrato é a língua que não sobrevive ao contato com outra


língua, isto é, a língua usada antes por uma população e que foi abandonada
e suplantada por outra, por vários motivos: conquista, posse ou colonização
da terra por outro povo. Temos como exemplo os falares célticos utilizados
na Gália antes da conquista romana, nos territórios que hoje constituem a
França e foram substituídos pelo latim.
O superestrato é a língua utilizada por povos conquistadores que,
introduzida na área conquistada, não substitui a língua dos povos conquista-
dos, podendo, com o passar do tempo, vir a desaparecer, deixando-lhes
alguns traços. Depois das grandes invasões bárbaras, as línguas germânicas

43
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

acabaram por desaparecer das antigas províncias romanas, mas exerceram


sobre o romance uma influência léxica e sintática que não é de se menospre-
zar.
Adstrato é a língua que coexiste com outra no mesmo espaço
territorial, influenciando-a e dela recebendo influência, porém nenhuma
delas é assimilada pela outra. Diz-se, por exemplo, que o grego e o latim
foram adstratos, no período em que Roma dominou a Grécia. O espanhol,
também, é adstrato do português brasileiro (tomado este como referência
nas regiões da fronteira Brasil / Uruguai).
É a partir desses elementos que ocorrerá a dialetação do latim
vulgar, que se transformará no português, galego, castelhano, catalão,
provençal, francês, rético, sardo, italiano, dalmático e romeno, línguas ditas
Românicas, Neo-latinas ou Novilatinas.

REFERÊNCIAS
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CIZESCKI, Fernanda. “Entre Chomsky e Port-Royal: uma análise da leitura


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44
Filologia Românica UAB/Unimontes

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Revista: Literatura em Debate V.3, n.4, p. 91-98, 2009.

Sites: Google, UOL e www.filologia.org.

45
2
UNIDADE 2
O TRABALHO FILOLÓGICO E MÉTODOS

filólogo.
Queridos Acadêmicos, depois de uma longa caminhada pela
história da Filologia, vamos aprender, agora, como é feito o trabalho do

O TRABALHO FILOLÓGICO E MÉTODOS

Conforme dissemos na introdução, nesta unidade, apresentaremos


os passos fundamentais de um Trabalho Filológico: inicia-se pela Crítica
Textual e suas fases fundamentais: recensio; collatio codicum; estemática;
emendatio. Depois, teremos a etapa de reconstituição de texto, o estudo
dos] vários aspectos da chamada Crítica Histórico-Literária, em que estuda-
remos o que seria a autenticidade; datação; fontes; circunstâncias; sorte;
unidade e integridade; linguagem do texto; avaliação crítica, cuja finalidade
é procurar esclarecer os pontos obscuros e eliminar as lacunas no conheci-
mento de dados sobre o texto. Para finalizar o trabalho filológico, o autor terá
em suas mãos a escolha do tipo de edição que gostaria que seu trabalho fosse
publicado, ou seja, Edição: crítica; diplomática; paleográfica; outros tipos
de edição. Abordaremos, ainda, de forma sucinta, os Métodos da Filologia
Românica: histórico-comparativo; idealista; geografia linguística; “palavras
e coisas”; onomasiológico; neolinguístico ou espacial; teoria das ondas;
afins.

Vamos, então à caminhada filológica!

Conforme já foi dito, os documentos escritos formam o campo de


estudo da filologia. Assim, o trabalho filológico consiste na reconstituição de
um texto, total ou parcial, ou a determinação e o esclarecimento de algum
aspecto relevante a ele relacionado. Há a reconstituição tanto na sua
existência material e histórica como na função de testemunho documental e
literário.
Compreende-se desde a Crítica Textual, cujo objeto é o próprio
texto, até as questões histórico-literárias, como a autoria, a autenticidade, a
datação etc, e o estudo e a exegese do pormenor.
Através deles, se conhece o pensamento de um povo e a sua
produção literária; porém, o filólogo deve estar preparado em diversas áreas
do conhecimento, para que seja capaz de desempenhar as seguintes
funções:
1) Determinar por meio do estudo, análise e interpretação dos
manuscritos as diversas versões do texto.

46
Filologia Românica UAB/Unimontes

2) Interpretar e corrigir os possíveis erros encontrados nos textos e


restaurá-los em toda a sua máxima perfeição.
3) Esclarecer e explicitar os pontos obscuros dos manuscritos,
completando-os em suas falhas, restituindo-os ao seu estado tal qual os
deixou o seu autor em sua época.
4) Determinar a autenticidade de textos anônimos ou autoria
duvidosa, colocando-os em sua época devida.
Karl Lachmann (1793-1851) estabeleceu os princípios científicos
do trabalho filológico. Depois o método foi aplicado à filologia germânica e à
filologia românica. Antes dele, Giorgio Pasquali (1842-1952) completou as
ideias de Lachmann, um texto era reproduzido com base em apenas um
manuscrito, que muitas vezes nem era o melhor, apenas o mais próximo e
acessível ao editor, sendo as variantes apresentadas com critérios subjetivos.
Também faz parte do trabalho do filólogo a análise do texto de
diversos pontos de vista: morfológico, sintáxico e semântico bem como o
estudo do objeto de que o texto trata. Ex. um trecho da análise do manuscri-
to de Theotonio Joze Juzarte – “Diário da Navegaçaõ” de 1769. Este
exemplo faz parte da uma síntese do capítulo 3, da dissertação de mestrado
intitulada: Diário da navegação: reprodução e Estudo das variantes da
Edição “Uspiana Brasil 500 anos”, defendida em 2006, por Maria Aparecida
Mendes Borges, UFMT, doutora em Filologia e Língua Portuguesa pela USP.
Esta disponibilizou essa edição para comemorar os 500 anos de descobri-
mento do Brasil.

Ms: (dól.109v L(s) 7,8) seu semblante feyo, o nariz chato, os olhos
“resgados” para baixo. (Ed.: (p.81 L(s) 25,6) seu semblante feio, o nariz
chato, os olhos)

Ed.: (p.81 L(s) 25,6) seu semblante feio, o nariz chato, os olhos
[vesgados] para baixo.
* Erro paleográfico – a letra “r” minúscula é semelhante à letra “v”
atual, também minúscula. O cronista não descreve os índios como “vesgos”,
mas de olhos “resgados para baixo” – é possível que ele esteja se referindo à
maquiagem dos olhos. (Crítica textual: variantes semânticas, sintáticas e
lexicais na edição “Uspiana brasil 500 anos”* BORGES, Maria Aparecida
Mendes** ).
Legenda : *(asterisco) marca o comentário de cada variante. Ms.
= Manuscrito. Ed. = edição uspiana

47
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

2.1 CRÍTICA TEXTUAL

O objetivo fundamental desta primeira etapa é a reconstituição do


texto. “Emendar” o texto para aproximá-lo ao máximo da forma que
recebera do próprio autor. Consta das seguintes fases:
a) Recensio: foi denominada recensio (“recenseamento”) por
Lachmann; é a operação inicial da edição crítica. Consiste no levantamento
de todos os códices existentes da obra a ser publicada. Destaca-se, aqui, a
tradição direta da indireta. A direta consiste nos manuscritos (do próprio
autor, chamados de “autógrafos”, ou de copistas, chamados de apógrafos)
ou edições impressas da obra. A indireta é constituída de todos os documen-
tos que podem auxiliar na leitura ou interpretação desse texto, tais como as
fontes, versões, alusões, glosas, paráfrases, imitações, as traduções, as
citações, os comentários etc. Os dados da tradição indireta são considerados
de grande utilidade para a compreensão do texto.

Figura: Folio 292r do Book of Kells, que contém o texto


que abre o Evangelho segundo João.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3dice

Com o recensio, obtém-se diversos resultados: um manuscrito


único (codex unicus), ou uma só edição de um texto impresso (editio
princeps), ou vários manuscritos do mesmo autor (códices plurium), ou ainda
várias edições. Nos manuscritos da Antiguidade Clássica, feitos de papiro ou
de pergaminho, o trabalho de recensio precisa de condutas específicas,
porque eles estão, há muitos séculos, distante de seus autógrafos. Cada
edição, à época, só dispunha de um exemplar, escrito à mão, e outros
volumes também. Os copistas erravam muito em seus trabalhos não só pelo
cansaço, má leitura, distração, e até por conta própria.

48
Filologia Românica UAB/Unimontes

Ressalta-se que é necessário muita atenção para a época em que B GC


esses textos foram produzidos, se antes ou depois do aparecimento da GLOSSÁRIO E
imprensa, pois antes, dispunha-se somente de cópias de cópias, e qualquer A F
intenção de restauração do texto seria resultante de um processo difícil e Os códices: (plural de codex,
complexo, através do método conjectural; depois, os textos interessam palavra em latim que significa
como realidades dinâmicas nas quais se mesclam, de muitas formas, diversas "livro", "bloco de madeira")
eram os manuscritos gravados
perspectivas de estudo, daí se procura estudar os materiais e as técnicas de em madeira, em geral do
escrita, as condições históricas e sociais que interferem em sua produção. período da era antiga tardia até
a Idade Média. Manuscritos do
b) A Colação, ou Collatio Codicum: inicia-se esta fase quando
Novo Mundo foram escritos
terminada a distinção entre testemunhos coletados (no caso dos manuscri- por volta do século XVI. O
tos) ou colação das edições (quando sob tradição impressa). Aqui, compa- códice é um avanço do rolo de
pergaminho, e gradativamente
ram-se diversos códices ou edições da tradição direta, tendo por base um
substituiu este último como
manuscrito ou edição (texto ou exemplar de colação, primeira edição em suporte da escrita. O códice,
livro), ou seja, há a comparação de manuscritos para extrair as variantes. por sua vez, foi substituído pelo
livro impresso.
Toma-se um deles como texto de base ou exemplar de colação, cuja
Os manuscritos podem ser do
execução exige cuidados muito especiais, pois é necessário que ele seja o próprio autor, chamados então
que mais se aproxime do original. Por isto, é preciso verificar o estado de “autógrafos”, ou de
copistas,chamados “apógrafos”
conservação do texto e a sua história externa, pois desta verificação é que
resultará a escolha do texto-base. No caso de se ter o original manuscrito, por
exemplo, ou edições impressas em vida do autor, a preferência será dada a
um deles, de acordo com critérios estabelecidos para cada caso. Como
resultado, elege-se o testemunho mais completo e se eliminam os inúteis ao
estabelecimento do texto crítico, por serem coincidentes (ou cópias de
outros testemunhos subsistentes) ou por outros motivos, como, por exem-
plo, por serem edições contaminadas ou deturpadas. Através dos confrontos
dos “lugares críticos” e do exame sistemático dos “erros comuns”, segue-se
ao estabelecimento do grau de independência e parentesco dos testemu-
nhos conservados. Realizada essa etapa de confrontação e escolha de um
manuscrito mais correto, passa-se à classificação dos manuscritos ou das
edições impressas. A esta operação da crítica textual se costuma denominar
eliminatio codicum descriptorum (eliminação dos códices copiados).
c) Estemática; é a fase da crítica textual que registra, classifica,
interpreta e organiza os exemplares remanescentes, com o objetivo de
definir as relações hierárquicas (descendentes, ascendentes ou colaterais)
deixando claras todas as relações de dependência que há entre cada um
deles e os demais. A construção desta árvore genealógica dos manuscritos e
edições parte do original ou arquétipo e termina nos testemunhos mais
recentes. Quando só há uma edição impressa da obra e quando o original
está perfeito, e não houver edição em vida do autor, a estemática é dispensá-
vel.
d) Emendatio ou Correção do Texto: é o nome dado ao conjunto das
operações que visam à correção do texto. A exatidão resultante dessa fase e
dos acertos do filólogo nas escolhas indicará o valor e a qualidade do texto
final.

49
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

2.2 CRÍTICA HISTÓRICO-LITERÁRIA


DICAS
Fase para esclarecer possíveis pontos obscuros, eliminar lacunas no
conhecimento de dados a respeito do texto etc. São usados critérios internos
fornecidos pelos próprios documentos e critérios externos, como citações,
Alguns Termos da Crítica alusões, referências etc. A crítica histórico-literária consistirá em determinar:
Textual a) autenticidade: a autoria de manuscritos normalmente não é
clara, e ao filólogo cabe a missão de estudar e dizer se o texto é autêntico ou
Autógrafo: original escrito
? não. Ex. As Cartas Chilenas foram publicadas de forma anônima, por razões
pelo próprio autor. históricas, e o estudo do crítico Afrânio Peixoto demonstrou que a carta
prefácio foi de autoria de Cláudio Manuel da Costa e as outras doze foram de
Apógrafo: cópia derivada
?
do original. Tomás Antônio Gonzaga.
b) datação: precisar a data, o ano ou, pelo menos, a época em que o
Idiógrafo: original escrito
?
sob o controle direto do autor.
documento foi escrito. Tais dados serão importantes para a compreensão do
conteúdo, forma, finalidade e outros aspectos do documento em análise,
Apócrifo: de falsa
? pois um escrito é um reflexo de sua época.
procedência ou de fonte
duvidosa. c) fontes: pesquisam-se as citações diretas e as indiretas, as alusões,
os possíveis plágios, as imitações, ou toda e qualquer influência de outros
Testemunhos: cópias
? autores sobre o texto. O estudo das fontes leva à reconstituição, pelo menos
manuscritas ou impressas de
uma obra. parcial, de documentos e obras perdidas. Ex.: Nos gramáticos latinos há a
influência da Ars Grammatica, de Dionísio Trácio. Até a terminologia
Lição: a leitura de uma
? gramatical latina é tradução, decalque das fontes gregas correspondentes e
passagem determinada do
texto transmitido por um nem os exemplos são mudados.
testemunho. d) circunstâncias: são todas as variáveis que “estão ao redor” de
algo, ou seja, o contexto em que está inserida a obra. Situar um documento
? Edição príncipe ou
princeps: a primeira edição em seu contexto histórico, cultural, social e político pode facilitar a compre-
impressa de uma obra. ensão de sua mensagem, esclarecer tópicos e alusões, além de integrar o
autor e sua obra segundo as diversas correntes filosóficas, literárias, políticas
? Vulgata editio: edição
popular. etc. Ex.: O conhecimento das circunstâncias político-sociais da época
permitiram justificar o anonimato da obra Cartas Chilenas, conforme Basse-
Obra autêntica: do próprio
?
tto (2005, p. 54), (...) A situação político-social explica o anonimato da obra,
autor que a assina.
bem como o próprio título; era preciso satirizar, verberar a opressão,
protestar contra o exagero dos impostos, contra a “derrama” injusta, mas
também, se possível as represálias, através do disfarce de alguém suposta-
mente distante, em Santiago do Chile.
e) sorte: aqui, o filólogo procura rastrear a sorte, boa ou má, do
documento. O êxito de um texto manuscrito se avalia pelo número de
cópias, pelas citações, referências, estudos, alusões etc. Ex.: a Bíblia foi o
primeiro livro impresso e é o mais publicado em todas as línguas.
f) unidade e integridade: era possível em um manuscrito acrescen-
tar textos e também suprimir-lhe uma parte menor ou maior; estudando esse
ângulo, o filólogo verifica a integridade da obra, isto é, se está inteira, íntegra
e completa.

50
Filologia Românica UAB/Unimontes

g) linguagem do texto: através do estudo da linguagem do docu- B GC


mento em análise, o filólogo pode obter diversas informações para o GLOSSÁRIO E
conhecimento mais aprofundado do próprio texto. A F
h) avaliação crítica: o último ponto desta fase, onde o filólogo O Arquétipo é o manuscrito
avaliará criticamente a obra sob duas perspectivas: seu valor documental e existente ou reconstituído que
se interpõe entre o manuscrito
seu valor literário. Ex.: na obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães e o original. Para melhor
Rosa, há diversas informações, implícitas, sobre a fauna e a flora da região entendimento das
descrita, os usos e costumes, as crenças e rotinas daquela população. denominações usadas até
então, entende-se por
i) exegese do pormenor: para completar o trabalho filológico, é “arquétipo” o manuscrito que
necessário determinar os detalhes ou os pormenores que o leitor não mais se assemelhe com o
conseguir entender com clareza, ou que exige um estudo com maior original, podendo ter existência
real ou ser um texto ideal;
aprofundamento. Para tanto, aplicam-se os princípios da hermenêutica, a passa a ser considerado o
ciência da interpretação; à prática dessa ciência, dá-se o nome de exege- original das cópias subsistentes.
se[(do grego εξήγηση ), do verbo “eu conduzo, guio, explico, interpreto”)], As cópias do original são
denominadas “apógrafos” e o
que esclarece as alusoes obscuras, verifica a autenticidade e correcao das texto que está entre o
citacoes, os erros historicos, se houver, e explicitacao das expressoes tipicas, arquétipo e um grupo de
topicos nao claros por interpolacoes ou supressoes. Justificara, tambem, as manuscritos, “subarquétipo’. Já
“variantes” são versões
aparentes ou reais incoerencias textuais e outros problemas semelhantes. diferentes de uma palavra, ou
Ha uma exigencia de que o pesquisador tenha conhecimentos de ciencias pequeno número de palavras,
afins, e do contexto proximo e remoto. ocorrentes em manuscritos
diversos da mesma obra.
“Versão” vai se referir às
2.3 EDIÇÃO diferentes redações do texto,
enquanto “lição” ou “leitura”
consiste na variante escolhida
Após o trabalho filológico, o autor fará ou não a publicação e pelo editor do texto. Os erros
constituem elementos de
escolherá que tipo de edição lhe é mais conveniente para atingir os seus
provas para detectar as
objetivos. relações de parentesco entre
Entre as edições possíveis temos: códices transmitidos de
determinada obra, entretanto,
nem todos os erros servem
2.3.1 Edição Crítica: é o momento mais difícil do trabalho filológi- para relacionar ou definir uma
tradição literária.
co. É reproduzir o melhor texto possível que veio com muitas variações.
Para fazer uma edição crítica, é necessário ter pelo menos duas versões da
obra independentes da vontade do escritor. Uma edição crítica pode ser
definida como um ponto de partida, mais do que como um termo de
chegada, para a publicação de textos, em edições correntes, escolares ou de
divulgação, destinadas a um público amplo. “Edição crítica” é a que procura
determinar o texto perfeito, – confrontando manuscritos ou edições antigas,
a vida do autor, anotando variantes, – e, além disso, desfaz as abreviaturas,
quando é o caso, moderniza a pontuação, corrige os erros tipográficos,
interpreta os passos obscuros, podendo ainda substituir o sistema ortográfico
por outro mais moderno, – mas tudo isso respeitando, cuidadosamente, a
língua, as formas, a fonética do tempo e do autor. Para o filólogo, a edição
deve conter:

51
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

a) Introdução: deve indicar os problemas encontrados e as


soluções dadas na crítica textual, os critérios adotados em suas diversas
etapas; o conspectus siglorum, conjunto das siglas indicativas dos diversos
códices; das diversas edições ou editores e das abreviaturas mais usadas;
PARA REFLETIR informações, como as colhidas no estudo histórico-literário, selecionadas de
acordo com a importância dos esclarecimentos em relação à compreensão
do texto.
b) Texto reconstituído; as variantes que foram encontradas formam
Edição de um manuscrito com
as mesmas características o “aparato crítico” (parte de uma edição crítica que contém a história da
gráficas do texto original. Neste gênese do texto, anotações críticas ou estratos de outras versões; são ainda
tipo de edição, o paleógrafo
registradas todas as variantes, ainda que se trate de lições singulares), no
deve ler os manuscritos antigos
(normalmente papiros e rodapé de cada página, com a indicação do códice ou documento em que
pergaminhos) atribuir-lhe uma cada variante se encontra. Conforme o caso, acrescentam-se os resultados
data e um local de edição ou
da hermenêutica, como interpretações, comentários, notas e os esclareci-
produção. Em regra, as edições
paleográficas dizem respeito a mentos obtidos pela exegese do pormenor. Dependendo do assunto, um
textos antigos escritos em grego glossário ajudará muito na compreensão do texto.
e latim. O editor paleógrafo
2.3.2 Edição Diplomática: consiste na “reprodução tipográfica do
deve conhecer os diferentes
estilos dos copistas e ser capaz original manuscrito, como se fosse completa e perfeita cópia do mesmo na
de identificar os períodos em grafia, nas abreviações, nas ligaduras, em todos os seus sinais e lacunas,
que os textos foram escritos.
inclusive nos erros e nas passagens estropiadas” (SPINA, 1977, p. 78).
Deve-se notar que nem todos
os copistas são fiáveis, pois Atualmente, está em desuso porque a reprodução fotográfica tem tomado o
alguns eram sobretudo seu lugar (esta tem, contudo, alguns inconvenientes também).
desenhadores que não sabiam
ler o que copiavam, 2.3.3 Edição Paleográfica: transcrição de um manuscrito antigo
produzindo erros que se ([...])., mais perfeita que a reprodução fac-similada, porque ressalta particu-
repetiam de cópia em cópia.( laridades do texto e do material que só um perito pode descobrir.
Dicionário de Termos
Literários, coord. de Carlos 2.3.4 Outros tipos de edição: com a tecnologia em expansão, vão
Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, surgindo outras formas de reprodução do texto: litografia, fotografia,
http://www. fcsh.unl.pt/edtl ).
fototipia, por meio de programas e equipamentos computacionais.
2.3.4.1 Edição comentada: aquela em que há explicações, notas e
esclarecimentos sobre termos técnicos ou específicos, vocábulos polissêmi-
cos, alusões etc.
2.3.4.2 Edição escolar: para facilitar e adequar ao nível a que se
destina, muitas vezes são suprimidos itens considerados inconvenientes e a
obra perde na sua integridade e valor.
2.3.4.3 Edição popular: destinada ao público em geral. Impressa
em papel mais barato, composição cerrada e formato compacto, para
diminuir o custo de produção e venda.
A diferença entre a edição crítica e as outras edições é o número de
textos. A edição crítica é pluritextual, e as outras edições são monotextuais.
Cabe ao filólogo a busca da edição mais fiel sempre.
Caros Acadêmicos, vamos agora aprender, em linhas gerais, sobre
os Métodos que podem ser utilizados no trabalho filológico.

52
Filologia Românica UAB/Unimontes

2.4 MÉTODOS DA FILOLOGIA ROMÂNICA

Desde a época da biblioteca de Alexandria, surgiu a preocupação


em preservar a cultura e o passado, quando foram compiladas as obras
antigas da literatura grega, principalmente de Homero. Entretanto, só a
partir de 1500, com a Renascença, é que cresce, de fato, o interesse dos
estudiosos pela história cultural do seu país. Há um interesse pela filologia
dando origem à história literária, porque no Oriente começava a despertar o
desejo de preservação do seu passado, que, por sua vez, remetia à
Antiguidade greco-latina. Ao humanista cabia a tarefa de descobrir os
manuscritos que ainda existiam, compará-los e tentar obter o texto original
do autor.
Para fazer esse resgate, o estudioso conta com alguns métodos de
trabalho. Uns métodos são mais adequados, produtivos; outros trazem
pequena contribuição. Assim, o recurso é a aplicação de mais de um método
e confrontação dos resultados obtidos. Vejamos a seguir, sinteticamente, os
mais conhecidos.
2.4.1 Método histórico-comparativo - de grande valia, com
condições ideais de estudo para a reconstrução do léxico do latim vulgar e
das línguas românicas, também eficiente nos estudos das línguas germânicas
e eslavas ou grupos de línguas genealogicamente afins. Parte de fatos
comprovados em textos observados nas línguas estudadas. Processo de
trabalho: recolhem-se os dados nas línguas com a mesma origem; faz-se a
comparação entre elas a fim de encontrar a forma originária, os fenômenos
de metaplasmos, verificar-lhes o significado, a formação de novos campos
semânticos e o motivo ou os motivos das formações e outros estudos. Ideal
para os trabalhos na fonética, na morfologia, no léxico e questões afins. Não
ideal para o estudo da sintaxe, cujo motivo seria a dificuldade de comprovar
a regularidade e a frequência das correspondências em que o método se
fundamenta, porque a sintaxe é mais sujeita às particularidades não só
individuais como coletivas.

Verbo deixar: Glossário do Cancioneiro da Ajuda (V. Lusitana, V.


XXII, n. 1-4, 1920 C.Michaelis de Vasconcelos). Derivou “deixar”
supondo * delaxare. Com os metaplasmos: delaxare > delaixar >
deleixar > deeixar > deixar; que se apoia-se nas formas desleixo e
desleixado. Conclusão: tais alterações são comuns na evolução normal
dos vocábulos em português.Port.: deixar – tem seu registro a partir do
séc. XV variante da língua falada – leixar com caráter mais erudito, se
arcaizou. Disleixo e desleixado – derivados de laxare, acrescido de outro
prefixo – dis- ou de mais ex – mais antigos. Vocábulos semanticamente
afins, eruditos, em Português, com o étimo laxare: laxação, laxante, laxar,
laxativo, laxidão, laxiorismo, laxiorista, laxiorístico, laxismo, laxista e
laxo.

53
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

2.4.2 Método Idealista: foge dos modelos propriamente filológi-


cos, por ter estrutura de caráter filosófico e de linguística geral. Tinha seu
centro de estudos relacionado com a valorização de quanto de individual e
criador há na língua; o descobrimento do elemento artístico, estético e
espiritual que há em toda manifestação da linguagem, valorização da
estilística e da sintaxe frente ao excessivo influxo da fonética, e por último, a
colocação da História da literatura e da língua no mesmo nível.
Segundo Walther Von Wartbug, em Evolution et structure de la
langue française, o método idealista, apoiando-se em módulos históricos,
linguísticos e descritivos, toma como ponto de partida os fatos linguísticos
sociais e individuais, relacionando a língua com os fatos sociais, políticos e
literários do país. A língua é expressão da cultura e da “mundividência” do
povo que a usa.
Desde os seus primeiros momentos, o método foi objeto de duras
críticas, provenientes, em grande parte, de autores positivistas, que tinham
ressalvas quanto ao aspecto criador e individual da língua, assim como a
concepção da língua como produto estético, reflexo de uma determinada
cultura. De acordo com Iordan (1967, p.204-205) “o erro fundamental do
idealismo linguístico, do qual se desprendem de modo natural os outros, é a
negação do caráter lógico da língua, e na importância excessiva do elemento
estético. Chegando-se a confundir língua com arte e, consequentemente,
Linguística com a Estética.”
Ainda, outros estudiosos afirmam que a contribuição do método
idealista dá resultados inexatos e inconcludentes porque não há contato
direto com os fatos linguísticos; parte de fatos não são levados em considera-
ção em todos os seus aspectos, nem há relacionamento com um número
grande de causas; são selecionados por princípios não muito claros.
2.4.3 Método da Geografia Linguística: ocupa-se com a situação
em que uma língua se encontra num determinado momento, em localida-
des ou em regiões previamente escolhidas. Não utiliza documentos escritos
como objeto de sua pesquisa, mas investiga sobretudo a linguagem falada.
Conforme Câmara Jr (1981, p. 94), a geografia linguística é a técnica
mais moderna de pesquisa na área da dialetologia e consiste no levantamen-
to de mapas, de cartas geográficas, que indicam a distribuição geográfica de
cada traço linguístico dialetal.
A organização do método consiste na caracterização exata de suas
etapas: elaboração dos questionários; melhores meios de aplicação deles;
seleção das regiões ou das localidades a serem pesquisadas, de acordo com
os objetivos propostos; definição do tipo e número de informantes, e outras
variáveis. Tem como resultados da pesquisa os atlas linguísticos. Os atlas
linguísticos obedeciam a rigoroso planejamento. Limitavam-se a uma área
geográfica que pudesse ser estudada e estabeleciam-se normas para
determinar o objetivo pretendido e a execução das pesquisas de campo para

54
Filologia Românica UAB/Unimontes

coletar os dados. Depois de reunir os dados de todas as regiões do território,


procedia-se a seu processamento, até a elaboração e publicação do atlas
respectivo.
Vários foram os atlas planejados, nem todos realizados ou concluí-
dos, e sua metodologia variou bastante, particularmente em face da
experiência dos que se foram realizando.
Para Bassetto (2005), a contribuição do método da geografia
linguística para o estudo das línguas românicas é muito valiosa, apesar do seu
caráter unilateral que recolhe apenas os dados linguísticos instantâneos. Não
registra aspectos e vocábulos satíricos, familiares e afetivos por serem de
caráter sintético. Tem o mérito de possibilitar uma visão geral da situação
atual da língua, além de realizar o ideal neogramático de estudar a língua
viva. Seus estudos mostraram que as palavras se chocam, migram, arcaízam-
se, renascem ou desaparecem, demonstrando que o fator determinante em
todo esse processo é o aspecto semântico, cuja busca fez nascer outros
métodos de pesquisa. Ex.: em Port. ferrolho do latim verruculum. Port. /v/
inicial não passa a /f/, ferrolho. Pela etimologia popular, ligou-se a ferro
(metal em que é fabricado) daí a mudança /v/ - /f/.
Segundo Santiago e Dalpian (2006), as pesquisas de campo feitas
através da geografia linguística proporcionaram maior compreensão do
processo de evolução histórica das formas linguísticas. Assim, deduziram-se
que as regiões mais afastadas dos grandes centros apresentam uma resistên-
cia maior às variações, enquanto as regiões centrais e mais desenvolvidas
culturalmente aceitam melhor as inovações linguísticas.
Ex: O Atlas Linguístico da França (ALF) publicado em Paris entre
1902 e 1910 pelo linguista suíço Jules Guilliéron (1854-1926) registra 30
expressões para “avarento” e uma só para “rico” no Galo – românia. Lá há
cerca de 200 expressões para “avarento” e 80 para “rico”.

O Projeto Atlas Linguístico do Brasil tem por objetivo geral a


descrição do português do Brasil con-siderando os espaços geográficos
e as variáveis sociais gênero, faixa etária e grau de escolaridade, a partir
da coleta de dados tomados a 1.100 informantes, distribuídos por 250
localidades brasileiras, dentre as quais se incluem as capitais de Estado
(exceto Palmas e o Distrito Federal), observando-se a representação de
todas as regiões. É coordenado por um Comitê Nacional de que
participam Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA, Jacyra Andrade
Mota (UFBA), Abdelhak Razky (UFPA, Ana Paula Antunes Rocha
(UFOP), Aparecida Negri Isquerdo (UFMS), Cléo Vilson Altenhofen
(UFRS), Maria do Socorro Silva de Aragão (UFPB/UFC), Mário Roberto
Lobuglio Zágari (UFJF) e Vanderci de Andrade Aguilera (UEL). O
"corpus" em constituição resulta da aplicação sistemática de
Questionários Linguís-ticos que recobrem as áreas fonético-fonológica,
semântico-lexical, morfossintática, pragmática, e incluem, ainda,

55
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

amostras de falas coletadas em discurso semidirigido e na leitura de texto.


O produto final do Projeto deverá atender aos objetivos e finalidades da
Geolinguística, área em que se insere, especificamente trazendo um
mapeamento do português do Brasil, apresentando as particularidades de
áreas e permitindo, com o traçado de isoglossas, o estabelecimento de
uma divisão dialetal do Brasil no tocante ao português brasileiro. A isso
acrescentam-se: (i) a contribuição para a formulação de políticas de
ensino-aprendizagem da língua materna integradas à realidade de cada
área e tendo em vista a diversidade regional; (ii) o fornecimento de dados
para ampliação do volume de informações constantes de léxicos, glossári-
os e dicionários gerais; (iii) a indicação de fatores linguísticos com reper-
cussão na história do povoamento do país; (iv) a explicitação de interfaces
dos estudos geolinguísticos com outros ramos do conhecimento científico.
(ANEXO)

2.4.4 Método “wörter und sacher” (palavras e coisas): “Palavras


e coisas” traz o que há de vivo na linguagem. Há necessidade de se conhecer
o objetivo designado por determinado termo, a fim de se captar seu signifi-
cado. “Conhecimento das coisas fica mais fácil para se chegar ao significado
correto e originário com que a coisa foi primeiramente nomeada”
(BASSETTO, 2005, p.79). Sabendo-se a natureza, as medidas, a forma, o uso
etc dos objetos, é possível fixar a origem e a história das palavras com as quais
esses mesmos objetos são designados. Estabelece a etimologia e até a
biografia das palavras. Destaque à Semântica. Tornou os estudos filológicos
mais objetivos.
Segundo Ilari (2002, p.31), esse movimento buscava a verdadeira
etimologia de uma palavra. Há necessidade de um estudo minucioso da
realidade que ela designa e dos conhecimentos que a cercam. Os estudiosos
da língua deveriam considerar com mais interesse as “coisas”, em oposição a
outros movimentos que dedicavam atenção quase que exclusivamente às
“palavras”. Para ilustrar o estilo de pesquisa desse movimento, Ilari exempli-
fica com a palavra “fígado” e de seus cognatos românicos (esp. hígado,
fr.foie, it. Fegatto, cat. e prov. fetg e ). De acordo com o autor, estas palavras
são a tradução exata da palavra latina iecur, entretanto, não é possível traçar
entre esta e aquelas uma derivação fonética regular. Não se conhecia a
“coisa” chamada ficatum. Descobriu-se, depois, que a coisa etimológica
estava no “hábito dos grupos engordar patos e porcas com figos para que o
fígado desses animais ficassem maiores e melhores para o consumo”.
“Fígado engordado com figo”. (lat. ficum, port. figo), os gregos importaram o
nome e o produto, iecur ficatum – por braquissemia ficou apenas ficatum
que tornou o étimo das formas românicas em substituição a iecur. Com o
passar do tempo, apenas a segunda parte da expressão (ficatus) sobrevive,
passando a significar genericamente o “fígado”. A dificuldade fonética foi o
exame das designações românicas que vêm de ficatum, proparoxítona,
recente influência dos gregos.

56
Filologia Românica UAB/Unimontes

2.4.5 Método onomasiológico: com objetivos semânticos e


lexicológicos, estuda as dominações, os diversos nomes dados a um objeto,
animal, planta, conceito, individualmente ou em grupo, dentro de um ou de
variados domínios linguísticos, com os aspectos vivos e as forças criadoras da
linguagem.
Segundo Ilari (idem, p.31), o método onomasiológico “consiste no
levantamento de todas as expressões que designam um mesmo objeto ou
conceito”. Esta linha de pesquisa leva a representar o léxico “como um
conjunto de ‘campos semânticos’, estruturados por relações de sinonímia e
posição”. Tem em comum os métodos de geografia linguística e o de palavras
e coisas; não foi criado por um só pesquisador, pois ele se desenvolveu aos
poucos. Ver a cultura do povo, cuja língua se estuda, costumes, ocupações,
instrumental, crenças e crendices, moradia – sua mundividência. Segue
caminhos contrários à etimologia do significante para os significados. – da
história da palavra, desde a época mais antiga até os dias atuais, explicando
as diversas influências sofridas pelos vocábulos, os cruzamentos semânticos,
vitalidade e frequência de uso.
Para Bassetto (2005), esse método teve uma grande contribuição
para os estudos da linguagem ao permitir identificar a cultura de um povo
através do estudo de seu léxico, ou seja, permite sentir a linguagem viva,
traduzindo a vivência cultural de um povo.
2.4.6 Neolinguístico ou Espacial: este método apresenta o modo
pelo qual a história dos diversos aspectos das línguas deixa seus traços no
espaço. A partir dos dados da Geografia Linguística, mascara relações
cronológicas entre os vários fenômenos linguísticos. Conforme Bassetto
(2005), havendo palavras diferentes em fases cronológicas distintas para um
significado, a forma da área mais afastada ou de acesso difícil costuma ser a
mais antiga. O método se apresenta como normas (norma – corresponde aos
fatos);
a) áreas afastadas: dificuldade de acesso: interposição de monta-
nhas e outros acidentes geográficos.
b) formas de regiões periféricas são mais antigas que as correspon-
dentes centrais;
c) são mais antigas – palavras conservadas em áreas mais amplas
que as correspondentes, de áreas mais restritas;
d) regiões de latinização mais tardia: conserva formas mais antigas
(especialmente em relação à Itália);
e) palavras desaparecidas, arcaizadas, menos usuais são mais
antigas.
Ressalta-se que as normas de área são muito esquemáticas.
Carecem da abrangência e da precisão necessárias. Os fatos linguísticos não
podem se reduzir à fórmula rígida. Há necessidade de se observar as grandes
variações provocadas por fatores sociais e estilísticos dos diversos estratos.
Os fatos contrários ao que elas estabelecem não são tão raros. Embora

57
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

ajudem a determinar as características gerais e as tendências das línguas e


dialetos românicos, suas normas carecem da abrangência e da precisão
necessárias, e sua contribuição especifica foi mais negativa que positiva.
2.4.7 Método da Teoria das Ondas (Wellentheorie): a contribui-
ção do método não abrange a totalidade do fato linguístico; apenas o
observa e o acompanha no espaço, mas não explica sua natureza ou as
causas múltiplas que podem produzi-lo. As inovações linguísticas se
propagam como ondas, irradiadas continuamente de centros geográficos
humanos de prestígio, que se cruzam e entrecruzam com frequência,
Relaciona-se com a geografia linguística. Combinado com elementos da
Geografia Linguística, da Linguística Espacial e de outros métodos pode ser
útil à Filologia Românica.
Caros Acadêmicos: as principais linhas metodológicas entrecru-
zam-se e, combinadas, se auxiliam mutuamente. Da geral se concebe outras
mais específicas. Cada estado da língua é continuação de um anterior e, por
sua vez, encerra os germens que o tornarão um novo estado linguístico. Se a
filologia encerra os estudos possíveis sobre uma língua ou grupo de línguas,
para tanto vai necessitar, muitas vezes, do fio condutor constituído por sólida
base linguística.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Queridos Acadêmicos,
Chegamos ao fim de mais uma disciplina e, como sempre, nessa
etapa, chega também a avaliação. Este é o melhor momento para pensarmos
em um trecho da música de Beto Guedes (nascido montes-clarense), o qual
contém muita sabedoria: “A lição sabemos de cor, só nos resta apren-
der.” Será que aprendemos?
Naturalmente, não queremos essa resposta agora, mas ao longo do
nosso curso. Esperamos que vocês tenham lido e aproveitado muito desse
conteúdo e utilizado os Fóruns para tirar as dúvidas e conversar sobre os
temas pertinentes ao curso, pois através destes momentos é que construímos
a verdadeira aprendizagem.
Estamos convictos de ter apresentado apenas um breve relato da
Filologia Portuguesa nos últimos anos, relato este que ainda há de ser
completado e retificado futuramente. Uma investigação mais extensa sobre
a pesquisa filológica no Brasil exigirá não apenas a incorporação de dados de
outros estudos, tais como os locais, regionais ou estrangeiros, mas, também,
um rastreamento minucioso das publicações da área no país e no exterior.
Na impossibilidade de incluir neste texto informações obtidas através de
todos esses instrumentos, deixamos aqui esta contribuição e externamos-
lhes o desejo de continuidade deste trabalho, pois sabemos que muito terá
sido deixado de se expor, pela exiguidade natural do tempo e da regra de
espaço.

58
Filologia Românica UAB/Unimontes

Os trabalhos filológicos precisam de muitos pesquisadores,


infelizmente não ainda em número suficiente para suprir todas as carências.
Na verdade, a Filologia, no Brasil, ainda não se recuperou de todo do
impacto provocado pela introdução da Linguística, porque ainda ocupa um
lugar marginal nos cursos de graduação, ficando como apêndice das
disciplinas "Filologia Românica" ou "História da Língua Portuguesa". Tal
condição suscita a ideia errônea de que a preocupação com a “fidedignida-
de dos textos é relevante apenas em relação a textos medievais ou renascen-
tistas, ou seja, textos que remontam à época da tradição apenas manuscrita”:
a preocupação com a autenticidade do texto é, também, fundamental
mesmo quando se trata de obras que datam já de depois da imprensa. Uma
amostra dessa falta de preocupação com o texto moderno é descrita por
Marlene Gomes Mendes (1986) em seu trabalho sobre a fidedignidade dos
textos nos livros didáticos no Brasil: demonstra a pesquisadora “as diversas
deturpações e mutilações que os livros didáticos fazem ao reproduzir textos
de grandes nomes da literatura brasileira. O compromisso com a fidedigni-
dade na transmissão e a compreensão de quanto é grave a adulteração dos
textos são atitudes indispensáveis nos profissionais que trabalham com
textos (não apenas os literários, mas também os não-literários - que são
fundamentais para os estudos linguísticos) e precisam ser provocadas através
de reflexão sobre Crítica Textual, tarefa que é de responsabilidade da
Filologia. Daí, portanto, a importância de esta disciplina ocupar o lugar que
lhe é devido na formação dos alunos de Letras” (GOMES, 1986).
Neste caderno, buscamos apresentar uma reflexão para que vocês,
futuros licenciados em Letras, usem o conhecimento sócio-histórico-cultural
que adquirem nas aulas da disciplina Filologia Românica em sua prática de
ensino. Refletir sobre esse conhecimento fará com que entendam a dinâmi-
ca da língua que se usa e que se ensina na escola. Vocês não podem deixar
de lado o componente cultural no momento em que ensina gramática,
literatura e técnicas de redação. Tudo isso junto reflete o todo que compõe a
sociedade atual, herdada de gerações e gerações. É urgente que os egressos
de Letras analisem o processo de construção das suas identidades e que seja
passado para os(as) alunos(as), a fim de que todos juntos entendam os
mecanismos que compõem e que seguirão compondo as sociedades.
“Trabalhar com textos, sejam estes literários ou não, verificar
naqueles as ocorrências relativas às mudanças linguísticas, históricas,
culturais é um exercício que será revelado na prática do licenciado em
Letras. Entretanto, sabe-se que muitos dos egressos dos cursos de Letras, ao
ingressarem no mercado de trabalho, seguem a cartilha que as escolas
determinam. Ensinando a língua materna sem a devida reflexão dos aspectos
sócio-histórico-culturais que a compõem e que a tornam um bem inestimá-
vel para todos os seus usuários” (GOMES, 1985).
Sucesso em seus estudos!

59
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

REFERÊNCIAS

AUERBACH, E. Introdução aos estudos literários. São Paulo: Cultrix,


1972.

BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica: história


externa das línguas. V.1, 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2005.

BORBA, Francisco da Silva. Coleção Biblioteca Universitária: Letras e


Linguística, vol. 3. 4.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro


Técnico, 1976. (pp. 20-45)

CIZESCKI, Fernanda. “Entre Chomsky e Port-Royal: uma análise da leitura


chomskiana”. CNPq Work. pap. linguíst., 9 (1): 121-131, Florianópolis, jan.
jun., 2008 (Mestranda em Linguística – UFSC).

ELIA, Sílvio. Preparação à Linguística românica. Rio de Janeiro: Livro


Técnico, 1974.

FARIA, Ernesto. Gramática superior da língua latina. Rio de Janeiro:


Acadêmica, 1958.

GOMES, Marlene Mendes. Apud MEGALE, Heitor e CAMBRAIA, César


Nardelli. Filologia Portuguesa no Brasil. Delta vol.15, special issue. São
Paulo, 1999.

GOMES, Marlene Mendes. A fidedignidade dos textos nos livros didáticos


no Brasil. In: Anais do I Encontro de Filologia do Brasil, 1986.

HOUASSIS, A. “Filologia”. In: Enciclopédia Mirador Internacional.


Ed.Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Lda. São Paulo/Rio de
Janeiro: 1970. p. 4599-4603.

ILARI, Rodolfo. Linguística românica. 2.ed.São Paulo: Ática, 2002.

LANCELOT C. & ARNAULD, A. A gramática de Port-Royal. São Paulo:


Martins Fontes, 1992.

LAUSBERG, H. Linguística românica. Lisboa: FundaçãoCalouste


Gulbenkian, 1981.

LIÃO, Duarte Nunes de (1606) - Origem da lingoa portvgvesa. Biblioteca


Nacional de Lisboa: <http://purl.pt/50>. Capítulo VI (A Língua que se hoje
fala em Portugal donde teve origem, e por que se chama Romance; p.28-33)

LYONS, J. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Ed. Nacional; Ed. da


USP, 1979.

60
Filologia Românica UAB/Unimontes

MAURER JR., Teodoro H. O Problema do latim vulgar. Rio de Janeiro:


Acadêmica, 1962

_____________________A Unidade da România Ocidental. São Paulo:


Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1952.

MEXIAS-SIMON, Maria Lucia. (texto do Curso de especialização em


Filologia-2009).

MIAZZI, Ma. Luíza F. Introdução à Linguística românica. São Paulo:


Cultrix, 1976.

SAID ALI. Investigações Filológicas. Rio de Janeiro: Grigo, 1966.

SILVA BORBA, Francisco da: Introdução aos estudos linguísticos:Gramáti-


ca na Grécia e gramática em Roma. Cidade: Editora? 2007.

SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro:


Acadêmica,1957.

SILVEIRA BUENO, Francisco da. Estudos de filologia portuguesa. São


Paulo: Saraiva, 1963.

SPINA, Segismundo. Introdução à Edótica: crítica textual. São Paulo:


Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1977.

TARALLO, Fernando. Tempos linguísticos - itinerário histórico da língua


portuguesa. São Paulo: Ática, 1990.

WEEDWOOD, B. (2002). História concisa da linguística. Tradução de


Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

VIDOS, Benedek Elemér. Manual de linguística românica. Rio de Janeiro:


EDVERJ, 1996. Revista: Literatura em Debate V.3, n.4, p. 91-98, 2009.

Sites: Google, UOL e www.filologia.org

61
RESUMO

Filólogos e linguistas, mesmo com objetivos diferentes, continuam a


analisar o mesmo objeto, a língua.
Para os primeiros, o texto é documento da língua, para os segundos,
a língua existe enquanto atividade comunicativa documentada no texto.
Nesta ou naquela perspectiva, o objeto final enfocado será sempre a língua.
Dirige-se, então, à Filologia, ao conhecimento de uma civilização, de uma
cultura através de documentos escritos, tendo como instrumento principal o
estudo da língua. Ao buscar a lição autêntica do testemunho, a filologia pode
dar inestimável contribuição ao estudo de nossa literatura e, sobretudo, da
história de nossa língua. Podemos observar que a compreensão de certos
fenômenos linguísticos, históricos nos faz compreender os fatos da língua
atual. Vimos como uma língua evolui durante o seu uso no decorrer do
tempo e que essa evolução cria dialetos, que podem vir a se transformar
numa língua diferente, como ocorreu com o latim, principalmente depois da
queda do Império Romano no Séc. V.
Vimos, também, que da língua latina surgiram diversas línguas
românicas, uma das quais foi o português, e que a sua evolução se deu, em
alguns casos, de forma espontânea e, em outros, de forma motivada. Apesar
de serem fatos consolidados, podem mesmo assim suscitar opiniões diversas
no que diz respeito ao conceito da disciplina. Silveira Bueno (1967) sabia-
mente afirmou que os textos podiam ser belos ou feios, em poesias ou em
prosa. Isso não importa ao filólogo. Importa-lhe unicamente que sejam
verdadeiros, da época e do autor a que são atribuídos e que estejam na sua
forma perfeita; para isso, deve o filólogo estar preparado em paleografia, em
hermenêutica e em todos os ramos do conhecimento que forem necessários
para restabelecer as passagens obscuras, para elucidar os pontos falhos ou de
difícil intelecção, para, enfim, restabelecer os textos em toda a sua verdadei-
ra fisionomia de documento do passado. (Silveira Bueno, Francisco da.
Estudos de Filologia Portuguesa. São Paulo: Editora Saraiva, 1967, 6ª. Ed.
p.13).

63
REFERÊNCIAS

AUERBACH, E. Introdução aos estudos literários. São Paulo: Cultrix,


1972.

BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica: história


externa das línguas. V.1, 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2005.

BORBA, Francisco da Silva. Coleção Biblioteca Universitária: Letras e


Linguística, vol. 3. 4.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro


Técnico, 1976. (pp. 20-45)

CIZESCKI, Fernanda. “Entre Chomsky e Port-Royal: uma análise da leitura


chomskiana”. CNPq Work. pap. linguíst., 9 (1): 121-131, Florianópolis, jan.
jun., 2008 (Mestranda em Linguística – UFSC).

ELIA, Sílvio. Preparação à Linguística românica. Rio de Janeiro: Livro


Técnico, 1974.

FARIA, Ernesto. Gramática superior da língua latina. Rio de Janeiro:


Acadêmica, 1958.

GOMES, Marlene Mendes. Apud MEGALE, Heitor e CAMBRAIA, César


Nardelli. Filologia Portuguesa no Brasil. Delta vol.15, special issue. São
Paulo, 1999.

GOMES, Marlene Mendes. A fidedignidade dos textos nos livros didáticos


no Brasil. In: Anais do I Encontro de Filologia do Brasil, 1986.

HOUASSIS, A. “Filologia”. In: Enciclopédia Mirador Internacional.


Ed.Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Lda. São Paulo/Rio de
Janeiro:1970. p. 4599-4603.

ILARI, Rodolfo. Linguística românica. 2.ed.São Paulo: Ática, 2002.

LANCELOT C. & ARNAULD, A. A gramática de Port-Royal. São Paulo:


Martins Fontes, 1992.

LAUSBERG, H. Linguística românica. Lisboa: Fundação Calouste


Gulbenkian, 1981.

LIÃO, Duarte Nunes de (1606) - Origem da lingoa portvgvesa. Biblioteca

65
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

Nacional de Lisboa: <http://purl.pt/50>. Capítulo VI (A Língua que se hoje


fala em Portugal donde teve origem, e por que se chama Romance; p.28-33)

LYONS, J. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Ed. Nacional; Ed. da


USP, 1979.

MAURER JR., Teodoro H. O Problema do latim vulgar. Rio de Janeiro:


Acadêmica, 1962

_____________________A Unidade da România Ocidental. São Paulo:


Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1952.

MEXIAS-SIMON, Maria Lucia. (texto do Curso de especialização em


Filologia-2009).

MIAZZI, Ma. Luíza F. Introdução à Linguística românica. São Paulo:


Cultrix, 1976.

SAID ALI. Investigações Filológicas. Rio de Janeiro: Grigo, 1966.

SILVA BORBA, Francisco da: Introdução aos estudos linguísticos:


Gramática na Grécia e gramática em Roma. Cidade: Editora? 2007.

SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro:


Acadêmica,1957.

SILVEIRA BUENO, Francisco da. Estudos de filologia portuguesa. São


Paulo: Saraiva, 1963.

SPINA, Segismundo. Introdução à Edótica: crítica textual. São Paulo:


Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1977.

TARALLO, Fernando. Tempos linguísticos - itinerário histórico da língua


portuguesa. São Paulo: Ática, 1990.

WEEDWOOD, B. (2002). História concisa da linguística. Tradução de


Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

VIDOS, Benedek Elemér. Manual de linguística românica. Rio de Janeiro:


EDVERJ, 1996.

Revista: Literatura em Debate V.3, n.4, p. 91-98, 2009.

Sites: Google, UOL e www.filologia.org.

66
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
- AA

1) Dos enunciados a seguir, marque a letra “V” se o enunciado for


VERDADEIRO, e a letra “F”, se FALSO:
a) ( ) A Filologia preocupa-se com as atividades da linguagem do
homem e de suas manifestações através das obras de arte escritas nessa
linguagem, mais as disciplinas que delas cuidam metodicamente.
b) ( ) Embora historicamente a Crítica Textual tenha privilegiado o
estudo dos textos literários, atualmente considera tanto os textos literários
como os não-literários.
c) ( ) Crítica Textual é um estatuto determinante, na medida em que
condiciona os objetos de outras disciplinas e influi, consequentemente,
na qualidade e no alcance dos respectivos produtos, nas edições que
apresenta.
d) ( ) No plano linguístico, a Filologia não considera os vários aspectos
da história das línguas, sua evolução, as influências que receberam, a
fragmentação dialetal, todos os fenômenos relacionados com a fonologia,
a morfologia, a sintaxe e o léxico.
e) ( ) Os Hindus sentiram necessidade de preservar os textos religiosos
dos Vedas, considerados sagrados, para que os hinos e cânticos não
sofressem nenhuma alteração durante a sua execução nos ritos religiosos,
pois sendo apenas falada, a língua tende a deturpar-se.
f ) ( ) Pânini, ao estudar a língua Sânscrita, ficou limitado apenas a
estudar os textos sagrados; estudou principalmente a língua de seu
tempo.

2) Numere a 2a coluna de acordo com a 1a:


1. Autógrafo ( ) Edição popular.
2. Apógrafo ( ) Cópias manuscritas ou impressas de uma obra.
3. Idiógrafo ( ) A primeira edição impressa de uma obra.
4. Apócrifo ( ) Original escrito pelo próprio autor.
5. Testemunhos ( ) Do próprio autor que a assina.
6. Lição ( ) Original escrito sob o controle direto do autor.
7. Edição príncipe ( ) De falsa procedência ou de fonte duvidosa.
ou princeps ( ) Cópia derivada do original.
8. Vulgata editio ( ) A leitura de uma passagem determinada do
9. Obra autêntica texto transmitido por um testemunho.

67
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

3) Dos enunciados a seguir, marque a letra “V” se o enunciado for


VERDADEIRO, e a letra “F”, se FALSO:
É papel do filólogo:
a) ( ) Estabelecer, através do estudo e da análise dos manuscritos, as
diversas versões do texto.
b) ( ) Corrigir os possíveis erros encontrados nos textos e restaurá-los em
toda a sua possível perfeição.
c)( ) O filólogo não precisa se incomodar com a análise de texto nem
com o estudo do objeto de que ele trata.
d)( ) Estabelecer a autenticidade de textos anônimos ou autoria
duvidosa, colocando-os em sua época devida.

4) Após séculos de dominação da cultura e do idioma romano, as línguas


românicas vão surgir e se desenvolver nas províncias em que a latinização
tinha lançado raízes mais profundas e resistentes a mudanças políticas e
sociais, bem como a intermináveis guerras e invasões. Distinguem-se então
várias etapas neste processo de evolução do latim vulgar para as línguas e
dialetos românicos.
Sobre essas etapas, é INCORRETO afirmar que
a) ( ) substrato: “são as marcas linguísticas advindas do povo que
abandona seu idioma, levadas para a língua que passa a adotar”.
b) ( ) no que diz respeito à contribuição do superstrato para a origem
das línguas românicas, deve-se principalmente tomar em consideração o
superstrato germânico.
c) ( ) na fase do bilinguismo, o povo dominado passa a usar o idioma
do povo dominador por período de tempo indeterminado.
d) ( ) adstrato é a denominação dada à língua que coexiste com outra
no mesmo espaço territorial, influenciando-a e dela recebendo influência.

5) Friedrish Diez tornou-se o pai da Filologia Românica aplicando o método


histórico-comparativo às línguas românicas, obtendo excelentes resultados.
Assinale a alternativa INCORRETA, considerando o assunto acima.
a) ( ) O método histórico-comparativo é aplicável a casos de grupos de
línguas genealogicamente afins.
b) ( ) A utilização do método histórico-comparativo deu à Filologia
Românica uma perspectiva histórica mais coerente e adequada.
c) ( ) O uso criterioso do método histórico-comparativo foi e continua
sendo profícuo e muito útil para o conhecimento tanto do latim vulgar
como das línguas românicas.
d) ( ) Os resultados do método histórico-comparativo foram satisfatórios
em todos os níveis da linguagem.

68
Filologia Românica UAB/Unimontes

6) A língua portuguesa proveio do latim vulgar que os romanos introduziram


na Lusitânia, região situada ao ocidente da Península Ibérica.
Das alternativas abaixo, assinale a única que NÃO corresponde à afirmativa
acima.
a) ( ) As circunstâncias históricas em que se criou e se desenvolveu
nosso idioma estão intimamente ligadas a fatos que pertencem à história
geral da Península.
b) ( ) É falsa a afirmação de que o português é o próprio latim
modificado.
c) ( ) Pode-se afirmar que o idioma falado pelo povo romano não
morreu, mas continua vivo, transformado no grupo de línguas românicas
ou novilatinas.
d) ( ) O latim que se vulgarizou no território ibérico foi o do povo
inculto, o sermo vulgaris, plebeius ou rusticus.

7) Marque a proposição INCORRETA.


a) ( ) Função substantiva: é a explicação do texto, restituição à sua forma
genuína através dos princípios da Crítica Textual e preparação técnica para
publicação.
b) ( ) Função adjetiva: a filologia não se interessa com a série de problemas,
que não estão no texto, mas deduzem-se deles, nas etapas da investigação
literária.
c) ( ) Função transcendente: o texto deixa de ser um fim em si mesmo da
tarefa filológica para se transformar na reconstituição da vida espiritual de
um povo ou de uma comunidade em determinada época.
d) ( ) Função adjetiva: o trabalho do filólogo é a determinação de autoria,
biografia do autor, datação do texto, sua posição na literatura do autor e da
época bem como a sua avaliação estética (valorização) perante os textos da
mesma natureza.

69
Letras/Inglês Caderno Didático - 4º Período

8) Marque com a letra ”V” se a proposição for VERDADEIRA, e com “F”, se


for FALSA.
O estudo filológico de um texto ou documento perpassa as seguintes etapas:
a) ( ) Sua datação.
b) ( ) Seu deciframento, recorrendo-se à paleografia, à diplomática, à
codicologia e à bibliologia.
c) ( ) Seleção de qualquer testemunho através dos confrontos dos
“lugares críticos” e do exame sistemático.
d) ( ) Seleção só de citações diretas.
e) ( ) Análise das variantes.
f) ( ) Verificação da tradição – recensio.
g) ( ) Segue-se a examinatio, para escolha do texto-base.
h) ( ) Colação das várias lições.
i) ( ) Emendatio, no que respeita a passos duvidosos e reparação de
“erros”.

9) As línguas evoluem, se diferenciam, tomam empréstimos, são


substituídas, dominam e são dominadas. Abaixo, apresentam-se as causas
dessa evolução, EXCETO:
1) ( ) A histórica, em que as conquistas romanas aconteceram em
diferentes épocas; as primeiras terras romanizadas receberam a linguagem
mais popular, enquanto as últimas conheceram um latim mais erudito.
2) ( ) A extensão territorial e a topografia irregular de vários domínios
romanos não interferem na evolução linguística.
3) ( ) A política é explicitada pelas invasões e imposição cultural e
linguística que pode originar dialetos mistos, foi o que aconteceu com a
língua latina.
4) ( ) A etnológica pode ser notada através dos diversos povos de raças
diversas dominados pelo Império Romano, onde eram falados diversos
idiomas.

10 ) Marque com a letra ”V” se a proposição for VERDADEIRA, e com “F”,


se for FALSA.
a) ( ) Os manuscritos podem também ser alterados por censura, gastos
pelo tempo e pelos vermes.
b) ( ) Uma edição crítica é um ponto de partida para a publicação de
textos, em edições correntes, escolares ou de divulgação, destinadas a um
público amplo.
c) ( ) O editor paleógrafo deve conhecer os diferentes estilos dos
copistas e ser capaz de identificar os períodos em que os textos foram
escritos.
d) ( ) A diferença entre a edição crítica e as outras edições é o número
de textos.

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