Você está na página 1de 140

CÓD: OP-031AB-23

7908403534852

SEE-AC
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO ACRE

Professor P1 - Mediador
EDITAL Nº 001 SEAD/SEE, DE 23 DE MARÇO DE 2023
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos.. Tipologia textual. Relação entre a linguagem verbal e as outras linguagens............ 5
2. Ortografia oficial. ........................................................................................................................................................................ 14
3. Acentuação gráfica. ..................................................................................................................................................................... 15
4. Emprego das classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. ............................................................................................. 15
5. Emprego do sinal indicativo de crase........................................................................................................................................... 23
6. Sintaxe da oração e do período................................................................................................................................................... 23
7. Emprego dos sinais de Pontuação. ............................................................................................................................................. 26
8. Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................................. 27
9. Regência nominal e verbal........................................................................................................................................................... 29
10. Significação das palavras. Semântica........................................................................................................................................... 30
11. Redação de correspondências oficiais......................................................................................................................................... 30
12. Reescritura de frase..................................................................................................................................................................... 39
13. Função social da linguagem......................................................................................................................................................... 40
14. Variação linguística...................................................................................................................................................................... 41
15. Mecanismos de organização textual: coesão e coerência. ......................................................................................................... 42
16. Figuras de linguagem................................................................................................................................................................... 42

História e Geografia do Acre


1. História, Historiografia e Realidade Étnica e Social do Acre: A anexação do Acre ao Brasil. O processo de ocupação das terras
acreanas, a ocupação indígena, a imigração nordestina e a produção da borracha e a insurreição. Organização social do Acre
e expressão literária. A chegada dos “paulistas” nas terras acreanas a partir dos anos 1970 do século passado: êxodo rural,
conflitos pela terra e invasões do espaço urbano. Comemorações cívicas................................................................................. 55
2. Política e Economia do Acre: Indicadores Socioeconômicos: Economia, Produto Interno Bruto, Evolução das Ocupações e do
Emprego, População. .................................................................................................................................................................. 59
3. Trabalhos e produção nas diferentes nações indígenas, uso e posse da terra dos indígenas da Amazônia no auge do ciclo
da borracha, ocupação e utilização da terra, ocupação e disputa pela terra entre povos indígenas e grupos de interesse
socioeconômico e atividades econômicas mais relevantes no estudo da história da Amazônia e do Acre. ............................... 66
4. Geografia do Acre: Amazônia e características gerais: O espaço acreano. Aspectos geográficos e ecológicos da Amazônia
e do Acre. Formação econômica do Acre. Processo de anexação do Acre ao Brasil: tratados e limites. O território do Acre,
municípios e populações do Acre: população e localização. Nova configuração do mapa. Microrregiões. Atuais municípios.
Relevo, vegetação e suas características, clima, solo, hidrografia, fluxo migratório, extrativismo e Zoneamento Ecológico do
Acre. ............................................................................................................................................................................................ 66
5. Hidrografia: Bacia Amazônica e principais rios do Acre. ............................................................................................................. 76
6. Modos de vida no campo e na cidade......................................................................................................................................... 77

Conhecimentos Específicos
Professor P1 - Mediador
1. Sistema Educacional: legislação; estrutura; organização e competências. .......................................................................... 81
2. Conhecimento administrativo e pedagógico para organização do setor de Coordenação. Domínio de conhecimentos,
habilidades e competências para a coordenação da ação educativa na escola.................................................................... 89
3. Educação Básica: estrutura e funcionamento. ..................................................................................................................... 90
4. Conselho de Classe: instrumento de acompanhamento da aprendizagem dos estudantes. ............................................... 95
5. Currículo: diversidade cultural e inclusão social; ................................................................................................................. 98
ÍNDICE

6. Concepções; planejamento e organização; teorias. ............................................................................................................. 112


7. Fundamentos e recursos pedagógicos para inclusão: acessibilidade, tecnologia assistiva, desenho universal. ................. 115
8. O atendimento educacional especializado. ......................................................................................................................... 116
9. Articulação entre escola comum e educação especial: ações e responsabilidades compartilhadas. .................................. 118
10. A construção de uma escola democrática e inclusiva que garanta o acesso, a permanência e aprendizagens efetivas...... 127
11. Fundamentos da Educação Especial. ................................................................................................................................... 127
12. A Política educacional e a Educação Especial....................................................................................................................... 128
13. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. .............................................................................................................. 128
14. Educação para cidadania, uma questão de direitos humanos.............................................................................................. 132
15. Processos educativos na escola de educação inclusiva: experiências em âmbito escolar e não escolar.............................. 133
16. Os diferentes movimentos: integração, Normatização e Inclusão........................................................................................ 133
17. A educação especial, o ensino regular e o atendimento educacional especializado a partir da política nacional de educação
inclusiva e os projetos políticos pedagógicos. ..................................................................................................................... 134
18. Trabalho pedagógico com os diferentes perfis de aprendizes.............................................................................................. 135
19. O ensino colaborativo como estratégia de inclusão escolar para os alunos público-alvo da educação especial................. 136

Conteúdo Digital
Legislação
1. Lei Federal nº 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2. Lei Federal nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3. Lei Federal nº 13.005/2014 - Plano Nacional de Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4. Resolução CNE/CP nº 01/04 - Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações étnicoraciais e para o
ensino de história e cultura afro-brasileira e africana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5. Lei Federal nº 13.146/2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
6. Resolução CNE/CEB nº 04/09 - Institui Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação
Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
7. Resolução CNE/CEB nº 04/10 - Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
8. Resolução CEE/AC nº 277/2017 - Altera no que couber a Resolução CEE/AC nº 166/2013 que estabelece normas para a Edu-
cação Especial, no tocante ao atendimento de pessoa com deficiência ou altas habilidades nas Escolas de Educação Básica do
Estado do Acre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
9. Resolução CNE/CP nº 2/2017 – Institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular, a ser respeitada obriga-
toriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

Conteúdo Digital
• Para estudar o Conteúdo Digital acesse sua “Área do Cliente” em nosso site, ou siga os passos indicados na
página 2 para acessar seu bônus.
https://www.apostilasopcao.com.br/customer/account/login/
LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. TIPO- A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
LOGIA TEXTUAL. RELAÇÃO ENTRE A LINGUAGEM VER- dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
BAL E AS OUTRAS LINGUAGENS apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
específico para se fazer a enunciação.
Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas característi-
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- cas:
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o Apresenta um enredo, com ações e
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido relações entre personagens, que ocorre
completo. em determinados espaço e tempo. É
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e TEXTO NARRATIVO
contado por um narrador, e se estrutura
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- da seguinte maneira: apresentação >
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua desenvolvimento > clímax > desfecho
interpretação.
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do Tem o objetivo de defender determinado
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que TEXTO ponto de vista, persuadindo o leitor a
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta- DISSERTATIVO partir do uso de argumentos sólidos.
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- ARGUMENTATIVO Sua estrutura comum é: introdução >
tório do leitor. desenvolvimento > conclusão.
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, Procura expor ideias, sem a necessidade
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- de defender algum ponto de vista. Para
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido isso, usa-se comparações, informações,
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar TEXTO EXPOSITIVO
definições, conceitualizações etc. A
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens. estrutura segue a do texto dissertativo-
argumentativo.
Dicas práticas
Expõe acontecimentos, lugares, pessoas,
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con-
de modo que sua finalidade é descrever,
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa-
TEXTO DESCRITIVO ou seja, caracterizar algo ou alguém. Com
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível,
isso, é um texto rico em adjetivos e em
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações.
verbos de ligação.
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe- Oferece instruções, com o objetivo de
cidas. TEXTO INJUNTIVO orientar o leitor. Sua maior característica
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- são os verbos no modo imperativo.
te de referências e datas.
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de
opiniões. Gêneros textuais
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques- A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin- cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as-
quando afirma que... sim como a própria língua e a comunicação, no geral.
Alguns exemplos de gêneros textuais:
Tipologia Textual • Artigo
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali- • Bilhete
dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele • Bula
pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas • Carta
classificações. • Conto

5
LÍNGUA PORTUGUESA

• Crônica Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.


• E-mail O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
• Lista demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Manual missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
• Notícia admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
• Poema crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
• Propaganda mento de premissas e conclusões.
• Receita culinária Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Resenha A é igual a B.
• Seminário A é igual a C.
Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em Então: C é igual a B.
determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um tex-
to literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finali- que C é igual a A.
dade e à função social de cada texto analisado. Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero.
ARGUMENTAÇÃO A vaca é um ruminante.
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- Logo, a vaca é um mamífero.
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como também será verdadeira.
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
propõe. mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
vista defendidos. instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse outro fundado há dois ou três anos.
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- der bem como eles funcionam.
sos de linguagem. Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
escolher entre duas ou mais coisas”. expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu- essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer zado numa dada cultura.
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. Tipos de Argumento
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
enunciador está propondo. mento. Exemplo:

6
LÍNGUA PORTUGUESA

Argumento de Autoridade Argumento quase lógico


É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
dadeira. Exemplo: Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
cimento. Nunca o inverso. tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Alex José Periscinoto. fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
indevidas.
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, Argumento do Atributo
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
acreditar que é verdade. raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc.
Argumento de Quantidade Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz de.
largo uso do argumento de quantidade. Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
Argumento do Consenso língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o dizer dá confiabilidade ao que se diz.
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases por bem determinar o internamento do governador pelo período
carentes de qualquer base científica. de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
Argumento de Existência guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar tal por três dias.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
do que dois voando”. ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- texto tem sempre uma orientação argumentativa.
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
vios, etc., ganhava credibilidade. dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
outras, etc. Veja:

7
LÍNGUA PORTUGUESA

“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
vam abraços afetuosos.” expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
injustiça, corrupção). mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
o argumento. seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite ver as seguintes habilidades:
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
outros à sua dependência política e econômica”. mente contrária;
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, ria contra a argumentação proposta;
o assunto, etc). - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- ta.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
dades não se prometem, manifestam-se na ação. tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
comportamento. A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em da verdade:
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- - evidência;
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- - divisão ou análise;
mica e até o choro. - ordem ou dedução;
- enumeração.

8
LÍNGUA PORTUGUESA

A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Indução


e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo. cular)
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- – conclusão falsa)
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
caracteriza a universalidade. pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à ados nos sentimentos não ditados pela razão.
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
o efeito. Exemplo: outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
Fulano é homem (premissa menor = particular) demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
Logo, Fulano é mortal (conclusão) classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- pesquisa.
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
O calor dilata o ferro (particular) síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
O calor dilata o bronze (particular) que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
O calor dilata o cobre (particular) reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
O ferro, o bronze, o cobre são metais o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido o relógio estaria reconstruído.
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem relacionadas:
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
sofisma no seguinte diálogo:
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
- Lógico, concordo. a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
- Claro que não! lha dos elementos que farão parte do texto.
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
Exemplos de sofismas: racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
Dedução por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
Todo professor tem um diploma (geral, universal) um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
Fulano tem um diploma (particular)
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)

9
LÍNGUA PORTUGUESA

A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a Elemento especie diferença
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- a ser definidoespecífica
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
sabiá, torradeira. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. ou instalação”;
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
(Garcia, 1973, p. 302304.) dida;d
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- diferenças).
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
de vista sobre ele. consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- vra e seus significados.
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A mentação coerente e adequada.
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
- o termo a ser definido; as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, misturan-
- o gênero ou espécie; do-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a re-
- a diferença específica. conhecer os elementos que constituem um argumento: premissas/
conclusões.
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
ma espécie. Exemplo:

10
LÍNGUA PORTUGUESA

Depois de reconhecer, verificar se tais elementos são verda- - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
deiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está expresso mortal, aspira à imortalidade);
corretamente; se há coerência e adequação entre seus elementos, - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
ou se há contradição. Para isso é que se aprende os processos de dos e axiomas);
raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que raciocinar - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo específico de za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
relação entre as premissas e a conclusão. desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: parece absurdo).
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior cretos, estatísticos ou documentais.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
virtude de, em vista de, por motivo de. ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, gumentação:
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
assim, desse ponto de vista. Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração dadeira;
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- dade da afirmação;
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, ridade que contrariam a afirmação apresentada;
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
que, melhor que, pior que. argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar que gera o controle demográfico”.
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no elaboração de um Plano de Redação.
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou tecnológica
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
caráter confirmatório que comprobatório. a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- ta, justificar, criando um argumento básico;
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
caso, incluem-se

11
LÍNGUA PORTUGUESA

- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
(rever tipos de argumentação); escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias textos caracterizada por um citar o outro.
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ- texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
ência); utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
argumento básico; de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
mento básico; mencionar um provérbio conhecido.
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
menos a seguinte: má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
zá-lo ou ao compará-lo com outros.
Introdução Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
- função social da ciência e da tecnologia; grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
- definições de ciência e tecnologia; senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
Desenvolvimento tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
vimento tecnológico; alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
condições de vida no mundo atual; Tipos de Intertextualidade
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
desenvolvidos; com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- dade.
sado; apontar semelhanças e diferenças; Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
banos; logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
mais a sociedade.
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
Conclusão é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
ências maléficas; outras palavras o que já foi dito.
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
apresentados. tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
ção: é um dos possíveis. para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
é inserida. demagogia praticada pela classe dominante.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.

12
LÍNGUA PORTUGUESA

A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos PONTO DE VISTA


científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con- O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes
siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re- sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de
lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra- vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com-
fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé” preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir
Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
cultura é o melhor conforto para a velhice”. sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob-
servador e o narrador-personagem.
A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro-
dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- Primeira pessoa
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
termo “citação” (citare) significa convocar. do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois só descobrimos ao decorrer da história.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Segunda pessoa
Pastiche é uma recorrência a um gênero. O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica quase como outro personagem que participa da história.
a recriação de um texto.
Terceira pessoa
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
produtor e ao receptor de textos. primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am- guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
daquela citação ou alusão em questão. por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita leitura não fique confuso.
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁ-
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida. GRAFOS

A intertextualidade explícita: São três os elementos essenciais para a composição de um tex-


– é facilmente identificada pelos leitores; to: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar
– estabelece uma relação direta com o texto fonte; cada uma de forma isolada a seguir:
– apresenta elementos que identificam o texto fonte;
– não exige que haja dedução por parte do leitor; Introdução
– apenas apela à compreensão do conteúdos.
É a apresentação direta e objetiva da ideia central do texto. A
A intertextualidade implícita: introdução é caracterizada por ser o parágrafo inicial.
– não é facilmente identificada pelos leitores; Desenvolvimento
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte; Quando tratamos de estrutura, é a maior parte do texto. O
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par- desenvolvimento estabelece uma conexão entre a introdução e a
te dos leitores; conclusão, pois é nesta parte que as ideias, argumentos e posicio-
– exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para namento do autor vão sendo formados e desenvolvidos com a fina-
a compreensão do conteúdo. lidade de dirigir a atenção do leitor para a conclusão.
Em um bom desenvolvimento as ideias devem ser claras e ap-
tas a fazer com que o leitor anteceda qual será a conclusão.

13
LÍNGUA PORTUGUESA

São três principais erros que podem ser cometidos na elabora- Alfabeto
ção do desenvolvimento: O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é co-
- Distanciar-se do texto em relação ao tema inicial. nhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o
- Focar em apenas um tópico do tema e esquecer dos outros. alfabeto se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e
- Falar sobre muitas informações e não conseguir organizá-las, consoantes (restante das letras).
dificultando a linha de compreensão do leitor. Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram
reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo
Conclusão que elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de
nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.
Ponto final de todas as argumentações discorridas no desen-
volvimento, ou seja, o encerramento do texto e dos questionamen- Uso do “X”
tos levantados pelo autor. Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o
Ao fazermos a conclusão devemos evitar expressões como: X no lugar do CH:
“Concluindo...”, “Em conclusão, ...”, “Como já dissemos antes...”. • Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxer-
gar)
Parágrafo • Depois de ditongos (ex: caixa)
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)
Se caracteriza como um pequeno recuo em relação à margem
esquerda da folha. Conceitualmente, o parágrafo completo deve Uso do “S” ou “Z”
conter introdução, desenvolvimento e conclusão. Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser ob-
- Introdução – apresentação da ideia principal, feita de maneira servadas:
sintética de acordo com os objetivos do autor. • Depois de ditongos (ex: coisa)
- Desenvolvimento – ampliação do tópico frasal (introdução), • Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S”
atribuído pelas ideias secundárias, a fim de reforçar e dar credibili- (ex: casa > casinha)
dade na discussão. • Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou
- Conclusão – retomada da ideia central ligada aos pressupos- origem. (ex: portuguesa)
tos citados no desenvolvimento, procurando arrematá-los. • Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex:
populoso)
Exemplo de um parágrafo bem estruturado (com introdução,
desenvolvimento e conclusão): Uso do “S”, “SS”, “Ç”
• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex:
“Nesse contexto, é um grave erro a liberação da maconha. diversão)
Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado • “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psico- • “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passa-
trópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão ram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)
estrutura suficiente para atender à demanda. Enfim, viveremos o
caos. ” Os diferentes porquês
(Alberto Corazza, Isto É, com adaptações)
Usado para fazer perguntas. Pode ser
Elemento relacionador: Nesse contexto. POR QUE
substituído por “por qual motivo”
Tópico frasal: é um grave erro a liberação da maconha.
Desenvolvimento: Provocará de imediato violenta elevação do Usado em respostas e explicações. Pode
PORQUE
consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce ser substituído por “pois”
sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação O “que” é acentuado quando aparece
de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda. como a última palavra da frase, antes da
Conclusão: Enfim, viveremos o caos. POR QUÊ
pontuação final (interrogação, exclamação,
ponto final)
ORTOGRAFIA OFICIAL É um substantivo, portanto costuma vir
PORQUÊ acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo
ou pronome
A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes
à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso
analisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memo- Parônimos e homônimos
rizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro-
também faz aumentar o vocabulário do leitor. núncia semelhantes, porém com significados distintos.
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe-
entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
que existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
atento! grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

14
LÍNGUA PORTUGUESA

ACENTUAÇÃO GRÁFICA

A acentuação é uma das principais questões relacionadas à Ortografia Oficial, que merece um capítulo a parte. Os acentos utilizados
no português são: acento agudo (´); acento grave (`); acento circunflexo (^); cedilha (¸) e til (~).
Depois da reforma do Acordo Ortográfico, a trema foi excluída, de modo que ela só é utilizada na grafia de nomes e suas derivações
(ex: Müller, mülleriano).
Esses são sinais gráficos que servem para modificar o som de alguma letra, sendo importantes para marcar a sonoridade e a intensi-
dade das sílabas, e para diferenciar palavras que possuem a escrita semelhante.
A sílaba mais intensa da palavra é denominada sílaba tônica. A palavra pode ser classificada a partir da localização da sílaba tônica,
como mostrado abaixo:
• OXÍTONA: a última sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: café)
• PAROXÍTONA: a penúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: automóvel)
• PROPAROXÍTONA: a antepenúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: lâmpada)
As demais sílabas, pronunciadas de maneira mais sutil, são denominadas sílabas átonas.

Regras fundamentais

CLASSIFICAÇÃO REGRAS EXEMPLOS


• terminadas em A, E, O, EM, seguidas ou não do
cipó(s), pé(s), armazém
OXÍTONAS plural
respeitá-la, compô-lo, comprometê-los
• seguidas de -LO, -LA, -LOS, -LAS
• terminadas em I, IS, US, UM, UNS, L, N, X, PS, Ã,
ÃS, ÃO, ÃOS
táxi, lápis, vírus, fórum, cadáver, tórax, bíceps,
• ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
PAROXÍTONAS ímã, órfão, órgãos, água, mágoa, pônei, ideia, geleia,
ou não do plural
paranoico, heroico
(OBS: Os ditongos “EI” e “OI” perderam o
acento com o Novo Acordo Ortográfico)
PROPAROXÍTONAS • todas são acentuadas cólica, analítico, jurídico, hipérbole, último, álibi

Regras especiais

REGRA EXEMPLOS
Acentua-se quando “I” e “U” tônicos formarem hiato com a vogal anterior, acompanhados ou não de saída, faísca, baú, país
“S”, desde que não sejam seguidos por “NH” feiura, Bocaiuva,
OBS: Não serão mais acentuados “I” e “U” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo Sauipe
têm, obtêm, contêm,
Acentua-se a 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos “TER” e “VIR” e seus compostos
vêm
Não são acentuados hiatos “OO” e “EE” leem, voo, enjoo
Não são acentuadas palavras homógrafas
pelo, pera, para
OBS: A forma verbal “PÔDE” é uma exceção

EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO, ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO, ADVÉRBIO, PREPO-
SIÇÃO E CONJUNÇÃO: EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS RELAÇÕES QUE ESTABELECEM

Classes de Palavras
Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.

15
LÍNGUA PORTUGUESA

Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos seres Roupa azul-marinho...
ADJETIVO
Sofre variação em número, gênero e grau Brincadeira de criança...
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.
Determina os substantivos (de modo definido ou inde- A galinha botou um ovo.
ARTIGO finido) Uma menina deixou a mochila no ôni-
Varia em gênero e número bus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como conec-
Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO tivos)
Eu vou para a praia ou para a cachoeira?
Não sofre variação
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequên-
Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL cia
Três é a metade de seis.
Varia em gênero e número
Posso ajudar, senhora?
Ela me ajudou muito com o meu traba-
Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo
PRONOME lho.
Varia em gênero e número
Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares
A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO etc.
A matilha tinha muita coragem.
Flexionam em gênero, número e grau.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza Ana se exercita pela manhã.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, Todos parecem meio bobos.
VERBO tempo, número, pessoa e voz. Chove muito em Manaus.
Verbos não significativos são chamados verbos de liga- A cidade é muito bonita quando vista do
ção alto.

Substantivo
Tipos de substantivos
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo com os conceitos apresentados abaixo:
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. Ex: mulher; gato; cidade...
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte...
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural, para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mesma
espécie. Ex: matilha; enxame; cardume...
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; cachor-
ro; praça...
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designando sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede;
imaginação...
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: livro; água; noite...
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedreiro; livraria; noturno...
• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radical). Ex: casa; pessoa; cheiro...
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol...

16
LÍNGUA PORTUGUESA

Flexão de gênero
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino.
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente o final
da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / acentuação
(Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou presença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora).
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma forma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto ao gêne-
ro a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epiceno (refere-se
aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo).
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, trazen-
do alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fruto X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao órgão que
protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é o termo popular para um tipo específico de fruto.

Flexão de número
No português, é possível que o substantivo esteja no singular, usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar (Ex: bola;
escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores quantidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último representado, geral-
mente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra.
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do contexto,
pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).

Variação de grau
Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumentativo
e diminutivo.
Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
pequeno).
Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou diminuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).

Novo Acordo Ortográfico


De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas e
festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou abreviaturas.
Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana, meses, estações do ano e em pontos cardeais.
Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em palavras de categorização.

Adjetivo
Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e o singular (bonito) e o plural (bonitos).
Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua nacionali-
dade (brasileiro; mineiro).
É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjunto de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo. São
formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
• de criança = infantil
• de mãe = maternal
• de cabelo = capilar

Variação de grau
Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfases), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e superlativo.
• Normal: A Bruna é inteligente.
• Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente que o Lucas.
• Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente que a Bruna.
• Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto a Maria.
• Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inteligente da turma.
• Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos inteligente da turma.
• Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
• Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.

Adjetivos de relação
São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem sofrer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo, isto
é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufixação de um
substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).

17
LÍNGUA PORTUGUESA

Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:

CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS


DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; pri- logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais,
DE TEMPO
meiramente de noite
Ao redor de; em frente a; à esquerda; por per-
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali
to
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem nunca mais; de modo algum; de jeito nenhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

Advérbios interrogativos
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para introduzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de:
• Lugar: onde, aonde, de onde
• Tempo: quando
• Modo: como
• Causa: por que, por quê

Grau do advérbio
Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos.
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que
• Superlativo analítico: muito cedo
• Superlativo sintético: cedíssimo

Curiosidades
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o uso
de alguns prefixos (supercedo).
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente; salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) e
ordem (ultimamente; depois; primeiramente).
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um sentido
próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designação (eis); de
realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou melhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí).

Pronomes
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no enunciado,
ele pode ser classificado da seguinte maneira:
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e podem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...).
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, nossos...)
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...)
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questionamentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...)
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...)
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...)
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em situações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...)

Colocação pronominal
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo, la,
no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo).
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles:
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demonstrati-
vos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no gerúndio antecedidos por “em”.
Nada me faria mais feliz.

18
LÍNGUA PORTUGUESA

• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerúndio não
acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal.
Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.

• Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração.


Orgulhar-me-ei de meus alunos.

DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou orações, nem após ponto-e-vírgula.

Verbos
Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro pos-
suem subdivisões.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do pre-
sente, futuro do pretérito.
• Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito imperfeito, futuro.

Os tempos verbais compostos são formados por um verbo auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre flexão em
tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no particípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
• Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito.
• Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro.
As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem, aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando, fa-
zendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particípio) ou
advérbio (gerúndio).

Tipos de verbos
Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal. Desse modo, os verbos se dividem em:
Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar, vender, abrir...)
• Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
• Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados (ser, ir...)
• Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais (falir, banir, colorir, adequar...)
• Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sempre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
• Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
acontecer...)
• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se, pen-
tear-se...)
• Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si próprios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)

Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)

Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.

Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

19
LÍNGUA PORTUGUESA

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

20
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

21
LÍNGUA PORTUGUESA

Preposições Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes:


As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar • Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas
dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas substantivas, definidas pelas palavras que e se.
entre essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (pa- • Causais: porque, que, como.
lavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como • Concessivas: embora, ainda que, se bem que.
preposição em determinadas sentenças). • Condicionais: e, caso, desde que.
• Conformativas: conforme, segundo, consoante.
Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, • Comparativas: como, tal como, assim como.
para, per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, en- • Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que.
tre. • Finais: a fim de que, para que.
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, du- • Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que.
rante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc. • Temporais: quando, enquanto, agora.
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de,
defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc. Formação de Palavras

Ao conectar os termos das orações, as preposições estabele- A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi-
cem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de: cos, de modo que as palavras se dividem entre:
• Causa: Morreu de câncer. • Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. palavra. Ex: flor; pedra
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. • Palavras derivadas: são originadas a partir de outras pala-
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. vras. Ex: floricultura; pedrada
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila. • Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi-
• Lugar: O vírus veio de Portugal. cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo;
• Companhia: Ela saiu com a amiga. azeite
• Posse: O carro de Maria é novo. • Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais
• Meio: Viajou de trem. radicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor
Entenda como ocorrem os principais processos de formação de
Combinações e contrações palavras:
Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa-
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e Derivação
havendo perda fonética (contração). A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
• Combinação: ao, aos, aonde palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
Conjunção • Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante • Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e do (des + governar + ado)
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- • Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a pala-
mento de redigir um texto. vra primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e • Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe
conjunções subordinativas. gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo
para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
Conjunções coordenativas próprio – sobrenomes).
As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti-
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma Composição
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em A formação por composição ocorre quando uma nova palavra
cinco grupos: se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais.
• Aditivas: e, nem, bem como. • Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de
• Adversativas: mas, porém, contudo. modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer. tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex:
• Conclusivas: logo, portanto, assim. aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto)
• Explicativas: que, porque, porquanto. • Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man-
tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma-
Conjunções subordinativas dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação -flor / passatempo.
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada.
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido)
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada.

22
LÍNGUA PORTUGUESA

Abreviação Veja, agora, as principais situações em que não se aplica a cra-


Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua se:
totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto • Palavras masculinas: Ela prefere passear a pé.
(fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica). • Palavras repetidas (mesmo quando no feminino): Melhor ter-
mos uma reunião frente a frente.
Hibridismo • Antes de verbo: Gostaria de aprender a pintar.
Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de • Expressões que sugerem distância ou futuro: A médica vai te
línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó- atender daqui a pouco.
culo (bi – grego + oculus – latim). • Dia de semana (a menos que seja um dia definido): De terça
a sexta. / Fecharemos às segundas-feiras.
Combinação • Antes de numeral (exceto horas definidas): A casa da vizinha
Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou fica a 50 metros da esquina.
radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor-
recer + adolescente). Há, ainda, situações em que o uso da crase é facultativo
• Pronomes possessivos femininos: Dei um picolé a minha filha.
Intensificação / Dei um picolé à minha filha.
Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alarga- • Depois da palavra “até”: Levei minha avó até a feira. / Levei
mento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita minha avó até à feira.
adicionando o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / proto- • Nomes próprios femininos (desde que não seja especificado):
colizar (em vez de protocolar). Enviei o convite a Ana. / Enviei o convite à Ana. / Enviei o convite à
Ana da faculdade.
Neologismo DICA: Como a crase só ocorre em palavras no feminino, em
Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falan- caso de dúvida, basta substituir por uma palavra equivalente no
te em contextos específicos, podendo ser temporárias ou perma- masculino. Se aparecer “ao”, deve-se usar a crase: Amanhã iremos
nentes. Existem três tipos principais de neologismos: à escola / Amanhã iremos ao colégio.
• Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma pa-
lavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha)
• Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO
existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao
compromisso) / dar a volta por cima (superar). A sintaxe estuda o conjunto das relações que as palavras esta-
• Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem belecem entre si. Dessa maneira, é preciso ficar atento aos enuncia-
um novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar) dos e suas unidades: frase, oração e período.
Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras ordenadas
Onomatopeia que apresenta sentido completo em um contexto de comunicação
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproxi- e interação verbal. A frase nominal é aquela que não contém verbo.
mada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque. Já a frase verbal apresenta um ou mais verbos (locução verbal).
Oração é um enunciado organizado em torno de um único ver-
bo ou locução verbal, de modo que estes passam a ser o núcleo
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE da oração. Assim, o predicativo é obrigatório, enquanto o sujeito é
opcional.
Crase é o nome dado à contração de duas letras “A” em uma Período é uma unidade sintática, de modo que seu enuncia-
só: preposição “a” + artigo “a” em palavras femininas. Ela é de- do é organizado por uma oração (período simples) ou mais orações
marcada com o uso do acento grave (à), de modo que crase não (período composto). Eles são iniciados com letras maiúsculas e fina-
é considerada um acento em si, mas sim o fenômeno dessa fusão. lizados com a pontuação adequada.
Veja, abaixo, as principais situações em que será correto o em-
prego da crase: Análise sintática
• Palavras femininas: Peça o material emprestado àquela alu- A análise sintática serve para estudar a estrutura de um perío-
na. do e de suas orações. Os termos da oração se dividem entre:
• Indicação de horas, em casos de horas definidas e especifica- • Essenciais (ou fundamentais): sujeito e predicado
das: Chegaremos em Belo Horizonte às 7 horas. • Integrantes: completam o sentido (complementos verbais e
• Locuções prepositivas: A aluna foi aprovada à custa de muito nominais, agentes da passiva)
estresse. • Acessórios: função secundária (adjuntos adnominais e adver-
• Locuções conjuntivas: À medida que crescemos vamos dei- biais, apostos)
xando de lado a capacidade de imaginar.
• Locuções adverbiais de tempo, modo e lugar: Vire na próxima Termos essenciais da oração
à esquerda. Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado.
O sujeito é aquele sobre quem diz o resto da oração, enquanto o
predicado é a parte que dá alguma informação sobre o sujeito, logo,
onde o verbo está presente.

23
LÍNGUA PORTUGUESA

O sujeito é classificado em determinado (facilmente identificável, podendo ser simples, composto ou implícito) e indeterminado,
podendo, ainda, haver a oração sem sujeito (a mensagem se concentra no verbo impessoal):
Lúcio dormiu cedo.
Aluga-se casa para réveillon.
Choveu bastante em janeiro.

Quando o sujeito aparece no início da oração, dá-se o nome de sujeito direto. Se aparecer depois do predicado, é o caso de sujeito
inverso. Há, ainda, a possibilidade de o sujeito aparecer no meio da oração:
Lívia se esqueceu da reunião pela manhã.
Esqueceu-se da reunião pela manhã, Lívia.
Da reunião pela manhã, Lívia se esqueceu.

Os predicados se classificam em: predicado verbal (núcleo do predicado é um verbo que indica ação, podendo ser transitivo, intran-
sitivo ou de ligação); predicado nominal (núcleo da oração é um nome, isto é, substantivo ou adjetivo); predicado verbo-nominal (apre-
senta um predicativo do sujeito, além de uma ação mais uma qualidade sua)
As crianças brincaram no salão de festas.
Mariana é inteligente.
Os jogadores venceram a partida. Por isso, estavam felizes.

Termos integrantes da oração


Os complementos verbais são classificados em objetos diretos (não preposicionados) e objetos indiretos (preposicionado).
A menina que possui bolsa vermelha me cumprimentou.
O cão precisa de carinho.

Os complementos nominais podem ser substantivos, adjetivos ou advérbios.


A mãe estava orgulhosa de seus filhos.
Carlos tem inveja de Eduardo.
Bárbara caminhou vagarosamente pelo bosque.

Os agentes da passiva são os termos que tem a função de praticar a ação expressa pelo verbo, quando este se encontra na voz passiva.
Costumam estar acompanhados pelas preposições “por” e “de”.
Os filhos foram motivo de orgulho da mãe.
Eduardo foi alvo de inveja de Carlos.
O bosque foi caminhado vagarosamente por Bárbara.

Termos acessórios da oração


Os termos acessórios não são necessários para dar sentido à oração, funcionando como complementação da informação. Desse
modo, eles têm a função de caracterizar o sujeito, de determinar o substantivo ou de exprimir circunstância, podendo ser adjunto adver-
bial (modificam o verbo, adjetivo ou advérbio), adjunto adnominal (especifica o substantivo, com função de adjetivo) e aposto (caracteriza
o sujeito, especificando-o).
Os irmãos brigam muito.
A brilhante aluna apresentou uma bela pesquisa à banca.
Pelé, o rei do futebol, começou sua carreira no Santos.

Tipos de Orações
Levando em consideração o que foi aprendido anteriormente sobre oração, vamos aprender sobre os dois tipos de oração que existem
na língua portuguesa: oração coordenada e oração subordinada.

24
LÍNGUA PORTUGUESA

Orações coordenadas
São aquelas que não dependem sintaticamente uma da outra, ligando-se apenas pelo sentido. Elas aparecem quando há um período
composto, sendo conectadas por meio do uso de conjunções (sindéticas), ou por meio da vírgula (assindéticas).
No caso das orações coordenadas sindéticas, a classificação depende do sentido entre as orações, representado por um grupo de
conjunções adequadas:

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONJUNÇÕES


ADITIVAS Adição da ideia apresentada na oração anterior e, nem, também, bem como, não só, tanto...
Oposição à ideia apresentada na oração anterior
ADVERSATIVAS mas, porém, todavia, entretanto, contudo...
(inicia com vírgula)
Opção / alternância em relação à ideia apresentada
ALTERNATIVAS ou, já, ora, quer, seja...
na oração anterior
logo, pois, portanto, assim, por isso, com
CONCLUSIVAS Conclusão da ideia apresentada na oração anterior
isso...
EXPLICATIVAS Explicação da ideia apresentada na oração anterior que, porque, porquanto, pois, ou seja...

Orações subordinadas
São aquelas que dependem sintaticamente em relação à oração principal. Elas aparecem quando o período é composto por duas ou
mais orações.
A classificação das orações subordinadas se dá por meio de sua função: orações subordinadas substantivas, quando fazem o papel
de substantivo da oração; orações subordinadas adjetivas, quando modificam o substantivo, exercendo a função do adjetivo; orações
subordinadas adverbiais, quando modificam o advérbio.
Cada uma dessas sofre uma segunda classificação, como pode ser observado nos quadros abaixo.

SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS FUNÇÃO EXEMPLOS


Esse era meu receio: que ela não discursasse outra
APOSITIVA aposto
vez.
COMPLETIVA NOMINAL complemento nominal Tenho medo de que ela não discurse novamente.
OBJETIVA DIRETA objeto direto Ele me perguntou se ela discursaria outra vez.
OBJETIVA INDIRETA objeto indireto Necessito de que você discurse de novo.
PREDICATIVA predicativo Meu medo é que ela não discurse novamente.
SUBJETIVA sujeito É possível que ela discurse outra vez.

SUBORDINADAS
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
ADJETIVAS
Esclarece algum detalhe, adicionando uma in-
O candidato, que é do partido socialista, está
EXPLICATIVAS formação.
sendo atacado.
Aparece sempre separado por vírgulas.
Restringe e define o sujeito a que se refere.
As pessoas que são racistas precisam rever
RESTRITIVAS Não deve ser retirado sem alterar o sentido.
seus valores.
Não pode ser separado por vírgula.
Introduzidas por conjunções, pronomes e locu-
ções conjuntivas. Ele foi o primeiro presidente que se preocu-
DESENVOLVIDAS
Apresentam verbo nos modos indicativo ou pou com a fome no país.
subjuntivo.
Não são introduzidas por pronomes, conjun-
ções sou locuções conjuntivas. Assisti ao documentário denunciando a cor-
REDUZIDAS
Apresentam o verbo nos modos particípio, ge- rupção.
rúndio ou infinitivo

25
LÍNGUA PORTUGUESA

SUBORDINADAS ADVERBIAIS FUNÇÃO PRINCIPAIS CONJUNÇÕES


Ideia de causa, motivo, razão de
CAUSAIS porque, visto que, já que, como...
efeito
como, tanto quanto, (mais / menos) que, do
COMPARATIVAS Ideia de comparação
que...
CONCESSIVAS Ideia de contradição embora, ainda que, se bem que, mesmo...
caso, se, desde que, contanto que, a menos
CONDICIONAIS Ideia de condição
que...
CONFORMATIVAS Ideia de conformidade como, conforme, segundo...
CONSECUTIVAS Ideia de consequência De modo que, (tal / tão / tanto) que...
FINAIS Ideia de finalidade que, para que, a fim de que...
quanto mais / menos... mais /menos, à me-
PROPORCIONAIS Ideia de proporção
dida que, na medida em que, à proporção que...
TEMPORAIS Ideia de momento quando, depois que, logo que, antes que...

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Os sinais de pontuação são recursos gráficos que se encontram na linguagem escrita, e suas funções são demarcar unidades e sinalizar
limites de estruturas sintáticas. É também usado como um recurso estilístico, contribuindo para a coerência e a coesão dos textos.
São eles: o ponto (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois pontos (:), o ponto de exclamação (!), o ponto de interrogação (?), as
reticências (...), as aspas (“”), os parênteses ( ( ) ), o travessão (—), a meia-risca (–), o apóstrofo (‘), o asterisco (*), o hífen (-), o colchetes
([]) e a barra (/).
Confira, no quadro a seguir, os principais sinais de pontuação e suas regras de uso.

SINAL NOME USO EXEMPLOS


Indicar final da frase declarativa Meu nome é Pedro.
. Ponto Separar períodos Fica mais. Ainda está cedo
Abreviar palavras Sra.
A princesa disse:
Iniciar fala de personagem
- Eu consigo sozinha.
Antes de aposto ou orações apositivas, enumerações
Esse é o problema da pandemia: as
: Dois-pontos ou sequência de palavras para resumir / explicar ideias
pessoas não respeitam a quarentena.
apresentadas anteriormente
Como diz o ditado: “olho por olho,
Antes de citação direta
dente por dente”.
Indicar hesitação
Sabe... não está sendo fácil...
... Reticências Interromper uma frase
Quem sabe depois...
Concluir com a intenção de estender a reflexão
Isolar palavras e datas A Semana de Arte Moderna (1922)
() Parênteses Frases intercaladas na função explicativa (podem Eu estava cansada (trabalhar e
substituir vírgula e travessão) estudar é puxado).
Indicar expressão de emoção Que absurdo!
Ponto de
! Final de frase imperativa Estude para a prova!
Exclamação
Após interjeição Ufa!
Ponto de
? Em perguntas diretas Que horas ela volta?
Interrogação
A professora disse:
Iniciar fala do personagem do discurso direto e indicar — Boas férias!
— Travessão mudança de interloculor no diálogo — Obrigado, professora.
Substituir vírgula em expressões ou frases explicativas O corona vírus — Covid-19 — ainda
está sendo estudado.

26
LÍNGUA PORTUGUESA

Vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação com muitas funções, usada para marcar uma pausa no enunciado. Veja, a seguir, as principais regras
de uso obrigatório da vírgula.
• Separar termos coordenados: Fui à feira e comprei abacate, mamão, manga, morango e abacaxi.
• Separar aposto (termo explicativo): Belo Horizonte, capital mineira, só tem uma linha de metrô.
• Isolar vocativo: Boa tarde, Maria.
• Isolar expressões que indicam circunstâncias adverbiais (modo, lugar, tempo etc): Todos os moradores, calmamente, deixaram o
prédio.
• Isolar termos explicativos: A educação, a meu ver, é a solução de vários problemas sociais.
• Separar conjunções intercaladas, e antes dos conectivos “mas”, “porém”, “pois”, “contudo”, “logo”: A menina acordou cedo, mas não
conseguiu chegar a tempo na escola. Não explicou, porém, o motivo para a professora.
• Separar o conteúdo pleonástico: A ela, nada mais abala.

No caso da vírgula, é importante saber que, em alguns casos, ela não deve ser usada. Assim, não há vírgula para separar:

• Sujeito de predicado.
• Objeto de verbo.
• Adjunto adnominal de nome.
• Complemento nominal de nome.
• Predicativo do objeto do objeto.
• Oração principal da subordinada substantiva.
• Termos coordenados ligados por “e”, “ou”, “nem”.

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância é o efeito gramatical causado por uma relação harmônica entre dois ou mais termos. Desse modo, ela pode ser verbal
— refere-se ao verbo em relação ao sujeito — ou nominal — refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas.
• Concordância em gênero: flexão em masculino e feminino
• Concordância em número: flexão em singular e plural
• Concordância em pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoa

Concordância nominal
Para que a concordância nominal esteja adequada, adjetivos, artigos, pronomes e numerais devem flexionar em número e gênero,
de acordo com o substantivo. Há algumas regras principais que ajudam na hora de empregar a concordância, mas é preciso estar atento,
também, aos casos específicos.
Quando há dois ou mais adjetivos para apenas um substantivo, o substantivo permanece no singular se houver um artigo entre os
adjetivos. Caso contrário, o substantivo deve estar no plural:
• A comida mexicana e a japonesa. / As comidas mexicana e japonesa.

Quando há dois ou mais substantivos para apenas um adjetivo, a concordância depende da posição de cada um deles. Se o adjetivo
vem antes dos substantivos, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo:
• Linda casa e bairro.

Se o adjetivo vem depois dos substantivos, ele pode concordar tanto com o substantivo mais próximo, ou com todos os substantivos
(sendo usado no plural):
• Casa e apartamento arrumado. / Apartamento e casa arrumada.
• Casa e apartamento arrumados. / Apartamento e casa arrumados.

Quando há a modificação de dois ou mais nomes próprios ou de parentesco, os adjetivos devem ser flexionados no plural:
• As talentosas Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles estão entre os melhores escritores brasileiros.

27
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o adjetivo assume função de predicativo de um sujeito ou objeto, ele deve ser flexionado no plural caso o sujeito ou objeto
seja ocupado por dois substantivos ou mais:
• O operário e sua família estavam preocupados com as consequências do acidente.

CASOS ESPECÍFICOS REGRA EXEMPLO


É PROIBIDO Deve concordar com o substantivo quando há
É proibida a entrada.
É PERMITIDO presença de um artigo. Se não houver essa determinação,
É proibido entrada.
É NECESSÁRIO deve permanecer no singular e no masculino.
Mulheres dizem “obrigada” Homens
OBRIGADO / OBRIGADA Deve concordar com a pessoa que fala.
dizem “obrigado”.
As bastantes crianças ficaram doentes
Quando tem função de adjetivo para um com a volta às aulas.
substantivo, concorda em número com o substantivo. Bastante criança ficou doente com a
BASTANTE
Quando tem função de advérbio, permanece volta às aulas.
invariável. O prefeito considerou bastante a respeito
da suspensão das aulas.
É sempre invariável, ou seja, a palavra “menas” não Havia menos mulheres que homens na
MENOS
existe na língua portuguesa. fila para a festa.
As crianças mesmas limparam a sala
MESMO Devem concordar em gênero e número com a depois da aula.
PRÓPRIO pessoa a que fazem referência. Eles próprios sugeriram o tema da
formatura.
Quando tem função de numeral adjetivo, deve
Adicione meia xícara de leite.
concordar com o substantivo.
MEIO / MEIA Manuela é meio artista, além de ser
Quando tem função de advérbio, modificando um
engenheira.
adjetivo, o termo é invariável.
Segue anexo o orçamento.
Seguem anexas as informações
Devem concordar com o substantivo a que se adicionais
ANEXO INCLUSO
referem. As professoras estão inclusas na greve.
O material está incluso no valor da
mensalidade.

Concordância verbal
Para que a concordância verbal esteja adequada, é preciso haver flexão do verbo em número e pessoa, a depender do sujeito com o
qual ele se relaciona.

Quando o sujeito composto é colocado anterior ao verbo, o verbo ficará no plural:


• A menina e seu irmão viajaram para a praia nas férias escolares.

Mas, se o sujeito composto aparece depois do verbo, o verbo pode tanto ficar no plural quanto concordar com o sujeito mais próximo:
• Discutiram marido e mulher. / Discutiu marido e mulher.

Se o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve ficar no plural e concordando com a pessoa que
tem prioridade, a nível gramatical — 1ª pessoa (eu, nós) tem prioridade em relação à 2ª (tu, vós); a 2ª tem prioridade em relação à 3ª (ele,
eles):
• Eu e vós vamos à festa.

Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (sugere “parte de algo”), seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar tanto no singular quanto no plural:
• A maioria dos alunos não se preparou para o simulado. / A maioria dos alunos não se prepararam para o simulado.

Quando o sujeito apresenta uma porcentagem, deve concordar com o valor da expressão. No entanto, quanto seguida de um subs-
tantivo (expressão partitiva), o verbo poderá concordar tanto com o numeral quanto com o substantivo:
• 27% deixaram de ir às urnas ano passado. / 1% dos eleitores votou nulo / 1% dos eleitores votaram nulo.

28
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o sujeito apresenta alguma expressão que indique quantidade aproximada, o verbo concorda com o substantivo que segue
a expressão:
• Cerca de duzentas mil pessoas compareceram à manifestação. / Mais de um aluno ficou abaixo da média na prova.

Quando o sujeito é indeterminado, o verbo deve estar sempre na terceira pessoa do singular:
• Precisa-se de balconistas. / Precisa-se de balconista.

Quando o sujeito é coletivo, o verbo permanece no singular, concordando com o coletivo partitivo:
• A multidão delirou com a entrada triunfal dos artistas. / A matilha cansou depois de tanto puxar o trenó.

Quando não existe sujeito na oração, o verbo fica na terceira pessoa do singular (impessoal):
• Faz chuva hoje

Quando o pronome relativo “que” atua como sujeito, o verbo deverá concordar em número e pessoa com o termo da oração principal
ao qual o pronome faz referência:
• Foi Maria que arrumou a casa.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “quem”, o verbo pode concordar tanto com o antecedente do pronome quanto com
o próprio nome, na 3ª pessoa do singular:
• Fui eu quem arrumei a casa. / Fui eu quem arrumou a casa.

Quando o pronome indefinido ou interrogativo, atuando como sujeito, estiver no singular, o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular:
• Nenhum de nós merece adoecer.

Quando houver um substantivo que apresenta forma plural, porém com sentido singular, o verbo deve permanecer no singular. Ex-
ceto caso o substantivo vier precedido por determinante:
• Férias é indispensável para qualquer pessoa. / Meus óculos sumiram.

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL

A regência estuda as relações de concordâncias entre os termos que completam o sentido tanto dos verbos quanto dos nomes. Dessa
maneira, há uma relação entre o termo regente (principal) e o termo regido (complemento).
A regência está relacionada à transitividade do verbo ou do nome, isto é, sua complementação necessária, de modo que essa relação
é sempre intermediada com o uso adequado de alguma preposição.

Regência nominal
Na regência nominal, o termo regente é o nome, podendo ser um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, e o termo regido é o
complemento nominal, que pode ser um substantivo, um pronome ou um numeral.
Vale lembrar que alguns nomes permitem mais de uma preposição. Veja no quadro abaixo as principais preposições e as palavras que
pedem seu complemento:
PREPOSIÇÃO NOMES
acessível; acostumado; adaptado; adequado; agradável; alusão; análogo; anterior; atento; benefício; comum;
A contrário; desfavorável; devoto; equivalente; fiel; grato; horror; idêntico; imune; indiferente; inferior; leal; necessário;
nocivo; obediente; paralelo; posterior; preferência; propenso; próximo; semelhante; sensível; útil; visível...
amante; amigo; capaz; certo; contemporâneo; convicto; cúmplice; descendente; destituído; devoto; diferente;
DE dotado; escasso; fácil; feliz; imbuído; impossível; incapaz; indigno; inimigo; inseparável; isento; junto; longe; medo;
natural; orgulhoso; passível; possível; seguro; suspeito; temeroso...
SOBRE opinião; discurso; discussão; dúvida; insistência; influência; informação; preponderante; proeminência; triunfo...
acostumado; amoroso; analogia; compatível; cuidadoso; descontente; generoso; impaciente; ingrato;
COM
intolerante; mal; misericordioso; ocupado; parecido; relacionado; satisfeito; severo; solícito; triste...
abundante; bacharel; constante; doutor; erudito; firme; hábil; incansável; inconstante; indeciso; morador;
EM
negligente; perito; prático; residente; versado...
atentado; blasfêmia; combate; conspiração; declaração; fúria; impotência; litígio; luta; protesto; reclamação;
CONTRA
representação...
PARA bom; mau; odioso; próprio; útil...

29
LÍNGUA PORTUGUESA

Regência verbal As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
Na regência verbal, o termo regente é o verbo, e o termo regi- porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
do poderá ser tanto um objeto direto (não preposicionado) quanto bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo).
um objeto indireto (preposicionado), podendo ser caracterizado
também por adjuntos adverbiais. Polissemia e monossemia
Com isso, temos que os verbos podem se classificar entre tran- As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar
sitivos e intransitivos. É importante ressaltar que a transitividade do mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
verbo vai depender do seu contexto. frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo).
Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas
Verbos intransitivos: não exigem complemento, de modo que um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
fazem sentido por si só. Em alguns casos, pode estar acompanhado
de um adjunto adverbial (modifica o verbo, indicando tempo, lugar, Denotação e conotação
modo, intensidade etc.), que, por ser um termo acessório, pode ser Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
retirado da frase sem alterar sua estrutura sintática: um sentido objetivo e literal. Ex:Está fazendo frio. / Pé da mulher.
• Viajou para São Paulo. / Choveu forte ontem. Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé
Verbos transitivos diretos: exigem complemento (objeto dire- da cadeira.
to), sem preposição, para que o sentido do verbo esteja completo:
• A aluna entregou o trabalho. / A criança quer bolo. Hiperonímia e hiponímia
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi-
Verbos transitivos indiretos: exigem complemento (objeto in- ficado entre as palavras.
direto), de modo que uma preposição é necessária para estabelecer Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que
o sentido completo: tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão.
• Gostamos da viagem de férias. / O cidadão duvidou da cam- Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por-
panha eleitoral. tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex:
Limão é hipônimo de fruta.
Verbos transitivos diretos e indiretos: em algumas situações, o
verbo precisa ser acompanhado de um objeto direto (sem preposi- Formas variantes
ção) e de um objeto indireto (com preposição): São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
• Apresentou a dissertação à banca. / O menino ofereceu ajuda que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
à senhora. farto / gatinhar – engatinhar.

Arcaísmo
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS. SEMÂNTICA São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far-
as principais relações e suas características: mácia / franquia <—> sinceridade.

Sinonímia e antonímia
As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado REDAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS
semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente
<—> esperto O que é Redação Oficial1
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi- Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira
cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex: pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações.
forte <—> fraco Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do Poder Executivo. A reda-
ção oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão
Parônimos e homônimos culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade.
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro- Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que
núncia semelhantes, porém com significados distintos. dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe- fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal). Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega-
As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios fundamentais de
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta). toda administração pública, claro está que devem igualmente nor-
As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma tear a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe
pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu- que um ato normativo de qualquer natureza seja redigido de forma
meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical). obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão.

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm

30
LÍNGUA PORTUGUESA

A transparência do sentido dos atos normativos, bem como a) da ausência de impressões individuais de quem comunica:
sua inteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Che-
inaceitável que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. fe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público
A publicidade implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padro-
Além de atender à disposição constitucional, a forma dos atos nor- nização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes
mativos obedece a certa tradição. Há normas para sua elaboração setores da Administração guardem entre si certa uniformidade;
que remontam ao período de nossa história imperial, como, por b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com
exemplo, a obrigatoriedade – estabelecida por decreto imperial de duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre
10 de dezembro de 1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos,
número de anos transcorridos desde a Independência. Essa prática temos um destinatário concebido de forma homogênea e impes-
foi mantida no período republicano. Esses mesmos princípios (im- soal;
pessoalidade, clareza, uniformidade, concisão e uso de linguagem c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o uni-
formal) aplicam-se às comunicações oficiais: elas devem sempre verso temático das comunicações oficiais se restringe a questões
permitir uma única interpretação e ser estritamente impessoais e que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe
uniformes, o que exige o uso de certo nível de linguagem. Nesse qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na
quadro, fica claro também que as comunicações oficiais são neces- redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exem-
sariamente uniformes, pois há sempre um único comunicador (o plo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de
Serviço Público) e o receptor dessas comunicações ou é o próprio jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser
Serviço Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão a isenta da interferência da individualidade que a elabora. A concisão,
outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou instituições tratados de for- a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para
ma homogênea (o público). elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja
Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações alcançada a necessária impessoalidade.
oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de
tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos A necessidade de empregar determinado nível de linguagem
para comunicações oficiais, regulados pela Portaria no 1 do Ministro nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio ca-
de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio ráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalida-
século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primei- de. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normati-
ra edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a identificação vo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam
que se buscou fazer das características específicas da forma oficial o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em
de redigir não deve ensejar o entendimento de que se proponha sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O mesmo
a criação – ou se aceite a existência – de uma forma específica de se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de
linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente informar com clareza e objetividade. As comunicações que partem
se chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser a dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e
redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar
do jargão burocrático e de formas arcaicas de construção de frases. o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há
A redação oficial não é, portanto, necessariamente árida e infensa à dúvida que um texto marcado por expressões de circulação restrita,
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar com im- como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem
pessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso sua compreensão dificultada. Ressalte-se que há necessariamente
que se faz da língua, de maneira diversa daquele da literatura, do uma distância entre a língua falada e a escrita. Aquela é extrema-
texto jornalístico, da correspondência particular, etc. Apresentadas mente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de
essas características fundamentais da redação oficial, passemos à costumes, e pode eventualmente contar com outros elementos que
análise pormenorizada de cada uma delas. auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc. Para
mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa distân-
A Impessoalidade cia. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as transforma-
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela ções, tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas de
escrita. Para que haja comunicação, são necessários: si mesma para comunicar. A língua escrita, como a falada, compre-
a) alguém que comunique, ende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por
b) algo a ser comunicado, e exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de deter-
c) alguém que receba essa comunicação. minado padrão de linguagem que incorpore expressões extrema-
mente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se há de
No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço estranhar a presença do vocabulário técnico correspondente. Nos
Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Di- dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se
visão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto faz da língua, a finalidade com que a empregamos. O mesmo ocorre
relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade
comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro ór- de informar com o máximo de clareza e concisão, eles requerem o
gão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União. Perce- uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão culto
be-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, e
assuntos que constam das comunicações oficiais decorre: b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários do
idioma.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padrão O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao princí-
culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das pio de economia linguística, à mencionada fórmula de empregar
diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modis- o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de
mos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é,
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de
cidadãos. reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras
Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já
de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de ex- foi dito. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em
pressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica empre- todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias
go de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas de-
figuras de linguagem próprios da língua literária. Pode-se concluir, talhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias
então, que não existe propriamente um “padrão oficial de lingua- que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior
gem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas. A
oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme
expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das for- já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como
mas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se con- claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor.
sagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende
burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre estritamente das demais características da redação oficial. Para ela
sua compreensão limitada. A linguagem técnica deve ser empre- concorrem:
gada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações
indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vo- que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;
cabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de en-
por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, tendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação
portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros restrita, como a gíria e o jargão;
órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos. c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a impres-
Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologis- cindível uniformidade dos textos;
mo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica. d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguís-
ticos que nada lhe acrescentam.
Formalidade e Padronização
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é, É pela correta observação dessas características que se redige
obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exi- com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo
gências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros
imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitu-
somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou da- ra que torna possível sua correção. Na revisão de um expediente,
quele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu
(v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento); destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por
mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em de-
no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação. corrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre
uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técni-
una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo cos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos
padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Ma- que não possam ser dispensados. A revisão atenta exige, necessa-
nual, exige que se atente para todas as características da redação riamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comu-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. A clareza nicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve pro-
datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a ceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão.
correta diagramação do texto são indispensáveis para a padroniza- “Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima.
ção. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
normas específicas para cada tipo de expediente.
As comunicações oficiais
Concisão e Clareza A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, se-
A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do guir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da
texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máxi- Redação Oficial. Além disso, há características específicas de cada
mo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo.
com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conheci- Antes de passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns
mento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego
revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação
se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias do signatário.
de ideias.

32
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes de Tratamento b) do Poder Legislativo:


Deputados Federais e Senadores;
Breve História dos Pronomes de Tratamento Ministro do Tribunal de Contas da União;
O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem Deputados Estaduais e Distritais;
larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos, Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
“como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a
palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de dis- c) do Poder Judiciário:
tinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de Ministros dos Tribunais Superiores;
pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de Membros de Tribunais;
tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a um Juízes;
atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e Auditores da Justiça Militar.
não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei com
o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos
o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respec-
eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência, tivo:
vossa santidade. ” A partir do final do século XVI, esse modo de Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e de- Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Fede-
pois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em ral.
desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de pronomes
de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autorida- As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor,
des civis, militares e eclesiásticas. seguido do cargo respectivo:
Senhor Senador,
Concordância com os Pronomes de Tratamento Senhor Juiz,
Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indireta) Senhor Ministro,
apresentam certas peculiaridades quanto à concordância verbal, Senhor Governador,
nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gra-
matical (à pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comuni- No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às
cação), levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma:
concorda com o substantivo que integra a locução como seu núcleo
sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelên- A Sua Excelência o Senhor
cia conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes possessivos Fulano de Tal
referidos a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes- Ministro de Estado da Justiça
soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos- 70.064-900 – Brasília. DF
so...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero
gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, e A Sua Excelência o Senhor
não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso in- Senador Fulano de Tal
terlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefa- Senado Federal
do”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa 70.165-900 – Brasília. DF
Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
A Sua Excelência o Senhor
Emprego dos Pronomes de Tratamento Fulano de Tal
Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento obedece Juiz de Direito da 10a Vara Cível
a secular tradição. São de uso consagrado: Rua ABC, no 123
Vossa Excelência, para as seguintes autoridades: 01.010-000 – São Paulo. SP

a) do Poder Executivo; Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento


Presidente da República; digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dig-
Vice-Presidente da República; nidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público,
Ministros de Estado; sendo desnecessária sua repetida evocação.
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Fe- Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e
deral; para particulares. O vocativo adequado é:
Oficiais-Generais das Forças Armadas; Senhor Fulano de Tal,
Embaixadores; (...)
Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de
cargos de natureza especial; No envelope, deve constar do endereçamento:
Secretários de Estado dos Governos Estaduais; Ao Senhor
Prefeitos Municipais. Fulano de Tal
Rua ABC, nº 123

33
LÍNGUA PORTUGUESA

70.123 – Curitiba. PR Identificação do Signatário


Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da Repú-
Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o em- blica, todas as demais comunicações oficiais devem trazer o nome e
prego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local de sua assina-
o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o tura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
uso do pronome de tratamento Senhor. Acrescente-se que doutor
não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo (espaço para assinatura)
indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em NOME
comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem Chefe da Secretária-geral da Presidência da República
concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por
doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em (espaço para assinatura)
Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a dese- NOME
jada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a forma Ministro de Estado da Justiça
Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comu-
nicações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura
vocativo: em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao me-
nos a última frase anterior ao fecho.
Magnífico Reitor,
(...) O Padrão Ofício
Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela fi-
Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a nalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com
hierarquia eclesiástica, são: o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única,
que siga o que chamamos de padrão ofício. As peculiaridades de
Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O voca- cada um serão tratadas adiante; por ora busquemos as suas seme-
tivo correspondente é: lhanças.
Santíssimo Padre,
(...) Partes do documento no Padrão Ofício
O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em co- partes:
municações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo: a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que
Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou o expede:
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, Exemplos:
(...) Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME

Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações b) local e data em que foi assinado, por extenso, com alinha-
dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Se- mento à direita:
nhoria Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores Exemplo:
religiosos. Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos 13
e demais religiosos. Brasília, 15 de março de 1991.

Fechos para Comunicações c) assunto: resumo do teor do documento


O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade Exemplos:
óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Por- Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
taria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze
padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para to- a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o en-
das as modalidades de comunicação oficial: dereço.
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
pública: e) texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento
Respeitosamente, de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura:
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia in- – Introdução, que se confunde com o parágrafo de abertura,
ferior: na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o
Atenciosamente, uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre-
-me informar que”, empregue a forma direta;
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a au- – Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o texto
toridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, de- contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas
vidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição;
Relações Exteriores. – Conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente reapresen-
tada a posição recomendada sobre o assunto.

34
LÍNGUA PORTUGUESA

Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos
Já quando se tratar de mero encaminhamento de documentos e ilustrações;
a estrutura é a seguinte: l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser
– Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo
sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu- Rich Text nos documentos de texto;
nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos n) dentro do possível, todos os documentos elaborados devem
do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e as- ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou apro-
sunto de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado, veitamento de trechos para casos análogos;
segundo a seguinte fórmula: o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem
“Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991, enca- ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do
minho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990, do Depar- documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: “Of. 123 - relatório
tamento Geral de Administração, que trata da requisição do servi- produtividade ano 2002”
dor Fulano de Tal. ” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento,
a anexa cópia do telegrama no 12, de 1o de fevereiro de 1991, do Aviso e Ofício
Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de — Definição e Finalidade
projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste. ” Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial pratica-
– Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer mente idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expe-
algum comentário a respeito do documento que encaminha, pode- dido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de
mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
rá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso contrário,
demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento de
não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero
assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e,
encaminhamento.
no caso do ofício, também com particulares.
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações);
— Forma e Estrutura
Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do padrão
g) assinatura do autor da comunicação; e
ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário (v. 2.1
Pronomes de Tratamento), seguido de vírgula.
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Signa-
Exemplos:
tário). Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Senhora Ministra
Forma de diagramação Senhor Chefe de Gabinete
Os documentos do Padrão Ofício5 devem obedecer à seguinte Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as seguin-
forma de apresentação: tes informações do remetente:
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo – Nome do órgão ou setor;
12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé; – Endereço postal;
b) para símbolos não existentes na fonte Times New Roman po- – telefone E endereço de correio eletrônico.
der-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
c) é obrigatória constar a partir da segunda página o número Memorando
da página;
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impres- — Definição e Finalidade
sos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda O memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
e direta terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquica-
espelho”); mente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto,
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distân- de uma forma de comunicação eminentemente interna. Pode ter
cia da margem esquerda; caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a ex-
f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no míni- posição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por
mo, 3,0 cm de largura; determinado setor do serviço público. Sua característica principal é
g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; 5 O a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve
constante neste item aplica-se também à exposição de motivos e à pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos buro-
mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. Mensagem). cráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comuni-
h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de cações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio
6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.
comportar tal recurso, de uma linha em branco; Esse procedimento permite formar uma espécie de processo sim-
i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado, plificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões,
letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no
outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do memorando.
documento;

35
LÍNGUA PORTUGUESA

— Forma e Estrutura 1. Síntese do problema ou da situação que reclama providên-


Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do padrão cias
ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencio- 2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na
nado pelo cargo que ocupa. medida proposta
Exemplos: 3. Alternativas existentes às medidas propostas
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Ao Sr. Subche- Mencionar:
fe para Assuntos Jurídicos - Se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;
- Se há projetos sobre a matéria no Legislativo;
Exposição de Motivos - Outras possibilidades de resolução do problema.

— Definição e Finalidade 4. Custos


Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da Mencionar:
República ou ao Vice-Presidente para: - Se a despesa decorrente da medida está prevista na lei orça-
a) informá-lo de determinado assunto; mentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;
b) propor alguma medida; ou - Se é o caso de solicitar-se abertura de crédito extraordinário,
c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo. especial ou suplementar;
- Valor a ser despendido em moeda corrente;
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente da
República por um Ministro de Estado. 5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente
Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um Mi- se o ato proposto for medido provisória ou projeto de lei que deva
nistério, a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os tramitar em regime de urgência)
Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de intermi- Mencionar:
nisterial. - Se o problema configura calamidade pública;
- Por que é indispensável a vigência imediata;
— Forma e Estrutura - Se se trata de problema cuja causa ou agravamento não te-
Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação do nham sido previstos;
padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que acompanha a - Se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação já
exposição de motivos que proponha alguma medida ou apresente prevista.
projeto de ato normativo, segue o modelo descrito adiante. A ex-
posição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas 6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medi-
formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter da proposta possa vir a tê-lo)
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma 7. Alterações propostas
medida ou submeta projeto de ato normativo. 8. Síntese do parecer do órgão jurídico
No primeiro caso, o da exposição de motivos que simplesmen- Com base em avaliação do ato normativo ou da medida pro-
te leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República, posta à luz das questões levantadas no item 10.4.3.
sua estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício. A falta ou insuficiência das informações prestadas pode acar-
Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Pre- retar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil,
sidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada a devolução do projeto de ato normativo para que se complete o
ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora sigam exame ou se reformule a proposta. O preenchimento obrigatório do
também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentá- anexo para as exposições de motivos que proponham a adoção de
rios julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente, alguma medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade:
apontar: a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se busca
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção da resolver;
medida ou do ato normativo proposto; b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do pro-
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou blema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a edição
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e even- do ato, em consonância com as questões que devem ser analisadas
tuais alternativas existentes para equacioná-lo; na elaboração de proposições normativas no âmbito do Poder Exe-
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou cutivo (v. 10.4.3.).
qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema. c) conferir perfeita transparência aos atos propostos.

Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas
de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo,
modelo previsto no Anexo II do Decreto no 4.176, de 28 de março o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se e
de 2002. formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação pro-
Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do Ministério funda e direta de toda a situação que está a reclamar a adoção de
ou órgão equivalente) nº de 200. certa providência ou a edição de um ato normativo; o problema a
ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos
e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de
motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade da
providência proposta: por que deve ser adotada e como resolverá

36
LÍNGUA PORTUGUESA

o problema. Nos casos em que o ato proposto for questão de pes- processo desenvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange
soal (nomeação, promoção, ascensão, transferência, readaptação, minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das ma-
reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção, térias objeto das proposições por elas encaminhadas. Tais exames
exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade, aposentadoria), materializam-se em pareceres dos diversos órgãos interessados no
não é necessário o encaminhamento do formulário de anexo à ex- assunto das proposições, entre eles o da Advocacia-Geral da União.
posição de motivos. Mas, na origem das propostas, as análises necessárias constam da
Ressalte-se que: exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição
– A síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico de Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem
não dispensa o encaminhamento do parecer completo; de encaminhamento ao Congresso.
– O tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos b) encaminhamento de medida provisória.
pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição,
comentários a serem ali incluídos. o Presidente da República encaminha mensagem ao Congresso,
dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do
Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que Senado Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada
a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza, conci- pela Coordenação de Documentação da Presidência da República.
são, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do padrão c) indicação de autoridades.
culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de motivos é As mensagens que submetem ao Senado Federal a indicação
a principal modalidade de comunicação dirigida ao Presidente da de pessoas para ocuparem determinados cargos (magistrados dos
República pelos Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser Tribunais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do
Banco Central, Procurador-Geral da República, Chefes de Missão Di-
encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário
plomática, etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, inci-
ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo ou em
sos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
parte.
privativa para aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado,
devidamente assinado, acompanha a mensagem.
Mensagem d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden-
te da República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata-
— Definição e Finalidade -se de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a
É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos autorização é da competência privativa do Congresso Nacional. O
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo Chefe Presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, quando a
do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar sobre fato ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma comunicação a cada
da Administração Pública; expor o plano de governo por ocasião Casa do Congresso, enviando-lhes mensagens idênticas.
da abertura de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de
matérias que dependem de deliberação de suas Casas; apresentar concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de submeter
veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso XII
de interesse dos poderes públicos e da Nação. Minuta de mensa- do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos legais a
gem pode ser encaminhada pelos Ministérios à Presidência da Re- outorga ou renovação da concessão após deliberação do Congresso
pública, a cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens Nacional (Constituição, art. 223, § 3o). Descabe pedir na mensagem
mais usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as se- a urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § 1o do
guintes finalidades: art. 223 já define o prazo da tramitação. Além do ato de outorga
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, complemen- ou renovação, acompanha a mensagem o correspondente processo
tar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou complementar são administrativo.
enviados em regime normal (Constituição, art. 61) ou de urgência f) encaminhamento das contas referentes ao exercício ante-
(Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe lembrar que o projeto pode rior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta dias após a
ser encaminhado sob o regime normal e mais tarde ser objeto de abertura da sessão legislativa para enviar ao Congresso Nacional as
nova mensagem, com solicitação de urgência. Em ambos os casos, contas referentes ao exercício anterior (Constituição, art. 84, XXIV),
a mensagem se dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é para exame e parecer da Comissão Mista permanente (Constitui-
encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da ção, art. 166, § 1o), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
República ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento disci-
plinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). Quan-
g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
to aos projetos de lei financeira (que compreendem plano plurianu-
Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a situação
al, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e créditos adicio-
do País e solicitação de providências que julgar necessárias (Cons-
nais), as mensagens de encaminhamento dirigem-se aos Membros
tituição, art. 84, XI). O portador da mensagem é o Chefe da Casa
do Congresso Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao Civil da Presidência da República. Esta mensagem difere das demais
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 porque vai encadernada e é distribuída a todos os Congressistas em
da Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis fi- forma de livro.
nanceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma do h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Nacional está Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso Nacio-
o Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 57, § 5o), que co- nal, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde
manda as sessões conjuntas. As mensagens aqui tratadas coroam o se originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou

37
LÍNGUA PORTUGUESA

a lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos, Telegrama


nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de san-
ção. — Definição e Finalidade
i) comunicação de veto. Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os proce-
Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 66, dimentos burocráticos, passa a receber o título de telegrama toda
§ 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se o veto é comunicação oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Por
parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos cofres públicos
vai publicado na íntegra no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e e tecnologicamente superada, deve restringir-se o uso do telegra-
Estrutura), ao contrário das demais mensagens, cuja publicação se ma apenas àquelas situações que não seja possível o uso de correio
restringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto) eletrônico ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, tam-
j) outras mensagens. bém em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação
Também são remetidas ao Legislativo com regular frequência deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).
mensagens com:
– Encaminhamento de atos internacionais que acarretam en- — Forma e Estrutura
cargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I); Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a estrutura
– Pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às opera- dos formulários disponíveis nas agências dos Correios e em seu sítio
ções e prestações interestaduais e de exportação na Internet.
(Constituição, art. 155, § 2o, IV);
– Proposta de fixação de limites globais para o montante da Fax
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
– Pedido de autorização para operações financeiras externas — Definição e Finalidade
(Constituição, art. 52, V); e outros. O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é uma for-
Entre as mensagens menos comuns estão as de: ma de comunicação que está sendo menos usada devido ao desen-
– Convocação extraordinária do Congresso Nacional (Constitui- volvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de mensa-
ção, art. 57, § 6o); gens urgentes e para o envio antecipado de documentos, de cujo
– Pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral da conhecimento há premência, quando não há condições de envio do
República (art. 52, XI, e 128, § 2o); documento por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele
– Pedido de autorização para declarar guerra e decretar mobi- segue posteriormente pela via e na forma de praxe. Se necessário
o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com
lização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
o próprio fax, cujo papel, em certos modelos, se deteriora rapida-
– Pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz
mente.
(Constituição, art. 84, XX);
– Justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua
— Forma e Estrutura
prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o);
Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a estrutura
– Pedido de autorização para decretar o estado de sítio (Cons-
que lhes são inerentes. É conveniente o envio, juntamente com o
tituição, art. 137);
documento principal, de folha de rosto, i. é., de pequeno formulário
– Relato das medidas praticadas na vigência do estado de sítio
com os dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor-
ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único); me exemplo a seguir:
– Proposta de modificação de projetos de leis financeiras
(Constituição, art. 166, § 5o); Correio Eletrônico
– Pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem sem
despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda ou re- — Definição e finalidade
jeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, art. 166, Correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e celeridade,
§ 8o); transformou-se na principal forma de comunicação para transmis-
– Pedido de autorização para alienar ou conceder terras públi- são de documentos.
cas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, § 1o); etc.
— Forma e Estrutura
— Forma e Estrutura Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
As mensagens contêm: flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para sua es-
a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, horizon- trutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem incompatí-
talmente, no início da margem esquerda: vel com uma comunicação oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e
Mensagem no Comunicações Oficiais). O campo assunto do formulário de correio
b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o cargo eletrônico mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a or-
do destinatário, horizontalmente, no início da margem esquerda; ganização documental tanto do destinatário quanto do remetente.
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, prefe-
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; rencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que encaminha al-
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e gum arquivo deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo.
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem direita. Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de
A mensagem, como os demais atos assinados pelo Presidente leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o pe-
da República, não traz identificação de seu signatário. dido de confirmação de recebimento.

38
LÍNGUA PORTUGUESA

—Valor documental As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-


Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de malismo existente na situação de comunicação; com o modo de
correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que possa ser expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
aceito como documento original, é necessário existir certificação di- sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
gital que ateste a identidade do remetente, na forma estabelecida cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe-
em lei. cífico de algum campo científico, por exemplo).

Expressões que demandam atenção


REESCRITURA DE FRASE – acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar,
A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi- aceito
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos – acendido, aceso (formas similares) – idem
ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que – à custa de – e não às custas de
observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá, – à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con-
na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório. forme
A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois, – na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não – a meu ver – e não ao meu ver
implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto. – a ponto de – e não ao ponto de
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal
Quando reescrevemos,  refazemos  nosso texto, é um proces- – em termos de – modismo; evitar
so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor – enquanto que – o que é redundância
tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente, – entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a
possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er- – implicar em – a regência é direta (sem em)
ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen- – ir de encontro a – chocar-se com
volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer – ir ao encontro de – concordar com
melhor seus objetivos e razões para a produção de textos. – se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se-
parado; quando não se pode, junto
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja – todo mundo – todos
um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa – todo o mundo – o mundo inteiro
a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento – não pagamento = hífen somente quando o segundo termo
do processo de escrever do aluno. for substantivo
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo
Operações linguísticas de reescrita: presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope- – esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte
rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons- (tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre-
trução do texto escrito. sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
- Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam- Expressões não recomendadas
bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
várias frases. – a partir de (a não ser com valor temporal).
- Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi- Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de...
do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases. – através de (para exprimir “meio” ou instrumento).
- Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter- Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se-
mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag- gundo...
ma, ou sobre conjuntos generalizados.
- Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo- – devido a.
dificar sua ordem no processo de encadeamento. Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.

Graus de Formalismo – dito.


São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais Opção: citado, mencionado.
como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por – enquanto.
construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases Opção: ao passo que.
curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado – inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).
entre membros de uma mesma família ou entre amigos). Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.

39
LÍNGUA PORTUGUESA

– no sentido de, com vistas a. Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista. empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro in-
conscientemente.
– pois (no início da oração). Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utili-
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. zação da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, da-
quele que fala.
– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular Exemplo: Nós te amamos!

FUNÇÃO SOCIAL DA LINGUAGEM Função Conativa


A função conativa ou apelativa é caracterizada por uma lingua-
Funções da linguagem são recursos da comunicação que, de gem persuasiva com a finalidade de convencer o leitor. Por isso, o
acordo com o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem trans- grande foco é no receptor da mensagem.
mitida, em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre. Trata-se de uma função muito utilizada nas propagandas, pu-
São seis as funções da linguagem, que se encontram direta- blicidades e discursos políticos, a fim de influenciar o receptor por
mente relacionadas com os elementos da comunicação. meio da mensagem transmitida.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na ter-
Funções da Linguagem Elementos da ceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso do
Comunicação vocativo.
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com
Função referencial ou denotativa contexto a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de ma-
Função emotiva ou expressiva emissor neira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios
publicitários que nos dizem como seremos bem-sucedidos, atraen-
Função apelativa ou conativa receptor
tes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos
Função poética mensagem certos produtos.
Função fática canal Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos,
que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto esperta-
Função metalinguística código lhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemoriza-
dos, que se deixam conduzir sem questionar.
Função Referencial Exemplos: Só amanhã, não perca!
A função referencial tem como objetivo principal informar, re- Vote em mim!
ferenciar algo. Esse tipo de texto, que é voltado para o contexto da
comunicação, é escrito na terceira pessoa do singular ou do plural, Função Poética
o que enfatiza sua impessoalidade. Esta função é característica das obras literárias que possui
Para exemplificar a linguagem referencial, podemos citar os como marca a utilização do sentido conotativo das palavras.
materiais didáticos, textos jornalísticos e científicos. Todos eles, por Nela, o emissor preocupa-se de que maneira a mensagem será
meio de uma linguagem denotativa, informam a respeito de algo, transmitida por meio da escolha das palavras, das expressões, das
sem envolver aspectos subjetivos ou emotivos à linguagem. figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal elemento comunica-
tivo é a mensagem.
Exemplo de uma notícia: A função poética não pertence somente aos textos literários.
O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Global Podemos encontrar a função poética também na publicidade ou
para Atividade Física de Crianças — entidade internacional dedica- nas expressões cotidianas em que há o uso frequente de metáforas
da ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jovens — foi (provérbios, anedotas, trocadilhos, músicas).
decepcionante. Realizado em 49 países de seis continentes com o
objetivo de aferir o quanto crianças e adolescentes estão fazendo Exemplo:
exercícios físicos, o estudo mostrou que elas estão muito sedentá- “Basta-me um pequeno gesto,
rias. Em 75% das nações participantes, o nível de atividade física feito de longe e de leve,
praticado por essa faixa etária está muito abaixo do recomendado para que venhas comigo
para garantir um crescimento saudável e um envelhecimento de e eu para sempre te leve...”
qualidade — com bom condicionamento físico, músculos e esquele- (Cecília Meireles)
tos fortes e funções cognitivas preservadas. De “A” a “F”, a maioria
dos países tirou nota “D”. Função Fática
A função fática tem como principal objetivo estabelecer um ca-
Função Emotiva nal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para iniciar a
Caracterizada pela subjetividade com o objetivo de emocionar. transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua continuação.
É centrada no emissor, ou seja, quem envia a mensagem. A mensa- A ênfase dada ao canal comunicativo.
gem não precisa ser clara ou de fácil entendimento. Esse tipo de função é muito utilizado nos diálogos, por exem-
plo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos ao tele-
fone, etc.

40
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplo: Não é difícil perceber que a norma culta – por diversas razões
-- Calor, não é!? de ordem política, econômica, social, cultural – é algo reservado
-- Sim! Li na previsão que iria chover. a poucas pessoas no Brasil; talvez porque haja um distanciamento
-- Pois é... entre as normatizações gramaticais e a obediência dos falantes em
seguir tais normas. Há uma indagação implícita neste fato: “ Existe
Função Metalinguística alguma disfunção, alguma impossibilidade de uso da gramática nor-
É caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a lingua- mativa pela grande maioria dos falantes? ” Ou “Estamos apenas a
gem que se refere a ela mesma. Dessa forma, o emissor explica um observar a língua como um fator de identidade? ”
código utilizando o próprio código. Sendo esse o caso, a língua como referencial humano traria
Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem des- inúmeras variações, porque decididamente não somos todos iguais
taque são as gramáticas e os dicionários. e devido ao meio espacial ou social em que estejamos haverá uma
Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um do- tendência da língua em se caracterizar por esses agentes, sendo
cumentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do cinema assim, o indivíduo que protagoniza a fala poderá adequá-la a seu
são alguns exemplos. perfil ou ao grupo a que pertence.
Exemplo: Comunidades diferentes vivenciam experiências diferentes e
Amizade s.f.: 1. sentimento de grande afeição, simpatia, apreço isto se reflete nos respectivos sistemas linguísticos: léxico, morfo-
entre pessoas ou entidades. “sentia-se feliz com a amizade do seu lógico e sintático. Um grupo acadêmico de uma universidade apre-
mestre” sentará uma variedade linguística bem diferente de um grupo de
2. POR METONÍMIA: quem é amigo, companheiro, camarada. vendedores ambulantes do interior do Brasil. Cada qual usará o
“é uma de suas amizades fiéis” recurso linguístico que lhe foi concebido em seu processo de apren-
dizagem para efetuar a comunicação.
Do exposto, concluímos que a língua signo/privilegiado de
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA identidade não é um instrumento neutro, um contingente meio de
comunicação entre os homens, mas principalmente a expressão de
Variedades Linguísticas sua diferença.
A língua escrita e falada apresenta uma série de variações e Tipos de variação linguística
transformações ao passar do tempo. Tais variações decorrem das As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos
diferenças entre as épocas, condições sociais, culturais e regionais geográficos, temporais e sociais.
dos falantes. Tomemos como exemplo a transformação ortográfica
do vocábulo “farmácia” que antes era grafado com “ph”, assim, a Variações diatópicas
palavra era escrita “pharmácia”. As variações diatópicas, também chamadas de variações regio-
Todas as variedades linguísticas são adequadas, desde que nais ou geográficas, são variações que ocorrem de acordo com o
cumpram com eficiência o papel fundamental da língua, o de per- local onde vivem os falantes, sofrendo sua influência. Este tipo de
mitir e estabelecer a comunicação entre as pessoas. Apesar disso, variação ocorre porque diferentes regiões têm diferentes culturas,
há uma entre as variedades que tem maior prestígio social, a norma com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim di-
culta ou norma padrão. ferentes estruturas linguísticas.
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te- Exemplos de variações diatópicas
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem: Diferentes palavras para os mesmos conceitos:
a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou – aipim, mandioca, macaxeira;
profissões (policiais, jogadores de futebol, advogados, surfistas). – abóbora, jerimum, moranga;
O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade de
condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou em Diferentes sotaques, dialetos e falares:
nossa comunidade. Ao contrário, o domínio da língua culta, somado – dialeto caipira;
ao domínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais prepa- – dialeto gaúcho;
rados para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos,
já que a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser Reduções de palavras ou perdas de fonemas:
a mesma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana. – véio (velho);
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre- – muié (mulher);
gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
participamos. Variações diacrônicas
As variações diacrônicas, também chamadas de variações his-
Variação social tóricas, são variações que ocorrem de acordo com as diferentes
A variação social está relacionada a fatores sociais como etnia, épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português
sexo, faixa etária, grau de escolaridade e grupo profissional. Os vá- arcaico do português moderno, bem como diversas palavras que
rios estudos que enfocam este tipo de relação língua/fatores sociais ficam em desuso.
têm privilegiado a variação morfossintática ou a morfo-fonológica. Exemplos de variações diacrônicas
Fica claro que a variação social não compromete a compreen-
são entre indivíduos, uma vez que alguns momentos de incoerência
são sanados pelo contexto em que a fala se forma.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

Palavras que caíram em desuso: Coerência


– vossemecê; É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
– botica; Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
Grafias que caíram em desuso: linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
– flôr; outra”).
– pharmácia; Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etá- der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
ria: das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
– Ele é maior barbeiro. elementos formativos de um texto.
– Vá catar coquinho. A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
Variações diastráticas elementos textuais.
As variações diastráticas, também chamadas de variações so- A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
ciais, são variações que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
de diferentes grupos sociais. Este tipo de variação ocorre porque di- sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
ferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
de atuação e sistemas de comunicação. imediato a coerência de um discurso.
Exemplos de variações diastráticas
A coerência:
Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
skatistas: - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
– Prefiro freestyle. tual;
– O gringo tem um carrinho irado. - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
o aspecto global do texto;
Jargões próprios de um grupo profissional, como os policiais e - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
militares:
– Ele deu sopa na crista. Coesão
– Vamos na rota dele. É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
Variações diafásicas ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
As variações diafásicas, também chamadas de variações situ- fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
acionais, são variações que ocorrem de acordo com o contexto ou tem-se a coesão lexical.
situação em que decorre o processo comunicativo. Há momentos A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
em que é utilizado um registro formal e outros em que é utilizado vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
um registro informal. gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
nentes do texto.
Variação linguística e preconceito linguístico Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
O preconceito linguístico surge porque nem todas as variações que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
linguísticas usufruem do mesmo prestígio. Algumas são conside- néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
radas superiores, mais corretas e cultas e outras são consideradas do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
menos cultas ou mesmo incorretas. advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
Preconceito linguístico ocorre sempre que uma determinada A coesão:
variedade é referida com um tom pejorativo e depreciativo, estan- - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
do associada a situações de deboche ou até de violência, o que con- - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
tribui para a exclusão social de diversos indivíduos e grupos. - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
componentes do texto;
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO TEXTUAL: COESÃO E
COERÊNCIA
FIGURAS DE LINGUAGEM
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são Figuras de Linguagem
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili- valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um re-
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além curso linguístico para expressar de formas diferentes experiências
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada. comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tor-
nando-o poético.

42
LÍNGUA PORTUGUESA

As figuras de linguagem classificam-se em Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que
- figuras de palavra; a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida.
- figuras de pensamento;
- figuras de construção ou sintaxe. Exemplos:
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras)
Figuras de palavra: emprego de um termo com sentido dife- Comprei um panamá. (chapéu de Panamá)
rente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conse- Tomei um Danone. (iogurte)
guir um efeito mais expressivo na comunicação.
Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné-
Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos co- doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural.
nectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente
vem com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase. Exemplo:
A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro
Exemplos sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
...a vida é cigana plural)
É caravana (José Cândido de Carvalho)
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)
Figuras Sonoras
Encarnado e azul são as cores do meu desejo. Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral-
(Carlos Drummond de Andrade) mente em posição inicial da palavra.

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, Exemplo:


ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve-
como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a com- ladas.
paração: parecer, assemelhar-se e outros. (Cruz e Sousa)

Exemplo: Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um


Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando verso ou poesia.
você entrou em mim como um sol no quintal.
(Belchior) Exemplo:
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o Sou Ana, da cama,
qual não existe uma designação apropriada. da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.
Exemplos (Chico Buarque)
– folha de papel
– braço de poltrona Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
– céu da boca na prosódia, mas diferentes no sentido.
– pé da montanha
Exemplo:
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
tidos físicos. [erro
quero que você ganhe que
Exemplo: [você me apanhe
Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) sou o seu bezerro gritando
mecânica. [mamãe.
(Carlos Drummond de Andrade) (Caetano Veloso)

A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste- Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-
sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen- duzido por seres animados e inanimados.
ça gelada”.
Exemplo:
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade, Vai o ouvido apurado
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o. na trama do rumor suas nervuras
inseto múltiplo reunido
Exemplos para compor o zanzineio surdo
O filósofo de Genebra (= Calvino). circular opressivo
O águia de Haia (= Rui Barbosa). zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)

43
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: verbos que exprimem os sons são considerados Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia-
onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc. na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado.

Figuras de sintaxe ou de construção: dizem respeito a desvios Exemplos:


em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, Ouvir com os ouvidos.
possíveis repetições ou omissões. Rolar escadas abaixo.
Colaborar juntos.
Podem ser formadas por: Hemorragia de sangue.
omissão: assíndeto, elipse e zeugma; Repetir de novo.
repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
ruptura: anacoluto; tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con-
concordância ideológica: silepse. junções, preposições e verbos.

Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período, Exemplos:


frase ou verso. Compareci ao Congresso. (eu)
Espero venhas logo. (eu, que, tu)
Exemplo: Ele dormiu duas horas. (durante)
Dentro do tempo o universo No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver)
[na imensidão. (Camões)
Dentro do sol o calor peculiar
[do verão. Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior-
Dentro da vida uma vida me mente.
[conta uma estória que fala
[de mim. Exemplos:
Dentro de nós os mistérios Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes.
[do espaço sem fim! (Camilo Castelo Branco)
(Toquinho/Mutinho)
Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam (Machado de Assis)
vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
vírgulas. Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen-
tos na frase.
Exemplo:
Não nos movemos, as mãos é Exemplos:
que se estenderam pouco a Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
pouco, todas quatro, pegando-se, (Carlos Drummond de Andrade)
apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis) Paciência tenho eu tido...
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- (Antônio Nobre)
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical.

Exemplo: Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a


Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
tuge, nem muge. período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
(Rubem Braga) função sintática definida.

Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter- Exemplos:


mo já expresso. E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
(Manuel Bandeira)
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres-
são, dando ênfase à mensagem. Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Exemplos: (José Lins do Rego)
Não os venci. Venceram-me
eles a mim. Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
(Rui Barbosa) pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).

Morrerás morte vil na mão de um forte.


(Gonçalves Dias)

44
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplo: 2. (UEPB – 2010)


...em cada olho um grito castanho de ódio. Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns, dos
(Dalton Trevisan) maiores nomes da educação mundial na atualidade.
...em cada olho castanho um grito de ódio)
Carlos Alberto Torres
Silepse: 1
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Por-
tanto, 2quando você discute diversidade, um tema que cabe muito
Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo no 3pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da 4diver-
ou pronome com a pessoa a que se refere. sidade não só em ideias contrapostas, mas também em 5identida-
des que se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E 6este é um
Exemplos: processo de aprendizagem. Uma segunda afirmação é 7que a diver-
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho... sidade está relacionada com a questão da educação 8e do poder. Se
(Rachel de Queiroz) a diversidade fosse a simples descrição 9demográfica da realidade e
a realidade fosse uma boa articulação 10dessa descrição demográ-
V. Ex.a parece magoado... fica em termos de constante articulação 11democrática, você não
(Carlos Drummond de Andrade) sentiria muito a presença do tema 12diversidade neste instante. Há
o termo diversidade porque há 13uma diversidade que implica o uso
Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com e o abuso de poder, de uma 14perspectiva ética, religiosa, de raça,
o sujeito da oração. de classe.
[…]
Exemplos:
Os dois ora estais reunidos... Rosa Maria Torres
(Carlos Drummond de Andrade) 15
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre
16
muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto 17po-
Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas. lítico e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, 18e
(Machado de Assis) pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade 19de
reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e 20que a
Silepse de número: Não há concordância do número verbal escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. 21Porém, o
com o sujeito da oração. tema da diversidade também pode dar lugar a uma 22série de coisas
indesejadas.
Exemplo: […]
Corria gente de todos os lados, e gritavam. Adaptado da Revista Pátio, Diversidade na educação: limites e
(Mário Barreto) possibilidades. Ano V, nº 20, fev./abr. 2002, p. 29.

Do enunciado “O tema da diversidade tem a ver com o tema


QUESTÕES identidade.” (ref. 1), pode-se inferir que
I – “Diversidade e identidade” fazem parte do mesmo campo
semântico, sendo a palavra “identidade” considerada um hiperôni-
1. (FMPA – MG) mo, em relação à “diversidade”.
Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamen- II – há uma relação de intercomplementariedade entre “diversi-
te aplicada: dade e identidade”, em função do efeito de sentido que se instaura
(A) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. no paradigma argumentativo do enunciado.
(B) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros. III – a expressão “tem a ver” pode ser considerada de uso co-
(C) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. loquial e indica nesse contexto um vínculo temático entre “diversi-
(D) Devemos ser fieis aos cumprimentos do dever. dade e identidade”.
(E) A cessão de terras compete ao Estado.
. Marque a alternativa abaixo que apresenta a(s) proposi-
ção(ões) verdadeira(s).
(A) I, apenas
(B) II e III
(C) III, apenas
(D) II, apenas
(E) I e II

45
LÍNGUA PORTUGUESA

3. (UNIFOR CE – 2006) Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta,
Dia desses, por alguns momentos, a cidade parou. As televi- a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim,
sões hipnotizaram os espectadores que assistiram, sem piscar, ao esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que
resgate de uma mãe e de uma filha. Seu automóvel caíra em um devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é
rio. Assisti ao evento em um local público. Ao acabar o noticiário, o pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enig-
silêncio em volta do aparelho se desfez e as pessoas retomaram as mática na cabeça.
suas ocupações habituais. Os celulares recomeçaram a tocar. Per- Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré-
guntei-me: indiferença? Se tomarmos a definição ao pé da letra, -adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me
indiferença é sinônimo de desdém, de insensibilidade, de apatia e libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa
de negligência. Mas podemos considerá-la também uma forma de prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmu-
ceticismo e desinteresse, um “estado físico que não apresenta nada la, lá vinham as palavras mágicas.
de particular”; enfim, explica o Aurélio, uma atitude de neutralida- Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha
de. evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi.
Conclusão? Impassíveis diante da emoção, imperturbáveis – Você nunca ouviu falar nele? – perguntei.
diante da paixão, imunes à angústia, vamos hoje burilando nossa – Ainda não fomos apresentados – ela disse.
indiferença. Não nos indignamos mais! À distância de tudo, segui- – É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de
mos surdos ao barulho do mundo lá fora. Dos movimentos de mas- terror.
sa “quentes” (lembram-se do “Diretas Já”?) onde nos fundíamos na – E ele faz o quê?
igualdade, passamos aos gestos frios, nos quais indiferença e dis- – Atrapalha a gente na hora de escrever.
tância são fenômenos inseparáveis. Neles, apesar de iguais, somos Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia
estrangeiros ao destino de nossos semelhantes. […] usar trema nem se lembrava da regrinha.
(Mary Del Priore. Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no
2001. p.68) lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se con-
seguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras.
Dentre todos os sinônimos apresentados no texto para o vo- Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servi-
cábulo indiferença, o que melhor se aplica a ele, considerando-se rão ao menos para determinar minha idade.
o contexto, é – Esse aí é do tempo do trema.”
(A) ceticismo.
(B) desdém. Assinale a alternativa correta.
(C) apatia. (A) As expressões “monstro ortográfico” e “abominável mons-
(D) desinteresse. tro ortográfico” mantêm uma relação hiperonímica entre si.
(E) negligência. (B) Em “– Atrapalha a gente na hora de escrever”, conforme a
norma culta do português, a palavra “gente” pode ser substitu-
4. (CASAN – 2015) Observe as sentenças. ída por “nós”.
I. Com medo do escuro, a criança ascendeu a luz. (C) A frase “Fui-me obrigando a escrever minimamente do jeito
II. É melhor deixares a vida fluir num ritmo tranquilo. correto”, o emprego do pronome oblíquo átono está correto de
III. O tráfico nas grandes cidades torna-se cada dia mais difícil acordo com a norma culta da língua portuguesa.
para os carros e os pedestres. (D) De acordo com as explicações do autor, as palavras pregüiça
e tranqüilo não serão mais grafadas com o trema.
Assinale a alternativa correta quanto ao uso adequado de ho- (E) A palavra “evocação” (3° parágrafo) pode ser substituída no
mônimos e parônimos. texto por “recordação”, mas haverá alteração de sentido.

(A) I e III.
(B) II e III. 6. (FMU) Leia as expressões destacadas na seguinte passagem:
(C) II apenas. “E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero
(D) Todas incorretas. na salada – o meu jeito de querer bem.”
Tais expressões exercem, respectivamente, a função sintática
5. (UFMS – 2009) de:
Leia o artigo abaixo, intitulado “Uma questão de tempo”, de (A) objeto indireto e aposto
Miguel Sanches Neto, extraído da Revista Nova Escola Online, em (B) objeto indireto e predicativo do sujeito
30/09/08. Em seguida, responda. (C) complemento nominal e adjunto adverbial de modo
“Demorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem con- (D) complemento nominal e aposto
tou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu (E) adjunto adnominal e adjunto adverbial de modo
cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em
vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minima-
mente do jeito correto.

46
LÍNGUA PORTUGUESA

7. (PUC-SP) Dê a função sintática do termo destacado em: “De- 12. (IBFC – 2013) Leia as sentenças:
pressa esqueci o Quincas Borba”.
(A) objeto direto É preciso que ela se encante por mim!
(B) sujeito Chegou à conclusão de que saiu no prejuízo.
(C) agente da passiva
(D) adjunto adverbial Assinale abaixo a alternativa que classifica, correta e respecti-
(E) aposto vamente, as orações subordinadas substantivas (O.S.S.) destacadas:
(A) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. objetiva indireta.
8. (MACK-SP) Aponte a alternativa que expressa a função sintá- (B) O.S.S. subjetiva e O.S.S. completiva nominal
tica do termo destacado: “Parece enfermo, seu irmão”. (C) O.S.S. subjetiva e O.S.S. objetiva indireta.
(A) Sujeito (D) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. completiva nominal.
(B) Objeto direto
(C) Predicativo do sujeito 13. (ADVISE-2013) Todos os enunciados abaixo correspondem
(D) Adjunto adverbial a orações subordinadas substantivas, exceto:
(E) Adjunto adnominal (A) Espero sinceramente isto: que vocês não faltem mais.
(B) Desejo que ela volte.
9. (OSEC-SP) “Ninguém parecia disposto  ao trabalho naquela (C) Gostaria de que todos me apoiassem.
manhã de segunda-feira”. (D) Tenho medo de que esses assessores me traiam.
(A) Predicativo (E) Os jogadores que foram convocados apresentaram-se on-
(B) Complemento nominal tem.
(C) Objeto indireto
(D) Adjunto adverbial 14. (PUC-SP) “Pode-se dizer que a tarefa é puramente formal.”
(E) Adjunto adnominal No texto acima temos uma oração destacada que é ________e
um “se” que é . ________.
10. (MACK-SP) “Não se fazem  motocicletas  como antigamen- (A) substantiva objetiva direta, partícula apassivadora
te”. O termo destacado funciona como: (B) substantiva predicativa, índice de indeterminação do sujeito
(A) Objeto indireto (C) relativa, pronome reflexivo
(B) Objeto direto (D) substantiva subjetiva, partícula apassivadora
(C) Adjunto adnominal (E) adverbial consecutiva, índice de indeterminação do sujeito
(D) Vocativo
(E) Sujeito 15. (UEMG) “De repente chegou o dia dos meus setenta anos.
Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece
11. (UFRJ) Esparadrapo ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte anos
Há palavras que parecem exatamente o que querem dizer. “Es- (trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: du-
paradrapo”, por exemplo. Quem quebrou a cara fica mesmo com vidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da menina
cara de esparadrapo. No entanto, há outras, aliás de nobre sentido, que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava
que parecem estar insinuando outra coisa. Por exemplo, “incuná- lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do Gordo e
bulo*”. Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena
QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Rio dos dois, a mãe ficava furiosa.)
de Janeiro, Globo. 1987. p. 83. A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora,
*Incunábulo: [do lat. Incunabulu; berço]. Adj. 1- Diz-se do livro porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em lugar de
impresso até o ano de 1500./ S.m. 2 – Começo, origem. prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis
até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo que os
A locução “No entanto” tem importante papel na estrutura do meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lá-
texto. Sua função resume-se em: pis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e quietude se-
(A) ligar duas orações que querem dizer exatamente a mesma riam rompidas mais uma vez.
coisa. Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os profes-
(B) separar acontecimentos que se sucedem cronologicamen- sores e divertia a turma: apenas porque não queria ser diferente,
te. queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem
(C) ligar duas observações contrárias acerca do mesmo assun- que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e novelinhas
to. açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionan-
(D) apresentar uma alternativa para a primeira ideia expressa. te.
(E) introduzir uma conclusão após os argumentos apresenta- (E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.)
dos. O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração,
eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos.
Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo
me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita gente com
oitenta ainda está ativo e presente.
Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difí-
cil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.”

47
LÍNGUA PORTUGUESA

LUFT, 2014, p.104-105 19. (CESCEM–SP) Já ___ anos, ___ neste local árvores e flores.
Hoje, só ___ ervas daninhas.
Leia atentamente a oração destacada no período a seguir: (A) fazem, havia, existe
“(...) pois ainda escutava em mim as risadas da menina que (B) fazem, havia, existe
queria correr nas lajes do pátio (...)” (C) fazem, haviam, existem
(D) faz, havia, existem
Assinale a alternativa em que a oração em negrito e sublinhada (E) faz, havia, existe
apresenta a mesma classificação sintática da destacada acima.
(A) “A menina que levava castigo na escola porque ria fora de 20. (IBGE) Indique a opção correta, no que se refere à concor-
hora (...)” dância verbal, de acordo com a norma culta:
(B) “(...) e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos, (A) Haviam muitos candidatos esperando a hora da prova.
mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, ca- (B) Choveu pedaços de granizo na serra gaúcha.
netas, borracha (...)” (C) Faz muitos anos que a equipe do IBGE não vem aqui.
(C) “(...) não queria que soubessem que ela (...)” (D) Bateu três horas quando o entrevistador chegou.
(D) “Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal (...)” (E) Fui eu que abriu a porta para o agente do censo.

16. (FUNRIO – 2012) “Todos querem que nós 21. (FUVEST – 2001) A única frase que NÃO apresenta desvio
____________________.” em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma
culta é:
Apenas uma das alternativas completa coerente e adequada- (A) O governador insistia em afirmar que o assunto principal
mente a frase acima. Assinale-a. seria “as grandes questões nacionais”, com o que discordavam
(A) desfilando pelas passarelas internacionais. líderes pefelistas.
(B) desista da ação contra aquele salafrário. (B) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do
(C) estejamos prontos em breve para o trabalho. qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros pa-
(D) recuperássemos a vaga de motorista da firma. íses passou despercebida.
(E) tentamos aquele emprego novamente. (C) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a
dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação
17. (ITA - 1997) Assinale a opção que completa corretamente as social.
lacunas do texto a seguir: (D) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um
“Todas as amigas estavam _______________ ansiosas morador não muito consciente com a limpeza da cidade.
_______________ ler os jornais, pois foram informadas de que as (E) O roteiro do filme oferece uma versão de como consegui-
críticas foram ______________ indulgentes ______________ ra- mos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra,
paz, o qual, embora tivesse mais aptidão _______________ ciên- a aventura à repetição.
cias exatas, demonstrava uma certa propensão _______________
arte.” 22. (FUVEST) Assinale a alternativa que preenche corretamente
(A) meio - para - bastante - para com o - para - para a as lacunas correspondentes.
(B) muito - em - bastante - com o - nas - em A arma ___ se feriu desapareceu.
(C) bastante - por - meias - ao - a - à Estas são as pessoas ___ lhe falei.
(D) meias - para - muito - pelo - em - por Aqui está a foto ___ me referi.
(E) bem - por - meio - para o - pelas – na Encontrei um amigo de infância ___ nome não me lembrava.
Passamos por uma fazenda ___ se criam búfalos.
18. (Mackenzie) Há uma concordância inaceitável de acordo
com a gramática: (A) que, de que, à que, cujo, que.
I - Os brasileiros somos todos eternos sonhadores. (B) com que, que, a que, cujo qual, onde.
II - Muito obrigadas! – disseram as moças. (C) com que, das quais, a que, de cujo, onde.
III - Sr. Deputado, V. Exa. Está enganada. (D) com a qual, de que, que, do qual, onde.
IV - A pobre senhora ficou meio confusa. (E) que, cujas, as quais, do cujo, na cuja.
V - São muito estudiosos os alunos e as alunas deste curso.
23. (FESP) Observe a regência verbal e assinale a opção falsa:
(A) em I e II (A) Avisaram-no que chegaríamos logo.
(B) apenas em IV (B) Informei-lhe a nota obtida.
(C) apenas em III (C) Os motoristas irresponsáveis, em geral, não obedecem aos
(D) em II, III e IV sinais de trânsito.
(E) apenas em II (D) Há bastante tempo que assistimos em São Paulo.
(E) Muita gordura não implica saúde.

48
LÍNGUA PORTUGUESA

24. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos devem 29. (CEITEC – 2012) Os vocábulos Emergir e Imergir são parô-
ser seguidos pela mesma preposição: nimos: empregar um pelo outro acarreta grave confusão no que
(A) ávido / bom / inconsequente se quer expressar. Nas alternativas abaixo, só uma apresenta uma
(B) indigno / odioso / perito frase em que se respeita o devido sentido dos vocábulos, selecio-
(C) leal / limpo / oneroso nando convenientemente o parônimo adequado à frase elaborada.
(D) orgulhoso / rico / sedento Assinale-a.
(E) oposto / pálido / sábio (A) A descoberta do plano de conquista era eminente.
(B) O infrator foi preso em flagrante.
25. (TRE-MG) Observe a regência dos verbos das frases reescri- (C) O candidato recebeu despensa das duas últimas provas.
tas nos itens a seguir: (D) O metal delatou ao ser submetido à alta temperatura.
I - Chamaremos os inimigos de hipócritas. Chamaremos aos ini- (E) Os culpados espiam suas culpas na prisão.
migos de hipócritas;
II - Informei-lhe o meu desprezo por tudo. Informei-lhe do meu 30. (FMU) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão
desprezo por tudo; grafadas corretamente.
III - O funcionário esqueceu o importante acontecimento. O (A) paralisar, pesquisar, ironizar, deslizar
funcionário esqueceu-se do importante acontecimento. (B) alteza, empreza, francesa, miudeza
(C) cuscus, chimpazé, encharcar, encher
A frase reescrita está com a regência correta em: (D) incenso, abcesso, obsessão, luxação
(A) I apenas (E) chineza, marquês, garrucha, meretriz
(B) II apenas
(C) III apenas 31. (VUNESP/2017 – TJ-SP) Assinale a alternativa em que todas
(D) I e III apenas as palavras estão corretamente grafadas, considerando-se as regras
(E) I, II e III de acentuação da língua padrão.
(A) Remígio era homem de carater, o que surpreendeu D. Firmi-
26. (INSTITUTO AOCP/2017 – EBSERH) Assinale a alternativa na, que aceitou o matrimônio de sua filha.
em que todas as palavras estão adequadamente grafadas. (B) O consôlo de Fadinha foi ver que Remígio queria desposa-la
(A) Silhueta, entretenimento, autoestima. apesar de sua beleza ter ido embora depois da doença.
(B) Rítimo, silueta, cérebro, entretenimento. (C) Com a saúde de Fadinha comprometida, Remígio não con-
(C) Altoestima, entreterimento, memorização, silhueta. seguia se recompôr e viver tranquilo.
(D) Célebro, ansiedade, auto-estima, ritmo. (D) Com o triúnfo do bem sobre o mal, Fadinha se recuperou,
(E) Memorização, anciedade, cérebro, ritmo. Remígio resolveu pedí-la em casamento.
(E) Fadinha não tinha mágoa por não ser mais tão bela; agora,
27. (ALTERNATIVE CONCURSOS/2016 – CÂMARA DE BANDEI- interessava-lhe viver no paraíso com Remígio.
RANTES-SC) Algumas palavras são usadas no nosso cotidiano de
forma incorreta, ou seja, estão em desacordo com a norma culta 32. (PUC-RJ) Aponte a opção em que as duas palavras são acen-
padrão. Todas as alternativas abaixo apresentam palavras escritas tuadas devido à mesma regra:
erroneamente, exceto em: (A) saí – dói
(A) Na bandeija estavam as xícaras antigas da vovó. (B) relógio – própria
(B) É um privilégio estar aqui hoje. (C) só – sóis
(C) Fiz a sombrancelha no salão novo da cidade. (D) dá – custará
(D) A criança estava com desinteria. (E) até – pé
(E) O bebedoro da escola estava estragado.
33. (UEPG ADAPTADA) Sobre a acentuação gráfica das palavras
28. (SEDUC/SP – 2018) Preencha as lacunas das frases abaixo agradável, automóvel e possível, assinale o que for correto.
com “por que”, “porque”, “por quê” ou “porquê”. Depois, assinale a (A) Em razão de a letra L no final das palavras transferir a toni-
alternativa que apresenta a ordem correta, de cima para baixo, de cidade para a última sílaba, é necessário que se marque grafi-
classificação. camente a sílaba tônica das paroxítonas terminadas em L, se
“____________ o céu é azul?” isso não fosse feito, poderiam ser lidas como palavras oxítonas.
“Meus pais chegaram atrasados, ____________ pegaram trân- (B) São acentuadas porque são proparoxítonas terminadas em
sito pelo caminho.” L.
“Gostaria muito de saber o ____________ de você ter faltado (C) São acentuadas porque são oxítonas terminadas em L.
ao nosso encontro.” (D) São acentuadas porque terminam em ditongo fonético –
“A Alemanha é considerada uma das grandes potências mun- eu.
diais. ____________?” (E) São acentuadas porque são paroxítonas terminadas em L.
(A) Porque – porquê – por que – Por quê
(B) Porque – porquê – por que – Por quê
(C) Por que – porque – porquê – Por quê
(D) Porquê – porque – por quê – Por que
(E) Por que – porque – por quê – Porquê

49
LÍNGUA PORTUGUESA

34. (IFAL – 2016 ADAPTADA) Quanto à acentuação das palavras, assinale a afirmação verdadeira.
(A) A palavra “tendem” deveria ser acentuada graficamente, como “também” e “porém”.
(B) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acentuam-se pela mesma razão.
(C) O nome “Luiz” deveria ser acentuado graficamente, pela mesma razão que a palavra “país”.
(D) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento por constituírem monossílabos tônicos fechados.
(E) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”, “simbólica” porque todas as paroxítonas são acentuadas.

35. (MACKENZIE) Indique a alternativa em que nenhuma palavra é acentuada graficamente:


(A) lapis, canoa, abacaxi, jovens
(B) ruim, sozinho, aquele, traiu
(C) saudade, onix, grau, orquídea
(D) voo, legua, assim, tênis
(E) flores, açucar, album, virus

36. (IFAL - 2011)

Parágrafo do Editorial “Nossas crianças, hoje”.

“Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos na pele
e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre. Nosso Estado e nossa região padece de índices vergonhosos
no tocante à mortalidade infantil, à educação básica e tantos outros indicadores terríveis.” (Gazeta de Alagoas, seção Opinião, 12.10.2010)
O primeiro período desse parágrafo está corretamente pontuado na alternativa:
(A) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos
na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(B) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos, na
pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(C) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos
na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”
(D) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos sentimos,
na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento, da infância mais pobre.”
(E) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos,
na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”

37. (F.E. BAURU) Assinale a alternativa em que há erro de pontuação:


(A) Era do conhecimento de todos a hora da prova, mas, alguns se atrasaram.
(B) A hora da prova era do conhecimento de todos; alguns se atrasaram, porém.
(C) Todos conhecem a hora da prova; não se atrasem, pois.
(D) Todos conhecem a hora da prova, portanto não se atrasem.
(E) N.D.A

38. (VUNESP – 2020) Assinale a alternativa correta quanto à pontuação.


(A) Colaboradores da Universidade Federal do Paraná afirmaram: “Os cristais de urato podem provocar graves danos nas articulações.”.
(B) A prescrição de remédios e a adesão, ao tratamento, por parte dos pacientes são baixas.
(C) É uma inflamação, que desencadeia a crise de gota; diagnosticada a partir do reconhecimento de intensa dor, no local.
(D) A ausência de dor não pode ser motivo para a interrupção do tratamento conforme o editorial diz: – (é preciso que o doente confie
em seu médico).
(E) A qualidade de vida, do paciente, diminui pois a dor no local da inflamação é bastante intensa!

39. (ENEM – 2018)

Física com a boca


Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador?
Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da
voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz
que isso causa o mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato
de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na propagação das ondas contribuem
para distorcer sua bela voz.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).

50
LÍNGUA PORTUGUESA

Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido
não é alterado em caso de substituição dos travessões por
(A) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte
(B) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.
(C) reticências, para deixar subetendida a formação do especialista.
(D) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida anteriormente.
(E) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o desenvolvimento temático.

40. (FUNDATEC – 2016)

Sobre fonética e fonologia e conceitos relacionados a essas áreas, considere as seguintes afirmações, segundo Bechara:

I. A fonologia estuda o número de oposições utilizadas e suas relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a natu-
reza física e fisiológica das distinções observadas.
II. Fonema é uma realidade acústica, opositiva, que nosso ouvido registra; já letra, também chamada de grafema, é o sinal empregado
para representar na escrita o sistema sonoro de uma língua.
III. Denominam-se fonema os sons elementares e produtores da significação de cada um dos vocábulos produzidos pelos falantes da
língua portuguesa.

Quais estão INCORRETAS?


(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e II
(E) Apenas II e III.

41. (CEPERJ) Na palavra “fazer”, notam-se 5 fonemas. O mesmo número de fonemas ocorre na palavra da seguinte alternativa:
a) tatuar
b) quando
c) doutor
d) ainda
e) além

51
LÍNGUA PORTUGUESA

42. (OSEC) Em que conjunto de signos só há consoantes sono- Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade
ras? dos participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência.
(A) rosa, deve, navegador; Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam
(B) barcos, grande, colado; em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso,
(C) luta, após, triste; a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
(D) ringue, tão, pinga; ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
(E) que, ser, tão. (http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)

43. (UFRGS – 2010) No terceiro e no quarto parágrafos do tex- Após ler o texto acima, examine as passagens do primeiro pa-
to, o autor faz referência a uma oposição entre dois níveis de análi- rágrafo: “Uma organização não governamental holandesa está pro-
se de uma língua: o fonético e o gramatical. pondo um desafio” “O objetivo é medir o grau de felicidade dos
Verifique a que nível se referem as características do português usuários longe da rede social.”
falado em Portugal a seguir descritas, identificando-as com o núme- A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão:
ro 1 (fonético) ou com o número 2 (gramatical). (A) da retomada de informações que podem ser facilmente de-
( ) Construções com infinitivo, como estou a fazer, em lugar de preendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes seman-
formas com gerúndio, como estou fazendo. ticamente.
( ) Emprego frequente da vogal tônica com timbre aberto em (B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo
palavras como académico e antónimo, possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alte-
( ) Uso frequente de consoante com som de k final da sílaba, raria o sentido do texto.
como em contacto e facto. (C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de
( ) Certos empregos do pretérito imperfeito para designar fu- informação conhecida, e da especificação, no segundo, com
turo do pretérito, como em Eu gostava de ir até lá por Eu gostaria informação nova.
de ir até lá. (D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso,
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo.
cima para baixo, é: (E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo
(A) 2 – 1 – 1 – 2. qual são introduzidas de forma mais generalizada
(B) 2 – 1 – 2 – 1.
(C) 1 – 2 – 1 – 2. 47. (UFMG-ADAPTADA) As expressões em negrito correspon-
(D) 1 – 1 – 2 – 2. dem a um adjetivo, exceto em:
(E) 1 – 2 – 2 – 1. (A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.
(B) Demorava-se de propósito naquele complicado banho.
44. (FUVEST-SP) Foram formadas pelo mesmo processo as se- (C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.
guintes palavras: (D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga
(A) vendavais, naufrágios, polêmicas sem fim.
(B) descompõem, desempregados, desejava (E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça.
(C) estendendo, escritório, espírito
(D) quietação, sabonete, nadador 48. (UMESP) Na frase “As negociações estariam meio abertas
(E) religião, irmão, solidão só depois de meio período de trabalho”, as palavras destacadas são,
respectivamente:
45. (FUVEST) Assinale a alternativa em que uma das palavras (A) adjetivo, adjetivo
não é formada por prefixação: (B) advérbio, advérbio
(A) readquirir, predestinado, propor (C) advérbio, adjetivo
(B) irregular, amoral, demover (D) numeral, adjetivo
(C) remeter, conter, antegozar (E) numeral, advérbio
(D) irrestrito, antípoda, prever
(E) dever, deter, antever 49. (ITA-SP)
Beber é mal, mas é muito bom.
46. (UNIFESP - 2015) Leia o seguinte texto: (FERNANDES, Millôr. Mais! Folha de S. Paulo, 5 ago. 2001, p.
Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook? 28.)
Uma organização não governamental holandesa está propondo
um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias A palavra “mal”, no caso específico da frase de Millôr, é:
sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o (A) adjetivo
grau de felicidade dos usuários longe da rede social. (B) substantivo
O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológi- (C) pronome
cos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que (D) advérbio
o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder par- (E) preposição
ticipar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar
um contador na rede social.

52
LÍNGUA PORTUGUESA

50. (PUC-SP) “É uma espécie... nova... completamente nova!


33 E
(Mas já) tem nome... Batizei-(a) logo... Vou-(lhe) mostrar...”. Sob o
ponto de vista morfológico, as palavras destacadas correspondem 34 B
pela ordem, a: 35 B
(A) conjunção, preposição, artigo, pronome
(B) advérbio, advérbio, pronome, pronome 36 E
(C) conjunção, interjeição, artigo, advérbio 37 A
(D) advérbio, advérbio, substantivo, pronome
38 A
(E) conjunção, advérbio, pronome, pronome
39 B
40 A
GABARITO
41 D
42 D
1 C 43 B
2 B 44 D
3 D 45 E
4 C 46 D
5 C 47 B
6 A 48 B
7 D 49 B
8 C 50 E
9 B
10 E
11 C
12 B ANOTAÇÕES
13 E
______________________________________________________
14 B
15 A ______________________________________________________
16 C ______________________________________________________
17 A
______________________________________________________
18 C
19 D ______________________________________________________
20 C ______________________________________________________
21 E
______________________________________________________
22 C
______________________________________________________
23 A
24 D ______________________________________________________
25 E ______________________________________________________
26 A
______________________________________________________
27 B
28 C ______________________________________________________

29 B ______________________________________________________
30 A
______________________________________________________
31 E
______________________________________________________
32 B

53
LÍNGUA PORTUGUESA

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

54
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Esse ciclo, que marcou os Estados da Amazônia, em geral, está


HISTÓRIA, HISTORIOGRAFIA E REALIDADE ÉTNICA E associado com a demanda industrial internacional da Europa e dos
SOCIAL DO ACRE: A ANEXAÇÃO DO ACRE AO BRASIL. EUA, a partir de fins do século XIX. Para suprir à procura pela borra-
O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DAS TERRAS ACREANAS, cha, foi organizado um sistema de circulação de produtos e merca-
A OCUPAÇÃO INDÍGENA, A IMIGRAÇÃO NORDESTINA dorias conectando seringueiros e seringalistas que comandavam a
E A PRODUÇÃO DA BORRACHA E A INSURREIÇÃO. OR- produção na Amazônia a comerciantes do Amazonas e Pará e gru-
GANIZAÇÃO SOCIAL DO ACRE E EXPRESSÃO LITERÁ- pos financeiros da Europa, lançando os fundamentos da empresa
RIA. A CHEGADA DOS “PAULISTAS” NAS TERRAS ACRE- extrativa da borracha.
ANAS A PARTIR DOS ANOS 1970 DO SÉCULO PASSADO: A ocupação do Estado do Acre, diferentemente de outros Es-
ÊXODO RURAL, CONFLITOS PELA TERRA E INVASÕES tados da Amazônia, apresenta algumas particularidades que mere-
DO ESPAÇO URBANO. COMEMORAÇÕES CÍVICAS cem destaque, por suas consequências sociais, culturais e políticas.
Grande parte dessas particularidades está associada com questões
fundiárias históricas e as lutas que essas desencadearam, desde
O Estado do Acre desempenhou um papel relevante na história 1867, quando o governo do Império do Brasil assina o Tratado de
da região Amazônica durante a expansão da economia da borra- Ayacucho, reconhecendo ser da Bolívia o antigo espaço que hoje
cha no fim do século XIX pelo potencial de riqueza natural dos rios pertence ao Estado do Acre.
acreanos e pela qualidade e produtividade dos seringais existentes A partir de 1878, a empresa seringalista alcançou a boca do
em seu território. O Acre foi cenário do surgimento de organizações rio Acre controlando a exploração em todo o médio Purus e, em
sociais e políticas inovadoras nas últimas décadas do século XX ba- 1880, ultrapassou a Linha Cunha Gomes, limite final das fronteiras
seadas na defesa do valor econômico dos recursos naturais. E hoje, legais brasileiras, expandindo-se para território boliviano. Intensa
tendo optado por um modelo de desenvolvimento que busca con- seca ocorrida na região nordestina, em 1877, disponibilizou a mão
ciliar o uso econômico das riquezas da floresta com a modernização de obra necessária para o empreendimento extrativista, população
de atividades que impactam o meio ambiente, reassume importân- que não estava conseguindo a sobrevivência em fazendas e peque-
cia estratégica no futuro da Amazônia. O Acre vem mostrando que é nas propriedades agrícolas do Nordeste. Na sequência, em 1882,
possível crescer com inclusão social e proteção do meio ambiente. os migrantes que vieram do Nordeste brasileiro, fugindo das secas,
O povoamento humano do Acre teve início, provavelmente, en- fundaram o seringal Empresa, que mais tarde veio a ser a capital do
tre 20 mil e 10 mil anos atrás, quando grupos provenientes da Ásia Acre, Rio Branco.
chegaram à América do Sul após uma longa migração e ocuparam Nessa época, o governo da Bolívia pretendia passar o controle
as terras baixas da Amazônia. Registros arqueológicos só recente- do território do Acre para o Anglo- Bolivian Syndicate de Nova York,
mente estudados vem permitindo o conhecimento das origens des- por meio de um contrato que concedia não só o monopólio sobre a
sas culturas imemoriais. Mas foi do conflito entre grupos indígenas produção e exportação da borracha, como também auferia os direi-
e migrantes nordestinos que se originou a sociedade acreana tal tos fiscais, mantendo ainda as tarefas de polícia local. A reação dos
como a conhecemos na atualidade. acreanos se concretizou com a rebelião de Plácido de Castro. Tam-
Em meados do século XIX, quando a região amazônica come- bém o governo brasileiro iniciou ações diplomáticas, capitaneadas
çou a ser conquistada e inserida no mercado, a ocupação dos altos pelo Barão de Rio Branco.
rios Purus e Juruá pelos povos nativos apresentava uma divisão ter- Em 1901, Luís Galvez, com o apoio do governador do Estado
ritorial entre dois grupos linguísticos com significativas diferenças: do Amazonas, proclamou o Acre Estado Independente, acirrando os
no Purus havia o predomínio de grupos Aruan e Aruak, do mesmo conflitos entre bolivianos, seringueiros e seringalistas. As negocia-
tronco linguístico, no vale do Juruá havia o predomínio de grupos ções entre o governo brasileiro e o boliviano chegaram a um acor-
Pano. Cinco grupos nativos diferentes ocupavam os espaços da do em 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, por meio
Amazônia Sul Ocidental. do qual o Brasil incorporou ao território nacional uma extensão de
A ocupação do território habitado por indígenas e que hoje for- terra de quase 200 mil km², que foi entregue a 60 mil seringueiros
ma o Estado do Acre teve início com o primeiro ciclo econômico da e suas famílias para que lá pudessem exercer as funções extrativas
borracha, por volta da segunda metade da década de 1800. da borracha.
Historicamente, a migração dos nordestinos ampliou as frontei-
ras do país na Região Norte e contribuiu para a geração de riquezas
oriundas do crescente volume e valor das exportações brasileiras
de borracha no período.

55
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

A crise de preços desse produto, nos primeiros anos do século Ribeirinhos


XX, acabou dando origem a um modelo de ocupação baseado em No curso dos anos de exploração da borracha e mesmo entre
atividades de subsistência e comerciais em escala reduzida, depen- as crises, às margens dos rios do Acre estabeleceram-se os ribeiri-
dente diretamente dos recursos naturais disponíveis no local. Con- nhos, que constituíram comunidades organizadas a partir de unida-
tudo, a partir de 1912, o Brasil perdeu a supremacia da borracha. des produtivas familiares que utilizam os rios como principal meio
Esse fato foi ocasionado pelos altos custos da extração do produto, de transporte, de produção e de relações sociais.
que impossibilitavam a competição com as plantações do Oriente; O ribeirinho, em sua maioria, é oriundo do Nordeste ou des-
inexistência de pesquisas agronômicas cende de pessoas daquela região. Destacamos que, com as agudas
em larga escala devidamente amparadas pelo setor público; fal- crises da borracha, muitos desses homens e suas famílias se fixaram
ta de visão empresarial dos brasileiros ligados ao comércio da goma nas margens dos rios, constituindo um tipo de população tradicio-
elástica; carência de uma mão de obra barata da região, elemento nal com estilo próprio na qual o rio tornou-se um dos elementos
essencial ao sistema produtivo; insuficiência de capital financeiro centrais de sua identidade.
aliada à distância e às condições naturais adversas da região. Os Os produtores ribeirinhos desenvolvem uma economia de sub-
seringueiros que trabalhavam na extração do látex se mantiveram sistência bastante diversificada, ao mesmo tempo adaptada e con-
em alguns seringais, sobrevivendo por meio da exploração da ma- dicionada pelo meio ambiente, sem agredi-lo com práticas como
deira, pecuária, comércio de peles e atividades ligadas à coleta e queima e desmatamento da floresta. Por isso, sempre estiveram
produção de alimentos. junto com os seringueiros na organização e defesa dos direitos de
Por mais de cem anos essa sociedade teve como base a explo- ocupação das áreas onde viviam.
ração da borracha, castanha, pesca, madeira, agricultura e pecuária
em pequena escala. Se, por um lado, essa tradição contribuiu para Autonomia acreana
a manutenção quase inalterada dos recursos naturais, gerou graves Apesar de o Tratado de Petrópolis ter reconhecido o território
desigualdades sociais pela ausência de políticas de infraestrutura acreano como brasileiro, a incorporação ocorreu na forma de terri-
social e produtiva para a maioria da população. tório e não como um Estado independente. Isso desagradou o povo
acreano, em razão de sua dependência do poder executivo fede-
Impacto sobre as sociedades indígenas ral, pois significava que o Acre não tinha direito a uma Constituição
Como parte do mesmo processo desencadeado pela demanda própria, não podia arrecadar impostos, dependia dos repasses or-
da borracha, caucheiros peruanos vindos do Sudoeste cortavam a çamentários do governo federal e sua população não poderia votar
região das cabeceiras do Juruá e do Purus, enquanto os primeiros nas funções executivas ou legislativas.
seringalistas bolivianos começavam a se expandir pelo vale de Ma- Além disso, os administradores nomeados pelo governo fede-
dre de Díos e ocupar as terras acreanas pelo sul. Frente a essas in- ral não tinham nenhum compromisso com a sociedade acreana,
vestidas, os povos nativos da região viram-se cercados por brasilei- situação agravada pela distância e isolamento das cidades e inefici-
ros, peruanos e bolivianos sem ter para onde fugir ou como resistir ência dos serviços públicos.
à enorme pressão que vinha do capital internacional, que dependia A autonomia política do Acre tornava-se, então, a nova ban-
da borracha amazônica. Para os índios inaugurou-se um novo tem- deira de luta. Começaram a ser fundados clubes políticos e organi-
po: de senhores das terras da Amazônia Sul-ocidental passaram a zações de proprietários e/ou de trabalhadores em diversas cidades
ser vistos como entrave à exploração da borracha e do caucho na como Xapuri, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Em poucos anos a si-
região. tuação social acreana se agravaria em muito devido à redução no
Desde o estabelecimento da empresa extrativista da borracha preço da borracha, que passou a ser produzida no sudeste asiático.
até a década de 1980, os índios do Acre passaram por uma longa A radicalização dos conflitos logo produziria efeitos mais graves: o
fase de degradação de sua cultura tradicional, que inclui expropria- assassinato de Plácido de Castro, em 1908, um dos líderes da opo-
ção da mão de obra, descaracterização da cultura e desestruturação sição ao governo federal, e em 1910, registrou-se a primeira revolta
da organização social. O encontro entre culturas indígenas e não- autonomista em Cruzeiro do Sul, sendo seguida por Sena Madu-
-indígenas foi marcado pelo confronto, que se expressou de forma reira, em 1912, e em Rio Branco, em 1918, todas sufocadas à força
cruel e excludente. Entre os anos de 1880 e 1910, o intenso ritmo pelo governo brasileiro.
da exploração da borracha resultou no extermínio de inúmeros gru- A sociedade acreana viveu então um dos períodos mais difíceis
pos indígenas. Além disso, o estabelecimento da empresa extrati- da sua história. Os anos 20 foram marcados pela decadência econô-
vista da borracha alterou a forma de organização social dos índios. mica provocada pela queda dos preços internacionais da borracha.
Alguns pequenos grupos ainda conseguiram se refugiar nas cabe- Os seringais faliram. Toda a riqueza acumulada havia sido drenada,
ceiras mais isoladas dos rios, mas a grande maioria foi pressionada ficando o Acre isolado. A população local buscou novas formas de
a se modificar para não desaparecer. organização social e de encontrar novos produtos que pudessem
A escassez da mão de obra levou ao emprego crescente das substituir a borracha no comércio internacional. Os seringais se
comunidades indígenas remanescentes nos seringais. Os comer- transformaram em unidades produtivas mais diversificadas. Tive-
ciantes sírio-libaneses substituíram as casas aviadoras de Belém e ram início a prática de agricultura de subsistência que diminuía a
Manaus na função de abastecer os barracões e manter ativos os se- dependência de produtos importados, a intensificação da colheita
ringais, e a população foi se estabelecendo na beira dos rios, dando e exportação da castanha e o crescimento do comércio de madeira
origem a um segmento social tradicional do Estado, os ribeirinhos. e de peles de animais silvestres da fauna amazônica. Começavam
assim, impulsionadas pela necessidade, as primeiras experiências
de manejo dos recursos florestais acreanos.

56
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

A situação de tutela política sobre a sociedade acreana, en- Os conflitos foram se tornando cada vez mais explosivos e, em
tretanto, mantinha-se inalterada. Nem mesmo o novo período de 1980, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
prosperidade da borracha, provocado pela Segunda Guerra Mun- Rurais de Brasiléia, foi assassinado. Muitas outras mortes ocorre-
dial, foi capaz de modificar esse quadro. Durante três anos (1942- riam, culminando com a de Chico Mendes, em 1988, que provocou
1945), a “Batalha da Borracha” trouxe mais famílias nordestinas o reconhecimento internacional da sua causa, na luta em defesa da
para o Acre, repovoando e enriquecendo novamente os seringais. floresta e de seus povos.
Essa melhoria do contexto econômico fez com que os anseios auto- Não deve ser esquecida, nesse contexto, a importância cres-
nomistas ganhassem nova força e, em 1962, depois de uma longa cente que as questões ambientais vêm assumindo, internacional e
batalha legislativa, o Acre ganhou o status de Estado e o povo pas- nacionalmente. Essa conjugação de circunstâncias fez com que as
sou a exercer plenamente sua cidadania. populações tradicionais recebessem apoio nacional e internacional
dos diversos movimentos que apontavam a necessidade da manu-
Sulistas no Acre tenção dos recursos naturais.
Os anos 70 e 80 desenharam outro contexto para o Acre com
a vinda dos chamados “paulistas”. Essa identidade foi atribuída de Anexação
forma genérica a grandes empresários sulistas e migrantes rurais O processo de incorporação do Acre ao Brasil decorreu do des-
que vieram para o Acre com objetivo de especular com a compra bravamento de populações do Nordeste, que o povo arame o fize-
de grandes seringais. É importante salientar que, apesar de núme- ram produtivo, repetindo a proeza dos bandeirantes de São Paulo,
ro razoável de pessoas oriundas das regiões Sul e Sudeste para os que partiram em expedições para o interior nos séculos XVI e XVII.
Projetos de Colonização, houve um grande número de pessoas re- No caso do Acre, foram as secas nordestinas e o apelo econômico
sidentes em áreas de florestas ou rurais dirigidas para os Projetos da borracha - produto que no final do século XIX alcançava preços
de Assentamento. Nesse sentido, os assentamentos serviam para altos nos mercados internacionais - que motivaram a movimenta-
atenuar pressões do Sul e Sudeste, mas principalmente das existen- ção de massas humanas oriundas do Nordeste, para aquela região
tes no Acre, pela qual muitas pessoas foram mortas e expulsas de amazônica. Datam de 1877 os primeiros marcos de civilização efeti-
suas terras. va ocorrida no Acre, com a chegada dos imigrantes nordestinos que
Embora dados do Incra indiquem a atual existência de concen- iniciaram a abertura de seringais. Até então, o Acre era habitado
tração de áreas nas mãos de grandes proprietários, mesmo dentro apenas por índios não aculturados, uma vez que a expansão luso-
dos projetos de colonização, esse fato não ocorria na época da cria- -brasileira ocorrida na Amazônia durante o período colonial, não o
ção deles. Naquela oportunidade, esses espaços foram loteados e havia alcançado. A partir dessa época, no entanto, a região tornou-
ocupados por famílias pobres e sem-terra, basicamente seringuei- -se ativa frente pioneira, que avançou pelas três vias hidrográficas
ros e posseiros. existentes: o rio Acre, o Alto-Purus e o Alto-Juruá.
Pressões vindas de vários segmentos sociais contribuíram para O território do Acre pertencia à Bolívia até o início do sécu-
a criação dos projetos de colonização do Acre, entre os quais se des- lo XX, embora desde as primeiras décadas do século XIX a maioria
tacaram os ex-seringueiros e posseiros expulsos dos seringais por da sua população fosse formada por brasileiros que exploravam os
ocasião do processo de transferência das terras acreanas para os seringais e não obedeciam à autoridade boliviana, formando, na
fazendeiros do Centro-Sul. prática, um território independente e exigindo a sua anexação ao
Em meados de 70 do século XX, as tensões entre pecuaristas Brasil. Em 1899, na tentativa de assegurar o domínio da área, os
e latifundiários de um lado e seringueiros do outro fomentaram a bolivianos instituíram a cobrança de impostos e fundaram a cidade
expropriação destes dos seringais, dando origem a um contingen- de Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Os brasileiros revoltaram-se com
te de desempregados nos bairros e no entorno das cidades acre- tal providência, o que resultou na disseminação de vários conflitos,
anas. Parcela significativa de famílias migrou para os seringais da que somente terminaram com a assinatura, em 17 de novembro de
Bolívia, ali constituindo família e criando novas identidades. Esse 1903, do Tratado de Petrópolis, pelo qual o Brasil adquiriu, em parte
novo ator social foi designado por um grupo de estudiosos como por compra e em parte pela troca de pequenas áreas nos Estados
“brasivianos”. Contexto diferente ocorreu nos anos 80, quando os do Amazonas e Mato Grosso, o futuro território e depois Estado do
seringueiros passaram a se organizar politicamente devido as fortes Acre.
tensões e pela expropriação de suas terras e da proibição do uso Problemas de fronteira também existiram com o Peru, que rei-
dos recursos naturais. vindicava a propriedade de todo o Território do Acre e mais uma
Ao custo de muitos conflitos e mortes, a sociedade acreana extensa área no Estado do Amazonas, tendo tentado estabelecer
conseguiu redirecionar o modelo econômico implantado pelos mi- delegações administrativas e militares na região do Alto-Juruá en-
litares na década de 60. O assassinato de líderes representativos tre os anos de 1898 e 1902, e do Alto-Purus entre 1900 e 1903.
como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, entre outros, evidenciou a Os brasileiros, no entanto, com seus próprios recursos, forçaram
força da reação da sociedade local aos agentes externos e produziu os peruanos a abandonar o Alto-Purus em setembro de 1903. Com
o recuo daqueles investidores que apenas buscavam exploração de base nos títulos brasileiros e nos estudos das comissões mistas que
curto prazo dos recursos naturais e da força de trabalho. pesquisaram as zonas do Alto-Purus e do Alto-Juruá, o Barão do
A partir dos últimos anos da década de 70 e durante os anos Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores na época, propôs ao
80 e 90, o Acre passou a ser o cenário de inúmeras experiências Governo do Peru o acerto de limites firmado a 8 de setembro de
inovadoras de gestão de recursos naturais e investimentos sociais, 1909. Com este ato completou-se a integração política do Acre à
em parceria com instituições nacionais e internacionais. Ao mesmo comunidade brasileira.
tempo em que defendiam seus direitos, os diversos grupos sociais
elaboravam novas propostas que foram sendo implementadas, em
pequena escala, em todo o Estado.

57
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

A partir de 1920, a administração do Acre foi unificada e passou a ser exercida por um Governador, nomeado pelo Presidente da
República. Pela Constituição de 1934, o Território passou a ter direito a dois representantes na Câmara dos Deputados. Em 1957, projeto
apresentado pelo Deputado José Guiomard dos Santos elevava o Território à categoria de Estado, o que resultou na Lei nº. 4.070, de 15 de
junho de 1962, sancionada pelo então Presidente da República, João Goulart. O primeiro governador do Estado do Acre foi o Senhor José
Augusto de Araújo, eleito em outubro de 1962, com 7.184 votos.

A imigração dos nordestinos e a produção da borracha


Durante o século XIX, a região nordeste do Brasil passou por um período de seca e fome, o que provocou uma grande migração de
nordestinos para outras regiões do país em busca de melhores condições de vida. Uma das regiões que recebeu grande parte desses mi-
grantes foi a Amazônia, especialmente o estado do Acre.
Nessa época, a produção de borracha estava em alta demanda no mercado internacional, e o Acre se tornou um importante centro de
produção do produto. Com isso, muitos nordestinos migraram para o estado em busca de trabalho nas plantações de seringueiras.
No entanto, a exploração dos trabalhadores era intensa, com longas jornadas e baixos salários. Isso gerou um grande descontentamen-
to entre os trabalhadores e, em 1902, ocorreu a chamada Insurreição no Acre, liderada por Plácido de Castro.

A Insurreição
Foi uma rebelião contra a exploração dos trabalhadores e também uma luta pela independência do Acre em relação à Bolívia, país que
na época controlava a região. A luta foi violenta e durou cerca de dois anos, mas em 1904 o Acre foi reconhecido como território brasileiro.
A partir daí, a produção da borracha entrou em declínio e muitos migrantes nordestinos retornaram para suas regiões de origem. No
entanto, a imigração nordestina para a Amazônia continuou ao longo do século XX, impulsionada pela construção de grandes obras, como
a rodovia Transamazônica e a usina hidrelétrica de Tucuruí.
Durante mais de cem anos, a região manteve sua base econômica na exploração de recursos naturais, o que ajudou a manter a preser-
vação ambiental, mas gerou desigualdades sociais significativas, devido à falta de investimento em infraestrutura social e produtiva para
a maioria da população.

Organização social do Acre


A organização social do Acre é marcada pela presença indígena, ribeirinha e extrativista. Os povos indígenas ocupam a maior parte das
terras da região e são responsáveis pela preservação da fauna e flora, bem como por manter suas culturas vivas. As comunidades ribei-
rinhas — formadas por pescadores, agricultores e criadores de gado — têm sua subsistência ligada ao rio Acre e ao extrativismo vegetal,
como a borracha e o açaí. A presença da cidade de Rio Branco, capital do estado, também impacta na organização social, sendo o centro
político, econômico e cultural do Acre.
Em relação à literatura, o Acre possui uma expressão literária rica e diversa, com obras que exploram temas como a identidade indí-
gena, a história da região e a luta pela terra. Autores como Marcus Alexandre, que escreveu “O Último Voo do Juriti”, obra que retrata a
relação entre o homem e a natureza no Acre, e Humberto Melo, que em “As Cabeças de Cerâmica” narra o processo de colonização e as
violências sofridas pelos povos indígenas, representam a força e a importância da literatura acreana na representação de sua organização
social. A literatura também é uma forma de manter viva a cultura e as tradições dos povos indígenas e ribeirinhos, contribuindo para a
preservação de suas identidades.

Comemorações cívicas
Acre possui diversas comemorações cívicas que celebram a sua história e cultura. Algumas das principais são:
23 de janeiro: Dia da Fundação do Acre - Data que marca a criação do Território Federal do Acre, em 1963.
15 de junho: Aniversário de Rio Branco - Capital do Acre, fundada em 1882.
28 de junho: Dia do Orgulho LGBT no Acre - Data que celebra a diversidade sexual e a luta por direitos LGBT no estado.
5 de setembro: Dia da Amazônia - Data que celebra a riqueza e importância da região amazônica, da qual o Acre faz parte.
17 de novembro: Dia do Evangélico - Data que celebra a comunidade evangélica do estado.
15 de dezembro: Aniversário do Estado do Acre - Data que marca a criação do estado do Acre, em 1962, após a separação do Estado
do Amazonas.

Além dessas datas, também são realizadas diversas festas populares e culturais, como o Carnaval, a Expoacre, a Festa de São Sebastião,
o Festival Pachamama e o Festival de Inverno de Rio Branco. Todas essas celebrações contribuem para fortalecer a identidade cultural e a
autoestima da população acreana.

58
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

POLÍTICA E ECONOMIA DO ACRE: INDICADORES SOCIOECONÔMICOS: ECONOMIA, PRODUTO INTERNO BRUTO, EVO-
LUÇÃO DAS OCUPAÇÕES E DO EMPREGO, POPULAÇÃO

Fonte: IBGE

O Estado do Acre está localizado no extremo sudoeste da Região Norte, inserido na área da Amazônia Legal Brasileira (composta
pelos seguintes estados: Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), abrangendo uma superfície
territorial de 16.422.136 ha. O território que hoje forma o Estado do Acre foi incorporado ao Brasil em 17 de novembro de 1903, por força
do Tratado de Petrópolis, pelo Decreto Legislativo nº 1.181, de 25.02.1904, fixado na Administração Provisória do Território do Acre. Foi
elevado à categoria de Estado em 15.06.1962, através da Lei nº 4.070. No Estado do Acre, a questão fundiária apresenta um nível particular
de complexidade resultante de fatores históricos relacionados à incorporação ao Brasil de território anteriormente pertencente à Bolívia
e, especialmente, ao fato de terem sido reconhecidos os títulos expedidos por diferentes administrações nacionais e internacionais como
o governo do Estado do Amazonas, as Repúblicas da Bolívia e do Peru e o ex-Estado Independente do Acre.
A falta de regularização legal das propriedades só foi evidenciada quando o governo federal estimulou a reorganização do espaço
econômico em decorrência de políticas orientadas para a “modernização” e “integração” da Amazônia ao território nacional. A criação de
mecanismos de atração de capitais do Centro-Sul do país e a implantação de atividades capitalistas na agricultura tiveram como consequ-
ência o fato de a terra assumir efetivamente o caráter de mercadoria.
Situado na Amazônia Legal, sua vegetação natural é composta basicamente por floresta tropical aberta e floresta tropical densa. O po-
tencial econômico da flora estadual é imensurável, tanto do ponto de vista madeireiro, da abundância e variedades de espécies produtoras
de frutos para a alimentação e uso industrial, quanto da existência de plantas medicinais e ornamentais.
Ao longo de sua história, a ocupação do território e a organização de atividades econômicas no Acre, respaldadas por políticas e
projetos governamentais, não viabilizaram um modelo de desenvolvimento duradouro e sustentável. A partir dos anos 70, a expansão da
fronteira agropecuária e madeireira no Acre (ainda que de forma menos intensa do que em outros estados, como Pará, Mato Grosso e Ron-
dônia) foi acompanhada por problemas graves, tais como: conflitos sociais sobre o acesso à terra e outros recursos naturais, exploração
predatória de recursos naturais, altas taxas de desistência nos projetos de assentamento, crescimento desordenado de cidades como Rio
Branco1. O extrativismo vegetal, que tradicionalmente sustentou a economia acreana não tem recebido o apoio e o incentivo necessários
para uma melhor performance. Os preços pagos pela borracha são incapazes de reanimar a produção e a madeira tem sido explorada de
forma seletiva, sem nenhum tipo de manejo. Recentemente, o Estado tem realizado, esforços para promover o desenvolvimento susten-
tável, atendendo às necessidades do presente sem comprometer uso dos recursos naturais no futuro. Para tanto, tem utilizado como ins-
trumento o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), organizando o processo de ocupação socioeconômica por meio da identificação do
potencial de cada região e da orientação dos investimentos para o desenvolvimento do extrativismo, da agroindústria e da agropecuária,
buscando a preservação da biodiversidade.
Destacam-se no Estado, como atividades econômicas mais significativas, a exploração da borracha e da madeira. Os ciclos da borracha
no Brasil atraíram para o Estado do Acre, desde o século passado, um contingente populacional formado principalmente por nordestinos.
A queda do preço do produto no mercado internacional fez com que muitos seringais fossem desativados e a produção de borracha de-
cresceu acentuadamente no Acre. O seringueiro passou então a diversificar suas atividades, estando hoje as florestas acreanas permeadas
de comunidades extrativistas. O gerenciamento direto da floresta pela população que nela habita, tornando-se o agente responsável por
si e pelo que pode significar a preservação da floresta é o recomendável.

59
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

A Floresta Estadual do Antimary, que abrange 66.168 hectares, A agricultura é geralmente praticada para subsistência, mas
no centro leste do Estado, foi escolhida como área de estudo de algumas lavouras como a mandioca, o arroz, a banana e o milho,
modelos de utilização da floresta tropical. A população local é for- são também de importância econômica para o Estado, além de se-
mada predominantemente por seringueiros, e as principais fontes rem essenciais para a subsistência de sua população. Na pecuária
de renda das famílias são a exploração da castanha e da borracha. destaca-se o rebanho de gado bovino (410 mil cabeças); os suínos
O Plano de Manejo de Uso Múltiplo da Floresta do Antimary é fi- (172,2 mil cabeças); e ovinos (26 mil unidades). Existe ainda algu-
nanciado pela International Tropical Timber Organization (ITTO), ma atividade industrial no Estado do Acre, voltada para a produção
com contrapartida do governo brasileiro. O ponto de partida para alimentícia, madeireira, de cerâmica e de mobiliário. O comércio é
a interpretação das tipologias florestais foi o mapa confeccionado a feito quase todo por via fluvial e os produtos exportados convergem
partir de imagens de satélite. Optou-se pela determinação de regi- em quase totalidade, para os Estados do Amazonas e Pará.
ões de manejo, nas quais poderiam ser agrupados mais de um es- Por estar inserido no âmbito da região amazônica, o estado do
trato, desde que não houvesse grande diferenciação entre as espé- Acre possui limitações físicas para o desenvolvimento de alguns ti-
cies potenciais. Definiram-se então três tipologias básicas: Floresta pos de atividades produtivas em larga escala. Com a existência de
Densa; Floresta Densa de Várzea; e Floresta Aberta com Bambu. uma vegetação natural composta basicamente por floresta tropical
Segundo levantamento socioeconômico na Floresta do Anti- aberta e floresta tropical densa, o potencial econômico da flora do
mary, estima-se uma produção anual potencial de 200 toneladas Acre é muito grande.
de borracha natural e 44 toneladas de castanha do Brasil “in natu- As Terras Indígenas, parte integrante do SEANP, totalizam
ra”. A borracha representa o produto mais importante da economia 14,55% do território do Estado, em sua maioria já regularizadas.
de extrativismo, havendo no Antimary um total de 544 estradas de Esse é um fator de relevante importância para o reconhecimento
seringa (114 árvores de seringueira em média por estrada) nas co- dos direitos dos povos indígenas sobre as terras que tradicional-
locações. A castanha do Brasil é o segundo produto do extrativismo mente ocupam e para a proteção de sua organização social, costu-
da Floresta do Antimary, sendo coletada no período da entre-safra mes, línguas, crenças e tradições e o fortalecimento de sua identi-
da borracha, que ocorre de dezembro a fevereiro. dade.
Das 1.244 espécies de plantas registradas, 674 foram desig- Com o objetivo de garantir o cumprimento dos direitos das
nadas como tendo potencial de uso pelo extrativismo. Estes usos populações indígenas, nos últimos 30 anos foram reconhecidas no
estão divididos em categorias, entre as quais destacam-se: para a Estado do Acre 34 Terras Indigenas (TIs), destinadas a 14 (quatorze)
nutrição humana (frutas de árvores, arbustos, palmeiras e cipós); povos, com uma área de 2.390.112,26 ha (14,55% do território),
para a construção civil, que inclui aquelas espécies que os extrati- abrangendo um contingente populacional estimado em 12.720 ín-
vistas usam na construção de suas casas (cumaru ferro, itauba etc.); dios Do total de 34 Terras Indígenas atualmente reconhecidas no
madeira para botes — espécies utilizadas na construção de canoa, Estado, 24 encontram-se registradas na Secretaria de Patrimônio da
(arapari, itaúba, maçaranduba etc.); para fazer ferramentas para União (SPU) e nos Cartórios de Registro de Imóveis dos respectivos
caça e pesca — incluem-se espécies adequadas a caniços e arma- municípios de localização, ato que conclui todo o processo de regu-
dilhas; para utensílios variados — incluem-se espécies adequadas larização fundiária.
para a fabricação de facas, utensílios para a extração do látex etc.;
remédios (como barba de paca, que é usada como coagulante do Produto Interno Bruto
sangue, para uso externo); lenha e carvão — várias espécies arbó- Mesmo com um crescimento de somente 0,2% em 2017, o Pro-
reas são incluídas nesta categoria, como ingá ferradura e o louro. As duto Interno Bruto (PIB) do Acre, no período de 2002/2017, cresceu
estradas de seringa estão sendo utilizadas como limites para facili- a uma taxa média de 3,9% ao ano, ocupando a 6ª posição dentre
tar o processo de determinação da área a ser manejada. De acordo os nove Estados que conseguiram fazer o PIB crescer no período.
com as condições de ocorrência de espécies comerciais, topografia, Na soma, o PIB acreano cresceu 77,2% em quinze anos, período
distância das margens, mão-de-obra disponível e área total, foram que coincide com os governos da extinta Frente Popular do Acre
determinados os compartimentos onde serão realizadas anualmen- no Estado.
te as atividades do projeto. O IBGE estima em R$14. 271.000.000,00 o PIB do Acre, 23º no
O bambu é um dos produtos a ser explorado no Acre. Em todo ranking de valor nominal. Os salários tem grande peso na composi-
o mundo, existem mais de mil espécies de bambus herbáceos e gi- ção da riqueza acreana. No Norte, a participação da remuneração
gantes, distribuídos em cerca de 50 gêneros. No Brasil, as espécies de empregados também foi mais expressiva em Roraima (60,3%);
de ocorrência da região amazônica recebem vulgarmente o nome Acre (54,5%); e Amapá (55,1%), estados caracterizados pela baixa
de taboca ou taquarussu. No Acre, como na Amazônia de maneira participação no PIB nacional e pelo peso relativamente alto da ativi-
geral, o bambu nativo é pouco utilizado. Em certas regiões é usado dade de Administração, defesa, educação e saúde públicas e seguri-
pelo seringueiro apenas como tigela para coleta do látex ou como dade social em suas economias.
ponte sobre pequenos igarapés. Na biodiversidade das florestas Em 2015, três atividades foram responsáveis por 53% do total
acreanas, destaca-se, entre outras espécies, o bambu nativo, en- de pessoas ocupadas no mercado de trabalho no Acre: Agricultura
contrado em grande quantidade em todo o território do Acre. (25%); Comércio e Reparação (17%) e Educação, Saúde e Serviços
O único Distrito Industrial existente no Estado, localiza-se no Sociais (11%). Quanto a posição na ocupação no trabalho principal,
município de Rio Branco, possuindo infraestrutura básica de trans- a maior parcela dos trabalhadores é classificada como Empregados
portes coletivos, vias de acesso, energia elétrica e linhas telefôni- e Conta Própria, representando 50% e 27%, respectivamente, da
cas, porém grande parte dos empreendimentos ali instalados en- população ocupada.
contram-se com suas atividades paralisadas.

60
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

O setor elétrico responde por apenas 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, porém a falta de energia tem um impacto sobre o
PIB que vai muito além desse percentual. Os prejuízos provocados pela falta de energia elétrica superam o próprio custo da energia elétri-
ca. Uma interrupção inesperada no fornecimento de energia elétrica pode ocasionar graves danos à economia.

Dados do Trabalho e Renda


Rendimento nominal mensal domiciliar per capita [2020] ------ 917 R$
Pessoas de 16 anos ou mais ocupadas na semana de referência [2016] -----322 pessoas (×1000)
Proporção de pessoas de 16 anos ou mais em trabalho formal, considerando apenas as ocupadas na semana de referência [2016]
----- 39,4 %
Proporção de pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência em trabalhos formais [2020] ------- 43,4 %
Rendimento médio real habitual do trabalho principal das pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência
em trabalhos formais [2020] ------ 2.577 R$
Pessoal ocupado na Administração pública, defesa e seguridade social [2019] ------ 36.396 pessoas

61
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

As lavouras temporárias sãos as culturas agrícolas que possuem um ciclo de curta duração e necessitam de replantio após a colheita.
No Acre, os principais produtores desse tipo de lavoura, são a mandioca e o milho.
A mandioca destaca-se como um produto de alta relevância cultural e econômica para a agricultura familiar do Estado. Além de poder
ser consumida in natura, a mandioca também serve de matéria-prima para a produção de farinha de mandioca, bolos, farinha de tapioca,
biscoitos e outros produtos que fazem parte da culinária regional.
O milho recebe importantes incentivos como a ampliação de áreas mecanizadas, a construção de silos graneleiros e a oferta de assis-
tência técnica, constituindo-se também como uma matéria-prima essencial para a fabricação de ração para pequenos animais.

A castanha e a madeira são os produtos com maior peso na extração vegetal, no entanto, o açaí merece destaque pelo crescimento
expressivo de 221% na quantidade extraída e 464% no valor da produção, no período de 2011 a 2015.

Educação
O gráfico refere-se à quantidade de matrículas do pré-escolar ao ensino médio no período de 2009 a 2020. Observe que houve uma
queda nas matrículas do Ensino Fundamental e médio nos anos de 2016 a 2020.

Fonte: IBGE

62
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

O Programa Quero Ler, lançado no Acre em 2016, conta com o apoio do governo Federal, tem como meta a erradicação do analfabetis-
mo em uma proporção de 4% ao ano, até 2018, em pessoas maiores de 15 anos. O Quero Ler corresponde à Meta 9 do Plano Nacional de
Educação, que é a alfabetização e o alfabetismo funcional de jovens e adultos, seguindo as diretrizes do Brasil Alfabetizado. A mobilização
do governo do Acre reúne dois consolidados programas de alfabetização: o Alfa 100 e o EJA.

Os resultados sobre o rendimento dos alunos (taxas de aprovação, reprovação e abandono), e médias de desempenho na Prova Brasil,
são utilizados para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Ideb foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e serve de referência para as metas do Plano Nacional da Educação (PNE).
No Acre, os dois segmentos do Ensino Fundamental (1º ao 5º e 6º ao 9º ano), apresentaram, entre 2011 e 2015, aumento na taxa de
aprovação. No mesmo período também se nota a redução dos níveis de reprovação e abandono dos primeiros anos do Ensino Fundamen-
tal.

População
A análise da evolução e da distribuição da população acreana, no espaço territorial do Estado, somente pode ser compreendida no
contexto histórico do processo de ocupação econômica desse espaço. Dois períodos, já analisados, foram marcantes na ocupação do ter-
ritório condicionando a evolução e dinâmica recente da população. O primeiro, relacionado com a expansão da economia da borracha,
atraiu população expulsa em decorrência das graves secas que atingiram o Nordeste, especificamente o Ceará. Esses fatos aconteceram na
segunda metade dos anos de 1800. Novo fluxo migratório também foi registrado durante a Segunda Guerra Mundial, não tão expressivo
quanto o anterior. Período marcante na evolução populacional do Acre teve início nos anos de 1960, com as políticas federais de ocupação
da Amazônia e com a modernização da agricultura no sul do país, que expulsou um contingente significativo do meio rural, muitos deles
dirigindo-se para os estados da Região Norte.
Segundo estimativa, entre 2000 e 2005, a população do Acre aumentou em 112.210 pessoas e, assim, em 2005 detém um contingente
de cerca de 669.736 pessoas. Esse crescimento populacional decorre da conjugação das circunstâncias já mencionadas; no entanto, algu-
mas merecem ser salientadas, como as políticas federais de investimento em infraestrutura e a de assentamentos da Reforma Agrária nos
estados da Amazônia.
Em relação ao movimento de urbanização, em especial, igualmente merece ser lembrada a evolução no próprio sistema produtivo
do Acre, nas últimas décadas, marcado pelo dinamismo dos setores terciário (comércio e serviços) e industrial, em comparação ao setor
primário (em particular das atividades agrícolas e extrativas). Em tais circunstâncias, a população rural é atraída pela possibilidade de tra-
balho e de acesso aos benefícios ofertados pelos serviços públicos nas cidades (saúde e educação, em particular), o que resulta no avanço
do movimento de urbanização e em graves problemas sociais urbanos, que persistem até os dias atuais.
Nesse sentido, o Acre segue a tendência brasileira (e mundial) de concentração da população nos centros urbanos, apesar de ser um
dos estados brasileiros com menor grau de urbanização.

63
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Entre 1980 e 2000, o grau de urbanização do Acre se acentua, aproximando-se da média nacional. Em 1980, o Brasil já apresentava
um grau de urbanização de 67,59%, e o Acre de 44,90%. Em 2000, o Brasil atinge um grau de urbanização de 68,19%, e o Acre de 66,4%.
Estado do Acre mantém, ao longo desses períodos, uma taxa geométrica de crescimento anual em torno de 3,0%; mesmo considerando as
oscilações, cuja taxa mais baixa verifica-se entre 1980/1991, igual a 3,01%, chega a 3,29% entre 1991/2000.
A propósito da evolução da população do Estado, deve-se considerar que o fluxo migratório em direção ao Acre não tem sido significa-
tivo. Nos últimos anos, o Acre tem recebido e remetido o equivalente a 10% da sua população total em movimentos migratórios, os quais
são influenciados, principalmente, pelas oportunidades de trabalho. Entre 1991 e 2000 o movimento migratório no Estado foi negativo.
Em outras palavras, ocorreram mais saídas do que entradas. Já com relação às pessoas que se estabelecem no Estado, o quantitativo foi de
pouco mais de 20 mil pessoas, ou o equivalente a 4% da população, em 2000.
Um aspecto particularmente significativo, em termos demográficos do Acre, está relacionado com a grande concentração populacio-
nal, especialmente a urbana, em apenas um município. Em 1991, o município de Rio Branco, capital do Estado, detinha cerca de 47% da
população total do Estado, 65% da população urbana, e 18% da rural. Em 2000, essas participações reduziram um pouco: no total, passou
para 45%; na urbana para 61% e na rural para 14%.

Fonte: IBGE

Em 2010, a participação da população jovem, até 14 anos, que teoricamente, está fora do mercado de trabalho, representava 33,7% da
população. Já a parcela dos que tinham mais de 70 anos era de somente 2,7% do total. A população entre 20 e 69 anos, que teoricamente
está no mercado de trabalho, representava 53,1% do total.

Segundo o Censo 2010, 49,8% da população do Estado do Acre é formada por mulheres. Em 2015 foi aprovado o Plano de Políticas
para as mulheres, as metas são para o período 2016/2019. No Plano, constam as políticas públicas que deverão nortear os governos futu-
ros em torno dos direitos das mulheres acreanas.

64
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

O ano de 2010 marcou o início da imigração haitiana no Brasil, logo após o terremoto que assolou o Haiti, a catástrofe provocou a mor-
te de mais de 150 mil pessoas e deixou cerca de 300 mil deslocados internos. Só de 2012 a janeiro de 2016 foram emitidos 38.065 vistos
permanentes para haitianos pelas embaixadas do Brasil - 30.385 em Porto Príncipe, 7.655 em Quito, e 25 em Lima, segundo o Itamaraty.
Enquanto em 2012 foram emitidos 1.255 vistos, em 2015 o número saltou para 20.548.

Principais problemas do Acre


O Acre é um estado que registra muitos problemas na área social. Além dos altos índices de violência, o estado tem o maior índice de
mortalidade infantil da Região Norte. A cada mil crianças nascidas vivas, 28,8 vão a óbito antes de completar um ano de idade.
Além disso, 60% dos domicílios do estado não possuem serviços de saneamento básico.

65
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Um dos principais motivos para essa disputa é a expansão da


TRABALHOS E PRODUÇÃO NAS DIFERENTES NAÇÕES fronteira agrícola e pecuária, que vem avançando sobre as áreas
INDÍGENAS, USO E POSSE DA TERRA DOS INDÍGENAS indígenas e de conservação ambiental. Além disso, a exploração ile-
DA AMAZÔNIA NO AUGE DO CICLO DA BORRACHA, gal de madeira e a mineração também representam uma ameaça
OCUPAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA TERRA, OCUPAÇÃO E constante para os povos da região.
DISPUTA PELA TERRA ENTRE POVOS INDÍGENAS E Apesar das conquistas obtidas ao longo dos anos, a luta pela
GRUPOS DE INTERESSE SOCIOECONÔMICO E ATIVIDA- terra e pela proteção dos direitos indígenas ainda é um desafio
DES ECONÔMICAS MAIS RELEVANTES NO ESTUDO DA constante no Acre e em todo o Brasil. É importante que as políti-
HISTÓRIA DA AMAZÔNIA E DO ACRE cas públicas e a sociedade em geral se mobilizem para garantir a
preservação dos territórios indígenas e a promoção da justiça so-
cioambiental.
Impacto sobre as sociedades indígenas
Durante o processo de exploração da borracha na região ama- Atividades econômicas mais relevantes
zônica, os povos indígenas do Acre foram fortemente afetados pela Ao longo da história, diversas atividades econômicas tiveram
ocupação de suas terras e pela disputa entre grupos de interesse grande importância para a região amazônica e para o estado do
socioeconômico. A demanda pela borracha impulsionou a chegada Acre. Entre elas, destacam-se:
de caucheiros peruanos e seringalistas bolivianos na região, cercan- - Exploração da borracha: Durante o século XIX e início do século
do os povos nativos e os colocando em uma posição de vulnerabili- XX, a extração da borracha foi a principal atividade econômica da
dade frente à pressão do capital internacional. região. A borracha amazônica era utilizada na fabricação de diver-
Para os povos indígenas, essa mudança foi significativa, pois sos produtos, como pneus, botas e bolas, e tinha grande demanda
eles passaram de senhores das terras da Amazônia Sul-ocidental a no mercado internacional.
serem vistos como um entrave à exploração da borracha e do cau- - Agricultura e pecuária: Desde o período colonial, a região ama-
cho na região. A partir desse momento, os índios foram submetidos zônica foi utilizada para a produção agrícola e pecuária, principal-
a uma longa fase de degradação de sua cultura tradicional, com a mente para a exportação. Destacam-se a produção de cacau, café,
expropriação da mão de obra, descaracterização da cultura e deses- açúcar, tabaco, algodão, arroz, mandioca, castanha-do-pará, entre
truturação da organização social. outros.
A partir do estabelecimento da empresa extrativista da borra- - Pesca: A pesca sempre teve grande importância para a região
cha, os índios sofreram uma pressão constante que resultou no ex- amazônica, tanto para o consumo interno como para a exportação.
termínio de muitos grupos indígenas entre os anos de 1880 e 1910. Os principais peixes pescados na região são o tambaqui, o pirarucu,
Além disso, a forma de organização social dos índios foi fortemente o jaraqui e o tucunaré.
afetada, levando a uma necessidade de adaptação para não desa- - Mineração: A região amazônica também tem grande potencial
parecer. Muitos grupos foram forçados a abandonar suas terras e se mineral, com destaque para a extração de ouro, bauxita, ferro, man-
refugiar nas cabeceiras mais isoladas dos rios. ganês e cassiterita. No Acre, a mineração de cassiterita (minério de
Com a escassez da mão de obra, muitas comunidades indígenas estanho) foi uma importante atividade econômica nas décadas de
remanescentes foram empregadas nos seringais. Os comerciantes 1960 e 1970.
sírio-libaneses se tornaram os principais fornecedores dos barra- - Indústria madeireira: A extração e comercialização de madeira
cões e mantiveram ativos os seringais, e a população passou a se é uma atividade econômica importante na região amazônica, ape-
estabelecer na beira dos rios, dando origem a um novo segmento sar de sua exploração predatória e ilegal trazer consequências nega-
social tradicional do Estado: os ribeirinhos. Todo esse processo teve tivas para o meio ambiente e para as comunidades locais.
um impacto significativo nas sociedades indígenas do Acre, resul- - Turismo: Nos últimos anos, o turismo tem se destacado como
tando em mudanças irreversíveis em sua cultura e organização so- uma atividade econômica crescente na região amazônica, devido às
cial. belezas naturais da região e à diversidade cultural dos povos ama-
Assim como em outras partes do Brasil, no Acre há uma longa zônicos.
história de disputa pela terra entre povos indígenas e grupos de O estudo das atividades econômicas da região amazônica e do
interesse socioeconômico, como fazendeiros, madeireiros e empre- Acre é importante para compreender a história e a formação social
sas agropecuárias. e cultural dessas regiões, bem como para analisar seus desafios e
Os povos indígenas do Acre, como os Ashaninka, Kaxinawá, perspectivas para o futuro.
Yawanawá e Huni Kuin, têm lutado por seus direitos à terra e à au-
tonomia desde a época da colonização. Durante o século XX, muitos
foram expulsos de suas terras tradicionais para dar lugar a projetos
de desenvolvimento, como a construção de rodovias e hidrelétri-
cas, a exploração de recursos naturais e a expansão da agricultura
e da pecuária.
Na década de 1980, a criação da Reserva Extrativista Chico Men-
des, em Xapuri, representou uma importante vitória para os povos
da região, que conseguiram garantir a proteção de seus territórios
e modos de vida. No entanto, desde então, a luta pela terra tem se
intensificado, com conflitos frequentes entre indígenas e grupos de
interesse socioeconômico.

66
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

GEOGRAFIA DO ACRE: AMAZÔNIA E CARACTERÍSTICAS GERAIS: O ESPAÇO ACREANO. ASPECTOS GEOGRÁFICOS E


ECOLÓGICOS DA AMAZÔNIA E DO ACRE. FORMAÇÃO ECONÔMICA DO ACRE. PROCESSO DE ANEXAÇÃO DO ACRE AO
BRASIL: TRATADOS E LIMITES. O TERRITÓRIO DO ACRE, MUNICÍPIOS E POPULAÇÕES DO ACRE: POPULAÇÃO E LOCA-
LIZAÇÃO. NOVA CONFIGURAÇÃO DO MAPA. MICRORREGIÕES. ATUAIS MUNICÍPIOS. RELEVO, VEGETAÇÃO E SUAS
CARACTERÍSTICAS, CLIMA, SOLO, HIDROGRAFIA, FLUXO MIGRATÓRIO, EXTRATIVISMO E ZONEAMENTO ECOLÓGICO
DO ACRE

O Estado do Acre, antes território pertencente à Bolívia, foi incorporado ao Brasil em 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis.
Está situado no extremo sudoeste da Amazônia brasileira, entre as latitudes de 07°07S e 11°08S, e as longitudes de 66°30 W e 74°WGr
(Figura 1 e 2). Sua superfície territorial é de 164.221,36 Km2 (16.422.136 ha) correspondente a 4% da área amazônica brasileira e a 1,9%
do território nacional (IBGE, ITERACRE,2006). Sua extensão territorial é de 445 Km no sentido norte-sul e 809 Km entre seus extremos leste
oeste. O Estado faz fronteiras internacionais com o Peru e a Bolívia e, nacionais com os Estados do Amazonas e de Rondônia.

Acre: limites e localização na Bacia hidrográfica do Amazonas

Com vistas a uma melhor gestão, o Estado do Acre divide-se, politicamente, em regionais de desenvolvimento: Alto Acre, Baixo Acre,
Purus, Tarauacá/Envira e Juruá, que correspondem às microrregiões estabelecidas pelo IBGE e seguem a distribuição das bacias hidrográ-
ficas dos principais rios acreanos.
Outro aspecto a considerar é o das fronteiras internas nos limites com outros Estados federativos. Uma nova configuração cartográfica
na divisa entre o Estado do Acre e o Estado do Amazonas foi delineada com base nas coordenadas constantes do cumprimento do Acórdão
lavrado pelo Supremo Tribunal Federal, através da Ação Cível Originária nº 415-2, Distrito Federal, de 4 de dezembro de 1996. A divisa é
considerada uma Linha Geodésica, limite legal que separa os Estados do Acre, Amazonas e Rondônia denominada anteriormente de Beni-
-Javari, ou Javari-Beni, cuja origem data do Tratado de Petrópolis (1903). É uma grande geodésica que aparece nos mapas como uma reta
extensa, que vai da cabeceira do rio Javari à confluência do rio Beni com o Mamoré.
A divisa entre o Estado do Acre e Rondônia é definida pelo trecho da Linha Geodésia Beni-Javari, entre a intersecção com o curso do
rio Abunã, limite internacional Brasil-Bolívia, e o cruzamento do divisor das sub-bacias dos rios Ituxi e Abunã com a citada geodésia. Com
o Estado do Amazonas é demarcada pela Linha Cunha Gomes, desde que foi definida por Plácido de Castro. Essa delimitação sempre foi
considerada provisória e, em decorrência dessa imprecisão, as populações da faixa limítrofe até pouco tempo não sabiam oficialmente se
pertenciam ao Estado do Acre ou do Amazonas, tanto que esses limites ao longo dos anos já sofreram várias modificações.

67
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Fuso Horário
Quando o território brasileiro não era muito povoado, o país contava apenas com um fuso. Em 1913, no entanto, o decreto nº 2.784,
assinado pelo então presidente Hermes da Fonseca, instituiu um conjunto de quatro diferentes horários para o país. Somente o Acre e
parte do Amazonas estão localizados no quarto fuso horário, com duas horas de diferença em relação à capital Brasília, diferença que au-
menta para três horas durante o Horário de Verão.

Principais cidades
Além da capital, Rio Branco, outros centros urbanos importantes do Acre são as seguintes cidades:
— Cruzeiro do Sul
— Sena Madureira
— Tarauacá
— Senador Guiomard

Os 22 municípios do Acre são: Acrelândia, Assis Brasil, Brasiléia, Bujari, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio
Lima, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa do
Purus, Sena Madureira, Senador Guiomard, Tarauacá e Xapuri.

68
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Relevo
O relevo é composto, predominantemente, por rochas sedimentares, que formam uma plataforma regular que desce suavemente em
cotas da ordem de 300m nas fronteiras internacionais para pouco mais de 110m nos limites com o Estado do Amazonas. No extremo oci-
dental situa-se o ponto culminante do Estado, onde a estrutura do relevo se modifica com a presença da Serra do Divisor, uma ramificação
da Serra Peruana de Contamana, apresentando uma altitude máxima de 734m.

Clima
O clima no Acre é o Equatorial Úmido, no período das chuvas que enchem os rios de água e o período das secas que faz com que os
rios tenham um fluxo entre baixo e médio de água. Caracterizando as altas temperaturas o ano inteiro.
Como está no Hemisfério Sul da terra, na zona tropical sul (ao sul da linha do Equador) suas estações do ano são poucas definidas. No
período do inverno no hemisfério sul pode ocorrer rápidas friagens, quando as temperaturas caem, sob a influência da Massa de Ar Polar
Atlântica na região. Na realidade, graças a esta localização física no Planeta, o mais correto seria entendermos que estamos numa zona
climática da terra caracterizada por climas quentes, sendo que sua variação anual é baseada, especialmente, no índice de pluviosidade,
isto é: um período “chuvoso” (o “inverno amazônico” – que caracteriza a fase das estações que vai do final da primavera – o verão, ao
início do outono no Hemisfério Sul) e, o período “estiagem” (o “verão amazônico” – que caracteriza o final do outono – inverno, ao início
da primavera).
A temperatura é variável entre 24,5ºC e 32ºC e a umidade relativa do ar fica entre 80 e 90% e o estado possui duas estações bem de-
finidas, uma com altos índices de precipitação, ou seja, chuvosa, e outra caracterizada por longos períodos de estiagem, a seca. A primeira
vai de novembro e abril e a segunda de maio até outubro.
Os índices pluviométricos vão de 1.600 a 2.750 mm ao ano.

69
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Tipologias climáticas do estado do Acre quanto ao grau de umidade e variação espacial das chuvas

Vegetação
A cobertura vegetal do Estado do Acre é composta basicamente por dois tipos de regiões fitoecológicas: Floresta Ombrófila Densa e
Floresta Ombrófila Aberta, e se subdividem em 18 tipologias florestais.
Alguns exemplos da flora típica do estado são a Seringueira, Castanheira, Vitória-régia, Açaizeiro, Copaíba, Palmeiras, Andiroba, Ange-
lim Pedra, Sibipiruna, Jatobá e Mogno.
Ao menos 4% da Floresta Amazônica está dentro do território do Acre. Por isso, o estado tem muitas áreas de conservação, como por
exemplo Estação Ecológica Rio Acre, o Parque Nacional Serra do Divisor e o Parque Estadual Chandless.
As principais tipologias florestais do Acre são:
— Floresta Aberta com bambu dominante, ocupa 9,4% de todo território acreano.
— Floresta Aberta com bambu e floresta aberta com palmeiras, abrange 26,2% do Estado.
— Floresta Aberta com palmeiras de áreas aluviais, representa 5,48% da área estadual.
— Floresta Aberta com bambu em área aluviais, ocupa 2,04% do território.
— Floresta Aberta com palmeiras, ocupa ,77% do Acre.
— Floresta Aberta com palmeiras e floresta densa, ocupa 12,12% da área.
— Floresta Densa e floresta aberta com palmeiras ocupam 7,2% da área estadual.
— Floresta Densa corresponde a 0,53% do território.
— Floresta com bambu e floresta densa, ocupa 0,36% da área estadual.
— Floresta densa submontana, corresponde a 0,47% do território acreano.
— Áreas desmatadas, corresponde a 7% da área total do Estado.

A Floresta Aberta com Bambu + Floresta Aberta com Palmeiras é o principal tipo de floresta, ocorre em quase todo o Estado do Acre,
com maior predominância nas áreas próximas aos Rios Purus, Tarauacá, Muru, Juruá, Liberdade e Antimary.

Entre o período de 2000 a 2015, o estado do Acre apresentou uma redução na taxa de desmatamento, passando de 547 km², em 2000,
para 264 km², em 2015, nos quais a taxa média anual era de 0,33% e foi para 0,16%, respectivamente.

Fauna
Veja alguns exemplos da fauna típica do estado do Acre: Anta, Arara-vermelha (ave-símbolo do Acre), Bicho-preguiça, Capivara, Curica,
Garça-branca, Onça-pintada, Papagaio, Peixes de água doce (tambaqui, pirarucu, piranha, peixe-boi, tucunaré e pirarara), Tamanduá-ban-
deira e Tucano.

Hidrografia
No acre, a maioria dos municípios está situada às margens dos rios, por isso, a rede hidrográfica, além de tudo, é um importante meio
de transporte. Veja, abaixo, quais são os principais rios e bacias hidrográficas do estado do Acre.

70
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Rios: Juruá, Purus, Tarauacá, Gregório, Muru, Envira e Jurupari.


Bacias hidrográficas: Bacia do Acre-Purus e Bacia do Juruá.

O estado do Acre faz parte da Região Hidrográfica do rio Amazonas, da Região Hidrográfica do rio Solimões, das Bacias Hidrográficas
do Javari, Juruá, Purus, e da Bacia Hidrográfica do Rio Madeira. Os rios Juruá e Purus pertencem à rede hidrográfica do rio Amazonas e
formam a Bacia Hidrográfica do Juruá e a Bacia Hidrográfica do Purus. São rios que nascem no Peru, atravessam o Estado, em paralelo,
no sentido sudoeste/ nordeste e deságuam em outros rios do Amazonas, ou seja, são rios que apresentam, ao mesmo tempo, caráter
internacional e federal.

Economia
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o estado do Acre ocupa, hoje, a 25º posição entre os estados brasileiros. Em 2017, o PIB
acreano era de 13.459.000 bilhões.
O setor de serviços é o principal responsável pela economia do estado, sendo responsável por mais de 70% das atividades econômicas.
Em seguida, vem as indústrias, com 22%.
Atualmente, a economia do Acre está baseada principalmente nos produtos extraídos da floresta. O de maior destaque, é a castanha
do Brasil, que também é chamada de castanha do Pará. Quase toda a produção é destinada à exportação, esta, ultrapassa as 18 toneladas
anuais. A principal mão de obra vem das comunidades locais.
Destaque também para a exportação de madeira. A borracha, que já foi a principal matéria prima do estado, hoje não registra altos
índices de exploração.
A ocupação do Acre, foi marcada pelo ciclo econômico da borracha, cuja matéria-prima - látex - é extraída da natureza e não propria-
mente produzida, merece menção que as atividades extrativas, historicamente, não têm gerado um processo de acumulação e crescimen-
to econômico no local de onde são extraídos os produtos e/ou matérias-primas. Em geral, a realização desse potencial é deslocada para as
regiões onde os produtos são industrializados e/ou comercializados. Assim, o potencial de acumulação gerado pelo látex foi, em sua menor
parte, apropriado pelos comerciantes e investido nas capitais dos Estados do Pará e do Amazonas, porém, a maior parte foi realizada no
exterior, onde a borracha era industrializada.
Nesse sentido, o capital gerado não foi reinvestido no setor industrial, de beneficiamento do próprio látex ou de outros produtos
extrativistas regionais ou, ainda, em outros setores produtivos. Em consequência, o ciclo da borracha não foi capaz de engendrar oportu-
nidades de crescimento econômico e geração de emprego e renda.

71
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Zoneamento Ecológico Econômico — Participativo: os atores sociais devem intervir durante todas
O Acre possui 87% de sua cobertura florestal intacta, com as fases dos trabalhos, desde a concepção até a gestão, com vistas
aproximadamente 50% de seu território legalmente protegido da à construção de seus interesses próprios e coletivos, para que o ZEE
devastação. Esta proteção e amparo legal são, na verdade, recen- seja autêntico, legítimo e realizável.
tes. Há apenas algumas décadas, o estado sofria nas mãos de in- — Equitativo: igualdade de oportunidade de desenvolvimento
teresses pouco comprometidos com o meio ambiente ou com as para todos os grupos sociais e para as diferentes regiões do Estado.
populações que tradicionalmente ocupavam estes territórios ainda — Sustentável: o uso dos recursos naturais e do meio ambiente
preservados. deve ser equilibrado, buscando a satisfação das necessidades pre-
Após um período de lutas sociais que culminaram na morte do sentes sem comprometer os recursos para as gerações futuras.
líder seringueiro Chico Mendes, o governo teve o cuidado de rea- — Holístico: abordagem interdisciplinar para integração de fa-
lizar a partir da década de 90, o Zoneamento Ecológico Econômico tores e processos, considerando a estrutura e a dinâmica ambiental
do Acre, identificando e estruturando, através de consulta e partici- e econômica, bem como os fatores histórico evolutivos do patrimô-
pação da sociedade, as zonas já desmatadas, transformando-as em nio biológico e natural do Estado.
áreas destinadas à agricultura e pecuária. As demais terras foram — Sistêmico: visão sistêmica que propicie a análise de causa
legalmente designadas para a conservação e proteção, seja de for- e efeito, permitindo estabelecer as relações de interdependência
ma integral, ou visando o uso sustentável, contando ainda com um entre os subsistemas físico-biótico e socioeconômico.
mosaico de porções territoriais demarcadas em benefício dos povos
indígenas. A elaboração do ZEE envolve a realização de estudos sobre
No Acre, o Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Eco- sistemas ambientais, as potencialidades e limitações para o uso
nômico tem assumido um papel fundamental na construção do sustentável dos recursos naturais, as relações entre a sociedade e
desenvolvimento sustentável. O Zoneamento Ecológico-Econômico o meio ambiente e a identificação de cenários tendenciais e alter-
do Acre constitui-se num instrumento privilegiado de negociação nativos, de modo a subsidiar negociações entre o governo, o setor
entre o governo e a sociedade de estratégias de gestão do territó- privado e a sociedade civil sobre estratégias de gestão territorial em
rio. O ZEE-Acre tem a atribuição de fornecer subsídios para orientar bases sustentáveis.
as políticas públicas relacionadas ao planejamento, uso e ocupação O Governo da Floresta tem como objetivo e prioridade máxima
do território, considerando as potencialidades e limitações do meio a construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável
físico, biótico e socioeconômico, seguindo princípios do desenvolvi- local e regional, pautado no combate à pobreza e na elevação do
mento sustentável. bem-estar da população, no dinamismo econômico com a geração
Dadas as especificidades culturais, ambientais, sociais e econô- de emprego e renda, no fortalecimento da identidade e respeito à
micas dos lugares, os problemas, os potenciais e as oportunidades diversidade cultural e no uso dos recursos naturais com sabedoria e
são distintos, e, assim, o padrão de desenvolvimento sustentável a manutenção do equilíbrio ambiental. Um elemento fundamental
não pode ser uniforme para toda a Amazônia. da estratégia para alcançar esse objetivo é implantar e consolidar
Uma característica positiva da busca de um novo padrão sus- uma economia florestal baseada no manejo sustentável múltiplo
tentável da vida social é justamente valorizar a diferença, que se dos recursos naturais (floresta, solo, rios, lagos e serviços ambien-
traduz em vantagem competitiva do território para construção do tais) combinada com atividades agropecuárias sustentáveis e prote-
desenvolvimento socioeconômico e melhor qualidade ambiental ção de ecossistemas (Acre 2002, 2003).
(Rêgo, 2003). Desse modo, o desenvolvimento sustentável configu- Os principais resultados esperados do Programa Estadual do
ra-se como desenvolvimento sustentável local e o ZEE deve ajustar- ZEE no Acre incluem:
se, na Amazônia, em seus objetivos e procedimentos, às realidades — Contribuição para o uso racional e sustentável dos recursos
específicas dos Estados e ao projeto político de sua população. Nes- naturais, viabilizado por meio de políticas públicas setoriais; e in-
se sentido, uma das atribuições do ZEE é contribuir para a espacia- centivos de investimentos em áreas adequadas do ponto de vista
lização de políticas públicas, no sentido de adaptá-las a realidades ambiental, econômico e sociocultural, inibindo, assim, iniciativas de
específicas do território. As especificidades culturais e a reivindi- alto risco;
cação de participação das comunidades locais salientam cada vez — Articulação das políticas públicas relacionadas à gestão dos
mais o papel das mesmas na construção de soluções locais para recursos naturais; através de uma base espacial para as tomadas
uma sociedade sustentável. de decisão;
Por isso, o planejamento regional só poderá ter eficácia e efe- — Formação de uma consciência positiva sobre o desenvolvi-
tividade se compartilhar as decisões com os setores sociais tradi- mento sustentável nos órgãos governamentais, setor privado e so-
cionalmente excluídos, a sociedade civil e o empresariado (Rêgo, ciedade civil, por meio, entre outros instrumentos, do programa de
2003). Ou seja, a implementação prática do zoneamento está re- difusão do ZEE;
lacionada à consolidação de um novo estilo de gestão das políti- — Redução substancial de conflitos socioambientais relaciona-
cas públicas envolvendo processos de empoderamento, diálogo e dos aos direitos de uso dos recursos naturais numa mesma área
negociação entre o governo, a sociedade civil organizada e o setor geográfica.
privado. — Consolidação do arcabouço conceitual e orientação prática
No Acre, o Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Eco- do projeto de desenvolvimento sustentável do Acre;
nômico foi criado pelo governador Jorge Viana por meio do decreto — Avanço do conhecimento sobre a natureza e a sociedade do
estadual nº 503, de 6 de abril de 1999, segundo o qual os trabalhos Acre com base na ciência e saber tradicional empírico e simbólico.
do ZEE devem ser conduzidos de acordo com os seguintes princí-
pios:

72
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

O Acre soma 5,13 milhões de hectares em Unidades de Conservação, dos quais 30,5% são do tipo Proteção Integral, e 69,5% são de
Uso Sustentável. Além disso, as Terras Indígenas, com 2,39 milhões de hectares, abrangem 14,56% da área total do Estado.
O Argissolo é o de maior ocorrência no Estado do Acre, sua principal característica é o aumento do teor de argila em profundidade,
com a primeira camada sempre mais arenosa. Requerem cuidados especiais para uso agrícola. Podem ser cultivadas nele culturas perenes
como café, pupunha e cupuaçu.

Dados da população
População estimada [2021] ----- 906.876 pessoas
População no último censo [2010] ----- 733.559 pessoas
Densidade demográfica [2010] ------ 4,47 hab/km²
Total de veículos [2021] ----- 320.173 veículos

Trabalho e rendimento
Rendimento nominal mensal domiciliar per capita [2022] ----- 1.038 R$
Pessoas de 16 anos ou mais ocupadas na semana de referência [2016] ----- 322 pessoas (×1000)
Proporção de pessoas de 16 anos ou mais em trabalho formal, considerando apenas as ocupadas na semana de referência [2016] ---
-- 39,4 %
Proporção de pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência em trabalhos formais [2022] ----- 45,5 %
Rendimento médio real habitual do trabalho principal das pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência em
trabalhos formais [2022] ----- 2.565 R$
Pessoal ocupado na Administração pública, defesa e seguridade social [2020] -----
35.040 pessoas

O Acre é um estado brasileiro localizado na Região Norte, na divisa com o Peru e a Bolívia. Sua capital é Rio Branco e o estado possui
uma área de aproximadamente 164 mil km², sendo o 15º maior do país.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população do Acre em 2021 era de cerca de 894 mil habitantes,
sendo a quarta unidade federativa menos populosa do Brasil. A densidade demográfica é de aproximadamente 5,4 habitantes por km².
A maioria da população do Acre está concentrada na região sul do estado, onde se localizam as maiores cidades, como Rio Branco,
Cruzeiro do Sul e Sena Madureira. A região norte do estado é mais detalhada e tem uma densidade populacional menor.
O Acre possui uma população diversa, com uma mistura de povos indígenas, descendentes de colonizadores europeus, africanos e
migrantes de outras regiões do Brasil. A língua oficial é o português, mas também são faladas outras línguas, como o espanhol e algumas
línguas indígenas.
A população do Acre tem uma forte ligação com a floresta amazônica e com as atividades explicativas relacionadas à explicação de
madeira e ao cultivo da borracha, que já foram as principais fontes de renda da região. Atualmente, o estado tem buscado diversificar sua
economia, com investimentos em setores como turismo, agropecuária e indústria.

73
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Nova configuração
Além disso, outro aspecto importante é a definição das fronteiras internas do estado com outras unidades federativas. Recentemente,
foi estabelecida uma nova configuração cartográfica na divisa entre o Acre e o Amazonas, baseada em orientações constantes do cum-
primento do Acórdão lavrado pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Cível Originária nº 415-2, do Distrito Federal, em 4 de dezembro
de 1996. Essa divisa é conhecida como Linha Geodésica, que é o limite legal que separa os Estados do Acre, Amazonas e Rondônia. Ante-
riormente, essa divisa era chamada de Beni-Javari ou Javari-Beni, e sua origem remonta ao Tratado de Petrópolis de 1903. É uma grande
geodésica que aparece nos mapas como uma reta extensa, que vai da cabeceira do rio Javari até a confluência do rio Beni com o Mamoré.
No caso da divisa entre o Acre e Rondônia, ela é definida pelo trecho da Linha Geodésica Beni-Javari, que vai da intersecção com o curso
do rio Abunã, limite internacional Brasil-Bolívia, até o cruzamento do divisor das sub-bacias dos rios Ituxi e Abunã com a citada geodésia. Já
com o Estado do Amazonas, a divisa é demarcada pela Linha Cunha Gomes, desde que foi definida por Plácido de Castro. No entanto, essa
delimitação sempre foi considerada provisória e, devido à imprecisão, como pertencente à faixa limítrofe entre os estados não sabia ofi-
cialmente a que a unidade federativa permaneceria. Como resultado, esses limites já passados ​​por várias modificações ao longo dos anos.

Fusos horários
Antes de ser muito habitado, o território brasileiro tinha apenas um fuso horário. Em 1913, o decreto nº 2.784 foi assinado pelo então
presidente Hermes da Fonseca, criando quatro fusos horários distintos para o país. O quarto fuso horário é o único a ser utilizado pelo Acre
e parte do Amazonas, e tem uma diferença de duas horas em relação à capital Brasília. Antigamente, quando tínhamos o Horário de Verão,
essa diferença aumenta para três horas.

Microrregiões
Com o objetivo de promover uma gestão mais eficiente, o Estado do Acre está dividido em cinco regiões de desenvolvimento:
- Alto Acre,
- Baixo Acre,
- Purus,
- Tarauacá/Envira e
- Juruá.

74
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

Essas regiões correspondem às microrregiões protegidas pelo IBGE e seguem a distribuição das bacias hidrográficas dos principais rios
do Acre.

Atuais Municípios
São 22 os municípios do Acre: Acrelândia, Assis Brasil, Brasiléia, Bujari, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio
Lima, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa do
Purus, Sena Madureira, Senador Guiomard, Tarauacá e Xapuri.
Cada município tem sua própria estrutura administrativa e política, com um prefeito eleito pelo voto popular e um conjunto de verea-
dores responsáveis ​​pela elaboração de leis municipais. Eles têm autonomia para gerir questões locais, como saúde, educação, transporte
e infraestrutura, entre outras. Juntos, eles formam uma organização territorial do estado do Acre.

Fonte: https://i1.wp.com/www.oaltoacre.com

Além da capital, Rio Branco, outros centros urbanos importantes do Acre são as seguintes cidades:
- Cruzeiro do Sul
- Sena Madureira
- Tarauacá
- Senador Guiomard

75
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

HIDROGRAFIA: BACIA AMAZÔNICA E PRINCIPAIS RIOS DO ACRE

O Acre é um estado que está localizado na região Norte do Brasil, sendo banhado por diversos rios importantes da bacia amazônica. A
hidrografia do Acre é formada principalmente por três bacias hidrográficas: a bacia do rio Purus, a bacia do rio Juruá e a bacia do rio Acre.
A bacia amazônica é uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, sendo formada por cerca de 15.000 rios que percorrem uma
extensão de mais de 7 milhões de km², dos quais 405.000 km² estão localizados no território brasileiro. Essa bacia é responsável pela for-
mação de grandes rios, como o Amazonas, que é o maior rio do mundo em volume de água.
No Acre, o rio Acre é o principal rio, possuindo uma extensão de aproximadamente 826 km, com nascente na Serra da Cachoeira, na
fronteira do estado com o Peru. Ele é um dos principais afluentes da margem direita do rio Purus. Outros rios importantes que banham o
estado são o rio Juruá, com 3.211 km de extensão, e o rio Purus, com 3.211 km de extensão, ambos também afluentes do rio Amazonas.
O rio Acre nasce na Cordilheira dos Andes e percorre quase todo o estado, atravessando diversas cidades e municípios, como Rio Bran-
co, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul. Ele é navegável em alguns trechos e é utilizado como fonte de água para diversas atividades, como
a pesca, a irrigação e a geração de energia elétrica hidrelétrica.
O rio Juruá também nasce na Cordilheira dos Andes e é um dos principais afluentes da margem direita do rio Amazonas. Ele atravessa
vários municípios do Acre, como Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Rodrigues Alves. O rio é muito importante para a pesca artesanal
e para o transporte de pessoas e mercadorias.
Já o rio Purus tem sua nascente na região da Serra da Contamana, no Peru, e percorre diversos municípios do Acre, como Santa Rosa
do Purus e Sena Madureira. Ele é um rio importante para a pesca e a navegação, além de ser utilizado para a irrigação de plantações.
Além desses rios, o Acre também possui outras importantes bacias hidrográficas, como a bacia do rio Tarauacá, que abrange o municí-
pio de mesmo nome, e a bacia do rio Envira, que abrange os municípios de Feijó e Tarauacá. A hidrografia do Acre é um importante recurso
natural que influencia a vida de muitas pessoas que vivem na região, seja como fonte de água, de alimento ou de transporte.

Referências Bibliográficas:
ACRE. Governo do Estado do Acre. Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre, Fase II (Escala 1:250.000): Documento
Acre em Números 2017 – Governo do Estado do Acre
Síntese. 2. Ed. Rio Branco: SEMA, 2010.
Indicadores Econômicos
Disponível em https://www.estudopratico.com.br/acre-mapa-historia-curiosidades/ Acesso em 16.10.2021
Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/panorama Acesso em 16.10.2021
Disponível em https://www.ibge.gov.br/indicadores#variacao-do-pib Acesso em 16.10.2021
Disponível em https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/atualidades Acesso em 16.10.2021

76
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

2. (SEE-AC - PROFESSOR PNS - P2 - LINGUAGENS E TECNOLO-


MODOS DE VIDA NO CAMPO E NA CIDADE GIAS - IBADE - 2019) Sobre a localização geográfica do estado do
Acre é correto afirmar:
O estado do Acre apresenta uma grande diversidade cultural e (A) parte do Estado é localizada acima da linha do Equador, ou
econômica, refletindo-se também nos modos de vida no campo e seja, no Hemisfério Sul.
na cidade. (B) o Estado está situado num planalto com altitude média de
No campo, é comum encontrar populações tradicionais, como 200m e é localizado no sudoeste da Região Norte.
indígenas e ribeirinhos, que vivem da pesca e do extrativismo ve- (C) nos limites do Estado não constam fronteiras internacionais.
getal, principalmente de seringueira e castanha. A agricultura fami- (D) o seu limite oriental é banhado pelas águas do Oceano Pa-
liar também está bastante presente, com destaque para o cultivo cífico.
de mandioca, milho, feijão, arroz, fruticultura e horticultura. Além (E) sua porção oriental é marcada por um conjunto de cadeias
disso, há criação de animais como bovinos, suínos, aves e peixes. A montanhosas conhecidas como Cordilheira dos Andes.
vida no campo costuma ser mais simples e ligada à natureza, com
tradições e costumes passados ​​de geração em geração. 3. (SESACRE – CONTADOR - IBFC - 2019) A respeito de um do-
Na cidade, a economia é mais vantajosa, com destaque para o mínio morfoclimático localizado no estado do Acre, assinale a alter-
comércio e serviços, além da indústria, principalmente a madeireira nativa correta.
e de alimentos. A capital, Rio Branco, é o principal centro urbano e (A) Amazônico
apresenta uma infraestrutura mais desenvolvida, com escolas, uni- (B) Cerrados
versidades, hospitais e diversas opções de lazer e entretenimento. (C) Mata Atlântica
Os moradores da cidade costumam ter acesso a mais recursos e (D) Mares de morros
serviços, mas também enfrentam os desafios da vida urbana, como
o trânsito intenso, a violência e o fumo. 4. (SEE-AC – PROFESSOR PNS – P2 – LINGUAGENS E TECNOLO-
Vale ressaltar que há uma interação entre campo e cidade, com GIAS – IBADE – 2019) O Brasil possui a 5ª maior extensão territorial
fluxos migratórios e trocas culturais. Muitas vezes, as famílias que entre os países do mundo, vale observar que a distância entre os
vivem no campo também mantinham casas na cidade, para onde pontos extremos do país é bastante parecida, ou seja, o Brasil pos-
se deslocam em busca de serviços e oportunidades. Além disso, as sui uma distância Leste-Oeste muito próxima da distância norte-sul,
culturas tradicionais dos povos do campo também são valorizadas desde que sejam desconsideradas as ilhas localizadas no Oceano
e preservadas na cidade, por meio de manifestações culturais e tu- Atlântico, que também pertencem ao território brasileiro. No Esta-
rismo rural. do do Acre, fica localizado o limite ocidental extremo do país, co-
Em resumo, os modos de vida no campo e na cidade do Acre nhecido como:
são bastante diversos, refletindo a riqueza cultural e econômica do (A) Ponta do Seixas.
estado. Enquanto no campo predominam as atividades realizadas à (B) Serra Imeri.
natureza e a vida mais simples, na cidade há mais opções de traba- (C) Arroio Chuí.
lho, estudo e lazer, mas também os desafios da vida urbana. (D) Nascente do Rio Moa.
(E) Rio Branco.
Referências Bibliográficas:
ACRE. Governo do Estado do Acre. Zoneamento Ecológico-Eco- 5. (SESACRE – CONTADOR - IBFC - 2019) “De 1877 até 1911,
nômico do Estado do Acre, Fase II (Escala 1:250.000): Documento houve um aumento considerável na produção da borracha que, de-
Síntese. 2. Ed. Rio Branco: SEMA, 2010. vido às primitivas técnicas de extração empregada, estava associa-
Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/panorama do ao aumento do emprego de mão-de-obra. A borracha chegou a
Acesso 03.04.2023 representar 25% da exportação do Brasil”.
(Portal São Francisco, 2019)

Quanto ao produto do extrativismo vegetal que se relaciona ao


QUESTÕES texto, assinale a alternativa correta.
(A) Pau-brasil
1. (SEE-AC - PROFESSOR PNS - P2 - LINGUAGENS E TECNOLO- (B) Carvão vegetal
GIAS - IBADE - 2019) O Tratado de Petrópolis completou em novem- (C) Látex
bro de 2018, 115 anos. A assinatura do documento que colocou fim (D) Pinhão
a Revolução Acreana e tornou oficial a anexação do Acre ao Brasil é
um acordo diplomático com o (a): 6. (SESACRE – CONTADOR - IBFC - 2019) Em relação à história
(A) Peru. e formação do território do estado do Acre, dê valores Verdadeiro
(B) Estado do Amazonas. (V) ou Falso (F).
(C) Bolívia. ( ) O Acre foi anexado ao Brasil em 1903, por meio do Tratado
(D) Paraguai. de Petrópolis.
(E) Colômbia. ( ) O território do Acre foi elevado à categoria de estado no ano
de 1962.
( ) O Acre foi o último estado criado no território brasileiro, em
1988.

77
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

( ) No período colonial, o Acre pertencia à Bolívia e à Colômbia. 11. (IAPEN - AC – ADVOGADO - IBADE – 2021) De acordo com
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado do
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de Acre é composto por cinco microrregiões e duas mesorregiões. Re-
cima para baixo. lacione as mesorregiões às respectivas microrregiões a partir das
(A) V, V, F, V colunas abaixo.
(B) V, V, F, F Coluna 1 - Mesorregiões
(C) F, V, V, F (1)Vale do Juruá.
(D) F, F, F, V (2)Vale do Acre.

7. (SESACRE – CONTADOR - IBFC - 2019) Em relação aos países Coluna 2 - Microrregiões


que fazem fronteira com o estado do Acre, dê valores Verdadeiro ( ) Cruzeiro do Sul.
(V) ou Falso (F). ( ) Sena Madureira.
( ) Bolívia ( ) Brasiléia.
( ) Chile ( ) Tarauacá.
( ) Peru ( ) Rio Branco.
( ) Venezuela
Após análise, assinale a alternativa que apresenta a sequência
Assinale a alternativa correta de cima para baixo. CORRETA dos itens acima, de cima para baixo:
(A) V, F, V, F (A) 1, 2, 2, 1, 2.
(B) F, V, F, V (B) 1, 1, 1, 2, 2.
(C) V, V, F, F (C) 2, 1, 1, 1, 2.
(D) F, F, V, V (D) 1, 2, 2, 2, 1.
(E) 1, 2, 2, 1, 1.
8. (SEE-AC - PROFESSOR - LÍNGUA PORTUGUESA - IBADE - 2019)
Quando são citadas características naturais da região Amazônica e 12. (IAPEN - AC – ADVOGADO - IBADE – 2021) Acerca da che-
do Acre, inúmeras são as possibilidades nos quesitos: clima, relevo, gada dos chamados “paulistas” nas terras acreanas no século XX,
hidrografia, vegetação, entre outros: uma das características da re- julgue as frases abaixo.
gião onde localiza-se o estado do Acre é de baixa(s): I.A chegada dos “paulistas” no Acre, pessoas advindas das re-
(A) amplitude térmica anual comparada ao restante do Brasil. giões Sul e Sudeste, está relacionada à especulação de seringais;
(B) biodiversidade das espécies, sendo um ecossistema pobre. II.Em meados da década de 70, as tensões entre latifundiários
(C) irrigação, pois não existem grandes bacias hidrográficas. e seringueiros possibilitou a expulsão dos “paulistas” do território
(D) pluviosidade ao longo de todos os doze meses do ano. acreano;
(E) temperaturas ao longo de todos os meses do ano. III.A partir da década de 80, por conta dos conflitos fundiários,
os seringueiros acreanos começaram a se organizar politicamente.
9. (SEE-AC - PROFESSOR - LÍNGUA PORTUGUESA - IBADE - 2019)
O município de Rio Branco, capital do estado, é o que possui a popu- Está(ão) CORRETA(S) a(s) seguinte(s) proposição(ões):
lação mais numerosa do Acre. A grande maioria dos municípios não (A) Apenas II.
atinge a marca dos 30 mil habitantes. Entre os municípios a seguir, o (B) Apenas III.
único que, segundo o Censo do IBGE de 2010 e suas projeções para (C) Apenas I e III.
2018, passaram da marca de 30 mil habitantes e: (D) I, II e III.
(A) Sena Madureira. (E) Apenas II e III.
(B) Assis Brasil.
(C) Xapuri 13. (SEE-AC - PROFESSOR BRAILISTA P2 - IBADE – 2020) Sobre o
(D) Capixaba relevo, a vegetação e suas características, o clima e a hidrografia do
(E) Plácido de Castro Acre, analise as afirmativas e assinale a alternativa correspondente.
https://www.infoescola.com/geografia/geografia-do-acre/) Acessa-
10. (SEE-AC - PROFESSOR - LÍNGUA PORTUGUESA - IBADE - do em março de 2020.
2019) O atual estado do Acre foi anexado oficialmente ao Brasil gra- I - A menor parte do território acreano é recobEET_o por de-
ças as negociações realizadas pelo Barão do Rio Branco. O Tratado pressões e formações de planícies estreitas ao norte, que raramen-
de Petrópolis, efetivando a posse brasileira do Acre, foi assinado no te alcançam 50 metros de altitude;
ano de: II - Em razão do grande volume de chuvas e da farta rede fluvial,
(A) 1930. a vegetação do Acre é revestida por densa floresta equatorial de
(B) 1830. terra firme, onde o clima apresenta durante todo o ano altas tem-
(C) 1889. peraturas e umidade;
(D) 1703. III - Os rios acreanos possuem grande importância para a na-
(E) 1903. vegação, para o transporte de mercadorias e de pessoas e para a
fixação das populações ribeirinhas.
(https://www.infoescola.com/geografia/geografia-do-acre/) Aces-
sado em marços de 2020.)

78
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

(A) Somente a alternativa I está correta (E) foi uma revolta popular contra o Equador ocorrida durante
(B) Somente a alternativa II está correta a Primeira República brasileira.
(C) Somente as alternativas II e III estão corretas
(D) Somente a alternativa III está correta 17. (SEE-AC – PROFESSOR PNS – P2 – IBADE – 2020) Os Acrea-
(E) Somente as alternativas I e III estão corretas nos classificam as estações do ano em verão e inverno, somente. O
clima apresenta baixa amplitude térmica, ou seja, as temperaturas
14. (SEE-AC - PROFESSOR BRAILISTA P2 - IBADE – 2020) “Desde variam pouco entre a mínima e a máxima, sendo denominado:
a segunda metade do século XIX, alguns brasileiros, sobretudo nor- (A) Temperado
destinos fustigados por sucessivas secas em suas áreas instalam-se (B) Mediterrâneo
na bacia do rio Acre, para se dedicar à atividade extrativista...”. (C) Equatorial
(https://www.infoescola.com/historia/tratado-de-petropolis/) (D) Subtropical
Acessado em março de 2020 (E) Semiárido

Sobre a migração nordestina, analise as afirmativas abaixo e 18. (SEE-AC – PROFESSOR PNS – P2 – IBADE – 2020) Em qual
assinale a alternativa correspondente. ano e durante qual governo presidencial o Acre foi elevado à con-
I - Com o início do “Primeiro Ciclo da Borracha” nos fins dos dição de Estado tornando-se uma das 27 unidades federativas do
anos 1970 nordestinos migraram para a região Amazônica para tra- Brasil?
balharem na extração do látex, fugidos da seca local; (A) Em 1932 durante o governo do presidente Getúlio Vargas
II - Para consolidar os projetos de mineração de ferro foram (B) Em 1962 durante o governo do presidente João Goulart
necessários imensos investimentos por parte de empresas minera- (C) Em 1915 durante o governo do presidente Deodoro da Fon-
doras e também do governo brasileiro; seca
III - A extração do látex, obtido das seringueiras, árvores nativas (D) Em 1990 durante o governo do presidente Itamar Franco
do lugar teve grande importância para a economia do estado. (E) Em 1946 durante o governo do presidente Eurico Gaspar
Dutra
(A) Somente a alternativa I está correta
(B) Somente a alternativa II está correta 19. (SEE-AC - PROFESSOR PNS - P2 - IBADE – 2020) Além da po-
(C) Somente a alternativa III está correta pulação indígena, a população do Acre é composta por imigrantes.
(D) Somente as alternativas I e III estão corretas Pessoas estas vindas de quais partes do Brasil?
(E) Somente as alternativas I, II e III estão corretas (A) Rio de Janeiro, Bahia e Santos/SP
(B) Minas Gerais, Belém/PA e Fortaleza/CE
(C) São Paulo, Região Nordeste e Região Sul
15. (SEE-AC – PROFESSOR BRAILISTA P2 – IBADE – 2020) No
(D) João Pessoa/PB, Santa Catarina e Vitória/ES
início da década de 1870, a seca no interior nordestino expulsou
(E) Região Centro-Oeste
centenas de pessoas, que rumaram para os seringais, do Acre, que
se multiplicavam pelos vales do rio Acre, do rio Purus e, mais a oes-
20. (SEE-AC - PROFESSOR PNS - P2 - IBADE – 2020) O estado do
te, do rio Tarauacá em busca de trabalho. Os paulistas ou sulistas,
Acre está localizado na Região Norte do Brasil; tem Cruzeiro do Sul,
como são conhecidos, surgem em terras acreanas cem anos depois,
Sena Madureira, Feijó e Tarauacá como cidades de grande impor-
aproximadamente, em busca de:
tância. O estado do Acre tem como capital a cidade de:
(A) terras para o desenvolvimento agropecuário. (A) Feijó.
(B) um potencial solo fértil criação de caprinos. (B) Sena Madureira.
(C) grandes fazendas de produção de café. (C) Cruzeiro do Sul.
(D) grandes engenhos de açúcar. (D) Rio Branco.
(E) exploração de garimpos. (E) Acre.
16. (SEE-AC - PROFESSOR BRAILISTA P2 - IBADE – 2020) “Há 21. (SEE-AC - PROFESSOR PNS - P2 - IBADE – 2020) A região que
exatos 115 anos teve início a Revolução Acreana, inadequadamente compreende o atual Estado do Acre foi alvo de vários confrontos
assim denominada, posto a ausência de significativas mudanças so- armados entre brasileiros e tropas bolivianas. A região do Acre foi
ciais e econômicas para os habitantes do Acre...” adquirida pelo Brasil, em 1903, por meio de assinatura do:
(http://periodicos.ufac.br/index.php/jamaxi/article/ (A) Tratado de Petrópolis.
view/1441/863) – Acessado em março 2020 (B) Tratado de Teresópolis.
(C) Tratado de Cruzeiro do Sul.
Acerca da Revolução Acreana, é correto afirmar que: (D) Tratado de Rio Branco.
(A) foi uma revolta popular contra a Colômbia ocorrida durante (E) Tratado de La Paz.
a Primeira República brasileira.
(B) foi uma revolta popular contra a Bolívia ocorrida durante a
Primeira República brasileira.
(C) foi uma revolta popular contra a Amazônia ocorrida durante
a Primeira República brasileira.
(D) foi uma revolta popular contra o Chile ocorrida durante a
Primeira República brasileira.

79
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE

22. (SEE-AC – PROFESSOR MEDIADOR – P1 – IBADE – 2020) A


partir da década de 1970, o Estado do Acre experimenta o desloca- GABARITO
mento dos interesses pela extração da seringa e coleta da castanha
do Brasil para novas atividades, configurando novos processos de
“avanço” da fronteira econômica. Quais tipos de atividades econô-
micas passam a ser capitaneadas a partir da década de 1970 no 1 C
Acre?
(Fonte: IBGE, 2009) 2 B
3 A
(A) Exploração madeireira e atividade pecuária
(B) Exploração mineral e atividade pecuária 4 D
(C) Exploração madeireira e atividade industrial 5 C
(D) Exploração mineral e cultivo de café
6 B
(E) Exportação madeireira e turismo
7 A
23. (SEE-AC - PROFESSOR MEDIADOR - P1 - IBADE – 2020) “A 8 A
economia da borracha iniciou um processo econômico na região
Amazônica no final do século XIX, impulsionada pelos interesses do 9 A
mercado internacional na produção do látex da seringueira e tam- 10 E
bém por interesses internos em solucionar problemas da população
nordestina, atingida pela grande seca do final daquele século (...) 11 A
Apesar das condições extremamente inóspitas essa população foi, 12 C
gradativamente, adentrando a floresta em direção oeste, gerando
13 C
problemas de fronteiras internacionais com a Bolívia e o Peru”.
(IBGE, 2009, p.9 Uso da Terra e a Gestão do Território no Estado do 14 C
Acre) 15 A
Em 1903, o território do Acre foi anexado ao Brasil através do 16 B
Tratado de/ da: 17 B
(A) Ayacucho.
(B) Petrópolis. 18 B
(C) Santo Ildefonso. 19 C
(D) Amizade. 20 D
(E) Madri.
21 A
24. (SEE-AC - ASSISTENTE EDUCACIONAL - IBADE – 2020) No 22 A
dia 23 de março de 1867, Brasil e Bolívia assinam um tratado que
determina as fronteiras entre os dois países, reconhecendo a Pro- 23 B
víncia do Acre como pertencente a Bolívia. Conhecido também por 24 E
tratado de Amizade ou tratado Muñoz-Netto, buscou selar a paz
25 A
entre os dois países. De qual tratado estamos falando?
(A) Tratado de Tordesilhas.
(B) Tratado de Petrópolis.
(C) Tratado de Santo Ildefonso.
(D) Tratado Brasil-Bolívia.
(E) Tratado de Ayacucho.

25. (SEE-AC – ASSISTENTE EDUCACIONAL – IBADE – 2020) A ci-


dade mais populosa do estado do Acre é a capital, Rio Branco, que
conta com 336.038 habitantes. A terceira maior cidade do estado
em termos de população, com 38.029 habitantes, é a cidade de:
(A) Sena Madureira.
(B) Tarauacá.
(C) Cruzeiro do Sul.
(D) Brasiléia.
(E) Feijó.

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor P1 - Mediador

Os preceitos e ordenamentos jurídicos são influentes no sis-


SISTEMA EDUCACIONAL: LEGISLAÇÃO; ESTRUTURA; tema escolar brasileiro e são responsáveis pela organização e
ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS funcionamento do sistema escolar brasileiro. Isso, quer dizer que
o sucesso ou fracasso da instituição escolar é dependente dos re-
Estrutura e organização do ensino brasileiro: aspectos legais gulamentos jurídicos da sociedade. Porisso é essencial a tarefa do
e organizacionais. professor, como cientista educacional da educação brasileira, pois a
A palavra educação vem de educare, e quer dizer, ação de ama- sua vivência e experiência educacional, são fontes fundamentais no
mentar. Pode também ter origem na raiz latina educere, que pode campo do Direito Educacional e na Legislação da Educação. Daí, a
ser explicada como a ação de orientar o educando. Hoje em dia, as necessidade do professor ser ator e autor do processo educacional,
tendências pedagógicas abrigam esta etimologia. para colaborar como parceiro na sistematização, enfatizando o Di-
Legislação é o ato de constituir leis por meio do poder legisla- reito educacional, contribuindo para a significação das capacidades
tivo. A legislação em âmbito educacional, refere-se à instrução ou constitucionais da Educação na medida em que vai decidindo os
aos procedimentos de formação que se dão não apenas nas insti- atores-parceiros e cooperadores dos processos educativos , conso-
tuições de ensino, mas ocorrem também em outras instâncias cul- lidando com seu auxílio e sua interferência o êxito na regulação e
turais como a família, a igreja, a associação, os grupos comunitários ordenamento da legislação do ensino.1
entre outros. Decorre do latim legislatio, e quer dizer, exatamente,
ação de legislar, direito de fazer, ordenar ou determinar leis. A legis- Vejamos agora os dispositivos mais destacados na legislação
lação é, então, o ato de constituir leis por meio do poder legislativo. educacional.
Legislação educacional traduz um conjunto de preceitos legais so-
bre o tema educacional. CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88 – ARTIGOS 205 A 214 E ARTIGO
Ao usarmos a expressão legislação educacional ou legislação 60 DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS.
da educação estaremos aludindo à legislação que trata da educação
escolar em seus níveis e modalidades em contorno abrangente, à A educação é um direito fundamental, estabelecido no artigo
educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino 6º, que dispõe:
médio) e à educação superior. “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
A educação elevou-se à hierarquia de direito público subjetivo o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
a partir da regulamentação legal do país, instaurada em 1988. Esse proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desampara-
ordenamento jurídico conceitua o direito na educação ou, mais atu- dos, na forma desta Constituição.”
almente chamado, o Direito Educacional. No entanto, a disciplina sobre este tema está tratada no Título
O professor é um cientista educacional, que orienta, coordena, da Ordem Social nos artigos 205 a 214.
media e atua como organizador do processo de aprendizagem com- A educação é um direito de todos e dever do Estado e da fa-
partilhando na ampliação cultural, social e econômico de um país. mília, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
Apesar de a profissão de professor não ser abordada com o seu dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
devido valor, pois apreendemos dificuldades nas escolas, nos salá- para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
rios nas ofertas de emprego, na política de carreira etc. O cientista Observa-se, desse modo, que educação não é dever exclusivo do
educacional, que é uma das tarefas de ser professor, deve ressaltar, Estado, tendo também a família igual responsabilidade. Além disso,
ouvir e direcionar um novo olhar educativo, que privilegia a apren- a sociedade também deve colaborar. O objetivo da educação é o
dizagem centrada no aluno e não enfocada puramente no ensino, desenvolvimento pleno da pessoa, ou seja, em todos os aspectos
pois ninguém ensina ninguém, no entanto aprende aquele que está e dimensões e seu preparo para viver e participar da sociedade –
motivado e interessado. Devemos lembrar que a aprendizagem cidadania, estando preparado para o trabalho.
sempre se baseia no interessante, na utilidade e no que é praze- Importante conhecer os princípios, com base nos quais o en-
roso. A pesquisa científica educacional deve-se iniciar na revelação sino será ministrado: igualdade de condições para o acesso e per-
da sala de aula real enquanto ambiente democrático, participativo manência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
e cooperativo. divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de
Ao ressaltar que a educação é direito público subjetivo (direito concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e
social ao acesso ao ensino fundamental) , dizemos que todos têm privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabeleci-
direito à educação e que é na origem da fonte de direito, na Consti- mentos oficiais; valorização dos profissionais da educação escolar,
tuição Federal, Estadual ou Municipal, que habita esse direito. garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclu-
sivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
públicas; gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
1 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

garantia de padrão de qualidade; piso salarial profissional nacional na educação infantil. Já os Estados e o Distrito Federal atuarão prio-
para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de ritariamente no ensino fundamental e médio. Na organização de
lei federal. seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Quanto ao dever do Estado com a educação será efetivado me- Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar
diante a garantia de: educação básica obrigatória e gratuita dos 4 a universalização do ensino obrigatório. A educação básica pública
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua atenderá prioritariamente ao ensino regular.
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na ida- Por fim, a Constituição ainda prevê que a lei estabelecerá o pla-
de própria; progressiva universalização do ensino médio gratuito; no nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiên- articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração
cia, preferencialmente na rede regular de ensino; educação infan- e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementa-
til, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; ção para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações
artística, segundo a capacidade de cada um; oferta de ensino no- integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas
turno regular, adequado às condições do educando; atendimento que conduzam a: erradicação do analfabetismo; universalização do
ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de atendimento escolar; melhoria da qualidade do ensino; formação
programas suplementares de material didático escolar, transporte, para o trabalho; promoção humanística, científica e tecnológica do
alimentação e assistência à saúde. País e o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos
O acesso ao ensino obrigatório e gratuito (ensino básico - dos 4 em educação como proporção do produto interno bruto.2
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade) é direito público subjeti-
vo. Assim, possível a utilização de mandado de segurança. Ademais, CONSTITUIÇÃO FEDERAL
o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou CAPÍTULO III
sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade com- DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
petente. E não basta ter a vaga, pois compete ao Poder Público re- Seção I
censear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chama- DA EDUCAÇÃO
da e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Assim, a criança e o adolescente deve efetivamente frequentar a Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
escola. família, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
Embora o ensino seja um serviço público, ele é livre à inicia- dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
tiva privada, mas atendidas algumas condições: cumprimento das para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
normas gerais da educação nacional e autorização e avaliação de Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
qualidade pelo Poder Público. Logo, não há uma liberdade absoluta, princípios:
sendo necessário o atendimento desses requisitos. I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
Os conteúdos mínimos para o ensino fundamental, devem ser cola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
fixados de maneira a assegurar formação básica comum e respeito
samento, a arte e o saber;
aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. Destaca-se
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexis-
que o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá discipli-
tência de instituições públicas e privadas de ensino;
na dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamen-
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
tal. Interessante observar que, embora o Brasil seja um Estado lai-
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garanti-
co, ou seja, separado da Igreja, a religião tem grande influência em
dos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamen-
nossa cultura, por essa razão a previsão de ensino religioso. Este,
te por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
contudo, deve abranger as diversas expressões religiosas.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
O ensino fundamental regular deve ser ministrado em língua VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
portuguesa, mas é assegurada às comunidades indígenas também a VII - garantia de padrão de qualidade.
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de apren- VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da
dizagem. educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela
As universidades gozam de autonomia didático-científica, ad- Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
ministrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalha-
princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. É dores considerados profissionais da educação básica e sobre a fi-
facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas xação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de
estrangeiros, na forma da lei. O mesmo é aplicável às instituições de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
pesquisa científica e tecnológica. Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
Quanto à distribuição das competências entre os entes da fe- Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-cien-
deração, a União organizará o sistema federal de ensino e o dos tífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obe-
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e decerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa
exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, e extensão.
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos
padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência téc- e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda
nica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Constitucional nº 11, de 1996)
Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e 2 Fonte: www.lucianarusso.jusbrasil.com.br

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesqui- § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no
sa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional
11, de 1996) nº 14, de 1996)
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado me- § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
diante a garantia de: Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de co-
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 laboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obriga-
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita tório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Reda- § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao
ção dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de
Constitucional nº 59, de 2009) 2006)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Re- Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoi-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) to, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por
III - atendimento educacional especializado aos portadores de cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimen-
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 to do ensino.
(cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
nº 53, de 2006) União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito
criação artística, segundo a capacidade de cada um; do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «caput» deste
do educando; artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educa- municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
ção básica, por meio de programas suplementares de material didá- § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade
ticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se
dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equida-
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público de, nos termos do plano nacional de educação. (Redação dada pela
subjetivo. Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Pú- § 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência
blico, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autorida- à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos
de competente. provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamen-
tários.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no en-
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
sino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida
responsáveis, pela freqüência à escola.
pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Cons-
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as se-
titucional nº 53, de 2006)
guintes condições:
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contri-
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
buição social do salário-educação serão distribuídas proporcional-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.
mente ao número de alunos matriculados na educação básica nas
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fun-
respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Consti-
damental, de maneira a assegurar formação básica comum e res- tucional nº 53, de 2006)
peito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas pú-
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá dis- blicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais
ciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino funda- ou filantrópicas, definidas em lei, que:
mental. I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus exce-
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua dentes financeiros em educação;
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a uti- II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
lização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendi- comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no
zagem. caso de encerramento de suas atividades.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser desti-
organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. nados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública
exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na lo-
padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência téc- calidade.
nica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por institui-
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda- ções de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio
mental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Consti- financeiro do Poder Público.   (Redação dada pela Emenda Consti-
tucional nº 14, de 1996) tucional nº 85, de 2015)

83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e
duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de uni-
educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, versalização da educação básica estabelecidas no Plano Nacional de
metas e estratégias de implementação para assegurar a manuten- Educação, a lei disporá sobre:
ção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de
e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos seus recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao valor anu-
das diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada al por aluno entre etapas e modalidades da educação básica e tipos
pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) de estabelecimento de ensino;
I - erradicação do analfabetismo; b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno;
II - universalização do atendimento escolar; c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos dos
III - melhoria da qualidade do ensino; Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educação básica,
IV - formação para o trabalho; observados os arts. 208 e 214 da Constituição Federal, bem como
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. as metas do Plano Nacional de Educação;
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos d) a fiscalização e o controle dos Fundos;
em educação como proporção do produto interno bruto. (Incluído e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional
pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) nacional para os profissionais do magistério público da educação
básica;
Ato Das Disposições Constitucionais Transitórias IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituídos nos
termos do inciso I do caput deste artigo serão aplicados pelos Esta-
A finalidade do ADCT é estabelecer regras de transição entre o dos e Municípios exclusivamente nos respectivos âmbitos de atua-
antigo ordenamento jurídico e o novo, instituído pela manifestação ção prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da
do poder constituinte originário, providenciando a acomodação e a Constituição Federal;
transição do antigo e do novo direito edificado. V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se re-
  Segundo Barroso, “destinam-se as normas dessa natureza a fere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Distrito Federal
auxiliar na transição de uma ordem jurídica para outra, procuran- e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido
do neutralizar os efeitos nocivos desse confronto, no tempo, entre nacionalmente, fixado em observância ao disposto no inciso VII do
regras de igual hierarquia — Constituição nova versus Constituição caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos a que se refere
velha — e de hierarquia diversa — Constituição nova versus ordem o § 5º do art. 212 da Constituição Federal;
ordinária preexistente”, interligando-se, portanto, nesse sentido, VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União pre-
com o instituto da recepção (Luís Roberto Barroso, Disposições vista no inciso V do caput deste artigo poderá ser distribuída para
constitucionais transitórias..., p. 491, in: CLÈVE, C. M.; BARROSO, L. os Fundos por meio de programas direcionados para a melhoria da
R. (Org.). Doutrinas essenciais direito constitucional, RT, 2011. v. 1, qualidade da educação, na forma da lei a que se refere o inciso III
p. 489-505).3 do caput deste artigo;
VII - a complementação da União de que trata o inciso V do
Vejamos o artigo solicitado no edital:
caput deste artigo será de, no mínimo:
a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no primeiro ano
Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulga-
de vigência dos Fundos;
ção desta Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os
b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no segundo ano
Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do
de vigência dos Fundos;
art. 212 da Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento
c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos milhões
da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores
de reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos;
da educação, respeitadas as seguintes disposições:
d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se refere o
I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o
inciso II do caput deste artigo, a partir do quarto ano de vigência
Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada median-
te a criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um dos Fundos;
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de VIII - a vinculação de recursos à manutenção e desenvolvimen-
Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, de natureza to do ensino estabelecida no art. 212 da Constituição Federal su-
contábil; portará, no máximo, 30% (trinta por cento) da complementação da
II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão União, considerando-se para os fins deste inciso os valores previstos
constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se refe- no inciso VII do caput deste artigo;
rem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do caput do art. 157; os IX - os valores a que se referem as alíneas a, b, e c do inciso
incisos II, III e IV do caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o VII do caput deste artigo serão atualizados, anualmente, a partir da
inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, e distri- promulgação desta Emenda Constitucional, de forma a preservar,
buídos entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao em caráter permanente, o valor real da complementação da União;
número de alunos das diversas etapas e modalidades da educação X - aplica-se à complementação da União o disposto no art. 160
básica presencial, matriculados nas respectivas redes, nos respecti- da Constituição Federal;
vos âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º e 3º do XI - o não-cumprimento do disposto nos incisos V e VII do caput
art. 211 da Constituição Federal; deste artigo importará crime de responsabilidade da autoridade
3 Fonte: www.cartaforense.com.br competente;

84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de cada 6. Dos Profissionais da Educação.
Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será destinada ao 7. Dos Recursos financeiros.
pagamento dos profissionais do magistério da educação básica em 8. Das Disposições Gerais.
efetivo exercício. 9. Das Disposições Transitórias.

§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de- Se você estudar e compreender essas obrigações do Estado e
verão assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria os princípios, certamente terá um bom desempenho nas questões
da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão mínimo defini- da sua prova.
do nacionalmente. Mesmo quando não souber exatamente o que pede a questão,
§ 2º O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo de ficará muito mais fácil respondê-la.
cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao pra- No último tópico de nosso material, teremos o conteúdo da
ticado no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do LDB abordado com mais informações para seu estudo.4
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF, no
ano anterior à vigência desta Emenda Constitucional. LEI FEDERAL Nº 8069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADO-
§ 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino fundamental, LESCENTE
no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Edu-
cação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUN-
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal
DEB, não poderá ser inferior ao valor mínimo fixado nacionalmente
(8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos
no ano anterior ao da vigência desta Emenda Constitucional.
das crianças e adolescentes em todo o Brasil.
§ 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a que
se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em conta a to- Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em par-
talidade das matrículas no ensino fundamental e considerar-se-á tes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codifica-
para a educação infantil, para o ensino médio e para a educação de ções existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda
jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no primeiro ano, 2/3 parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho tute-
(dois terços) no segundo ano e sua totalidade a partir do terceiro lar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.
ano. A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem
§ 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos Fundos, distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos
conforme o inciso II do caput deste artigo, será alcançada grada- como sujeitos de direitos e deveres, considerados como pessoas em
tivamente nos primeiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos, da desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta do Estado.
seguinte forma: O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos,
I - no caso dos impostos e transferências constantes do inciso II proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e
do caput do art. 155; do inciso IV do caput do art. 158; e das alíneas social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e
a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159 da Constituição da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade.
Federal: O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
cento), no primeiro ano; respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para me-
b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por cen- ninos e meninas, e também aborda questões de políticas de aten-
to), no segundo ano; dimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre
c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano; outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados
II - no caso dos impostos e transferências constantes dos inci- à Constituição da República de 1988.
sos I e III do caput do art. 155; do inciso II do caput do art. 157; e dos Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze anos
incisos II e III do caput do art. 158 da Constituição Federal: de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida entre
a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por cento), doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto, excepcional-
no primeiro ano; mente, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade, em
b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por cento),
situações que serão aqui demonstradas.
no segundo ano;
Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será ob-
c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano.
jeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
§ 6º (Revogado).
violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que seja, de-
§ 7º (Revogado). (Artigo com redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 53, de 2006) vendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos seus
direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que a
LEI FEDERAL Nº 9394/96 – LDB criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tem 92 arti- o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condi-
gos, divididos em 9 títulos. São eles: ções dignas de existência.
1. Da Educação. As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguar-
2. Dos Princípios e Fins da Educação Nacional. dar a família natural ou a família substituta, sendo está ultima pela
3. Do Direito à Educação e do Dever de Educar. guarda, tutela ou adoção. A guarda obriga a prestação de assistên-
4. Da Organização da Educação Nacional. cia material, moral e educacional, a tutela pressupõe todos os deve-
5. Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino. 4 Fonte: www.segredosdeconcurso.com.br

85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

res da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos incom- 9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da propos-
pletos, já a adoção atribui condição de filho, com mesmos direito e ta orçamentaria para planos e programas de atendimento dos direi-
deveres, inclusive sucessórios. tos da criança e do adolescente.
A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispensá- 10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para
vel à organização social, conforme preceitua o art. 226 da CR/88. que estas se defendam de programas de rádio e televisão que con-
Não sendo regra, mas os adolescentes correm maior risco quando trariem princípios constitucionais bem como de propaganda de
fazem parte de famílias desestruturadas ou violentas. produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao
Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos fi- meio ambiente.
lhos, não constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de 11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações ju-
recursos materiais, sob pena da perda ou a suspensão do pátrio diciais de perda ou suspensão do pátrio poder.
poder. 12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamen-
Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou tais que executem programas de proteção e socioeducativos.
qualquer deles e seus descendentes, descumpra qualquer de suas
obrigações, a criança ou adolescente serão colocados em família Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade
substituta mediante guarda, tutela ou adoção. da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer trata-
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado mento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrange-
no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, dor, havendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra algu-
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre ma criança ou adolescente, serão obrigatoriamente comunicados
da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecen- ao Conselho Tutelar para providências cabíveis.
tes. Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a de-
Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no de- linquência é uma realidade social, principalmente nas grandes cida-
senvolvimento familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao máxi- des, sem previsão de término, fazendo com que tenha tratamento
mo a estabilidade emocional, econômica e social. diferenciado dos crimes praticados por agentes imputáveis.
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são fa- Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos
tores que interferem diretamente no desenvolvimento das crianças incompletos são denominados atos infracionais passíveis de apli-
e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente inseri- cação de medidas socioeducativas. Os dispositivos do Estatuto da
dos na entidade familiar. Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto o
Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou responsável, quanto o menor devem ser instados a modificarem
violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que atitudes, definindo sanções para os casos mais graves.
cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e co- Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, cuja conduta
mercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para os
explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de imputáveis, poderão sofrer sanções específicas aquelas descritas no
conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. estatuto como medidas socioeducativas.
Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tutelar Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas res-
composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local, re- pondem pela prática de ato infracional cuja sanção será desde a
gularmente eleitos e empossados, encarregado pela sociedade de adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou res-
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. ponsável, orientação, apoio e acompanhamento, matricula e fre-
O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competen- quência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa de
tes a salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes nas auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psicológi-
hipóteses em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus co ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação
pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres previstos na em família substituta.
legislação do ECA e na Constituição. São deveres dos Conselheiros Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputáveis)
Tutelares: que pratica algum ato infracional, além das medidas protetivas já
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de pro- descritas, a autoridade competente poderá aplicar medida socioe-
teção. ducativa de acordo com a capacidade do ofensor, circunstâncias do
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medi- fato e a gravidade da infração, são elas:
das pertinentes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. 1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo e assi-
3. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar nada pelos adolescentes e genitores sob os riscos do envolvimento
serviços públicos e entrar na Justiça quando alguém, injustificada- em atos infracionais e sua reiteração,
mente, descumprir suas decisões. 2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o Es- passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo da ví-
tatuto tenha como infração administrativa ou penal. tima,
5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes. 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo
6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade social,
sócio-educativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores. 4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o en-
7. Expedir notificações em casos de sua competência. fretamento da prática de atos infracionais, na medida em que atua
8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e juntamente com a família e o controle por profissionais (psicólogos
adolescentes, quando necessário. e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Juventude,

86
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e edu-
que exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo duran- car a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os sem
te o dia, mas restringe sua liberdade no período noturno, mediante nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem como é
recolhimento em entidade especializada utilizado por grupos criminosos para livrar-se de responsabilidades
6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extre- criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa.
ma do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à privação total Cabe ao Estado zelas para que as crianças e adolescentes se
da liberdade. Aplicada em casos mais graves e em caráter excep- desenvolvam em condições sociais que favoreçam a integridade
cional. física, liberdade e dignidade. Contudo, não se pode atribuir tal res-
ponsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do estatuto
Antes da sentença, a internação somente pode ser determina- da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do
da pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada que o produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm
baseada em fortes indícios de autoria e materialidade do ato infra- importância fundamental no comportamento dos mesmos.5
cional.
Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de Veja o dispositivo acessando o link: www.planalto.gov.br/cci-
internação têm a obrigação de: vil_03/leis/L8069.htm
1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os ado-
lescentes; PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.
2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
restrição na decisão de internação, De acordo com o PCN - Ciências Humanas e suas Tecnologias,
3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e compete ao educador ampliar a compreensão dos alunos quanto
dignidade ao adolescente, ao funcionamento da economia de nosso país, referindo-se aos
4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação fatores de produção, aos agentes econômicos, aos aspectos ins-
dos vínculos familiares, titucionais, à formação dos preços e aos direitos do consumidor.
5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda Outro aspecto que pode ser explorado em sala de aula refere-se ao
infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área fenômeno da globalização, aos diferentes sistemas econômicos e às
de lazer e atividades culturais e desportivas. crises internacionais. No entanto, deve-se levar em conta a vivência
6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo dos alunos, contextualizando esses temas de forma clara e objetiva.
de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade compe- Da mesma forma, a escola deve desenvolver nos alunos as com-
tente. petências de leitura e interpretação de inúmeros textos, entre eles
documentos legais, para que todos possam compreendê-los e apli-
Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser im- cá-los em seu cotidiano como pleno exercício da cidadania. Além
plementadas até que sejam completados 18 anos de idade. Contu- da compreensão dos aspectos já abordados, cabe ao professor de-
do, o cumprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos casos de senvolver nos alunos conhecimentos que expliquem os processos
internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA.
por meio dos quais eles possam construir sua própria identidade
Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas
no convívio social, subentendendo-se o emergir da consciência e
no Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação
a compreensão dos mecanismos subjacentes às diferentes formas
com a reeducação e a ressocialização dos menores infratores.
de conduta.
Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato infracio-
Ao questionarem o senso comum, os alunos irão contribuir
nal, o representante do Ministério Público poderá conceder o per-
para uma reflexão e melhor compreensão de sua inserção no mun-
dão (remissão), como forma de exclusão do processo, se atendido
do, desconstruindo um certo determinismo em relação a papéis
às circunstâncias e consequências do fato, contexto social, perso-
sociais a serem desempenhados, frente à escola, ao trabalho, à
nalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato
infracional. sexualidade, à autoridade, à relação familiar e aos grupos com os
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medi- quais interagem. O estudo das Ciências Humanas e suas Tecnologias
das aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento a pro- pode contribuir para a constituição de personalidades, formação de
grama de proteção a família, inclusão em programa de orientação valores estéticos, políticos e éticos, para que futuramente possam
a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psico- atuar com segurança na vida adulta.
lógico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas de A aprendizagem na Área Humana deve aproximar os diferen-
orientação, obrigação de matricular e acompanhar o aproveitamen- tes referenciais teóricos e metodológicos dos conhecimentos que
to escolar do menor, advertência, perda da guarda, destituição da a compõem, tendo como foco uma visão integrada do fenômeno
tutela e até suspensão ou destituição do pátrio poder. humano. Com base nisso, as diversas culturas devem ser compreen-
O importante é observar que as crianças e os adolescentes não didas a partir das implicações de ordem histórica, geográfica, socio-
podem ser considerados autênticas propriedades de seus genito- lógica, antropológica, política, econômica, psicológica e filosófica.
res, visto que são titulas de direitos humanos como quaisquer pes- Para ver o documento na íntegra acesse o link a seguir:
soas, dotados de direitos e deveres como demonstrado. http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/195-se-
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de parte cretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12598-pu-
da sociedade brasileira, que o considera excessivamente paternalis- blicacoes-sp-265002211
ta em relação aos atos infracionais cometidos por crianças e ado-
lescentes, uma vez que os atos infracionais estão ficando cada vez 5 Fonte: www.ambito-juridico.com.br – Texto adaptado de Cláudia Mara
mais violentos e reiterados. de Almeida Rabelo Viegas / Cesar Leandro de Almeida Rabelo

87
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A base curricular do ensino brasileiro tem passado por diversas A BNCC referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente
mudanças, dentre elas, temos a lei a seguir. estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
Portanto, não haverá a obrigatoriedade de disciplinas.
Lei nº 13.415/2017 Obrigatoriedade apenas para o ensino da língua portuguesa e
da matemática nos três anos do ensino médio, assegurada às co-
- Altera a LDB munidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas
- Altera o Fundeb maternas, e de língua inglesa.
- Altera a CLT Outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencial-
- Revoga a Lei 11.161/2005 mente o espanhol, poderão ser ofertadas de acordo com a dispo-
- Institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de nibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de
Ensino Médio em Tempo Integral. ensino.
A carga horária destinada ao cumprimento da BNCC não po-
Quais as implicações? derá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga horária
do ensino médio. Ou seja, próximo a 69% do total da carga horária.
Implicações curriculares, com flexibilização e aligeiramento da
formação Itinerários Formativos
- Altera o formato de financiamento público com privatização O currículo do ensino médio será composto pela BNCC e por iti-
- Atinge a formação docente nerários formativos, que deverão ser organizados por meio da ofer-
- Impacta a docência da rede particular de ensino ta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para
- Não assegura novos recursos o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
Implicações Curriculares II - matemática e suas tecnologias;
Carga horária do ensino médio será ampliada de forma pro- III - ciências da natureza e suas tecnologias;
gressiva (§ 1º, Art. 24 LDB – nova redação) para mil e quatrocentas IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
horas, devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de V - formação técnica e profissional.
cinco anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
de 2 de março de 2017. Poderá ser composto itinerário formativo integrado, que se
Ou seja, só existe prazo para se chegar às mil horas, ou seja, traduz na composição de componentes curriculares da BNCC e dos
uma hora em relação a carga horária atual. itinerários formativos.
A Lei não faz referência clara como essa expansão irá acontecer Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas na
no ensino médio noturno. Apenas determina que os sistemas de rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio cursar
ensino disporão sobre a oferta de educação de jovens e adultos e mais um itinerário formativo de que trata o caput.
de ensino noturno regular, adequado às condições do educando,
conforme o inciso VI do art. 4°.” Acesse o link a seguir e tenha acesso ao documento na íntegra:
O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei -
constituirá componente curricular obrigatório da educação básica, -13415-16-fevereiro-2017-784336-publicacaooriginal-152003-pl.
mas não especifica se atingirá os itinerários formativos do ensino html
médio. É provável que não.
Obriga a oferta de língua inglesa a partir do sexto ano do ensino EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 53/2006 – FUNDEB
fundamental.
A Lei dispõe que a integralização curricular poderá incluir, a cri- Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da
tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitu-
temas transversais. Portanto, não necessitará de ser tratado para o cionais Transitórias.
conjunto dos estudantes. Os assuntos tratados foram: a alteração do dispositivo da Cons-
A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obri- tituição Federal, direitos e assistência educacional, gratuidade na
gatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de aprova- oferta, educação infantil e creche, valorização do magistério, re-
ção do CNE e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. cursos para financiamento educacional (manutenção e desenvolvi-
A BNCC definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino mento da educação básica) e FUNDEB.
médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas Veja na íntegra as alterações dos respectivos artigos citados
seguintes áreas do conhecimento: acessando o link a seguir:
I - linguagens e suas tecnologias; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/
II - matemática e suas tecnologias; Emc/emc53.htm
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.

A parte diversificada dos currículos, definida em cada sistema


de ensino, deverá estar harmonizada à BNCC e ser articulada a par-
tir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural.

88
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2. Verificar a Conexão Entre Teoria e Prática


CONHECIMENTO ADMINISTRATIVO E PEDAGÓGICO
PARA ORGANIZAÇÃO DO SETOR DE COORDENAÇÃO- É função do coordenador avaliar a conexão entre o currículo e a
DOMÍNIO DE CONHECIMENTOS, HABILIDADES E COM- prática diária dos professores na sala de aula. É claro que ele deve
PETÊNCIAS PARA A COORDENAÇÃO DA AÇÃO EDUCA- fazer isso sem a pressão de um fiscalizador, no papel de observador.
TIVA NA ESCOLA Agora, diferentemente do que acontecia antes dos anos 90, ele ve-
rifica com mais flexibilidade se os professores estão acompanhando
FUNÇÕES DO COORDENADOR ESCOLAR o que foi decidido no projeto pedagógico da escola.
Nessa função ele também pode propor novas formas de lidar
Até a década de 90, muitos coordenadores eram vistos como
6
com a turma ou com alguns alunos que precisam de atenção espe-
fiscais, que vigiavam os professores e controlavam as suas ações. cial, oferecendo soluções para problemas e dando o suporte neces-
Porém, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de- sário para as atividades que estejam relacionadas ao aprendizado.
cretada em 1996, essa concepção ficou para trás e deu espaço para
outras competências mais relevantes, como o auxílio direto aos 3. Incentivar o trabalho em grupo
professores na sua prática escolar e o estreitamento da relação en-
tre a família e a escola. O trabalho em grupo também é incentivado por esse profissio-
Dessa forma, as atribuições de um coordenador passaram a ser nal, que busca motivar o desenvolvimento de atividades interdis-
focadas na rotina pedagógica da instituição de ensino. Logo, suas ciplinares. Por isso, a boa comunicação entre a coordenação e os
funções também passaram a ser diretamente ligadas à sua atuação professores é um meio eficaz de amarrar pontas que estejam soltas
junto aos professores e, consequentemente, à aplicação de princí- para a construção de um projeto alinhado.
pios que resultem em um ensino de qualidade aos alunos. A atuação do coordenador está vinculada tanto ao coletivo
Isso não quer dizer que é função do coordenador escolar ir para quanto ao individual. Por isso, ele tem o papel de articular as ideias.
a sala de aula quando um professor falta ou cuidar dos recursos Logo, se o professor de português, por exemplo, tem uma ideia que,
financeiros da escola - dois erros muito comuns cometidos quando na visão do coordenador, pode ser utilizada por todos os outros do-
se reflete sobre a função do coordenador escolar. Resumidamente, centes, ele provavelmente compartilhará essa ideia no intuito de
seu trabalho consiste em manter a relação harmônica entre seus agregar algo à prática do grupo.
parceiros (alunos, professores, direção da escola e pais) com proje-
tos que visem à integração da escola como um todo. 4. Ouvir e guiar os professores
Mesmo assim, algumas funções não relacionadas ao cargo, Como já foi dito, a atuação do coordenador se relaciona tanto
como as citadas acima, ainda acabam nas mãos do coordenador. à equipe escolar como um grupo, quanto a cada docente individu-
Por isso é tão importante que as suas principais funções sejam esta- almente. Isso significa que é função do coordenador ouvir e guiar
belecidas de forma clara no âmbito escolar. os professores, estimulando o engajamento com projetos coletivos
e individuais.
1. Garantir a Formação Continuada dos Docentes Para isso, ele traça estratégias e ações focadas na melhoria do
processo de ensino-aprendizagem, no desenvolvimento do conhe-
Primeiramente, com as novas diretrizes para a gestão da educa- cimento e no estreitamento das relações interpessoais.
ção no Brasil, a relação do coordenador com os professores passou
a ser de formador - ou seja, é ele quem dispõe de meios para que 5. Garantir a boa comunicação
a formação continuada dos docentes aconteça.
É nesse processo de continuidade dos estudos que o professor O coordenador também está na escola para garantir uma boa
tem a chance de aprofundar e atualizar seus conhecimentos. O co- comunicação entre a direção e os educadores, entre os alunos e os
ordenador pode incentivar essa prática oferecendo cursos online professores, e entre a família e a escola.
voltados para a formação continuada, como aqueles do PROFS, e Com uma parceria afinada, em que todos conhecem as funções
trabalhando para implementar na instituição uma cultura que in- um do outro no ambiente escolar, o coordenador é capaz de dar
centive e valorize a formação continuada dos docentes. o Norte para as ações, visando sempre ao melhor desempenho
Dessa forma, ele também tem o papel de promover a forma- do todo. Por isso, é dele a função de informar pais e responsáveis
ção continuada do corpo docente por meio de cursos e encontros quanto à situação escolar de seus filhos, sobretudo em casos pro-
focados na melhoria da prática pedagógica dentro da própria insti- blemáticos.
tuição.
Assim, a articulação entre teoria e prática acontece por inter- 6. Inserir novas formas de pensar às práticas escolares
médio desse profissional, sendo dele a função de refletir junto aos
professores quanto às suas práticas diante das condições e necessi- Em tempos de novas tecnologias, todos os dias há alguma no-
dades de ensino-aprendizagem dos alunos. vidade inovadora no âmbito escolar. Nessa perspectiva, o coorde-
nador tem o papel de articular as práticas escolares com as novas
formas de pensar em uma escola conectada.
Enquanto os alunos estão por dentro de quase tudo o que en-
volve tecnologia, a gestão escolar não pode se fechar para as no-
vidades. Portanto, novas formas de manter o aluno engajado nas
aulas com a ajuda de ferramentas digitais devem ser pensadas pelo
6 https://bit.ly/2Tbecpu coordenador em conjunto com a comunidade escolar.

89
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No intuito de garantir o trabalho pedagógico coletivo de quali- Princípio Transformador


dade, o coordenador deve levar a inovação para o âmbito escolar, Para formar professores e favorecer a construção de um am-
principalmente por meio do incentivo ao uso de novas tecnologias biente harmônico e participativo para a comunidade escolar, o co-
educacionais, que, por sua vez, colaboram com a organização e com ordenador aplica o seu princípio transformador. É dele a função de
a escolha dos materiais necessários no processo de ensino-apren- transformar situações, que podem ser negativas ou estar ultrapas-
dizagem. sadas, por exemplo. Faz parte desse princípio as funções de:
• inovar estudos e planejamentos;
7. Ser líder • mapear dados para prevenção de conflitos;
• implementar tecnologias e inovações que auxiliem o proces-
As pressões existem e surgem de todos os lados - dos pais, dos so de ensino-aprendizagem;
professores, do diretor e dos estudantes. Por isso, o coordenador se • identificar necessidades dos docentes e alunos, transforman-
posiciona como um líder no espaço escolar. Contudo, uma boa lide- do a realidade quando necessário.
rança sabe que o diálogo é a base para conduzir e resolver conflitos.
Uma das principais características de um bom líder é a flexibi- Influenciam nos Processos Operacionais da Escola
lidade de saber ouvir, analisar e discutir de maneira profissional.
Assim, o coordenador escolar que sabe liderar tem visão ampla e, Para que essas funções de um coordenador escolar sejam re-
por isso, consegue enxergar a escola como um todo, sendo capaz de alizadas com eficiência, alguns aspectos precisam ser considerados
buscar a melhor solução para os problemas existentes. - principalmente na atual conjuntura escolar, em que novas tecno-
logias ganham espaço e otimizam os processos.
8. Avaliar o processo de ensino-aprendizagem
A aquisição de novos conhecimentos e habilidades
É o coordenador quem analisa, avalia e dá feedback para pais Para que a formação continuada dos docentes e projetos ino-
e professores em relação aos resultados de aprendizagem dos alu- vadores sejam pensados e aplicados pelo coordenador pedagógico,
nos. Portanto, ele é quem planeja formas de trabalhar as demandas a atualização se faz necessária. Afinal, a sociedade muda constan-
dos discentes. Para cumprir a função de transformador, o coordena- temente e as formas de ver e pensar também são influenciadas e
dor fornece condições reais para a aprendizagem. reformuladas.
Isso significa que o coordenador é quem oferece a abertura do
espaço pedagógico para questionamentos, intervenções e propos- A busca por soluções tecnológicas
tas colaborativas, em que todos os envolvidos possam opinar e tro- A tecnologia é vista como uma ferramenta que agrega valor ao
car informações a fim de ter um clima de confiança mútua e um papel do coordenador que deseja ser cada vez melhor e ter mais
ambiente agradável para se trabalhar. eficiência na sua atuação. Com uma alta demanda e prazos curtos
para cumprir todas as suas tarefas, o uso de tecnologias que otimi-
Princípios da Coordenação Escolar zam o tempo são opções quase que indispensáveis.
Afinal, tarefas que antes gastariam parte da semana para se-
É importante ressaltar que este artigo tem o propósito de de- rem feitas, como a compilação de resultados para análise do de-
talhar as principais funções de um coordenador escolar, ou seja, as sempenho, podem ser realizadas em menos tempo com apoio de
funções que regem os princípios de formador, articulador e trans- aplicativos e ferramentas - deixando espaço para que as principais
formador desse profissional. Nessa linha de raciocínio, as funções funções de um coordenador escolar recebam a maior parte de sua
podem ser resumidas de acordo com cada um desses princípios: atenção.

Princípio Formador Adaptação de procedimentos de gestão


Dentro desse princípio, o coordenador escolar: A gestão dos dados relacionados ao desempenho dos alunos
• observa a conduta pedagógica dos docentes; em avaliações e outras informações referentes aos problemas ad-
• acompanha o processo de ensino-aprendizagem; ministrativos e pedagógicos são avaliados pelo coordenador esco-
• incentiva o trabalho interdisciplinar com projetos e meios lar. Com base nisso, ele refletirá, discutirá e compartilhará os resul-
para tal. tados, associando-os aos objetivos da instituição.

Princípio Articulador
Para atingir os objetivos de seu princípio articulador, o coor- EDUCAÇÃO BÁSICA: ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO.
denador:
• faz trabalhos coletivos pedagógicos frequentes; A) A história da Educação e do Ensino Fundamental
• realiza encontros com os docentes;
• atende aos professores individualmente; A história da educação escolar (formal) no Brasil tem início em
• estabelece a mediação entre direção, famílias, alunos e pro- 1549, quando aqui chegam os padres da Companhia de Jesus (or-
fessores; dem religiosa católica), incumbidos de comandar a educação brasi-
• articula planejamento, currículo, avaliação de aprendizagem leira. Na época, nosso país era uma colônia portuguesa organizada
e a formação continuada da equipe docente. sob a égide da monocultura da cana-de-açúcar para exportação,
baseada no latifúndio e no trabalho escravo.

90
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Segundo Romanelli (1992)7, como a educação escolar não se tava, bem como das elites governantes. Infelizmente, a presença
fazia necessária para o desenvolvimento das atividades de produ- da família real no Brasil trouxe sensíveis mudanças apenas para o
ção, no período colonial ela permaneceu à margem e serviu mais ensino superior, ficando os demais níveis de ensino em situação de
como um mero símbolo de status para um limitado grupo de pes- abandono total.
soas pertencentes à classe dominante (donos de terra e senhores A Independência política, proclamada em 1822, também não
de engenho). Contando com o incentivo e o subsídio da coroa por- veio alterar, pelo menos de imediato, o quadro da situação edu-
tuguesa, os jesuítas dominaram a educação brasileira por mais de cacional do país. A Constituição do Império, outorgada em 1824,
dois séculos (1549-1759), criando assim as nossas primeiras esco- mesmo contendo poucas indicações sobre educação, estabeleceu
las, dentre elas as de primeiras letras, correspondentes ao ensino um importante princípio: A instrução primária gratuita a todos os
fundamental de hoje cidadãos.
Durante esse longo período, os padres jesuítas não descui- Conforme aponta Saviani (1997)9, nossa primeira lei nacional
daram da catequese, que era objetivo principal da presença da sobre instrução pública data de 15 de outubro de 1827, a qual de-
Companhia de Jesus, e acabaram ministrando também educação terminou a criação de escolas de primeiras letras em todas as ci-
elementar para a população índia e branca em geral (salvo as mu- dades, vilas e lugares populosos. Entretanto, como a Lei de 15 de
lheres) nas criadas escolas de primeiras letras. outubro de 1827 nada dispunha sobre as condições materiais de
Contudo, a educação dada pelos jesuítas foi direcionando-se sua implantação, ela acabou fracassando e a instrução pública no
cada vez mais para a formação das elites, dando início assim ao ca- país permaneceu em estado de abandono total.
ráter de classes que marca educação brasileira até os dias de hoje. O golpe de misericórdia no quadro da instrução pública brasi-
Ainda conforme revela Romanelli, os colégios instalados pelos leira veio com o Ato Adicional de 1834, uma emenda à Constituição
jesuítas destinavam-se à educação média para os homens da clas- de 1824. Mediante a edição de tal Ato, o poder central se reservou
se dominante, parte da qual continuou nos colégios preparando-se o direito de promover a educação superior em todo o Império e
para o ingresso na classe sacerdotal, ou para os estudos superiores, a educação no Município da Corte, delegando às Províncias a in-
em universidades europeias, os jovens que não buscavam a vida cumbência de promover a educação primária e secundária em suas
sacerdotal. jurisdições.
Entendendo que o sistema jesuítico estava mais articulado aos Como se vê, essa descentralização trazida pelo Ato Adicional
interesses da própria Companhia de Jesus que àqueles da Coroa, de 1834 acabou por colocar a educação da elite a cargo do poder
o rei influenciado por seu primeiro-ministro, o Marques de Pom- central e a do povo a cargo das Províncias que, inteiramente en-
bal, expulsou os padres jesuítas de Portugal e seus domínios em tregues a si mesmas, desamparadas financeiramente pelo governo
1759. Durante os mais de dois séculos (1549-1759) que dominaram central, pouco puderam fazer em benefício da educação primária e
a educação brasileira, os jesuítas fundaram 17 colégios secundários secundária.
e, ao redor de cada um ou em locais avançados do interior, dezenas A partir de então foram criados nas capitais os liceus provin-
de escolas de primeiras letras. Assim, a partir de 1759, quando o ciais, na tentativa de reunir antigas aulas régias em liceus, sem mui-
sistema de ensino montado pelos padres jesuítas no Brasil caiu por ta organização. Em função da falta de recursos das províncias, o en-
terra, o Estado passou a assumir, pela primeira vez, a organização e sino, sobretudo o secundário, acabou ficando nas mãos da iniciativa
os encargos da educação. privada e o ensino primário foi relegado ao abandono, acentuando
O orgânico, embora conservador e elitista, sistema jesuítico ainda mais o caráter classista e acadêmico do ensino. Assim, ao final
foi substituído pelas aulas régias, um sistema não seriado de au- do Império, o quadro geral da educação brasileira pouco diferia da
las avulsas, com professores mal remunerados e vitalícios no cargo, situação herdada do período colonial: poucas escolas primárias, os
custeado por um novo tributo colonial instituído somente em 1772, liceus provinciais, em cada capital de província, colégios particula-
o subsidio literário, que incidia sobre a venda de carne nos açou- res, em algumas cidades importantes, e alguns cursos superiores.
gues e aguardente. Ao final do século XVIII a Colônia brasileira apre- Com a queda da monarquia, em 1889, começa o período co-
sentava um quadro educacional deplorável: além de algumas aulas nhecido como Primeira República (1889-1930). Contudo, no que
régias criadas com a reforma pombalina, possuía algumas escolas se refere especificamente ao campo educacional, a instauração do
primárias e secundárias, em mãos de eclesiásticos. novo regime político não trouxe alterações significativas para a ins-
No início do século XIX, o Brasil passou por importantes mu- trução pública brasileira, visto que a primeira Constituição da Repú-
danças políticas, sem que o modelo agroexportador baseado na blica pouco modificou a divisão de responsabilidades educacionais
monocultura, no latifúndio e no trabalho escravo sofresse altera- estabelecida pelo Ato Adicional de 1834.
ções de monta. Como revela Gadotti (1993)8, a partir de 1808, com A Constituição da República de 1891, que consagrou também a
a vinda da família real portuguesa para o Brasil, fugindo da invasão descentralização do ensino, ou melhor, reservou ao governo central
napoleônica, são criados os primeiros cursos superiores (não-teoló- o direito de criar instituições de ensino superior e secundário nos
gicos) na Colônia. Na avaliação do autor supracitado, a preocupação Estados e prover a instrução secundária no Distrito Federal, dele-
educacional da monarquia portuguesa aqui instalada restringiu-se gando aos Estados competência para prover e legislar sobre edu-
à formação de quadros militares e administrativos de que necessi- cação primária.
Assim, mesmo com a queda do Império, continuaram a persis-
7 ROMANELLI, Otaíza. História da educação no Brasil: 1930-1973. Pe- tir o dualismo educacional e a ausência de uma coordenação cen-
trópolis: Vozes, 1992. tral e de uma política nacional de educação que abrangesse todos
8 GADOTTI, Moacir. Organização do trabalho na escola: alguns pressu- 9 SAVIANI, Dermerval. A nova lei da educação: trajetória, limites e pers-
postos. São Paulo: Ática, 1993.

91
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

os níveis de ensino, conforme escrito por Haidar, Tanuri (1998)10. a administração dos Estados que cuidava do ensino primário, as re-
Na prática, isso significou a permanência da precariedade da ins- formas referentes a este nível de ensino foram todas feitas pelos
trução primária durante a Primeira República, que subordinada in- Estados, mas de maneira isolada e sem muita continuidade.
teiramente à iniciativa e às possibilidades financeiras dos Estados, Com a Lei Orgânica do Ensino Primário, enfim, o governo cen-
pouco avanço registrou. tral cuida de traçar diretrizes para o ensino primário, validas para
Durante toda a Primeira República, uma série de reformas edu- todo o país. A partir de então, tal nível de ensino ficou assim estru-
cacionais foram tentadas no país, destacando: a Reforma Benjamin turado:
Constant (1890), a Reforma Epitácio Pessoa (1901), a Reforma Ri-
vadávia Corrêa (1911), a Reforma Carlos Maximiliano (1915) e a - Ensino primário fundamental, destinado a crianças de 7 a 12
Reforma João Luis Alves (1925). Sem validade nacional, todas elas anos, subdividido em:
não lograram acarretar nenhuma mudança substancial na educação - Primário elementar (de 4 anos); e
brasileira. Todas as reformas efetuadas pelo poder central, limita- - Primário complementar (de 1 ano).
ram-se quase exclusivamente ao Distrito Federal, que as apresen- - Ensino primário supletivo, de 2 anos, para adolescentes e
tava como “modelo” aos Estados, sem, contudo, obrigá-los a ado- adultos que não receberam esse nível de educação na idade ade-
tá-las. quada.
A Revolução de 1930 marca o início da era Vargas (1930-1945)
e também de importantes transformações no campo educacio- Contudo, como ressalta Romanelli (1992), na prática o ensino
nal brasileiro. De início, o governo provisório cria o Ministério da primário fundamental acabou por resumir-se no ensino primário
Educação e Saúde Pública, que tem como seu primeiro Ministro elementar, por falta de condições objetivas de funcionamento do
Francisco Campos. Já em 1931, o governo provisório baixou uma ensino complementar. O regime instalado com o golpe militar de
série de decretos dispondo sobre a organização do ensino superior, 1964 veio alterar sensivelmente a estrutura do ensino até então em
secundário e comercial, que se constituíram na chamada Reforma vigor no país. Mediante a Lei nº 5.692/71 (fixa diretrizes e bases
Francisco Campos. para o ensino de 1º e 2º graus), o governo militar reformou o ensino
Tal Reforma, contudo, pecou por tratar de organizar prefe- primário e secundário. A lei supracitada criou o ensino de 1º grau,
rencialmente o sistema educacional das elites, deixando comple- com duração de 8 anos, mediante a junção do antigo curso primário
tamente marginalizados os ensino primário e os vários ramos do e do ciclo ginasial do ensino médio.
ensino secundário profissional (salvo o comercial).
Em 16 de julho de 1934 uma nova Constituição Federal foi pro- B) Ensino Fundamental
mulgada em nosso país. Em relação à educação, especificamente,
muitas das ideias defendidas pelos educadores da Associação Bra- Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve estrutura-
sileira de Educação (ABE), e que mais tarde foram traduzidas no do nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de 11 de agosto de
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tornaram-se preceitos 1971. Essa lei, ao definir as Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
constitucionais a partir da Carta de 1934. estabeleceu como objetivo geral, tanto para o ensino fundamental
Segundo Romanelli, a Constituição de 1934 representa uma vi- (primeiro grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) quanto
tória do movimento renovador, uma vez que quase todo texto cons- para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório), proporcionar
titucional “referente à educação denuncia uma influência bastante aos educandos a formação necessária ao desenvolvimento de suas
pronunciada do Manifesto”. potencialidades como elemento de auto realização, preparação
Além de estabelecer a que a educação é direito de todos, a para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. Também
Constituição de 1934 determinou a gratuidade e a obrigatorieda- generalizou as disposições básicas sobre o currículo, estabelecendo
de do ensino primário e estabeleceu, pela primeira vez no país, a o núcleo comum obrigatório em âmbito nacional para o ensino fun-
vinculação de mínimos percentuais orçamentários para a educação, damental e médio.
devendo a União e os Municípios aplicar nunca menos de 10% e os Manteve, porém, uma parte diversificada a fim de contemplar
Estados e Distrito Federal pelo menos 20% da renda resultante dos as peculiaridades locais, a especificidade dos planos dos estabele-
impostos, no ensino. cimentos de ensino e as diferenças individuais dos alunos. Coube
Contudo, com o golpe que instalou o Estado Novo (1937-1945) aos Estados a formulação de propostas curriculares que serviriam
a Carta de 1934 logo foi substituída pela Constituição outorgada em de base às escolas estaduais, municipais e particulares situadas em
1937, a qual tratou a educação muito restritivamente. A partir de seu território, compondo, assim, seus respectivos sistemas de ensi-
1942, o Ministro da Educação Gustavo Capanema deu início, ain- no. Essas propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os
da que de maneira parcial, a reforma de todos os ramos do ensino anos 80, segundo as tendências educacionais que se generalizaram
primário e secundário. Entre 1942 e 1946, oito decretos-lei foram nesse período.
postos em execução visando tal reforma, os quais tomaram o nome Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de Educa-
de Leis Orgânicas do Ensino. ção para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada pela Unesco,
O ensino primário, até então, praticamente não tinha recebido Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa conferência, assim como da
qualquer atenção do governo central e ainda não havia diretrizes Declaração de Nova Delhi - assinada pelos nove países em desen-
lançadas pelo governo central para esse nível de ensino. Como era volvimento de maior contingente populacional do mundo -, resulta-
10 HAIDAR, Maria de Lourdes Mariotto; TANURI, Leonor Maria. A edu-
ram posições consensuais na luta pela satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem para todos, capazes de tornar universal a
cação básica no Brasil: dos primórdios até a primeira Lei de diretrizes e Bases. In:
MEMESES, João Gualberto et al. Estrutura e funcionamento da educação básica.
educação fundamental e de ampliar as oportunidades de aprendi-
São Paulo: Pioneira, 1998. zagem para crianças, jovens e adultos.

92
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Tendo em vista o quadro atual da educação no Brasil e os com- C) A ampliação do Ensino Fundamental para 9 (nove) anos
promissos assumidos internacionalmente, o Ministério da Educa-
ção e do Desporto coordenou a elaboração do Plano Decenal de C.1) Fundamentação legal
Educação para Todos (1993-2003), concebido como um conjunto Conforme o Plano Nacional de Educação, a determinação legal,
de diretrizes políticas em contínuo processo de negociação, voltado Lei nº 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental, de implantar
para a recuperação da escola fundamental, a partir do compromis- progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, pela inclu-
so com a equidade e com o incremento da qualidade, como tam- são das crianças de seis anos de idade, tem duas intenções: Ofere-
bém com a constante avaliação dos sistemas escolares, visando ao cer maiores oportunidades de aprendizagem no período da esco-
seu contínuo aprimoramento. larização obrigatória e, Assegurar que, ingressando mais cedo no
O Plano Decenal de Educação, em consonância com o que esta- sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando
belece a Constituição de 1988, afirma a necessidade e a obrigação maior nível de escolaridade.
de o Estado elaborar parâmetros claros no campo curricular capa- O PNE estabelece, ainda, que a implantação progressiva do
zes de orientar as ações educativas do ensino obrigatório, de forma Ensino Fundamental de nove anos, com a inclusão das crianças
a adequá-lo aos ideais democráticos e à busca da melhoria da qua- de seis anos, deve se dar em consonância com a universalização
lidade do ensino nas escolas brasileiras. do atendimento na faixa etária de 7 a 14 anos. Ressalta também
Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucional vigente que esta ação requer planejamento e diretrizes norteadoras para o
mostra a ampliação das responsabilidades do poder público para atendimento integral da criança em seu aspecto físico, psicológico,
com a educação de todos, ao mesmo tempo que a Emenda Consti- intelectual e social, além de metas para a expansão do atendimen-
tucional n. 14, de 12 de setembro de 1996, priorizou o ensino fun- to, com garantia de qualidade. Essa qualidade implica assegurar um
damental, disciplinando a participação de Estados e Municípios no processo educativo respeitoso e construído com base nas múltiplas
tocante ao financiamento desse nível de ensino. dimensões e na especificidade do tempo da infância, do qual tam-
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Fe- bém fazem parte as crianças de sete e oito anos.
deral n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, consolida e O art. 23 da LDB incentiva a criatividade e insiste na flexibilida-
amplia o dever do poder público para com a educação em geral e de da organização da educação básica, nesse sentido, a educação
em particular para com o ensino fundamental. Assim, vê-se no art. básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
22 dessa lei que a educação básica, da qual o ensino fundamental é ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não se-
parte integrante, deve assegurar a todos “a formação comum indis- riados, com base na idade, na competência e em outros critérios,
pensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do
progredir no trabalho e em estudos posteriores”, fato que confere processo de aprendizagem assim o recomendar.
ao ensino fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de terminali- As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
dade e de continuidade. fornecem elementos importantes para a revisão da Proposta Peda-
Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB consolida a organi- gógica do Ensino Fundamental que incorporará as crianças de seis
zação curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no tra- anos, até então pertencentes ao segmento da Educação Infantil.
to dos componentes curriculares, reafirmando desse modo o prin- Entre eles, destacam-se:
cípio da base nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), A) As propostas pedagógicas devem promover em suas práticas
a ser complementada por uma parte diversificada em cada sistema de educação e cuidados a integração entre os aspectos físicos, emo-
de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da Constituição cionais, afetivos, cognitivo linguísticos e sociais da criança, enten-
Federal. dendo que ela é um ser total, completo e indivisível. Dessa forma,
O ensino proposto pela LDB, em seu artigo 32 está em função sentir, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se,
do objetivo maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a to- cuidar-se, agir e responsabilizar-se são partes do todo de cada in-
dos formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola divíduo.
de condições de aprendizagem para: B) Ao reconhecer as crianças como seres íntegros que apren-
dem a ser e a conviver consigo mesmas, com os demais e com o
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meio ambiente de maneira articulada e gradual, as propostas pe-
meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; dagógicas devem buscar a interação entre as diversas áreas de
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema po- conhecimento e aspectos da vida cidadã como conteúdos básicos
lítico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta para a constituição de conhecimentos e valores. Dessa maneira, os
a sociedade; conhecimentos sobre espaço, tempo, comunicação, expressão, a
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo natureza e as pessoas devem estar articulados com os cuidados e
em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação a educação para a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o
de atitudes e valores; meio ambiente, a cultura, as linguagens, o trabalho, o lazer, a ciên-
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de soli- cia e a tecnologia.
dariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a C) Tudo isso deve acontecer num contexto em que cuidados e
vida social. educação se realizem de modo prazeroso, lúdico. Nesta perspec-
tiva, as brincadeiras espontâneas, o uso de materiais, os jogos, as
danças e os cantos, as comidas e as roupas, as múltiplas formas de
comunicação, de expressão, de criação e de movimento, o exercício
de tarefas rotineiras do cotidiano e as experiências dirigidas que
exigem que o conhecimento dos limites e alcances das ações das
crianças e dos adultos estejam contemplados.

93
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

D) As estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, o exagero de atividades “acadêmicas” ou de disciplinamento estéril.
E) As múltiplas formas de diálogo e interação são o eixo de todo o trabalho pedagógico, que deve primar pelo envolvimento e pelo
interesse genuíno dos educadores em todas as situações, provocando, brincando, rindo, apoiando, acolhendo, estabelecendo limites com
energia e sensibilidade, consolando, observando, estimulando e desafiando a curiosidade e a criatividade, por meio de exercícios de sen-
sibilidade, reconhecendo e alegrando-se com as conquistas individuais e coletivas das crianças, sobretudo as que promovam a autonomia,
a responsabilidade e a solidariedade.
F) A participação dos educadores é mesmo participação e não condução absoluta de todas as atividades e centralização dessas em sua
pessoa. Por isso, desde a organização do espaço, móveis, acesso a brinquedos e materiais, aos locais como banheiros, cantinas e pátios,
até a divisão do tempo e do calendário anual de atividades, passando pelas relações e ações conjuntas com as famílias e os responsáveis,
o papel dos educadores é legitimar os compromissos assumidos por meio das propostas pedagógicas.

C.2) Por que o Ensino Fundamental a partir dos 6 (seis) anos


Conforme recentes pesquisas, 81,7% das crianças de seis anos estão na escola, sendo que 38,9% frequentam a Educação Infantil,
13,6% as classes de alfabetização e 29,6% já estão no Ensino Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000).
Esse dado reforça o propósito de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, uma vez que permite aumentar o número de
crianças incluídas no sistema educacional. Os setores populares deverão ser os mais beneficiados, uma vez que as crianças de seis anos
da classe média e alta já se encontram majoritariamente incorporadas ao sistema de ensino - na pré-escola ou na primeira série do Ensino
Fundamental.
A opção pela faixa etária dos 6 aos 14 e não dos 7 aos 15 anos para o Ensino Fundamental de nove anos segue a tendência das famílias
e dos sistemas de ensino de inserir progressivamente as crianças de 6 anos na rede escolar. A inclusão, mediante a antecipação do acesso,
é uma medida contextualizada nas políticas educacionais focalizadas no Ensino Fundamental.
No entanto, não se trata de transferir para as crianças de seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de con-
ceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos em um Ensino Fundamental de nove anos, considerando o perfil de seus alunos.
O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio esco-
lar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. É evidente que a maior aprendizagem não depende
do aumento do tempo de permanência na escola, mas sim do emprego mais eficaz do tempo. No entanto, a associação de ambos deve
contribuir significativamente para que os educandos aprendam mais.
Seu ingresso no Ensino Fundamental obrigatório não pode constituir-se em medida meramente administrativa. O cuidado na sequ-
ência do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças de seis anos de idade implica o conhecimento e a atenção às suas
características etárias, sociais e psicológicas. As orientações pedagógicas, por sua vez, estarão atentas a essas características para que as
crianças sejam respeitadas como sujeitos do aprendizado.
Como ponto de partida, para garantir uma nomenclatura comum às múltiplas possibilidades de organização desse nível de ensino
(séries, ciclos, outros - conforme art. 23 da LDB nº 9.394/96), sugere-se que o Ensino Fundamental seja assim mencionado:

Ensino Fundamental
Anos Iniciais Anos Finais
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
ano ano ano ano ano ano ano ano ano

Implantar um Ensino Fundamental, agora de nove anos, leva necessariamente a repensá-lo no seu conjunto. Assim, esta é uma opor-
tunidade preciosa para uma nova práxis dos educadores, sendo primordial que ela aborde os saberes e seus tempos, bem como os méto-
dos de trabalho, na perspectiva das reflexões antes tecidas. Ou seja, os educadores são convidados a uma práxis que caminhe na direção
de uma escola de qualidade social, como foi proposto na parte I deste documento.

C.3) Organização do trabalho pedagógico


Uma questão essencial é a organização da escola que inclui as crianças de seis anos no Ensino Fundamental. Para recebê-las, ela ne-
cessita reorganizar a sua estrutura, as formas de gestão, os ambientes, os espaços, os tempos, os materiais, os conteúdos, as metodologias,
os objetivos, o planejamento e a avaliação, de sorte que as crianças se sintam inseridas e acolhidas num ambiente prazeroso e propício
à aprendizagem. É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra da forma mais natural
possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos negativos no seu processo de escolarização.
Recomenda-se que as escolas organizadas pela estrutura seriada não transformem esse novo ano em mais uma série, com as carac-
terísticas e a natureza da primeira é série. Assim, o Ministério da Educação orienta que, nos seus projetos político pedagógicos, sejam
previstas estratégias possibilitadoras de maior flexibilização dos seus tempos, com menos cortes e descontinuidades. Estratégias que, de
fato, contribuam para o desenvolvimento da criança, possibilitando-lhe, efetivamente, uma ampliação qualitativa do seu tempo na escola.

94
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

C.4) A formação do professor do aluno de 6 (seis) anos do En- Como isso se traduz na escola?
sino Fundamental Nunca o discurso da autonomia, cidadania e participação no es-
É essencial que esse professor esteja sintonizado com os as- paço Escolar ganhou tanta força. Estes têm sido temas marcantes
pectos relativos aos cuidados e à educação dessas crianças, seja do debate educacional brasileiro de hoje. Essa preocupação tem-se
portador ou esteja receptivo ao conhecimento das diversas dimen- traduzido, sobretudo pela reivindicação de um projeto político pe-
sões que as constituem no seu aspecto físico, cognitivo-linguístico, dagógico próprio de cada escola. Neste texto, gostaríamos de tratar
emocional, social e afetivo. deste assunto, sublinhando a sua importância, seu significado, bem
Nessa perspectiva, é essencial assegurar ao professor progra- como as dificuldades, obstáculos e elementos facilitadores da ela-
mas de formação continuada, privilegiando a especificidade do boração do projeto político pedagógico.
exercício docente em turmas que atendem a crianças de seis anos. Começaremos esclarecendo o próprio título: “projeto político
A natureza do trabalho docente requer um continuado processo de pedagógico”. Entendemos que todo projeto pedagógico é necessa-
formação dos sujeitos sociais historicamente envolvidos com a ação riamente político. Poderíamos denominá-lo, portanto, apenas “pro-
pedagógica, sendo indispensável o desenvolvimento de atitudes in- jeto pedagógico”. Mas, a fim de dar destaque ao político dentro do
vestigativas, de alternativas pedagógicas e metodológicas na busca pedagógico, resolvemos desdobrar o nome em “político pedagógi-
de uma qualidade social da educação. co”.
Não há nenhum modelo a ser seguido, nem perfil ou estereótipo Frequentemente se confunde projeto com plano. Certamente
profissional a ser buscado. Entretanto, como analisa Veiga(2002)11, o plano diretor da escola - como conjunto de objetivos, metas e
o projeto pedagógico da formação, alicerçado na concepção do pro- procedimentos - faz parte do seu projeto, mas não é todo o seu
fessor como agente social, deixa claro que é o exercício da profissão projeto.
do magistério que constitui verdadeiramente a referência central Isso não significa que objetivos metas e procedimentos não se-
tanto da formação inicial e continuada como da pesquisa em edu- jam Necessários. Mas eles são insuficientes, pois, em geral, o plano
cação. Por isso, não há formação e prática pedagógica definitivas: fica no campo do instituído, ou melhor, no cumprimento mais eficaz
há um processo de criação constante e infindável, necessariamente do instituído, como defende hoje todo o discurso oficial em torno
refletido e questionado, reconfigurado. da “qualidade” e, em particular, da “qualidade total”. Um projeto
necessita sempre rever o instituído para, a partir dele, instituir ou-
tra coisa. Tornar-se instituinte. Um projeto político-pedagógico não
CONSELHO DE CLASSE: INSTRUMENTO DE ACOMPA- nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto
NHAMENTO DA APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores
internos e externos e o seu modo de vida. Um projeto Sempre con-
fronta esse instituído com o instituinte.
O Conselho de Classe é órgão colegiado de natureza consultiva Não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte,
e deliberativa em assuntos didático-pedagógicos, fundamentado no um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também
Projeto Político Pedagógico da escola e no Regimento Escolar. político. O projeto pedagógico da escola é por isso mesmo, sempre
Os Conselhos de Classe ocorrem em grande parte nas escolas, um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidade
guiadas por modelos de avaliação classificatórios, com o objetivo de que permanece como horizonte da escola.
conceder uma sentença ao aluno. Hoffman entende que esta deve
ser uma ação dirigida ao futuro, com caráter interativo e reflexivo, De quem é a responsabilidade da constituição do projeto da
deliberando sobre novas ações que garantam a aquisição de com- escola?
petências para à aprendizagem dos alunos. O projeto da escola não é responsabilidade apenas de sua dire-
Até muito recentemente a questão da escola limitava-se a uma ção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção é escolhida a
escolha entre ser tradicional e ser moderna. Essa tipologia não de- partir do reconhecimento da competência e da liderança de alguém
sapareceu, mas não responde a todas as questões atuais da escola. capaz de executar um projeto coletivo. A escola, nesse caso, esco-
Muito menos à questão do seu projeto12. lhe primeiro um projeto e depois essa pessoa que pode executá-lo.
A crise paradigmática também atinge a escola e ela se pergunta Assim realizada, a eleição de um diretor ou de uma diretora se dá a
sobre si mesma, sobre seu papel como instituição numa sociedade partir da escolha de um projeto político pedagógico para a escola.
pós-moderna e pós-industrial, caracterizada pela globalização da Portanto, ao se eleger um diretor de escola, o que se está elegendo
economia, das comunicações, da educação e da cultura, pelo plu- é um projeto para a escola.
ralismo político, pela emergência do poder local. Nessa sociedade Como vimos, o projeto pedagógico da escola está hoje inserido
cresce a reivindicação pela participação e autonomia contra toda num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é resultado de
forma de uniformização e o desejo de afirmação da singularidade um processo de desenvolvimento de suas próprias contradições.
de cada região, de cada língua etc. A multiculturalidade é a marca Não existem duas escolas iguais. Diante disso, desaparece aquela
mais significativa do nosso tempo. arrogante pretensão de saber de antemão quais serão os resulta-
dos do projeto para todas as escolas de um sistema educacional. A
arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo.
A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da edu-
cação da nossa época.
11 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org) Projeto político-pedagógico da Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a escolha
escola: uma construção possível. 14 a edição Papirus, 2002.
do projeto de nossas escolas. Não se entende, portanto, uma escola
12 Texto extraído de GADOTTI, Moacir. “Projeto político pedagógico da
sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu projeto e auto-
escola: fundamentos para sua realização”. nomia para executá-lo e avaliá-lo.

95
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da Repensar esta prática deve ser tarefa urgente e substituí-la pela
própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática da es- avaliação enquanto processo de formação humana é uma necessi-
cola é, portanto, uma exigência de seu projeto político pedagógico. dade. A avaliação, enquanto atividade dinâmica presente na escola,
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de deve subsidiar decisões e reencaminhamentos da prática docente
todos os membros da comunidade escolar. Mudança que implica por intermédio da coleta, da análise e da síntese de dados resul-
deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas tantes da prática pedagógica que considera a aprendizagem um
um aparelho burocrático do Estado e não uma conquista da comu- processo onde a socialização do saber científico deve ser garantida,
nidade. A gestão democrática da escola implica que a comunidade, contribuindo com a inclusão e a melhoria da qualidade da apren-
os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não dizagem.
apenas os seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros recepto- É necessário ver a aprendizagem como um processo e as disci-
res dos serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães, plinas curriculares como um meio para se chegar a ser um cidadão
alunas, alunos, professores e funcionários assumem sua parte de e não como conteúdos que se dominam pela memorização. Daí
responsabilidade pelo projeto da escola. a necessidade de um currículo centrado no desenvolvimento, na
construção, na experiência que oportuniza a autonomia e transfor-
Avaliação Escolar e Conselho de Classe13 mações sociais significativas e de uma avaliação que contribua para
a formação humana. Nesta perspectiva, Lima14, afirma que a ava-
Quando se discute o Conselho de Classe, discutem-se as con- liação para formação humana contrapõe-se à noção vigente, uma
cepções de avaliação escolar presentes nas práticas educativas dos vez que seus objetivos são nortear o aluno, informar ao professor o
professores. Neste sentido, a importância dos Conselhos de Classe estágio de desenvolvimento em que ele se encontra, e orientar os
e dos processos avaliativos da escola está nas possibilidades e capa- próximos passos do processo. Dessa forma, ela não classifica, mas
cidades de leitura coletiva da prática, bem como diante do reconhe- situa. E situa para auxiliar no processo de formação do aluno, de-
cimento compartilhado das necessidades pedagógicas, de modo a correndo daí sua importância para a prática pedagógica, que deve
mobilizar esse coletivo no sentido de alterar as relações nos diver- sempre propiciar ao educando novas possibilidades de desenvolvi-
sos espaços da instituição. mento e aprendizagem.
Avaliar é tarefa antiga das escolas, existe desde a sua criação e,
embora haja variedade nas formas da atividade avaliativa, ela man- O Papel do Conselho de Classe
teve, ao longo dos séculos, um certo caráter punitivo, presente, ain-
da, hoje nas escolas que valorizam a verificação em detrimento da Para a compreensão acerca do papel do Conselho de Classe faz-
avaliação, conforme afirma Luckesi. Assim o que hoje se observa é -se necessário o conhecimento da história dessa instância colegiada
que a avaliação está centrada no desempenho cognitivo dos alunos, conforme disposto pela legislação educacional contemporânea.
sem referência a um projeto de escola ou ao trabalho docente, ob- O Conselho de Classe francês tem, portanto, um caráter especí-
jetos também de avaliação. fico, encaminhando para a seleção e a distribuição do aluno no sis-
Os processos de avaliação escolar refletem os posicionamentos tema dualista implantado na França naquele período. Os pareceres
dos profissionais e são fundamentados pelas concepções de escola, dos Conselhos serviriam para orientar os alunos às diversas moda-
de ensino, do papel do professor, do papel do aluno, que cada um lidades de ensino (clássico ou técnico) de acordo com as “aptidões”
possui. A organização e as condições de trabalho do professor apre- e o “caráter” demonstrado pelos mesmos.
sentam-se como fatores determinantes no processo e orientam as Essa experiência de Conselho de Classe foi trazida ao Brasil por
diferentes práticas docentes. A transformação da prática pedagógi- educadores brasileiros que foram estagiários em Sèvres, em 1958,
ca liga-se estreitamente à alteração da concepção de avaliação por- e sua implantação foi feita no Colégio de Aplicação da Universidade
que a construção do processo avaliativo expressa o conhecimento Federal do Rio de Janeiro (CAP).
sobre a escola. Acredita-se que a importação das ideias trazidas pelo Conselho
A concepção de avaliação que aponta para os atos de aprovar de Classe francês, como afirmado por Rocha, só foi possível porque
ou reprovar o aluno com base em um registro numérico, são pro- já teria havido um processo de desenvolvimento de um ideário pe-
cedimentos nos qual o professor assume o papel de juiz ao utili- dagógico, que estaria impregnando o meio educacional por meio da
zar-se de provas, consubstanciado por mecanismos de verificação pedagogia escolanovista que sugere uma organização que valoriza
da aprendizagem de conteúdos específicos, num determinado mo- o trabalho coletivo, a discussão, a busca e a criação de novos mé-
mento do processo. Assim, entende-se que existe uma visão redu- todos.
zida e equivocada do processo de avaliação, já que a nota, produto Com base nesse pressuposto e retrocedendo no tempo, a cria-
concreto dessa aferição, reflete apenas o resultado do desempenho ção do Conselho de Classe encontra suas origens no cerne das ideias
cognitivo do aluno e nunca o processo educativo que o levou a tal que permearam a tendência escolanovista da educação. Quando se
resultado. lê o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, expõe Dalben, per-
É importante ressaltar que esta simples verificação não possibi- cebem-se elementos do tipo:
lita a melhoria do ensino e, consequentemente, da aprendizagem,
pois ela é estática, somente constatando erros e acertos que classi-
ficam os alunos em aprovados ou reprovados, provocando a exclu-
são e a evasão escolar.

14 LIMA. Elvira Souza. Avaliação, educação e formação humana. In: Ava-

13 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2199-6.pdf liação de desempenho e progressão continuada. Secretaria Estadual de Educação

96
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“O ensino de segundo grau começa por um ano de estudos Os Conselhos Estaduais de Educação com base em pedidos de
numa classe de orientação, depois da qual se divide em três sec- esclarecimento sobre a Lei 5.692/71, produziram pareceres e re-
ções: clássica, moderna e técnica. O encaminhamento para essas soluções orientadores, que de certa forma encaminhavam as dis-
secções faz-se tendo em conta os desejos das famílias e o interesse cussões para a formalização de instâncias de avaliação coletiva na
geral, segundo o gosto e as aptidões nas classes de orientação e escola, do tipo Conselho de Classe que deveria ser implementado.
eventualmente nas classes seguintes”15 Conclui-se que o novo modelo de escola foi formalmente implan-
tado por meio dos novos regimentos escolares elaborados pelas
Esses elementos apontam para o início da valorização das ideias escolas, que passaram a orientar seu funcionamento. Nesses re-
de atendimento individualizado, de estudo em grupos e, especifica- gimentos, encontra-se o Conselho de Classe como um dos órgãos
mente, de reunião dos profissionais para discussão de um determi- instituídos.
nado tipo de atendimento ao alunado.
A ideia de uma nova organização de escola, como “organismo É legítimo dizer que a Lei 5.692/71 deu abertura aos Conselhos
vivo”, de “comunidade palpitante pelas soluções de seus proble- Estaduais de Educação para traçar as diretrizes de sua operaciona-
mas”, proposta no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, é lização, conforme o que diz o artigo 2º em seu parágrafo único: [...]
contrária à centralização de poder e de decisões, considerando “a organização administrativa, didática e disciplinar de cada estabe-
necessária a adaptação da escola a interesses e necessidades dos lecimento de ensino será regulada no respectivo regimento, a ser
alunos. Essa nova concepção de escola sugere uma organização que aprovado pelo órgão próprio do sistema, com observância de nor-
valoriza o trabalho coletivo, a discussão, a busca e a criação de no- mas fixadas pelo respectivo Conselho de Educação”.
vos métodos. Entretanto, o Conselho de Classe instituído na orga- Entretanto, pode-se afirmar que do “PREMEN” emanavam, de
nização de modo a operacionalizar essas ideias, ainda não aparece forma direta e indireta, as orientações necessárias para a opera-
nesse momento. cionalização da lei. Essas orientações apresentavam uma relativa
Os Conselhos de Classes só foram instituídos no Brasil a partir “abertura” às escolas, havendo, no entanto, pouca clareza à forma
da Lei 5.692/71 - LDB do Ensino de 1º e 2º graus. Essa lei veio para de execução.
dirigir o sistema escolar por meio de um processo político pautado No contexto de implantação da Lei 5.692/71 e da concepção
pelo autoritarismo, sem a participação de setores representativos de ensino subjacente e essa organização, onde a referida lei estru-
da nacionalidade. Ela vem definir uma nova estrutura para o siste- turava o sistema educacional, num clima político pautado pelo au-
ma educacional, reunindo os diversos ramos existentes (secundá- toritarismo, excluindo a participação de setores representativos da
rio, comercial, industrial, agrícola e normal) num só, além de propor sociedade, acarretou a desconfiança por parte dos profissionais da
a profissionalização do educando16. escola nas possibilidades do Conselho de Classe como um espaço
Esse novo sistema educativo brasileiro introduzido pela Lei capaz de intensificar a construção de processos democráticos de
5.692/71 tinha como um de seus propósitos fundamentais a trans- gestão. Assim sendo, o objetivo fundamental da instância, que seria
formação do estudante em indivíduo treinável, instrumentalizado o de propiciar a articulação coletiva dos profissionais num processo
nos valores do capital, na competição e na racionalidade deste. de análise compartilhada, considerando a globalidade de óticas dos
O PREMEN foi implantado, a partir de 1970, em vários estados professores, não foi atingido, perdendo assim sua importância e sua
do Brasil, os quais realizaram convênios com as prefeituras dos di- riqueza no trato das questões pedagógicas.
versos municípios atingidos por ele, para com isso executá-lo em O Conselho de Classe, como uma instância coletiva de avaliação
larga escala. Para isso grupos de professores eram treinados nesse do processo de ensino e aprendizagem, reflete essas concepções,
programa para, posteriormente, implementar as chamadas escolas assim como as limitações e contradições próprias a elas, já que o
polivalentes, já dentro dos modelos observados nos estados Uni- posicionamento dos profissionais é que dará seu contorno político.
dos. No contexto (...), o Conselho de Classe não conseguirá desempe-
A promulgação da Lei 5692/71 ocorreu após a implantação des- nhar seu papel original de mobilizar a avaliação escolar no intuito
se programa nas escolas polivalentes e, a partir dela, foi possível a de desenvolver um maior conhecimento sobre o aluno, a aprendi-
orientação normativa e legal desse tipo de escola para a estrutura e zagem, o ensino e a escola, e especialmente, de congregar esforços
funcionamento de todo o ensino de 1º e 2º graus. no sentido de alterar o rumo dos acontecimentos, por meio de um
É importante ressaltar que, segundo Dalben, anteriormente à projeto pedagógico que visa ao sucesso de todos.17
Lei 5.692/71, o Conselho de Classe não se apresentava como ins- A ruptura da visão tradicional de ensino, que segregava os seg-
tância formalmente instituída na escola, acontecendo, como afirma mentos sociais, iniciou com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Rocha (1982), de forma espontânea em escola que voluntariamente Nacional nº. 9394/96, gestada em um contexto no qual a política
se dispusesse a enxergá-lo como de importância pedagógica. Sua estava voltada ao social. Em decorrência desta Lei, todo conceito
implantação, entretanto, não se deu claramente por meio da nova acerca do sistema educacional e suas organizações foi revisto, com
lei, mas ocorreu indiretamente, por intermédio de orientações vin- base em princípios democráticos.
das do modelo de escola proposto pelo PREMEN, que apresentava
o Conselho de Classe como órgão constituinte da escola. Principais diferenças entre Conselho Escolar e Conselho de
Classe

O Conselho Escolar é formado por professores, equipe peda-


15 (LUZURIAGA, 1959, p.117). gógica de pais e alunos. É responsável pelas decisões em prol da
escola, através de pintura, organização e outros eventos.
16 DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Conselhos de Classe
e Avaliação. Perspectivas na gestão pedagógica da escola. Campinas-SP, Papi-
rus, 2004. 17 (DALBEN, 2004, p. 38).

97
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Conselho de Classe permite que os professores, coordena- A liberdade de organização conferida aos sistemas por meio
dores e diretores se reúnam para fazer apontamentos dos alunos, da legislação vincula-se à existência de diretrizes que os orientem
observar seus resultados, andamentos. e lhes possibilitem a definição de conteúdos de conhecimento em
conformidade à base nacional comum do currículo, bem como à
parte diversificada, como estabelece o Artigo 26 da vigente Lei de
CURRÍCULO: DIVERSIDADE CULTURAL Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9.394, 20 de de-
E INCLUSÃO SOCIAL zembro de 1996:“Os currículos do ensino fundamental e médio de-
vem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada
Apresentação sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversi-
ficada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,
A publicação que o Departamento de Políticas de Educação
18
da cultura, da economia e da clientela”.
Infantil e Ensino Fundamental- DPE, vinculado à Secretaria de Edu- Com a perspectiva de atender aos desafios postos pelas orien-
cação Básica - SEB, deste tações e normas vigentes, é preciso olhar de perto a escola, seus
Ministério da Educação - MEC, ora apresenta, tem como obje- sujeitos, suas complexidades e rotinas e fazer as indagações sobre
tivo principal de- flagrar, em âmbito nacional, um processo de de- suas condições concretas, sua história, seu retorno e sua organiza-
bate, nas escolas e nos sistemas de ensino, sobre a concepção de ção interna.
currículo e seu processo de elaboração. Torna-se fundamental, com essa discussão, permitir que todos
Não é recente a abordagem curricular como objeto de atenção os envolvidos se questionem e busquem novas possibilidades sobre
do MEC. Em cumprimento ao Artigo 210 da Constituição Federal de currículo: o que é? Para que serve? A quem se destina? Como se
1988, que determina como dever do Estado para com a educação constrói? Como se implementa?
fixar“ conteúdo mínimos para o Ensino Fundamental, de maneira a Levando em consideração que o processo educativo é comple-
assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais xo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas e sociais, en-
e artísticos, nacionais e regionais”, foram elaborados e distribuídos tendemos que esse não pode ser analisado fora de interação dialó-
pelo MEC, a partir de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais gica entre escola e vida, considerando o desenvolvimento humano,
para a Educação Infantil/RCNEI, os Parâmetros Curriculares Nacio- o conhecimento e a cultura.
nais/PCN’s para o Ensino Fundamental, e os Referenciais Curricula- Partindo dessa reflexão, convidamos gestores, professores e
res para o Ensino Médio. Posteriormente, o Conselho Nacional de demais profissionais da educação para um debate sobre os eixos
Educação definiu as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica. organizadores do documento sobre currículo. O fato de termos
No momento, o que está em discussão é a elaboração de um chamado estes estudiosos para elaborarem os textos significa ha-
documento que, mais do que a distribuição de materiais, promova, ver entre eles pontos de aproximação como, por exemplo, escola
por meio de uma estratégia dinâmica, a reflexão, o questionamento inclusiva, valorização dos sujeitos do processo educativo, cultura,
e um processo de discussão em cada uma das escolas e Secretarias conhecimento formal como eixo fundante, avaliação inclusiva. Por
de Educação sobre a concepção de currículo e seus desdobramen- privilegiarmos o pensamento plural, reconhecemos nos textos tam-
tos. Para tanto, sugerimos inicialmente alguns eixos que, do nosso bém pontos de afastamento. Assim, será possível encontrar algu-
do ponto de vista, são fundamentais para o debate sobre currículo mas concepções sobre currículo não necessariamente concordan-
com a finalidade de que professores, gestores e demais profissio- tes entre si. É justamente divulgando parte dessa pluralidade que
nais da área educacional façam reflexões sobre concepção de cur- o MEC contribui com a discussão. Há diversidade nas reflexões teó-
rículo, relacionando-as a sua prática. Nessa perspectiva, pretende- ricas, porque há diversidade de projetos curriculares nos sistemas,
mos subsidiar a análise das propostas pedagógicas dos sistemas de nas escolas. Esse movimento, do nosso ponto de vista, enriquece o
ensino e dos projetos pedagógicos das unidades escolares, porque debate.
entendemos que esta é uma discussão que precede a elaboração Em um primeiro momento, foi solicitado a profissionais, dire-
dos projetos políticos pedagógicos das escolas e dos sistemas. tamente envolvidos com a questão curricular junto aos sistemas de
Dessa forma, elaboramos (5) cinco cadernos priorizando os ensino, indicados pelo/a UNDIME, CONSED, SEESP/MEC, SECAD/
seguintes eixos organizadores: Currículo e Desenvolvimento Huma- MEC, CONPEB/MEC,
no; Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo; Currículo, REDE/MEC, que respondessem à seguinte questão: que in-
Conhecimento e Cultura; Diversidade e Currículo; Currículo e Ava- terrogações sobre currículo deveriam constar em um texto sobre
liação. esse tema? Posteriormente, esses profissionais efetuaram a leitura
No momento em que ocorre a implementação do Ensino Fun- dos textos preliminares elaborados pelos autores do GT CURRÍCU-
damental de nove anos e a divulgação dos documentos consolida- LO, visando a responder a uma segunda questão: como os textos
dos da Política Nacional de Educação Infantil, é necessário retomar respondem às interrogações levantadas? Foi solicitado ainda que
a reflexão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino apresentassem lacunas detectadas nos textos e contribuições. Cou-
Fundamental e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação be à equipe do DPE sistematizar e analisar as contribuições, apre-
Infantil - ação já desencadeada pelo Conselho Nacional de Educa- sentadas pelo grupo anteriormente citado em reunião de trabalho
ção. em Brasília, e elaborar um pré-texto para discussão em seminários
a partir da sistematização das propostas apresentadas na consulta
técnica.

18 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag4.pdf

98
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em um segundo momento, visando à elaboração final deste Introdução


documento, ocorreu em Brasília um seminário denominado “Currí-
culo em Debate”, organizado em duas edições (novembro e dezem- Coletivos de educadores e educadoras de escolas e Redes vêm
bro de 2006). Nessa ocasião, os textos, ainda em versão preliminar, expressando inquietações sobre o que ensinar e aprender, sobre
foram socializados e passaram pela análise reflexiva de secretários que práticas educativas privilegiar nas escolas, nos congressos de
municipais e estaduais de educação; de profissionais da educação professores e nos dias de estudo e planejamento. Por seu lado, a te-
representantes da UNDIME, do CONSED, do CNE e de entidades de oria pedagógica tem dado relevância a pesquisas e reflexão sobre o
caráter nacional como CNTE, ANFOPE, ANPED; de professores de currículo: há teoria acumulada para reorientações bem fundamen-
Universidades - que procuraram apresentar as indagações recor- tadas, teoria a que têm direito os profissionais da Educação Básica.
rentes de educadores, professores, gestores e pesquisadores sobre Que diálogo é possível entre a teoria acumulada e as propostas e
currículo e realizar um levantamento da potencialidade dos textos práticas de reorientação curricular?
junto aos sistemas. Esse evento contou com a expressiva partici- A reflexão sobre o currículo está instalada como tema central
pação de representantes das secretarias estaduais e municipais de nos Projetos Político-Pedagógico das escolas e nas propostas dos
educação e da secretaria do Distrito Federal, em um total de apro- sistemas de ensino, assim como nas pesquisas, na teoria pedagógi-
ximadamente 1500 participantes. ca e na formação inicial e permanente dos docentes. Neste período
Os textos chegam agora aos professores das escolas, dos sis- de ampliação da duração do ensino fundamental, em que são discu-
temas. tidas questões de tempo-espaço, avaliação, metodologias, conteú-
Apresentam indagações para serem respondidas por esses co- do, gestão, formação, não seria oportuno repensar os currículos na
letivos de professores, uma vez que a proposta de discussão sobre Educação Básica? Que indagações motivam esse repensar?
concepção curricular passa pela necessidade de constituir a escola As Secretarias de Educação Municipais, Estaduais e do DF, o
como espaço e ambiente educativos que ampliem a aprendizagem, MEC, por meio da Secretaria de Educação Básica e do Departamen-
reafirmando-a como lugar do conhecimento, do convívio e da sen- to de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, assim
sibilidade, condições imprescindíveis para a constituição da cida- como os Conselhos de
dania. Entendemos, também, haver outras perspectivas, ainda não Educação, vêm se mostrando sensíveis aos projetos de reorien-
contempladas, a serem consideradas. O objetivo não é, portanto, tação curricular, às diretrizes e às indagações que os inspiram.
esgotar todas as possibilidades em uma única publicação. Os textos que compõem o documento Indagações sobre Currí-
Propomos uma reflexão para quem, o que, por que e como en- culo se propõem a trabalhar concepções educacionais e a respon-
sinar e aprender, reconhecendo interesses, diversidades, diferenças der às questões postas pelos coletivos das escolas e das Redes, a
sociais e, ainda, a história cultural e pedagógica de nossas escolas. refletir sobre elas, a buscar seus significados na perspectiva da reo-
Posicionamo-nos em defesa da escola democrática que huma- rientação do currículo e das práticas educativas.
nize e assegure a aprendizagem. Uma escola que veja o estudante As indagações sobre o currículo presentes nas escolas e na te-
em seu desenvolvimento - criança, adolescente e jovem em cres- oria pedagógica mostram um primeiro significado: a consciência de
cimento biopsicossocial; que considere seus interesses e de seus que os currículos não são conteúdos prontos a serem passados aos
pais, suas necessidades, potencialidades, seus conhecimentos e sua alunos. São uma construção e seleção de conhecimentos e práticas
cultura. produzidas em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políti-
Desse modo comprometemo-nos com a construção de um pro- cas e culturais, intelectuais e pedagógicas. Conhecimentos e práti-
jeto social que não somente ofereça informações, mas que, de fato, cas expostos às novas dinâmicas e reinterpretados em cada contex-
construa conhecimentos, elabore conceitos e possibilite a todos o to histórico. As indagações revelam que há entendimento de que os
aprender, descaracterizando, finalmente, os lugares perpetuados currículos são orientados pela dinâmica da sociedade. Cabe a nós,
na educação brasileira de êxito de uns e fracasso de muitos. como profissionais da Educação, encontrar respostas.
Os eixos aqui apresentados são constitutivos do currículo, ao A construção desses textos parte dessa visão dinâmica do co-
lado de outros. Não é pretensão deste documento abranger todas nhecimento e das práticas educativas, de sua condição contextu-
as demais dimensões. As aqui destacadas convergem, especial- alizada. Daí que, quando os sistemas de ensino, as escolas e seus
mente, para o desenvolvimento humano dos sujeitos no processo profissionais se indagam sobre o currículo e se propõem a reorien-
educativo e procuram dialogar com a prática dos sujeitos desse pro- tá-lo, a primeira tarefa será perguntar-nos que aspectos da dinâmi-
cesso. ca social, política e cultural trazem indagações mais prementes para
O MEC tem consciência da pluralidade de possibilidades de o conhecimento, para o currículo e para as práticas educativas.
implementação curricular nos sistemas de ensino, por isso insis- Esta foi a primeira preocupação da equipe do Departamento
te em estabelecer o debate dentro de cada escola. Assim, optou de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental e dos auto-
por discutir eixos organizadores do currículo e não por apresentar res dos textos. Esta poderá ser a preocupação dos coletivos profis-
perspectiva unilateral que não dê conta da diversidade que há nas sionais das escolas e Redes: detectar aqueles polos, eixos ou cam-
escolas, da diversidade de concepções teóricas defendidas por pes- pos mais dinâmicos de onde vêm as indagações sobre o currículo
quisadores e estudiosos. e sobre as práticas pedagógicas. Cada um dos textos se aproxima
Professores do Ensino Fundamental, professores da Educação de um eixo de indagações: desenvolvimento humano, educandos
Infantil, gestores constituem, inicialmente, o público a quem se diri- e educadores: seus direitos e o currículo, conhecimento e cultura,
ge este documento. Com o objetivo de debater eixos organizativos diversidade e avaliação.
do currículo, o Ministério considera o texto destinado também a to-
dos os envolvidos com o processo educativo. A discussão, portanto,
extrapola a circunscrição do espaço escolar.

99
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Cada Texto Apresenta suas Especificidades de Acordo com o • Em “Currículo e Avaliação”, de Cláudia de Oliveira Fernandes
Eixo Abordado e Luiz Carlos de Freitas, a avaliação é apresentada como uma das
• O texto “Currículo e Desenvolvimento Humano”, de Elvira atividades do processo pedagógico necessariamente inserida no
Souza Lima, apresenta reflexão sobre currículo e desenvolvimento projeto pedagógico da escola, não podendo, portanto, ser conside-
humano, tendo como referência conhecimentos de Psicologia, Neu- rada isoladamente. Deve ocorrer em consonância com os princípios
rociências, Antropologia e Linguística. Conceitua a cultura como de aprendizagem adotados e com a função que a educação escolar
constitutiva dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem. tenha na sociedade. A avaliação é apresentada como responsabili-
Aborda questões como função simbólica, capacidade imaginativa dade coletiva e particular e há defesa da importância de questio-
da espécie humana e memória. Discute currículo e aquisição do namentos a conceitos cristalizados de avaliação e sua superação. O
conhecimento, informação e atividades de estudo e a capacidade texto faz considerações não só sobre a avaliação da aprendizagem
do ser humano de constituir e ampliar conceitos. O texto faz uma dos estudantes que ocorre na escola, mas a respeito da avaliação da
abordagem sobre a questão do tempo da aprendizagem, apontan- instituição como um todo (protagonismo do coletivo de profissio-
do que a construção e o desenvolvimento dos conceitos se realizam nais) e ainda sobre a avaliação do sistema escolar (responsabilidade
progressivamente e de forma recorrente. do poder público).
• Em “Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo”, de
Miguel Gonzáles Arroyo, há uma abordagem sobre o currículo e os Os Textos em seu Conjunto Apresentam Indagações Constan-
sujeitos da ação educativa: os educandos e os educadores, ressal- tes
tando a importância do trabalho coletivo dos profissionais da Edu- • Todos constatam as mudanças que vêm acontecendo na
cação para a construção de parâmetros de sua ação profissional. Os consciência e identidade profissional dos(as) educadores(as). Todos
educandos são situados como sujeitos de direito ao conhecimento coincidem ao destacar as mudanças nas formas de viver a infância e
e ao conhecimento dos mundos do trabalho. Há ênfase quanto à a adolescência, a juventude e a vida adulta. O que há de coincidente
necessidade de se mapearem imagens e concepções dos alunos, nessas mudanças? Educadores e educandos se vendo e sendo re-
para subsidiar o debate sobre os currículos. É proposta do texto que conhecidos como sujeitos de direitos. Esse reconhecimento coloca
se desconstruam visões mercantilizadas de currículo, do conheci- os currículos, o conhecimento, a cultura, a formação, a diversidade,
mento e dos sujeitos do processo educativo. O texto traz crítica ao o processo de ensino-aprendizagem e a avaliação, os valores e a
aprendizado desenvolvido por competências e habilidades como cultura escolar e docente, a organização dos tempos e espaços em
balizadores da catalogação de alunos desejados e aponta o direito um novo referente de valor: o referente ético do direito. Reorientar
à educação, entendido como o direito à formação e ao desenvolvi- o currículo é buscar práticas mais consequentes com a garantia do
mento humano pleno. direito à educação.
• O texto “Currículo, Conhecimento e Cultura”, de Antônio Flá- • Todos os textos recuperam o direito à educação entendido
vio Moreira e Vera Maria Candau, apresenta elementos para refle-
como direito à formação e ao desenvolvimento humano, como hu-
xão sobre questões consideradas significativas no desenvolvimento
manização, como processo de apropriação das criações, saberes,
do currículo nas escolas. Analisa a estreita vinculação que há en-
conhecimentos, sistemas de símbolos, ciências, artes, memória,
tre a concepção de currículo e as de Educação debatidas em um
identidades, valores, culturas... resultantes do desenvolvimento da
dado momento. Nessa perspectiva, aborda a passagem recente da
humanidade em todos os seus aspectos.
preocupação dos pesquisadores sobre as relações entre currículo
• Todos os textos coincidem ao recuperar o direito ao conhe-
e conhecimento escolar para as relações entre currículo e cultura.
cimento como o eixo estruturante do currículo e da docência. O
Apresenta a construção do conhecimento escolar como caracte-
conhecimento visto como um campo dinâmico de produção e crí-
rística da escola democrática que reconhece a multiculturalidade
e a diversidade como elementos constitutivos do processo ensino- tica, de seleção e legitimação, de confronto e silenciamento de sua
-aprendizagem. diversidade. Consequentemente, todos os textos repõem a centrali-
• No texto “Diversidade e Currículo”, de Nilma Lino Gomes, dade para a docência e para o currículo dos processos de apreensão
procurou-se discutir alguns questionamentos que estão colocados, do conhecimento, da possibilidade de aprendizagem de todo ser
hoje, pelos educadores e educadoras nas escolas e nos encontros humano, da centralidade dos tempos de aprender, das tensões en-
da categoria docente: que indagações a diversidade traz para o cur- tre conhecimento, aprendizagem e diversidade etc.
rículo? Como a questão da diversidade tem sido pensada nos di- • Todos os textos coincidem ao recuperar o direito à cultura,
ferentes espaços sociais, principalmente nos movimentos sociais? o dever do currículo, da escola e da docência de garantir a cultura
Como podemos lidar pedagogicamente com a diversidade? O que acumulada, devida às novas gerações. O direito de se apropriarem
entendemos por diversidade? Que diversidade pretendemos que das práticas e valores culturais, dos sistemas simbólicos e do desen-
esteja contemplada no currículo das escolas e nas políticas de cur- volvimento da função simbólica tão central na construção de signifi-
rículo? No texto é possível perceber a reflexão sobre a diversidade cados, na apreensão do conhecimento e no desenvolvimento pleno
entendida como a construção histórica, cultural e social das dife- do ser humano etc. Recuperar o direito à cultura, tão secundarizado
renças. Assim, mapear o trato que já é dado à diversidade pode ser nos currículos, é uma das indagações mais instigantes para a escola
um ponto de partida para novos equacionamentos da relação entre e à docência. Recuperar os vínculos entre cultura, conhecimento e
diversidade e currículo. Para tanto é preciso ter clareza sobre a con- aprendizagem.
cepção de educação, pois há uma relação estreita entre o olhar e • Todos os textos têm como referente a diversidade, as dife-
o trato pedagógico da diversidade e a concepção de educação que renças e as desigualdades que configuram nossa formação social,
informa as práticas educativas. política e cultural. Diversidades que os educadores e educandos
levam para as escolas: sócio-étnico-racial, de gênero, de território,
de geração etc. Ver a diversidade como um dado positivo, liberá-la

100
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de olhares preconceituosos: superar práticas classificatórias é uma O sistema escolar, assim como a nossa sociedade, vai avançan-
indagação nuclear dos currículos. Reconhecer e respeitar a diversi- do para esse ideal democrático de justiça e igualdade, de garantia
dade indaga concepções generalistas de conhecimento, de cultu- dos direitos sociais, culturais, humanos para todos. Mas ainda há
ra, de saberes e valores, de processos de formação, socialização e indagações que exigem respostas e propostas mais firmes para su-
aprendizagens. perar tratos desiguais, lógicas e culturas excludentes. Todos os tex-
• Todos os textos coincidem ao destacar os currículos como tos, em seus vários ângulos, destacam essas indagações não apenas
uma organização temporal e espacial do conhecimento que se tra- sobre o currículo, mas sobre a escola, a docência e seus esforços
duz na organização dos tempos e espaços escolares e do trabalho por construir estruturas mais igualitárias, menos seletivas.
dos professores e alunos. Por outro lado, todos os textos constatam A quem cabe a tarefa de captar essas indagações e trabalhá-
as mudanças que vêm ao longo dos tempos sociais, de trabalho, de -las? A todo o coletivo de profissionais do sistema escolar, professo-
vida e sobrevivência dos educandos e educadores. Essas mudanças res, coordenadores pedagógicos, diretores, dirigentes municipais e
condicionam os tempos de socialização e formação, de aprendiza- estaduais, profissionais das Secretarias e do MEC. Planejar encon-
gem. Consequentemente interrogam as lógicas temporais e espa- tros, espaços para estudo, debates, pesquisar práticas educativas
ciais de organização escolar e curricular. Ver o currículo como uma que se indagam e buscam respostas fazem parte dessa tarefa.
opção específica por uma organização temporal e espacial, que con- Em cada um dos textos e no seu conjunto, as indagações apon-
diciona a organização da escola, dos processos de ensinar- apren- tam e sinalizam atividades que já acontecem em muitos coleti-
der e do trabalho dos educadores e educandos, nos leva a repensar vos, escolas e Redes - tempos de estudo, organização de oficinas,
essa organização nas propostas de reorientação curricular. congressos, debates de reorientações curriculares, de reinvenção
• Todos os textos, de alguma maneira, abordam a questão da de processos de apreensão do conhecimento e de organização de
avaliação. O que se avalia e como se avalia está condicionado pelas convívios; trato de dimensões da formação em projetos; reinven-
competências, habilidades, conhecimentos que o currículo privile- ção das avaliações por valores igualitários e democráticos; respeito
gia ou secundariza. Os valores e as lógicas de avaliação reprodu- à diversidade e superação das desigualdades etc. - atividades que
zem os valores, lógicas e hierarquias que selecionam, organizam os garantem o direito dos profissionais da Educação Básica à formação
conhecimentos nos currículos. Por sua vez, o que se privilegia nas e a serem mais sujeitos de seu trabalho.
avaliações escolares e nacionais determina as competências e co- As Indagações sobre Currículo esperam contribuir com a dinâ-
mica promissora que vem da riqueza das teorias sobre o currículo e
nhecimentos privilegiados ou secundarizados no currículo.
sobre a formação humana, e que vem das práticas pedagógicas das
Reorientar processos e critérios de avaliação implica em reo-
escolas e das Redes. Contribuir com o profissionalismo das profes-
rientar a organização curricular e vice-versa.
soras e dos professores da Educação Básica.
Este conjunto de indagações toca em preocupações que ocu-
pam os profissionais da educação básica: qual o papel da docência,
Como Ler e Trabalhar os Textos?
da pedagogia e da escola? Que concepções de sociedade, de escola,
Na especificidade de cada coletivo, escola e sistema, esses eixos
de educação, de conhecimento, de cultura e de currículo orientarão
poderão ser desdobrados, alguns serão mais enfatizados. Outras in-
a escolha das práticas educativas?
dagações poderão ser acrescentadas. Esse poderá ser um exercício
Sabemos que esse conjunto de questões tem sido objeto de dos coletivos. No conjunto de textos, prevalece um trato dialogal,
debate nas escolas e no cenário educacional nas últimas décadas. aberto, buscando incentivar esse exercício de cultivar sensibilidades
A função da escola, da docência e da pedagogia vem se ampliando, teóricas e pedagógicas para identificar e ouvir as indagações que
à medida que a sociedade e, sobretudo, os educandos mudam e o vêm das teorias e práticas e para apontar reorientações.
direito à educação se alarga, incluindo o direito ao conhecimento, Cada texto pode ser lido e trabalhado separadamente e sem
às ciências, aos avanços tecnológicos e às novas tecnologias de in- uma ordem sequenciada. Cada eixo tem seus significados. Entre-
formação. Mas também o direito à cultura, às artes, à diversidade tanto, será fácil perceber que as indagações dos diversos textos se
de linguagens e formas de comunicação, aos sistemas simbólicos reforçam e se ampliam. Na leitura do conjunto, será fácil perceber
e ao sistema de valores que regem o convívio social, à formação que há indagações que são constantes, que fazem parte da dinâmi-
como sujeitos éticos. ca de nosso tempo. Um exercício coletivo poderá ser perceber essas
Os textos coincidem ao pensar a educação, o conhecimento, a indagações mais constantes e instigantes, ver como se articulam e
escola, o currículo a serviço de um projeto de sociedade democrá- se reforçam entre si. Perceber essas articulações será importante
tica, justa e igualitária. para tratar o currículo e as práticas educativas das escolas como
Um ideal de sociedade que avança na cultura política, social e um todo e como propostas coesas de formação dos educandos e
também pedagógica. Uma sociedade regida pelo imperativo ético dos educadores. Captar o que há de mais articulado no conjunto
da garantia dos direitos humanos para todos. de indagações auxiliará a superar estilos recortados e fragmentados
Diante do ideal de construir essa sociedade, a escola, o currí- de propostas curriculares, de abordagens do conhecimento e dos
culo e à docência são obrigados a se indagar e tentar superar toda processos de ensino-aprendizagem.
prática e toda cultura seletiva, excludente, segregadora e classifi-
catória na organização do conhecimento, dos tempos e espaços,
dos agrupamentos dos educandos e também na organização do
convívio e do trabalho dos educadores e dos educandos. É preciso
superar processos de avaliação sentenciadora que impossibilitam
que crianças, adolescentes, jovens e adultos sejam respeitados em
seu direito a um percurso contínuo de aprendizagem, socialização e
desenvolvimento humano.

101
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fun- A educação de uma maneira geral é um processo constituinte
damental da experiência humana, por isso se faz presente em toda e qual-
quer sociedade. A escolarização, em específico, é um dos recortes
Diversidade e Currículo19 do processo educativo mais amplo. Durante toda a nossa vida rea-
lizamos aprendizagens de naturezas mais diferentes. Nesse proces-
Que indagações o trato pedagógico da diversidade traz para o so, marcado pela interação contínua entre o ser humano e o meio,
currículo? Como a questão da diversidade tem sido pensada nos di- no contexto das relações sociais, é que construímos nosso conheci-
ferentes espaços sociais, principalmente, nos movimentos sociais? mento, valores, representações e identidades. Sendo assim, tanto o
Como podemos lidar pedagogicamente com a diversidade? Esses e desenvolvimento biológico, quanto o domínio das práticas culturais
outros questionamentos estão colocados, hoje, pelos educadores e existentes no nosso meio são imprescindíveis para a realização do
educadoras nas escolas e nos encontros da categoria docente. acontecer humano.
Ao realizarmos essa discussão, a nossa primeira tarefa poderá
ser o questionamento sobre a presença ou não dessas indagações
na nossa prática docente, nos projetos pedagógicos e nas propostas Há uma relação estreita entre o olhar e o trato pedagógico da
educacionais. Será que existe sensibilidade para a diversidade na diversidade e a concepção de educação que informa as práticas
educação infantil, especial, na EJA, no ensino fundamental, médio e educativas.
profissional? Seria interessante diagnosticar se a diversidade é ape-
nas uma preocupação de um grupo de professores(as), de alguns Este último, enquanto uma experiência que atravessa toda so-
coletivos de profissionais no interior das escolas e secretarias de ciedade e toda cultura, não se caracteriza somente pela unidade do
educação ou se já alcançou um lugar de destaque nas preocupações gênero humano, mas, sobretudo, pela riqueza da diversidade.
pedagógicas e nos currículos. Ao analisarmos o cotidiano da escola, Os currículos e práticas escolares que incorporam essa visão de
qual é o lugar ocupado pela diversidade? Ela figura como tema que educação tendem a ficar mais próximos do trato positivo da diver-
transversaliza o currículo? Faz parte do núcleo comum? Ou encon- sidade humana, cultural e social, pois a experiência da diversidade
tra espaço somente na parte diversificada? faz parte dos processos de socialização, de humanização e desu-
Do ponto de vista cultural, a diversidade pode ser entendida manização. A diversidade é um componente do desenvolvimento
como a construção histórica, cultural e social das diferenças. A biológico e cultural da humanidade. Ela se faz presente na produção
construção das diferenças ultrapassa as características biológicas, de práticas, saberes, valores, linguagens, técnicas artísticas, cientí-
observáveis a olho nu. As diferenças são também construídas pelos ficas, representações do mundo, experiências de sociabilidade e de
sujeitos sociais ao longo do processo histórico e cultural, nos pro- aprendizagem. Todavia, há uma tensão nesse processo. Por mais
cessos de adaptação do homem e da mulher ao meio social e no que a diversidade seja um elemento constitutivo do processo de
contexto das relações de poder. Sendo assim, mesmo os aspectos humanização, há uma tendência nas culturas, de um modo geral, de
tipicamente observáveis, que aprendemos a ver como diferentes ressaltar como positivos e melhores os valores que lhe são próprios,
desde o nosso nascimento, só passaram a ser percebidos dessa for- gerando um certo estranhamento e, até mesmo, uma rejeição em
ma, porque nós, seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da relação ao diferente. É o que chamamos de etnocentrismo. Esse
cultura, assim os nomeamos e identificamos. fenômeno, quando exacerbado, pode se transformar em práticas
Mapear o trato que já é dado à diversidade pode ser um ponto xenófobas (aversão ou ódio ao estrangeiro) e em racismo (crença na
de partida para novos equacionamentos da relação entre diversida- existência da superioridade e inferioridade racial).
de e currículo. A primeira constatação talvez seja que, de fato, não é Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano nem
tarefa fácil para nós, educadores e educadoras, trabalharmos peda- sempre garante um trato positivo dessa diversidade. Os diferentes
gogicamente com a diversidade. Mas não será essa afirmativa uma contextos históricos, sociais e culturais, permeados por relações de
contradição? Como a educação escolar pode se manter distante da poder e dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e,
diversidade sendo que a mesma se faz presente no cotidiano esco- por vezes, ambígua de lidar com o diverso. Nessa tensão, a diversi-
lar por meio da presença de professores/as e alunos/as dos mais dade pode ser tratada de maneira desigual e naturalizada.
diferentes pertencimentos étnico-raciais, idades e culturas? Estamos diante de uma terceira tarefa. A relação existente en-
Esse desafio é enfrentado por todos nós que atuamos no cam- tre educação e diversidade coloca-nos diante do seguinte desafio:
po da educação, sobretudo, o escolar. Ele atravessa todos os níveis o que entendemos por diversidade? Que diversidade pretendemos
de ensino desde a educação básica (educação infantil, ensino fun- esteja contemplada no currículo das escolas e nas políticas de currí-
damental e ensino médio) até a educação superior incluindo a EJA, culo? Para responder a essas questões, fazem-se necessários alguns
a Educação Profissional e a Educação esclarecimentos e posicionamentos sobre o que entendemos por
Especial. Portanto, as reflexões aqui realizadas aplicam-se aos diversidade e currículo.
profissionais que atuam em todos esses campos, os quais realizam Seria muito mais simples dizer que o substantivo diversidade
práticas curriculares variadas. significa variedade, diferença e multiplicidade. Mas essas três qua-
Para avançarmos nessas questões, uma outra tarefa faz-se ne- lidades não se constroem no vazio e nem se limitam a ser nomes
cessária: é preciso ter clareza sobre a concepção de educação que abstratos. Elas se constroem no contexto social e, sendo assim, a
nos orienta. Há uma relação estreita entre o olhar e o trato peda- diversidade pode ser entendida como um fenômeno que atravessa
gógico da diversidade e a concepção de educação que informa as o tempo e o espaço e se torna uma questão cada vez mais séria
práticas educativas. quanto mais complexas vão se tornando as sociedades.
A diversidade faz parte do acontecer humano. De acordo com
19 Agradeço as preciosas contribuições e críticas de Miguel Arroyo, Juarez
Elvira de Souza Lima (2006, p.17),
Dayrell e Neusa Gusmão durante o processo de elaboração desse artigo.

102
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são Os problemas ambientais não são considerados graves porque
diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas perso- afetam o planeta, entendido como algo externo, mas porque afe-
nalidades e são também diversos em suas formas de perceber o tam a todos nós e colocam em risco a vida da espécie humana e a
mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade biológica. das demais espécies.
Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de nature-
za distinta no processo de desenvolvimento das pessoas (as comu- Dois aspectos importantes:
mente chamadas de “portadoras de necessidades especiais”). Como a) o ser humano enquanto parte da diversidade biológica não
toda forma de diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda pode ser entendido fora do contexto da diversidade cultural;
óbvia, por um currículo que atenda a essa universalidade. b) toda a discussão a que hoje assistimos sobre a preservação,
conservação e uso sustentável da biodiversidade não diz respei-
As discussões acima realizadas poderão ajudar a aprofundar as to somente ao uso que o homem faz do ambiente externo, mas,
reflexões sobre a diversidade no coletivo de educadores, nos pro- sobretudo, da relação deste como um dos componentes dessa di-
jetos pedagógicos e nas diferentes Secretarias de Educação. Afinal, versidade. Ou seja, os problemas ambientais não são considerados
a relação entre currículo e diversidade é muito mais complexa. O graves porque afetam o planeta, entendido como algo externo, mas
discurso, a compreensão e o trato pedagógico da diversidade vão porque afetam a todos nós e colocam em risco a vida da espécie
muito além da visão romântica do elogio à diferença ou da visão humana e a das demais espécies. Lamentavelmente, o avanço tec-
negativa que advoga que ao falarmos sobre a diversidade corremos nológico do qual nos gabamos como seres dotados de razão e ca-
o risco de discriminar os ditos diferentes. Que concepções de diver- pazes de transformar a natureza não tem significado avanço para a
sidade permeiam as nossas práticas, os nossos currículos, a nossa própria biodiversidade da qual participamos.
relação com os alunos e suas famílias e as nossas relações profissio- Existem grupos humanos que, devido a sua história e cultura,
nais? Como enxergamos a diversidade enquanto cidadãos e cidadãs garantem sua sobrevivência e produzem conhecimentos por meio
nas nossas práticas cotidianas? de uma relação mais direta com o ambiente em que vivem. Entre
Essas indagações poderão orientar os nossos encontros peda- eles podemos destacar os indígenas, as comunidades tradicionais
gógicos, os processos de formação em serviço desde a educação (como os seringueiros), os remanescentes de quilombos, os traba-
infantil até o ensino médio e EJA. Elas já acompanham há muito o lhadores do campo e demais povos da floresta. Estes constroem
campo da educação especial, porém, necessitam ser ampliadas e conhecimentos variados a respeito dos recursos da biodiversidade
aprofundadas para compreendermos outras diferenças presentes que nem sempre são considerados pela escola. Nos últimos anos,
na escola. É nessa perspectiva que privilegiaremos, neste texto, al- esses grupos vêm se organizando cada vez mais e passam a exigir
guns aspectos acerca da diversidade a fim de dar mais elementos às das escolas e dos órgãos responsáveis pelas elas o direito ao re-
nossas indagações sobre o currículo. São eles conhecimento dos seus saberes e sua incorporação aos currículos.
• diversidade biológica e currículo; Além disso, passam a reivindicar dos governos o reconhecimento
• diversidade cultural e currículo; e posse das suas terras, assim como a redistribuição e a ocupação
• a luta política pelo direito à diversidade; responsável de terras improdutivas.20
• diversidade e conhecimento; A falta de controle e de conhecimento dos fatores de degrada-
• diversidade e ética; ção ambiental, dos desequilíbrios ecológicos de qualquer parte do
• diversidade e organização dos tempos e espaços escolares. sistema, da expansão das monoculturas, a não efetivação de uma
justa reforma agrária, entre outros fatores, têm colaborado para a
Algumas considerações sobre a diversidade biológica ou bio- vulnerabilidade desses e outros grupos. Tal situação afeta toda a
diversidade espécie humana da qual fazemos parte. Coloca em risco a capaci-
A diversidade pode ser entendida em uma perspectiva biológi- dade de sustentabilidade proporcionada pela biodiversidade. Dessa
ca e cultural. Portanto, o homem e a mulher participam desse pro- forma, os problemas ambientais, políticos, culturais e sociais estão
cesso enquanto espécie e sujeito sociocultural. intimamente embricados. De acordo com Shiva (2003, p.97), citado
Do ponto de vista biológico, a variedade de seres vivos e am- por Silvério (2006, pp.10-1), o desenvolvimento só pode ser um de-
bientes em conjunto é chamada de diversidade biológica ou biodi- senvolvimento ecológico e socialmente sustentável, orientado pela
versidade. Nessa concepção, entende-se que a natureza é formada busca de políticas e estratégias de desenvolvimento alternativo,
por vários tipos de ambientes e cada um deles é ocupado por uma para romper com o bioimperialismo o qual impõe monoculturas.
infinidade de seres vivos diferentes que se adaptam ao mesmo. O desenvolvimento ecológico e socialmente sustentável tem como
Mesmo os animais e plantas pertencentes à mesma espécie apre- orientação a construção da biodemocracia com quem respeita/cul-
sentam diferenças entre si. Os seres humanos, enquanto seres vi- tiva a biodiversidade.
vos, apresentam diversidade biológica, ou seja, mostram diferenças A discussão acima suscita algumas reflexões: que indagações
entre si. No entanto, ao longo do processo histórico e cultural e no o debate sobre a diversidade biológica traz para os currículos? A
contexto das relações de poder estabelecidas entre os diferentes nossa abordagem em sala de aula e os nossos projetos pedagógicos
grupos humanos, algumas dessas variabilidades do gênero humano sobre educação ambiental têm explorado a complexidade e os con-
receberam leituras estereotipadas e preconceituosas, passaram a flitos trazidos pela forma como a sociedade atual se relaciona com
ser exploradas e tratadas de forma desigual e discriminatória. Por a diversidade biológica?
isso, ao refletirmos sobre a presença dos seres humanos no contex-
to da diversidade biológica, devemos entender

20 Vide publicação: CONSUMO SUSTENTÁVEL: manual de educação.

Brasília: Consumers Internacional/ MMA/MEC/IDEC, 2005, 160 p.

103
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como incorporar a discussão sobre a biodiversidade nas pro- dade do gênero humano. Ora, se a diversidade faz parte do acon-
postas curriculares das escolas e das redes de ensino? Um primeiro tecer humano, então a escola, sobretudo a pública, é a instituição
passo poderia ser a reflexão sobre a nossa postura diante desse de- social na qual as diferentes presenças se encontram. Então, como
bate enquanto educadores e educadoras e partícipes dessa mesma essa instituição poderá omitir o debate sobre a diversidade? E como
biodiversidade. os currículos poderiam deixar de discuti-la?
Mas o que entendemos por currículo? Segundo Antonio Flávio
A diversidade cultural: algumas reflexões B. Moreira e Vera Maria Candau (2006, p.86) existem várias con-
O ser humano se constitui por meio de um processo complexo: cepções de currículo, as quais refletem variados posicionamentos,
somos ao mesmo tempo semelhantes (enquanto gênero humano) compromissos e pontos de vista teóricos. As discussões sobre currí-
e muito diferentes (enquanto forma de realização do humano ao culo incorporam, com maior ou menor ênfase, debates sobre os co-
longo da história e da cultura). Podemos dizer que o que nos tor- nhecimentos escolares, os procedimentos pedagógicos, as relações
na mais semelhantes enquanto gênero humano é o fato de todos sociais, os valores e as identidades dos nossos alunos e alunas. Os
apresentarmos diferenças: de gênero, raça/etnia, idades, culturas, autores se apoiam em Silva (1999), ao afirmarem que, em resumo,
experiências, entre outros. E mais: somos desafiados pela própria as questões curriculares são marcadas pelas discussões sobre co-
experiência humana a aprender a conviver com as diferenças. O nhecimento, verdade, poder e identidade.
nosso grande desafio está em desenvolver uma postura ética de
não hierarquizar as diferenças e entender que nenhum grupo hu- As discussões sobre currículo incorporam, com maior ou
mano e social é melhor ou pior do que outro. Na realidade, somos menor ênfase, debates sobre os conhecimentos escolares, os
diferentes. procedimentos pedagógicos, as relações sociais, os valores e as
Ao discutir a diversidade cultural, não podemos nos esquecer identidades dos nossos alunos e alunas.
de pontuar que ela se dá lado a lado com a construção de proces-
sos identitários. Assim como a diversidade, a identidade, enquanto Retomo, aqui, uma discussão já realizada em outro texto (Go-
processo, não é inata. mes, 2006, pp.31-2). O currículo não está envolvido em um simples
Ela se constrói em determinado contexto histórico, social, processo de transmissão de conhecimentos e conteúdos. Possui um
político e cultural. Jacques d’Adesky (2001, p.76) destaca que a caráter político e histórico e também constitui uma relação social,
identidade, para se constituir como realidade, pressupõe uma in- no sentido de que a produção de conhecimento nele envolvida se
teração. A ideia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é realiza por meio de uma relação entre pessoas. Segundo Tomaz
intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrên- Tadeu da Silva (1995, p.194) o conhecimento, a cultura e o currí-
cia de sua ação. Assim como a diversidade, nenhuma identidade é culo são produzidos no contexto das relações sociais e de poder.
construída no isolamento. Ao contrário, ela é negociada durante a Esquecer esse processo de produção - no qual estão envolvidas as
vida toda dos sujeitos por meio do diálogo, parcialmente exterior, relações desiguais de poder entre grupos sociais - significa reificar
parcialmente interior, com os outros. Tanto a identidade pessoal o conhecimento e reificar o currículo, destacando apenas os seus
quanto a identidade social são formadas em diálogo aberto. Estas aspectos de consumo e não de produção.
dependem de maneira vital das relações dialógicas com os outros. Ainda segundo esse autor, mesmo quando pensamos no currí-
A diversidade cultural varia de contexto para contexto. Nem culo como uma coisa, como uma listagem de conteúdos, por exem-
sempre aquilo que julgamos como diferença social, histórica e cul- plo, ele acaba sendo, fundamentalmente, aquilo que fazemos com
turalmente construída recebe a mesma interpretação nas diferen- essa coisa, pois, mesmo uma lista de conteúdos não teria propria-
tes sociedades. Além disso, o modo de ser e de interpretar o mundo mente existência e sentido, se não se fizesse nada com ela. Nesse
também é variado e diverso. Por isso, a diversidade precisa ser en- sentido, o currículo não se restringe apenas a ideias e abstrações,
tendida em uma perspectiva relacional. Ou seja, as características, mas a experiências e práticas concretas, construídas por sujeitos
os atributos ou as formas “inventadas” pela cultura para distinguir concretos, imersos em relações de poder. O currículo pode ser con-
tanto o sujeito quanto o grupo a que ele pertence dependem do siderado uma atividade produtiva e possui um aspecto político que
lugar por eles ocupado na sociedade e da relação que mantêm en- pode ser visto em dois sentidos: em suas ações (aquilo que faze-
tre si e com os outros. Não podemos esquecer que essa sociedade mos) e em seus efeitos (o que ele nos faz). Também pode ser consi-
é construída em contextos históricos, socioeconômicos e políticos derado um discurso que, ao corporificar narrativas particulares so-
tensos, marcados por processos de colonização e dominação. Es- bre o indivíduo e a sociedade, participa do processo de constituição
tamos, portanto, no terreno das desigualdades, das identidades e de sujeitos (e sujeitos também muito particulares). Sendo assim, as
das diferenças. narrativas contidas no currículo, explícita ou implicitamente, corpo-
Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo român- rificam noções particulares sobre conhecimento, sobre formas de
tico do final do século XX e início do século XXI. Na realidade, a organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. Elas
cobrança hoje feita em relação à forma como a escola lida com a dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas
diversidade no seu cotidiano, no seu currículo, nas suas práticas faz de conhecer são válidas e quais não o são, o que é certo e o que é
parte de uma história mais ampla. Tem a ver com as estratégias errado, o que é moral e o que é imoral, o que é bom e o que é mau,
por meio das quais os grupos humanos considerados diferentes o que é belo e o que é feio, quais vozes são autorizadas e quais
passaram cada vez mais a destacar politicamente as suas singula- 24 não o são (Silva, 1995, p. 195).
ridades, cobrando que as mesmas sejam tratadas de forma justa e A produção do conhecimento, assim como sua seleção e legi-
igualitária, desmistificando a ideia de inferioridade que paira sobre timação, está transpassada pela diversidade. Não se trata apenas
algumas dessas diferenças socialmente construídas e exigindo que de incluir a diversidade como um tema nos currículos. As reflexões
o elogio à diversidade seja mais do que um discurso sobre a varie- do autor nos sugerem que é preciso ter consciência, enquanto do-

104
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

centes, das marcas da diversidade presentes nas diferentes áreas sendo, portanto, tratadas de forma desigual e discriminatória. É en-
do conhecimento e no currículo como um todo: ver a diversidade tender o impacto subjetivo destes processos na vida dos sujeitos
nos processos de produção e de seleção do conhecimento escolar. sociais e no cotidiano da escola. É incorporar no currículo, nos livros
O autor ainda adverte que as narrativas contidas no currículo didáticos, no plano de aula, nos projetos pedagógicos das escolas
trazem embutidas noções sobre quais grupos sociais podem repre- os saberes produzidos pelas diversas áreas e ciências articulados
sentar a si e aos outros e quais grupos sociais podem apenas ser com os saberes produzidos pelos movimentos sociais e pela comu-
representados ou até mesmo serem totalmente excluídos de qual- nidade.
quer representação. Elas, além disso, representam os diferentes
grupos sociais de forma diferente: enquanto as formas de vida e a Falar sobre diversidade e diferença implica posicionar-se con-
cultura de alguns grupos são valorizadas e instituídas como cânone, tra processos de colonização e dominação.
as de outros são desvalorizadas e proscritas. Assim, as narrativas
do currículo contam histórias que fixam noções particulares de gê- Há diversos conhecimentos produzidos pela humanidade que
nero, raça, classe - noções que acabam também nos fixando em ainda estão ausentes nos currículos e na formação dos professores,
como, por exemplo, o conhecimento produzido pela comunidade
posições muito particulares ao longo desses eixos (de autoridade)
negra ao longo da luta pela superação do racismo, o conhecimento
(Silva, 1995, p. 195).
produzido pelas mulheres no processo de luta pela igualdade de
A perspectiva de currículo acima citada poderá nos ajudar a
gênero, o conhecimento produzido pela juventude na vivência da
questionar a noção hegemônica de conhecimento que impera na
sua condição juvenil, entre outros. É urgente incorporar esses co-
escola, levando-nos a refletir sobre a tensa e complexa relação en- nhecimentos que versam sobre a produção histórica das diferenças
tre esta noção e os outros saberes que fazem parte do processo e das desigualdades para superar tratos escolares românticos sobre
cultural e histórico no qual estamos imersos. a diversidade.
Podemos indagar que histórias as narrativas do currículo têm Para tal, todos nós precisaremos passar por um processo de
contado sobre as relações raciais, os movimentos do campo, o mo- reeducação do olhar. O reconhecimento e a realização dessa mu-
vimento indígena, o movimento das pessoas com deficiência, a luta dança do olhar sobre o “outro” e sobre nós mesmos a partir das
dos povos da floresta, as trajetórias dos jovens da periferia, as vivên- diferenças deve superar o apelo romântico ao diverso e ao diferente
cias da infância (principalmente a popular) e a luta das mulheres? e construir políticas e práticas pedagógicas e curriculares nas quais
São narrativas que fixam os sujeitos e os movimentos sociais em a diversidade é uma dimensão constitutiva do currículo, do planeja-
noções estereotipadas ou realizam uma interpretação emancipató- mento das ações, das relações estabelecidas na escola.
ria dessas lutas e grupos sociais? Que grupos sociais têm o poder A fim de conseguir alcançar esse objetivo, todos nós que atua-
de se representar e quais podem apenas ser representados nos cur- mos e nos ocupamos da escola somos desafiados a rever o ordena-
rículos? Que grupos sociais e étnico/raciais têm sido historicamen- mento curricular e as práticas pedagógicas, entendendo que estes
te representados de forma estereotipada e distorcida? Diante das não representam apenas uma determinada visão de conhecimento
respostas a essas perguntas, só nos resta agir, sair do imobilismo que pode excluir o “outro” e suas diferenças, mas também e, so-
e da inércia e cumprir a nossa função pedagógica diante da diver- bretudo, uma determinada visão dos alunos (Arroyo, 2006, p.54).
sidade: construir práticas pedagógicas que realmente expressem a De acordo com Miguel Arroyo (2006, p.54) os educandos nunca
riqueza das identidades e da diversidade cultural presente na escola foram esquecidos nas propostas curriculares; a questão é com que
e na sociedade. Dessa forma poderemos avançar na superação de tipo de olhar eles foram e são vistos. Podemos ir além: com que
concepções românticas sobre a diversidade cultural presentes nas olhar foram e são vistos os educandos nas suas diversas identida-
várias práticas pedagógicas e currículos. des e diferenças? Será que ainda continuamos discursando sobre a
diversidade, mas agindo, planejando, organizando o currículo como
A luta política pelo direito à diversidade se os alunos fossem um bloco homogêneo e um corpo abstrato?
Como já foi dito, nem sempre a diversidade entendida como a Como se convivêssemos com um protótipo único de aluno? Como
se a função da escola, do trabalho docente fosse conformar todos a
construção histórica, social e cultural das diferenças implica em um
esse protótipo único?
trato igualitário e democrático em relação àqueles considerados
diferentes. Muito do que fomos educados a ver e distinguir como
Os educandos são os sujeitos centrais da ação educativa. E
diferença é, na realidade, uma invenção humana que, ao longo do
foram eles, articulados ou não em movimentos sociais, que trou-
processo cultural e histórico, foi tomando forma e materialidade. xeram a luta pelo direito à diversidade como uma indagação ao
No processo histórico, sobretudo nos contextos de colonização e campo do currículo.
dominação, os grupos humanos não passaram a hostilizar e do-
minar outros grupos simplesmente pelo fato de serem diferentes. Os educandos são os sujeitos centrais da ação educativa. E fo-
Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986, p.08) “por diversas ram eles, articulados ou não em movimentos sociais, que trouxe-
vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-lo ram a luta pelo direito à diversidade como uma indagação ao cam-
inimigo”. po do currículo. Esse é um movimento que vai além do pedagógico.
Por isso, a inserção da diversidade nos currículos implica com- Estamos, portanto, em um campo político.
preender as causas políticas, econômicas e sociais de fenômenos Cabe destacar, aqui, o papel dos movimentos sociais e culturais
como etnocentrismo, racismo, sexismo, homofobia e xenofobia. nas demandas em prol do respeito à diversidade no currículo. Tais
Falar sobre diversidade e diferença implica posicionar-se contra movimentos indagam a sociedade como um todo e, enquanto sujei-
processos de colonização e dominação. É perceber como, nesses tos políticos, colocam em xeque a escola uniformizadora que tanto
contextos, algumas diferenças foram naturalizadas e inferiorizadas imperou em nosso sistema de ensino. Questionam os currículos,

105
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

imprimem mudanças nos projetos pedagógicos, interferem na po- te do currículo vivenciado nas escolas e das políticas curriculares? A
lítica educacional e na elaboração de leis educacionais e diretrizes resposta a essas questões poderá nos ajudar a compreender o lugar
curriculares. ocupado pela diversidade cultural na educação escolar.
De acordo com Valter Roberto Silvério (2006, p.09), a entrada
em cena, na segunda metade do século XX, de movimentos sociais Que indagações a diversidade traz aos currículos?
denominados identitárias, provocou transformações significativas E nas escolas, nos currículos e políticas educacionais, como a
na forma como a política pública educacional era concebida duran- diversidade se faz presente? Será que os movimentos sociais con-
te a primeira metade daquele século. seguem indagar e incorporar mais a diversidade do que a própria
Para este autor, a demanda por reconhecimento é aquela a escola e a política educacional?
partir da qual vários movimentos sociais que têm por fundamento
uma identidade cultural (negros, indígenas, homossexuais, entre Um bom exercício para perceber o caráter indagador da di-
outros) passam a reivindicar reconhecimento, quer seja pela ausên- versidade nos currículos seria analisar as propostas e documentos
cia deste ou por um reconhecimento considerado inadequado de oficiais com os quais lidamos cotidianamente.
sua diferença.
Ainda segundo Silvério (2006), um dos aprendizados trazidos Certamente, iremos notar que a questão da diversidade apa-
pelo debate sobre o lugar da diversidade e da diferença cultural no rece, porém, não como um dos eixos centrais da orientação curri-
Brasil contemporâneo é que a sociedade brasileira passa por um cular, mas, sim, como um tema. E mais: muitas Um bom exercício
processo de (re)configuração do pacto social a partir da insurgên- para vezes, a diversidade aparece somente como perceber o caráter
cia de atores sociais até então pouco visíveis na cena pública. Esse indagador um tema que transversaliza o currículo entendida como
contexto coloca um conjunto de problemas e desafios à sociedade pluralidade cultural. A diversidade é vista e reduzida sob a ótica da
como um todo. No que diz respeito à educação, ou mais precisa- cultura. É certo que a antropologia, hoje, não trabalha mais com
mente, à política educacional, um dos aspectos significativos desse a ideia da existência de uma só cultura. As culturas são diversas
novo cenário é a percepção de que a escola é um espaço de sociabi- e variadas. A escola e seu currículo não demonstram dificuldade
lidade para onde convergem diferentes experiências socioculturais, de assumir que temos múltiplas culturas. Essa situação possibilita
as quais refletem diversas e divergentes formas de inserção grupal o reconhecimento da cultura docente, do aluno e da comunidade,
na história do país. a presença da cultura escolar, mas não questiona o lugar que a di-
Podemos dizer que a sociedade brasileira, a partir da segun- versidade de culturas ocupa na escola. Mais do que múltiplas, as
da metade do século XX, começa a viver - não sem contradições e culturas diferem entre si. E é possível que, em uma mesma escola,
conflitos - um momento de maior consolidação de algumas deman- localizada em uma região específica, que atenda uma determinada
das dos movimentos sociais e da sua luta pelo direito à diferença. comunidade, encontremos no interior da sala de aula alunos que
É possível perceber alguns avanços na produção teórica educacio- portam diferentes culturas locais, as quais se articulam com as do
nal, no Governo Federal, no Ministério da Educação, nas Secretarias bairro e região. Eles apresentam diferentes formas de ver e conce-
Estaduais e Municipais de Educação, nos projetos pedagógicos das ber o mundo, possuem valores diferenciados, pertencem a diferen-
tes grupos étnico-raciais, diferem-se em gênero, idade e experiên-
escolas, na literatura infanto-juvenil, na produção de material didá-
cia de vida.
tico alternativo e acessível em consonância às necessidades educa-
Por isso, mais do que uma multiplicidade de culturas, no que
cionais especiais dos alunos. Entretanto, apesar dos avanços, ainda
se refere ao seu número, variedade ou “pluralidade”, vivemos no
existe muito trabalho a fazer.
contexto das diferentes culturas, marcadas por singularidades ad-
vindas dos processos históricos, políticos e também culturais por
Há uma nova sensibilidade nas escolas públicas, sobretudo,
meio dos quais são construídas. Vivemos, portanto, no contexto da
para a diversidade e suas múltiplas dimensões na vida dos sujeitos.
diversidade cultural e esta, sim, deve ser um elemento presente e
Sensibilidade que vem se traduzindo em ações pedagógicas de
indagador do currículo. A cultura não deve ser vista como um tema
transformação do sistema educacional em um sistema inclusivo,
e nem como disciplina, mas como um eixo que orienta as experiên-
democrático e aberto à diversidade. cias e práticas curriculares.
Podemos indagar como a diversidade é apresentada na Lei de
Aos poucos, vêm crescendo os coletivos de profissionais da Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9394/96, enten-
educação sensíveis à diversidade. Muitos deles têm a sua trajetória dida como a orientação legal para a construção das diretrizes cur-
marcada pela inserção nos movimentos sociais, culturais e identitá- riculares nacionais dela advindas. No seu artigo 26, a LDB confere
rios e carregam para a vida profissional suas identidades coletivas liberdade de organização aos sistemas de ensino, desde que eles se
e suas diferenças. Há uma nova sensibilidade nas escolas públicas, orientem a partir de um eixo central por ela colocado: os currículos
sobretudo, para a diversidade e suas múltiplas dimensões na vida do ensino fundamental e médio devem ter uma base comum na-
dos sujeitos. Sensibilidade que vem se traduzindo em ações peda- cional que será complementada, em cada sistema de ensino e em
gógicas de transformação do sistema educacional em um sistema cada escola, por uma parte diversificada. Esta última, segundo a lei,
inclusivo, democrático e aberto à diversidade. é exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
Mas será que essas ações são iniciativas apenas de grupos de cultura, da economia e da clientela.
educadores(as) sensíveis diante da diversidade? Ou elas são assu- Dez anos se passaram. Podemos dizer que houve avanço em re-
midas como um dos eixos do trabalho das escolas, das propostas lação à sensibilidade para com a diversidade incorporada - mesmo
políticas pedagógicas das Secretarias de Educação e do MEC? Elas que de forma tímida - na Lei. Os movimentos sociais, a reflexão das
são legitimadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais? Fazem par- ciências sociais, as políticas educacionais, os projetos das escolas

106
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

expressam esse avanço com contornos e nuances diferentes. Esse


movimento de mudança sugere a necessidade de aprofundar mais Se a convivência com a diferença já é salutar para a reeduca-
sobre a diversidade nos currículos. ção do nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa visão de mundo,
Reconhecer não apenas a diversidade no seu aspecto regional quanto mais o aprendizado do imperativo ético que esse processo
e local, mas, sim, a sua presença enquanto construção histórica, nos traz.
cultural e social que marca a trajetória humana. Rever o nosso pa-
radigma curricular. Ainda estamos presos à divisão núcleo comum e Alguns aspectos específicos do currículo indagados pela diver-
parte diversificada presente na lei 5692/71. O peso da rigidez dessa sidade
lei marcou profundamente a organização e a estrutura das escolas. Diversidade e conhecimento - A antropóloga Paula Meneses
É dela que herdamos, sobretudo, a forma fragmentada de como o (2005), ao analisar o caso da universidade em Moçambique e a pro-
conhecimento escolar e o currículo ainda são tratados e a persis- dução de saberes realizada pelos países que se encontram fora do
tente associação entre educação escolar e preparo para o mercado eixo do Ocidente, traz algumas reflexões que podem nos ajudar a
de trabalho. indagar a relação entre conhecimento e diversidade no Brasil. Essa
Segundo Arroyo (2006, p.56), a visão reducionista dessa lei autora discute que o saber científico se impôs como forma domi-
marcou as décadas de 1970 e 1980 como uma forma hegemônica nante de conhecimento sobre os outros conhecimentos produzidos
de pensar e organizar o currículo e as escolas e ainda se faz pre- pelas diferentes sociedades e povos africanos. Nesse sentido, a dis-
sente e persistente na visão que muitas escolas têm do seu papel cussão sobre a relação ou distinção entre conhecimento e saber - e
social e na visão que docentes e administradores têm de sua função que tem servido aos interesses dos grupos sócio raciais hegemô-
profissional. nicos - é colocada pela autora no contexto de um debate episte-
mológico e político. Nesse mesmo debate, podemos localizar a di-
O lugar não hegemônico ocupado pelas questões sociais, cul- cotomia construída nos currículos entre o saber considerado como
turais, regionais e políticas que compõem a “parte diversificada” “comum a todos” e o saber entendido como “diverso”.
dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vulnerabili- Guardadas as devidas especificidades históricas, sociais, cultu-
dade e liberdade. rais e geográficas que dizem respeito à realidade africana abordada
pela autora acima citada, podemos notar uma situação semelhante
Nessa perspectiva curricular, a diversidade está presente na quando refletimos sobre o lugar ocupado pelos saberes construídos
parte diversificada, a qual os educadores sabem que, hierarquica- pelos movimentos sociais e pelos setores populares na escola bra-
mente, por mais que possamos negar, ocupa um lugar menor do sileira. Não podemos afirmar que esses saberes são totalmente ine-
que o núcleo comum. E é neste último que encontramos os ditos xistentes na realidade escolar. Eles existem, porém, muitas vezes,
conhecimentos historicamente acumulados recontextualizados com o formato de atividades paralelas, projetos sociais e experiên-
como conhecimento escolar. Nessa concepção, as características cias lúdicas. Em outros momentos, encontram-se estereotipados e
regionais e locais, a cultura, os costumes, as artes, a corporeidade, presentes no chamado “currículo oculto” e, nesse sentido, podem
a sexualidade são “partes que diversificam o currículo” e não “nú- ser compreendidos como a produção da não-existência, nos dizeres
cleos”. Elas podem até mesmo trazer uma certa diversificação, um de Boaventura de Sousa Santos (2004). Ou seja, certos saberes que
novo brilho, mas não são consideradas como integrantes do eixo não encontram um lugar definido nos currículos oficiais podem ser
central. O lugar não hegemônico ocupado pelas questões sociais, compreendidos como uma ausência ativa e, muitas vezes, intencio-
culturais, regionais e políticas que compõem a “parte diversificada” nalmente produzida.
dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vulnerabili- Inspirados em Boaventura de Sousa Santos (2004), podemos
dade e liberdade. É nesta parte que, muitas vezes, os educadores e dizer que há, também, na educação brasileira, uma monocultura
as educadoras conseguem ousar, realizar trabalhos mais próximos do saber que privilegia o saber científico (transposto didaticamen-
da comunidade, explorar o potencial criativo, artístico e estético te como conteúdo escolar) como único e legítimo. Essa forma de
dos alunos e alunas. interpretar e lidar com o conhecimento se perpetua na teoria e na
No entanto, mesmo que reconheçamos a importância desse prática escolar em todos os níveis de ensino desde a educação in-
fôlego dado à diversidade nos documentos oficiais, é importante fantil até o ensino superior.
destacar que ele não é suficiente, pois coloca essa discussão em Certos saberes que não encontram um lugar definido nos cur-
um lugar provisório, transversal e, por vezes, marginal. Além disso, rículos oficiais podem ser compreendidos como uma ausência ativa
tende a reduzir a diversidade cultural à diversidade regional e não e, muitas vezes, intencionalmente produzida.
dialoga com os sujeitos, suas vivências e práticas. Ao mesmo tempo, existem focos de resistência que sempre
A incorporação da diversidade no currículo deve ser entendida lutaram contra a hegemonia de certos conteúdos escolares previa-
não como uma ilustração ou modismo. Antes, deve ser compreen- mente selecionados e o apogeu da ciência moderna na escola brasi-
dida no campo político e tenso no qual as diferenças são produzi- leira. Estes já conseguiram algumas vitórias satisfatórias. Tal proces-
das, portanto, deve ser vista como um direito. Um direito garantido so vem ocorrendo, sobretudo, nas propostas mais progressistas de
a todos e não somente àqueles que são considerados diferentes. educação escolar tais como: educação do campo, educação indíge-
Se a convivência com a diferença já é salutar para a reeducação do na, educação e diversidade étnico-racial, educação inclusiva, edu-
nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa visão de mundo, quanto cação ambiental e EJA. Estas propostas e projetos têm se realizado
mais o aprendizado do imperativo ético que esse processo nos traz. - não sem conflitos - em algumas escolas públicas e em propostas
Conviver com a diferença (e com os diferentes) é construir relações pedagógicas da educação básica. São experiências de gestão demo-
que se pautem no respeito, na igualdade social, na igualdade de crática, educação para a diversidade, educação ambiental, educa-
oportunidades e no exercício de uma prática e postura democrá- ção do campo, educação quilombola etc.
ticas.

107
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Essas e outras indagações que podemos fazer ao conhecimen- violência e o crime, o mal e o vício e, como contrapartida, o que
to e sua presença no currículo são colocadas principalmente pelos consideram ser o bem e a virtude. Por realizar-se como relação in-
movimentos sociais e pelos sujeitos em movimento. Eles questio- tersubjetiva e social a ética não é alheia ou indiferente às condições
nam não só o currículo que se efetiva nas escolas como, também, os históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral.
procedimentos e instrumentos que usamos para avaliar os alunos
e a forma como os conhecimentos são aprendidos e apreendidos. O reconhecimento do aluno e do professor como sujeitos de
Isso nos impele, enquanto educadores a “(...) refletir sobre nossas direitos é também compreendê-los como sujeitos éticos.
ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre
a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que prejulgamos ou ou- Marilena Chauí (1998) ainda esclarece que embora toda ética
tras situações do cotidiano”. (Fernandes e Freitas, 2006, p.117). A seja universal do ponto de vista da sociedade que a institui (uni-
diversidade coloca em xeque os processos tradicionais de avaliação versal porque os seus valores são obrigatórios para todos os seus
escolar. membros), ela está em relação com o tempo e a história. Por isso
Nessa perspectiva, os movimentos sociais conquanto sujeitos se transforma para responder a exigências novas da sociedade e
políticos podem ser vistos como produtores de saber. Este nem da cultura, pois somos seres históricos e culturais e nossa ação se
sempre tem sido considerado enquanto tal pelo próprio campo desenrola no tempo.
educacional. O não reconhecimento dos saberes e das práticas so-
ciais no currículo tem resultado no desperdício da experiência so- Não se trata de negar a importância do conhecimento escolar,
cial dos(as) educandos(as), dos(as) educadores(as) e da comunida- mas de abolir o equívoco histórico da escola e da educação de ter
de nas propostas educacionais (Santos, 2006). como foco prioritariamente os “conteúdos” e não os sujeitos do
processo educativo.
A consideração destes e de outros saberes trará novos elemen-
tos não só para as análises dos movimentos sociais e seus processos
Um bom caminho para repensar as propostas curriculares para
de produção do conhecimento como também para a discussão so-
infância, adolescência, juventude e vida adulta poderá ser uma
bre a reorientação curricular.
orientação que tenha como foco os sujeitos da educação. A grande
A luta travada em torno da educação do campo, indígena, do questão é: como o conhecimento escolar poderá contribuir para o
negro, das comunidades remanescentes de quilombos, das pesso- pleno desenvolvimento humano dos sujeitos? Não se trata de negar
as com deficiência tem desencadeado mudanças na legislação e na a importância do conhecimento escolar, mas de abolir o equívoco
política educacional, revisão de propostas curriculares e dos pro- histórico da escola e da educação de ter como foco prioritariamente
cessos de formação de professores. Também tem indagado a rela- os “conteúdos” e não os sujeitos do processo educativo.
ção entre conhecimento escolar e o conhecimento produzido pelos Discutir a diversidade no campo da ética significa rever postu-
movimentos sociais. ras, valores, representações e preconceitos que permeiam a relação
Ainda inspirados em Boaventura de Sousa Santos (2006), po- estabelecida com os alunos, a comunidade e demais profissionais
demos dizer que a relação entre currículo e conhecimento nos da escola. Segundo Amauri Carlos Ferreira (2006, p32),21 a ética é
convida a um exercício epistemológico e pedagógico de tornar os referência para que a escolha do sujeito seja aceita como um prin-
saberes produzidos pelos movimentos sociais e pela comunidade cípio geral que respeite e proteja o ser humano no mundo. Nesse
em “emergências”, uma vez que a sua importância social, política sentido, o ethos, como costume, articula-se às escolhas que o sujei-
e pedagógica, por vezes, tem sido colocada no campo das “ausên- to faz ao longo da vida. A ética fundamenta a moral, ao expressar a
cias” resultando no “desperdício da experiência social e educativa”. sua natureza reflexiva na sistematização das normas.
Essa é mais uma indagação que podemos fazer aos currículos. A relação entre ética e diversidade nos coloca diante de práticas
Diversidade e ética - além de indagar a relação currículo e co- e políticas voltadas para o respeito às diferenças e para a superação
nhecimento, a discussão sobre a diversidade permite-nos avançar dos preconceitos e discriminações. Tomaremos como exemplo des-
em um outro ponto do debate: a indagação sobre diversidade e sas práticas a educação de pessoas com deficiência, a educação dos
ética. negros e a educação do campo.
Como se pode notar, assumir a diversidade no currículo implica No que se refere à educação de pessoas com deficiência, al-
compreender o nosso caminhar no processo de formação humana gumas indagações podem ser feitas: como vemos o debate sobre
que se realiza em um contexto histórico, social, cultural e político. a inclusão das crianças com deficiência na escola regular comum?
Nesse percurso construímos as nossas identidades, representações As escolas regulares comuns introduzem no seu currículo a neces-
e valores sobre nós mesmos e sobre os “outros”. Construímos rela- sidade de uma postura ética em relação a essas crianças? Enxerga-
mos essas crianças na sua potencialidade humana e criadora ou nos
ções que podem ou não se pautar no respeito às diferenças. Estas
apegamos à particularidade da “deficiência” que elas apresentam?
extrapolam o nível interpessoal e intersubjetivo, pois são constru-
Esse debate faz parte dos processos de formação inicial e em servi-
ídas nas relações sociais. Será que nos relacionamos com os “ou-
ço? Buscamos conhecer as experiências significativas realizadas na
tros” presentes na escola, considerando- os como sujeitos sociais
perspectiva da educação inclusiva?
e de direitos? Nesse momento, faz-se necessário retomar a concepção de
O reconhecimento do aluno e do professor como sujeitos de di- diversidade que orienta a reflexão presente nesse texto: a diversi-
reitos é também compreende-los como sujeitos éticos. No entanto, dade é entendida como a construção histórica, cultural e social das
a relação entre ética e diversidade ainda é pouco explorada nas dis- diferenças. A construção das diferenças ultrapassa as características
cussões sobre o currículo. Segundo Marilena Chauí (1998, p.338),
do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a 21 Segundo Amauri Carlos Ferreira (2006) a moral pode ser entendida
cultura e a sociedade definem para si mesmas o que julgam ser a como um conjunto de normas que orienta a ação dos sujeitos nos grupos.

108
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

biológicas, observáveis a olho nu. Nessa perspectiva, no caso das Nesse sentido, o debate sobre a inclusão de crianças com defi-
pessoas com deficiência, interessa reconhecê-las como sujeitos de ciência revela que não basta apenas a inclusão física dessas crianças
direitos e compreender como se construiu e se constrói historica- na escola. Há também a necessidade de uma mudança de lógica,
mente o olhar social e pedagógico sobre a sua diferença. A cons- da postura pedagógica, da organização da escola (seus tempos e
trução do olhar sobre as pessoas com deficiências ultrapassa as ca- espaços) e do currículo escolar para que a educação inclusiva cum-
racterísticas biológicas. Não será suficiente incluir as crianças com pra o seu objetivo educativo. É preciso também compreender os
deficiência na escola regular comum se também não realizarmos dilemas e conflitos entre as perspectivas clínicas e pedagógicas que
um processo de reeducação do olhar e das práticas a fim de supe- acompanham a história da Educação Especial. E mais: compreen-
rar os estereótipos que pairam sobre esses sujeitos, suas histórias, der as discussões e práticas em torno dessa diferença como mais
suas potencialidades e vivências. A construção histórica e cultural um desafio na garantia do direito à educação e conhecer as várias
da deficiência (ou necessidade especial, como ainda nomeiam al- experiências educacionais inclusivas que vêm sendo realizadas em
guns fóruns), enquanto uma diferença que se faz presente nos mais diferentes estados e municípios.22 Estas experiências têm revelado
diversos grupos humanos, é permeada de diversas leituras e inter- a eficiência e os benefícios da educação inclusiva não só para os
pretações. Muitas delas estão alicerçadas em preconceitos e discri- alunos com deficiência, mas para a escola com um todo.
minações denunciados historicamente por aqueles(as) que atuam A educação dos negros é um outro campo político e pedagógi-
no campo da Educação Especial e pelos movimentos sociais que lu- co que nos ajuda a avançar na relação entre ética e diversidade e
tam pela garantia dos direitos desses sujeitos. Como todo processo traz mais indagações ao currículo. Como a escola lida com a cultu-
de luta pelo direito à diferença, esse também é tenso, marcado por ra negra e com as demandas do Movimento Negro? Garantir uma
limites e avanços. É nesse campo complexo que se encontram as educação de qualidade para todos significa, também, a nossa in-
propostas de educação inclusiva. serção na luta antirracista? Colocamos a discussão sobre a questão
racial no currículo no campo da ética ou a entendemos como uma
Propostas de educação inclusiva acontecem nas redes de reivindicação dos ditos “diferentes” que só deverá ser feita pelas
educação e nas escolas. São políticas e propostas orientadas por escolas nas quais o público atendido é de maioria negra? Afinal,
concepções mais democráticas de educação. alunos brancos e índios precisam saber mais sobre a cultura negra,
o racismo, a desigualdade racial? De forma semelhante podemos
Na última década houve vários avanços nas políticas de in- indagar: e os alunos brancos, negros e quilombolas precisam saber
clusão. Propostas de educação inclusiva acontecem nas redes de mais sobre os povos indígenas?
educação e nas escolas. São políticas e propostas orientadas por
Como faremos para articular todas essas dimensões? Precisa-
concepções mais democráticas de educação. O debate torna-se
remos de um currículo específico que atenda a cada diferença? Ou
necessário não apenas no âmbito das propostas, mas também no
essas discussões podem e devem ser incluídas no currículo de uma
âmbito das concepções de diferença, de deficiência e de inclusão. A
maneira geral?
inclusão de toda diversidade e, especificamente, das pessoas com
Caminhando na mesma perspectiva de Boaventura Sousa San-
deficiência indaga a escola, os currículos, a sua organização, os ritu-
tos (2006), podemos dizer que a resposta a essas questões passa
ais de enturmação, os processos de avaliação e todo o processo en-
por uma ruptura política e epistemológica. Do ponto de vista polí-
sino- aprendizagem. Indaga, sobretudo, a cultura escolar não imune
tico, estamos desafiados a reinventar novas práticas pedagógicas e
à construção histórica, cultural e social da diversidade e das diferen-
ças. As práticas significativas de educação inclusiva se propõem a curriculares e abrir um novo horizonte de possibilidades cartogra-
desconstruir o imaginário negativo sobre as diferenças, construído fado por alternativas radicais às que deixaram de o ser. E epistemo-
no contexto das desigualdades sociais, das práticas discriminatórias lógico na medida em que realizarmos uma crítica à racionalidade
e da lenta implementação da igualdade de oportunidades em nossa ocidental, entendida como uma forma de pensar que se tornou to-
sociedade. talizante e hegemônica, e propusermos novos rumos para sua supe-
Os teóricos que investigam a inclusão de crianças com defici- ração a fim de alcançarmos uma transformação social. Isso nos leva
ência na escola regular comum possuem opiniões diversas sobre o a indagar em que medida os currículos escolares expressam uma
tema e o indagam a partir de diferentes abordagens teóricas e po- visão restrita de conhecimento, ignorando e até mesmo desprezan-
líticas. Carlos Skliar (2004, p.12) questiona: a escola regular tende do outros conhecimentos, valores, interpretações da realidade, de
a produzir mecanismos educativos dentro de um marco de diversi- mundo, de sociedade e de ser humano acumulados pelos coletivos
dade cultural? Ao refletir sobre a estrutura rígida que ainda impe- diversos.
ra nas escolas, a sua organização temporal, sobre o fenômeno da Entendendo que a questão racial permeia toda a história social,
repetência, a exclusão sistemática, a discriminação com relação às cultural e política brasileira e que afeta a todos nós, independente-
variações linguísticas, raciais, étnicas etc, o autor conclui que esse mente do nosso pertencimento étnico-racial, o movimento negro
processo ainda não se concretizou. Podemos dizer que ele ainda brasileiro tem feito reivindicações e construído práticas pedagógi-
está em construção, com maior ou menor amplitude, dependendo cas alternativas, a fim de introduzir essa discussão nos currículos.
do contexto Político-Pedagógico, do alcance das políticas e práticas Ricas experiências têm sido desenvolvidas em vários estados e mu-
de educação inclusiva, da forma como as diferenças são vistas no nicípios, com apoio ou não das universidades e secretarias estadu-
interior das escolas e da organização escolar. ais e municipais.

A educação dos negros é um outro campo político e pedagó-


22 Seria interessante acompanhar o trabalho realizado pela equipe da Se-

gico que nos ajuda a avançar na relação entre ética e diversidade e cretaria de Educação Especial do MEC. Uma sugestão de leitura para ajudar nessa
discussão é: ROTH, Berenice Weissheimer. Experiências educacionais inclusivas:
traz mais indagações ao currículo. programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília: Ministério da Educa-
ção, Secretaria de Educação Especial, 2006.

109
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No entanto, no início do terceiro milênio, o movimento negro


passou a adotar uma postura mais propositiva, realizando interven- A rigidez e a naturalização da organização dos tempos e espa-
ções sistemáticas no interior do Estado. Dessas novas iniciativas, al- ços escolares entram em conflito com a diversidade de vivências
guns avanços foram conseguidos. Um deles é a criação da Secreta- dos tempos e espaços dos alunos e das alunas.
ria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
Esta secretaria, de abrangência nacional, é responsável por várias Os currículos incorporam uma organização espacial e temporal
ações voltadas para a igualdade racial em conjunto com outros mi- do conhecimento e dos processos de ensino- aprendizagem. A rigi-
nistérios, secretarias estaduais e municipais, universidades, movi- dez e a naturalização da organização dos tempos e espaços escola-
mentos sociais e ONG’s. Além da SEPPIR, foi constituída no interior res entram em conflito com a diversidade de vivências dos tempos
da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e espaços dos alunos e das alunas.
(SECAD), a Coordenadoria de Diversidade e Inclusão Educacional Segundo Arroyo (2004a), a escola é também uma organização
que tem realizado publicações, conferências e produção de mate- temporal. Por isso, o currículo pode ser visto como um ordenamen-
rial didático voltado para a temática. to temporal do conhecimento e dos processos de ensinar e apren-
Nessa nova forma de intervenção do Movimento Negro e de in- der. A organização escolar é ainda bastante rígida, segmentada e
telectuais comprometidos com a luta antirracista, as escolas de edu- uniforme em nossa tradição, à qual todos(as) alunos e alunas indis-
cação básica estão desafiadas a implementar a lei de nº 10.639/03. tintamente têm de adequar seus tempos.
Esta lei torna obrigatória a inclusão do ensino da História da África A partir das reflexões do autor podemos dizer que a relação
e da Cultura Afro- Brasileira nos currículos dos estabelecimentos de diversidade-currículo se defronta com um dado a ser equacionado:
ensino públicos e particulares da educação básica. Trata-se de uma os(as) educandos(as) são diversos também nas vivências e contro-
alteração da lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação le de seus tempos de vida, trabalho e sobrevivência, gerando uma
Nacional, na qual foram incluídos mais três artigos, os quais versam tensão entre tempos escolares e tempos da vida, entre tempos rí-
sobre essa obrigatoriedade. Ela também acrescenta que o dia 20 de gidos do aprender escolar e tempos não controláveis do sobrevi-
novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deverá ser incluído ver. Esta tensão é maior nos coletivos sociais submetidos a formas
no calendário escolar como dia nacional da consciência negra, tal de vida e de sobrevivência precarizadas. Como equacionar essas
como já é comemorado pelo movimento negro e por alguns setores tensões? Que tipo de organização escolar e que ordenamento tem-
da sociedade. A partir desta lei, o Conselho Nacional de Educação poral dos currículos e dos processos de ensinar-aprender serão os
aprovou a resolução 01 de 17 de março de 2004, que institui as mais adequados para garantir a permanência e o direito à educação
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Ét- de crianças, adolescentes, jovens e adultos submetidos a tempos
nico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira.
da vida tão precários? Serão os(as) educandos(as) que terão que
Nesse sentido, as escolas da educação básica poderão se orientar
se adequar aos tempos rígidos da escola ou estes terão que ser re-
a partir de um documento que discute detalhadamente o teor da
pensados em função das diversas vivências e controle dos tempos
lei, apresentando sugestões de trabalho e de práticas pedagógicas.
dos(as) educandos(as)?
Os Movimentos do Campo também têm conseguido, aos pou-
Propostas de escolas e de redes de ensino vêm tentando mino-
cos, transformar demandas em práticas e políticas educacionais
rar essas tensões tomando como critério o respeito à diversidade
(Arroyo, Caldart e Molina, 2004). Em 2002, o Conselho Nacional de
de vivências do tempo dos(as) alunos(as) e da comunidade. Nesse
Educação aprovou as Diretrizes Operacionais para a Educação Bá-
ponto tão nuclear, a diversidade indaga os currículos e as escolas:
sica nas Escolas do Campo, por meio da Resolução CNE/CEB n. 01,
de 03 de abril de 2002. A instituição das diretrizes é resultado das repensar seu ordenamento temporal como exigência da garantia do
lutas e reivindicações dos movimentos sociais e organizações que direito de todos(as) à educação.
lutam por uma educação que contemple a diversidade dos povos As pesquisas educacionais mostram que a rigidez desse orde-
que vivem no e do campo com suas diversas identidades, tais como, namento é uma das causas do abandono escolar de coletivos so-
Sem Terra, Pequenos Agricultores, Quilombolas, Povos da Floresta, ciais considerados como mais vulneráveis. Rever esses ordenamen-
Pescadores, Ribeirinhos, Extrativistas e Assalariados Rurais. tos temporais é uma exigência ética e política para a garantia do
A implementação das leis e das diretrizes acima citadas vem direito à diversidade.
somar às demandas destes e de outros movimentos sociais que se
mantêm atentos à luta por uma educação que articule a garantia A diversidade indaga os currículos e as escolas: repensar seu
dos direitos sociais e o respeito à diversidade humana e cultural. ordenamento temporal como exigência da garantia do direito de
No entanto, há que se indagar como, e se, esses avanços políticos todos(as) à educação.
têm sido considerados pelo campo do currículo, pelo currículo que
se realiza no cotidiano das escolas e pela ação pedagógica de uma A tendência da escola é flexibilizar os tempos somente para
maneira geral. aqueles alunos e alunas estigmatizados como lentos, desacelera-
Diversidade e organização dos tempos e espaços escolares - dos, desatentos e/ou com problemas de aprendizagem. Quando re-
Um currículo que respeita a diversidade precisa de um espaço/tem- fletimos sobre a lógica temporal, na perspectiva da diversidade cul-
po objetivo para ser concretizado. Nesse sentido, podemos indagar tural e humana, trazemos novas indagações e problematizações a
como a educação escolar tem equacionado a questão do tempo e esse tipo de raciocínio ainda tão presente nas escolas. Na realidade,
do espaço escolar. Eles são pensados levando em conta os coleti- a preocupação da escola deverá ser dar a todos(as) o devido tempo
vos diversos? O tempo/espaço escolar leva em conta os educandos de aprender, conviver, socializar, formar-se, consequentemente, ter
com deficiência ou aqueles que dividem o seu tempo entre escola, como critério na organização do currículo a produção de um tempo
trabalho e sobrevivência, os jovens e adultos trabalhadores da EJA escolar acolhedor e flexível que se aproxime cada vez mais da di-
etc? mensão cíclica e complexa das temporalidades humanas.

110
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O tempo para aprender não é um tempo curto. E, além disso, Compreender a percepção e utilização do espaço pelas crian-
a escola não é só um espaço/tempo de aprendizagem. Ela é tam- ças, adolescentes, jovens e adultos é um desafio para os(as) educa-
bém um espaço sociocultural e imprime marcas profundas no nos- dores(as) e uma questão a ser pensada quando reivindicamos uma
so processo de formação humana. Por isso, a organização escolar escola democrática e um currículo que contemple a diversidade. A
não pode ser reduzida a um tempo empobrecido de experiências construção de uma escola democrática implica em repensar as es-
pedagógicas e de vida. truturas e o funcionamento dos sistemas de ensino como um todo,
É preciso desnaturalizar o nosso olhar sobre o tempo escolar. como, por exemplo, reorganizar o coletivo dos(as) professores(as),
Como nos diz Miguel Arroyo (2004a), o tempo da escola é conflitivo criar tempos mais democráticos de formação docente e dos alunos,
porque é um tempo instituído, que foi durante mais de um século alterar a lógica e a utilização do espaço escolar e garantir uma justa
se cristalizando em calendários, níveis, séries, semestres, bimestres, remuneração aos educadores e educadoras.
rituais de transmissão, avaliação, reprovação, repetência. Entender Ao discutirmos sobre o espaço, fatalmente, o tempo escolar
a lógica institucionalizada do tempo escolar que se impõe sobre os/ será questionado. Para construir uma nova forma de organização
as alunos/as e professores(as) é fundamental para compreender dos tempos teremos que superar a ideia de um tempo linear, or-
muitos problemas crônicos da educação escolar. ganizado em etapas em ascensão, calcado na ideia de um percur-
É ainda este autor que nos diz que a compreensão das nuances so único para todos e da produtividade. É preciso pensar o tempo
e dos dilemas da construção do tempo da escola poderá nos aju- como processo, como construção histórica e cultural.
dar a corrigir os problemas de evasão, reprovação e repetência que A articulação entre currículo, tempos e espaços escolares pres-
atingem, sobretudo, os setores populares e os exclui da instituição supõe uma nova estrutura de escola que se articula em torno de
escolar. uma concepção mais ampla de educação, entendida como pleno
desenvolvimento dos(as) educandos (as). Só assim os(as) alunos(as)
O espaço escolar exprime uma determinada concepção e in- serão realmente considerados como o eixo da ação pedagógica e da
terpretação de sujeito social. Podemos dizer que a escola enquan- realização de toda e qualquer proposta de currículo. Dessa forma,
to instituição social se realiza, ao mesmo tempo, como um espaço os conteúdos escolares, a distribuição dos tempos e espaços esta-
físico específico e também sociocultural. rão interligados a um objetivo central: a formação e vivência socio-
cultural próprias das diferentes temporalidades da vida - infância,
Assim como o tempo, o espaço da escola também não é neutro pré- adolescência, adolescência, juventude e vida adulta.
e precisa passar por um processo de desnaturalização. O espaço
escolar exprime uma determinada concepção e interpretação de A avaliação poderá ser realizada de forma mais coletiva e
sujeito social. Podemos dizer que a escola enquanto instituição so- com o objetivo de acompanhamento do processo de construção
cial se realiza, ao mesmo tempo, como um espaço físico específico do conhecimento dos(as) aluno(as) nas suas múltiplas dimensões
e também sociocultural. humanas e não como instrumento punitivo ou como forma de
No que concerne ao espaço físico da escola, é importante re- “medir o desempenho escolar”.
fletir que ele exprime uma determinada concepção e interpretação
de sujeito social. Como será a organização dos nossos espaços es- Em consequência, o tempo escolar poderá ser organizado de
colares? Será que o espaço da escola é pensado e ressignificado no maneiras diversas, como, por exemplo, em fluxos mais flexíveis,
sentido de garantir o desenvolvimento de um senso de liberdade, mais longos e mais atentos às múltiplas dimensões da formação
de criatividade e de experimentação? Será que a forma como or- dos sujeitos. Além disso, os critérios do que seja precedente, do
ganizamos o espaço possibilita ao aluno e à aluna interagir com o que seja reprovável/aprovável, fracasso/ sucesso serão redefinidos
ambiente, arranjar sua sala de aula, alterá-la esteticamente, mo- a fim de garantir aos alunos e às alunas o direito a uma educação
vimentar-se com tranquilidade e autonomia? Ou o espaço entra que respeite a diversidade cultural e os sujeitos nas suas tempora-
como um elemento de condicionamento e redução cultural de nos- lidades humanas.
sas crianças, adolescentes e jovens? Nesse processo, os instrumentos tradicionais da avaliação es-
Enquanto espaço sociocultural, a escola participa dos proces- colar e a própria concepção de avaliação que ainda imperam na es-
sos de socialização e possibilita a construção de redes de sociabi- cola também serão indagados. A avaliação poderá ser realizada de
lidade a partir da inter-relação entre as experiências escolares e forma mais coletiva e com o objetivo de acompanhamento do pro-
aquelas que construímos em outros espaços sociais, tais como a cesso de construção do conhecimento dos(as) aluno(as) nas suas
vida familiar, o trabalho, os movimentos sociais e organizações da múltiplas dimensões humanas e não como instrumento punitivo ou
sociedade civil e as manifestações culturais. como forma de “medir o desempenho escolar”.
Pensar o espaço da escola é considerar que o mesmo será ocu- Finalizando, é importante considerar que o questionamento
pado, apropriado e alterado por sujeitos sociais concretos: crianças, às lógicas e práticas cristalizadas e endurecidas de organização dos
adolescentes, jovens e adultos. Esses mesmos sujeitos, no decorrer tempos/ espaços escolares faz parte das lutas e conquistas da cate-
das suas temporalidades humanas, interagem com o espaço e com goria docente que, historicamente, vem apontando para a neces-
o tempo de forma diferenciada. sidade de uma redefinição e organização da escola a qual inclui,
Será que essa tem sido uma preocupação da educação escolar? também, a denúncia aos tempos mal remunerados, autoritários,
Será que ao pensarmos a gestão da escola consideramos a organiza- extenuantes e alienantes. Portanto, no tempo da escola estão em
ção dos espaços escolares como uma questão relevante? Será que jogo direitos dos profissionais da educação, dos pais, mães e dos
exploramos o conteúdo histórico e político imerso na arquitetura alunos e alunas. O movimento dos(as) trabalhadores(as) da edu-
escolar? cação e os movimentos sociais vêm lutando por maior controle e

111
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

alargamento do tempo de escola, assim como os(as) jovens e adul- taylorismo, assim como das teorias administrativas que o tomaram
tos(as) trabalhadores(as) lutam por adequar o tempo rígido do tra- como referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência
balho a um tempo mais flexível de educação. foram o planejamento e o controle do processo de trabalho.
Parafraseando Boaventura de Sousa Santos, ao discutir a rela- Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo de
ção entre diversidade e organização dos tempos e espaços esco- planejamento no campo educacional decorrem, em boa medida,
lares, podemos dizer que estamos diante de questões fortes que das marcas deixadas pelos modelos de organização do trabalho
indagam o currículo das nossas escolas e por isso exigem respostas voltados, essencialmente, para a busca de uma maior produtivida-
igualmente fortes e ágeis. de, eficiência e eficácia da gestão e do funcionamento da escola.
Isso secundariza os processos participativos, de trabalho coletivo e
Concluindo... do compromisso social, requeridos pela perspectiva da gestão de-
A diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças. mocrática da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das
Ao entrarmos nesse campo, estamos lidando com a construção his- concepções de planejamento orientadas pelo horizonte do plane-
tórica, social e cultural das diferenças a qual está ligada às relações jamento tradicional ou normativo e do planejamento estratégico.
de poder, aos processos de colonização e dominação. Portanto, ao Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a pers-
falarmos sobre a diversidade (biológica e cultural) não podemos pectiva do planejamento participativo.
desconsiderar a construção das identidades, o contexto das desi-
gualdades e das lutas sociais. O planejamento tradicional ou normativo
A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas lógicas, a sua O planejamento tradicional ou normativo trabalha em uma
organização espacial e temporal. No entanto, é importante destacar perspectiva em que o planejamento é definido como mecanismo
que as indagações aqui apresentadas e discutidas não são produtos por meio do qual se obteria o controle dos fatores e das variáveis
de uma discussão interna à escola. São frutos da inter-relação entre que interferem no alcance dos objetivos e resultados almejados.
escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre Nesse sentido, ele assume um caráter determinista em que o objeto
escola e movimentos sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se do plano, a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em
contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. tese, tende a se submeter às mudanças planejadas.
É entender a educação como um direito social e o respeito à diver- Ao lado dessas características, outros elementos marcam o pla-
sidade no interior de um campo político. nejamento normativo:
Muito trabalho temos pela frente! No entanto, várias iniciati- - Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já estrutura-
vas significativas vêm sendo realizadas. Algumas delas são frutos dos, na estrutura organizacional da instituição, no preenchimento
de práticas educativas transgressoras realizadas pelos docentes de fichas e formulários, o que reduz o processo de planejamento a
em movimento, pelos profissionais de várias Secretarias Estaduais um mero formalismo.
- O planejador é visto como o principal agente de mudança,
e Municipais de educação e por gestores(as) das escolas que en-
desconsiderando-se os fatores sociais, políticos, culturais que en-
tendem que o direito à educação será realmente pleno à medida
gendram a ação, o que se traduz numa visão messiânica daquele
em que também seja assegurado aos sujeitos que participam desse
que planeja. Essa visão do planejador geralmente conduz a certo
processo o direito à diferença.
voluntarismo utópico.
- Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma secundari-
CONCEPÇÕES; PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO; zação das dimensões social, política, cultural da realidade, por ou-
TEORIAS tro lado, prevalece a tendência de se explicar essa realidade e as
mudanças que nela acontecem como resultantes, basicamente, da
dimensão econômica que a permeia.
Planejamento: concepções
O planejamento não deve ser tomado apenas como mais um O planejamento estratégico
procedimento administrativo de natureza burocrática, decorrente O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu den-
de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância ex- tro de uma concepção de administração estratégica que se articula
terna à instituição. Ao contrário, ele deve ser compreendido como aos modelos e padrões de organização da produção, construídos
mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos, no contexto das mudanças do mundo do trabalho e da acumulação
segmentos e setores que constituem essa instituição e participam flexível, a partir da segunda metade do século XX. Essa concepção
da mesma. de administração e de planejamento procura definir a direção a ser
A preocupação com o planejamento se desenvolveu, principal- seguida por determinada organização, especialmente no que se
mente, no mundo do trabalho, no contexto das teorias administra- refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas fun-
tivas do campo empresarial. cionais, à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos objetivos
Essas teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de funcionais, sempre com vistas a um maior grau de interação dessa
administração, que têm influenciado o campo da administração organização com o ambiente.
escolar. Para muitos teóricos e profissionais, os princípios por elas Essa interação com o ambiente, no entanto, é compreendida
defendidos seriam aplicáveis em qualquer campo da vida social e como a análise das oportunidades e ameaças do meio ambiente, de
ou do setor produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola. forma a estabelecer objetivos, estratégias e ações que possibilitem
Essa influência deixa suas marcas também no que se refere ao um aumento da competitividade da empresa ou da organização.
planejamento, à medida que o mesmo assumiu uma centralidade Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o pla-
cada vez maior, a partir dos princípios e métodos definidos por nejamento dentro um modelo de decisão unificado e homogeneiza-
Taylor e os demais teóricos que o seguiram. Isso porque, a partir do dor, que pressupõe os seguintes elementos básicos:

112
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- determinação do propósito organizacional em termos de va- A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir os se-
lores, missão, objetivos, estratégias, metas e ações, com foco em guintes elementos básicos que definem e caracterizam o planeja-
priorizar a alocação de recursos mento participativo:
- análise sistemática dos pontos fortes e fracos da organização, - Distanciam-se daqueles modelos de organização do traba-
inclusive com a descrição das condições internas de resposta ao lho que separa, no tempo e no espaço, quem toma as decisões de
ambiente externo e à forma de modificá-las, com vistas ao fortale- quem as executa,
cimento dessa organização - Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente Projeto
- delimitação dos campos de atuação da organização Vivencial) enquanto ação de forma refletida, pensada,
- engajamento de todos os níveis da organização para a conse- - Pressupõem a unidade entre pensamento e ação,
cução dos fins maiores. - O poder é exercido de forma coletiva,
- Implicam a atuação permanente e organizada de todos os
Em contraposição a esses modelos de planejamento, a pers- segmentos envolvidos com o trabalho educativo,
pectiva da gestão democrática da educação e da escola pressupõe - Constituem-se num avanço, na perspectiva da superação da
o planejamento participativo como concepção e modelo de plane- organização burocrática do trabalho pedagógico escolar, assentado
jamento. O planejamento participativo deve, pois, enquanto me- na separação entre teoria e prática.
todologia de trabalho, constituir a base para a construção e para a
realização do Projeto Políticopedagógico da escola. O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação so-
O planejamento participativo não possui um caráter meramen- cial colocam, pois, o planejamento participativo como perspectiva
te técnico e instrumental, à medida que parte de uma leitura de fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão demo-
mundo crítica, que apreende e denuncia o caráter excludente e de crática da escola. Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo
injustiça presente em nossa realidade. As características de tal rea- de planejamento se constituem como a base para a construção do
lidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou da Projeto Políticopedagógico da escola.
impossibilidade de participação e do fato de a atividade humana O planejamento participativo implica, ainda, o aprofundamen-
acontecer em todos os níveis e aspectos. Nessa perspectiva, a parti- to crescente, a discussão e a reflexão sobre o tema da participação.
cipação se coloca como requisito fundamental para uma nova edu- Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto Vivencial, importan-
cação, uma nova escola, uma nova ordem social, uma participação tes elementos são destacados também.
que pressupõe e aponta para a construção coletiva da escola e da
própria sociedade. Referência:
O planejamento participativo na educação e na escola traz con- SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Escolar. Planeja-
sigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o trabalho coletivo e o mento: concepções. Escola de gestores. MEC.
compromisso com a transformação social.
O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da
PLANEJAMENTO DE ENSINO
escola. É preciso que os diferentes segmentos e atores que cons-
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário ainda
troem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões
mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o ensino, tem
e significados. Isso porque o caráter educativo da escola não resi-
como principal função garantir a coerência entre as atividades que
de apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e
o professor faz com seus alunos e, além disso, as aprendizagens que
aprendizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que
pretende proporcionar a eles. Então, pode-se dizer que a forma de
aí se desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteúdos que
planejar deve focar a relação entre o ensinar e o aprender.
transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se
Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvolver um
desenvolve acontece também nos momentos e espaços de diálogo,
processo de decisão sobre a atuação concreta por parte dos pro-
de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores, nas
práticas e modelos de gestão vivenciados. fessores, na sua ação pedagógica, envolvendo ações e situações
De outra parte, o compromisso com a transformação social do cotidiano que acontecem através de interações entre alunos e
coloca como horizonte a construção de uma sociedade mais justa, professores.
solidária e igualitária, e uma das tarefas da educação e da escola é O professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe
contribuir para essa transformação. que deve participar, elaborar e organizar planos em diferentes ní-
Por certo, como já analisamos em outros momentos neste cur- veis de complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo en-
so, a escola pode desempenhar o papel de instrumento de repro- volvimento no processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular a
dução do modelo de sociedade dominante, à medida que reproduz participação do aluno, a fim de que este possa, realmente, efetuar
no seu interior o individualismo, a fragmentação social e uma com- uma aprendizagem tão significativa quanto o permitam suas possi-
preensão ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e bilidades e necessidades.
do próprio homem. O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resultados
Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com a desejáveis, assim como também os meios necessários para os al-
transformação social implicam uma nova compreensão do conhe- cançar. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande parte da
cimento, tomado agora como saber social, construção histórica, eficácia de seu ensino depende da organicidade, coerência e flexibi-
instrumento para compreensão e intervenção crítica na realidade. lidade de seu planejamento.
Concebem o homem na sua totalidade e, portanto, visam a sua for- O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho do pro-
mação integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estética, fessor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior neste texto.
cultural, política, entre outras.

113
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fases do planejamento de ensino e sua importância no pro- Fases do Planejamento


cesso de ensino-aprendizagem
O planejamento faz parte de um processo constante através Diagnóstico da Realidade:
do qual a preparação, a realização e o acompanhamento estão inti- Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de aten-
mamente ligados. Quando se revisa uma ação realizada, prepara-se der as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude a fazer, é
uma nova ação num processo contínuo e sem cortes. No caso do “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer com certeza o que
planejamento de ensino, uma previsão bem-feita do que será reali- seu paciente tem, examina-o, fazendo um “diagnóstico” do seu pro-
zado em classe, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfei- blema. E, da mesma forma, deve acontecer com a prática de ensi-
çoa a prática pedagógica do professor. Por isso é que o planejamen- no: o professor deve fazer uma sondagem sobre a realidade que se
to deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que não se encontram os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que
torne um ato meramente burocrático, como acontece em muitas estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar o seu
escolas. A maneira de se planejar não deve ser mecânica, repetitiva, trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns
pelo contrário, na realização do planejamento devem ser considera- aspectos, tais como:
dos, combinados entre si, os seguintes aspectos: - as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim de me-
1) Considerar os alunos não como uma turma homogênea, mas lhor orientar suas realizações e sua integração à comunidade;
a forma singular de apreender de cada um, seu processo, suas hipó- - a realidade de cada aluno em particular, objetivando oferecer
teses, suas perguntas a partir do que já aprenderam e a partir das condições para o desenvolvimento harmônico de cada um, satisfa-
suas histórias; zendo exigências e necessidades biopsicossociais;
2) Considerar o que é importante e significativo para aquela - os pontos de referência comuns, envolvendo o ambiente es-
turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte deve ser feito na colar e o ambiente comunitário;
História para escolher temáticas e que atividades deverão ser im- - suas próprias condições, não só como pessoa, mas como pro-
plementadas, considerando os interesses do grupo como um todo. fissional responsável pela orientação adequada do trabalho escolar.

Para considerar os conhecimentos dos alunos é necessário pro- A partir da análise da realidade, o professor tem condições de
por situações em que possam mostrar os seus conhecimentos, suas elaborar seu plano de ensino, fundamentado em fatos reais e signi-
hipóteses durante as atividades implementadas, para que assim ficativos dentro do contexto escolar.
forneçam pistas para a continuidade do trabalho e para o planeja-
mento das ações futuras. Definição do tema e preparação:
É preciso pensar constantemente para quem serve o planeja- Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode iniciar o
mento, o que se está planejando e para quê vão servir as suas ações. seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode ser escolhido
Algumas indagações auxiliam quando se está construindo um pelo professor, através do julgamento da necessidade de aplicação
planejamento. Seguem alguns exemplos: do mesmo, ou decidido juntamente com os alunos, a partir do in-
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem? teresse deles. Planejar dentro de uma temática, denota uma preo-
- Que objetivos pretendem-se alcançar? cupação em não fragmentar os conhecimentos, tornando-os mais
- Que meios/estratégias são utilizados para alcançar tais obje-
significativos.
tivos?
Na fase de preparação do planejamento são previstos todos os
- Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos?
passos que farão parte da execução do trabalho, a fim de alcançar a
- Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
concretização e o desenvolvimento dos objetivos propostos, a par-
tir da análise do contexto da realidade. Em outras palavras, pode-se
É a partir destas perguntas e respectivas respostas que são de-
dizer que esta é a fase da decisão e da concretização das ideias.
terminadas algumas fases dentro do planejamento:
A tomada de decisão é que respalda a construção do futuro
- Diagnóstico da realidade;
segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] A tomada de
- Definição do tema e Fase de preparação;
- Avaliação. decisão corresponde, antes de tudo, ao estabelecimento de um
compromisso de ação sem a qual o que se espera não se conver-
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir que terá em realidade. Cabe ressaltar que esse compromisso será tanto
tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacio- mais sólido, quanto mais seja fundamentado em uma visão crítica
nal é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo da realidade na qual nos incluímos. A tomada de decisão implica,
de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final portanto, nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas
que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir as situações vislumbradas no plano das ideias.
essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabe- Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente os ob-
lecido; executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e jetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos. Também são
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das selecionados e organizados os conteúdos, os procedimentos de en-
ações, bem como cada um dos documentos deles derivados”(GAN- sino, as estratégias a serem utilizadas, bem como os recursos, sejam
DIN, 2005, p.23). eles materiais e/ou humanos.

Avaliação
É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á:
a) demonstrar que a ação produz alguma diferença quanto ao
desenvolvimento dos alunos;

114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

b) promover o aprimoramento da ação como consequência Essa forma de planejar considera a processualidade da apren-
de sugestões resultantes da avaliação. Além disso, toda avaliação dizagem cujo avanço no processo se dá a partir de desafios e pro-
deve estar intimamente ligada ao processo de preparação do plane- blematizações. Para tanto, é necessário, além de considerar os
jamento, principalmente com seus objetivos. Não se espera que a conhecimentos prévios, compreender o seu pensamento sobre as
avaliação seja simplesmente um resultado final, mas acima de tudo, questões propostas em sala de aula.
seja analisada durante todo o processo; é por isso que se deve pla- O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza seus
nejar todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo em esquemas de conhecimento, quando os compara com o que é novo,
termos dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa quando estabelece relações entre o que está aprendendo com o
ser atingível pelo aluno. As atividades devem ser coerentes com os que já sabe. E, isso exige que o professor proponha atividades que
objetivos propostos, para facilitar o processo avaliativo e devem ser instiguem a curiosidade, o questionamento e a reflexão frente aos
elaborados instrumentos e estratégias apropriadas para a verifica- conteúdos. Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um
ção dos resultados. papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do aluno,
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada à práti- intervindo pedagogicamente na construção que o mesmo realiza.
ca do professor, o que faz com que aumente a responsabilidade em Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar o plane-
bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação dizendo que: jamento como ferramenta básica e eficaz, a fim de fazer suas inter-
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um processo venções na aprendizagem do aluno. É através do planejamento que
de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte-se do planeja- são definidos e articulados os conteúdos, objetivos e metodologias
mento para agir na realidade sobre a qual se planejou, analisam-se são propostas e maneiras eficazes de avaliar são definidas. O plane-
os resultados, corrige-se o planejado e retorna-se à ação para pos- jamento de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá-
teriormente ser esta novamente avaliada. tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa prática,
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o planeja- que acontece com a aprendizagem do aluno.
mento de ensino, pois é através dela que se percebem os progres- Se de fato o objetivo do professor é que o aluno aprenda, atra-
sos dos alunos, descobrem-se os aspectos positivos e negativos que vés de uma boa intervenção de ensino, planejar aulas é um compro-
surgem durante o processo e busca-se, através dela, uma constante misso com a qualidade de suas ações e a garantia do cumprimento
melhoria na elaboração do planejamento, melhorando consequen- de seus objetivos.
temente a prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portan-
to, ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz com que Referência:
o grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e determine a KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como
continuidade do processo, com ou sem modificações no conteúdo Ferramenta Básica do Processo Ensino-Aprendizagem. UNICENTRO
ou na programação”. - Revista

Importância do planejamento no processo de ensino-apren-


dizagem FUNDAMENTOS E RECURSOS PEDAGÓGICOS PARA
Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se desloca- INCLUSÃO: ACESSIBILIDADE, TECNOLOGIA ASSISTIVA,
do para a questão de como se aprende. Frequentemente ouvia-se DESENHO UNIVERSAL
por parte dos professores, a seguinte expressão: “ensinei bem de
acordo com o planejado, o aluno é que não aprendeu”. Esta expres-
são era muito comum na época da corrente tecnicista, em que se Acessibilidade
privilegiava o ensino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refle- A acessibilidade é entendida, de acordo com o Conselho Na-
tindo sobre a questão da construção do conhecimento, o questiona- cional do Ministério Público (CNMP) como “a possibilidade e con-
mento foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem. dição de alcance, percepção e entendimento para a utilização, em
No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pensar na igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, do meio
questão do aprendizado. Se realmente há a preocupação com a físico, do transporte, da informação e da comunicação, inclusive dos
aprendizagem, deve-se questionar se a forma como se planeja tem sistemas e tecnologias de informação e comunicação, bem como
em mente também o ensino, ou seja, deve haver uma correlação de outros serviços e instalações. Para as pessoas com deficiência
entre ensino-aprendizagem. e mobilidade reduzida, a acessibilidade possibilita uma vida inde-
A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de uma vi- pendente e com participação plena em todos os seus aspectos; e
são construtivista como um resultado do esforço de encontrar sig- para todas as pessoas, em diferentes contextos, pode proporcionar
nificado ao que se está aprendendo. E esse esforço é obtido através maior conforto, facilidade de uso, rapidez, satisfação, segurança e
da construção do conhecimento que acontece com a assimilação, eficiência.”
a acomodação dos conteúdos e que são relacionados com antigos
conhecimentos que constantemente vão sendo reformulados e/ou Tecnologia Assistiva (TA)
“reesquematizados” na mente humana. O princípio da tecnologia assistiva baseia-se em criar soluções
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em conta que atendam particularidades do indivíduo, complementando o
os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendizagem a partir da desenho universal para a aprendizagem.
necessidade, do conflito, da inquietação e do desequilíbrio tão fa- O objetivo da TA é ampliar a comunicação, a qualidade de vida,
lado na teoria de Piaget. E é aí que o professor, como mediador a mobilidade e a interação social da pessoa portadora de deficiên-
do processo de ensino-aprendizagem, precisa definir objetivos e os cia, ampliando suas possibilidades de estudar, trabalhar e se rela-
rumos da ação pedagógica, responsabilizando-se pela qualidade do cionar com familiares, amigos e com a sociedade como um todo.
ensino.

115
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A TA se apresenta em categorias: auxílios para a vida diária; comunicação aumentativa e alternativa (CAA); recursos de acessibilidade
ao computador; sistemas de controle do ambiente; projetos arquitetônicos para acessibilidade; órteses e próteses; adequação postural;
auxílios de mobilidade; auxílios para cegos ou com visão subnormal; auxílios para surdos ou com déficit auditivo; adaptações em veículos.

Categorias de TA Exemplos
Auxílios para a vida diária Comer, tomar banho, cozinhar etc.
Recursos que auxiliem pessoas com problemas de
Comunicação aumentativa e alternativa (CAA) fala
Teclados especiais, reconhecedores de voz, teclado
Recursos de acessibilidade ao computador em Braille
Sistemas de controle do ambiente Controles remotos
Instalação de barras de apoio, rampas, alargamento
Projetos arquitetônicos para acessibilidade de portas
Substituição de partes do corpo e outros recursos
Órteses e próteses ortopédicos
Adaptações para cadeira de rodas e outros como
Adequação postural almofadas, visando conforto e bem-estar
Auxílios de mobilidade Cadeiras de roda, andadores, bengalas
Lupas, lentes, equipamentos com síntese de voz,
Auxílios para cegos ou com visão subnormal cães guia.
Auxílios para surdos ou com déficit auditivo Aparelhos para surdez, telefones com teclado
Adaptações em veículos Rampas, elevadores, rearranjo de pedais etc.

Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA)


O conceito de desenho universal foi criado por um grupo de arquitetos que pensavam em designs funcionais para produtos e ambien-
tes a fim de atender o maior número de pessoas possível.
Os professores, ao terem que contemplar em suas aulas, públicos cada vez mais heterogêneos, começaram a pensar num modelo
de desenho universal voltado para aprendizagem. O DUA foi desenvolvido em Harvard por um grupo de professores, liderado por David
Rose e baseia-se num modelo prático que visa ampliar as oportunidades de desenvolvimento dos alunos, a partir de um planejamento
pedagógico contínuo, aliado ao uso de dispositivos de mídias digitais.
Com isso, o professor, que dentro desse modelo, ressignifica seu papel, mudando o conceito de detentor da informação para passar a
exercer um papel de tutor, facilitador, diversificando os materiais e métodos pedagógicos e introduzindo recursos que atendam de maneira
mais apropriada, o perfil de cada estudante.

O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Especial, considerando a Constituição Federal de 1988, que esta-
belece o direito de todos a educação; a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008; e
o Decreto Legislativo nº 186, de julho de 2008, que ratifica a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), institui
as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado - AEE na educação básica, regulamentado
pelo do Decreto nº 6.571, de 18 de setembro de 2008.

Do atendimento educacional especializado - AEE


A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacio-
nal especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas
comuns do ensino regular.
Os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, os com transtornos globais do desenvolvimento e os com altas
habilidades/superdotação nas escolas comuns do ensino regular e ofertar o atendimento educacional especializado - AEE, promovendo o
acesso e as condições para uma educação de qualidade.
O atendimento educacional especializado - AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibi-
lidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas.

116
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação a. Sala de recursos multifuncional: espaço físico, mobiliários,
dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e
fora dela. Consideram-se serviços e recursos da educação especial equipamentos específicos;
àqueles que asseguram condições de acesso ao currículo por meio b. Matrícula do aluno no AEE: condicionada à matrícula no ensi-
da promoção da acessibilidade aos materiais didáticos, aos espaços no regular da própria escola ou de outra escola;
e equipamentos, aos sistemas de comunicação e informação e ao c. Plano do AEE: identificação das necessidades educacionais
conjunto das atividades escolares. específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das ati-
Para o atendimento às necessidades específicas relacionadas vidades a serem desenvolvidas; cronograma de atendimento dos
às altas habilidades/superdotação são desenvolvidas atividades de alunos;
enriquecimento curricular nas escolas de ensino regular em articu- d. Professor para o exercício da docência do AEE;
lação com as instituições de educação superior, profissional e tec- e. Profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua
nológica, de pesquisa, de artes, de esportes, entre outros. Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuam no apoio às
Nos casos de escolarização em classe hospitalar ou em ambien- atividades de alimentação, higiene e locomoção.
te domiciliar, o AEE é ofertado aos alunos público-alvo da educação f. Articulação entre professores do AEE e os do ensino comum.
especial, de forma complementar ou suplementar. O AEE é realiza- g. Redes de apoio: no âmbito da atuação intersetorial, da forma-
do, prioritariamente, na Sala de Recursos Multifuncionais da pró- ção docente, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre
pria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso outros que contribuam para a realização do AEE.
da escolarização, podendo ser realizado, também, em centro de
atendimento educacional especializado público ou privado sem fins A oferta do atendimento educacional especializado - AEE, no
lucrativos, conveniado com a Secretaria de Educação. centro de atendimento educacional especializado público ou pri-
vado sem fins lucrativos conveniado para essa finalidade, deve
Do público-alvo constar no projeto pedagógico do centro, contemplando na sua
Considera-se público-alvo do AEE: organização os recursos, o plano de AEE, os professores e demais
a. Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de profissionais, conforme orientação da Secretaria de Educação.
longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial, os Os centros de atendimento educacional especializados devem
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua cumprir as normativas estabelecidas pelo Conselho de Educação do
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi- respectivo sistema de ensino, quanto a sua autorização de funcio-
ções com as demais pessoas. namento, em consonância com as orientações preconizadas nestas
b. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aque- Diretrizes.
les que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento
neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na co- Da formação e atribuições do professor
municação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição Para atuação no AEE, o professor deve ter formação inicial que o
alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de habilite para o exercício da docência e formação específica na edu-
Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos cação especial, inicial ou continuada.
invasivos sem outra especificação. São atribuições do professor do atendimento educacional es-
c. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que pecializado:
apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as a. Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos
áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelec- pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as neces-
tual, acadêmica, liderança, psicomotora, artes e criatividade. sidades específicas dos alunos público-alvo da educação especial;
b. Elaborar e executar plano de atendimento educacional espe-
Do financiamento cializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos
De acordo com o Decreto n. 6.571/08, os alunos público alvo pedagógicos e de acessibilidade;
da educação especial serão contabilizados duplamente no FUNDEB, c. Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na
quando tiverem matrícula em classe comum de ensino regular da sala de recursos multifuncional;
rede pública e matrícula no atendimento educacional especializado d. Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos
- AEE, conforme registro no Censo escolar/ MEC/INEP do ano ante- pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino
rior. Dessa forma, são contempladas: regular, bem como em outros ambientes da escola;
a. Matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncio- e. Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elabo-
nal da mesma escola pública; ração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibi-
b. Matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncio- lidade;
nal de outra escola pública; f. Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos
c. Matrícula na classe comum e no centro de atendimento edu- e de acessibilidade utilizados pelo aluno;
cacional especializado público; g. Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as
d. Matrícula na classe comum e no centro de atendimento edu- tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alterna-
cacional especializado privado sem fins lucrativos. tiva e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos
ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e lingua-
Da institucionalização do AEE gens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; de
A oferta do atendimento educacional especializado - AEE deve forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo
constar no Projeto Pedagógico da escola de ensino regular, preven- autonomia, atividade e participação.
do na sua organização:

117
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

h. Estabelecer articulação com os professores da sala de aula Mas acima de tudo, a escola tem a tarefa de ensinar os alunos a
comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pe- compartilharem o saber, os sentidos diferentes das coisas, as emo-
dagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a ções, a discutir, a trocar pontos de vista. É na escola que desenvol-
participação dos alunos nas atividades escolares. vemos o espírito crítico, a observação e o reconhecimento do outro
i. Promover atividades e espaços de participação da família e a em todas as suas dimensões.
interface com os serviços setoriais da saúde, da assistência social, Em suma, a escola comum tem um compromisso primordial e
entre outros. insubstituível: introduzir o aluno no mundo social, cultural e cien-
tífico; e todo o ser humano, incondicionalmente tem direito a essa
introdução.
ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLA COMUM E EDUCAÇÃO
ESPECIAL: AÇÕES E RESPONSABILIDADES COMPARTI- A escola especial: seu compromisso educacional
LHADAS.
A escola especial foi criada para substituir a escola comum no
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A DEFICI- atendimento a alunos com deficiência, assumindo o compromisso
ÊNCIA MENTAL da escola comum, sem uma definição clara do seu. É importante
esclarecer, que houve um tempo em que se entendia que esses alu-
23
A escola comum - seu compromisso educacional nos não eram capazes de arcar com o compromisso primordial da
escola comum de serem introduzidos no mundo social, cultural e
A ciência é a base de toda construção do conhecimento acadê- científico, a não ser em condições muito específicas e fora dessa
mico e a escola comum opera com esse saber universal, produzido escola.
e reproduzido, em detrimento do saber particular. Ela amplia todo e Entendia-se que esses alunos necessitavam de condições esco-
qualquer conhecimento que o aluno traz da sua experiência pesso- lares especiais o que incluía currículos e ensino adaptados, número
al, social e cultural e procura meios de fazer com que o aluno supere menor de alunos por turma, professores especializados e outras
o senso comum. A escola tem o dever de não se contentar apenas condições particulares de organização pedagógica do processo edu-
com o que o aluno já sabe, estimulando-o a prosseguir no entendi- cacional. Assim sendo dada a essa composição específica, a escola
mento de um fenômeno, ou de um objeto e de torná-lo capaz de especial sempre enfrentou o impossível: substituir adequadamente
distinguir o que estuda do que já sabe em uma ou várias áreas do o compromisso da escola comum. Por sua vez, a insistência em bus-
conhecimento. car uma substituição impossível, foi descaracterizando-a e impedin-
Na escola a construção do conhecimento é predefinida, inten- do-a de construir uma identidade própria, no correr dos tempos.
cional e deliberada. Tanto o aluno quanto o professor têm objetivos O advento da inclusão escolar denunciou nitidamente essa im-
escolares explícitos que precisam ser alcançados. Eles perseguem possibilidade, provocando muitas dúvidas sobre o papel da escola
metas e ações, num dado período de tempo - o ano letivo, o espa- especial e até mesmo sobre a sua continuidade. Já com o movi-
ço de um planejamento, de uma aula, enfim, um período que será mento da integração escolar isso não aconteceu de forma tão ca-
preenchido de ações propositalmente sistematizadas para o fim a tegórica.
que se propõem. De fato, a inserção parcial e condicional dos alunos com defi-
Há que se levar em conta as escolhas do professor para ensinar ciência nas escolas comuns manteve as escolas e classes especiais
e as do aluno para aprender. Essas escolhas não são espontâneas, na mesma posição. Cabialhes ainda substituir a escola comum, em-
aleatórias, mas demandam decisão, seleção de um caminho de bora com caráter transitório, acreditava-se que a passagem desses
aprendizagem, de uma metodologia de ensino, do uso de recursos alunos por seus cursos fosse necessária, para que conseguissem se
didático-pedagógicos. Da parte do aluno, essa escolha é mais limi- integrar no ensino regular.
tada, pois o professor, por mais que seja aberto e acessível ao modo Pode-se dizer que, com esse movimento, as escolas especiais
de aprender do aluno, não está ensinando individualmente, mas não foram completamente questionadas em suas funções e organi-
desenvolvendo um trabalho pedagógico coletivamente organizado, zação pedagógica, embora já tivessem seu compromisso primordial
que tem limites para essas diferenças. abalado.
A escola é a instituição responsável pela passagem da vida par- Diante da inclusão, o desafio das escolas comum e especial é
ticular e familiar para o domínio público, tendo assim uma função o de tornar claro o papel de cada uma, pois uma educação para
social reguladora e formativa para os alunos. O conhecimento nela todos, não nega nenhuma delas. Se os compromissos educacionais
produzido é revestido de valores éticos, estéticos e políticos, aos dessas não são sobrepostos, nem substituíveis, cabe a escola espe-
quais os alunos têm de estar identificados e por mais que a esco- cial complementar a escola comum, atuando sobre o saber particu-
la seja “liberal” e descarte modelos totalizadores e coercitivos de lar que invariavelmente vai determinar e possibilitar a construção
ensino e de gestão, sua função social jamais será descartada. Ela do saber universal.
precisa assumir um compromisso com as mudanças sociais, com o
aprimoramento das relações entre os concidadãos, com o cuidado O atendimento educacional especializado
e respeito em relação ao mundo físico e aos bens culturais que nos
circundam. Ora, se a escola comum tem como compromisso difundir o
saber universal, certamente terá de saber lidar com o que há de
particular na construção desse conhecimento para alcançar o seu
objetivo. Mas ainda assim, terá limitações naturais para tratar com
o que há de subjetivo nessa construção com alunos com deficiên-
23 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defmental.pdf cia, principalmente com a deficiência mental. Esse fato já aponta e

118
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

demonstra a necessidade de existir um espaço para esse fim, que (Assante, 2000). A ideia dessa proposta é a de mostrar a vantagem
não seja eminentemente clínico e que resguarde uma característica de integrar os efeitos do meio nas apreciações da capacidade de
tipicamente educacional. autonomia de uma pessoa com deficiência. Em consequência uma
Para esse fim, está previsto na Constituição de 1988 o atendi- pessoa pode sentir uma discriminação em um meio que constitui
mento educacional especializado aos portadores de deficiência, para ela barreiras que apenas destacam a sua deficiência, ou ao
para o que antes era definido como Educação Especial e todas as contrário ter acesso a esse meio, graças às transformações deste
suas formas de intervenção. para atender as suas necessidades.
Em seu Artigo 208, a Constituição determina que esse atendi- A Convenção da Guatemala, internalizada à Constituição Bra-
mento ocorra, preferencialmente, na rede regular de ensino. sileira pelo Decreto 3956/2001, no seu artigo 1º define deficiência
É importante esclarecer que: como [...] “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza
a) esse atendimento refere-se ao que é necessariamente dife- permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma
rente da educação em escolas comuns e que é necessário para me- ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada
lhor atender às especificidades dos alunos com deficiência, comple- pelo ambiente econômico e social”. Essa definição ratifica a defici-
mentando a educação escolar e devendo estar disponível em todos ência como uma situação.
os níveis de ensino; A deficiência mental constitui um impasse para o ensino na es-
b) é um direito de todos os alunos com deficiência que necessi- cola comum e para a definição do seu atendimento especializado,
tarem dessa complementação e precisa ser aceito por seus pais ou pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e va-
responsáveis e/ou pelo próprio aluno; riedades de abordagens do mesmo.
c) o “preferencialmente” na rede regular de ensino significa que A dificuldade em se detectar com clareza os diagnósticos de de-
esse atendimento deve acontecer prioritariamente nas unidades ficiência mental tem levado a uma série de definições e revisões do
escolares, sejam elas comuns ou especiais, devidamente autori-
seu conceito. A medida do coeficiente de inteligência (QI) foi utili-
zadas e regidas pela nossa lei educacional. A Constituição admite
zada durante muitos anos como parâmetro de definição dos casos.
ainda que o atendimento educacional especializado pode ser ofe-
O próprio CID 10 (Código Internacional de Doenças, desenvolvida
recido fora da rede regular de ensino, já que é um complemento
pela Organização Mundial de Saúde), ao especificar o Retardo Men-
e não um substitutivo do ensino ministrado na escola comum para
todos os alunos; tal (F70-79) propõe uma definição ainda baseada no coeficiente
d) o atendimento educacional especializado deve ser oferecido de inteligência, classificando-o entre leve, moderado e profundo,
em horários distintos das aulas das escolas comuns, com outros ob- conforme o comprometimento. Também inclui vários outros sinto-
jetivos, metas e procedimentos educacionais. mas de manifestações dessa deficiência como: a [...] “dificuldade do
e) as ações do atendimento educacional são definidas conforme aprendizado e comprometimento do comportamento”, o que coin-
o tipo de deficiência que se propõe a atender. Como exemplo, para cide com outros diagnósticos e de áreas diferentes.
os alunos com deficiência auditiva o ensino da Língua Brasileira de O diagnóstico na deficiência mental não se esclarece por uma
Sinais - LIBRAS, de Português, como segunda língua, ou para os alu- causa orgânica, nem tão pouco pela inteligência, sua quantidade,
nos cegos, o ensino do código “Braille”, de mobilidade e locomoção, supostas categorias e tipos. Tanto as teorias psicológicas desenvol-
ou o uso de recursos de informática, e outros; vimentistas, como as de caráter sociológico, antropológico têm po-
f) os professores que atuam no atendimento educacional espe- sições assumidas diante da condição mental das pessoas, mas ainda
cializado, além da formação básica em Pedagogia, devem ter uma assim, não se consegue fechar um conceito único que dê conta des-
formação específica para atuar com a deficiência a que se propõe sa intrincada condição.
a atender. Assim como o atendimento educacional especializado, A Psicanálise, por exemplo, traz a dimensão do inconsciente,
os professores não substituem as funções do professor responsável uma importante contribuição que introduz os processos psíquicos
pela sala de aula das escolas comuns que têm alunos com deficiên- na determinação de diversas patologias, como a questão da defi-
cia incluídos. ciência mental. A inibição, desenvolvida por Freud, pode-se defi-
O conhecimento da deficiência mental precisa ser clarificado, nir pela limitação de determinadas atividades, causada por um
dada a facilidade de se confundir os problemas de ensino e de bloqueio de algumas funções, como pensamento, por exemplo. A
aprendizagem causados por essa deficiência com o que é barreira debilidade, para Lacan, define a maneira particular de o sujeito li-
para o aproveitamento escolar de todo e qualquer aluno. dar com o saber, podendo ser natural ao sujeito, por caracterizar
um mal-estar fundamental em relação ao saber, ou seja, todos nós
A deficiência mental temos algo que não conseguimos ou não queremos saber. Mas tam-
bém define uma patologia, quando o sujeito se fixa numa posição
Na procura de uma compreensão mais global das deficiências
débil, de total recusa de apropriação do saber.
em geral, em 1980, a OMS, propôs três níveis para esclarecer to-
Além de toda essa pluralidade de conceitos e que em muitos
das as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvanta-
casos são antagônicos, existe a dificuldade de se estabelecer um
gem social. Em 2001, essa classificação foi revista e reeditada não
diagnóstico diferencial entre o que seja “doença mental” e “defi-
contendo mais uma sucessão linear dos níveis, mas indicando a
interação entre as funções orgânicas, as atividades e a participa- ciência mental”, principalmente no caso de crianças pequenas que
ção social. O importante dessa nova definição é que ela destaca o estão na idade escolar.
funcionamento global da pessoa em relação aos fatores contextuais Por todos esses motivos, há uma busca de encampar esse pro-
e do meio, re-situando-a entre as demais e rompendo o seu isola- blema o mais amplamente possível, introduzindo dimensões de
mento. Essa definição motivou a proposta de substituir a termino- diferentes áreas do conhecimento na tentativa de abranger o fenô-
logia “pessoa deficiente” por “pessoa em situação de deficiência”. meno mental.

119
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em suma, a deficiência mental não se esgota na sua condição o desenvolvimento do processo escolar, em todos os seus níveis e
orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único sa- séries. Diante disso, a saída encontrada pela maioria desses pro-
ber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação para todas as fessores é desvencilhar-se desses alunos que não acompanham as
áreas do conhecimento. turmas, encaminhando-os para qualquer outro lugar que suposta-
A dificuldade de se precisar um conceito de deficiência mental mente entenda como ensiná-los.
trouxe consequências indeléveis na maneira das demais pessoas li- O número de alunos categorizados como deficientes mentais
darem com a deficiência. O medo da diferença e do desconhecido foi ampliado enormemente, abrangendo todos aqueles que não
é responsável, em grande parte, pela discriminação que afeta as demonstram bom aproveitamento escolar e com dificuldades de
escolas e a sociedade em relação às pessoas com deficiência em seguir as normas disciplinares da escola. O aparecimento de novas
geral, mas principalmente àquelas com deficiência mental. terminologias e outras contribuem para aumentar a confusão entre
O sociólogo Erving Goffman desenvolveu uma estrutura con- casos de deficiência mental e aqueles que apenas apresentam pro-
ceitual: a estigmatização, para definir essa reação diante daquele blemas na aprendizagem, por motivos que muitas vezes são devi-
é diferente e que acarreta um certo descrédito e desaprovação por dos às próprias práticas escolares.
parte das demais pessoas. Freud, em seu trabalho sobre o Estranho Caso as escolas não mudarem, essa situação de excludência ge-
também demonstra como o sujeito evita aquilo que lhe parece es- neralizada tenderá a aumentar, provocando cada vez mais queixas
tranho e diferente, mas que no fundo remete a questões pessoais e vazias e maior distanciamento da escola comum desse aluno que
mais íntimas do próprio sujeito. supostamente não aprende. O desconhecimento e a busca de so-
Ainda podemos acrescentar a resistência institucional que con- luções imediatistas para resolver a premência da observância do
tribui para aumentar e manter a discriminação. Presa ao conserva- direito de todos a educação fez com que algumas escolas procuras-
dorismo e à estrutura de gestão dos serviços públicos educacionais, sem soluções paliativas, que envolvem todo tipo de adaptação: de
a escola continua norteada por mecanismos elitistas de promoção currículos, de atividades, de avaliação, de atendimento em sala de
dos melhores alunos em todos os seus níveis. Além disso, há que se aula que se destinam unicamente aos alunos com deficiência. Essas
considerar as contradições entre culturas profissionais que definem soluções continuam mantendo o caráter substitutivo da Educação
a identidade e o trabalho de cada uma gerando corporativismos, Especial, especialmente quando se trata de alunos com deficiência
práticas isoladas, busca por maior reconhecimento social e acar- mental.
retando formas desarticuladas de se enfocar o mesmo problema, Tais práticas adaptativas funcionam como um regulador externo
como é o caso do atendimento à deficiência mental. da aprendizagem e estão baseadas nos propósitos e procedimentos
Por essas razões, e pelos princípios inclusivos, esse atendimento de ensino que decidem “o que falta” ao aluno de uma turma de es-
seja na escola comum, ou nos locais reservados ao atendimento cola comum. Em outras palavras, ao adaptar currículos, selecionar
educacional e/ou clínico especializado, necessita ser reinterpretado atividades e formular provas diferentes para alunos com deficiência
e reestruturados. e/ou dificuldade de aprender, o professor interfere de fora, subme-
tendo os alunos ao que supõe que eles sejam capazes de aprender.
A escola comum diante da deficiência mental
O que precisa ser
O que era Na concepção inclusiva, a adaptação ao conteúdo escolar é
A deficiência mental coloca em xeque a função primordial da realizada pelo próprio aluno e testemunha a sua emancipação in-
escola comum que é a produção do conhecimento, pois o aluno telectual. Essa emancipação é consequência do processo de auto
com essa deficiência tem uma maneira própria de lidar com o saber regulação da aprendizagem, em que o aluno assimila o novo conhe-
que, invariavelmente, não corresponde ao ideal da escola. Na ver- cimento, de acordo com suas possibilidades de incorporá-lo ao que
dade, não corresponder ao esperado pode acontecer com todo e já conhece.
qualquer aluno, mas os alunos com deficiência mental denunciam a Entender este sentido emancipador da adaptação intelectual é
impossibilidade de atingir esse ideal, de forma tácita. Eles não per- sumamente importante para o professor.
mitem que a escola dissimule essa verdade. As outras deficiências Aprender é uma ação humana criativa, individual heterogênea
não abalam tanto a escola comum, pois não tocam no cerne e no e regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente de
motivo da sua urgente transformação: entender a produção do co- sua condição intelectual ser mais ou ser menos privilegiada. São
nhecimento acadêmico como uma conquista individual. as diferentes ideias, opiniões, níveis de compreensão que enrique-
O aluno com deficiência mental tem dificuldade de construir cem o processo escolar e que clareiam o entendimento dos alunos
conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacida- e professores - essa diversidade deriva das formas singulares de nos
de cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um modelo adaptarmos cognitivamente a um dado conteúdo e da possibilidade
conservador de atuação e uma gestão autoritária e centralizadora. de nos expressarmos abertamente sobre ele.
Essas escolas apenas acentuam a deficiência e, em consequência, Já ensinar é um ato coletivo, no qual o professor disponibiliza a
aumentam a inibição, reforçam os sintomas existentes e agravam todos alunos sem exceção um mesmo conhecimento.
as dificuldades do aluno com deficiência mental. Tal situação ilustra Ao invés de adaptar e individualizar/diferenciar o ensino para
o que a definição da Organização Mundial de Saúde - OMS de 2001 alguns, a escola comum precisa recriar suas práticas, mudar suas
e a Convenção da Guatemala acusam como agravante da situação concepções, rever seu papel, sempre reconhecendo e valorizando
de deficiência. as diferenças.
O caráter elitista, meritocrático, homogeneizador e competiti- As práticas escolares que permitem ao aluno aprender e ter
vo dessas escolas oprimem o professor e o reduz a uma situação reconhecidos e valorizados os conhecimentos que é capaz de pro-
de isolamento e impotência, principalmente frente aos seus alu- duzir, segundo suas possibilidades, são próprias de um ensino es-
nos com deficiência mental, pois são aqueles que mais amarram colar que se distingue pela diversidade de atividades. O professor,

120
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na perspectiva da educação inclusiva, não é aquele que ministra mesmo diário. Ser livre para aprender e ensinar não implica numa
um “ensino diversificado”, para alguns, mas aquele que prepara falta de limites e regras ou ainda cair em um espontaneismo de atu-
atividades diversas para seus alunos (com e sem deficiência men- ação. O ano letivo, assim como a rotina diária de uma turma deve
tal) ao trabalhar um mesmo conteúdo curricular. As atividades não contemplar um tempo para planejar, outro para executar, outro
são graduadas, para atender a níveis diferentes de compreensão e para avaliar e socializar os conhecimentos aprendidos. Todo esse
estão disponíveis na sala de aula para que seus alunos as escolham processo é realizado coletivamente e individualmente. Um exemplo
livremente, de acordo com o interesse que têm por elas. de rotina de sala de aula, seria desenvolver num primeiro momento
Para exemplificar essa prática consideremos, por exemplo, o o planejamento coletivo, que compreende uma conversação livre
ensino dos planetas do sistema solar para uma turma de alunos entre o professor e seus alunos a respeito do emprego do tempo
com e sem deficiências. As atividades podem variar de propostas naquela jornada. Esse momento permite ao aluno expressar-se li-
de elaboração de textos; construir maquetes do sistema planetário; vremente a respeito do que pretende fazer/aprender nesse dia e
realizar pesquisas em livros, revistas, jornais, internet; confeccionar a professora colocar suas intenções no mesmo sentido, estabele-
cartazes; fazer leitura interpretativa de textos literários e poesias; cendo um acordo entre ambos. Esse momento todo o grupo pode
realizar de um seminário com apresentação do tema; dentre outras. tomar decisões com relação às atividades e os grupos a serem for-
O aluno com deficiência mental, assim como os demais colegas, mados para realiza-las. Num segundo momento as atividades são
escolhe a atividade que mais lhe interessar, pois a sua capacidade realizadas conforme o plano estabelecido. Finalmente a jornada de
de desempenho e dos colegas não é pré-definida pelo professor. trabalho é reconstituída na última parte dessa rotina, com parti-
Essa prática é distinta daquelas que habitualmente encontramos cipação de todos alunos que socializam o que aprenderam e ava-
nas salas de aulas, nas quais o professor escolhe e determina uma liam a produção realizada. O aluno com deficiência mental participa
atividade para todos os alunos realizarem individualmente e uni- igualmente de todos esses momentos: planejamento, execução,
formemente, sendo que para os alunos com deficiência mental ele avaliação e socialização.
oferece uma outra atividade facilitada sobre o mesmo assunto ou A avaliação dos alunos com deficiência mental visa ao conheci-
até mesmo sobre outro completamente diferente. Contraditoria- mento de seus avanços no entendimento dos conteúdos curricula-
mente essa prática discriminatória tem sido adotada para se im- res durante o ano letivo de trabalho, seja ele organizado por série
pedir a “exclusão na inclusão”. Utilizando como exemplo esse mes- ou ciclos. O mesmo vale para os demais alunos, para que não sejam
mo conteúdo - o ensino dos planetas do sistema solar, é comum feridos os princípios da inclusão escolar. A promoção automática
o professor selecionar uma atividade de leitura e interpretação de exclusiva para alunos com deficiência mental constitui uma diferen-
textos para todos os alunos cabendo àquele com deficiência mental ciação pela deficiência, o que caracteriza discriminação. Em ambos
apenas colorir um dos planetas. os casos, o que interessa para que um novo ano de estudos se inicie
Modificar essa prática é uma verdadeira revolução, que impli- é o quanto o aluno com ou sem deficiência, aprendeu no ano ante-
ca em inovações na forma de o professor e o aluno avaliarem o rior, pois nenhum conhecimento é aprendido sem base no que se
processo de ensino e de aprendizagem. Ela desmonta de uma só conheceu antes.
vez o caráter homogeneizador da aprendizagem e elimina todas as
demais características excludentes das escolas comuns que adotam O atendimento educacional especializado para as pessoas com
propostas pedagógicas conservadoras. A prática escolar inclusiva deficiência mental
provoca necessariamente a cooperação entre todos os alunos e
o reconhecimento de que ensinar uma turma é, na verdade, tra-
O que era
balhar com um grande grupo e com todas as possibilidades de se
A imprecisão do conceito de deficiência mental trouxe conse-
subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivisões de uma turma, os alunos
quências que impediram uma definição clara desse tipo de atendi-
com deficiência mental podem aderir a qualquer grupo de colegas,
mento, nas escolas comuns e especiais. A proposta constitucional
sem formar um grupo à parte, constituído apenas de alunos com
de prescrever o atendimento educacional especializado para alunos
deficiência e/ou problemas na aprendizagem.
com deficiência precipitou a necessidade de se distinguir o que é
Para conseguir trabalhar dentro dessa proposta educacional, o
próprio de uma intervenção específica para a deficiência mental,
professor precisa contar com o respaldo de uma direção escolar e
de especialistas (orientadores, supervisores educacionais e outros), complementar à escola comum, daquela que é substitutiva e me-
que adotam um modo de gestão escolar, verdadeiramente partici- ramente compensatória, visando à aquisição paralela do saber es-
pativa e descentralizada. Muitas vezes o professor tem ideias novas colar.
para colocar em ação em sua sala de aula, mas não é bem recebido A partir de 1996, a LDBEN classificou a Educação Especial como
pelos colegas e pelos demais membros da escola, devido ao des- uma modalidade de ensino. Com isso a Educação Especial perdeu a
compasso entre o que está propondo e o que a escola tem o hábito função de substituição dos níveis de ensino. No entanto, essa mes-
de fazer para o mesmo fim. ma Lei, ao dedicar a ela um de seus capítulos possibilita interpre-
Por outro lado, a receptividade à inovação anima a todos a criar tações enganosas que a mantém como um subsistema paralelo de
e ter liberdade para experimentar alternativas de ensino. Essa au- ensino escolar.
tonomia para criar e experimentar coisas novas será naturalmente Além disso, o atendimento educacional especializado também
extensiva aos alunos com ou sem deficiência. Assim, os alunos com não foi amplamente esclarecido sobre o que significa a sua natureza
deficiência mental serão naturalmente valorizados pelo reconheci- educacional, por ter sido criado legalmente sem ter suas ações des-
mento de suas capacidades e respeito à suas limitações. critas. Talvez por esse motivo, ele continua sendo confundido com
Essa liberdade do professor e dos alunos de criarem as melho- o reforço escolar, e/ou com o que é próprio do atendimento clínico,
res condições de ensino e de aprendizagem, não dispensa um bom aceitando e se submetendo a todo e qualquer outro conhecimento
planejamento de trabalho, seja ele anual, mensal, quinzenal ou de áreas afins que tratam da deficiência mental.

121
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A Educação Especial, durante décadas manteve as mesmas outra forma de inserção escolar configuraria uma inclusão irrespon-
características do ensino regular desenvolvido nas escolas tradi- sável, provocando uma segregação dentro da própria Escola Espe-
cionais, como descrevemos anteriormente e sempre adotando cial, ou seja, uma espécie de “exclusão da exclusão”, pela qual os
práticas adaptativas. Num primeiro momento, para fundamentar/ alunos são subdivididos entre aqueles que têm condições de ser
organizar o trabalho educacional especializado, essas escolas limita- encaminhados para a escola comum e aqueles que, por serem con-
ram-se unicamente a treinar seus alunos, subdivididos nas catego- siderados “casos graves”, jamais poderão ser incluídos.
rias educacionais: treináveis e educáveis; limítrofes e dependentes.
Esse treinamento era desenvolvido visando à inserção familiar e so- O que precisa ser
cial. Muitas vezes, o treino se resumia às atividades de vida diária: O atendimento educacional especializado decorre de uma nova
estereotipadas, repetitivas e descontextualizadas. visão da Educação Especial, sustentada legalmente e é uma das con-
O movimento pela integração escolar manteve as práticas adap- dições para o sucesso da inclusão escolar dos alunos com deficiên-
tativas, com o objetivo de propiciar a inserção e/ou a reinserção de cia. Esse atendimento existe para que os alunos possam aprender
alunos com deficiência na escola comum, pelo treino dos mesmos o que é diferente do currículo do ensino comum e que é necessário
conteúdos e programas do ensino regular. para que possam ultrapassar as barreiras impostas pela deficiência.
O aspecto agravante dessa prática adaptativa/integrativa está As barreiras da deficiência mental diferem muito das barreiras
no fato de se insistir para que esse treino se realize a partir do que é encontradas nas demais deficiências. Trata-se de barreiras referen-
concreto, ou seja, palpável, tangível, insistentemente reproduzido, tes à maneira de lidar com o saber em geral, o que reflete prepon-
de forma alienante, supondo que os alunos com deficiência mental derantemente na construção do conhecimento escolar. Por esse
só “aprendem no concreto!”. motivo, a educação especializada, realizada nos moldes do treina-
A ideia contida nesse treino, por meio do que é concreto, é uma mento e da adaptação, reforça a condição de deficiente desse alu-
pseudonecessidade, pois o concreto, que no caso se refere ao que é no. Essas formas de intervenção mantêm o aluno em um nível de
real, não dá conta do que um objeto é em toda a sua extensão e não compreensão que é muito primitivo e que a pessoa com deficiência
se limita ao significado que cada pessoa pode atribuir a esse obje- mental tem dificuldade de ultrapassar - nas chamadas regulações
to, em função de sua vivência e referências anteriores. Para mui- automáticas, de Piaget. É necessário que se estimule o aluno com
tos aprendizes, contar palitos de fósforo não significa uma ação de deficiência mental a progredir nos níveis de compreensão, criando
aprendizagem dos numerais e nem mesmo a possibilidade de cons- novos meios para se adequarem às novas situações, ou melhor, de-
truir a ideia de número como deseja sua professora. O aluno pode safiando-o a realizar regulações ativas. Assim sendo, o aluno com
estar apenas manuseando esse material para entender o modo de deficiência mental precisa adquirir, através do atendimento educa-
sua mãe acender o fogo, por exemplo... cional especializado, condições de passar de um tipo de ação auto-
Por mais que se busque o conhecimento a partir desse concre- mática e mecânica diante de uma situação de aprendizado/experi-
to, ele não se esgotará na sua dimensão física. A compreensão total ência para um outro tipo, que lhe possibilite selecionar e optar por
do real é algo que jamais alcançaremos, mesmo no mais avançado meios mais convenientes de atuar intelectualmente.
estado de entendimento e de cognição. Por outro lado, a repetição O atendimento educacional para tais alunos deve, portanto,
de uma ação sobre um objeto, sem que o sujeito lhe atribua um privilegiar o desenvolvimento e a superação daquilo que lhe é li-
significado, é vazia, sem nenhuma repercussão intelectual e estéril, mitado, exatamente como acontece com as demais deficiências,
pois nada produz de novo, apenas coloca as pessoas com deficiên- como exemplo: para o cego, a possibilidade de ler pelo Braille, para
cia mental uma posição inferior, enfraquecida e debilitada diante do o surdo a forma mais conveniente de se comunicar e para a pessoa
com deficiência física, o modo mais adequado de se orientar e se
conhecimento. O grande equívoco de uma pedagogia que se baseia
locomover.
nessa lógica do concreto e da repetição alienante é negar o acesso
Para a pessoa com deficiência mental, a acessibilidade não de-
da pessoa com deficiência mental ao plano abstrato e simbólico da
pende de suportes externos ao sujeito, mas tem a ver com a saída
compreensão, ou seja, negar a sua capacidade de estabelecer uma
de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem
interação simbólica com o meio. O perigo desse equívoco é empo-
para o acesso e apropriação ativa do próprio saber.
brecer cada vez mais a condição das pessoas com deficiência men-
De fato, a pessoa com deficiência mental encontra inúmeras
tal de lidar com o pensamento, usar o raciocínio, utilizar a capacida-
barreiras nas interações que realiza com o meio para assimilar, des-
de de descobrir o que é visível e prever o invisível, a criar e inovar,
de os componentes físicos do objeto de conhecimento, como por
enfim, ter acesso a tudo o que é próprio da ação de conhecer. Como exemplo, o reconhecimento e a identificação da cor, forma, textura,
exemplo dessa lógica repetitiva, podemos citar as tarefas: decorar tamanho e outras características que ele precisa retirar diretamen-
famílias silábicas; aprender a multiplicar, dividir ou somar a partir de te desse objeto. Isso ocorre, porque são pessoas que apresentam
inúmeras contas envolvendo a mesma operação aritmética; repetir prejuízos no funcionamento, na estruturação e na reelaboração do
o cabeçalho todos os dias por várias vezes; responder copiando do conhecimento. Exatamente por isso não adianta propor atividades
livro; colorir desenhos reproduzidos para treino motor com cores que insistem na repetição pura e simples de noções de cor, forma
pré-definidas, além de outras atividades de pura memorização, que etc. para que a partir desse suposto aprendizado o aluno consiga
sustentam o ensino de má qualidade em geral. dominar essas noções e as demais propriedades físicas dos objetos,
A educação especializada tem sido utilizada para tentar “adap- e ainda possa transpô-las para um outro contexto. A criança sem
tar” os alunos com deficiência mental às exigências da escola co- deficiência mental consegue espontaneamente retirar informações
mum tradicional. Assim, durante anos e mesmo até hoje, a Educa- do objeto e construir conceitos, progressivamente. Já a criança com
ção Especial, ao defender a inclusão, acredita que ela só é possível deficiência mental precisa de outra atenção, ou seja, de exercitar
em alguns casos, apenas para os “alunos adaptáveis” ao modelo sua atividade cognitiva, de modo que consiga o mesmo, ou uma
excludente dessa escola. Alega-se nessa lógica que toda e qualquer aproximação do mesmo.

122
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Esse exercício implica em trabalhar a abstração por meio da projeção das ações práticas em pensamento. A passagem das ações práti-
cas e a coordenação dessas ações em pensamento são partes de um processo cognitivo que é natural para aqueles que não têm deficiência
mental. E para aqueles que têm uma deficiência mental, essa passagem deve ser estimulada e provocada, de modo que o conhecimento
possa se tornar consciente e interiorizado. O esquema abaixo ilustra esse processo de construção mental do conhecimento, desenvolvido
pela teoria piagetiana.

O atendimento educacional especializado para as pessoas com deficiência mental está centrado na dimensão subjetiva do processo
de conhecimento, complementando o conhecimento acadêmico e o ensino coletivo que caracterizam a escola comum. O conhecimento
acadêmico exige o domínio de um determinado conteúdo curricular; o atendimento educacional, por sua vez, refere-se à forma pela qual
o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe é apresentado e como consegue significá-lo, ou seja, compreendê-lo.
É importante esclarecer que o atendimento educacional especializado não é ensino particular, nem reforço escolar. Ele pode ser reali-
zado em grupos, porém atento para as formas específicas de cada aluno se relacionar com o saber. Isso também não implica em atender
a esses alunos, formando grupos homogêneos com o mesmo tipo de problema (patologias) e/ou desenvolvimento. Pelo contrário, os gru-
pos devem se constituir obrigatoriamente por alunos da mesma faixa etária e em vários níveis do processo de conhecimento. Alunos com
síndrome de Down, por exemplo, poderão compartilhar esse atendimento com seus colegas autistas, com outras síndromes, sequelas de
paralisia cerebral e ainda outros com ou sem uma causa orgânica esclarecida de sua deficiência e com diferentes possibilidades de acesso
ao conhecimento.
O atendimento educacional especializado para o aluno com deficiência mental deve permitir que esse aluno saia de uma posição de
“não-saber”, ou de “recusa de saber” para se apropriar de um saber que lhe é próprio, ou melhor, que ele tem consciência de que o cons-
truiu.
A inibição, definida na teoria freudiana, ou a “posição débil” enunciada por Lacan provocam atitudes particulares diante do saber, in-
fluenciando a pessoa na aquisição do conhecimento acadêmico. É importante ressaltar que o saber da Psicanálise é o “saber inconsciente”,
relativo à verdade do sujeito. Em outras palavras, trata-se de um processo inconsciente e o que o sujeito recusa saber é sobre a própria
incompletude, tanto dele, quanto do outro. O aluno com deficiência mental, nessa posição de recusa e de negação do saber fica passivo
e dependente do outro (do seu professor, por exemplo), ao qual outorga o poder de todo o saber. Se o professor assume o lugar daquele
que sabe tudo e oferece todas as respostas para seus alunos, o que é muito comum nas escolas e principalmente na prática da Educação
Especial, ele reforça essa posição débil e de inibição, não permitindo que esse aluno se mobilize para adquirir/ construir qualquer tipo de
conhecimento.
Quando o atendimento educacional permite que ao aluno traga a sua vivência e que se posicione de forma autônoma e criativa diante
do conhecimento, o professor sai do lugar de todo o saber. Dessa maneira, o aluno pode se questionar e modificar sua atitude de recusa
do saber e sua posição de “não saber”. Ele, então, pode se mobilizar e buscar o saber. Na verdade, é tomando consciência de que não sabe,
que o aluno pode se mobilizar e buscar o saber. A liberdade de criação e de posicionamento autônomo do aluno diante do saber permite
que sua verdade seja colocada, o que é fundamental para os alunos com deficiência mental. Ele deixa de ser o “repeteco”, o eco do outro
e se torna um ser pensante e desejante de saber.
Mas o atendimento educacional não deve funcionar como uma análise interpretativa, própria das sessões psicanalíticas, e nem como
uma intervenção psicopedagógico, tradicionalmente praticada. Esse atendimento deve permitir ao aluno elaborar suas questões, suas
ideias, de forma ativa e não corroborar para sua alienação diante de todo e qualquer saber.

123
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como, onde e quando? O que mais importa é que ele permita que os alunos tenham
A escola (especial e comum) ao desenvolver o atendimento condições de enfrentar a atividade e que tomem consciência do
educacional especializado deve oferecer todas as oportunidades que sabem, do que não sabem e do que querem saber a respeito
possíveis para que nos espaços educacionais em que ele aconte- do que está sendo estudado. Essa consciência permite que os alu-
ce, o aluno seja incentivado a se expressar, pesquisar, inventar hi- nos expressem seus questionamentos e conhecimentos a respeito
póteses e reinventar o conhecimento livremente. Assim, ele pode de tudo o que um objeto possa suscitar com liberdade e utilizando
trazer para os atendimentos os conteúdos advindos da sua própria a sua criatividade.
experiência, segundo seus desejos, necessidades e capacidades. O É visível o efeito desses dois tipos de produção. Na sala onde
exercício da atividade cognitiva ocorrerá a partir desses conteúdos. ela é realizada de forma mecânica, o mural reproduzirá um modo
Devem ser oferecidas situações, envolvendo ações em que o seriado, estereotipado de agir; que reflete o desenho do professor.
próprio aluno teve participação ativa na sua execução e/ou façam Na outra, o mesmo mural revelará as infinitas possibilidades da cria-
parte da experiência de vida dele. Essa prática difere de todo mode- ção, ou seja, do trabalho cognitivo dos alunos, ao aprender e da
lo de atuação privilegiado até então pela Educação Especial. Traba- professora, ao ensinar.
lhar a ampliação da capacidade de abstração não significa apenas O atendimento educacional especializado não deve ser uma ati-
desenvolver a memória, a atenção, as noções de espaço, tempo, vidade que tenha como objetivo o ensino escolar especial adaptado
causalidade, raciocínio lógico em si mesmas. Nem tão pouco tem a para desenvolver conteúdos acadêmicos, tais como a Língua Por-
ver com a desvalorização da ação direta sobre os objetos de conhe- tuguesa, a Matemática, dentre outros. Com relação a Língua Por-
cimento, pois a ação é o primeiro nível de toda a construção mental. tuguesa e a Matemática, o atendimento educacional especializado
O objetivo do atendimento educacional especializado é propi- buscará o conhecimento que permite ao aluno a leitura, a escrita e
ciar condições e liberdade para que o aluno com deficiência mental a quantificação, sem o compromisso de sistematizar essas noções
possa construir a sua inteligência, dentro do quadro de recursos como é o objetivo da escola.
intelectuais que lhe é disponível, tornando-se agente capaz de pro- Para possibilitar a produção do saber e preservar sua condição
duzir significado/conhecimento. de complemento do ensino regular, o atendimento educacional es-
O contato direto com os objetos a serem conhecidos, ou seja, pecializado tem de estar desvinculado da necessidade típica da pro-
com a sua “concretude” não pode ser descartada, mas o importan-
dução acadêmica. A aprendizagem do conteúdo acadêmico limita
te é intervir no sentido de fazer com que esses alunos percebam a
as ações do professor especializado, principalmente quanto ao per-
capacidade que têm de pensar, de realizar ações em pensamento,
mitir a liberdade de tempo e de criação que o aluno com deficiência
de tomar consciência de que são capazes de usar a inteligência de
mental precisa ter para organizar-se diante do desafio do processo
que dispõem e de ampliá-la, pelo seu esforço de compreensão, ao
de construção do conhecimento. Esse processo de conhecimento,
resolver uma situação problema qualquer. Mas sempre agindo com
ao contrário do que ocorre na escola comum, não é determinado
autonomia para escolher o caminho da solução e a sua maneira de
por metas a serem atingidas em uma determinada série, ou ciclo,
atuar inteligentemente.
ou mesmo etapas de níveis de ensino ou de desenvolvimento.
O aluno com deficiência mental, como qualquer outro aluno,
precisa desenvolver a sua criatividade, a capacidade de conhecer o O processo de construção do conhecimento, no atendimento
mundo e a si mesmo, não apenas superficialmente ou por meio do educacional especializado, não é ordenado de fora, e não é possível
que o outro pensa. O nosso maior engano é generalizar a dotação ser planejado sistematicamente, obedecendo a uma sequência rígi-
mental das pessoas com deficiência mental em um nível sempre da e predefinida de conteúdos a serem assimilados. E assim sendo,
muito baixo, carregado de preconceitos sobre a capacidade de, não persegue a promoção escolar, mesmo porque esse aluno já está
como alunos, progredirem na escola, acompanhando os demais co- incluído.
legas. Desse engano derivam todas as ações educativas que descon- Na escola comum, o aluno constrói um conhecimento necessá-
sideram o fato de que cada pessoa é uma pessoa, que tem antece- rio e exigido socialmente e que depende de uma aprovação e reco-
dentes diferentes de formação, experiências de vida e que sempre nhecimento da aquisição desse conhecimento por um outro, seja
é capaz de aprender e de exprimir um conhecimento. ele o professor, pais, autoridades escolares, exames e avaliações
Uma atividade muito utilizada pelos professores de alunos com institucionais.
deficiência mental é fazer bolinhas de papel para serem coladas so- No atendimento educacional especializado, o aluno constrói
bre uma figura traçada pelo professor em uma folha mimeografada. conhecimento para si mesmo, o que é fundamental para que con-
Essa atividade pode ser explorada de duas maneiras, com objetivos siga alcançar o conhecimento acadêmico. Aqui, ele não depende
distintos. Uma delas é desenvolvê-la de forma alienante, limitada, de uma avaliação externa, calcada na evolução do conhecimento
repetitiva, reduzindo-se a um mero exercício de coordenação mo- acadêmico, mas de novos parâmetros relativos as suas conquistas
tora fina, realizado durante horas e sem o menor sentido para o diante do desafio da construção do conhecimento.
aluno. A mesma atividade pode explorar a inteligência desse aluno Portanto, os dois; escola comum e atendimento educacional es-
se fizer parte de um plano e for uma escolha do aluno para repro- pecializado, precisam acontecer concomitantemente, pois um be-
duzir o miolo de uma flor, por exemplo. A colagem seria, neste caso, neficia o desenvolvimento do outro e jamais esse benefício deverá
uma estratégia que ele mesmo selecionou para demonstrar o seu caminhar linear e sequencialmente, como se acreditava antes.
conhecimento das partes de um vegetal e não unicamente para Por maior que seja a limitação do aluno com deficiência mental,
preencher o espaço de uma folha que lhe foi entregue. No estudo ir à escola comum para aprender conteúdos acadêmicos e partici-
das partes de um vegetal, essa atividade é uma entre várias que os par do grupo social mais amplo favorece o seu aproveitamento no
alunos escolheram e recriaram, fazendo parte de todo um conjunto atendimento educacional especializado e vice-versa. O atendimen-
de trabalho, em que a flor é parte de outras noções pertinentes ou to educacional especializado é, de fato, muito importante para o
não ao plano. progresso escolar do aluno com deficiência mental.

124
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Aqui é importante salientar que a “socialização” justificada, Atendimento educacional especializado e o atendimento clí-
como único objetivo da entrada desses alunos na escola comum, nico
especialmente para os casos mais graves, não permite essa comple-
mentação e muito menos significa que está havendo uma inclusão Assim como o movimento inclusivo exige mudanças estruturais
escolar. A verdadeira socialização, em todos os seus níveis, exige para as escolas comuns e especiais, ele também propõe modifica-
construções cognitivas e compreensão da relação com o outro. O ções para o atendimento clínico.
que tem acontecido, em nome dessa suposta socialização, é uma Da mesma forma que a educação especial, se norteou pela ten-
espécie de tolerância da presença do aluno em sala de aula e o que tativa de adaptação dos alunos visando à inserção familiar, social
decorre dessa situação é a perpetuação da segregação, mesmo que ou mesmo escolar; no atendimento clínico também se buscou a
o aluno esteja frequentando um ambiente escolar comum. normalização da pessoa com deficiência mental para conviver na
O arranjo físico do espaço reservado ao atendimento precisa sociedade.
coincidir com o seu objetivo de enriquecer o processo de desen- Sem querer invadir o espaço reservado à clínica e aos seus es-
volvimento cognitivo do aluno com deficiência mental e de ofere- pecialistas é primordial que eles acompanhem a evolução do aten-
cer-lhe o maior número possível de alternativas de envolvimento dimento educacional especializado, especialmente na deficiência
e interação com o que compõe esse espaço. Portanto, não pode mental. Nesse caso, a intervenção desses profissionais, buscando a
reproduzir uma sala de aula comum e tradicional. O espaço físico normalização, caminha na direção contrária e destoa dos princípios
para o atendimento educacional especializado deve ser preservado, inclusivos.
tanto na escola especial como na escola comum, ou seja, deve ser A grande maioria desses especialistas fragmenta o atendimento
criado e utilizado unicamente para esse fim. a pessoas com deficiência, concentrando-se apenas em suas espe-
O tempo reservado para esse atendimento será definido confor- cialidades e nas manifestações e sintomas da deficiência. No geral,
me a necessidade de cada aluno e as sessões acontecerão sempre desconsideram o que as outras áreas entendem sobre um caso e
no horário oposto ao das aulas do ensino regular. não reconhecem o atendimento prescrito por outros especialistas,
As escolas especiais, diante dessa proposta, tornam-se espaços ficando limitados a suas intervenções. Por se fixarem no lugar de
de atendimento educacional especializado nas diferentes deficiên- todo o saber, não conseguem perceber/conhecer muitas capacida-
cias para as quais foram criadas e devem guardar suas especificida- des e possibilidades das pessoas com deficiência, principalmente
des. Elas não podem justificar a manutenção da estrutura e modelo no caso dos alunos com deficiência mental.
da escola comum, recebendo alunos sem deficiência - a chamada Os especialistas, que se mantêm nessa posição dirigem-se aos
“inclusão ao contrário” e nem mesmo atender a todo o tipo de de- profissionais da educação e até mesmo adentram as salas de aula
ficiência em um mesmo espaço especializado. para prescrever o que deve ser feito na educação escolar, infringin-
As instituições especializadas devem fazer o mesmo com suas do os limites de seu conhecimento e agindo, na maioria das vezes,
escolas especiais e também conservar o atendimento clínico espe- de forma dominadora diante dos professores e pais.
cializado. Esse domínio acontece desde o encaminhamento dos casos,
A avaliação do atendimento educacional especializado, seja a determinando quem deve ou não ser incluído e até mesmo aconse-
inicial como a final, têm o objetivo de conhecer o ponto de partida lhando os professores a adotar determinadas práticas. Existem pro-
e o de chegada do aluno, no processo de conhecimento. Para que fissionais que ainda indicam o ensino especial como um substituto
se possa montar um plano de trabalho para esse atendimento, não de um trabalho clínico, com os professores fazendo às vezes de um
é tão importante para o professor saber o que o aluno “não sabe”, auxiliar de reabilitação.
quanto saber o que ele já conhece de um dado assunto. A termina- Se o atendimento educacional descrito é pautado na autonomia
lidade desse atendimento deve ocorrer independentemente do de- de seus alunos, deve também reconhecer e valorizar a autonomia
sempenho escolar desses alunos na escola comum, porque o que se de um saber do professor especializado. O diálogo entre diversos
pretende com essa complementação não se reduz ao que é próprio profissionais é necessário para o aprofundamento e melhor desem-
da escola comum. Essa terminalidade pode ser o início da Educação penho, seja do aluno, do professor ou do especialista. No entanto,
Profissional das pessoas com deficiência mental. o diálogo só acontece quando as partes que dialogam respeitam-se
A interface entre o atendimento educacional especializado e a mutuamente e não assumem uma posição de superioridade de co-
escola comum acontecerá conforme a necessidade de cada caso, nhecimento e de dominação sobre o outro.
sem a intenção primeira de apenas garantir o bom desempenho es- Além disso, o atendimento educacional especializado, na cons-
colar do aluno com deficiência mental, mas muito mais para que trução do conhecimento toca em questões subjetivas para o aluno,
ambos os professores se empenhem em entender a maneira desse o que fatalmente acarretará consequências no seu desenvolvimen-
aluno lidar com o conhecimento no seu processo construtivo. Esse to global e consequentemente na resposta ao atendimento clínico.
esforço de entendimento conjunto não caracteriza uma forma de O aluno é um ser indivisível, em que cada uma de suas partes inte-
orientação pedagógica do professor especializado para o professor rage com a outra, influenciando e determinando a condição do seu
comum e vice-versa, mas a busca de soluções que venham a be- funcionamento e crescimento como pessoa.
neficiar o aluno de todas as maneiras possíveis e não apenas para Se uma instituição especializada mantém o atendimento educa-
avançar no conteúdo escolar. cional e clínico, esses devem interagir e conversar constantemente,
embora cada um mantenha os limites de suas especificidades. E
mesmo naquelas escolas especiais e comuns que não têm o propó-
sito de desenvolver o atendimento clínico, o diálogo com os espe-
cialistas é fundamental.

125
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

E que esse diálogo não se estabeleça para encerrar as possibili- A formação de professores do ensino regular precisa, então, ser
dades do aluno em um diagnóstico que contempla apenas as defi- retomada visando atender aos princípios inclusivos. Essa revisão
ciências, mas para descobrir saídas conjuntas de atuação em cada não se restringirá a incluir uma ou mais disciplinas nos cursos de
caso. formação de professores para fazê-los conhecer o que significam
Em suma, o atendimento clínico é essencial para o sucesso da esses princípios e suas consequências na organização pedagógica
evolução dos casos de pessoas com deficiência mental. Mas esse das escolas comuns. Para torná-los capazes de desenvolver uma
atendimento não deve nunca se sobrepor à educação escolar e ao educação inclusiva, o curso de formação de professores de ensino
atendimento educacional especializado. Todos esses três saberes: regular tem de estar inteiramente voltado para práticas que acom-
o clínico, o escolar e o especializado devem fazer suas diferentes panham a evolução das ciências da educação e que não excluem
ações convergir para um mesmo objetivo, o desenvolvimento das qualquer aluno. O conhecimento teórico dos avanços científicos em
pessoas com deficiência. Educação é fundamental para que esses professores possam inovar
a maneira de ensinar alunos com e sem deficiência, nas salas de
A formação de professores para o ensino regular e para o aten- aula de ensino regular.
dimento educacional especializado Na formação dos professores especializados, além da gradua-
ção a proposta é criar cursos de especialização em educação de pes-
Gerações de professores especializados na educação de pessoas soas com deficiência, cada um deles focando uma das deficiências,
com deficiência têm saído de cursos de formação inicial, continuada diferenciando essa formação daquela para professores do ensino
e de cursos de pós-graduação, preparados para atuar em escolas regular, mas formação em ciência da educação continua sendo a
comuns e especiais, segundo uma interpretação da Educação Es- base da formação desse e de todos os professores.
pecial, pela qual lhe era atribuída uma função substitutiva da edu- Nos cursos de pós-graduação para professores de alunos com
cação escolar comum. Acrescente-se a esses cursos, os minicursos, deficiência mental, a programação incluirá o conhecimento pro-
oferecidos pelas instituições especializadas que, em poucas horas, fundo dessa deficiência, do ponto de vista das diferentes áreas do
pretendem formar pessoal para atender às exigências de convênios conhecimento. Para esses professores especialistas, por exemplo,
e para oferecer-lhes uma condição mínima de enfrentar o cotidiano a maneira pela qual se adquire/constrói o saber é conteúdo funda-
escolar nas escolas/classes especiais. Em todos esses níveis e tipos mental de formação. Mas a essa formação tem-se de acrescentar
de formação, os professores são preparados para ministrar “educa- uma parte prática, em que eles aprenderão a criar estratégias de
ção escolar especial”, ou seja, aulas de Língua Portuguesa, Matemá- estimulação da atividade cognitiva.
tica, Estudos Sociais etc. para alunos com deficiência, em escolas A formação especializada incluirá também, além da execução,
e /ou classes especiais, ensino itinerante, salas de recurso, além o planejamento, a seleção de atividades e a avaliação do aprovei-
de conhecerem rudimentos de outras disciplinas que tangenciam tamento dos alunos, que é básica para que os planos de atendi-
a educação, ao tratar dos diferentes tipos de deficiência, inclusive mento educacional especializado sejam constantemente revistos,
algumas da área médica. melhorados e ajustados ao que os grupos ou ao a que cada aluno
Ora, o atendimento educacional especializado, a partir da Cons- necessita.
tituição de 1988 e dos princípios de uma educação escolar inclusiva, A formação continuada de professores é mais uma estratégia
deixou de ser uma terminologia diferente para designar a Educação fundamental para atualização e aprofundamento do conhecimento
Especial e passou a ser, de fato, o seu grande desafio. Trata-se de pedagógico comum e especializado. Esta formação, preferencial-
uma nova proposta, que marca uma grande virada no entendimen- mente acontecerá, a partir dos próprios casos em atendimento,
to que a Educação Especial propiciará em favor da inclusão, em to- pois esse é um material vivo, que propicia uma visão subjetiva que
dos os níveis de ensino. o professor responsável pela sala de aula ou por esse atendimento
O atendimento educacional especializado garante a inclusão terá para dar conta da complexidade dos alunos e do seu processo
escolar de alunos com deficiência, na medida em que lhes oferece de aprendizagem. É primordial que se leve em consideração o ca-
o aprendizado de conhecimentos, técnicas, utilização de recursos ráter subjetivo dessa formação, para que não se caia nas malhas da
informatizados, enfim tudo que difere dos currículos acadêmicos generalização do atendimento, seja por patologias, por métodos,
que ele aprenderá nas salas de aula das escolas comuns. Ele é ne- técnicas, receituários pedagógicos e/ou fornecidos por outras es-
cessário e mesmo imprescindível, para que sejam ultrapassadas as pecialidades.
barreiras que certos conhecimentos, linguagens, recursos represen- Não se pretende através dessa formação tornar o professor
tam para que os alunos com deficiência possam aprender nas salas especializado em deficiência mental ou em outras deficiências um
de aulas comuns do ensino regular. Portanto, esse atendimento não profundo conhecedor de psicologia, psicanálise, sociologia, fonoau-
é facilitado, mas facilitador, não é adaptado, mas permite ao aluno diologia, fisioterapia ou mesmo medicina.
adaptar-se às exigências do ensino comum, não é substitutivo, mas Para a realização da formação continuada, que seja previsto um
complementar ao ensino regular. número significativo de horas para esse trabalho no cronograma e
A partir da Constituição de 1988 e da LDBEN/1996, cabe à Edu- no calendário escolar, sem o que não será possível distribuir por
cação Especial e a seus professores a realização desse atendimento todo o ano letivo o tempo necessário para a atualização teórica, o
e continuar presente em todos os níveis de ensino - do básico ao estudo e discussão dos casos. Nessa formação haverá momentos
superior, como uma modalidade de ensino. em que só os professores estarão juntos, e também os encontros
Esta nova função da Educação Especial muda muita coisa, prin- com especialistas de outras áreas.
cipalmente, a formação dos professores especializados, que precisa
ser urgentemente revista e adequada ao que esse profissional deve
conhecer para desenvolver práticas educacionais próprias do aten-
dimento educacional especializado.

126
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA E IN- FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL.


CLUSIVA QUE GARANTA O ACESSO, A PERMANÊNCIA E
APRENDIZAGENS EFETIVAS Introdução

Acesso, Permanência e Sucesso do Aluno na Escola Na Constituição Brasileira de 1988, a educação é um direito de
todos e um dever do Estado e da família. Para assegurar que seja
24
Para que a escola cumpra sua função de facilitador o acesso cumprida, são criadas leis que garantam a inclusão escolar de alu-
ao conhecimento e promover o desenvolvimento de seus alunos, nos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e su-
é preciso que todos estejam de acordo sobre a maneira como se perdotação. Tais leis orientam os sistemas de ensino e garantem o
desenvolve o processo de ensino aprendizagem. O sucesso de uma acesso desta população ao ensino regular com participação, apren-
escola é medido pelo desempenho de seus alunos. Se os alunos, dizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino.
cada um no seu ritmo, conseguem aprender continuamente, sem
retrocessos, a escola é sabia e respeitosa. Desigualdade e diversidade
Esse sucesso, entretanto, é uma construção que se faz através
da participação e da gestão escolar. Depende da participação de Crianças abandonadas nas ruas, restrita cobertura escolar e,
toda a equipe escolar e sobretudo da atuação de suas lideranças. consequentemente, um grande número de analfabetos são alguns
A organização da escola, indispensável para promover o desenvol- dos desafios que o Brasil ainda não conseguiu superar.
vimento e a aprendizagem do aluno, implica um compromisso dos A desigualdade social é oriunda do fim da escravidão, quando
membros da equipe escolar com a clientela que frequenta a escola. um grande contingente de famílias foi morar nos grandes centros
Em tempos de globalização em que vivemos, o saber não é só sem emprego e iletrados, com condições totalmente inadequadas
o acumulo de informações, mas um conjunto de capacidade adqui- de sobrevivência. Marginalizados pela elite europeizada, começou-
ridas e desenvolvidas na escola que tornam o jovem apto a enfren- -se a se confundir no país pobreza e delinquência. Dentro dessa
tar os desafios da vida profissional, por isso o professor e a escola massa marginal, estavam também, os portadores de deficiência.
devem cumprir seu importante papel social; educar para o futuro. A partir da década de 30, foram instituídas leis que separavam
Fica claro que um bom profissional e uma escola de qualidade as crianças em instituições por suas características. Os delinquen-
não se faz de uma hora para outra, e nem sozinhos é na troca de tes, os normais e os anormais.
experiências, no trabalho em equipe de forma integrada, articulada
e planejada, que iremos formar a escola que realmente queremos.
Temos que nos preocuparmos com o alvo principal que é o aluno, Número de matriculados e anos de escolaridade
com sua aprendizagem.
Se nos preocupamos com aprendizagem de nossos alunos te- Durante os governos que se sucederam, a preocupação comum
mos que procurar trabalhar em um ambiente estimulador dessa sempre foi o número de alunos matriculados e o tempo escolarida-
aprendizagem que busca a relação entre professor e aluno. Para ser de. Apesar de todos os esforços, só atingimos números próximos da
bem sucedido, o professor deve tornar ser um mestre, isto é, além universalização escolar na década de 90, incluindo a população de
de transmitir o conhecimento, estar aberto para recebê-lo. Deve portadores de deficiências.
enxergar as reais necessidades e os limites do aluno, aprender com
ele, esta e constante reciclagem para que ruas aulas se tornem di- Inclusão no Brasil
nâmicas, enfim deve despertar o apetite pelo saber. O saber con-
siste em ensinar e aprender. E ninguém pode estimular o saber se O acesso das crianças com deficiência a escola passou por mui-
não o pratica. tas fases, sendo em um primeiro momento, delegadas a instituições
Içami Tiba afirma que: O poder de ensinar e o prazer de apren- especializadas no atendimento desse público, muitas vezes com
der são os grandes benefícios de ensinar aprendendo. viés assistencialista.
Mais tarde, crianças com deficiência começaram a ser aceitas
“Uma boa aula é como uma refeição: quanto mais atraentes em instituições de ensino regulares e apolítica vigente para elas era
estiverem os pratos que você, cozinheiro – professor, dispuser sobre a integração que consistia em avaliar se o aluno especial conseguia
a mesa, mais os alunos desejaram saboreá-los. Aprender é como ou não acompanhar a turma regular, sem nenhum tipo de apoio
comer. Comer alimenta o corpo de energia, enquanto aprender ali- diferenciado, fosse ele estrutural, pedagógico ou um professor com
menta a alma de saber” formação específica. Aqueles que conseguiam acompanhar, conti-
nuavam na escola comum. Aqueles que não, eram encaminhados
para “instituições especiais” ou seja, segregados.
Então surgiram as turmas especiais dentro das escolas regula-
res que abrigavam os alunos com deficiência, ampliando a segre-
gação.
Políticas de inclusão só passaram a ser adotadas a partir do iní-
cio do século XXI, prevendo formação dos professores, adaptação
do sistema de ensino e dos formatos de avaliação, além de adapta-
ções estruturais da escola, para que os alunos com deficiência pu-
dessem frequentar as salas regulares como todos os demais.
24 https://bit.ly/2rMFw2f

127
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Panorama atual • Promover ações com foco na melhoria da qualidade da


educação que contemplem os estudantes com deficiência; 
Os Institutos Rodrigo Mendes e Unibanco com o apoio da Or- • Incrementar a formação inicial e investir na formação con-
ganização Todos ela Educação, do Centro Lemann de Sobral e do tinuada de todos os docentes adotando a perspectiva inclusiva; 
UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançaram o Pai- • Investir recursos públicos nas escolas comuns, com priori-
nel de Indicadores da Educação Especial. Os dados de 2019, 2020 dade orçamentária e planejando a transição para um sistema edu-
e 2021 mostram que há um longo caminho a percorrer para que o cacional completamente inclusivo. 
Brasil consiga levar a inclusão de fato a todas as crianças portadoras
de deficiência.

Painel de Indicadores da Educação Especial INCLUSÃO: CONSTRUINDO UMA SOCIEDADE PARA


TODOS
Indicadores Média (19, 20 e 21)
A INCLUSÃO NA SOCIEDADE
Distorção série-idade 41% fora da série indicada
Professores: formação 5% sem formação específica* Segundo Maciel25, hoje, no Brasil, milhares de pessoas com al-
gum tipo de deficiência estão sendo discriminadas nas comunida-
Escolas 29% sem adaptações
des em que vivem ou sendo excluídas do mercado de trabalho. O
processo de exclusão social de pessoas com deficiência ou alguma
necessidade especial é tão antigo quanto a socialização do homem.
A POLÍTICA EDUCACIONAL E A EDUCAÇÃO ESPECIAL. A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre
inabilitou os portadores de deficiência, marginalizando-os e privan-
do-os de liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem atendimen-
A política nacional de educação especial na perspectiva da to, sem direitos, sempre foram alvo de atitudes preconceituosas e
educação inclusiva ações impiedosas.
A literatura clássica e a história do homem refletem esse pensar
De acordo com Ministério da Educação (MEC, 2008), os obje- discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos
tivos da Política Nacional de Educação especial na perspectiva da e às aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pesso-
educação inclusiva é “assegurar a inclusão escolar de alunos com as.
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi- Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais têm
lidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para ga- promovido e implementado a inclusão, nas escolas, de pessoas com
rantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e algum tipo de deficiência ou necessidade especial, visando resgatar
continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade o respeito humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o pleno
da modalidade de educação especial desde a educação infantil até desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade por
a educação superior; oferta do atendimento educacional especiali- parte desse segmento.
zado; formação de professores para o atendimento educacional es- Movimentos nacionais e internacionais têm buscado o consen-
pecializado e demais profissionais da educação para a inclusão; par- so para a formatação de uma política de integração e de educa-
ticipação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, ção inclusiva, sendo que o seu ápice foi a Conferência Mundial de
nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e Educação Especial, que contou com a participação de 88 países e
articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.” 25 organizações internacionais, em assembleia geral, na cidade de
Salamanca, na Espanha, em junho de 1994.
Projetos político pedagógicos (Fonte: Instituto Rodrigo Men- Este evento teve como culminância a “Declaração de Salaman-
des, 2020) ca”, da qual transcrevem-se, a seguir, pontos importantes, que de-
vem servir de reflexão e mudanças da realidade atual, tão discrimi-
Os Institutos Rodrigo Mendes e Unibanco com o apoio da Or- natória.
ganização Todos ela Educação, do Centro Lemann de Sobral e do A inclusão escolar, fortalecida pela Declaração de Salamanca, no
UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançaram o Pai- entanto, não resolve todos os problemas de marginalização dessas
nel de Indicadores da Educação Especial. Segundo levantamento pessoas, pois o processo de exclusão é anterior ao período de esco-
do Painel, esses são os pontos fundamentais a serem alcançados e larização, iniciando-se no nascimento ou exatamente no momento
garantidos pela política nacional de educação especial, dentro do em aparece algum tipo de deficiência física ou mental, adquirida ou
projeto político pedagógico proposto: hereditária, em algum membro da família. Isso ocorre em qualquer
• Garantir que todo estudante seja matriculado em escolas tipo de constituição familiar, sejam as tradicionalmente estrutura-
comuns/inclusivas;  das, sejam as produções independentes e congêneres e em todas
• Combater retrocessos de direitos e a cultura de segrega- as classes sociais, com um agravante para as menos favorecidas.
ção dos estudantes público-alvo da educação especial; 
• Produzir e divulgar de forma segura dados e indicadores
de exclusão, evasão e aprendizagem para Educação Especial; 
• Garantir as condições para acesso, participação e perma-
nência dos estudantes público-alvo da Educação Especial e acessi- 25 MACIEL, MA. R. C; Portadores de Deficiência a questão da inclusão
bilidade em todas as suas dimensões; 
social, São Paulo Perspec. vol.14 no.2 São Paulo Apr./June 2000.

128
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O nascimento de um bebê com deficiência ou o aparecimento Os sistemas escolares também estão montados a partir de um
de qualquer necessidade especial em algum membro da família al- pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos
tera consideravelmente a rotina no lar. Os pais logo se perguntam: em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e
por quê? De quem é a culpa? Como agirei daqui para frente? Como especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifes-
será o futuro de meu filho? tação das diferenças. A lógica dessa organização é marcada por uma
O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou visão determinista, mecanicista, formalista a reducionista, própria
responsáveis e a dinâmica familiar fica fragilizada. Imediatamente do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo, o afe-
instalam-se a insegurança, o complexo de culpa, o medo do futuro, tivo, o criador, sem os quais não conseguimos romper com o velho
a rejeição e a revolta, uma vez que esses pais percebem que, a par- modelo escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe.
tir da deficiência instalada, terão um longo e tortuoso caminho de Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente
combate à discriminação e ao isolamento. que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a
cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e va-
Nosso Momento Atual26 loriza as diferenças.
Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin27, pois, para
A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se se reformar a instituição, temos de reformar as mentes, mas não se
em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades curriculares, pode reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições.
burocracia.
Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como Inclusão Escolar
propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, no-
vamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão de
participam. uma parte, privações constantes e pela baixa autoestima resultante
A inclusão, portanto, implica mudança desse atual paradigma da exclusão escolar e da social — alunos que são vítimas de seus
educacional, para que se encaixe no mapa da educação escolar que pais, de seus professores e, sobretudo, das condições de pobreza
estamos retraçando. em que vivem, em todos os seus sentidos. Esses alunos são sobeja-
E inegável que os velhos paradigmas da modernidade estão sen- mente conhecidos das escolas, pois repete as suas séries várias ve-
do contestados e que o conhecimento, matéria-prima da educação zes, são expulsos, evadem e ainda são rotulados como mal nascidos
escolar, está passando por uma reinterpretação. e com hábitos que fogem ao protótipo da educação formal.
As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, As soluções sugeridas para se reverter esse quadro parecem re-
enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada prisar as mesmas medidas que o criaram. Em outras palavras, pre-
e destacada e é condição imprescindível para se entender como tende-se resolver a situação a partir de ações que não recorrem a
aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos. outros meios, que não buscam novas saídas e que não vão a fundo
Nosso modelo educacional mostra há algum tempo sinais de nas causas geradoras do fracasso escolar.
esgotamento, e nesse vazio de ideias, que acompanha a crise para- Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a escola reluta em
digmática, é que surge o momento oportuno das transformações. admiti-lo como sendo seu.
Um novo paradigma do conhecimento está surgindo das inter- A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos para
faces e das novas conexões que se formam entre saberes outrora reverter a situação da maioria de nossas escolas, as quais atribuem
isolados e partidos e dos encontros da subjetividade humana com aos alunos as deficiências que são do próprio ensino ministrado por
o cotidiano, o social, o cultural. Redes cada vez mais complexas de elas — sempre se avalia o que o aluno aprendeu, o que ele não
relações, geradas pela velocidade das comunicações e informações, sabe, mas raramente se analisa “o que” e “como” a escola ensina,
estão rompendo as fronteiras das disciplinas e estabelecendo no- de modo que os alunos não sejam penalizados pela repetência, eva-
vos marcos de compreensão entre as pessoas e do mundo em que são, discriminação, exclusão, enfim.
vivemos. E fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola” e é
Diante dessas novidades, a escola não pode continuar ignoran- mais fácil ainda encaminhar, para as classes e escolas especiais, os
do o que acontece ao seu redor nem anulando e marginalizando que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo ou não deficientes,
as diferenças nos processos pelos quais forma e instrui os alunos. para os programas de reforço e aceleração. Por meio dessas válvu-
E muito menos desconhecer que aprender implica ser capaz de las de escape, continuamos a discriminar os alunos que não damos
expressar, dos mais variados modos, o que sabemos, implica re- conta de ensinar. Estamos habituados a repassar nossos problemas
presentar o mundo a partir de nossas origens, de nossos valores e para outros colegas, os “especializados” e, assim, não recai sobre
sentimentos. nossos ombros o peso de nossas limitações profissionais.
O ensino curricular de nossas escolas, organizado em discipli- Segundo proclama a Declaração de Salamanca:
nas, isola, separa os conhecimentos, em vez de reconhecer suas
inter-relações. Contrariamente, o conhecimento evolui por recom-
posição, contextualização e integração de saberes em redes de en-
tendimento, não reduz o complexo ao multidimensional dos pro-
blemas e de suas soluções.

26 MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? 27 MORIN. E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensa-

São Paulo: Moderna, 2006. mento. 4. ed. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.

129
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessida- Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, funções,
des diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, oriundo das
de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a to- diversas instâncias burocrático-legais do sistema educacional, cons-
dos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, titui o arcabouço pedagógico e administrativo das escolas de uma
estratégias de ensino, uso de recursos e parceria com as comunida- rede de ensino. Trata-se do que está INSTITUÍDO e do que Libâneo28
des. (...) O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz res- e outros autores analisaram pormenorizadamente.
peito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes curricula-
e capaz de bem sucedidamente educar todas as crianças, incluindo res, as leis, os documentos das políticas, os regimentos e demais
aquelas que possuam desvantagem severa. O mérito de tais escolas normas do sistema.
não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem cons-
uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabele- truídos por todas as pessoas que fazem parte de uma instituição
cimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta e acabada a
atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de ser perpetuada e reproduzida de geração em geração. Trata-se do
desenvolver uma sociedade inclusiva.” INSTITUINTE.
A escola cria, nas possibilidades abertas pelo INSTITUINTE, um
Um dos princípios norteadores da Lei de Diretrizes e Bases Na- espaço de realização pessoal e profissional que confere à equipe
cionais da Educação – LDB 9.394/96 é o da igualdade de condições escolar a possibilidade de definir o seu horário escolar, organizar
para o acesso e a permanência na escola. A LDB reconhece a educa- projetos, módulos de estudo e outros, conforme decisão colegia-
ção infantil como direito e prevê a garantia de condições adequadas da. Assim, confere autonomia a toda equipe escolar, acreditando
à escolarização de jovens, adultos e trabalhadores, a qualidade de no poder criativo e inova- dor dos que fazem e pensam a educação.
ensino em todos os níveis e modalidades educacionais, além de ou-
tros direitos e obrigações (Título III, Artigo 5 I – IX). O Atendimento Educacional Especializado (AEE)
A reafirmação de identidades étnicas e o desenvolvimento de
educação escolar bilíngue e intelectual aos povos indígenas são Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de Educação
apontados em diversas proposições. A LDB rompe com o modelo Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é o Atendimento
assistencial e terapêutico operante, até então, no que diz respeito Educacional Especializado - AEE, um serviço da educação especial
ao tratamento dispensado a educandos com deficiência e necessi- que “[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de
dades educacionais especiais. Tais proposições nos permitem infe- acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação
rir que os pilares fundamentais da LDB podem favorecer a concre- dos alunos, considerando suas necessidades específicas” (SEESP/
tização de projetos flexíveis e inovadores referenciados no ideal de MEC).29
uma escola inclusiva. O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno, vi-
sando a sua autonomia na escola e fora dela, constituindo oferta
Mudanças na Escola obrigatória pelos sistemas de ensino. É realizado, de preferência,
nas escolas comuns, em um espaço físico denominado Sala de Re-
Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem de cursos Multifuncionais. Portanto, é parte integrante do projeto po-
mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em muitas fren- lítico pedagógico da escola.
tes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de encontrar so- São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais, alunos
luções próprias para os seus problemas. As mudanças necessárias público-alvo da educação especial, conforme estabelecido na Políti-
não acontecem por acaso e nem por Decreto, mas fazem parte da ca Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclu-
vontade política do coletivo da escola, explicitadas no seu Projeto siva e no Decreto N.6.571/2008.
Político Pedagógico (PPP) e vividas a partir de uma gestão escolar - Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm impedimentos de
democrática. longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
É ingenuidade pensar que situações isoladas são suficientes quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua par-
para definir a inclusão como opção de todos os membros da escola ticipação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
e configurar o perfil da instituição. Não se desconsideram aqui os com as demais pessoas (ONU)30.
esforços de pessoas bem-intencionadas, mas é preciso ficar claro - Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles
que os desafios das mudanças devem ser assumidos e decididos que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recí-
pelo coletivo escolar. procas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades
A organização de uma sala de aula é atravessada por decisões restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos
da escola que afetam os processos de ensino e de aprendizagem. com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil
Os horários e rotinas escolares não dependem apenas de uma única (MEC/SEESP).
sala de aula, o uso dos espaços da escola para atividades a serem
realizadas fora da classe precisa ser combinado e sistematizado
para o bom aproveitamento de todos, as horas de estudo dos pro-
fessores devem coincidir para que a formação continuada seja uma 28 LIBÂNEO, J. C., OLIVEIRA J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar:
aprendizagem colaborativa, a organização do Atendimento Educa- políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.
cional Especializado (AEE) não pode ser um mero apêndice na vida 29 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Decreto No 6.571, de 17 de setembro
escolar ou da competência do professor que nele atua. de 2008.

30 Organização das Nações Unidas - ONU. Convenção sobre os Direitos


das Pessoas com Deficiência. Nova Iorque, 2006.

130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que de- À gestão escolar compete implementar ações que garantam a
monstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, formação das pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, nas uni-
isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psico- dades de ensino. Ela pode se dar por meio de palestras informativas
motricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envol- e formações em nível de aperfeiçoamento e especialização para os
vimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu professores que atuam ou atuarão no AEE.
interesse (MEC/SEESP). As palestras informativas devem envolver o maior número de
pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE, pais, au-
A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino re- toridades educacionais. De caráter mais amplo, essas palestras têm
gular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de Atendi- por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele está sendo realiza-
mento Educacional Especializado da rede pública ou privada, sem do e qual a política que o fundamenta, além de tirar dúvidas sobre
fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem estar de acordo com este serviço e promover ações conjuntas para fazer encaminhamen-
as orientações da Política Nacional de Educação Especial na Pers- tos, quando necessários.
pectiva da Educação Inclusiva e com as Diretrizes Operacionais da Para a formação em nível de aperfeiçoamento e especialização,
Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado a proposta é que sejam realizadas ações de formação fundamenta-
na Educação Básica (MEC/SEESP). das em metodologias ativas de aprendizagem, tais como Estudos
Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de reorien- de Casos, Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem
tação de escolas especiais e centros especializados requer a cons- Based Learning (PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Tra-
trução de uma proposta pedagógica que institua nestes espaços, balhos com Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR),
principalmente, serviços de apoio às escolas para a organização das entre outras.
salas de recursos multifuncionais e para a formação continuada dos Essas metodologias trazem novas formas de produção e orga-
professores do AEE. nização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro do pro-
Os conselhos de educação têm atuação primordial no creden- cesso educativo, dando-lhe autonomia e responsabilidade pela sua
ciamento, autorização de funcionamento e organização destes cen- aprendizagem por meio da identificação e análise dos problemas e
tros de AEE, zelando para que atuem dentro do que a legislação, da capacidade para formular questões e buscar informações para
a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, a preferência pela responder a estas questões, ampliando conhecimentos.
escola comum como o local do serviço de AEE, já definida no texto Tradicionalmente os cursos de formação continuada são centra-
constitucional de 1988, foi reafirmada pela Política, e existem ra- dos nos conteúdos, classificados de acordo com o critério de per-
zões para que esse atendimento ocorra na escola comum. tencimento a uma especificidade, tendo sua organização curricular
O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola do pautada num perfil “ideal” de aluno que se deseja formar. Estes mo-
aluno está na possibilidade de que suas necessidades educacionais delos de formação estão sendo cada vez mais questionados no con-
específicas possam ser atendidas e discutidas no dia a dia escolar e texto educacional e algumas metodologias começam a surgir com
com todos os que atuam no ensino regular e/ou na educação espe- a finalidade de romper com esta organização e determinismo. Tais
cial, aproximando esses alunos dos ambientes de formação comum metodologias rompem com o modelo determinista de formação,
a todos. Para os pais, quando o AEE ocorre nessas circunstâncias, considerando as diferenças entre os estudantes e apresentando
propicia-lhes viver uma experiência inclusiva de desenvolvimento e uma nova perspectiva de organização curricular.
de escolarização de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos Zabala31 defende uma perspectiva de organização curricular glo-
exteriores à escola. balizadora, na qual os conteúdos de aprendizagem e as unidades
temáticas do currículo são relevantes em função de sua capacidade
A Formação de Professores para o AEE de compreender uma realidade global. Para Hernandez32, o concei-
to de conhecimento global e relacional permite superar o sentido
Para atuar no AEE, os professores devem ter formação específi- da mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe
ca para este exercício, que atenda aos objetivos da educação espe- estabelecer um processo no qual o tema ou problema abordado
cial na perspectiva da educação inclusiva. Nos cursos de formação seja o ponto de referência para onde confluem os conhecimentos.
continuada, de aperfeiçoamento ou de especialização, indicados É neste contexto que surgem as metodologias ativas de apren-
para essa formação, os professores atualizarão e ampliarão seus co- dizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do docente. Uma
nhecimentos em conteúdo específico do AEE, para melhor atender delas refere-se à flexibilidade diante das questões que surgirão e
a seus alunos. dos conhecimentos que se construirão durante o desenvolvimento
A formação de professores consiste em um dos objetivos do dos trabalhos. Este processo permite aos professores e aos alunos
PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação com a aprenderem a explicar as relações estabelecidas a partir de infor-
aprendizagem permanente de professores, demais profissionais mações obtidas sobre determinado assunto e demonstra respeito
que atuam na escola e também dos pais e da comunidade onde às diferentes formas e procedimentos de organização do conheci-
a escola se insere. Neste documento, apresentam-se as ações de mento. Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do
formação, incluindo os aspectos ligados ao estudo das necessida- processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo aos
des específicas dos alunos com deficiência, transtornos globais de conteúdos da formação.
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Este estudo
perpassa o cotidiano da escola e não é exclusivo dos professores
que atuam no AEE.
31 ZABALA, A. A Prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998.

32 HERNANDEZ, F; VENTURA, M. A Organização do Currículo por Proje-


tos de Trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

131
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os conteúdos não se tornam à finalidade, mas os meios de en- O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja ainda
sino. As metodologias ativas de aprendizagem têm como caracterís- muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mu-
tica o fato de se desenvolverem em pequenos grupos e de apresen- dança, especialmente no meio educacional, convence a todos pela
tarem problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo, sua lógica e pela ética de seu posicionamento social.
cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz a de- Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo na ins-
senvolver os trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a conside- tituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos males que o
rar o contexto ao elaborar as propostas das soluções, tornando-o conservadorismo escolar tem espalhado pela nossa infância e ju-
consciente do que ele sabe e do que precisa aprender. Motiva-o a ventude estudantil.
buscar as informações relevantes, considerando que cada problema O futuro da escola inclusiva depende de uma expansão rápida
é um problema e que não existem receitas para solucioná-los. dos projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de trans-
Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem Colaborativa formar a escola, para se adequar aos novos tempos.
em Redes - ACR, construída a partir da metodologia de Aprendiza- Se hoje ainda esses projetos se resumem a experiências locais,
gem Baseada em Problemas, foi desenvolvida para um programa de estas estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e
formação continuada a distância de professores de AEE. Seu foco é redes de ensino brasileiras, porque têm a força do óbvio e a clareza
a aprendizagem colaborativa, o trabalho em equipe, contextualiza- da simplicidade.
do na realidade do aprendiz. A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido sufi-
A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos individuais ciente para enfrentar, com segurança e otimismo, o poder da velha
e coletivos. As etapas compreendem a apresentação, a descrição e e enferrujada máquina escolar. A inclusão é um sonho possível.
a discussão do problema; pesquisas em fontes bibliográficas para
favorecer a compreensão do problema; apresentação de propos-
tas de soluções para o problema em foco; elaboração do plano de
atendimento; socialização; reelaboração da solução do problema e EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA, UMA QUESTÃO DE DI-
do plano de atendimento; avaliação. REITOS HUMANOS
A proposta de formação ACR prepara o professor para perceber
a singularidade de cada caso e atuar frente a eles. Nesse sentido, a Iniciaremos conceituando cidadania e direitos humanos.
formação não termina com o curso, visto que a atuação do profes- Cidadania pode ser entendida como  a ciência e o exercício dos
sor requer estudo e reflexões diante de cada novo desafio. Finaliza- direitos e deveres civis, políticos e sociais previstos na Constituição.
da a formação, é importante que os professores constituam redes Direitos humanos são os direitos e as liberdades básicas neces-
sociais para dar continuidade aos estudos, estudar casos, dirimir sárias a todos os seres humanos.
dúvidas e socializar os conhecimentos adquiridos a partir da prática A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada
cotidiana. Para contribuir com estas ações, a internet disponibiliza pela Organização das Nações Unidas em 1948 e afirma que “todos
várias ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direi-
professores. tos, dotados de razão e de consciência, e devem agir uns para com
As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em especial os outros em espírito de fraternidade. “ (ONU, 1948)
as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o acesso às infor- A educação para a cidadania tem como premissas:
mações de forma rápida e constante. Elas permitem a participação - A necessidade de conhecer seus direitos e deveres para que
ativa do usuário na grande rede de computadores e invertem o pa- de fato um indivíduo que exerça plenamente a sua cidadania;
pel de usuário consumidor para usuário produtor de conhecimento, - A construção de uma sociedade democrática passa pelo exer-
de agente passivo para agente ativo, o que pode ampliar as possi- cício da cidadania que promove a atuação do indivíduo em múlti-
bilidades dos programas de formação pautados em metodologias plos setores da sociedade;
ativas de aprendizagem. - A educação para a cidadania objetiva formar indivíduos res-
Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a construção ponsáveis, autónomos, solidários e democráticos, capazes de dialo-
coletiva do conhecimento em torno das práticas de inclusão e, o gar com espírito crítico, criativo e inclusivo.
mais importante, socializar estas práticas e fazer delas um objeto O Ministério da Educação (MEC) determina como os principais
de pesquisa. temas a serem abordados na educação para a cidadania
- Políticas públicas, controle social e transparência;
Conclusões Finais - Educação para a sustentabilidade e respeito ao meio ambien-
Embora possa assustar pelo grande número de mudanças e pelo te;
teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos a apregoam “um - Cultura política e cultura pacifista;
caminho sem volta”. - Questões globais e valores universais;
Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em que essa - Interconectividade;
inovação acontece, marcando, grifando na nossa consciência de - Desafios locais e globais.
educadores o seu valor para que nossas escolas atendam à expecta-
tiva dos alunos de nossas escolas, do ensino infantil à Universidade. Legislação
A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos apren-
derem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de aula, A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em
serão adultos bem diferentes de nós que temos de nos empenhar seu artigo 22º diz que: “A educação básica tem por finalidades de-
tanto para entender e viver a experiência da inclusão! senvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispen-
sável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para pro-
gredir no trabalho e em estudos posteriores.”

132
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) descreve a competência de Responsabilidade e Cidadania como o “agir pessoal e coleti-
vamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”

PROCESSOS EDUCATIVOS NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: EXPERIÊNCIAS EM ÂMBITO


ESCOLAR E NÃO ESCOLAR

A intenção de acolher e incluir é essencial para que sejam adotados procedimentos a fim de transformar a prática pedagógica. Tais
procedimentos podem envolver dispositivos de acessibilidade, formações continuadas e práticas pedagógicas inventivas.
Os dispositivos de acessibilidade visam tornar o ambiente confortável para todos. O uso de piso táctil, a instalação de rampas de aces-
so entre outros, transformam o meio e incluem as pessoas com alguma necessidade especial.
A adoção de livros em multiformatos também é uma ação inclusiva. Esses livros apresentam várias versões, adaptáveis ás necessida-
des de cada um. Há versões com letras ampliadas, figuras tácteis, em Braille etc...
A formação continuada dos professores é fundamental para que eles adotem práticas inclusivas. Essa formação inclui desde a discus-
são e proposição de novas ideias até a instrumentalização dos profissionais para a utilização dos muitos recursos tecnológicos assistivos
disponíveis como softwares e plataformas digitais.
A educação inclusiva não trata apenas de alunos portadores de deficiência, mas dos diversos públicos que podem estar presentes na
escola como por exemplo, aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social, adultos que retomam os estudos, migrantes
entre outros.
Passa também pela educação inclusiva a flexibilidade e variedade nos ritos de avaliação que deve ser continuada e não resumida a
uma prova. É importante também que o professor defina objetivos comuns a todos e diferenciados para cada aluno. O progresso é funda-
mental para que o aluno permaneça motivado. As práticas avaliativas devem visar as muitas habilidades que o aluno possui.

Redes de apoio
Redes de apoio são todos aqueles que de alguma forma precisam estar comprometidos com o aprendizado do aluno com alguma
deficiência.
A família é a principal responsável pela vida escolar da criança ou do jovem e deve estar em conato constante com a escola, estabele-
cendo uma relação de confiança e cooperação.
Os profissionais de saúde que acompanham o aluno e que podem orientar os professores nas melhores formas de trabalhar com eles.
Aí estão incluídos: médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e psicopedagogos.

OS DIFERENTES MOVIMENTOS: INTEGRAÇÃO, NORMATIZAÇÃO E INCLUSÃO

Os seguintes termos causam bastante confusão na hora de realmente no momento de inserir o aluno com necessidades especiais na
sala de aula, onde muitas vezes a inclusão efetivamente é o que menos ocorre. Dessa forma, temos as seguintes nomenclaturas:

Exclusão: Se trata de deixar de lado, fingir que algo não existe. Onde as pessoas com necessidades especiais não estão inseridas em
nenhum tipo de instituição de ensino.

Segregação: Significa “separar “ as pessoas num só lugar e por último. As pessoas com necessidades especiais estão inseridas em
escolas especiais e as pessoas ditas “normais”, no ensino regular.

Integração: As pessoas com deficiência têm de se adequar à sociedade dominante, às suas regras. As pessoas com necessidades espe-
ciais estão na mesma instituição de ensino que as “ditas normais”, mas em grupos separados. Mesma escola, sala diferente.

Inclusão: É na realidade ainda um sonho significa: Aceitar as diferenças, valorizar cada pessoa, conviver dentro da diversidade huma-
na. Onde as necessidades especiais estão inseridas na mesma instituição de ensino e no mesmo grupo das pessoas “ditas normais”.

133
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A EDUCAÇÃO ESPECIAL, O ENSINO REGULAR E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO A PARTIR DA POLÍTI-


CA NACIONAL DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS

A Educação Especial é um tema que vem ganhando cada vez mais espaço no debate educacional, sobretudo a partir da Política Na-
cional de Educação Inclusiva, que busca garantir a inclusão escolar de todos os alunos, independente de suas condições físicas, sensoriais,
intelectuais ou emocionais. Nesse contexto, é fundamental compreender a relação entre a Educação Especial, o Ensino Regular e o Atendi-
mento Educacional Especializado (AEE), bem como o papel dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) na promoção da inclusão educacional.

— Educação Especial e Ensino Regular: uma relação necessária


A Educação Especial se constitui como uma modalidade de ensino que busca atender às necessidades educacionais especiais dos alu-
nos, garantindo-lhes os recursos, serviços e estratégias necessárias para a sua plena inclusão escolar. Essa modalidade de ensino não deve
ser vista como um substituto ao Ensino Regular, mas sim como uma complementação a ele.
O Ensino Regular é a modalidade de ensino que deve garantir a educação básica a todos os alunos, independente de suas condições
físicas, sensoriais, intelectuais ou emocionais. Nesse sentido, é fundamental que as escolas regulares estejam preparadas para atender a
essa diversidade, garantindo a acessibilidade arquitetônica, comunicacional e pedagógica.

— Atendimento Educacional Especializado: um direito dos alunos com necessidades especiais


O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um serviço educacional especializado que deve ser oferecido aos alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, matriculados no Ensino Regular. Esse atendimento deve ser realizado por profissionais especializados,
que utilizarão metodologias, recursos e estratégias diferenciadas, visando à promoção da aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos.
O AEE é um direito dos alunos com necessidades especiais e deve ser oferecido pela escola regular, de forma complementar ao ensino
comum. É importante destacar que o AEE não se constitui como uma modalidade de ensino, mas sim como um serviço que visa a garantir
a inclusão escolar dos alunos com necessidades especiais.

— Política Nacional de Educação Inclusiva e os Projetos Políticos Pedagógicos


A Política Nacional de Educação Inclusiva é um conjunto de diretrizes, estratégias e ações que visam à promoção da educação inclusiva
no Brasil. Essa política é baseada em princípios como a igualdade de oportunidades, o respeito à diversidade e a promoção da acessibili-
dade.
Nesse contexto, os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) têm um papel fundamental na promoção da inclusão educacional. O PPP é
um documento que define a identidade e a missão da escola, bem como as estratégias, metodologias e recursos pedagógicos que serão
utilizados para garantir uma educação de qualidade a todos os alunos.
O PPP deve prever a inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, garantindo-lhes o acesso aos recursos,
serviços e estratégias necessárias para a sua plena participação na vida escolar. Para tanto, é fundamental que o PPP seja construído de
forma participativa, envolvendo todos os segmentos da comunidade escolar, bem como os familiares e os próprios alunos com necessi-
dades educacionais especiais. Dessa forma, é possível garantir a efetividade das ações inclusivas, tendo em vista que as necessidades e
potencialidades de cada aluno são consideradas na elaboração do projeto.

134
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é uma das É necessário que o educador conheça bem seus alunos, suas
estratégias fundamentais para a promoção da inclusão escolar. habilidades, interesses e necessidades, para que possa elaborar um
Trata-se de um serviço educacional complementar, que deve ser plano de ensino que contemple a diversidade presente em sua tur-
oferecido aos alunos com deficiência, transtornos globais do desen- ma.
volvimento e altas habilidades ou superdotação, de forma a com-
plementar ou suplementar o ensino regular, bem como garantir o — Perfis de Aprendizes
acesso aos recursos didáticos e pedagógicos adequados. Existem diferentes perfis de aprendizes que podem ser encon-
A política nacional de educação inclusiva também preconiza trados em uma sala de aula, e é importante que o professor esteja
que as escolas regulares devem estar preparadas para receber os atento a cada um deles para poder desenvolver um trabalho peda-
alunos com necessidades educacionais especiais, disponibilizando gógico eficiente.
recursos e serviços necessários para a promoção da sua inclusão e
desenvolvimento. Isso inclui a capacitação de professores e demais • Alunos visuais: são aqueles que aprendem melhor através de
profissionais da educação para o atendimento a esses alunos, bem imagens, gráficos, mapas mentais e diagramas. O professor pode
como a adaptação do ambiente escolar e dos recursos didáticos e utilizar recursos visuais em suas aulas, como projeções de slides,
pedagógicos para atender às suas necessidades específicas. cartazes e ilustrações, para auxiliar na aprendizagem desses alunos.
A inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais • Alunos auditivos: são aqueles que aprendem melhor através
especiais é um desafio complexo, que demanda o envolvimento de da audição. O professor pode utilizar recursos sonoros, como áu-
toda a comunidade escolar, bem como a articulação com os servi- dios e música, para auxiliar na aprendizagem desses alunos.
ços e redes de apoio da comunidade local. Nesse sentido, é funda- • Alunos kinestésicos: são aqueles que aprendem melhor atra-
mental que a escola se articule com os serviços de saúde, assistên- vés do movimento e da prática. O professor pode utilizar atividades
cia social e outros serviços públicos, de forma a garantir o acesso práticas em suas aulas, como jogos, experimentos e simulações,
aos recursos necessários para a promoção da inclusão e desenvol- para auxiliar na aprendizagem desses alunos.
vimento desses alunos. • Alunos leitores/escritores: são aqueles que aprendem me-
Além disso, é importante destacar que a inclusão escolar dos lhor através da leitura e da escrita. O professor pode utilizar textos
alunos com necessidades educacionais especiais não se restringe à e atividades escritas em suas aulas, como resenhas, trabalhos e de-
garantia do acesso à escola regular. É necessário garantir também bates, para auxiliar na aprendizagem desses alunos.
o acesso à cultura, ao esporte, ao lazer e a outros aspectos da vida • Alunos com dificuldades de aprendizagem: são aqueles que
social, de forma a promover a sua inclusão plena na sociedade. apresentam alguma dificuldade em aprender, seja por questões
cognitivas, emocionais ou sociais. O professor deve estar atento a
A política nacional de educação inclusiva preconiza a inclusão esses alunos e oferecer apoio individualizado para ajudá-los a supe-
escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, garan- rar suas dificuldades.
tindo-lhes o acesso aos recursos, serviços e estratégias necessárias
para a sua plena participação na vida escolar. Nesse sentido, é fun- — Trabalho Pedagógico com a Diversidade
damental que as escolas regulares estejam preparadas para receber O trabalho pedagógico deve ser desenvolvido de forma a aten-
esses alunos, oferecendo-lhes o Atendimento Educacional Especia- der à diversidade presente nas salas de aula. Cada aluno possui uma
lizado e garantindo o acesso aos recursos e serviços necessários história de vida, um contexto social e cultural, e é importante que o
para a promoção da sua inclusão e desenvolvimento. professor esteja atento a essas particularidades para poder elabo-
O Projeto Político Pedagógico é uma ferramenta importante rar um plano de ensino que respeite a individualidade de cada um.
para a efetivação da política nacional de educação inclusiva, deven- O professor deve valorizar a diversidade presente em sua tur-
do prever a inclusão escolar dos alunos com necessidades educa- ma, seja ela étnica, cultural, religiosa, de gênero ou orientação
cionais especiais e garantir a participação de todos os segmentos da sexual. É importante que o ambiente escolar seja acolhedor e in-
comunidade escolar na sua construção. clusivo, para que todos se sintam seguros e respeitados. O diálogo
A inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais e a reflexão devem ser incentivados, para que os alunos possam
especiais é um desafio complexo, que demanda o envolvimento de expressar suas opiniões e vivências.
toda a comunidade escolar, bem como a articulação com os servi-
ços e redes de apoio da comunidade local. Nesse sentido, é funda- — Trabalho Pedagógico com Alunos com Dificuldades de
mental que as escolas sejam espaços de acolhimento e valorização Aprendizagem
da diversidade, onde todos os alunos possam se desenvolver plena- Os alunos com dificuldades de aprendizagem precisam de um
mente e alcançar seu potencial máximo. trabalho pedagógico diferenciado, que atenda às suas necessidades
específicas. O professor deve estar atento a esses alunos desde o
início do ano letivo, para poder identificar suas dificuldades e ofere-
cer a eles um atendimento adequado.
TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS DIFERENTES PERFIS O primeiro passo é a identificação do problema, que pode ser
DE APRENDIZES realizada por meio de observação, conversas com o aluno e sua fa-
mília e, se necessário, encaminhamento para uma avaliação mais
O trabalho pedagógico deve ser pensado de forma a atender especializada. Com base nessa identificação, o professor poderá
aos diferentes perfis de aprendizes que compõem as salas de aula. elaborar estratégias pedagógicas específicas para atender as neces-
Cada aluno possui uma forma única de aprender e cabe ao profes- sidades do aluno.
sor identificar essas particularidades e adaptar sua prática pedagó-
gica para atender a todos.

135
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Entre as estratégias que podem ser utilizadas para auxiliar alu-


nos com dificuldades de aprendizagem, destacam-se o uso de ma- O ENSINO COLABORATIVO COMO ESTRATÉGIA DE
teriais concretos e recursos audiovisuais, a utilização de jogos edu- INCLUSÃO ESCOLAR PARA OS ALUNOS PÚBLICO-ALVO
cativos e atividades lúdicas, a organização de atividades em grupo e DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
a realização de intervenções pedagógicas específicas.
O ENSINO COLABORATIVO E A INCLUSÃO
— Trabalho Pedagógico com Alunos Superdotados
Os alunos superdotados, por sua vez, apresentam desafios di- 33
O atendimento educacional especializado deve ser visto como
ferentes para o trabalho pedagógico. Esses alunos possuem habi- um complemento ao ensino comum, de forma que esse atendimen-
lidades acima da média em determinadas áreas e, portanto, pre- to deve ser realizado na escola pelo educador especial no turno in-
cisam de um estímulo diferenciado para que possam desenvolver verso ao do ensino comum, onde o aluno está inserido. Lembrando
todo o seu potencial. que este atendimento educacional especializado é direcionado so-
O trabalho pedagógico com alunos superdotados pode envol- mente aos alunos com necessidades educacionais especiais sendo
ver estratégias como a oferta de atividades enriquecedoras, a orga- estes o público alvo da educação especial não atuante como reforço
nização de projetos interdisciplinares, a realização de atividades em escolar.
grupos heterogêneos e o uso de materiais específicos que estimu- Portanto, o ensino colaborativo é um apoio pedagógico que visa
lem a sua curiosidade e criatividade. à aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais
Além disso, é importante que o professor esteja atento às ne- e as inter-relações entre educadores especiais e os professores de
cessidades emocionais dos alunos superdotados, que muitas vezes classe comum, articulando metodologias de ensino de formas dinâ-
podem se sentir isolados e incompreendidos. Nesse sentido, é fun- micas e alternativas para desenvolver a coletividade e a comunica-
damental que a escola promova espaços de convivência e discussão ção dentro de uma turma heterogênea.
que permitam a esses alunos compartilhar suas experiências e se Mendes, Vilaronga e Zerbato34, afirmam que: o ensino colabo-
sentir acolhidos. rativo/coensino/bidocência é um dos modelos de prestação de ser-
viço de apoio no qual um professor comum e um professor espe-
— Trabalho Pedagógico com Alunos com Transtornos do Es- cializado dividem a responsabilidade de planejar, instruir e avaliar
pectro Autista o ensino dado a um grupo heterogêneo de estudantes. Tal modelo
Os alunos com transtornos do espectro autista (TEA) apresen- emergiu como alternativas aos modelos de sala de recursos, classes
tam desafios específicos para o trabalho pedagógico. Esses alunos especiais ou escolas especiais, especificadamente para responder
podem ter dificuldades em áreas como comunicação, interação ás demandas das práticas de inclusão escolar de estudantes do pú-
social e comportamento, o que exige uma abordagem pedagógica blico alvo da educação especial.
diferenciada. De tal forma, o ensino colaborativo se define como uma parce-
O trabalho pedagógico com alunos com TEA deve partir da ria de trabalho entre o professor de educação especial e o professor
compreensão de que esses alunos têm uma forma diferente de da classe comum, tornando-se um facilitador do processo inclusivo.
compreender e se relacionar com o mundo. É importante que o Contudo, contextualizando essas práticas educacionais na classe co-
professor tenha empatia e esteja disposto a adaptar a sua prática mum, percebesse que ainda há uma grande resistência desses pro-
pedagógica às necessidades específicas desses alunos. fessores da classe comum em adequar essas estratégias de ensino
Entre as estratégias que podem ser utilizadas para auxiliar alu- para seu alunado público alvo da Educação Especial.
nos com TEA, destacam-se a organização de rotinas claras e previsí-
veis, o uso de recursos visuais e materiais concretos, a realização de Ensino colaborativo, coensino e a bidocência na prática
atividades estruturadas e a oferta de atividades que estimulem as
habilidades sociais e de comunicação. Segundo relatos de professores da Educação Especial, consta-
ta-se que há uma relação de hierarquia entre professor de classe
Para concluir, é preciso que haja um investimento em forma- comum para com o educador especial, havendo uma separação de
ção continuada para os professores, de forma a capacitá-los para público, sendo que o professor da classe regular determina quem é
o trabalho com os diferentes perfis de aprendizes. Além disso, é o sujeito da educação especial e a metodologia a ser usada.
fundamental que as escolas estejam equipadas com recursos pe- Contudo, Mendes, Vilaronga e Zerbato35 aborda que: o coensi-
dagógicos e tecnológicos que possam auxiliar nesse trabalho, bem no é uma estratégia de inclusão escolar, ou seja, busca favorecer a
como que haja um trabalho em equipe, envolvendo outros profis- participação e a aprendizagem da criança na classe comum, e foi
sionais da educação, como psicólogos, fonoaudiólogos e assistentes desenvolvida para evitar sistemas de retiradas ou de escolarização
sociais. separadas de alunos da população alvo da educação especial.
Somente assim será possível garantir uma educação de quali-
dade para todos os alunos, independentemente de suas dificulda-
des ou potencialidades. O trabalho pedagógico com os diferentes
perfis de aprendizes é um desafio, mas também uma oportunida-
de para o desenvolvimento de práticas educativas mais inclusivas
33 https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/19816_9188.pdf
e efetivas, que possam garantir a todos os alunos uma formação
integral e de qualidade. 34 MENDES, E.G; VILARONGA, C. A. R; ZERBATO, A. P. Ensino cola-

borativo como apoio à inclusão escolar: unindo esforços entre educação comum e
especial. São Carlos: UFSCar, 2014. p. 68- 88.

35 Idem.

136
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nessa perspectiva é visto que o sujeito da educação especial [...] esculpimos o outro traço por traço, num processo social e
tem o direito de permanecer na sala de aula comum participando quotidiano: sobre a base da loucura, construímos dia a dia o lou-
ativamente do contexto da sala de aula, pois este coensino pres- co; sobre a diferença de cor, fabricamos o negro; sobre a diferença
supõe que o professor da educação especial atue como um apoio de sexos, fazemos da mulher a costela complementar do homem;
para a classe não trabalhando exclusivamente centrado no aluno sobre a diferença de origem geográfica, convertemos o forasteiro-
com deficiência. esse que, não tendo podido falar durante séculos na festa popular,
Diante dessa abordagem entende-se que o professor da classe [...] e assim de cada um dele fizemos um estranho.
comum e educador especial devem trabalhar em conjunto na rea- O coensino abre caminhos para novas possibilidades em relação
lização de planejamentos, refletindo o contexto da turma contem- à inclusão, neste sentido os profissionais da educação especial não
plando a inclusão. são contra a inclusão, apenas querem refletir o contexto escolar
É possível perceber que na prática o coensino nem sempre e as práticas educacionais sem fechar os olhos para os problemas
acontece de forma ideal, sendo que existe uma resistência do pro- existentes no processo de ensino dos sujeitos. Possibilitando a so-
fessor de classe comum em aceitar aluno com deficiência como cialização e a escolarização do sujeito com deficiência e garantindo
sendo parte da turma, preferindo que este seja retirado da sala para uma aprendizagem de qualidade.
o trabalho individual com educador. Há muitos fatores que podem interferir tanto positivamente
Entretanto, Mendes, Vilaronga e Zerbato36 ainda consideram no coensino, quanto negativamente, é necessários os gestores das
que: a proposta de ensino colaborativo não é a do trabalho cen- escolas estarem cientes dos benefícios que o ensino colaborativo
trado no aluno com deficiência, pois ela tem como pressuposto propõe para que os professores de sala comum e educadores espe-
que ambos os professores trabalhem com todos os alunos em sala, ciais criem estratégias que possibilitem a aprendizagem de todos,
adequando-se as atividades para que todos os alunos tenham aces- é imprescindível haver definição de papeis, para evitar situações
so e possam participar da atividade planejada para dar alcance ao desconfortáveis ou sentimento de superioridade por parte de um
curriculum. dos profissionais.
Com ênfase nas ideias citadas anteriormente o coensino é um A troca de experiências é algo positivo e de grande relevância
apoio ao processo de inclusão, que é o principal objetivo, para isso para o sucesso do ensino colaborativo, o professor do ensino co-
é necessário o apoio administrativo da escola, empatia na parce- mum tem conhecimento sobre a sala de aula e conteúdo especí-
ria entre os professores, compromisso na organização dos planeja- ficos e o professor de educação especial, possui o conhecimento
mentos, tempo e flexibilidade e comunicação para a elaboração dos especializado sobre pessoas com deficiência. Mendes, Vilaronga e
conteúdos a serem trabalhados. Zerbato38 enfatizam que:
Partindo de relatos entende-se que nem todos esses itens são A força da colaboração encontra-se na capacidade de unir as ha-
contemplados nessa proposta de coensino o que acarreta no pro- bilidades individuais dos educadores, para promover sentimentos
cesso de inclusão e exclusão constante, enquanto a inclusão não de interdependência positiva, desenvolver habilidades criativas de
for entendida em sua amplitude o coensino encontrará dificuldades resolução de problemas e apoiar um ao outro, de forma que todos
em seu processo de adaptação, pois essa resistência dos professo- assumam as responsabilidades educacionais.
res em aceitar o sujeito da educação especial como aluno da classe Tendo em vista o ensino colaborativo como algo revolucionário
comum reforça a exclusão. na educação, percebesse que muitos professores ainda não pos-
Entende-se que o ensino colaborativo é desafiador ao professor suem conhecimento sobre o coensino, pois o acham semelhante à
de classe comum assim como tantos outros desafios que são en- bidocência, mas o ensino colaborativo vai além do trabalhar junto
frentados pela categoria, como baixos salários, salas de aula com e sim trabalhar colaborativamente, sem haver ensino paralelo em
número exagerado de alunos, falta de tempo para os planejamen- um mesmo espaço físico de uma sala de aula, as aulas tem que ter
tos, entre outros. o mesmo objetivo para todos, apenas adaptar o mesmo conteúdo
Para falar sobre ensino colaborativo, temos a necessidade de dado pela professora de sala comum para o público alvo da educa-
abordar a inclusão escolar, já que o coensino é uma ferramen- ção especial.
ta para a inclusão, diante desse contexto se prevê a presença de Mendes, Vilaronga e Zerbato39 afirmam que: é preciso, por tan-
professores de educação especial atuando em consonância com os to, melhorar a qualidade de ensino comum para então se poder
princípios da inclusão. Entende-se que os desafios da inclusão e do avaliar o quanto essa escolarização qualificada na classe regular
coensino são muitos, considerando que partes das demandas pe- pode fazer pela educação de crianças do público-alvo da educação
dagógicas provem do descompasso existente entre tempo escolar especial, e a partir daí definir as necessidades de complementação,
e tempo dos sujeitos. suplementação ou até mesmo substituição, nos casos em que as
Diante do desafio colocado para a escola de disciplinar e educar classes comuns não produzam evidencias de benefícios sociais e
os indivíduos, os professores mostram-se receosos, às vezes indig- acadêmicos para esses alunos.
nados com o acúmulo de trabalho que a inclusão está demandan-
do, o que observamos na escola é uma inclusão excludente. Garcia37
ao conceber a fabricação do outro como problema discorre:

38 MENDES, E.G; VILARONGA, C. A. R; ZERBATO, A. P. Ensino cola-


36 Idem.
borativo como apoio à inclusão escolar: unindo esforços entre educação comum e
37 GARCÍA, Ramón. “A propósito do outro: a loucura”. In: LARROSA, especial. São Carlos: UFSCar, 2014. p. 68- 88.
Jorge e PÉREZ DE LARA, Nuria (orgs.). Imagens do outro. Petrópolis: Vozes,
1998. P 24-46. 39 Idem.

137
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As escolas enquanto instituições obrigatórias têm o importan- Está correto o que se afirma apenas em:
te papel de desenvolver condições de igualdade para todos, mas (A) II e III.
nos perguntamos se de fato há uma necessidade de igualdade? (B) I e II.
Essa ideia de igualdade é semelhante ao processo de normaliza- (C) I e III.
ção, normalizar o sujeito para que ele se adapte a um determinado (D) I.
contexto, sendo assim, o professor da classe comum pensa que a (E) III.
função do educador especial é estar acompanhando o aluno com
necessidades educacionais especiais devido ao seu comportamento 3. (IFF - Técnico em Assuntos Educacionais - CESPE/2018) Nas
atípico. Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especiali-
Muitos são os desafios encontrados nas escolas inclusivas e zado na Educação Básica, Modalidade Educação Especial, discute-se
acerca da formação continuada. Apontamos aqui dificuldades so- a necessidade de implantação do atendimento educacional espe-
cioeconômicas da classe dos professores a carga horaria exaustiva cializado (AEE), que pode ser realizado na própria escola de ensino
e dificuldades de se adaptar às novas exigências que vão surgindo regular ou em centros de atendimento educacional especializado.
ao longo desta trajetória. Embora existam grandes dificuldades a A esse respeito, assinale a opção que apresenta competência(s)
serem enfrentadas ao longo desta caminhada profissional é preci- que cabe(m) ao professor de AEE.
so continuar insistindo no espaço social de escolarização e garantir (A) Prestar atendimento aos alunos especiais em classes co-
condições de aprendizagem com qualidade. A necessidade de enca- muns no horário regular de aulas.
rarmos a complexidade do campo da educação é emergente, pois, (B) Substituir o professor das classes comuns quando nelas es-
a cada dia nos depararmos com profissionais que não encontram tiverem matriculados alunos de AEE.
tempo e nem condições de trabalho que lhes permitam refletir e (C) Auxiliar os alunos que necessitem de AEE com fins à hete-
fazer uma análise sobre as suas práticas educacionais. A utopia da ronomia.
inclusão nos remete a pensar nas práticas escolares nos discursos, e (D) Elaborar e executar o plano de AEE, avaliando a aplicabilida-
no interesse dos gestores que se voltam num esforço centralizado, de dos recursos recebidos.
para não interrupção dos estudos em escola comum e para o con- (E) Providenciar e vistoriar acessibilidade física em todos os
trole da evasão escolar. ambientes da escola.
Logo, muitos são os desafios encontrados nas escolas inclusivas
e acerca da formação continuada. E aqui foram apontadas as dificul- 4. (Prefeitura de Unaí/MG - Pedagogo - COTEC) A questão refe-
dades socioeconômicas da classe dos professores, a carga horaria re-se à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96,
exaustiva e dificuldades de se adaptar às novas exigências que vão incluindo a redação dada pela Lei 12.796 de 2013. Nos termos do
surgindo ao longo desta trajetória. inciso I do art. 4º da LDBEN, a educação básica, obrigatória e gratui-
Contudo, embora existam grandes dificuldades a serem enfren- ta dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, será organizada
tadas ao longo desta caminhada profissional é preciso continuar da seguinte forma:
insistindo no espaço social de escolarização e garantir condições de (A) Educação infantil, pré-escola e ensino fundamental.
aprendizagem com qualidade. (B) Ensino fundamental e ensino médio.
(C) Pré escola, ensino fundamental e ensino médio.
(D) Ensino fundamental, ensino médio e ensino profissionali-
QUESTÕES zante.

1. Considere a afirmação: “A proposta de ensino colaborativo é 5. (Prefeitura de Niterói/RJ - Agente de administração Educa-
um trabalho centrado no aluno com deficiência, pois ela tem como cional - COSEAC) O Sistema Municipal de Ensino de Niterói organiza
pressuposto que o professor trabalhe com este aluno em sala de o ensino fundamental da seguinte maneira:
aula, adequando as atividades para que ele possa ter acesso e pos- (A) I Ciclo: 3 anos / II Ciclo: 2 anos / III Ciclo: 2 anos / IV Ciclo:
sa participar das atividades planejadas para dar alcance ao curricu- 2 anos.
lum.” (B) Ciclo: 1º, 2º e 3º anos / Ano escolar: 4º ao 9º ano.
( )Certo (C) Ciclo: 1º, 2º ano / Ano escolar: 3º ao 9º ano.
( )Errado (D) Ciclo I: 2 anos / Ciclo II: 3 anos / Ano escolar: 6º ao 9º ano.
(E) Ciclo I: 4 anos / Ciclo II: 1 ano / Ano escolar: 6º ao 9º ano.
2. (SEDUC/RO - Professor - IBADE) Sobre o conselho de classe,
leia as afirmativas. 6. (SEDUC/PE - Agente de apoio ao desenvolvimento escolar
I. O conselho de classe, em uma visão democrática, é uma ins- - FGV) De acordo com a LDB, leia o fragmento a seguir: “O Ensino
tância meramente burocrática em que se buscam justificativas para Fundamental _____, com duração de _____, gratuito na escola pú-
o baixo rendimento dos alunos. blica, inicia-se aos _____ de idade”. Assinale a opção que completa
II. O conselho de classe guarda em si a possibilidade de articu- corretamente as lacunas do fragmento acima.
lar os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo o (A) optativo - 8 anos - 7 anos
processo de ensino. (B) obrigatório - 8 anos - 6 anos
III. Para maior eficácia do conselho de classe, seria necessário (C) optativo - 9 anos - 7 anos
o envolvimento de outros segmentos da comunidade escolar, por (D) optativo - 8 anos - 6 anos
exemplo, alunos representantes de turmas. (E) obrigatório - 9 anos - 6 anos

138
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

7. (SEDUC/PI - Professor - NUCEPE) O Ensino Fundamental com De acordo com a declaração:


duração de 9 anos, (Diretrizes Curriculares Nacionais), abrange a I. O conceito de “necessidades educacionais especiais” passará
população na faixa etária dos: a incluir, além das crianças portadoras de deficiências, aquelas que
(A) 5 aos 13 anos de idade. estejam experimentando dificuldades temporárias ou permanentes
(B) 6 aos 14 anos de idade. na escola, as que estejam repetindo continuamente os anos escola-
(C) 6 aos 15 anos de idade. res, as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que
(D) 7 aos 14 anos de idade. vivem em condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas,
(E) 7 aos 15 anos de idade. as que sejam vítimas de guerra ou conflitos armados, as que sofrem
de abusos contínuos, ou as que simplesmente estão fora da escola,
8. O art. 23 da LDB incentiva a criatividade e insiste na flexibili- por qualquer motivo que seja.”
dade da organização da educação básica. II. A Declaração de Salamanca estabeleceu uma nova concep-
( ) CERTO ção, extremamente abrangente, de “necessidades educacionais es-
( ) ERRADO peciais” que provoca a secessão dos dois tipos de ensino, o regular
e o especial, na medida em que esta nova definição implica que to-
9. (FUNCAB - Pedagogo - EMSERH) A Escola Inclusiva é uma ten- dos possuem ou podem possuir, temporária ou permanentemente,
dência internacional do final do século XX. O principal desafio dessa “necessidades educacionais especiais”.
escola é: III. Dessa forma, orienta para a existência de um sistema único,
(A) Desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz de que seja capaz de prover educação para todos os alunos, por mais
educar todas, sem discriminação, respeitando suas diferenças. especial que este possa ser ou estar.
(B) Dar conta da diversidade das crianças oferecendo respostas IV. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados
adequadas às suas características e necessidades, solicitando com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996,
apoio de instituições e especialistas somente quando a família orientam a respeito de estratégias para a educação de alunos com
exigir. necessidades especiais. Para isso, estabeleceu um material didáti-
(C) Fortalecer uma sociedade democrática, justa e economica- co-pedagógico intitulado “Adaptações Curriculares” que insere-se
mente ativa. na concepção da escola inclusiva defendida na Declaração de Sa-
(D) Garantir às crianças com necessidades especiais uma con- lamanca.
vivência participativa com outras crianças com as mesmas ne- Assinale a alternativa correta:
cessidades especiais. (A) Apenas a I.
(E) Desenvolver o princípio da integração previsto na Declara- (B) I, II e IV.
ção Municipal. (C) I, III e IV.
(D) Todas estão corretas.
10. (CESPE - Conhecimentos Básicos - SEDF) Com relação à edu- (E) Nenhuma das alternativas.
cação especial/inclusiva e ao atendimento especializado, julgue o
item que se segue. 13. (Sudeste/MG - Técnico em Assuntos Educacionais - FCM/IF)
A educação especial/inclusiva tem caráter complementar ou su- A escola inclusiva é aquela que:
plementar, conforme o caso concreto. I- atua em coletividade, prezando o indivíduo, reconhecendo
( ) Certo sua identidade e subjetividade.
( ) Errado II- está preparada para receber os alunos, tendo a garantia da
acessibilidade física, metodológica, comunicacional e tecnológica.
11. (CESPE - Conhecimentos Básicos - SEDF) Com relação ao pla- III- tem o poder de acabar com as mazelas sociais, com a produ-
nejamento escolar e à educação especial/inclusiva, julgue o próxi- ção das desigualdades sociais.
mo item. IV- defende a inserção de alunos com deficiência com compro-
O plano de ensino deve ter coerência quanto a seus objetivos e metimentos mais severos para o ato de socialização.
aos meios para alcançá-los. São corretas as afirmativas:
( ) Certo (A) I e II.
( ) Errado (B) I e III.
(C) II e III.
12. (Prefeitura de Martinópolis - Professor de Educação Especial (D) III e IV.
- Big Advice) A noção de necessidades educacionais especiais en- (E) I, II, III e IV.
trou em evidência a partir das discussões do chamado “movimento
pela inclusão” e dos reflexos provocados pela Conferência Mundial 14. (UTFPR - Pedagogo) A Declaração de Salamanca apresentou
sobre Educação Especial, realizada em Salamanca, na Espanha, em princípios, políticas e práticas, que são explicitados nas legislações
1994. Nesse evento, foi elaborado um documento mundialmente atualmente vigentes e nos documentos oficiais. Sobre tais princí-
significativo denominado “Declaração de Salamanca” e na qual fo- pios, é correto afirmar que:
ram levantados aspectos inovadores para a reforma de políticas e (A) A Declaração de Salamanca refere-se à necessidade de to-
sistemas educacionais. das as crianças se adaptarem à educação regular, a partir dos
esforços da família e da comunidade.
(B) A Declaração de Salamanca acentuou as desigualdades his-
toricamente construídas em nossa sociedade, reforçando a se-
gregação e a exclusão.

139
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(C) A Declaração de Salamanca refere-se à educação nos países 13 A


em desenvolvimento, fruto das desigualdades promovidas pelo
sistema capitalista. 14 D
(D) A Declaração de Salamanca ressalta que os sistemas educa- 15 D
tivos devem ser projetados e os programas aplicados de modo
que tenham em vista toda a gama das diferentes características
e necessidades.
(E) A Declaração de Salamanca afirma que todas as crianças ANOTAÇÕES
têm direito fundamental à educação, mesmo que não consiga
se desenvolver e manter um nível aceitável de conhecimentos.
______________________________________________________
15. (COPERVE - Pedagogo - UFSC/2018) Considerando a avalia-
ção da aprendizagem na perspectiva da inclusão escolar, identifique ______________________________________________________
os itens que representam ações em consonância com práticas inclu-
sivas e assinale a alternativa correta. ______________________________________________________
I. Avaliar constantemente as potencialidades e os interesses de
______________________________________________________
todos que compõem a sala de aula, analisando o objetivo das ativi-
dades e dos conteúdos que são oferecidos considerando o desen- ______________________________________________________
volvimento e as necessidades de cada estudante.
II. Avaliar o estudante com deficiência considerando o padrão ______________________________________________________
de desenvolvimento da maioria dos estudantes da mesma sala de
aula com a mesma idade. Assim, comparando-o com o padrão esta- ______________________________________________________
belecido de ritmo, aprendizagem e desenvolvimento, será possível
pensar estratégias específicas. ______________________________________________________
III. Avaliar os estudantes com deficiência sem cobrar conteúdos
______________________________________________________
específicos referentes ao ano que estão frequentando e indicar a
aprovação automática, sem a necessidade de um processo avaliati- ______________________________________________________
vo formal e sistematizado.
IV. Construir uma avaliação que considere o processo pedagó- ______________________________________________________
gico envolvendo tanto os percursos dos estudantes como as es-
tratégias oferecidas pelo professor e as relações estabelecidas no ______________________________________________________
contexto escolar.
(A) Somente os itens II, III e IV estão corretos. ______________________________________________________
(B) Somente os itens I e II estão corretos.
(C) Somente os itens III e IV estão corretos. ______________________________________________________
(D) Somente os itens I e IV estão corretos.
______________________________________________________
(E) Somente os itens I e III estão corretos.
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 ERRADO ______________________________________________________
2 A
______________________________________________________
3 D
4 C ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 E
______________________________________________________
7 B
8 CERTO _____________________________________________________
9 A _____________________________________________________
10 CERTO
______________________________________________________
11 CERTO
12 C ______________________________________________________

140

Você também pode gostar