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Câmpus de Três Lagoas

Disciplina: Estudo de Libras


Docente: Profa. Dra. Sheyla Matoso
Discente: Matheus Medeiros Piquera

RESUMO COMENTADO

No artigo Prática pedagógica na educação de surdos: o entrelaçamento das


abordagens no contexto escolar, as autoras Molina e Vieira (2018) trazem uma
contextualização histórica que fundamenta e explica as características das três principais
metodologias aplicadas à educação de surdos: o Oralismo, a Comunicação Total e o
Bilinguismo. A partir do texto, é possível perceber como as práticas de diferentes períodos
históricos deixaram marcas no contexto escolar, nas atividades e relações professor/aluno,
intérprete/aluno e professor/intérprete, relações essas que como debatemos anteriormente
são múltiplas e complexas e que se veem permeadas por esses processos metodológicos
defendidos por Molina e Vieira.

O Oralismo foi principalmente utilizado contexto escolar que remonta até o


período da década de 1990. É uma metodologia que possibilita um olhar clínico, em que
não ouvir era apenas uma condição de transição, que poderia dessa forma, ser modificada
a partir do empenho pessoal e do empenho que englobava o contexto familiar como um
todo. Nesse apontamento metodológico, as únicas possibilidades de comunicação para o
surdo, são a voz e a leitura labial, a língua de sinais ou qualquer uso gestual era
terminantemente proibido de acordo com o aporte metodológico do oralismo, que muitas
vezes forçava uma condição desconfortável ao surdo que era impossibilitado de
experienciar o mundo da forma que fosse mais fácil e aprazível a ele.

A metodologia do Oralismo, era caracterizada por uma longa e cansativa rotina de


exercícios, tais exercícios tinham a característica de serem formados por repetições vocais
onde a criança pudesse desenvolver a fala e ter a mesma experiência em sala que um
aluno ouvinte teria. O trabalho pedagógico era muitas vezes confundido com o trabalho
fonoaudiológico nesse processo que o aluno surdo passava, e os recursos imagéticos eram
fortemente utilizados para o estímulo da formação dos gestos da boca que facilitariam a
oralização e a reprodução posterior de sons.

No Oralismo, surdos e ouvintes deveriam ter a mesma experiência pedagógica no


processo de alfabetização, porém, é notável que os surdos não vivenciam o mesmo
processo de aprendizado na alfabetização e muitas vezes sua participação era menor em
sala, tendo como resultado o pouco sucesso da prática do oralismo em sala e na
alfabetização dos alunos surdos.

A Comunicação Total, foi o formato metodológico que chegou ao Brasil no fim


da década de 1980, este aporte metodológico ainda visava um viés clínico ainda que
diferia do método do Oralismo no uso da língua de sinais, gestos ou mímica na
comunicação entre os alunos. Porém, o problema principal estava na utilização desses
recursos apenas como ferramenta para alcançar o objetivo final de oralização do surdo, e
não como a utilização de uma primeira língua. Dessa forma, a Comunicação Total ainda
é falha no sucesso escolar do aluno surdo, e também não trás a ele nenhuma autonomia
na vida em sociedade.

O Bilinguismo, entretanto, surge a partir do século XXI como uma resposta, no


contexto da educação de surdos, aos métodos anteriores. A utilização da Língua de Sinais
como forma pedagógica e como língua primária dos alunos surdos foi uma ação
revolucionária, e se tem também a introdução de Libras em conjunto com a Língua
Portuguesa oral-auditiva. As autoras, entretanto, apontam uma forte complicação, que é
a falta de acesso à Libras desde a infância da criança surda, esse fator dificulta a
materialização da metodologia do Bilinguismo e atrasa o desenvolvimento educacional
da criança.
No texto as autoras também mostram atividades de blogs para os alunos surdos
que mostram que ainda num contexto onde o Bilinguismo seria o modelo mais aceitado,
se vê a utilização de métodos mais próximos ao Oralismo e a Comunicação Total. Dessa
forma o que se vê é um processo pedagógico que age em contrassenso da lei, que por sua
vez garante a educação bilíngue aos alunos surdos. O resultado é uma permanência na
defasagem de aprendizado desses alunos e numa falta de integração dos mesmo no
contexto de sala de aula, e até mesmo fora dela, uma falta de preparação para a
convivência do surdo com o mundo que o cerca respeitando sua forma natural de ver e
experienciar o mundo.
Finalmente, pelas análises das autoras, é possível perceber que todo esse processo
antes comentado, resulta numa forte defasagem do aluno surdo, e que é papel do professor
e da escola pensar em estratégias pedagógicas que facilitem o acesso e a abordagem
correta no ensino dos alunos surdos, já que é no contexto desse ambiente que se constrói
toda a noção de aprendizado de alfabetização e da língua portuguesa. Dentro da escola,
estar amparado pela língua primária de alunos surdos facilitará todo seu acesso aos demais
tipos de conhecimento, permitindo uma educação verdadeiramente bilíngue, e permitirá
que esses alunos tenham um aprendizado justo e digno, mostrando para a sociedade
excludente que eles são tão capazes quanto qualquer aluno ouvinte e dando lugar à eles
numa escola verdadeiramente inclusiva.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

VIEIRA, C. R.; MOLINA, K. S. M. Prática pedagógica na educação de surdos: o


entrelaçamento das abordagens no contexto escolar. In: Educ. Pesqui., São Paulo, v. 44,
e179339, 2018.

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