No artigo Prática pedagógica na educação de surdos: o entrelaçamento das
abordagens no contexto escolar, as autoras Molina e Vieira (2018) trazem uma contextualização histórica que fundamenta e explica as características das três principais metodologias aplicadas à educação de surdos: o Oralismo, a Comunicação Total e o Bilinguismo. A partir do texto, é possível perceber como as práticas de diferentes períodos históricos deixaram marcas no contexto escolar, nas atividades e relações professor/aluno, intérprete/aluno e professor/intérprete, relações essas que como debatemos anteriormente são múltiplas e complexas e que se veem permeadas por esses processos metodológicos defendidos por Molina e Vieira.
O Oralismo foi principalmente utilizado contexto escolar que remonta até o
período da década de 1990. É uma metodologia que possibilita um olhar clínico, em que não ouvir era apenas uma condição de transição, que poderia dessa forma, ser modificada a partir do empenho pessoal e do empenho que englobava o contexto familiar como um todo. Nesse apontamento metodológico, as únicas possibilidades de comunicação para o surdo, são a voz e a leitura labial, a língua de sinais ou qualquer uso gestual era terminantemente proibido de acordo com o aporte metodológico do oralismo, que muitas vezes forçava uma condição desconfortável ao surdo que era impossibilitado de experienciar o mundo da forma que fosse mais fácil e aprazível a ele.
A metodologia do Oralismo, era caracterizada por uma longa e cansativa rotina de
exercícios, tais exercícios tinham a característica de serem formados por repetições vocais onde a criança pudesse desenvolver a fala e ter a mesma experiência em sala que um aluno ouvinte teria. O trabalho pedagógico era muitas vezes confundido com o trabalho fonoaudiológico nesse processo que o aluno surdo passava, e os recursos imagéticos eram fortemente utilizados para o estímulo da formação dos gestos da boca que facilitariam a oralização e a reprodução posterior de sons.
No Oralismo, surdos e ouvintes deveriam ter a mesma experiência pedagógica no
processo de alfabetização, porém, é notável que os surdos não vivenciam o mesmo processo de aprendizado na alfabetização e muitas vezes sua participação era menor em sala, tendo como resultado o pouco sucesso da prática do oralismo em sala e na alfabetização dos alunos surdos.
A Comunicação Total, foi o formato metodológico que chegou ao Brasil no fim
da década de 1980, este aporte metodológico ainda visava um viés clínico ainda que diferia do método do Oralismo no uso da língua de sinais, gestos ou mímica na comunicação entre os alunos. Porém, o problema principal estava na utilização desses recursos apenas como ferramenta para alcançar o objetivo final de oralização do surdo, e não como a utilização de uma primeira língua. Dessa forma, a Comunicação Total ainda é falha no sucesso escolar do aluno surdo, e também não trás a ele nenhuma autonomia na vida em sociedade.
O Bilinguismo, entretanto, surge a partir do século XXI como uma resposta, no
contexto da educação de surdos, aos métodos anteriores. A utilização da Língua de Sinais como forma pedagógica e como língua primária dos alunos surdos foi uma ação revolucionária, e se tem também a introdução de Libras em conjunto com a Língua Portuguesa oral-auditiva. As autoras, entretanto, apontam uma forte complicação, que é a falta de acesso à Libras desde a infância da criança surda, esse fator dificulta a materialização da metodologia do Bilinguismo e atrasa o desenvolvimento educacional da criança. No texto as autoras também mostram atividades de blogs para os alunos surdos que mostram que ainda num contexto onde o Bilinguismo seria o modelo mais aceitado, se vê a utilização de métodos mais próximos ao Oralismo e a Comunicação Total. Dessa forma o que se vê é um processo pedagógico que age em contrassenso da lei, que por sua vez garante a educação bilíngue aos alunos surdos. O resultado é uma permanência na defasagem de aprendizado desses alunos e numa falta de integração dos mesmo no contexto de sala de aula, e até mesmo fora dela, uma falta de preparação para a convivência do surdo com o mundo que o cerca respeitando sua forma natural de ver e experienciar o mundo. Finalmente, pelas análises das autoras, é possível perceber que todo esse processo antes comentado, resulta numa forte defasagem do aluno surdo, e que é papel do professor e da escola pensar em estratégias pedagógicas que facilitem o acesso e a abordagem correta no ensino dos alunos surdos, já que é no contexto desse ambiente que se constrói toda a noção de aprendizado de alfabetização e da língua portuguesa. Dentro da escola, estar amparado pela língua primária de alunos surdos facilitará todo seu acesso aos demais tipos de conhecimento, permitindo uma educação verdadeiramente bilíngue, e permitirá que esses alunos tenham um aprendizado justo e digno, mostrando para a sociedade excludente que eles são tão capazes quanto qualquer aluno ouvinte e dando lugar à eles numa escola verdadeiramente inclusiva.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
VIEIRA, C. R.; MOLINA, K. S. M. Prática pedagógica na educação de surdos: o
entrelaçamento das abordagens no contexto escolar. In: Educ. Pesqui., São Paulo, v. 44, e179339, 2018.