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UNIVERSIDADE POTIGUAR

ESCOLA DE EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: Norma e Usos da Língua Portuguesa
PROFESSORA: Ana Luíza de Andrade Cavalcante
ALUNA: Talita Eva Fernandes da Costa

BECHARA, E. Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? 11° ed. São Paulo. Ática. 2005

No primeiro capítulo, Bechara nos apresenta um panorama das crises no meio do ensino,
que embora distintos, se encontram interligados. São essas crises: na ordem institucional (na própria
sociedade), que privilegia o uso coloquial da linguagem, assim, ignorando a norma culta. As
Universidades, que desdobram a Linguística não conseguindo chegar a algo unilateral capaz de ser
entendido aos estudantes e a terceira se dá nas escolas, que não fazem a distinção entra gramáticas
geral, descritiva e normativa, deixando a normativa de lado, como se ela fosse de todo ruim para o
ensino, embora, como veremos mais à frente, não é, e com isso, não fazendo o aluno desenvolver a
educação Linguística necessária, uma vez que, já chegando à escola com uma linguagem prévia,
limitando-se apenas a oralidade, é necessário perpassar a norma culta para aos alunos para que
tenham consciência de que, primeiro: oralidade e escrita são coisas diferentes e segundo, é preciso
saber o uso de norma culta para ter a clareza de quando será necessário usá-la. Não é possível sua
exclusão, mas sim absorver que ela é imprescindível para a vida quanto seres sociáveis.

“O resultado é que os alunos, não sendo alertados para o propósito estilístico que inspira a opção
lingüística, limitando-se a essa leitura, têm perdido o contacto com os tradicionais textos “clássicos”
e, com isto, a oportunidade de extrair deles subsídios para o seu enriquecimento idiomático,
especialmente no campo da sintaxe e do léxico.”
(p. 6-7)

Com isso, Bechara acredita que a escola perde a oportunidade de ensinar ao educando quão
importante são os textos literários (e consequentemente os nãos literários) para a formação do aluno
e seu desenvolvimento como estudante e cidadão.

O capítulo 2 se inicia com Bechara citando a Educação Linguística e como ela tem sido
considerada ao longo dos tempos. Onde, quando descoberta, foi preocupação para os linguístas, mas
com o passar do tempo, considerada por educadores como algo apenas técnico didático, embora
atuando como um bom campo da área da pesquisa, obtendo resultados para a linguística e a área da
educação.
“a linguagem não é apenas uma “matéria” escolar entre as outras, mas um dos fatores decisivos ao
desenvolvi mento integral do indivíduo e, seguramente, do cidadão.” (p. 8)

Essa citação é de Raffaele Simone, professor bastante citado durante todo o livro e que Bechara
utiliza para validar suas opiniões, por conseguinte, essa opinião de Raffaele Simone bate com o que
acredito sobre a linguagem. Ela vai muito além de uma simples disciplina (seja na escola ou na
universidade), ela perpassa todos as áreas e ocasiões de nossa vida enquanto cidadãos. Dentro e fora
de casa. Precisamos lembrar que ao chegar a escola já temos plena consciência da linguagem. Já
chegamos sabendo falar, nos comunicar. Não entrando no mérito da oralidade culta, mas da
oralidade quanto caminho para a comunicação.

“de todos os componentes do currículo das escolas de ensino médio, foram os textos destinados ao
ensino de língua portuguesa os que mais sofreram com a onda novidadeira, introduzindo, além da
doutrina discutível, figuras e desenhos coloridos tão extemporâneos e desajustados, que aviltaram o
tradicionalismo e insultaram a dignidade por que sempre se pautaram os textos escolares entre nós”
(p. 9)

O que Bechara diz sobre a nova tendência de colorir os livros didáticos de Língua Portuguesa é algo
que deve ser levado a reflexão quando queremos falar sobre como melhorar o ensino de língua
materna e produção de texto. Com certeza não é introduzindo livros coloridos apenas para passar
uma boa impressão de saber se comunicar com o educando, contendo figuras com que “prendam”
sua atenção e lhe deixando apenas aprender sobre como separar sílabas, assim, usando o texto como
pretexto. Não basta adicionar o texto (seja ele ou não visual) e não dar-lhe um propósito que não
seja simplesmente didático e prático.

“Muito lucrariam os alunos se esses produtos de uma pretendida revolução educacional guardassem
a dignidade e a soma de boas informações que caracterizaram o Almanaque Garnier, por exemplo.”
(p. 9)

Não basta adicionar informações que tenham o cunho educacional que será passado apenas por ser
dentro de uma disciplina escolar, mas que seja aproveitado fora dela também. Algo que seja
interdisciplinar tanto com as demais disciplinas como a vida depois do portão da escola, depois da
porta de casa e assim sucessivamente. O almanaque Garnier foi um anuário criado entre de 1903-
1914 que continha diversas informações sobre inúmeras áreas do conhecimento. Desde de
publicidades, passando por literatura e geografia e chegando a astronomia e informes de saúde. O
mais importante, era podido ser lido e interpretado por diversas camadas da sociedade, de
comerciantes a políticos e era dirigido a essas mesmas pessoas, contando também com suas
participações para a criação do anuário.

“As ciências da linguagem vieram patentear que as línguas históricas são fenômenos
eminentemente orais e que o código escrito outra coisa não é senão um equivalente visível do
código oral, que, de falado e ouvido, passa a ser escrito e lido.” (p. 9-10)

Como já citado, temos a tendência a achar que oralidade e escrita são a mesma coisa. Que escrever
é apenas transcrever o que falamos, mas não é nada disso. Oralidade e escrita são códigos diferentes
e precisam ser ensinados cada um a sua maneira e serem tratados como tais. A principal questão é:
como deixar isso mais funcional para o aluno? E como interligar as duas coisas sem que suas
particularidades sejam deixadas de lado? Primeiramente, o professor de língua materna tem que ter
a consciência da linguagem prévia de seu aluno e assim, criar um ponto de ligação com eles. Sei
que agora a principal dúvida é: como criar um elo com eles se cada um tem realidades diferentes?

“cada falante é um poliglota na sua própria língua, à medida que dispõe da sua modalidade
lingüística e está à altura de descodificar mais algumas outras modalidades lingüísticas com as quais
entra em contacto, quer aquela utilizada pelas pessoas culturalmente inferiores a ele, como aquelas a
serviço das pessoas culturalmente superiores a ele.” (p. 13-14)

Vygostky acredita que somos seres sociais construídos sócio historicamente, isso significa que
nossa aprendizagem acontece no decorrer de nossa interação, em diversas fases da vida. Isso inclui
a escola que é se não o mais importante momento de nosso desenvolvimento, onde criamos novos
laços fora de nossa zona de conforto, que é a nossa casa. Então, fazer com o que educando esteja
atento as novas realidades é importante para que ele comece a compreender que existem pessoas
que diferem de sua visão de mundo. Veja, não cabe ao professor mudar o que o aluno pensa, mas
sim explicitar que sua verdade não é absoluta. Assim, pode-se abrir caminho para uma tática para
tratar texto e linguagem (com suas diversas variantes) como coisas diferentes que são, mas que
andam juntas para um melhor desempenho tanto escolar como social.

“A tarefa do professor de língua materna no que tange à execução de uma política de educação
lingüística deve ampliar-se e enfileirar-se no rol dos componentes curriculares que permitam
chegarem os alunos a essa cultura integral” (p. 24)
Sobre o papel do professor de língua materna recai uma carga de que ele tem o exclusivo dever de
fazer o aluno chegar na Cultura Integral. Entende-se por Cultura Integral através do texto como os
diversos campos de conhecimento. De cunho educacional ou não. Mas é preciso tirar das costas do
professor de português essa responsabilidade e incluir que os demais componentes curriculares
também fazem parte dessa do caminho percorrido para chegar a essa Cultura.

“não é só através da aula de língua portuguesa que o aluno chegará a essa cultura integral; todas as
matérias que lhe são ministradas concorrem para esse objetivo maior. Mas acreditamos que é na
aula de língua portuguesa que se abre maior espaço para tais oportunidades. Ao entrar no mundo
maravilhoso das informações que veiculam os textos literários e não-literários, modernos e antigos,
terá o professor de língua materna a ocasião propícia para abrir os limites de uma educação
especificamente lingüística. Compete-lhe primeiro ministrar aos seus alunos conteúdos capazes de
levá-los à compreensão do mundo que os cerca, nos mais variados campos do saber” (p. 24)

Como dito anteriormente, é fato que não é apenas através da aula de português que o discente chega
a sua Cultura Integral, mas que a interdisciplinaridade é de extrema importância para percorrer esse
caminho. Entretanto, é através da aula de língua portuguesa que o aluno terá maior facilidade de dar
início a essa busca, uma vez que é nela que terá mais espaço para compor e explorar seus saberes,
conhecendo outros ramos como: a literatura, a escrita, a leitura e diversas áreas do conhecimento
que não são tão explorados em sala de aula.

O início do capítulo 3 se dá com a explicação do surgimento da gramática, passando pela


escolástica até chegar as salas de aula e suas mudanças através dos tempos.

“Com o passar dos tempos, a gramática se foi enriquecendo com os dados novos trazidos pelos
progressos da ciência, da linguagem, e a sala de aula se foi trans formando num palco de erudição
que acabava por definhar aqueles jovens alunos ainda não amadurecidos para as preleções
universitárias a que os submetiam seus professores.” (p. 35-36)

Por mais que seja desnecessário criticar a gramática normativa sem embasamento (uma vez que,
mesmo que ela não seja a melhor solução para determinada turma, mas poderá ser em outra), é
preciso saber que ela não deve ser encabeçada quando não há amadurecimento para tal recepção.
Não basta fazer com que uma sala de aula fale de forma erudita se ela não está pronta para isso e a
meu ver, tratando-se de ensino fundamental, nunca estará.
“nossos professores, em grande parte, embora muito conhecedores da matéria que ensinam, não têm
o necessário preparo pedagógico para saber o que se deve ensinar às crianças e o que deve ser
reservado para cérebros já desenvolvidos capazes de compreender o valor de certas generalizações e
abstrações” (ALI, Said. P. 36)

É mais proveitoso deixar clara que a intenção em aprender a língua é de se tornar um poliglota dela
mesma, do que impor que todos falem unilateralmente de forma culta, sendo que não será
perpassada além da sala de aula.

“Pouco importa, nessa fase da atividade escolar, se a criança comete um erro de gramática; é bem
mais importante analisar com ela se o que queria dizer ficou compreensível aos outros. Torna-se
necessário ajudá-la a encontrar as palavras que lhe faltavam para prosseguir na transmissão do que
estava comunicando e colocá-la em condições de não se deixar influenciar ou perturbar pelos
distúrbios que condicionam a sua execução.” (p. 47)

Nesse trecho, Bechara está explanando as opiniões do linguista Italiano Vincenzo Lo Cascio, onde
ele diz que é melhor para a criança que ela tenha noção de palavras que vão fazer ela ser entendida
por quem está captando a mensagem do que aplicar medidas corretivas, se ela está ou não falando
ou escrevendo corretamente. Afinal, no fim, é sobre isso que se trata a comunicação entre
indivíduos, se foi possível ou não se fazer compreender através da mensagem passada.

“uma notícia dada pela rádio italiana sobre o Brasil pode despertar particular e diferente interesse ao
apaixonado pela caça, ao biólogo, ao estudioso de etnologia, ao cidadão ou operário que aspira a
emigrar para estas plagas. Cada um, diante de uma mensagem que capta, a percebe e a filtra
consoante o seu interesse permanente ou ocasional.” (p. 48)

Lo Cascio também fala sobre a mensagem e suas derivadas interpretações por pessoas diversas. Por
muitas vezes, falamos algo que queremos que seja interpretado de determinada maneira, embora o
outro também tenha a liberdade de encarar da melhor forma que convém aquilo que lhe foi dirigido.
Algumas pessoas vão filtrar a mensagem dependendo do seu interesse. Por isso, a escola é
responsável por ensinar ao educando que mais considerável é prestar atenção nos aspectos mais
importantes do que está sendo dito e também distribuir essa atenção para com o ensino de leitura,
redação e gramática.
“Mas é claro que a gramática não se confunde com a lingüística, tendo em vista os próprios
objetivos de cada uma. Enquanto a primeira, normativa, registra o uso idiomático da modalidade
padrão, a segunda, como ciência, estuda a linguagem articulada nos seus polifacetados as pectos e
realizações” (p. 50)

Por mais que algumas vezes possamos cometer o equívoco de confundir gramática com linguística,
as duas são diferentes e contém suas particularidades. Gramática, em sua maioria, é normativa e tem
por objetivo registrar o uso da modalidade dita padrão. Já a linguística é uma ciência que estuda a
linguagem e suas multifaces e realizações.

“A gramática gerativa e transformacional se preocupou em reformular, entre outras coisas, o estudo


da sintaxe, mas até agora foram poucos ou nenhuns os resultados de sua influência positiva
aproveitados pela gramática escolar.” (p. 54)

A pouca ou não utilização das demais gramáticas em sala de aula mostra que por mais que a
gramática normativa tenha seus furos perante a educação, ainda é a mais utilizada. Como já dito,
não há necessidade de se desfazer dela por uma pura questão pessoal, sem embasamento teórico. Se
ela continua a ser utilizada deve ter seus méritos e é preciso estar atento a nós mesmos para que não
façamos mal uso deles.

“O que, de modo algum, compete à lingüística é ser o pelourinho da gramática tradicional,


apontando-lhe os erros mas não a enriquecem com sucedâneo mais eficazes.” (p. 58)

Pegando exemplo do que foi dito no capítulo 2 sobre os novos livros didáticos de língua portuguesa
que não manifestam nenhum melhoramento diante da crise do ensino, com suas figuras coloridas,
de nada adianta retirar a gramática tradicional sem dar ao educando, subsídios melhores para
alavancar sua jornada diante do ensino de língua materna.

“Se bem explicada e precisamente formulada, a abordagem tradicional é pelo menos tão boa quanto
qualquer outra alternativa que tenha sido até agora apresentada” (p. 58)

John Lyons, linguista britânico diz que o que realmente importa é como o assunto chegará ao aluno.
Uma vez que a gramática tradicional é utilizada e quanto a isso não resta dúvidas, o que nos
interessa é levar a melhor explicação possível para que ela se faça entender a quem mais interessa: o
discente.
“Outro ponto que há de merecer a acurada atenção dos cursos de formação de professor de língua
portuguesa é o que diz respeito aos procedimentos pedagógicos a serem utilizados em sala de aula.
Pouco aproveita o profundo conhecimento teórico que o professor venha a ter de sua disciplina, se
lhe faltam as condições mínimas do saber didático-pedagógico que lhe permitam desvendar ao
aluno os segredos de sua ciência.” (p. 62)

Nesse trecho do livro, Bechara fala sobre a falta de conhecimento pedagógico de alguns professores
de língua materna, por mais conhecimento teórico que possua, de nada adianta ir à frente da sala de
aula sem conceber a pedagogia e o bom aproveitamento dos procedimentos que serão utilizados. É
necessário que os cursos que formam professores de línguas, esteja interligado aos cursos de
pedagogia e as demais áreas. Já citei a importância da interdisciplinaridade para o bom desempenho
do aluno em sua Cultura Integral, portanto, universidades precisam interpor na individualidade de
cada curso, uma vez que mesmo que suas particularidades sejam respeitadas e mantidas, a união dos
cursos de licenciatura precisa acontecer para o sucesso tanto de novos professores quanto dos
alunos e sistemas de ensino.

“O nosso professorado, apesar de toda sorte de desamparo que, por todos esses anos, tem recaído
sobre os seus ombros, tem-se mostrado vigilante no seu aperfeiçoa mento e confiante em dias
melhores.” (p. 64)

Um dos trechos mais importantes do livro, que trata o professor como o ser humano que é e mostra
o lado sensível dele. Estamos cheios de informações de que educadores trabalham de maneira
estarrecedora, com falta de verbas, com alunos desrespeitosos (e porque não dizer com gestores
desrespeitosos), com calor, fome e sem horário. Mas, que mesmo assim, alguns, e não poucos, se
permitem mais uma vez a esperança de um futuro melhor, de um trabalho melhor, de condições
melhores, mas que por mais esperança que esse professorado tenha, ele já dá sinais de cansaço e
busca se empregar em ocupações que não são o que queriam, assim fugindo do magistério e
buscando outras alternativas para poder sobreviver.

“A sociedade brasileira, através de todas as suas agências de educação, deve despertar para os
problemas que afligem o professorado, sob pena de encontrá-lo in capaz de lutar pela sua redenção”
(p. 64)
Mesmo que seja um problema batido, precisamos alertar a sociedade, já que é parte do problema do
ensino, para essa sobrecarga do professor, pois, quem sabe chegue o momento em que o
professorado não mais lutará pelo seu espaço e com isso a sociedade brasileira perderá tanto ou
mais que eles.

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