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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - ICHPO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Disciplina: História da África 2018-2
Prof. Aurelino J F Filho

Avaliação individual de conteúdo e aprendizagem

Valor: 40 pontos
Data para devolução (impressa): 26-11-2018

Questão única

Considerando as leituras e discussões em aula elabore uma síntese, citando os


autores utilizados, considerando as seguintes temáticas sobre a história da
África: África profunda; colonialismo e a invenção das tradições; a invenção da
África na perspectiva imperialista e aspectos da África contemporânea a partir
da entrevista de J. Ki-Zerbo.

Discente: Isabella Laísa Santos Franco

Folha de Resposta.

De acordo com a bibliografia estudada ao decorrer da disciplina História da África e


nos debates em sala de aula, podemos trazer uma discussão acerca de uma nova perspectiva
historiográfica contemporânea sobre as principais temáticas relacionadas ao povo africano.
Tentando fazer um esforço de síntese, elencarei principais temáticas e ideias elaborada pelos
autores estudados, que são Amadou Hampaté Bâ, Leila Leite Hernandez, Terence Ranger e J.
Ki-Zerbo. Estes autores trazem uma perspectiva revisionista e crítica sobre a história da
África, rompendo com a tradicional visão europeia que relegou a história africana ao longo
dos anos, causando uma certa marginalização destes povos – tanto no meio social, como
também político, econômico e cultural.

Amadou Hampaté Bâ irá tratar sobre as questões da história africana a partir da


oralidade e da ancestralidade, também com uma visão crítica e reflexiva. Destacando que este
tipo de se fazer história, por muitos anos, não era aceito como legitima pelo olhar dos
colonizadores europeus, que consideravam apenas as formas escritas como autenticas e
passiveis de se fazer cultura e história de um povo. Segundo o autor, a oralidade diz respeito a
um importante mecanismo de preservar as tradições africanas que se faz presente em
diferentes âmbitos, transpassando muitas vezes a construção social, cultural e religiosa. Isto,
também, pode assumir um certo tom de magia e ligando a elementos da natureza, e isso é
passado através das gerações.

Hampaté Bâ destaca dois grupos que serão responsáveis por essa transmissão de
conhecimento os tradicionalistas e os griots. Os primeiros, eram considerados historiadores e
eram encarregados de transmitir e registrar a história de cada sociedade, reino, pessoas, etc., e
tinham como objetivo relatar apenas a “verdade”, eram homens letrados e faziam parte da
elite intelectual. Já os griots eram como cronistas, contavam histórias que nem sempre eram
verdadeiras, como se fossem trovadores, alguns ainda cantavam, faziam poesias, em sua
maioria eram animadores e artistas de rua. O autor ressalta que o estudo destes dois grupos é
fundamental para compreender a formação histórica, social, política e cultural dos povos
africanos, não fazendo juízos de valores priorizando um grupo em relação ao outro.

Já o autor, J. Ki-Zerbo, também irá atentar para as tradições orais que o povo africano
carrega em sua história, porém irá fazer uma relação aos processos de aculturamento de outras
nações, principalmente, europeias desta cultura como formas estratégicas de comercialização
no mundo capitalista. E também os desdobramentos sociais, políticos e econômicos que estes
países africanos, considerados “terceiro mundo”, sofrem com os processos da globalização -
que aprofundaram ainda mais as diferenças sociais e econômicas em diversos países, não
apenas os africanos, considerados subdesenvolvidos.

O autor destaca três características fundamentais para se entender esse processo de


aculturamento, dentro de um contexto político e econômico internacional. O primeiro, diz
respeito a própria compreensão de Estado, que em maioria dos casos são representados e se
constituem como sistemas de governo corruptos, desiguais, favorecendo uma pequena elite
burguesa. O segundo, é o processo da construção da identidade nacional, que não se veem
representados por esta determinada elite. O terceiro, é a independência financeira e política
que estes governos tem com relação aos países do ocidente, que ditam e controlam até mesmo
os meios culturais do país. Essas características estão interligadas, e isso é explicado,
principalmente, para os casos onde o Estado é ditatorial.

Outro aspecto que Ki-Zerbo aponta é a atuação dos globalizantes através das
instituições bancárias, como o FMI e o Banco Mundial, que fazem pressão sobre esses
Estados os fragilizando ainda mais, e mantendo uma situação de constante instabilidade
econômica e política. Refletindo isso também para o social e cultural, fazendo com que os
níveis de exportação sejam bem fracos em relação aos níveis de importação de produtos e
tecnologias de outros países, causando ainda mais uma certa dependência com os países
ocidentais.

Leila Leita irá destacar que essa dependência será construída dentro dos meios
acadêmicos e científicos dos estudos sociais e da história africana. Destacando para o papel
dos ocidentais em se tentar fazer uma história que legitimasse e justificasse os processos de
exploração e colonização do continente africano ao longo dos anos. A racionalidade ocidental
irá criar definições, como por exemplo “África Negra” e “África Branca”, para explicar
categorias da suas tradições e cultura, o que irá proporcionar também uma visão da
misticidade destes povos. Segundo a autora, esses preceitos são em sua maioria cheios de pré-
conceitos o que irá, de uma certa forma, legitimar a superioridade ocidental sobre a africana.

Para Terence Ranger, deve haver diferentes interpretações de África, que são
inventadas ou forjadas, a partir dos olhares de outros, ou seja, dos colonizadores. E que é a
partir desta criação de diversas culturas, que o imperialismo irá se legitimar, criando assim um
lugar social, econômico e político para estes povos – que irá produzir e legitimar a sua
marginalização e dependência em relação aos países ocidentais.

J. Ki-Zerbo, defenderá que mesmo sofrendo todo este processo de colonização e


imperialismo de países ocidentais e com forte pressão capitalista, a história destes povos
africanos deve ser estudada e entendida através de seu próprio povo. E, deve também, pensar
formas de tentar descolonizar esse olhar europeu e dominante sobre a cultura, o social, o
político e o econômico desses países. Buscando não apenas uma independência, mas também
uma afirmação e legitimação da identidade africana.

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