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Evaristo (2009), ainda não se chegou a um consenso sobre a existência de uma literatura
negra ou afro-brasileira, bem como sobre qual dos dois termos – negro ou afro-brasileira
– deve ser usado para denominá-la no caso de ela existir. Há, segundo a autora, um
grupo de escritores afro-brasileiros que garantem existir um corpus literário específico
na Literatura Brasileira, que se constituiria numa “produção escrita marcada por uma
subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de homens
negros e mulheres negras na sociedade brasileira” (EVARISTO, 2009, p.17).
No que diz respeito a si mesma, Evaristo (2009) afirma que, desde a sociedade
que a cerca, a tudo que viveu da infância à vida adulta: racismo, sexismo associado ao
seu pertencimento a uma determinada classe social em que nasceu e cresceu e a qual
ainda pertence seus familiares, tudo influencia na sua subjetividade. Ela enfatiza que é
impossível dissociar seu corpo de mulher negra daquilo que escreve e se questiona se
seria possível desvincular o ponto de vista veiculado no texto da subjetividade de quem
o produziu.
Contudo, segundo ela, ainda que neguem a existência de uma literatura afro-
brasileira, não se pode deixar de considerar que existe um discurso literário que, ao
conceber seus personagens e histórias, o faz de uma maneira diferente da previsível pela
literatura canônica, veiculada pelos grupos que detém o poder político e econômico.
Conforme Evaristo (2009), nos textos produzidos por autoras (es) negras (os), a questão
da etnicidade é abordada de uma forma positiva e não se tem a intenção de esconder a
identidade negra como é feito em várias obras da literatura brasileira produzida por
autores brancos. Os traços físicos que, muitas vezes são ridicularizados e citados como
forma de criar uma imagem estereotipada do negro são, ao contrário, valorizados pelos
escritores negros.
Ela comprova tal afirmação, fazendo uma breve análise de obras produzidas em
algumas escolas literárias. Analisa as produções de Gregório de Matos e Padre Antônio
Vieira, representantes do período fundador da Literatura Brasileira. Na produção do
primeiro, para ela, o negro surge como motivo de escárnio ou apelo sexual. Ele cria a
imagem da mulata sensual e libidinosa e a do mulato desavergonhado, pernóstico,
imitador do branco. Já nos textos do segundo, ela afirma que os negros são vistos como
um rebanho a apascentar; devendo, pois, serem submissos e se conformarem com sua
condição de escravos.