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Minha medida?

Amor1: o erotismo e as práticas de amor na obra Estado de libido


ou poesias de prazer e cura, de Carmen Faustino (2020).
Kézia Viana da Silva

Resumo: Pelo presente texto objetivou-se analisar os poemas da obra Estado de libido ou
poesias de prazer e cura (2020), da escritora Carmen Faustino. O nosso propósito pautou-se em
compreender como a voz poética feminina negra, presente nos poemas em estudo, estabelece
rupturas com as práticas coloniais ao reposicionar seu corpo e seu discurso frente as tratativas
eurocêntricas de poder e saber. Assim, os poemas entrecruzam questões voltados ao corpo
feminino negro (marcações corpóreas) concomitantes aos aspectos subjetivos que este mesmo
corpo aciona, em específico, quando a voz poética dota de positividade sua identidade negra,
bem como as possibilidades de sua execução, seja no plano afetivo, seja no agenciamento de
sua voz e de seu corpo.

Palavras-chave: Erotismo. Autoria feminina negra. Amor. Carmen Faustino.

Vozes em discordância [ou] ausências e insurgências.


Uma das características centrais difundidas na modernidade foi o processo de
colonização, resultando na normatização e universalização de um modelo de sujeito, cuja
origem dialogava diretamente com os parâmetros europeu, masculino, branco e cristão.
Enquanto modelo absoluto, tal perspectiva atuou na determinação de uma condição de
humanidade ao hierarquizar seres humanos, saberes e subjetividades.
Nesse cenário, como aponta a socióloga nigeriana Oyèronké Oyěwùmí (2020),
categorias como gênero e raça, produtos da era moderna, surgiram como eixos fundamentais
de estratificação e exploração de pessoas e sociedades. Incapaz de compreender e,
consequentemente, conviver de modo igualitário com outras formas de vivências e sujeitos, os
colonizadores se autoproclamaram como representantes do verdadeiro conhecimento,
projetando um ideário de humanidade que colocou em suspenso as múltiplas formas de
ser/existir dos sujeitos localizados nos continentes dominados pela colonização (Oyěwùmí,
2020).
Animalizados, posto que destituídos de sua humanidade, os sujeitos escravizados
tiveram suas identidades, culturas, línguas e memórias solapadas pela violência física e psíquica

1
Fragmento retirado da obra Da poesia (2017) de Hilda Hislt.
advindas da escravidão. Significamente, a classificação dos povos colonizados como “seres
naturalmente inferiores” atuou como uma forma eficaz e duradoura de dominação racial,
ecoando tanto no campo subjetivo (como forma de visão de mundo), como também no campo
objetivo (assimilação e materialização do aspecto subjetivo). Romper com as amarras
produzidas e naturalizadas pelo do sistema escravocrata não tem sido uma tarefa fácil,
principalmente se levarmos em consideração que as pessoas negras não foram consideradas
como cidadãs (não possuem os mesmos direitos civis e políticos garantidos pelo Estado) perante
a sociedade.
A escritora afro-estadunidense Bell Hooks (2010), no texto Vivendo de Amor, ilustra
como o período colonial e as divisões raciais produziram uma espécie de “ausência de amor”
diante das interações afetivas das pessoas negras. Para a autora, o impacto da escravidão, com
a brutalização dos corpos negros, resultou em experiências inseguras e acanhadas
demonstrações de afeto entre os povos escravizados. Tendo, majoritariamente, a violência
como modelo hierárquico de controle e dominação, as relações afetivas, amorosas, a intimidade
e a paixão entre os sujeitos escravizados eram postas em suspenso, uma vez que a prioridade,
naquele momento, eram a conservação da vida.
Nesse sentido, a autora reflete que “elas [pessoas negras] sabiam, por experiência
própria, que na condição de escravas seria difícil experimentar ou manter uma relação de amor”
(Hooks, 2010, n. p). É relevante assinalar que colocar em suspenso as diferentes formas de
expressão de sentimento não significam que os sujeitos escravizados fossem destituídos de tal
condição humana, a condição de amar e ser amado. A pensadora brasileira Lélia Gonzalez
(2020), no texto Racismo e sexismo na cultura brasileira, chama atenção justamente para este
fato, ao apontar para o não entendimento que alguns pesquisadores brancos demonstraram ter
em relação às práticas afetivas exercidas pelos sujeitos escravizados no período colonial. A
autora analisa as ideias concebidas no fragmento da obra Formação do Brasil, do sociólogo
Caio Prado Júnior (1976), justamente quando o pesquisador desconsidera, na sua totalidade, a
possibilidade de existência das relações amorosas entre os sujeitos escravizados.
Concebendo as interações afetivas no plano elementar, isto é, firmado no nível primário,
apenas e puramente associado ao ato sexual, o autor compreende que o “amor de senzala” não
foi capaz de se aproximar do “amor humano”. A esta perspectiva, conforme observa Lélia
Gonzalez (2020), “ele pouco teria a dizer sobre essa mulher negra, seu homem, seus irmãos e
seus filhos (...). Exatamente porque ele lhes nega o estatuto de sujeito humano. Trata-os sempre
como objeto. Até mesmo como objeto de saber (Gonzalez, 2020, p.84). Configura-se, a um só
tempo, uma dupla recusa: a de reconhecer a humanidade dos sujeitos escravizados
concomitante ao desprestígio do conhecimento que esse sujeito detém.
Aludindo sobre os estereótipos advindos da colonização e condicionados aos corpos e
subjetividades das pessoas negras, é possível facilmente identificar discursos que tendem a
associar as pessoas negras como trabalhadoras, guerreiras, cuja força e perseverança são
inesgotáveis2. Na contramão, este mesmo corpo, tão-somente, desempenha funções laborais,
colocando em suspenso outras formas de exercício que demanda de “um certo grau de
cognição”, isto ocorre porque a história colonial reconfigurou a noção de conhecimento e,
consequentemente, selecionou quem o detém.
Em seu estudo sobre as práticas cotidianas perpetuadas pelo racismo, a escritora
portuguesa Grada Kilomba (2020), na obra Memórias da plantação: episódios de racismo
cotidiano, apresenta como os conceitos: ciência, conhecimento e erudição são constitutivos das
relações de poder e do domínio racial. Ocupando a posição de objeto de análise dos discursos,
os sujeitos negros foram alocados ao lugar da “Outridade”, cuja voz, representatividade, bem
como seus conhecimentos foram sistematicamente invalidados, desqualificados, “ou então
representadas por pessoas brancas que, ironicamente, tornam-se “especialistas” em nossa
cultura, e em nós mesmos” (Kilomba, 2020, p. 51 – Grifo da autora).
Nessa linha interpretativa, de acordo com a autora, as produções de saber que dialogam
in/diretamente com a ordem eurocêntrica de conhecimento tendem a considerar as produções
dos sujeitos negros como desviantes, demasiadamente subjetiva, pessoal, parcial etc., não
construindo um conhecimento credível. Nesse cenário, “[...] o sujeito branco é assegurado de
seu lugar de poder e autoridade sobre um grupo que ele está classificando como “menos
inteligente” (Kilomba, 2020, p.55 – Grifo da autora). É estabelecido, portanto, a posição
hierárquica racial de sujeito discursivo em detrimento a posição do objeto falado.
Em oposição aos saberes localizados e estabelecidos pelo eurocentrismo, o ato da escrita
empreendida pelos sujeitos negros possibilita uma mudança de perspectiva entre quem fala e
que é falado, atuando, sobretudo, como“[...]um ato de descolonização no qual quem escreve se
opõe a posições coloniais tornando-se a/o escritora/escritor “validada/o” e “legitimada/o” e, ao
reinventar a si mesma/o, nomeia uma realidade que fora nomeada erroneamente ou sequer
nomeada” (Kilomba, 2020, p. 28 – Grifo da autora). Tão logo, a tomada da escrita emerge,
nesse cenário, como um ato político, uma ação na qual os sujeitos negros rompem com as

2
Interessante notar que o contrário também ocorre, se por um lado as pessoas negras são lidas através do
desempenho ímpio do serviço laboral, por outro, a indolência é imperativo diante do seu fazer laboral.
narrativas reducionistas elaboradas pelo eurocentrismo ao realocarem seus corpos, suas
subjetividades, suas histórias e memórias no centro das agendas socias e das discussões
operantes.
Nesse ponto, os estudos de Regina Dalgastagné (2021) nos oferecem um panorama
bastante emblemático e significativo em relação as produções e representações de sujeitos
negros dentro dos romances brasileiros contemporâneos. De forma quantitativa, as discussões
presentes na obra. Ausências e estereótipos no romance brasileiro das últimas décadas,
revelam as lacunas de autoria e de representação de autoras/es negras/os no interior da
constituição da literatura brasileira. Para a autora, o campo literário ainda é homogêneo, uma
vez que a autoria e a representação pertencem a um mesmo arquétipo de sujeito: homem,
branco, de classe abastada e meia idade.
Logo, entende-se que a tomada de escrita, descrita por Grada Kilomba (2020), realizada
por sujeitos negros não garante um “lugar ao sol” dentro do cânone literário, tampouco
possibilita uma ampliação das narrativas dos sujeitos negros, nas quais eles/as são, a um só
tempo, sujeitos e objetos das suas próprias histórias. Nessa dialética, porém, apontando para as
possibilidades de imaginar realidades outras (no campo científico, na linguagem política dos
segmentos sociais, no campo dos estudos literários etc.), diferentes linhas de pensamento
emergem no cenário atual como alternativas conceituais diante das produções epistemológicas
e homogêneas de conhecimento e representação. Povoando as margens, as teorias denominadas
como pós-modernas, pós-colonial, estudos culturais dentre outros, emergem como forma de
potencialização política de representação e de multiplicidade de vozes, atuando como forma de
tensionar a linguagem universal e abstrata dos sistemas tradicionais de conhecimento. Na
primeira orelha da capa da obra Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais (2020)
organizado por Heloisa Buarque de Hollanda, tem-se a seguinte definição de teoria decolonial
A perspectiva decolonial é uma das mais atuais e contestadoras linhas de
pensamento feminista contemporânea, reivindicando a desconstrução de
leituras hegemônicas sobre a mulher e o discurso de feministas oriundas dos
países historicamente dominantes. Como reação ao processo de colonização –
histórico e intelectual -, o pensamento decolonial irrompe o cenário do
feminismo com novas teorias e novos questionamentos sobre os problemas de
gênero, raça, classe e da própria epistemologia (Hollanda, 2020, n.p).

Seguindo essa linha alternativa, em específico, nos alinhando as proposições dos estudos
pós-coloniais, objetivamos, neste texto, problematizar e interpelar as noções de conhecimento
eurocentrado de modo a descontruir suas leituras hegemônicas sobre o corpo, as experiências e
representações das mulheres negras no campo literário. Nesta releitura, almejamos, igualmente,
analisar, sob o crivo do erotismo, as rupturas ocasionadas pela mulher negra (sobre os saberes
hegemônicos) ao deslocar-se da posição de objeto discurso e, para a posição de sujeito do
discursivo. Com isso, ao associarmos a tomada da escrita, proposta por Grada Kilomba (2020),
juntamente com a potencialização política de sujeitos e vozes proposta pelas teorias pós-
coloniais, ambicionamos lograr com a democratização do fazer literário, uma vez que, como
foi pontuando nas discussões anteriores, no campo literário ainda impera a autoria e
mimetização de um tipo de sujeito: o homem branco.
Para operarmos na chave dos conceitos descritos acima, acionaremos os poemas de
Carmen Faustino (2020), na obra Estado de Libido ou poesias de prazer e cura, justamente por
tematizar questões relativas ao corpo da mulher negra (marcações corpóreas) consoantes aos
aspectos subjetivos que esse corpo demanda. Publicado pela editora Oralituras, em 2020, a
obra possui 59 poemas no qual é apresentada uma voz poética feminina negra que reivindica o
agenciamento da sua palavra e do seu corpo em um movimento de resgatar o autoamor, a
afirmação de identidade, o retorno da ancestralidade, a aceitação, o afloramento do erotismo
etc., em um movimento de positivar tais características, uma vez que, como foi ilustrado
anteriormente, estes mesmos aspectos foram negados/suprimidos pelo processo de coisificação
propiciada pela escravidão. Sobre a autora, na segunda orelha do livro, a editora Oralituras
apresenta a seguinte biografia:
Carmen Faustino é periférica do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Poeta,
escritora, ativista, educadora e produtora. Formada em Letras e pesquisadora
da cultura negra, é presença marcante em ações culturais periféricas desde
2008. Atua em projetos de valorização da mulher e da Literatura Negra.
Coordena o projeto Baobá – Fortificando as raízes e integra o coletivo Samba
Pampa. É organizadora das publicações Pretextos de Mulheres Negras (2013),
Terra Fértil (2014), Mulheres líquido – Os encontros fluentes do sagrado com
as memórias do corpo terra (2015), Sambas escritos (2018), e Pilar: Futuro
presente- Uma antologia para Tula (2019). Participa de diversas publicações
entre elas, Inovação ancestral de Mulheres Negras (2018), Griôs da diáspora
negra (2017), Revista Fala Guerreira (2016) e O Menelik – 2ª ato (2014)
(Freitas, 2020, n.p).

Diante dessa postura política, ideológica e literária, frente aos projetos de representações
que repousam nos discursos e nas produções ditados pelo mundo eurocêntrico, Carmen
Faustino empreende o que Deleuze e Guattari (1977) designam como desterritorialização da
língua seguida de uma reterritorialização simbólica, isto é, tanto a sua produção poética quanto
sua participação ativa em organizações de obras de lavra feminina negra, se convergem em uma
tentativa de recompor, a partir palavra-ação, os modos de mimetizar a mulher negra, através de
um modelo de sistema próprio de representação.
Levando em consideração as proposições acima, tonar-se, igualmente, fortuito
apresentar, de modo breve, os propósitos que nortearam a criação da editora Oralituras.
Idealizada, de maneira independente, pela jornalista e gestora cultural Maitê Freitas, Oralituras
apresenta um compromisso (que também é resistência diante das narrativas homogêneas), com
as publicações de autorias que contemplam a experiência das mulheres negras e indígenas, uma
vez que, o grande mercado editorial, sendo campo de disputa narrativa, foi por muitos anos
palco de publicação e divulgação de discursos hegemônicos.
A este aspecto, a pesquisadora Zilá Bernd (1988), no texto As contraliteraturas: a
sombra e a consagração, observa como as editoras, entendida pela autora como uma das
instâncias legitimadoras de produção, determinam a fortuna crítica de uma criação artística ao
influenciar sua recepção na historiografia literária, e consequentemente, sua consagração e
conservação. Desse modo, Zilá Bernd (1988) entende que o valor estético e a temática de uma
produção literária não garantem sozinhos sua sacralização e/ou banimento, a existência das
junções acionadas pelas instâncias legitimadoras (revistas, tvs, jornais, editoras e livrarias -
Grifos meu) operam como fatores auxiliares que condicionam o destino das criações artísticas.
Diante do exposto, é possível observar, no contexto atual, o surgimento de editoras
independentes que nasceram dessa urgência em criar novos espaços: mais diversificado e
humanizador, que acolhem, mas também contestam os valores difundidos pela cultura
dominante. Nesse cenário, a editora Oralituras, diante das dificuldades encontradas pelas
mulheres negras e indígenas em registrarem suas histórias e memórias, devido às restrições
impostas pela colonização sobre os corpos e saberes, atua como uma alternativa outra para essas
mulheres que desejam de contar suas histórias e registrá-las no papel, e que almejam serem
lidas (Freitas, 2020).

Lélia Gonzalez e a questão da mulher negra na sociedade brasileira.


Antes de nos aventarmos pela textualidade corpórea que os poemas de Carmen Faustino
apresentam, é necessário entender, a priori, como a experiência de mulher negra é concebida
na/pela sociedade brasileira. Isto é, para que possamos compreender as reivindicações
solicitadas pela voz poética nos poemas em análise, torna-se necessário observar o “lugar
natural” ao qual as mulheres negras foram designadas, bem como o deslocamento que elas
fazem desse sistema opressor de padronização.
Reinterpretando o conceito de “lugar natural” teorizado por Aristóteles, Lélia Gonzalez
(2020), ainda no texto Racismo e sexismo na cultura brasileira observa como os diferentes
índices de produção econômica refletem na dominação e na segmentação de espaços físicos
ocupados pelos dominantes em oposição aos dominados. Não excedendo as condições de
existência material dos sujeitos escravizados, a autora constata que

O lugar natural do grupo branco dominante são moradias saudáveis, situadas


nos mais belos recantos da cidade ou do campo e devidamente protegidas por
diferentes formas de policiamento que vão desde os feitores, capitães de mato,
capangas etc. até a polícia formalmente constituída. Desde a casa-grande e do
sobrado até os belos edifícios e residências atuais, o critério tem sido o mesmo.
Já o lugar natural do negro é o oposto, evidentemente: da senzala às favelas,
cortiços, invasões, alagados e conjuntos “habitacionais” [...] dos dias de hoje,
o critério tem sido simetricamente o mesmo: a divisão racial do espaço
(Gonzalez apud Gonzalez, 2020, p.85).

Realidade situacional esta que acompanha a mulher negra ao articular a divisão racial e
sexual dentro do mercado de trabalho. No texto Pesquisa: Mulher negra (2020), através de
dados conferidos em porcentagens e tabelas (informações essas retiradas pela autora através do
Pnad/IBGE de 1976), Lélia Gonzalez ilustra como o racismo opera nas ocupações laborais ao
delinear as desigualdades salariais entre as pessoas brancas em oposição as pessoas negras.
Afunilando os resultados da pesquisa e os direcionando para as questões das mulheres
brancas e negras, os dados demostram que a concentração de serviços realizados pelas mulheres
centraliza na “prestação de serviços, social e de comércio de mercadorias (empregadas
domésticas, professoras, enfermeiras, balconistas), ampliados em consequência da
industrialização e da modernização.” Entretanto, a maioria das mulheres negras ocupam os
cargos cujas demandas vão ao encontro das ocupações manuais, isto é, a elas ficam destinadas
as atividades domésticas e os trabalhos nos campos/agricultura. “Isso significa que as atividades
sociais e o comércio absorvem principalmente as mulheres brancas [...]” (Gonzalez, 2020, p.
192). Interessante observar que esta absorção não ocorre por acaso, uma vez que o suposto
“lugar natural” delimita os campos de atuação que as mulheres brancas e negras podem ocupar,
isso implica pensar não apenas na diferença salarial que existe entre elas, mas também nos faz
pensar em questões como: “quem pode ser visto?”, “quem deve lidar com o público?”, “quem
possui a tão requerida boa uma aparência?”.
E ainda, Lélia Gonzalez (2020) ilustra como a posição social da “mucama”, no período
colonial, foi atualizado nas categorias doméstica, mulata e mãe preta. Sendo atribuições
lançadas para um mesmo sujeito/corpo, a mulher negra é atravessada por tais discursos e
representações (doméstica, mulata e mãe preta), a depender do contexto em que se encontra
inserida, “O lugar em que nos situamos determinará nossa interpretação sobre o duplo
fenômeno do racismo e do sexismo” (Gonzalez, 2020, p.76 - Grifo da autora). Um dos exemplos
simbólicos que a autora aciona, de forma a compreender transitoriedade das categorias acima e
seus efeitos sobre o corpo da mulher negra, é o mito da democracia racial e seus desdobramentos
no Carnaval.
De acordo com a autora, o rito carnavalesco é o único momento em que a mulher negra
se desloca da posição de empregada doméstica para a condição de rainha, transfigurando-se na
soberana “luminosa e iluminada” do carnaval, sendo alvo de elogios e desejos. Não por acaso,
este fato se altera significativamente no dia consecutivo, no cotidiano dessa mulher negra, pois
de rainha da bateria ela retorna à posição de empregada doméstica, aquela que sobrevive à
prestação de serviço (cuidar da casa de outrem e dos donos e filhos da casa). Pelo exposto, é
possível observar que o “lugar natural” condicionado aos sujeitos negros é uma criação da
colonização, um produto que se atualiza de acordo com as dinâmicas e os interesses dos sujeitos
que dele se beneficiam.

O amor precisa estar presente na vida de todas as mulheres negras, em todas as nossas
casas3: vivendo de dentro para fora ou renomeando o mundo circundante.
Ao associar o movimento descrito acima à nossa tradição colonial, torna-se evidente
como a força do racismo, e sua atualização, ainda impera sobre as vivências das pessoas negras,
no geral, e das mulheres negras, em particular. Contudo, igualmente, processos de ruptura,
convergidos em resistências, têm emergido no cenário atual como uma rasura discursiva que
constrói outros ditos e saberes que, sendo da ordem do devir, não se ajustam a uma condição
de humanidade que foi criada e delimitada por outros/colonizadores. Ao vir a ser/ torna-se a
ser, a mulher negra re/inscreve outras narrativas sobre seu corpo, suas experiências,
reposicionando afetos, reconstruindo identidades, resgatando memórias, pluralizando modos de
viver/existir etc., no sentindo de estabelecer outros territórios discursivos para além do que foi
in/escritos sobre seu modo de ser e de existir.
No lugar das proposições que dimensionam, e reduzem, as experiências das mulheres
negras à violência, sexismo, racismo, desumanização e subjugação, os processos de retomada
discursiva/narrativa buscam reposicionar os valores, pertencimentos e, sobretudo, a
manifestação dos sentimentos reprimidos e desconsiderados em prol de um cuidado de si, que
se torna também um cuidado do outro. A este aspecto, Bell Hooks (2010) discorre que:

A mulher negra descolonizada precisa definir suas experiências de forma que


outros entendam a importância de sua vida interior. Se passarmos a explorar

3
Fragmento retirado do texto Vivendo de amor, de Bell Hooks (2010).
nossa vida interior, encontraremos um mundo de emoções e sentimentos. E se
nos permitirmos sentir, afirmaremos nosso direito de amar interiormente. A
partir do momento em que conheço meus sentimentos, posso também
conhecer e definir aquelas necessidades que só serão preenchidas em
comunhão ou contato com outras pessoas (Hooks, 2010, n.p.).

Nesse sentido, ao validar aos aspectos subjetivos das mulheres negras entende-se que
esta ação é capaz de alterar de forma significativa o status quo, justamente porque, em sua
potência, é capaz de reconfigurar o que se entende por sobrevivência. Algo semelhante é o que
nos revela a escritora afro-estadunidense Audre Lorde (2020) na obra A irmã outsider, ao
reconhecer o caráter emancipatório da poesia em fusão com os aspectos subjetivos que as
mulheres negras senhoreiam. Em um movimento de descortinar os sentimentos mais profundos,
e por isso mais valiosos, alicerçado no autoconhecimento, a autora nos reconduz para
necessidade de romper com os silêncios herdados através do caráter revolucionário que a
linguagem poética manifesta.
Não por acaso, Audre Lorde considera que “À medida que os conhecemos e os
aceitamos, nossos sentimentos, e o ato de explorá-los com honestidade, se tornam santuários e
campos férteis para as ideias mais radicais e ousadas. Eles se tornam um abrigo para aquela
divergência tão necessária à mudança e à formulação de qualquer ação significativa”. Com isso,
sendo compreendida como algo essencial para a existência das mulheres, o caráter
emancipatório da poesia possibilita transformar os silêncios (aqui entendidos pelos sentimentos
reprimidos dos sujeitos negros, aludidos no início deste texto) em linguagem e a linguagem em
ação. “E, onde ainda não existe essa linguagem, é a poesia que ajuda a moldá-la” (Lorde, 2020,
p.47). Na mesma chave de leitura, a autora compreende o erotismo como um instrumento de
descolonização de saberes e experiências, atuando, sobretudo, como forma de manutenção de
poder. Ampliando e enriquecendo sua definição, a atividade erótica, para a autora, atua
fundamentalmente no reconhecimento do ato de viver de dentro para fora, isto é, no limiar entre
o abstrato e o concreto, o erótico deverá situar-se na linha de frente dessas concepções, em um
movimento de trazer à tona os sentimentos ao campo das ações.
A escrita literária de Carmen Faustino (2020), ao operar como forma de resistência e
ruptura às práticas coloniais de poder e saber, se alinha diretamente com as demandas do
erotismo e da poesia justamente por trazer à luz os aspectos políticos e libertatórios da escrita
de autoria feminina negra em um movimento da busca do autorreconhecimento dos vários eus,
do encontro de si com o outro, das experiências pessoais (da mulher negra) que suplementam
e estendem às experiencias do outro (de outras mulheres negras), do entrecruzamento de vozes,
do agenciamento da palavra-ação, enfim.
A experiência de liberdade, de afirmação de identidade e de emancipação corpórea, que
também é discursiva, são perceptíveis no poema Templo (2020) que apresenta uma voz poética
que reinterpreta e reescreve seu modo de se perceber no mundo ao centralizar suas emoções em
favor da sua autorreferencialização, que é entendido, também, como práticas de autoamor.
Templo
Que boas emoções
Consigam preencher
Meus silêncios vazios
E as confusões cinzas
Que roubam meu tempo
E pouco me deixam contemplar
O poderoso espelho
Que carrego comigo
Por fora e por dentro
Meu corpo
Meu sexo
Meu templo (Faustino, 2020, p.59).

Ao colocar em primeiro plano seus sentimentos, diante dos silêncios vazios e históricos,
a voz poética busca uma reversão com o passado colonial, no qual a supressão dos sentimentos
e o silêncio imposto imperavam como elemento constitutivo de dominação do seu modo de ser
e de pertencer, como bem observou Bell Hooks (2010). Pode-se inferir, também, que o poema,
em sua totalidade, dialoga implicitamente com os processos de naturalização e valoração da
estética hegemônica, melhor dizendo, a voz poética se distancia da imagem criada e atribuída
ao seu corpo e ao seu modo de existir, evidenciado no verso: por fora e por dentro, ao forjar
outros significados mediante a manifestação das “boas emoções” no seu cotidiano.
O jogo de relações e significados presentes no verso O poderoso espelho revela não
apenas o processo de reconstituição da individualidade, como também aponta para de um lugar
novo, cuja autônima identitária, impera diante da imagem do colonizador. A este aspecto, Bell
Hooks argumenta que “A afirmação é o primeiro passo para cultivarmos nosso amor interior”
(Hooks, 2010, n.p.). Afirmação esta que desencadeia e possibilita outras experiências, como a
autorreferencialização que, consequentemente, converte-se em um autoamor, conforme já foi
aludido. Em relação a essas discussões, Audre Lorde argumenta
[...] “conforme passamos a reconhecer nossos sentimentos mais profundos, é
inevitável que passemos também a não mais nos satisfazer com o sofrimento
e a autonegação, e com o torpor que frequentemente faz parecer que essas são
as únicas alternativas de nossa sociedade. Nossos atos contra a opressão se
tornam parte integral do nosso ser, motivado e empoderado desde dentro
(Lorde, 2020, p. 73).

Levando em consideração a proposição acima, a voz poética, ao reconhecer o valor dos


seus sentimentos como ferramenta de manutenção contra a opressão, acaba por experenciar
também a força que o erótico detém. Assim, a um só tempo, o erótico atua como fonte de
resistência e libertação em favor das demandas acionadas pela voz poética, requisições essas
que vem de dentro para fora, que não se submente mais as “confusões cinzas”, posto que
essencializadas, pelo lado de fora.
Analisando os aspectos estrutural do poema, pode-se observar o uso do recurso
estilístico da gradação, que consiste “no aumento ou diminuição contínua e gradual” (Bechara,
2011, p. 644.) de termos que se relacionam entre si, ocasionando tanto um reforço ou um
abrandamento das ideias propostas. No poema em análise, a voz poética ao relacionar os termos
fora, dentro, corpo, sexo e templo, intensifica e reforça os novos contornos da sua identidade
(que é esse lugar singular) de modo a elaborar novos sentidos para o seu presente. A experiência
de liberdade, em conjunto ao agenciamento do seu corpo, é estabelecida pela marcação do
pronome possessivo “meu”, que é um o recurso estilístico anafórico o qual “consiste na
repetição de uma ou mais palavras no princípio de sucessivos segmentos métricos (versos) ou
sintáticos” (Moisés, 1928, p. 23); cuja finalidade é reforçar a ideia de posse, de pertença e de
amabilidade para com esse corpo que fora tão castigado física e simbolicamente em tempos de
outrora.
Transformando a atividade erótica em experiencia poética, ou vice-versa, uma vez que
sua carga semântica se intercambia, o poema Soul expressa uma voz lírica que, mediante a
ternura e aos embalos cadenciados pelo próprio fazer poético, vislumbra a poesia como
materialidade do encontro com seu amante. Assim, em forma de um metapoema, a voz poética
compõe sua própria a sua experiencia afetiva em torno do fazer poético, tangenciando tanto a
potência de criação artística (ao utilizar recursos inerentes à composição de um poema) como
também apreende e explora à força transformadora do erótico dentro da sua relação amorosa,
como é possível observar
Soul E assim
Você é o ritmo Bailamos o bem viver
E eu sou a poesia Os tropeços e solfejos
Juntos Afeto ancestral
Os agudos ruídos Difícil de erguer
Do cotidiano doído Furacão de conflito
Soam leves aos corações Tempestade de prazer
E ouvidos Mas real
Equilíbrio das emoções E possível
Construção de um novo abrigo De viver (Faustino, 2020, p. 90)

Ao acionar o caráter emancipatório conferido pela poesia, a voz lírica cria um espaço
novo, no qual sentimentos como esperança, o afeto e o amor se tornam basilares para a
manutenção da sua existência/sobrevivência. Ao associar-se como poesia e, igualmente, seu
amado ao ritmo, a voz lírica projeta uma ideia de encadeamento que logra a completude, uma
vez que Juntos, ambos se acolhem em um cuidado coletivo contra os agudos ruídos que o
cotidiano, por vezes doloroso, propicia. As palavras ruídos, doído, ouvidos, para além da sua
disposição sonora, coabitam num campo semântico cuja representação nos direciona as
opressões advindas de outrora. Entretanto, com a junção dos amados frente as adversidades do
cotidiano, é possível inferir que há um reposicionamento de lugares e emoções, melhor dizendo,
há uma potencialização do vir a ser justamente quando é colocado em cena os sentimentos, o
afeto, a ancestralidade como ferramenta de combate contra os sistemas de opressão.
Aqui, se faz necessário recorrer novamente aos postulados de Bell Hooks quando a
autora argumenta que “É a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas,
na garantia da nossa sobrevivência. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente, (Hooks,
2010, n.p.). Plenitude esta que ocorre igualmente nas cisões dispostas nas palavras corações,
emoções, viver, erguer e prazer, tais elementos apresentam, em sua constituição, recursos
estilísticos como a rima externa, e nos direciona novamente um mesmo campo de sentido.
Assim, de forma gradativa, as emoções postas em primeiro plano contribuem para uma
experiencia mais fortuita que conduz a voz poética a viver de forma prazerosa ao lado do seu
amado.
Todo esse resgate de sentimentos, esse autocuidado que também é coletivo urge como
protesto aos traumas físico, simbólicos e psíquicos sofridos pelos sujeitos negros no período
colonial e que foi dinamizado nos tempos atuais, assim o poema Soul reconstitui as práticas
afetivas em um movimento de resposta/resistência ao conjunto de opressões estruturais criados
e marcados pela colonização.
Cristalizando-se nas teias discursivas da história literária, os temas voltados à vivência
e socialização dos sujeitos negros foram balizados através das lentes preconceituosas oriundas
da Europa. Todavia, no poema Curvas, a voz lírica utiliza-se da paródia como estratégia de
releitura e ressignificação de sentidos diante dos discursos estéticos eugenista que foram
direcionados a estética a sua estética, e de forma coletiva, a de todas as mulheres negras.
Circunscreve, portanto, um poema – contrarresposta, como é possível observar
Curvas Não mais
Que minhas curvas Se omite
Não se curvem Está vivo
E ocupem Arrepia
Os espaços Goza
Abundante Cria
Corpo meu Ama
Esse que E insiste (Faustino, 2020, p.53).

O jogo de palavras presente nos versos primeiros versos, em específico, nas palavras
curvas e curvem, acionam a figura de som conhecida como paronomásia, assim, por mais que
ambas mantêm similitudes sonoras e na forma de serem grafadas, elas não pertencem ao mesmo
campo semântico. Assim, dotada de valores positivos, as curvas referidas pela voz lírica
procuram não apenas ocupar espaços, mas permanecer nesses lugares de modo a não mais se
curvar, isto é, se submeter à uma estética que não sustenta a imensidão do seu corpo. A
pesquisadora Amanda Braga (2015) ilustra como a categoria de beleza atuou, a só um tempo,
como forma de padronização e subjugação do corpo das mulheres negras no período colonial,
assim
Os séculos XVIII e XIX, imbuídos num sistema escravocrata,
constituíram uma beleza castigada, ligada ao corpo e bifurcada entre o
olhar do negro sobre o negro e o olhar do branco sobre o negro”, a esta
última ocorrência a autora ressalta que na posição de observador, o
sujeito branco, tende a ver seu arquétipo como única referência estética
a ser considerada como beleza “daí as seleções eugênicas (Braga, 2010,
p.257).

Entretanto, a autora observa que, no cenário atual, a noção de beleza sofreu alterações
significativas no qual diferentes mulheres, que dispõem de diferentes corpos, se aceitam, se
reconhecem e celebram suas marcações corpóreas de modo a não se guiar mais e tão unicamente
pelo modelo instituído pelos discursos eugênicos. Levando em consideração as discussões
supracitadas, podemos inferir que nos versos “Está vivo”, “Arrepia”, “Goza”, “Cria”, “Ama”,
“E insiste”, a voz poética não sucumbe aos discursos estéticos naturalizados e padronizados
pela cultura hegemônica, ao contrário, ao afirmar sua identidade, celebrar as extensões de seu
corpo, a voz poética goza dessa liberdade de poder ser ela mesma.

Considerações finais
Ao articular o campo ideológico, estético, político e literário, a obra Estado de libido ou
poesia de prazer e cura (2020), de Carmen Faustino, rompe com as tratativas coloniais de poder
e saber, ao apresentar um eu-lírico, cuja autonomia discursiva e corpórea, possibilita uma
mudança de perspectiva entre as posições de sujeito discursivo e objeto falado. Não obstante, a
retomada da escrita em consonância com a agenciamento do próprio corpo, evidenciado nos
poemas, possibilita um reposicionamento de memórias, histórias e de discursos que contestam
a hegemonia cultural e ampliam as formas das mulheres negras se perceberem no mundo.
Nesse caminho, recorrendo a Audre Lorde: “Estudar a literatura de mulheres negras
exige efetivamente que sejamos vistas como pessoas inteiras em nossas complexidades reais –
como indivíduos, como mulheres, como humanas –, em vez de como um daqueles
problemáticos, ainda que familiares, estereótipos estabelecidos pela sociedade no lugar de
imagens autenticas de mulheres negras” (Lorde, 2020p. 146). Portanto, a poética de Carmen
Faustino (2020) tangencia os modos de como foram (e são) apreendidos os corpos e as
subjetividades das mulheres negras em um movimento de reconfigurar e reivindicar, através da
palavra-ação, a humanidade e os sentimentos que foram suprimidos pelo processo de
coisificação do racismo. Tem-se, portanto, uma voz feminina que, em contato o com o erótico,
caminha para a liberdade, para o autoamor, para a autorreferencialização, que afirma corpos e
ocupa espaços.
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