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Conclusões finais
Após uma apresentação e uma análise, mesmo que rasa, das duas
primeiras versões da Base Nacional Comum Curricular, e relacionar suas
construções com conceitos de currículo, identidade e narrativa-mestra,
podemos perceber que, de uma para a outra, a manivela girou.
A primeira versão, como trabalhado anteriormente, buscava essa ruptura
com a história da tradição escolar ao trazer a História do Brasil ao centro e
abarcar “o outro” - cultura afro-brasileira, formação dos povos africanos, povos
indígenas, etc. Essa primeira versão, como a historiadora Flavia Caimi (2015)
afirmava, buscava trazer ao aluno uma proposta curricular que auxiliasse no
autorreconhecimento de sua própria cultura e de seus antepassados próximos,
e não mais a produção de uma identidade baseada em valores europeus
oriundos da colonialidade. A tentativa de problematizar a identidade nacional,
em um primeiro momento a partir dessa proposta e apesar de suas diversas
lacunas e controvérsias, trouxe um “raio de luz” rumo a um currículo decolonial
e brasileiro.
A segunda versão, de 2016, retoma os paradigmas coloniais e volta a
abordar uma história baseada em uma linha evolutiva construída sob o
imperialismo europeu. Um currículo tradicional que apresenta um
“universalismo europeu” como ponto central dos estudos, que analisam a
formação da Europa como potência mundial e suas histórias paralelas
vinculadas ao seu expansionismo, como a História da América, da África e do
Brasil. Essa versão retoma aos conceitos de “narrativa-mestra” e demonstra
um processo de manutenção de um currículo, dado como ambiente de
disputas, colonializado, trazendo a história europeia como “verdade histórica”
no âmbito de ensino.
Desta forma, analisar as propostas curriculares da BNCC e suas
respectivas narrativa-mestra, presentes nas duas versões de formas totalmente
divergentes entre si, é analisar, direta e indiretamente, a construção social
envolta dos currículos brasileiros para o ensino de História, as demais
demandas sociais em disputa, que impactam diretamente em qual narrativa
pretendem-se iluminar dentro do currículo, e os conceitos identitários os quais
pretende-se formular e concretizar enquanto sociedade, dado o pluralismo
enquanto sociedade.
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