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Rio de Janeiro
2023
RESUMO
No caso deste trabalho, o foco é a utilização de músicas como uma ferramenta para
compor os materiais de uma aula, entendendo o papel que esse objeto de cultura tem no
desenvolvimento social dos alunos. Tendo isso em mente podemos utilizar de uma teoria
vygotskiana, onde a aprendizagem não é apenas uma aquisição de informações de forma
passiva, mas sim um processo ativo, interno e interpessoal em que o indivíduo está inserido
no meio social e cultural para pensar em novas formas de trabalhar os currículos de História
no contexto brasileiro. Ainda que essa metodologia seja defendida neste trabalho, é preciso se
atentar também a uma problemática levantada por Soares (2016), que é entender a diferença
entre memorizar uma letra de música e realmente compreender o que está sendo dito e seus
desdobramentos no conteúdo histórico.
*Tradução da autora
A primeira linha nos diz o momento em que estamos: 1781, Batalha de Yorktown. A
música começa no encontro de Hamilton e Lafayette, em que os comandantes conversam
sobre seus futuros e como a vitória mudaria suas vidas. A frase “Immigrants, we get the job
done” traduz não só o papel de ambos na guerra (um imigrante caribenho e um francês) como
também brinca com a ironia do papel de imigrantes na atual sociedade americana - que no
momento em que o musical é inaugurado passava por fortes tensões pré eleição de 2016 e
ascensão do trumpismo - onde os imigrantes são a grande massa trabalhadora em situações
desvalorizadas.
O grifo em azul mostra então os planos e pensamentos de Hamilton no momento da
batalha, desde o início do experimento americano e a criação de uma nova nação baseada nos
direitos descritos por Thomas Jefferson na Declaração de Independência 1776, citando a
questão escravista, a batalha na Baía de Chesapeake e o papel de Hercules Mulligan - um dos
membros dos Filhos da Liberdade - que foi fundamental para conseguir informações sobre o
governo britânico. Em vermelho, temos os momentos do pós-guerra. Depois de uma semana,
as tropas inglesas se rendem e se retiram do território americano, e os colonos oficialmente
encerram a guerra e conquistam sua liberdade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi apresentado nos capítulos anteriores, é possível ter uma breve noção
de como ferramentas de cultura podem ser bem utilizadas na construção de uma aula de
História. Muito se fala sobre as distintas possibilidades que um ensino interdisciplinar pode
produzir e a ideia de se usar um elemento como a música, tão presente no nosso dia a dia, é
nos permite associar o conteúdo historiográfico com algo que transcenda o espaço da escola
adentrando num contexto que as vezes é esquecido: o da sensibilidade. Assistir um filme ou
ouvir uma música no meio de uma aula proporciona que o aluno se identifique e consiga criar
paralelos entre um recurso cultural e o currículo, desenvolvendo às vezes uma memória
afetiva daquele momento.
O filme promove o uso da percepção, uma atividade cognitiva que
desenvolve estratégias de exploração, busca de informação e estabelece
relações. Ela é orientada por operações intelectuais, como observar,
identificar, extrair, comparar, articular, estabelecer relações, sucessões e
causalidade, entre outras. Por esses motivos, a análise de um documento
fílmico, qualquer que seja seu tema, produz efeitos na aprendizagem de
História, sem contar que tais operações são também imprescindíveis para a
inteligibilidade do próprio filme. (ABUD, p. 191, 2003)
Ainda sim, é preciso ter em mente as problemáticas que o uso dessas ferramentas
trazem: seja pela dificuldade de conseguir adequar o planejamento para conseguir um tempo
hábil para isso ser trabalhado, pela realidade estrutural de diversas escolas ou até mesmo pelo
professor assumir um cuidado extra para conseguir demonstrar a diferença entre um filme ou
música “histórica” com a realidade dos fatos ocorridos.
O musical utilizado no decorrer deste trabalho se encerra com uma música chamada
“Who lives, who dies, who tells your story” (“Quem vive, quem morre, quem conta a sua
história” em tradução minha) que serviu como principal inspiração para o desenvolvimento
deste artigo. Esse trecho é inicialmente cantado pelo personagem de George Washington em
outra música ao explicar para Alexander Hamilton que na verdade você não tem controle de
quem conta a sua história ou de como ela é contada. Levando em consideração o papel do
historiador e suas responsabilidades em se ater aos fatos, é possível explicar uma história de
mais de uma forma, adequando-a para determinado público ou espaço social. E é justamente
nesse contexto que acredito que o professor se insere, como o indivíduo capaz de “contar”
sobre esses acontecimentos históricos de mais de uma forma, seja através de apostilas e livros
ou através de algo mais sensível como uma música.
REFERÊNCIAS
ABUD, Katia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas idéias sobre a
utilização de filmes no ensino. História (São Paulo), v. 22, p. 183-193, 2003.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 8° ano. São Paulo: FTD,
2009. Disponível em: https://pnld2020.ftd.com.br/colecao/historia FTD Educação
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo:
Contexto, 2011.
YOUNG, M.. Teoria do currículo: o que é e por que é importante. Cadernos de Pesquisa,
v. 44, n. 151, p. 190–202, jan. 2014.