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Universidade Federal do Espírito Santo

Centro de Ciências Humanas e Naturais


Departamento de História
Maria Eduarda de Oliveira Toledo Barbosa | Matrícula: 2022100757

Resenha 01 - Texto: BITTENCOURT, C.F. Reflexões sobre o ensino da história. Estudos


avançados 32 (93), 2018.

Circe Fernandes Bittencourt, em seu texto “Reflexões sobre o Ensino da História”,


estabelece uma ponderação acerca de como a aprendizagem da história foi mudando e se
consolidando no decorrer do tempo. Nesse sentido, é de suma importância citar o contexto de
publicação do artigo: após a reforma do novo ensino médio, momento no qual ocorre uma
ruptura na história do ensino da história. A obra é dividida em quatro grandes partes:
introdução, “ensino de história nas humanidades clássicas”, “história entre humanidades
clássicas e humanidades modernas” e “o ensino da história sob o humanismo científico?”.

Na primeira parte do texto, a autora afirma que, graças às pesquisas, é notório que o
ensino da história sofreu muitas alterações. A partir disso, argumenta que existem diversas
concepções do que seria a história ensinada; porém, a ideia mais hegemônica seria a da
disciplina como um mecanismo de formação da cidadania que é, consequentemente, oposta a
uma visão de educação tecnicista. Nesse sentido, Bittencourt coloca que as distintas
interpretações do modelo educacional - com objetivos diferentes - formam um campo de
disputa.

No que tange o ensino da história, a autora defende a existência de três momentos,


ocasionados por tendências curriculares. O primeiro deles é o ensino de história nas
humanidades clássicas. Constituiu-se como um modelo cujo objetivo era formar um homem
em sua plenitude. Para tanto, era ensinado as línguas antigas clássicas e como ser um bom
orador. No contexto brasileiro, esse projeto político pedagógico - sendo os colégios jesuítas as
maiores instituições- tinha como função auxiliar na adesão à cultura portuguesa e na difusão
de uma moral específica que favorecia o projeto colonial. Após as reformas pombalinas,
observa-se um esforço de racionalização da economia do império, que atingiu até mesmo a
educação no Brasil.

O segundo momento do ensino da história foi o definido pela autora como


“humanidades modernas”. Bittencourt coloca que durante o império observa-se projetos
distintos de ensino da disciplina histórica no país, mas que a aprendizagem foi organizada a
partir do processo de constituição do Estado nacional por representantes da elite, ou seja, a
educação detinha um caráter oligárquico.

Com a proclamação da República, observa-se a difusão da história universal e uma


tentativa de conciliação com a Igreja Católica - que passa a ser valorizada por sua atuação na
constituição da sociedade. Assim, os professores, que seguiam um currículo catedrático,
justificavam a violência praticada pelos europeus, o que evidencia que a forma de ensino não
sofreu mudanças metodológicas.

Na terceira parte, a autora discorre sobre o ensino pautado em um humanismo


científico. A educação que valoriza a ciência surge após o fim da segunda guerra mundial,
tendo como objetivo a difusão de uma história para a paz que valoriza os aspectos
democráticos. Ademais, expõe que após a década de 80 são propostos novos currículos de
história no Brasil - matéria essa que teve sua atividade diminuída pelo regime ditatorial
militar pós-1964. Contudo, inicia-se uma verdadeira precarização do trabalho docente.
Gradativamente, a educação tecnicista vai recebendo incentivos e se consolidando frente a
ideia inicial de uma educação humanista científica. A autora finaliza expondo sobre o
contexto brasileiro a partir de 2016, quando ocorre uma construção de uma base comum
curricular de forma a dar prioridade ao capital internacional.

Assim, o texto de Bittencourt promove reflexões acerca do sistema educacional e dos


currículos escolares. A divisão proposta por ela muito auxilia na compreensão das mudanças
na forma de ensinar e acerca dos projetos pedagógicos. Em virtude disso, é necessário
questionar até que ponto estamos - como sociedade - construindo um modelo de instrução
pautado na formação cultural e científica do indivíduo. Na verdade, é indispensável refletir se
não estamos fazendo o oposto: promovendo uma formação desvalorizante pautada no
tecnicismo. Por fim, devemos nos indagar: em que medida é possível conciliar uma
interpretação mercadológica de educação junto a uma visão humanista de aprendizado?

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