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ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição.

Tradução
de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136 p.

I [Termo e movimento naturalista]

Elogio dos cientistas que observado e verifica os fatos. O


Naturalismo não é novo, já consta da primeira escrita do homem onde
ele coloca a questão da verdade e acompanha a literatura e a crítica,
de Aristóteles a Boileau: “nasceu do fundo eterno das coisas (...) da
necessidade (...) de tomar por base a natureza.”1.

Mas há variações neste fundo eterno das coisas, determinadas pela


história: Homero era um naturalista diferente dos naturalistas
contemporâneos, pois o espírito humano evolui. Uma obra é “um pedaço
de natureza visto através de um temperamento”2.

Do século XVIII “saiu nossa sociedade contemporânea”: o século de


gênio que cria a natureza sem levar em conta a realidade. Agora o
cientista experimenta, se trata da análise e não da síntese. As
letras seguiram a ciência.

Rousseau: “o homem não e mais uma abstração intelectual, a natureza o


determina e o completa.”3. Diderot: contra convenções e regras “tendo
a natureza como base e o método como instrumento.”4. Naturalismo é
retorno à natureza baseado na experiência pelo procedimento da
análise que substitui abstrações por realidades, cria personagens
reais com histórias verdadeira, “o relativo da vida cotidiana.”5

Romantismo: reação ao clássico, desequilíbrio da mente frente à força


revolucionária. Imaginação sombria, poetas melancólicos, rebelião da
paixão e da fantasia, quebra de regras e renovação da língua. Cor
local e antiguidades. Primeiro uso da liberdade reconquistada. Faísca
que durou 25 anos e se apagou: o século é dos naturalistas. A crise
do Romantismo correspondia à catástrofe da Revolução Francesa.

Renovação das artes, da crítica e da história, o Naturalismo vai


“demonstrar o poder do método, o brilho da verdade, a inesgotável
novidade dos documentos humanos” também no teatro, “a ultima
fortaleza das convenções”6

1
ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição.
Tradução de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136pp.,
p. 88.
2
Idem, p. 89.
3
Ibidem, p. 92.
4
Ibidem,
5
Ibidem.
6
Ibidem, p. 96.
II [Do romance]7

Na França, há somente romance e o teatro, que a crítica incentiva.

As fontes do romance, Stendhal e Balzac, dissecavam o homem


cientificamente.

A palavra romance, conservada do Romantismo, perdeu toda sua


significação. “Não julgo, observo”8 (102). O romance naturalista é
“uma investigação sobre a natureza, os seres e as coisas.”9

“A natureza basta; é necessário aceita-la tal como ela é, sem


modificá-la e sem nada lhe cortar; ela é bastante bela, bastante
grande e sem nada lhe cortar; ela é bastante bela, bastante grande
para trazer consigo um começo, um meio e um fim. Em lugar de imaginar
uma aventura, de complica-la, de dispor lances teatrais que, de cena
em cena, a conduzem a uma conclusão final, toma-se simplesmente na
vida a história de um ser ou de um grupo de seres, cujos atos são
registrados fielmente. A obra se torna uma ata, e nada mais; tem
somente o mérito da observação exata, da penetração mais ou menos
profunda da análise, do encadeamento lógico dos fatos. Às vezes,
mesmo, não é uma existência inteira, com um começo e um fim, que é
relatada; é unicamente um fragmento de existência”10

O romance destronou os outros gêneros, com sua “impessoalidade


moral”: a “tarefa do autor é por seus olhos sobre os documentos
verdadeiros.”

7
ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição. Tradução
de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136 p.
8
Ibidem, p. 102.
9
Ibidem.
10
Ibidem, p. 103.
III [história francesa da literatura dramática]11

Dois séculos de Classicismo: regras imutáveis; etiqueta da Corte;


dissertações filosóficas e eloquência de oratória.

Romantismo: a revolta contra as regras e o retorno à natureza


perturbou a ordem classicista e “limpou o solo” para o teatro
naturalista. O drama romântico é antítese da tragédia; paixão ao
invés de dever; retomada da psicologia medieval e antiga; este “filho
revoltado da tragédia”, porém, estabeleceu suas próprias regras
tornando-se uma retórica a mais no teatro.

Reaparece a tradição naturalista no novo estado social nascido da


Revolução, com uma nova formula dramática.

Alegoria do espetáculo naturalista: num grande ateliê, operários


dividem tarefas seguindo o método de tentativa e erro: os mais
conhecidos trabalham mais.

Zola: “Só quero saber do que pode dar certo”.

O teatro de gênero: peça bem feita francesa, vaudevilles exagerados;


excesso do principio da ação; novas regras mais falsas e ridículas;
admiração exagerada de toda a Europa; sem vida, mas com movimento;
bem montada e engenhosa, mas superficial e repetitiva; intrigas
inaceitáveis e sentimentos falsos; e palavra mágica no final. Seu
valor está na encenação.

Dumas Filho: análises vigorosas de verdades rigorosas; documentos


humanos, mas necessidade de legislar, pregar e converter; humor nas
personagens; mistura vislumbres de realidade e invenção barroca. Mas,
o filósofo matou o observador e o homem de teatro matou o filósofo.

Augier: observação exata da vida real e social encenada.

Fórmula naturalista = fórmula clássica ampliada e adaptada à


sociedade contemporânea.

Crítica: não se libertou das convenções, dos clichês e das


personagens prontas, dos lugares comuns e das figuras chic. Triunfa a
personagem simpática, de bons modos e sentimentos.

11
ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição.
Tradução de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136 p.
IV [Da impossibilidade de um teatro naturalista]12

Todos os gêneros se mantêm interligados e caminham juntos, sob a


prevalência de um. O romance naturalista se desenvolveu rapidamente,
mas não o teatro - sempre a ultima cidadela da convenção – que deverá
atingir o rigor cientifico, pois na sociedade, tudo é evolução em
movimento continuo. É necessário esperar que o público se acostume.
Os dramaturgos, até agora, apenas limparam as vias.

Devem advir ao “teatro homens de carne e osso, tomados de realidade e


analisados cientificamente, sem nenhuma mentira”13, libertando a
época de personagens fictícias, dos símbolos convencionais, virtude e
do vicio. Que os meios determinem as personagens que devem agir
segundo a lógica dos fatos combinada com a lógica do seu
temperamento. Sem escamoteação, toques mágicos, histórias
inaceitáveis, que se abandone as receitas, as lagrimas e os risos
fáceis, as declamações. Que a peça teatral tenha a moralidade do
real, a lição de uma investigação sincera.

“Que se retorne à própria origem da ciência e da arte modernas, ao


estudo da natureza, à anatomia do homem, à pintura da vida, num
relatório exato”14. O teatro não é o romance, é o domínio da
convenção. O autor dramático - à diferença do romancista, mais livre
- se encontra encerrado num quadro rígido, e dirige-se ao público em
massa, ao invés do leitor isolado do romance.

No século XVIII, o teatro se adequou maravilhosamente ao espírito da


época, daí seu sucesso. O espírito do século XIX é cientifico e
necessita da investigação exata, território do romance. É impossível
agora ao teatro, que se encontra esmagado pelo romance. Mas o
público, ao acostumar-se com o naturalismo no romance, o solicitará
também no teatro. “Ou o teatro será naturalista ou não existirá.”15

Hoje, os criadores desprezam o teatro e querem escrever romances. É


necessário investir na formação de uma nova geração de dramaturgos
voltados para o Naturalismo.

12
ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição.
Tradução de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136 p.
13
Ibidem, p. 122.
14
Ibidem, p. 123.
15
Ibidem, p. 127.
V [Presente e futuro do naturalismo] 16

Como tornar o Naturalismo possível no teatro? Autores de hoje serão


ultrapassados pela força das evoluções sociais e literárias.

O romance vai permanecer e o teatro vai segui-lo, pois o poder do


teatro sobre os espectadores é o melhor instrumento de propaganda.

O romance tem todo o tempo para esmiuçar, mas o teatro deve ser breve
em ações e palavras. Um grito vale pela personagem inteira.
Desvencilhado das brincadeiras da intriga e de enlaçar fios
complicados para desenredá-los em seguida, a peça será uma história
real e lógica que analisa a influência das personagens sobre os fatos
e vice-versa. A fórmula naturalista remete à clássica, Molière e
Racine, mas recoloca o homem na natureza, estendendo a análise às
causas físicas e sociais. Se emprega o método cientifico para estudar
a sociedade atual.

Cenários em relevo já vistos no palco provam a possibilidade de


evocar a realidade dos meios. Cabe aos dramaturgos utilizarem a
realidade já descoberta pelos cenógrafos. A exatidão cada vez maior
dos cenários é a prova da evolução naturalista desde o começo do
século e de que a descrição não é somente possível, mas necessária.

Não à unidade de espaço e de tempo: “Deve-se trapacear”17

O brilho da língua atual do teatro não é verdadeiro. É bem escrito,


mas não o suficiente: o teatro deve usar o resumo da língua falada
conservando o movimento e o tom de conversa e a construção particular
do tom de cada interlocutor, como na realidade.

Existem duas formulas: a naturalista, de estudo e pintura da vida, da


investigação sobre as coisas e os seres; e a convencional, do
entretenimento, da armadilha para a realidade, invenção e arranjo.

Em vez de um lindo mecanismo, que venha a vida. No lugar de um teatro


de fabricação, um teatro de observação.

“Não sou senão o mais convicto soldado da verdade.”18

16
ZOLA, Emile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. 1a edição.
Tradução de Ítalo Caroni e Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 1982, 136 p.
17
Ibidem, p. 133.
18
Ibidem, p. 136

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