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UFPE

CAC
PERÍODO LETIVO (SEM/ANO): 2 /2021
DEPARTAMENTO DE ARTES
Voz e Movimento 1
Profª Drª : Rose Mary Martins
MONITORES: Fábio Carneiro da Silva

Modelo Clássico para Análise de Texto Dramático


Modelo Clássico para Análise de Texto Dramático

(Concene às obras derivadas das tragédias e “alta comédia”. Depois de estabelecer nexos contextuais com relação ao
autor da obra)

1. Idéia Central:
A semelhanças de um prefácio, último aspecto a ser considerado. Neste item, considerar, denoto crítico, as
possíveis motivações do autor na produção do texto.
2. Conflito Principal:
Embate de vontades sem o qual, a obra que se toma como referência, não existiria.
Ex: Em Romeu e Julieta os embates entre Montecchiro e Capulleto.

3. 2.1 Demais conflitos

4. Caracterização dos Personagens:


As físicas e piscologicas mais significativas.
5. Análise dos Aspectos e expedientes estruturais:
Dividir a narrativa, tempo narrativo.
6. Posicionamentos crítico com relação ao texto:
Ato de apreciação.

7. C.f Renata PALLOTTINI. Introdução à Dramaturgia. São Paulo Brasiliense 19…, col. Primeiros

PALLOTTINI, Renata. O que é dramaturgia. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Renata Pallottini nasceu em São Paulo, capital, em 20 de janeiro de 1931, cidade na qual
realizou seus primeiros estudos. Cursou e formou-se em direito pela Universidade de São
Paulo? USP? e em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Posteriormente,
iniciou seus estudos de teatro nos cursos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris, em 1959,
sendo que, ao retornar para o Brasil, ingressa na Escola da Arte Dramática de São Paulo
(EAD) em 1961. Atualmente, é professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes
(ECA) da USP, onde ministra aulas nos cursos de pós-graduação. Além disso, doutorou-se
pela ECA em 1982. Dentre sua produção, Pallottini escreveu diversos trabalhos para o teatro
e a televisão? Vila Sésamo, Malu Mulher e Joana? e publicou vários livros de poesia e prosa?
dentre estes, inclusive peças de teatro e ensaios. Dentre os livros publicados, destacam-se
A Lâmpada (1960); O Exercício da Justiça (1962); O Crime da Cabra (1965); Pedro Pedreiro;
O Escorpião de Numância (1967); A História do Juiz (1957); Serenata Cantada aos
Companheiros (1976); Colônia Cecília (1984); Enquanto Se Vai Morrer (1972); Coração
Americano (1976); chão de Palvras (1977); Noite afora (1978); e Obra Poética (1995).
Ademais, Pallottini também tem significativa atuação na área da tradução, já tendo traduzido
as obras Hair, de James Rado e Gerome Ragni, Godspell, de John Mitchell Tebelak, A Vida
é um Sonho, de Calderón de La Barca, Divinas Palavras, de Ramón del Valle-Inclán, Cidade
Invisíveis, de Ítalo Calvino, e textos de Frederico García Lorca.
A obra O que é dramaturgia, da dramaturga paulista Renata Pallottini, foi publicada em 2005
e é dividida em 7 capítulos (Prefácio? A dramaturgia como teoria; afinal, o que é dramaturgia;
Ação dramática e conflito; Teatro épico e dramática rigorosa; Análise de um texto do teatro
épico; Conclusões; Indicações para leitura). Na verdade, esse texto consiste em uma
retomada e em uma espécie de reconfiguração de trabalho anterior da autora, publicado pela
mesma editora (Brasiliense), intitulado Introdução à Dramaturgia, que é a própria tese de
doutorado de Pallottini.
Dessa forma, Pallottini apresenta em O que é dramaturgia o cenário histórico-teórico da
dramaturgia, perpassando por teorias que buscaram estudar, conceituar e explicar o drama
e seus elementos, possibilitando, assim, conceituá-lo enquanto um ato de criação, um poder
criativo que essencialmente não é regido por códigos ou padrões estabelecidos, mas sim por
meio de uma relação dialética entre a imaginação e o mundo real. Entretanto, apesar de não
ser possível estabelecer um rígido código de normas cênico-literárias, elas ainda assim
existem, posto que diversos teóricos? a exemplo de Aristóteles, em sua Arte Poética, Hegel
e Boal? buscaram postular leis do drama, as quais possuem papel fundamental a uma
compreensão mais ampla e completa do que seja o fenômeno dramático.
A esse respeito, Fernando Peixoto (apud Pallottini, 2005, p. 10) afirma que:

A trajetória da dramaturgia universal atesta de forma incontestável que os verdadeiros artistas


sempre recusam tradições já gastas e buscam novas maneiras de expressão, num
permanente ato de questionamento, sensíveis às necessidades de seu tempo e também às
raízes culturais de seu povo. Não para passivamente cultivá-las ou sacralizá-las, mas
justamente transformá-las e desenvolvê-las.

Assim sendo, a autora apresenta que a dramaturgia, etimologicamente oriunda do grego e


com o sentido de "compor um drama", seria a arte de compor dramas. A respeito do drama,
Pallottini ressalta que não se deve apressadamente concebê-lo enquanto uma "peça de teatro
com final infeliz, de tom sério, ou que leve a um desfecho pessimista" (PALLOTTINI, 2005, p.
13), mas que simplesmente se deve compreender o drama enquanto uma peça de teatro, um
texto que foi produzido para ser encenado? um gênero literário específico. Em suma,
dramaturgia seria a "técnica da arte dramática que busca estabelecer os princípios de
construção de uma obra do gênero mencionado" (PALLOTTINI, 2005, p. 13). Princípios e não
regras, pois, em virtude da palavra "regra" carregar consigo uma forte denotação de
orientação obrigatoriamente a ser seguida quando, na realidade, não é isso que acontece na
produção de peças teatrais. Para uma peça teatral ser boa, não necessita seguir
rigorosamente regras dramáticas, mas sim, conforme já explicitado, do poder criativo do
dramaturgo e de sua relação dialética com o mundo.
Há, ainda, conforme relata a pesquisadora, outra acepção de dramaturgia, oriunda da própria
concepção brechtiana, que compreende não apenas a estrutura interna da obra dramática,
mas também o resultado final do texto encenado? posto em cena? proporcionando uma
interação com o público que o assiste. Nasce assim, a figura do dramaturgista, isto é, pessoa
responsável pela seleção e adaptação do texto dramático à encenação juntamente com o
diretor.
Posto isto, é condição necessária à produção de um bom texto dramático a existência de um
conteúdo a ser expressado, veiculado? conteúdo este que deve ser buscado dentro de cada
pessoa, por meio de ideias, sensações, emoções, observações e lembranças, possibilitando
que o espectador se identifique com aquilo que é mostrado, prendendo, assim, sua atenção
ao espetáculo. Ademais, esse conteúdo que o dramaturgo deseja transmitir pode sê-lo
através de palavras ou gestos, o mais importante é que ele seja transmitido, expressado na
encenação pelos atores/personagens e que contenha uma ideia central (ou seja, a motivação
que levou o dramaturgo a escrever a peça). Dessa maneira, o texto dramático, por meio de
seu conteúdo, converge para o seu caráter de uno, para a sua unicidade, chamada de
Unidade de Ação, que todo drama deve possuir e que tem estreita relação com a ação
dramática, outro elemento fundamental ao gênero dramático.
A ação dramática, por sua vez, é o caminho dinâmico percorrido pelo protagonista da peça
para alcançar aquilo que deseja obter (seu objetivo), superando obstáculos, passando por
cima de conflitos? internos e externos? e esforçando-se ao máximo para encontrar o que
deseja. A ação dramática também necessita de unidade? e, nesse ponto, atualmente já se
entende que a famosa Lei das Três Unidades de Aristóteles (quanto ao tempo, ao lugar e a
ação) pode ser "atualizada" de modo a contemplar apenas a ação. Assim sendo, a unidade
da ação se encontra na realização de um fim determinado mediante a ocorrência de um
conjunto de conflitos, que cessará apenas ao final do drama.
Acerca da ação dramática e do conflito, a dramaturga desenvolve um capítulo inteiro para
tratar sobre esses dois elementos da dramaturgia, dissecando-os em seus principais pontos,
conceituações e teorias.
Pallottini discorre acerca do conceito de ação dramática tecido por Aristóteles em sua Poética,
afirmando que ela é o resultado da imitação das ações humanas? e não dos seres humanos
em si, mas de suas ações? e deve ser completa, ou seja, possuir começo, meio e fim e certa
grandeza ideal.
Hegel, por sua vez, aponta que a poesia dramática nasce da necessidade humana de ver a
ação representada por meio de um conflito de circunstâncias, quaisquer que sejam elas, que
caminha até o final do drama. Logo, é a partir do entendimento de Hegel que se coloca a
questão do conflito como elemento essencial à caminhada da ação dramática. Ademais,
ainda segundo Hegel, o drama apresenta uma ação que tem como base uma pessoa moral,
isto é, "os acontecimentos parecem nascer da vontade interior e do caráter das personagens"
(PALLOTTINI, 2005, p. 27). Além disso, a ação é a vontade humana que persegue seus
objetivos consciente do resultado final? é a ação de quem quer e faz.
Nas próprias palavras de Hegel (apud PALLOTTINI, 2005, p. 29):

Só deste modo a ação aparece como ação, isto é, como realização efetiva de intenções e de
fins; intenções e fins com os quais o indivíduo se confunde como parte integrante de si mesmo
e que, por conseguinte, também devem aderir antecipadamente a todas as consequências
exteriores da sua realização. O indivíduo dramático recolhe os frutos dos próprios atos.

Hegel também comenta a respeito da relação existente entre o drama, o épico e o lírico,
destacando que a compreensão do drama comporta a união mediata do princípio épico e do
princípio lírico. Complementando, segundo Anatol Rosenfeld, o gênero dramático estaria
entre o épico e o lírico, uma vez que reúne a objetividade (da externalização da ação) da
epopéia com o subjetivismo (de exposição de sentimentos e razões morais) da lírica.
Entretanto, para Hegel, a Dramática é superior à Lírica e à Épica.
Hegel afirma que a finalidade da ação só é dramática se produzir outros interesses e paixões
opostas: encontra-se aí, de modo expresso, o princípio do conflito, que é conceituado por
Pallottini (2005, p. 31) como "uma ação, desencadeada por uma vontade, que tem em mira
um determinado objetivo que colide com interesses e paixões"? logo, vontades contrapostas.
O conflito é, pois, um elemento essencial à ação dramática.
Por fim, a autora apresenta o pensamento hegeliano da progressão e do interesse
dramáticos. A progressão dramática consiste no próprio curso da peça até o seu momento
final, que é alcançado após toda a caminhada da ação dramática e do(s) conflito(s)
correspondente(s) (dinâmica do conflito). O interesse dramático, por sua vez, só nasce a partir
do conflito entre os objetivos/intenções das personagens. É a partir do conflito dramático que
poderá ser observado o que se chama de interesse dramático: diferentes interesses colidindo
em virtude da existência de vontades contrapostas.
Após dissertar exaustivamente acerca da ação dramática, Pallottini comenta a respeito dos
métodos de análise dramatúrgica do texto cênico, quais sejam: o método indutivo e o método
dedutivo. O primeiro refere-se àquele que parte da indução, do particular ao geral? a partir
da observação de diversos fatos, se extrai uma regra baseada no empirismo da pesquisa?
diretamente relacionado aos sentidos. É desse método de análise de que se vale a Poética
de Aristóteles. O segundo método, a se turno, concerne justamente ao oposto do primeiro,
isto é, parte da dedução, do geral ao particular? a conclusão deriva de premissas (maior e
menor) e baseia-se no silogismo. Bertold Brecht se utiliza desse método de análise dramática.
Basicamente, Renata Pallottini preocupou-se em apresentar em sua obra O que é
dramaturgia um percurso histórico das teorias do drama, bem como os seus elementos mais
essenciais, os quais podem ser resumidos na própria ação dramática e no conflito englobado
por ela? conforme devidamente dissertado na presente resenha.

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