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Pavis (2003, p.51) nos aponta que “o ator se situa no coração do acontecimento teatral:
é o elo vivo entre o texto do autor (…), as diretivas do encenador e o ouvido do espectador”,
então, podemos entender que as percepções do público sobre o que é real e o que é ficcional,
surgem através do encontro deste, com o ator. O ator contemporâneo deixou de cumprir a
função de simulador, não há necessidade de replicar uma ação, nem de criar um personagem,
e, em algumas situações, podemos encontrar aqueles que nem se utilizam da nomenclatura ator,
optam pelo termo performer, o que Pavis (2003, p.55) aponta que “diferentemente do ator, não
representa um papel, age em próprio nome”.
O teatro contemporâneo tem múltiplas funções, podendo ser políticas, sociais e de outras
naturezas, mas, é evidente como estas práticas plurais e polissêmicas, não tem o interesse de
simplesmente criar uma obra, para entreter o público, colocando-o na posição de espectador
inalienável, é perceptível como estas práticas buscam refletir questões pertinentes a cada
coletivo, considerando o contexto-sociocultural (ou não) dos artistas. Segundo Silvia Fernandes
(2010), o termo pós-dramático é uma tentativa de nomear movimentos teatrais ou encenações
pós-Brecht, obras desde os anos 70, que optam por processos criativos descentralizados do texto
dramático, bem como a miscigenação com outras linguagens artísticas.
Se partirmos de um teatro clássico, onde a relação palco e plateia (podendo ser um palco
italiano, palco de arena, elizabetano, entre outros) delimita o espaço de atuação, poríamos
considerar que tudo que não acontece no palco é real, e o que é colocado em cena, é ficcional.
Mas, no teatro pós-dramático, existem outras camadas a serem consideradas, a metáfora, a
composição, e até mesmo a metodologia utilizada pelo diretor/encenador/propositor durante a
composição da obra. É importante salientar que, o teatro que não o pós-dramático, não
necessariamente utiliza esta relação como delimitação, podendo ser utilizado como artifício e
não como regra.
Kowzan (1978, p.102) nos auxilia a refletir sobre como a arte teatral extrai signos de
todas as manifestações da natureza e atividades humanas, sobre como o espetáculo transforma
os signos naturais em signos artificiais. Se vemos fumaça, relacionamos com o fogo, o que
configura um signo que, pode ajudar o artista a compor uma dramaturgia e alinhar durante a
composição da obra, a ação, o signo, a intenção, a fim de nortear o público para um conjunto
específico de significações, na tentativa de encontrar a melhor forma de apresentar cenicamente,
o que aquele coletivo quer dizer.
Para concluir, é importante ressaltar que em cada parte do mundo, em cada grupo de
trabalho, existem procedimentos, caminhos e formas de se construir esta relação entre o artista,
a obra, o público e a fruição. Sistemas como os Jogos Teatrais de Viola Spolin ou os Viewpoints
de Tina Landau e Anne Bogart, nos apresentam possibilidades de investigar esta relação entre
o real e ficcional, seja em jogo ou em improvisação, mas, o mais importante durante esta
composição, é tomar um caminho que faça sentido para você, para que a obra final seja rica,
polissêmica, semiótica e sincera.
Referências bibliográficas
CAJAÍBA, Luiz Cláudio. A encenação dos dramas de língua alemã na Bahia. (Tese)
Doutorado em Artes Cênicas - PPGAC – UFBA, Programa de Pós-Graduação em Artes
Cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.
PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos. Tradução de Sérgio Sálvia Coelho, São Paulo:
Perspectiva, 2003.
_______. Dicionário do teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.
A pandemia de Covid-19 que assolou o mundo, deixou o Brasil com 130 mil crianças
órfãs. Estamos falando de pessoas menores que 12 anos de idade, as quais estão sem pai ou mãe
para que possa resguardar estas crianças e garantir que tenham oportunidade de um futuro justo,
esta realidade que nos assola é muito similar a um cenário pós-guerra.
Entre 1939 e 1945, o mundo tremeu diante de uma guerra bélica, a qual trouxe
acontecimentos marcantes para a humanidade, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, que
destruíram as cidades japonesas. Após estes incidentes e o fim da guerra, o mundo acompanhou
a investida do Japão em educação de qualidade para todos, a fim de reestruturar o país, o que
nos aponta um caminho para salvar o futuro destas crianças.
O ECA precisa ser aprimorado para contemplar estas crianças. Quem irá garantir a
frequência escolar? Para ter uma escola perto de casa, estas crianças estão com o restante da
família ou estão em orfanatos? Como preparar um cidadão se ela não tiver alguém que possa
abraça-la? Como garantir uma escola para crianças que são irmãos, se eles forem separados em
um processo de adoção?
O aprendizado da criança não se dá no ambiente escolar por conta da escola, mas pela
relação com o outro, com o espaço, com a família, com tudo que a cerca. Sua vivência é através
do signo, do jogo, da brincadeira, é preciso viabilizar não apenas o acesso à educação
progressiva, continuada, preparar o cidadão e o trabalhador, é preciso educar para a autonomia,
garantindo a riqueza de uma educação que, bem como cita o ECA, com acesso a arte, a
oportunidade.
O Estatuto é um marco, mas precisa ser trabalhado, junto ao governo, que precisa prover
fomento adequando para fazer cumpri-lo, proporcionando ainda um subsídio financeiro,
psicológico e afetivo para estas crianças. É preciso ser gente, amar, abraçar, acolher e educar.
Mas, é evidente que, um governo que persegue a ciência, que propaga a desinformação e ataca
as instituições democráticas, não tem a menor condição de amparar um ser, tão pequenino, que
pode estar só no mundo.