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ESCOLA DE TEATRO
RESENHA
Etnocenologia, uma área de estudo até então ainda desconhecido por muitos, mas que
está ganhado status de ciência. Essa nova etnociência, dedicada às artes do espetáculo e
aos comportamentos e práticas espetaculares humanos organizados, em 1995, foi motivo
de um primeiro Colóquio Internacional, na sede da UNESCO e na Maison des Cultures
du Monde, em Paris, França.
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Bacharel em Interdisciplinar em Artes pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. Graduanda do curso
de Licenciatura em Teatro na UFBA. Bolsista do Programa de Iniciação à Docência da UFBA.
A etnocenologia busca articular, na interseção dos vastos campos do conhecimento
das ciências e das artes, as teorias e as práticas dos espetáculos, a criação e a crítica. Do
ponto de vista temático, essa perspectiva transdisplinar se refere, constantemente, à
tradição e à contemporaneidade e, também, aos universos da experimentação, do
amadorismo e do profissionalismo.
BIÃO, Armindo. A metáfora teatral e a arte de viver em sociedade (Étapes, 1989). In:
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos, p. 153. Salvador: P&A Gráfica e Editora, 2009.
Em uma visão geral, o texto traz o diálogo da arte com a vida em sociedade e como o
teatro está presente nas interações humanas. O autor inicia explanando sobre a palavra
teatro e como ela abrange dois conjuntos de significações: um espacial, outro de
referência à atividade artística. A etimologia da palavra, a partir das raízes gregas, expõe
um significado geral que extrapolava o limite do óbvio: “O teatro, no mundo grego,
desempenhava, de maneira importante, múltiplas funções, a saber: estética,
antropológica, sociológica e política.”. Para aprofundar o tema, Bião cita diversos autores
para relacionar o teatro com a antropologia e a sociologia, o que tornou, pelo menos ao
meu ver, o texto um pouco mais complexo, porém, entendível.
Ao dar continuidade, busca-se explicar a distinção entre teatro e espetáculo, sobre isso
cita-se: “A atividade teatral ganha reconhecimento social, quando é realizada em
espetáculo, mas não se reduz a este. Além disso, existem espetáculos que não se pode
dizer teatrais. ”. Considerando os adjetivos espetacular e teatral, vê-se que o segundo
possui também um sentido figurativo e pejorativo quando se associa a termos como
“artificial”. Já por espetacular o Petit Robert remete a chocante, espantoso,
impressionante. Apesar de se relacionarem, o objetivo é recuperar do teatro sobretudo a
referência à representação cênica e deixar ao espetáculo o que remete ao chocante,
impressionante.
Em suma, Bião conclui muito bem o texto, explicando que enquanto a teatralidade
seria o jogo cotidiano de papéis sociais, a espetacularidade seria a colocação em cena
extracotidiana de relações sociais que têm lugar nos espaços sociais e públicos, além de
ser encontrado em diversas manifestações populares e religiosas. Ressalta ainda, que
“estas categorias não podem ser compreendidas como dois estados distintos e afastados
um do outro.”.
BIÃO, Armindo. O estético dá a ligação comunitária, p 373. In: Etnocenologia e a cena baiana:
textos reunidos. Salvador: P&A Gráfica e Editora, 2009.
O texto é na verdade uma entrevista concedia para SBPC Cultural Bahia, a primeira
questão levantada é sobre o conceito de identidade cultural, ao que Bião responde
expondo o termo etnocenologia, que é a etnociência do espetáculo, termo cujo objetivo é
de superar o preconceito etnocentrista e valorizar a diversidade espetacular das diversas
culturas. Focando na Bahia, identifica uma multiplicidade de matrizes estéticas, e faz um
panorama das variadas influencias e justifica que essas culturas se misturam em uma
cidade e conclui “É uma cultura autorreferenciada, mas que absorve influências externas
e diz isso.”.