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Referência:
Resumo:
O capítulo inicial do livro A música e o Risco é apresentado pela autora, Rose Hikiji, como
uma tentativa de confrontar o valor e a significação dos sons musicais e do fazer música em
diferentes situações sociais e culturais. Trazendo seu ponto de vista como antropóloga e
musicista ela busca traçar paralelos entre as dificuldades de compreender a diferença entre a
importância que a música e os próprios sons ocupam nas diferentes partes da sociedade
humana.
Logo no início ela busca evidenciar comparações que observou com diferentes povos na
intenção de enfatizar a prática musical como análise, levando-se em consideração que uma
das ideias do capítulo é analisar um projeto de educação musical conhecido como Projeto
Guri.
O capítulo também traz uma discussão sobre como a audição possui um valor igual e algumas
vezes até mesmo maior do que a visão em algumas sociedades, mostrando como as razões
sensoriais possuem suas particularidades ligadas à cultura.
“Ao pensarem sobre a surdez, quando chegam a pensar, as pessoas tendem a considerá-la menos grave
que a cegueira, a vê-la como uma desvantagem, um incômodo ou uma invalidez, mas quase nunca como algo
devastador num sentido radical.” (SACKS, Vendo vozes. Uma viagem ao mundo dos Surdos, São Paulo, 1998,
p.22.)
Ainda sobre Sacks a autora ressalta o papel fundamental que a audição possui para o processo
de aquisição da linguagem, o que torna, segundo Sacks, infinitamente mais grave nascer surdo
do que cego.
Logo em seguida, a autora busca evidenciar o distanciamento quase natural dos estudiosos das
Ciências Sociais da linguagem musical, pois estes se prendem muito mais aos aspectos
verbais e visuais do que aos sonoros. Segundo a autora, os antropólogos preferem lidar com
os fatos sociais da existência humana do que com os culturais, sendo assim ela nos apresenta
Steven Feld que propõe uma análise do conhecimento através da performance, pois essa seria
a forma de compreensão mais profunda das manifestações sensíveis.
Também é importante citar John Blacking que reforça a ideia de que a música deve ser
estudada de em suas dimensões não-verbais tanto quanto verbais.
Numa primeira subdivisão do capítulo (Uma Antropologia bem temperada – contaminações
musicais, cinematográficas e teatrais), a autora traz brevemente a discussão para as possíveis
relações entre a linguagem cinematográfica e o caráter narrativo da música tonal ocidental.
Assim como os reflexos que ambas as formas de arte sofrem no decorrer de grandes eventos
que ocorrem na transformação dessas formas de expressão, por exemplo: como o
dodecafonismo, a música concreta, a inclusão do ruído dentro das dimensões musicais e o
considerável aumento do uso de dissonâncias e polifonias na música ocidental e no que isso
influenciou o cinema e vice-versa.
Na segunda subdivisão do capítulo (Música e Sociedade), a autora foca numa abordagem
sobre Anthony Seeger, onde apresenta uma tentativa de conceitualização de música,
objetivando não limitar o estudo apenas na parte cultural, mas também podendo considerar a
própria cultura como um evento que acontece na música.
“É necessário aprofundar a discussão acerca da relação entre música e sociedade. Por um lado, é consensual o
fato de que, do ponto de vista da antropologia, não é possível estudar música sem se referir à cultura. No entanto,
há bastante controvérsia sobre a relação entre essas esferas. Seeger atribui à música a capacidade de produzir
Em seguida o capítulo segue na intenção de causar uma reflexão entre as relações entre as
experiências musicais no auxilio ou conflito com as atividades sociais.
Para finalizar o capítulo (Variações sobre um mesmo tema), a autora retoma alguns elementos
apresentados no início do capítulo sobre a prática musical como elemento transformador na
vida de jovens e/ou como acesso ao exercício de cidadania, tomando como base
especificamente o Projeto Guri. Dessa forma ela consegue trazer a discussão para a realidade
da sociedade brasileira em si e sobre as dificuldades de ensinar música em uma sociedade em
que a aprendizagem musical é muito ligada às possibilidades de inserção profissional.
Para concluir ela afirma que a ‘marginalização’ da música como expressão artística afeta
muito a aprendizagem musical e prejudica a absorção do conhecimento como forma de
enriquecimento pessoal, porém não é fator determinante para impedir que esse tipo de
atividade aconteça.
“O pedestal em que são colocadas as atividades artísticas - são reconhecidas, desejadas, mas isoladas, quase
inalcançáveis - impede a um setor da sociedade que reconhece como arte/música o que fazem os jovens
aprendizes do Guri. Mas para esses jovens, a música está efetivamente acontecendo: ela faz parte de suas vidas e
está modificando seus corpos, seus pensamentos, seus desejos, sua percepção. Fazer música, para eles, é belo, é
bom, é correto, é o presente, é uma possibilidade de futuro.” (HIKIJI. 2006, p.70)
Citações:
“O pedestal em que são colocadas as atividades artísticas - são reconhecidas, desejadas, mas
isoladas, quase inalcançáveis - impede a um setor da sociedade que reconhece como
arte/música o que fazem os jovens aprendizes do Guri. Mas para esses jovens, a música está
efetivamente acontecendo: ela faz parte de suas vidas e está modificando seus corpos, seus
pensamentos, seus desejos, sua percepção. Fazer música, para eles, é belo, é bom, é correto, é
o presente, é uma possibilidade de futuro.” (HIKIJI. 2006, p.70)
“Nas falas dos diversos autores pesquisados, quase em uníssono, é destacado o risco da ‘rua’.
A rua da metrópole é associada à crescente criminalidade, que envolve cada vez mais pessoas
mais jovens. No espaço urbano, as formas de sociabilidade passam por mudanças radicais. A
rua – outrora espaço da brincadeira, do encontro, dos vizinhos – é associada agora ao perigo.
Deve-se evitar ‘deixar as crianças na rua’. O tempo ocioso, outrora sinal de diacrítico da
infância – que tem o tempo do estudo e da brincadeira, que é lembrada nostalgicamente pelo
adulto ‘que não tem tempo para nada’ – é visto agora como ‘tempo perigoso’: quando não se
tem o que fazer, ‘se aprende besteira’, ‘fica-se sujeito às más influências da rua’. O tempo
livre, antes tão valorizado, é agora tempo a ser ocupado.” (HIJIKI. 2006, p. 82-83)