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“O musicar local e a produção

musical da localidade”

Artigo da autoria Suzel Ana Reily

Recensão Crítica realizada no âmbito


da cadeira de Etnomusicologia

Trabalho realizado por:


Rodrigo Fernandes
nº101859
Suzel Ana Reily

Suzel Ana Reily, autora do artigo “O musicar e a produção musical da localidade”, é


professora titular de Etnomusicologia do Departamento de Música do Instituto de Artes na
Universidade Estadual de Campinas. Completou o doutoramento em Antropologia na Universidade
de São Paulo, posteriormente tendo assumido a posição de ensino e pesquisa na Queen's University
Belfast, onde permaneceu até 2015.É ainda coordenadora do projeto temático FAPESP “O Musicar
Local – novas trilhas para a etnomusicologia”, e ainda autora de publicações como Voices of the
Magi: enchanted journeys in southeast Brazil (Chicago, 2002) e a organização de The Oxford
Handbook of Music in World Christianities (com J. Dueck, Oxford University Press, 2016) e
Routledge Companion to the Study of Local Musicking (com K. Brucher, Routledge, 2018).

O artigo em questão (“O musicar e a produção musical da localidade”) sintetisado, é um


artigo referente ao trabalho realizado na área da música, antropologia e etnomusicologia,
explorando como tema de investigação, os ambientes sonoros em que vivemos e em que as diversas
sociedades existem e se influenciam. De certo modo acaba por ser um artigo relacionado com a área
das Ciências Sociais, visto que para além de registar e investigar as diversas comunidades musicais,
realça como estas afetam a sociedade em aspetos como sentimentos, bem estar e até inclusive a
saúde.

O artigo inicialmente, apresenta um breve resumo sobre o conteúdo posteriormente explicado.


Seguidamente ao resumo, deparamo-nos com uma contextualização relativa à localidade
inicialmente investigada (Campanha), sendo que o remanescente se desenvolve a partir daqui e
encontra-se estruturado em cinco secções distintas. “A contrução de sonoridades locais”, onde é
explicado como as sonoridades locais se desenvolveram ou ganharam uma identidade através de
diversos exemplos como a música e repertório colonial, e o repertório tradicional das bandas
brasileiras. Aqui está explícito que muitas partes do mundo marcadas pelo colonialismo, implicaram
que as comunidades absorvessem “novos elementos culturais”, criando assim um aumento de
prespetivas culturais que representam, atualmente, cada “universo musical” , e mais
especificamente, Campanha como o resto do Brasil, que foram um ponto de encontro de diversas
manifestações culturais e diversas sonoridades com origens distintas (Reily, 5). “Espaços, lugares ,
localidades”, secção onde é desenvolvido pela autora, as características e diferenças de cada um.
Entende-se aqui onde “espaço” e “lugar” se distinguem, e como ambos são compreendidos num
processo de construção musical no sentido de “localidade” (Certeau, 1998: 201-203, citado em
Riley, 8 ).

De acordo com Reily (2021):

Para de Certeau, um “lugar” é constituído pelo ordenamento de elementos numa


determinada localidade; assim, um lugar é uma entidade estática onde cada elemento tem
seu posicionamento próprio. O “espaço”, por outro lado, emerge através de atos que
ocorrem em lugares. O espaço é composto do “cruzamento de [elementos] móveis” e
produzido por ações, movimentos e prática. Se um lugar pode ser identificado por aquilo
que está presente nele, o espaço adquire seus contornos a partir daquilo que nele se faz; um
espaço é, como diz de Certeau, “um lugar praticado”.

A seguinte secção do artigo é denominada de “Espaços e vivências musicais”, onde a autora


nos explica, e como nos diz o título desta secção, diversas vivências musicais e o modo como são
vividas. Mais especificamente, neste capítulo, Suzel Reily refere-se aos espaços como “lugares
praticados”, e como vivências na sociedade. Está presente neste capítulo, também, a distinção entre
“música” e “fazer musical. A autora refere-se a “fazer musical” como o produto desenvolvido
através da interação social, e segundo Blacking (1969), “a produção da música emerge de processos
de interação social entre preformers que compartilham esse saber e competência performativa.”.
Para além de referir a interação social como uma vivênvia social, a autora refere outras sensações
que influenciam o “musicar local”, como os sentimentos. Segundo Smith (et al 2009), os lugares em
que tivermos fortes sentimentos de bem-estar, terão uma forte influência nas nossas vivências
musicais e são esses sentimentos que nos ligam aos lugares em que experenciamos essas vivências.

No capítulo posterior, “A produção musical da localidade”, a etnóloga Suzel Reily regista


diversas atividades desenvolvidas no âmbito de diversas festividades como a Semana Santa
campanhense, atividades que movem comunidades e são, segundo Reily (2021), um esforço
coletivo de todos os que contribuem para que as festividades sejam sempre um êxito e um exemplo
de mobilização coletiva, que pode ser entendido como uma produção musical da localidade, visto
quen só ocorre uma vez por ano e muitas pessoas se disponibilizam para meter em prática a
encenação das festividades. Festividades com esta, requerem antecedentes (atividades) como a
verificação do estado das partituras, o estabelicimento de um cronograma de ensaios, ensaiar o
repertório, selecionar uma indumentária, a mobilização das bandas, entre outros movimentos que
contribuem e enriquecem o musicar local.

Por fim, no capítulo e/ou secção final, entitulado de “O musicar local”, a autora especifica o
tema como a necessidade de identificar como as atividades musicais afetam as localidades e como
as localidades influenciam os musicares de cada local, realçando que “não há musicar que não seja
localizado” (riley, 2021). Segundo Reily, o musicar local representa um papel essencial na produção
e sustentação das localidades, visto que fortalece “posicionamentos dominantes”, é capaz de
originar locais de sociabilidade, edificar “refúgios hostis” que contestam a violência e neutralizam e
transcendem diferenças. “Ao se integrarem à vida cotidiana, os musicares se tornam espaços que
promovem sentimentos de pertencimento e compromisso para com os contextos em que são vividos
e para com aqueles com quem as experiências foram compartilhadas.” (Riley, 2021: p.18)., ou seja
a comunidade desenvolve sentimentos e compromisso que caracterizam e sustentam o musicar
local.

Após a leitura do artigo, posso dizer que é um artigo com argumentos, factos e ideais
fortemente edificados e sustendados, dado que a autora se sustentou em muitos outros autores
(como Appadurai, Bhabba, Blacking, Certeau, Smith, entre muitos outros) que falam de assuntos
idênticos que fortalecem a pesquisa e investigação realizada pela etnóloga. Para além disto, consigo
dizer que este trabalho fortalece a área da música, etnomusicologia e antropologia, visto que, e
citando a autora, este tipo trabalho acaba por revelar-se “um desafio para a etnomusicologia, que, de
modo geral, tem priveligiado o estudo de tradições locais compreendidas como “autênticas”. ” Ao
longo deste artigo, visou-se sempre procurar a conciliação do musicar em torno da sua localidade.
Transmite também como os diversos musicares transmitem uma quantidade de valores, história e
práticas que se vão impondo na comunidade, e que estão sempre em evolução. Com tudo, senti que
acabou por ser um artigo cansativo de ler, pois conseguia ser um pouco repetitivo, provocando que
me perdesse algumas vezes na linha de pensamento e compreensão do mesmo. Apesar disto,
temáticamente, é um artigo bem dividido e estruturado, e fundamentado numa investigação
previamente realizada, e em outros autores com prespetivas idênticas.

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