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Universidade Federal do Espírito Santo

Programa Institucional de Iniciação Científica

Subprojeto de Iniciação Científica

Edital:
Edital Piic 2017 /2018
Título do Projeto:
Música e Musicologia Audiotátil
Título do Subprojeto: Fusion: a questão da fusão musical nas músicas
audiotáteis
Candidato a Orientador:
Prof. Dr. Fabiano Araújo Costa
Candidato a Bolsista:
Felipe Pessin Manzoli
Prof. Dr. Fabiano Araújo Costa;
Membros Equipe do Projeto
Felipe Pessin Manzoli

1 Resumo

Este subprojeto se insere no âmbito de pesquisa das Musicas Audiotáteis, categoria musical definida
segundo o modelo taxonômico da Teoria das Músicas Audiotáteis (CAPORALETTI, 2005, 2014;
ARAUJO COSTA, 2015), que distingue os sistemas e experiências musicais em função de suas
mediações cognitivas e culturais determinantes, definindo assim, três grandes realidades musicais: (1)
Músicas de Tradição Escrita Ocidental; (2) Músicas de Tradição Oral; e (3) Músicas Audiotáteis (jazz,
rock, pop, música popular brasileira, etc.).
Especificamente, nos interessamos pela questão da fusão musical nas músicas audiotáteis, partindo de
uma investigação preliminar sobre o termo fusion, que no final dos anos 1960 foi usado para designar a
fusão do jazz com o rock, e de maneira geral, as diversas “fusões” musicais que ocorreram, a partir de
então, no âmbito das músicas audiotáteis.
Nos propomos a retraçar o emprego deste termo na literatura dos “Jazz Studies”, dos estudos em música
popular (“Popular Music”), em “música popular brasileira”, e também na etnomusicologia, esforçando-
se no reconhecimento dos critérios que fundamentam esses modos de conhecimento e descrição da
música; para finalmente, refazer e eventualmente reformular as questões orientados pelos critérios da
perspectiva musicológica audiotátil.

Palavras-chave: Fusion. Músicas Audiotáteis. Música Popular. Musicologia. Música Popular Brasileira.

2 Introdução

No final da década de 1960 o termo fusion foi usado para denominar um novo gênero musical, fazendo
referência à fusão do jazz com o rock. No entanto, a fusão musical, se já não se encontra na própria
origem dos referidos jazz e rock, encontra-se também na constituição do rock progressivo, da música dos
tropicalistas, no Brasil, da música de Hamilton de Holanda, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, por
exemplo. Quanto ao termo fusion, quais foram os critérios para o seu emprego, na época, e quais são os

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limites de seu emprego hoje? Quanto à noção de fusão de gêneros e estilos musicais, o que a literatura
musicológica nos diz a respeito?
Nosso tema se relaciona, de forma ampla, com o problema da constituição e categorização de gênero e
estilos. Distinguindo as noções de gênero e estilo musical, Franco Fabbri estabelece que a primeira
envolve processos de categorização, de reconhecimento de diferentes tipos de músicas a partir de regras
aceitas socialmente, que não se limitam somente a códigos musicais, mas que abrangem aspectos sociais,
culturais, econômicos, religiosos, políticos e outros (FABBRI, 1999, p. 10-11); enquanto o estilo musical
se trata de “um arranjo recorrente de características em eventos musicais que é típico de um indivíduo
(compositor, performer), um grupo de músicos, um gênero, um lugar, um período de tempo” (FABBRI,
1999, p.8). A perspectiva de estudo do estilo implica, portanto, a ênfase no código musical, sendo que
alguma regularidade na disposição dos elementos deve ser encontrada.
Mais detidamente, nosso tema se relaciona com os estudos sobre a fusão musical e o hibridismo, como o
de Acácio Piedade: Perseguindo fios da meada: pensamentos sobre hibridismo, musicalidades e tópicas,
onde o autor reflete sobre essas noções no campo da antropologia com aplicação na música brasileira:

Muitas vezes se utiliza o conceito de hibridismo para tratar da imbricação de elementos estilísticos que
sintetizam uma obra ou gênero musical. Esta mistura de elementos é normalmente positivada, tomada como
índice de complexidade ou sofisticação. Pressupõe-se assim a possibilidade de síntese, de fusão, mas esta
nem sempre implica em unidade, ainda que a consciência perceptiva tenda de início a tomar o corpo sonoro
como uno e estável. Tenho trabalhado a noção de tópicas musicais da musicalidade brasileira para tentar
identificar e isolar [...] elementos [...] que são utilizados em largo espectro em diversos repertórios da
música brasileira, com a particularidade de se fazerem contrastivos entre si a ponto de se destacarem no
tecido musical e de portarem remissões significativas a elementos culturais [...] (PIEDADE, 2011, p. 106).

Finalmente, no âmbito dos estudos musicológicos em perspectiva audiotátil, o problema da fusão é


tratado em função dos fatores constitutivos e de reconhecimento estético induzidos pelas mediações
cognitivas e culturais específicas das músicas audiotáteis: o principio audiotátil; e a representação artística
musical através da gravação fonográfica.
Utilizando conceitos específicos da perspectiva musicológica audiotátil, Fabiano Araújo Costa investiga a
influência do modo de gravação multipista, com edições de cópia e colagem, e pós-produção, derivado
dos modelos de produção do progressive rock, na confecção da faixa “Bitches Brew” do álbum
homônimo Bitches Brew, do trompetista Miles Davis, obra considerada um marco da gênero fusion.

No caso da codificação néo-aurática secundária, como na “música montada”, a conciência estética que
decorre da codificação néo-aurática em si, identifica o texto na gravação, de modo que o artista “compõe” o
disco, e não uma performance. As consequências desta situação são importantes, porque neste último caso,
a imagem sonora determinada pela disposição dos microfones, e a mixagem (que define a sonoridade
global), a montagem, etc., são ferramentas de composição, e concernem à forma, à própria substância da
obra. Na codificação néo-aurática, o disco é o texto, e tempo pode ser retrocedido também na fase poiética,
a obra é a gravação aprovada pelo autor.”1 (ARAUJO COSTA, 2015)

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“Par contre, dans le cas de la CNA secondaire, comme dans la « musique montée », la conscience esthétique qui
découle de la CNA identifie le texte dans l’enregistrement, et l’artiste « compose » le disque, et non une performance.

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Neste sentido, no momento em que surge um tipo de gênero que acabou ficando conhecido como jazz
fusion, a realidade do processo composicional é inédito no âmbito das músicas audiotáteis, pois pela
mediação da gravação multi-pista e técnicas de edição, o artista possui os mesmos recursos de alteração
simbólica da composição mediada pela notação musical escrita e pela teoria musical, porém, os valores
musicais possuem nova pertinência estética e consequentemente as fusões, não é mais a partitura, que
permite por meio da linguagem musical, através dos símbolos que não conseguem agregar todos os
aspectos de uma peça musical com fidelidade, e a memória, que está sujeita ao esquecimento. No século
XX a possibilidade de gravação revolucionou esses meios precários para registro de composições, a
possibilidade de se “registrar o som”, claro que, não com total fidelidade, mas trouxe um novo cenário
para a música, já que agora se poderia gravar e alterar o que foi gravado.
Em consonância com os objetivos do projeto “Música e Musicologia Audiotátil”, pretende-se, portanto,
iniciar um estudo de caráter científico e de formação musicológica com a investigação de uma
problemática específica – a noção de “fusion” e a questão da fusão musical na literatura musicológica e
na perspectiva audiotátil – de modo que, ao final do subprojeto, possamos elaborar um texto que
apresente de forma articulada, os problemas e noções teóricas que giram em torno das músicas audiotáteis
(o jazz, o rock, o pop, a música popular brasileira, etc.), na específica discussão sobre o “fusion” e suas
declinações semânticas.

3 Objetivos

A ideia central do projeto é chegar a um ponto em que se possa definir com base em uma revisão da
bibliografia musicológica, quais são os aspectos históricos, sociais e culturais, mas também estéticos,
técnicos (em termos de linguagem musical), e tecnológicos, que agem na constituição da considerada
música fusion; e quais são os fatores pertinentes para a compreensão e análise das mudanças ocorridas na
fusão de gêneros, com ênfase na experiências estético-musicais do jazz fusion que surgiu na década no
final da década de 1960, e movimentos posteriores, em perspectiva transcultural, incluindo as fusões
ocorridas no âmbito da música brasileira enquanto música audiotátil.
Neste sentido, pretende-se adquirir uma consciência sobre a literatura dos “Jazz Studies”, dos estudos em
música popular (“Popular Music”), em “música popular brasileira”, e também da etnomusicologia,
sobretudo uma consciência de seus respectivos critérios epistemológicos e descritivos do fenômeno
músical, para em um segundo momento, refazer e eventualmente reformular a presente problemática
orientados pelos critérios da perspectiva musicológica audiotátil.

Les conséquences de cette situation sont importantes, car dans ce dernier cas l’image sonore déterminée par la
disposition des microphones, le mixage qui définit la sonorité globale, le montage, etc., sont des outils de
composition, et relèvent de la forme, de la substance de l’œuvre. Dans la CNA secondaire, le disque, c’est le texte, le
temps est renversé aussi en phase poïétique, l’œuvre est l’enregistrement approuvé par l’auteur.” (ARAUJO
COSTA, 2015).

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4 Metodologia

O projeto se baseará em revisão bibliográfica para aquisição de competência teórica e competências de


análise e transcrição de música gravada, que ajudarão a fazer comparações, e assim descobrir os pontos
que eles se ligam os gêneros, como também os elementos que são característicos somente a um dos tipos
de música, que se caracteriza como linguagem.
A análise gira em torno de parâmetros como: fraseado, instrumentação usada, estruturas harmônicas
recorrentes, elementos rítmicos característicos (CUGNY, 2009; MEYER, 1989) mas também, de
parâmetros de pertinência estética audiotátil, como o swing, o groove, a energia propulsiva e depulsiva, os
modos de interação, extemporização e improvisação (CAPORALETTI, 2005, 2014; ARAUJO COSTA,
2014; KEIL, 1966).
Concentrando-se portanto nos problemas em torno da temática fusion e fusão musical, este subprojeto
desenvolverá, portanto, um estudo de caráter científico com emprego de modelos teóricos e
procedimentos de análise musical e de descrição do fenômeno musical, em total consonância com o
escopo do projeto “Música e Musicologia Audiotátil”.

5 Plano de Trabalho / Cronograma

As atividades a serem desenvolvidas para o presente subprojeto consistem de: (1) levantamento
bibliográfico com utilização de recursos da biblioteca central da Ufes e Portal de Peródicos Capes ; (2)
reuniões de orientação e discussão sobre a bibliografia, onde será apresentado um resumo e fichamento
dos textos para eventuais observações e direcionamentos; (3) definição de músicas para fazer transcrição,
com base na escuta das músicas e apresentação de justificativas que definem a música no corpus; (4)
Transcrição das músicas e investigação dos processos usados, com utilização de softwares de edição
musical e de edição sonora quando necessário; (5) realização das análises musicais, com a justificativa
dos procedimentos adotados; (6) elaboração de uma artigo científico.

ATIVIDADES
Lista de atividades*
1 - Levantamento bibliográfico
2 - Reuniões de orientação e discussão sobre a bibliografia
3 - Definição de músicas para fazer transcrição
4 - Transcrição das músicas e investigação dos processos usados
5 - Realização das análises musicais
6 - Elaboração de uma artigo científico.

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CRONOGRAMA (Ago/2017 a Jul/2018)


Atividade ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul
1 X X X X
2 X X X X X
3 X X X X X
4 X X X X X
5 X X X X
6 X X X X

6 Referências
· LIVROS

CAPORALETTI, Vincenzo. I Processi Improvvisativi nella Musica: Un Approccio Globale. Lucca:


Libreria Musicale Italiana, 2005, 508p. (Quaderni di Musica/Realtà).

CAPORALETTI, Vincenzo. Swing e Groove: Sui Fondamenti Estetici delle Musiche Audiotatilli.
Lucca: Libreria Musicale Italiana, 2014, 386p. (Grooves: Collana di Studi Musicali Afro-Americani e
Popular)

CUGNY, Laurent. Analyser le Jazz. Paris: Outre Mesure, 2009, 575p.

MEYER, Leonard B. Style and music: Theory, History and Ideology. Chicago and London: The
University of Chicago Press, 1989.

· ARTIGO DE REVISTA
KEIL, Charles M. H. Motion and Felling throught Music. The Journal of Aesthetics and Art
Criticism, v. 24. n. 3. p. 337-349, Spring. 1966.

ARAUJO COSTA, Fabiano. Remarques sur l’expérience esthétique interactionnelle chez Miles Davis
en 1969 : le projet de « Bitches Brew » et les concerts avec le 3e Quintette. Epistrophy, n.1, 2015.
{online}. Disponível na Internet via: http://www.epistrophy.fr/remarques-sur-l-
experience.html Arquivo capturado em 21 de maio de 2017

· INTERNET
FABBRI, Franco. Browsing Music Spaces: Categories And The Musical Mind.{online}. Disponível na
Internet via http://www.francofabbri.net/files/Testi_per_Studenti/ffabbri990717.pdf. Arquivo capturado
em 22 de jun. 2017.

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