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Aymê Okasaki
University of São Paulo
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All content following this page was uploaded by Aymê Okasaki on 18 December 2020.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (FFLCH-USP); 05508-080 ,
São Paulo, Brasil; ayme.okasaki@usp.br;
Resumo
No presente artigo foi abordada a temática do pano da costa ou pano de alaká, na
indumentária do candomblé. Por meio de um levantamento bibliográfico e imagético, foi
analisada a evolução do uso do pano da costa, desde sua introdução no traje de crioula. O
objetivo desta investigação é identificar os significados do uso do pano da costa e alterações
em sua utilização e confecção atualmente. Para isto, analisou-se a origem e composição desta
indumentária religiosa. Observa-se um dos principais elementos identificadores deste traje, o
pano da costa, por meio de seu histórico e das mudanças características da tecelagem e uso
destes tecidos, no Brasil.
1. Introdução
A presente pesquisa investiga quais as interpretações funcionais e estéticas de um
identificador da indumentária feminina do candomblé: o pano da costa, desde sua
implantação no traje da crioula no período escravagista brasileiro, até a contemporaneidade
dentro do candomblé. Assim, o objetivo é investigar quais foram as modificações e
permanências do uso e confecção do pano, na Bahia. Estas alterações se referem aos modos
de se vestir e amarrar os panos, segundo suas significações litúrgicas e profanas; e
modificações quanto materiais, processo de confecção, cores e tamanhos. Como referencial
teórico, esta pesquisa se apoia na historicidade da indumentária do candomblé e cultura
material têxtil da África Ocidental, realizados por Raul Lody, Luis Nicolau Parés, Vagner
Gonçalves da Silva; Colleen Kriger e John Gillow. Como referencial imagético histórico
temos o trabalho do fotógrafo e antropólogo francês Pierre Verger, as fotografias de José
Medeiros e de Adenor Gondim. Para analisar a indumentária do século XIX, são
fundamentais as fotografias realizadas em estúdio de Marc Ferrez, Alberto Henschel e
Augusto Stahl.
2. Metodologia
A pesquisa tem como base referências bibliográficas e imagéticas, com obras focadas
no período após a segunda metade do século XIX até o contemporâneo, apenas na Bahia.
Também recorri ao estudo de campo no Terreiro de Òsùmàrè; e na Casa do Alaká, em
fevereiro de 2019. Neste estudo de campo analisei o processo de confecção do pano da costa,
e entrevistei uma das organizadoras do projeto, Iraildes Maria Santos. Também para analisar a
diversidade disponível no mercado religioso contemporâneo, foi realizada uma visita à Feira
de São Joaquim; principal mercado de artigos religiosos de Salvador. O estudo de campo e
entrevista foram essenciais para compreender a produção e o uso contemporâneo do pano da
costa.
3. Resultados e conclusão
Com o comércio dos panos da costa, no Brasil, em especial na segunda metade do
século XIX, as negras libertas intensificaram seu uso em sua indumentária. Cada forma de
1 O Manifesto das Ialorixás Baianas, de 1983, foi um documento que formalizou este desejo dos
candomblés baianos. Mesmo que este fim do sincretismo não tenha se consolidado totalmente.
utilizar, amarrar e dispor e pano da costa, simbolizava a tarefa a se fazer. É certo que os
símbolos religiosos sofreram influências e mudanças em suas formas, materiais, usos e
significados socialmente declarados. No entanto, as razões de usos religiosos foram
preservadas dentro do candomblé. Portanto, o uso do pano da costa atualmente pelas mulheres
no candomblé demonstra certa preservação de tradições do vestir têxtil quando estes estão
envoltos dentro das ritualísticas, mesmo com alterações tecnológicas de confecção (buscando
aumento da produção) e de design, mas mantendo a estrutura básica desta peça centenária.
Figura 1 – Panos de cabeça expostos nas urdideiras artesanais e panos da costa expostos nas
vitrines ao fundo. Na direita, ao fundo da imagem, o tear artesanal; dentro da Casa do Alaká.
4. Referências
CORREIA LOPES, Edmundo. A escravatura: subsídios para a sua história. Lisboa: Agência
Geral das Colônias, 1944.
FUNDAÇÃO PIERRE VERGER. Acervo de fotos – candomblé Opô Afonjá. Disponível em:
<http://www.pierreverger.org/es/acervo-de-fotos/fototeca/category/481-candomble-opo-
afonja.html>. Acesso em: 10 Set. 2018.
IPAC, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Pano da Costa. Cadernos IPAC,
1. Salvador: IPAC - Fundação Pedro Calmon, 2009.
LODY, Raul. Pano da costa. Cadernos de folclore, n. 15. Rio de Janeiro: Funarte, 1977.
______. Moda e história: as indumentárias das mulheres de fé. São Paulo: Editora Senac,
2015.
MOURA, Diógenes. Pierre Verger: fotografias para não esquecer. São Paulo: Terra Virgem
Editora, 2009.