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PESQUISADORES FRANCESES E AS
RELAÇÕES BRASIL-ÁFRICA
O livro traz 225 cartas trocadas entre os amigos Roger Bastide e Pierre Verger ao longo de quase 30 anos
de suas trajetórias como participantes e pesquisadores das culturas afro-brasileiras e africanas. As cartas
abordam questões importantes de seus ofícios e de seu empenho pelo reconhecimento do tema, caro a
ambos (Cf. website EDUSP).
“(...) a correspondência em apreço nos oferece uma janela
privilegiada para vislumbrar não apenas a história intelectual de dois
dos maiores pesquisadores dos estudos afro-brasileiros, como para
entender o processo de constituição dessa área de conhecimento em
meados do século XX. Como é sabido, o campo dos estudos sobre o
negro no Brasil, iniciado com Nina Rodrigues e continuado por
autores como Edison Carneiro e Arthur Ramos, logo se viu acrescido
da contribuição de uma série de pesquisadores estrangeiros. Se no
final dos anos de 1930 e início da década de 1940 foi o turno de
pesquisadores norte-americanos, como Lorenzo Turner, Franklin
Frazier, Ruth Landes e o casal Herskovits, a partir do final dessa
década e durante as duas seguintes, a influência dos pesquisadores
franceses, como Roger Bastide e Pierre Verger, foi marcante. O
campo dos estudos afro-brasileiros não se entende sem essa dupla
e tensa articulação entre o olhar nacional, com suas complexas
perspectivas regionalistas, e o olhar externo do estrangeiro. Os
estudos de Verger e Bastide vieram a consolidar a “tradição afro-
brasilianista”, que pensava a cultura afro-brasileira, em particular o
candomblé, como uma continuidade da África no Brasil, enfatizando
as origens e, às vezes, de forma pouco crítica, a pureza da tradição
africana (sobretudo iorubá), em detrimento da criatividade cultural e
do sincretismo americano. Essa abordagem seria exposta e
questionada, a partir dos anos 1980 (...)”.
Cf. PARÉS, Luís Nicolau. A correspondência entre Roger Bastide e Pierre Verger. Revista USP, SP, n. 120, jan. fev. mar. de 2019.
Roger Bastide era apaixonado pelo misticismo e teve a
sua obra voltada às áreas da literatura e sociologia
religiosa: Os problemas da vida mística (1931) e
Elementos da sociologia religiosa (1935).
Após viajar por países mediterrâneos, fez a sua primeira incursão na África
(Níger), de onde posteriormente foi para as Antilhas francesas e México,
voltando à França. Em 1937 volta à Ásia para cobrir o conflito sino-japonês
em Xangai, tendo visitado posteriormente algumas colônias francesas na
Oceania. Em 1939 foi para o México, Guatemala, e depois conheceu os
países andinos. O contexto da segunda guerra interrompeu essa estadia. Em
1940 foi incorporado ao serviço fotográfico do Governo Geral da África
Ocidental Francesa. Em 1941 e 1942 foi para a Argentina, Bolívia e Peru,
onde foi contratado pelo Museu Nacional de Lima para fotografar a realidade
dos povos andinos. Em 1946 resolve voltar a Paris atravessando a Bolívia e o
Brasil, quando chegou de trem a São Paulo. “Há quatorze percorria o mundo
com uma Rolleiflex pendurada no pescoço em busca da alteridade. Tinha se
tornado muito sensível à diversidade cultural, em particular das minorias
étnicas. Suas imagens demonstram uma grande curiosidade etnográfica e
ilustra os modos de vida dos povos visitados”.
O encontro entre Pierre Verger e Roger Bastide
“Pierre Verger, por sua vez, preparou-lhe [Roger Bastide] em 1958 sua
primeira pesquisa de campo na África. Mostrou-lhe a influência do Brasil
no Dahomé e na Nigéria e o apresentou a seus amigos e colegas: era
uma maneira de recompensar Bastide por tudo o que ele lhe havia feito
na sua chegada ao Brasil em 1946. (...) Seu colar de contas vermelhas e
brancas serviu-lhe de passaporte junto a seus correligionários
africanos”.
“Em várias publicações Pierre Verger se esforçou para mostrar, com a ajuda de
fotos, a fidelidade africana dos cultos afro-brasileiros e, ao trabalhar com o tráfico
negreiro, colaborou para restabelecer vínculos entre o Golfo do Benin e a cidade
da Bahia”. [Cf. Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do Benim e a
Bahia de Todos-os-Santos, do século XVII ao XIX].
“Ao serem qualificados como ‘inventores da tradição ioruba’ nesses últimos anos,
Roger Bastide e Pierre Verger contribuíram para valorizar as culturas negras com
frequência desprezadas (...). Depois de sua morte, ambos se tornaram ícones
venerados nos meios afro-brasileiros. Seus trabalhos são reeditados e
amplamente utilizados pelos adeptos do candomblé”.
A obra audiovisual escolhida
Disponível em:
https://
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-07112018-
135629/publico/LISANDRA_CORTES_PINGO_rev.pdf