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BOLETIM INFORMATIVO | FEVEREIRO | 2020

NOTAS SOBRE O CULTO


AOS ORIXÁS E VODUNS
CLÁSSICO PIONEIRO DE PIERRE FATUMBI VERGER
RETORNA ÀS PRATELEIRAS PELA EDUSP
Fundação Pierre Verger. | Foto: Tacun Lecy.

EDITORIAL
Depois das festas de fim de ano, da Lavagem do Bon- E não poderíamos deixar de falar em exposição fotográ-
fim, da Festa de Yemanjá e do Carnaval, o ano novo se fica! Trazemos um pouco sobre Botanicals, uma mostra
apresenta com mais força para todos e com ele, a pri- em cartaz em Valência, na Espanha, que aborda a re-
meira edição de 2020 do Boletim Informativo da Fun- presentação de plantas ou formas vegetais e que cria
dação Pierre Verger que traz como destaque o retorno uma narração visual de obras de arte da coleção Per
do livro Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns, de Amor a l’Art com a participação de artistas como Karl
Pierre Fatumbi Verger, publicado pela Edusp. O livro é Blossfeldt, Imogen Cunningham Hans-Peter Feldmann,
um marco para as histórias de Verger e das religiões Jonas Mekas, Alessandra Spranzi e Pierre Verger.
africanas e afro-brasileiras, pois se trata de uma das
primeiras publicações sobre o tema em todo o mundo Já sobre o Espaço Cultural Pierre Verger, temos uma
e que, ainda hoje, é fonte de pesquisa para todas as entrevista com Jaqueline Santos, uma ex-moradora do
pessoas interessadas nessa temática. Engenho Velho de Brotas que doou uma coleção de
livros clássicos para a biblioteca da Fundação, na qual
Outra publicação que trazemos em notícia é o livro-ca- ela conta sobre o seu amor pela leitura e como Caeta-
tálogo AFRICAMERICANOS, fruto da exposição homô- no Veloso e Maria Bethânia a influenciaram no caminho
nima realizada na Cidade do México, em 2018. Nessa da literatura; informamos, também, sobre a abertura
publicação, Pierre Verger é homenageado em reconhe- das inscrições para as oficinas do Espaço; contamos
cimento pelo seu pioneirismo no destaque às temáticas como foi a ação de Natal promovida por funcionários
afro-americanas. da Odebrecht com as crianças da comunidade; e as
parcerias com a antropóloga e cineasta Irina Linke e
Noticiamos o embarque do grupo brasileiro que par- com o projeto Brazil Cultural, que comemorou 15 anos.
ticipa do projeto de intercâmbio cultural Identités em
Mouvements, dessa vez para a mobilidade na Guia- É isso aí! Ano novo, vida nova e a Fundação Pierre
na Francesa, tendo como ponto de encontro a comuna Verger continua desenvolvendo as mais diversas ati-
francesa Maripasoula. Também contamos sobre a visita vidades. Desejamos uma boa leitura, lembrando que
à Fundação de um morador de Canudos que falou so- acessando o nosso site você fica por dentro de mais in-
bre a importância do olhar humano de Verger sobre a formações sobre as ações e os serviços oferecidos pela
cidade depois da Guerra. Fundação. Até a próxima edição!
CONTEÚDO
04
PUBLICAÇÃO Notas sobre o Culto aos Orixás e Voduns

06
EXPOSIÇÃO AFRICAMERICANOS

07
INTERCÂMBIO Identités en Mouvements – Mobilidade Guiana Francesa

08
CONEXÃO Um Olhar Humano sobre Canudos

09
EXPOSIÇÃO Botanicals: Per Amor a l’Art

10
ARTE, CULTURA, EDUCAÇÃO Espaço Cultural Pierre Verger

16
INSTITUCIONAL Fundação Pierre Verger

FUNDAÇÃO PIERRE VERGER


Presidente: Gilberto Sá.

EXPEDIENTE: Boletim Informativo bimestral, elaborado pela Comunicação da Fundação Pierre Verger.
Coordenação e Conteúdo: Alex Baradel, Angela Lühning e Tacun Lecy.
Organização: Tacun Lecy.
Textos: Angela Lühning e Tacun Lecy.
Fotos: Javier Escudero e Tacun Lecy.
Design Gráfico e Diagramação: Tacun Lecy.
Revisão: Alex Baradel, Angela Lühning e Tacun Lecy.
Contato: comunicacao@pierreverger.org

APOIO FINANCEIRO:

A Fundação Pierre Verger é mantida com apoio do Fundo de Cultura do Estado da Bahia.
PUBLICAÇÃO
PUBLICAÇÃO

Fotografia publicada no livro Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns. | Legenda: Héviosso, Abomey, Bénin (Anos 50). | © Fundação Pierre Verger.

NOTAS SOBRE O CULTO AOS ORIXÁS E VODUNS


A Edusp - Editora da Universida- à l’ancienne Côte des Esclaves en o seu primeiro livro sobre a temática
de de São Paulo recentemente im- Afrique, em 1957, pelo Institut Fran- religiosa africana, Dieux d’Afrique,
primiu uma nova tiragem do livro çais d’Afrique Noire, que foi uma sendo este livro composto basica-
Notas Sobre o Culto aos Orixás e primeira abordagem sistemática de mente por fotografias e uma resu-
Voduns, de Pierre Verger, com tradu- materiais escritos existentes sobre os mida descrição do contexto ritual de
ção e organização de Carlos Eugê- cultos aos orixás e voduns no Benin cada orixá, desta forma contribuindo
nio Marcondes de Moura e inicial- e na Nigéria, numa época que exis- para uma importante compreensão
mente publicado em 2000. Trata-se tiam ainda poucas informações pu- visual das tradições religiosas afri-
da tradução do livro originalmente blicadas sobre o assunto, em geral. canas. Mas, mesmo com a pioneira
publicado em francês, Notes sur le contribuição de Dieux d’Áfrique, o
culte des orisa et vodun à Bahia, la O tema foi abordado por Verger livro Notas Sobre o Culto aos Ori-
Baie de Tous les Saints, au Brésil et desde quando publicou, em 1954, xás e Voduns vai ainda além. Como
Boletim Informativo | Edição 01/2020 04 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020
Verger ressalta no prefácio, havia te deste livro, são os inúmeros orikis anos após a publicação em francês,
poucas informações na África so- de todos os orixás inseridos no livro, graças à Edusp (uma das maiores
bre os desdobramentos diaspóricos compilados por Verger ao longo das editoras universitárias brasileiras),
de seus cultos, bem como na Bahia suas pesquisas, buscando ampliar mas nos últimos anos encontrava-se
não havia mais informações sobre os conhecimentos disponíveis sobre esgotado. Dessa forma, o retorno às
paralelos com as práticas religiosas o assunto. É importante ressaltar prateleiras fecha uma lacuna, per-
nos países africanos mencionados que as fotos de Notas Sobre o Culto mitindo novamente o acesso do pú-
acima, algo que o livro se propõe a aos Orixás e Voduns são as mesmas blico a este importante documento
amenizar. de Dieux d’Áfrique, incluindo tam- sobre os cultos aos deuses africanos.
bém fotos coloridas, recurso, depois ---
Desta forma, Notas Sobre o Cul- desta data, pouco usado por Verger. A Fundação Pierre Verger dispõe
to aos Orixás e Voduns traz, além dessa publicação, que pode ser ad-
das observações, descrições e ano- Sem dúvida, este livro é um marco quirida na nossa loja online. Clique
tações do próprio Verger, resultado na história das religiões africanas e na imagem abaixo e receba o seu
das suas pesquisas realizadas em afro-brasileiras, pelo fato de apre- exemplar em casa.
1948, 1952 e 1955 no Benim e na sentar esse importante corpus da ---
Nigéria, também, uma vastíssima literatura oral iorubana. A redação Notas Sobre o Culto aos Orixás e
compilação dos mais diversos au- final foi fruto de uma reclusão de 18 Voduns
tores que já tinham escrito sobre o meses na Ilha de Gorée, permitin- Editora: Edusp. Edição: 2. Ano:
assunto, seguindo uma organização do a Verger escrevê-lo. Notas Sobre 2019. ISBN: 8531404754. Dimen-
cronológica de seus escritos. Mas, o Culto aos Orixás e Voduns só foi sões: 23x23 cm. Largura: 23 cm. Nº
certamente, a parte mais importan- publicado em português mais de 40 de Páginas: 624.

Boletim Informativo | Edição 01/2020 05 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


PUBLICAÇÃO

Capas do livro LES AFRO-AMERICAINS e do livro-catálogo AFRICAMERICANOS. | FOTOS: Reproduções.

AFRICAMERICANOS
O ano era 1952 quando os pri- e as combina com produções con- Verger entre essas culturas, diversos
meiros trabalhos de Pierre Fatumbi temporâneas encomendadas para pesquisadores, antropólogos e ar-
Verger sobre as culturas afro-ame- este projeto, no qual se destaca a tistas abordaram em seus trabalhos
ricanas foram publicados pelo Insti- reunião de trabalhos oriundos de essas relações, gerando uma gran-
tut Français D’Afrique Noire - IFAN, uma diversidade geográfica forte, de produção de informações sobre
no periódico Les Afro-Americains. incluindo países cuja raiz afrodes- essas culturas. AFRICAMERICANOS
A instituição, com sede em Dakar cendente é pouca conhecida, como é o primeiro projeto inovador de
(Senegal), havia contratado Verger Argentina e México. pesquisa e produção visual que
especialmente para documentar se- busca revisar e esclarecer a confi-
melhanças entre as culturas do Be- Pierre Verger é homenageado nes- guração de imaginários associados
nim e da Bahia, em um momento se projeto, tendo as suas fotografias a comunidades afrodescendentes
no qual ele já havia realizado um iniciando o catálogo, indicando, ali, em 16 países da América Latina e
trabalho fotográfico abrangente o pioneiro no destaque a essas te- no Caribe. A exposição foi realizada
sobre as culturas afro-americanas, máticas. O catálogo conta, também em 2018, no Centro De La Imagem,
notadamente na Bahia, no Haiti, no com obras de Maya Goded, Sandra na Cidade do México.
Suriname (Guiana Holandesa) e nas Eleta, Nelson Garrido, Cristina de
Antilhas. Registrava-se ali, o pionei- Middel e a coleção do Instituto Mo- O LIVRO-CATÁLOGO
rismo de Fatumbi em afirmar as re- reira Salles, entre outros. • Capa dura: 236 páginas
lações culturais entre os continentes • Editora: RM/Museo Amparo/Cen-
africano e americano através da sua A Fundação Pierre Verger dispõe de tro de la Imagen; Edição: 1 (29 de
obra. um número limitado dessa publica- outubro de 2019)
ção, que pode ser adquirida na nos- • Idioma: Espanhol.
Em 2019 foi lançado o livro-catá- sa loja online pelo valor promocio- • ISBN-13: 978-8417047955
logo AFRICAMERICANOS, fruto da nal de R$ 120,00, dividido em até • Dimensões: 24,1 x 2,5 x 34,3 cm.
exposição homônima, que ofere- três vezes. Clique aqui e receba o • Peso de envio: 1,5 K.
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Boletim Informativo | Edição 01/2020 06 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


INTERCÂMBIO
INTERCÂMBIO

Grupos do Identités en Mouvements em Acupe, no Recôncavo Baiano. | Foto: Tacun Lecy

IDENTITÉS EN MOUVEMENTS - MOBILIDADE GUIANA FRANCESA


Quatro meses após o encontro em dos que fugiram da costa e se esta- cação. Também aconteceram visitas
Salvador/BA, organizado pela Fun- beleceram na região amazônica) e a pequenas comunidades locais,
dação Pierre Verger e marcado por os indígenas. quando os deslocamentos foram
uma grande encontro cultural, os realizados em pirogas (espécie de
grupos do projeto Identités en Mou- O grupo do Brasil é formado por Ail- canoas motorizadas).
vements voltaram a se encontrar, ton Pitta, Alessandra Tharsilla Santos
dessa vez em Maripasoula (comu- Silva, Alex Baradel, Alexandre San- O retorno do grupo do Brasil acon-
na francesa do departamento de tos, Deborah Leeb, Gustavo Melo, teceu no dia 22 de fevereiro, quan-
ultramar da Guiana Francesa) para Jucélia Teixeira, Mario Mendes, do saiu de Maripasoula para Cayen-
dar continuidade ao programa de Marlene da Costa, Roberta Gravina ne e depois embarcou para Belém,
intercâmbio cultural que envolve e Romério Zeferino. Eles embarca- onde passou a noite. Já no dia 23, o
instituições, jovens e educadores do ram em Salvador/BA no dia 15 de grupo fez uma escala em São Paulo/
Benim, Brasil, França e da própria fevereiro, com escalas em Belo Ho- SP e desembarcou em Salvador/BA.
Guiana. rizonte/MG, Belém/PA e Cayenne
(capital da Guiana Francesa), onde ---
A mobilidade Guiana Francesa teve encontraram com as delegações do NOTA!
como anfitriã a instituição Che- Benim e da França e passaram a Além do projeto Identités en Mouve-
cheurs D’Autres e aconteceu entre noite e no dia 16 embarcaram em ments, a região onde se encontram
os dias 15 e 23 de fevereiro, quando bimotores até Maripasoula. a Guiana Francesa e o Suriname
os participantes do projeto visitaram será homenageada em exposições
diversas comunidades do interior Já em Marispasoula, todos encon- na Europa, com fotografias de Pier-
da Guiana, como Papaichton, onde traram os participantes da Guiana re Verger. Na Alemanha, em expo-
puderam vivenciar experiências com Francesa e a partir daí, o intercâm- sição individual, serão mostradas
povos e culturas diferentes das suas, bio das culturas iniciou as suas ati- imagens de Verger sobre o Surina-
especialmente com os bushnenge vidades que envolvem artes visuais, me; já na França, uma exposição
(descendentes de negros escraviza- culinária, dança, música e comuni- coletiva mostrará fotos das Guianas.

Boletim Informativo | Edição 01/2020 07 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


CONEXÃO

Foto 01: Dona Maria Avelina (publicada no livro Sertão, Sertões). Foto 02: Dona Maria Arquelina da Conceição. Canudos 1946. | © Fundação Pierre Verger.

UM OLHAR HUMANO SOBRE CANUDOS


Em outubro de 2019, a Fundação com Angela Lühning (diretora de e nos traz, assim, um olhar sobre o
Pierre Verger recebeu a visita dos es- pesquisa da Fundação), falou sobre sertão mais humano, desta beleza
critores João Batista da Silva e Pau- a importância e o impacto desses que foi bem capturada e eternizada
lo Zangalli, que foram à instituição registros e o que eles podem ex- a partir dessas fotografias.”
apresentar o livro Sertão, Sertões: pressar em relação à identidade de
repensando contradições, recons- pessoas, famílias e lugares, e como No Instituto Popular Memorial de
truindo veredas, obra organizada elas (fotografias) conectam passado Canudos (Centro da Cidade – Ter-
por Joana Barros, Gustavo Prieto e e presente, inclusive mostrando pes- ceira Canudos), encontra-se o an-
Caio Marinho, que busca estabele- soas, invisibilizadas pela história. tigo Cruzeiro (também fotografado
cer uma narrativa a contrapelo do por Verger), único objeto que per-
sertão e, sobretudo, da guerra de “A visita de Verger a Canudos, em maneceu intacto após a Guerra de
Canudos dialogando com a obra 1946, com Odorico Tavares, de cer- Canudos. A instituição é uma orga-
de Euclides da Cunha, que petrifica ta maneira, possibilitou um novo nização não governamental, funda-
uma imagem do sertão e sertanejo olhar sobre Canudos. Até esse pe- da em 1993, composta por descen-
como o lugar do atraso que preci- ríodo se falava em Canudos com dentes de sobreviventes da Guerra.
sa fundamentalmente ser supera- uma visão militar. Quando Verger
do pela modernidade, imposta por chega com Odorico Tavares, os de-
meio da guerra. poimentos e as fotos fazem com que
outros historiadores e pesquisadores
A publicação apresenta três fotogra- vejam Canudos com um novo olhar.
fias produzidas por Verger no sertão Então foi a partir de fotografias de
baiano, na década de 1940; elas Dona Maria Avelina, que é sobrevi-
ilustram o texto O homem, a pre- vente da guerra, que as pessoas co-
sença do exército, conselheiristas. meçaram a entender Canudos com
um olhar mais humano. Então, ver
João Batista, que também é con- minha bisavó fotografada por Ver-
selheiro do Instituto Popular Me- ger, em 1946, com essa força, com
morial de Canudos, aproveitou a esse sorriso, largo, bonito... É algo
oportunidade para visitar o acervo assim mágico. O sertão é isso...
fotográfico da Fundação, no qual Beleza, resistência e, mesmo em
pode descobrir e se emocionar com meio a toda esta trajetória de luta
fotografias da sua bisavó, Dona e de destruição, o sorriso continua
Maria Arquelina da Conceição. Es- no rosto daquelas pessoas. Pierre
pontaneamente, em um bate papo conseguiu registrar isso muito bem

Boletim Informativo | Edição 01/2020 08 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


EXPOSIÇÃO

Exposição Botanical. | Foto: Divulgação.

BOTANICALS - PER AMOR A L’ART COLLECTION


No dia 13 de fevereiro, entrou em como a de Imogen Cunningham de Alessandra Spranzi, a obra de
cartaz no Bombas Gens Centre aparecem junto com as de Albert Jonas Mekas e as jornadas de Pierre
D’Art a exposição Botanicals, uma Renger-Patzsch e Karl Blossfeldt, que Verger contribuem para essa visão
seleção de fotografias da coleção de usam o dispositivo fotográfico do geral como testemunhos adicionais
arte Per Amor a l ‘Art que apresenta ponto de vista analítico, absorvido sobre maneiras de retratar o mun-
diferentes abordagens para a repre- pelas representações do mundo na- do das plantas. A exposição termina
sentação do mundo das plantas. tural fornecidas pela ciência. com uma sala de Jochen Lempert,
em uma instalação que mistura as
Com curadoria de Vicent Todolí, A análise botânica e sua represen- fronteiras entre desejo, representa-
Nuria Enguita e Carles Àngel Saurí, tação construíram uma imagem e ção botânica e idioma pessoal.
Botanicals estabelece relações entre uma estética da representação de
ficções relacionadas ao mundo das uma flor. Esse subconsciente com- Botanical fica em cartaz até 01 de
plantas. São diferentes formas de posicional é compartilhado por di- novembro de 2020.
olhar que dão forma à realidade ferentes artistas nesta exposição. O
de uma flor que, além de sua po- jogo da repetição formal acaba dis-
BOTANICALS
sição natural, torna-se uma narrati- solvendo tempo e posturas estéticas.
va científica, ornamental, crítica ou Fotógrafos como Hans-Peter Feld- Bombas Gens Centre D’Art
estética. Esta exposição aborda uma mann e Mathieu Mercier ofereceram • Endereço: Av. de Burjassot, 54,
série de artistas que destacam esse novas abordagens para esse modo 46009 València, Valencia, Espanha.
momento catártico na vida de uma de compor, com o primeiro levan- • Abertura: 13 de fevereiro de 2020.
planta. do isso para o kitsch. Outras abor- • Visitação: 13 de fevereiro a 01 de
dagens apresentam uma narrativa novembro de 2020.
Algumas abordagens estéticas, descolonial. O trabalho de colagem
Boletim Informativo | Edição 01/2020 09 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020
OFICINAS
SAÚDE

Legenda. | Foto: Autor.

OFICINAS DO ESPAÇO CULTURAL PIERRE VERGER


A Fundação Pierre Verger informa Público: crianças (a partir de 07 Público: crianças (a partir de 10
que no período de 02 a 13 de mar- anos), adolescentes, e adultos. anos), e adolescentes.
ço estarão abertas as inscrições para
as Oficinas do Espaço Cultural. • Capoeira, com Mestre Carcaça. • Expressão Corporal, com Negrizu.
Terças e quintas, das 17h às 19h. Terças e quintas: Turma 01 – das
São 10 modalidades disponíveis, de | Público: crianças (a partir de 06 8h às 9h30 / Turma 02 – das 9h30
forma gratuita, para crianças jovens anos), adolescentes, e adultos. Se- às 11h; segundas e quartas das
e adultos, que têm como principal gundas, quartas e sextas, das 9h 19h30 às 21h. | Público: adultos
objetivo a valorização da cultura às 11h – Treino de adolescentes e (acima de 50 anos).
afro-brasileira, trabalhando a cida- adultos.
dania, e buscando reforçar a auto- • Informática Básica, com Joseane
-estima das pessoas envolvidas. • Coral, com Pedro Vieira. Segun- Nascimento. Terças e quintas: Tur-
das e quartas, das 16h às 18h. | ma 01 – das 16h30 às 17h30 /
Para se inscrever, basta ir à institui- Público: adolescentes (a partir de Turma 02 – das 17h30 às 18h30.
ção e levar os segintes documentos: 15 anos) e adultos. | Público: crianças (a partir de 10
Cópia do RG e/ou Certidão de anos), adolescentes e adultos.
nascimento (para criança que ain- • Culinária Criativa, com Marlene
da não tem RG); Cópia do RG do Costa. Quartas e sextas, das 14h • Percussão, com Luan Badaró.
responsável da criança/adolescen- às 17h | Público: a partir de 10 Quinta, das 14h às 16h | Público:
te; Cópia do comprovante de resi- anos. adolescentes e adultos.
dência; Cópia do comprovante de
matrícula da escola (quando ainda • Dança Afro, com Negrizu. Sexta, • Violão, com Gustavo Melo. Se-
em idade escolar). A inscrição é pre- das 17h às 19h | Público: adoles- gundas e quartas das 18h às 20h
sencial. centes, a partir de 16. | Público: adolescentes (a partir de
12 anos) e adultos.
OFICINAS OFERECIDAS • Esporte, com Mário Mendes.
• Artes Plásticas, com Wellington Quartas e sextas, das 14 às 16 Mais informações pelos telefones:
Rosário. Sexta, das 14h às 16h | e aos sábados das 9h às 12h. | 71 3203.8411 e 71 3203.8409
Boletim Informativo | Edição 01/2020 10 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020
ENTREVISTA
SAÚDE

Biblioteca Jorge Amada recebeu a coleção de clássicos de Jaqueline Santos. | Foto: Tacun Lecy.

O MUNDO INFINITO DOS LIVROS (CAETANO E BETHÂNIA, MEUS PROFESSORES)


A Biblioteca Jorge Amado do Espa- de Almeida Prado. Ela sempre pe- E o que eu mais ouvia era MPB, de
ço Cultural Pierre Verger recebeu gava livros no lixo, quando alguém madrugada, porque dormia escu-
em janeiro a doação de uma co- os jogava fora. Encontrou um que tando rádio. Os cantores de que eu
leção de 24 livros de autores clás- se chama Aprendendo a viver – ela gosto entraram todos na minha vida
sicos da literatura, que chegou por não lembra o autor, só da história – por causa deste radinho, principal-
intermédio de Dona Lucia, amiga e a partir desse livro não parou mais mente a Maria Bethânia. Vou falar
da doadora, Jaqueline Silva Santos de ler. E sempre que Maria Bethânia muito dela porque Maria Bethânia
(31 anos). Ao conhecer a história de indicava um livro nos seus discos, e Caetano são os meus heróis. Por
Jaqueline, que por um curto tempo ela corria atrás para conseguir lê- causa deles que eu criei esta paixão
morou na Rua do Sossego, próxima -lo... Ou em uma biblioteca, ou em- pela leitura, pela literatura, princi-
à Fundação Pierre Verger, e que hoje prestado de alguém. palmente a literatura nacional. Acho
mora em Santa Catarina, decidimos que os jovens de hoje deveriam va-
contar um pouco sobre sua trajetó- Uma história de dedicação, vontade lorizar mais a cultura nacional, pois
ria como reflexão. e, sobretudo, de amor à leitura. ela não é muito valorizada.

Trata-se da história de uma meni- Confira os principais pontos do de- Sabe, não tive a oportunidade de
na que veio sozinha do interior da poimento dela, dados em conversas estudar desde pequena, eu não tive
Bahia e chegou a Salvador em 2003 por WhatsApp com Angela Lühning. a oportunidade de ter aquele desen-
para trabalhar, desde cedo, como (A transcrição e a edição são da volvimento que as crianças tem hoje
babá e cuidadora de pessoas idosas própria Angela.) de ir para a creche, de aprender
para várias famílias. E foi através de desde o começo, venho de uma in-
uma das suas patroas que ela mer- Minha relação com a música come- fância muito pobre. Meus pais eram
gulhou na obra de Maria Bethânia çou muito cedo porque na casinha alcoólatras e como irmã mais velha
e Caetano Veloso, que ela revelou em que a gente morava, não tinha eu tinha que batalhar pelos meus ir-
os considerar seus professores, que televisão, não tinha água, não tinha mãos, tinha de pedir comida na rua
lhe deram formação e fizeram dela luz; quase faltava o básico para vi- para eles, tinha de fazer comida,
o que é hoje; o motivo: os irmãos vermos, mas me lembro que a gente assim que chegava em casa, se não
santo-amarenses despertaram nela tinha um radinho-relógio à pilha e minha mãe trocava tudo por cacha-
o gosto pela leitura, através das le- eu ficava muito tempo com este ra- ça, foi um sofrimento. Depois que
tras das suas músicas. dinho, me distraindo. À noite eu es- saí de casa para trabalhar, para dar
cutava, de dia eu deixava de brincar um pouquinho para eles, eu sofri
Jaqueline lembra até hoje dos pri- com a criançada da rua para ouvir o abuso sexual, eu passei por coisas
meiros livros que ela leu, como, Vi- rádio. Rádio para mim foi um meio assim que machucam muito o ser
ver vale a pena, de Lucília Junqueira de comunicação muito importante. humano, na essência.
Boletim Informativo | Edição 01/2020 11 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020
O horário que meus patrões chega- não tive a oportunidade de ir para
Eu nasci em Alagoinhas, na Bahia, vam não dava para eu ir mais, pois escola todo dia, regularmente.
em 1988, numa família de cinco chegavam bem tarde, umas 8 horas
irmãos. Quando nascemos, não tí- da noite. Por isso tive que largar no- Quando cheguei aqui no Sul, eu co-
nhamos certidão de nascimento, vamente os estudos, mas estudava nheci um rapaz que é meu marido
porque o pai das minhas irmãs não em casa. hoje, foi em 2015 e ele não sabia
deixava a minha mãe nos registrar, ler, nem escrever e eu ensinei para
porque ela já estava debilitada pelo Assim fui largando a escola e retor- ele. Passei um pouco do que eu sei
alcoolismo. Eles nunca foram atrás nando aos estudos e fiz até o pri- para ele. Hoje meu marido sabe ler
para fazer documento para a gente meiro ano, mas dali para frente eu e escrever e eu o incentivo. Matri-
e quando comecei a ir para a es- deixei mesmo os estudos e foquei só culei-o num curso do EJA (Educa-
cola tinha nove anos, graças a uma no trabalho, porque tinha que tra- ção de Jovens e Adultos), junto com
mulher de quem fui cuidar do filho. balhar, sem pai, nem mãe, foi então meu vizinho. Eles estão procurando
Eu fui trabalhar com nove anos de que eu vim aqui para o Sul. Quando aprender e entender que a gente
babá de um menino de cinco anos. fui morar no Sossego em 2012 eu só cresce quando a gente sai des-
Então, a partir dessa época, fui es- já não estudava mais por causa do sa escuridão que é o analfabetismo.
tudar na escola. Mas eu parei logo, trabalho. Morei dois anos no Sosse- Eu sempre falo que, enquanto não
porque era muito difícil estudar e go, mas ficava só em casa quando sabia ler nem escrever, eu estava
trabalhar, não consegui. Saí daque- chegava do trabalho, ouvia música na escuridão. Quando comecei a
la casa em 2000 e fui trabalhar com e lia e pouco saía. ler, quando aprendi a escrever meu
uma senhora idosa. Depois eu fui nome, eu senti que o mundo come-
para Salvador em 2003, eu voltei A gente ter de escolher entre traba- çou a se abrir para mim. Quando
para os estudos. lhar e estudar é uma realidade mui- comecei a estudar, também fiquei
to triste. Eu trabalhei quase 10 anos com vontade de escrever, mas tinha
Em Salvador cuidei de uma senhora para aquela minha ex-patroa no vergonha das coisas que escrevia.
idosa, trabalhei dois anos para ela Itaigara (o casal de médicos) e eles
e através das sobrinhas dessa se- tinham uma assinatura da revista Eu tinha uns cadernos com os po-
nhora, que gostavam muito de Ma- Veja. Eu era apaixonada pela revista emas que escrevia para Maria Be-
ria Bethânia, eu mergulhei na obra Veja, porque ela tinha aquelas pá- thânia, as cartas que escrevia para
dela. Ela recitava muitos poemas e ginas amarelas e eu gostava de ler ela porque eu tinha esperança de
assim fui procurar os autores, textos as entrevistas dessas páginas, mas um dia poder mostrar para ela. Eu
de Caetano, de Jorge Portugal, e também gostava de saber o que achava que ela ia ver minhas poe-
desenvolvi um interesse pela música acontecia no mundo e, através da sias, que eu ia dizer a ela o quanto
nacional e pela literatura. Através de revista, ficava informada. Mas eu lia a música dela me mostrou o mundo
Bethânia também conheci Fernando também muitos livros, eu lia o jor- de letras que eu não conhecia, de
Pessoa, Mia Couto e outros escrito- nal A Tarde, que para mim era uma palavras que eu não conhecia e, na
res. maravilha. Quando lançaram aque- minha cabeça, um dia ia mostrar os
Nessa época nem sabia ler direito, la revista Muito, ficava louca espe- meus cadernos para ela.
mas aquela voz, aquela música me rando o final de semana, só para
instigava muito e assim fui lendo poder ler. Eu virei uma papa-livros e Mas, no dia que tive a oportunida-
cada vez mais e minha leitura foi se uma papa-jornais. Eu tinha também de encontrar com ela num show, eu
aprimorando. Também tive contato a assinatura da revista Bravo porque só pedi para ela avisar ao Caetano
com Maria Bethânia através de um queria pegar uma revista do Vinicius que amo muito ele. Quase morri do
casal de médicos que me dava mui- de Moraes. Por isso fiz a coleção, de coração, chorei tanto e ela pergun-
tos CDs dela e livros para ler. O pai que gostava bastante. Eu amava, lia tou por que eu chorava e eu respon-
deste ex-patrão me incentivava a ler demais e como ela vinha uma vez di que era porque ela é a professora
e me levava aos shows de Bethânia. por mês, eu lia e relia, até chegar a de minha vida. Mas Caetano não
próxima. Era muito bom. consegui ver de perto até hoje, não
Quando eu saí da Pituba, da casa sei se Bethânia deu meu recado.
daquela senhora, fui trabalhar no Nesses quase 10 anos na casa da
Itaigara e lá conheci um rapaz que Dona Soraya, ela lia também mui- Não sei se meus cadernos ainda
chama Beto Santana, ele trabalha- tos romances espíritas porque quan- existem, ficaram com as minhas
va numa loja de discos. Fiz amizade do ela lia um livro, ela dizia “Jaque, coisas, móveis e outras coisas que
com ele e na casa dele conheci a leia esse livro e me diga o que você deixei com minha irmã em Salvador.
Lúcia, minha amiga, e daí fui parar acha.” Eles tinham o costume de Na verdade, me achava muito tosca,
depois no Sossego (na Vila Améri- dar o livro e perguntar “o que você com vergonha das coisas que escre-
ca). Voltei a estudar lá no Itaigara, achou desse livro?” e nisso, doida via, pois me sinto aquela romântica
não me lembro muito das datas, e para dizer o que eu achei do livro, abestalhada. Hoje eu penso que a
primeiro fui cuidar de uma criança, eu lia muito. A literatura nacional foi gente precisa perder a vergonha e
mas de novo tive de deixar os estu- minha escola, na verdade, porque expor o que a gente sente e falar, o
dos, porque os horários não batiam. assim tive acesso à educação, mas que tem vontade de falar.

Boletim Informativo | Edição 01/2020 12 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


tudarem, para lerem e aproveitar
Gosto muito de ler ainda. Pretendo Eu gostaria de deixar para os lei- tudo que a literatura pode oferecer
passar esse hábito para meu filho. tores, especialmente para os novos para a gente, tudo que há de bom
Tenho um menininho de seis meses. leitores, esta mensagem, de que neste mundo literário. É muito bom,
E peço a Deus que tenha essa von- aproveitem e absorvam as mensa- principalmente a nossa literatura,
tade também de ler. Hoje leio Paulo gens que os livros passam para a a literatura de Jorge Amado, Pierre
Coelho, porque ele é de uma impor- gente. As histórias fictícias que fa- Verger; conhecer Zélia Gattai, Jor-
tância muito grande, o primeiro livro zem com que a gente viaje. Quem ge Portugal, sabe? São pessoas que
dele que eu li foi 11 minutos e todo tem a oportunidade hoje de ler e fizeram muito pela nossa cultura e
mundo falou: “Meu Deus Jaque, aprender com a literatura que apro- que deixaram um legado muito vas-
você está maluca de ler Paulo Co- veite, pois ela transforma o ser hu- to que tira o ser humano da escuri-
elho nesta idade!”. Mas, para mim, mano de uma forma muito boa. dão, como me tirou, me libertou e
foi muito bom. Hoje estou lendo Hoje sou grata à literatura. me mostrou que a vida não é só se
outros livros dele, Verônica decide lamentar, chorar e se sentir vítima
morrer e As Valkirias. Mas também Essa coleção para mim é um te- daquilo que aconteceu lá atrás. Cla-
li Verdade tropical, de Caetano, e souro que tive a honra de juntar ro que fomos vítimas, que sofremos,
ficava imaginando aquelas coisas aos pouquinhos. Eu li uma grande mas a gente não pode se colocar
que ele dizia quando ele fala um parte da coleção. Não li tudo, por- neste ponto a vida inteira. A vida é
pouco da descoberta do Brasil, não que fui embora para o sul, mas do linda e maravilhosa e com a litera-
que a gente não saiba, mas pela óti- que mais gostei foi Primo Basílio e tura, com cultura e com o trabalho
ca de Caetano fica tudo mais bonito Mensagem, de Fernando Pessoa. O que vocês fazem aí ela fica muito
e mais poético. Primo foi para mim uma coisa es- mais bonita e muito mais atrativa.
pecial, é um livro lindo…. Hoje em
Minha amiga Lúcia me falou sobre dia é muito difícil alguém ter uma Não deu tempo para eu conhecer a
a doação dos livros e fiquei mui- coleção como essa e quando houve Fundação. Lembro de Negrizu (pro-
to feliz poder contribuir um pouco, agora a oportunidade de doá-la à fessor de Dança do Espaço Cultural)
mesmo de longe, para que os jo- Fundação, fiquei muito, muito feliz falar da Fundação e da dança, mas
vens e as futuras gerações tenham mesmo. Hoje em dia eu não estou quando tomei conhecimento, falta-
acesso à cultura, porque hoje em com ela perto de mim, porque não va pouco tempo de ir embora para
dia a coisa está difícil. Essa coleção tive como trazer, então não poderia o Sul. Assim, não deu mais para eu
para mim é muito importante por- estar cuidando dela como gostaria. conhecer a biblioteca, mas tenho
que a fiz através de uma amiga, já É muito importante que outras pes- muita esperança que um dia eu ain-
que eu era menor de idade e não soas a leiam e a valorizem como eu da vá. Agora está bem complicado,
podia comprar muita coisa. Aí falei: a valorizei. porque estou com um bebê peque-
“Norma, eu queria comprar esta no, mas faço questão de ir e conhe-
coleção porque tem alguns autores Quando tive esse escape, a cultura cer um dia quando puder. Vi um
que tenho vontade de ler”. Eu que- vindo na minha frente, eu pude es- pouco sobre o trabalho da Funda-
ria muito ler Fernando Pessoa, que- quecer todo sofrimento que eu pas- ção na internet e fiquei apaixonada.
ria ler Dom Quixote. Tinha tudo ali, sei, podia focar em coisas boas. A
sabe? Tinha O Primo Basílio (Eça de literatura e a música me deram esta Agradeço por poder contar um pou-
Queiroz), um livro que queria muito oportunidade. Hoje sou muito feliz e co de minha vivência e das coisas
ler. Então, ela fez a assinatura para muito grata, sabe, porque encontrei que descobri através da leitura. Fi-
mim. Quando os livros chegavam, na minha jornada pessoas como a quei muito feliz em poder doar os
era uma alegria imensa. Lúcia, como o Beto, meu ex-patrão, meus livros e sei que estão em boas
minha ex-patroa, que também me mãos.
Eu acho muito importante os jovens ajudaram bastante, eles me davam Jaqueline e o filho. | Foto: Arquivo Pessoal.
lerem hoje em dia porque a litera- livros de Chico Buarque para ler, da-
tura salva. A literatura me salvou, vam CD´s para escutar e eu apro-
para mim foi um divisor de águas, veitei isso, me agarrei nisso, porque
porque na minha cidade e até aí a cultura que eu encontrei nos livros,
mesmo na periferia de Salvador e nas músicas, na cultura baiana, na
da Bahia a gente vê que as pessoas cultura negra, me libertou do sofri-
que não têm muita informação, não mento, de tudo que passei lá atrás.
tem acesso à literatura. São pessoas E hoje sou muito, muito grata por
que não têm muita perspectiva de tudo isso.
vida e, para mim, a literatura me
salvou e me tornou o ser humano No dia que você mostrar esses áu-
que sou hoje. Sou uma pessoa mais dios (a conversa por WhatsApp,
compreensiva, uma pessoa que aqui transcrita) para alguém que
gosta de conhecer o outro, de ouvir frequenta a Fundação, não esque-
o outro. A literatura me ensinou isso. ce de dizer para essas crianças es-

Boletim Informativo | Edição 01/2020 13 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


AUDIOVISUAL
AÇÕES
SAÚDE
SAÚDE

Funcionários da Odebrecht na Praça Mestre Bimba do Espaço Cultural Pierre Verger. | Foto: Tacun Lecy.

NATAL DE AMOR NO ESPAÇO CULTURAL PIERRE VERGER


No final de 2019, o Espaço Cul- histórico de parcerias em projetos bem impressionados também com
tural Pierre Verger foi a casa esco- socioculturais com a Odebrecht, o trabalho feito pela Fundação, com
lhida para sediar a ação “Natal de além do trabalho social com a co- a estrutura muito bem organizada
Amor – Sua doação faz o Natal e a munidade local que potencializa o e com os profissionais engajados
vida de alguém mais feliz”. A ação, esporte e a cultura como meios de e apaixonados pelo que fazem. Fi-
promovida pela Odebrecht Reali- inclusão das crianças e jovens como camos muito felizes e emocionados
zações, a título de voluntariado dos protagonistas na sociedade. em realizar essa ação e voltamos
integrantes, teve por objetivo a ar- renovados com a energia das crian-
recadação de brinquedos e roupas “Foi uma oportunidade incrível de ças!” – Relatou Ana Valéria.
para a comunidade do Engenho Ve- doarmos um pouco do nosso tempo
lho de Brotas. aos meninos e aprendermos mui- Participaram da ação: Ana Valéria
to com eles. Mas, o que mais nos Nascimento, Nivalda Oliveira, Da-
Segundo Ana Valéria, uma das res- marcou foi a recepção calorosa de niel Sampaio, Mateus Melo, Marcos
ponsáveis pela ação, a escolha pela todos eles. Foram muito educados, Teixeira, Bruno Fernandes e Bernar-
Fundação Pierre Verger se deu pelo carinhosos e receptivos! Ficamos do Bastos.

O GRUPO DE EXPRESSÃO CORPORAL EM PELÍCULA DE IRINA LINKE


Em janeiro, a Fundação Pierre Ver- sua estadia na Bahia. Ainda falta um tempo para esse ma-
ger recebeu, entre os inúmeros visi- terial ser editado e finalizado, mas o
tantes do Brasil e do exterior, a visita Em comum acordo, foram escolhi- resultado já está sendo aguardado
de Irina Linke, uma documentarista, das as turmas da oficina de Expres- com bastante expectativa por todas
antropóloga e cineasta alemã, que são Cultural, dirigida a mulheres as alunas e pelo professor.
já realizou diversos documentários acima de 50 anos e idealizada pelo
sobre países e contextos culturais di- dançarino e professor Negrizu, res- Após o retorno à Alemanha, Irina
ferentes, em especial sobre mulhe- ponsável pela atividade. mandou a seguinte mensagem para
res. as turmas: “Vocês me inspiraram
Durante o tempo restante de sua es- com a sua alegria ao dançar, sua
Ao conhecer as instalações da Fun- tadia, Irina propôs a ideia às mulhe- paixão e seu jeito franco. Vocês vão
dação, a trajetória e a obra de Pier- res, participou de algumas aulas e me acompanhar durante o proces-
re Verger e a proposta de trabalho depois documentou as atividades e so da edição do material filmado e,
do Espaço Cultural, ela ofereceu fez as entrevistas. Elas falaram so- assim, eu continuarei aprendendo
espontaneamente realizar uma do- bre suas motivações para participar com vocês. Parabéns pelo trabalho
cumentação sobre algum tema de dessa oficina, o que ela significa e pelo empenho.”
interesse da instituição e que fosse para elas e qual a visão de suas fa-
possível ser realizado no curto pe- mílias em relação a essa atividade. Clique aqui e conheça o trabalho de
ríodo de menos de três semanas de Irina Linke.
Boletim Informativo | Edição 01/2020 14 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020
INTERCÂMBIO
SAÚDE

Imagens da festa de comemoração de aniversário do Brazil Cultural. | Fotos: Javier Escudero.

PROJETO BRAZIL CULTURAL COMEMORA 15 ANOS NO ESPAÇO CULTURAL


No sábado, dia 15 de fevereiro, o bém é fotógrafo, uma performance la Lühning, Nancy de Souza (Vovó
Espaço Cultural Pierre Verger rece- da Mestre Griô Vovó Cici e da jovem Cici), Marlene da Costa, Deborah
beu o projeto Brazil Cultural para a dançarina Debora Leeb, além de e Kayanara Leeb, do Espaço Cultu-
comemoração dos seus 15 anos de uma vivência coletiva, comandada ral Pierre Verger. Também estiveram
existência. O projeto, criado por Ja- por Luan Badaró, percussionista e presentes alguns dos jovens baianos
vier Escudero e sua esposa Patrícia educador da Oficina de Percussão beneficiados pelas ações formativas
Burgos, realiza atividades de inter- do Espaço. realizadas por Javier para atuarem
câmbio de jovens estudantes e uni- nas atividades de intercâmbio (aulas
versitários americanos com famílias Estiveram presentes cerca de 60 pes- de inglês, comunicação e produção)
e instituições baianas, proporcio- soas, contando com representantes e o grupo de mães baianas que re-
nando aos participantes a oportu- de várias instituições parceiras que cebe os jovens durante as visitas.
nidade de conhecer a cultura afro- chegaram a se conhecer pela pri-
-brasileira a partir de experiências meira vez nesse momento especial, Os depoimentos empolgados de
com pessoas, iniciativas culturais e como: Mollie Cerqueira, da Ameri- vários dos representantes das insti-
contextos que expressam a socieda- can Society International; Dr. Nel- tuições presentes reforçaram a im-
de baiana atual, com suas belezas, son Cerqueira, da Academia Bahia- portância das atuações em parce-
mas, também, com as suas contra- na das Letras; Rita Cliff, do projeto rias realizadas ao longo dos anos
dições e problemas sociais e raciais. Bahia Street; Jucy Silva, do Instituto e as contribuições que isso trouxe
Cultural Steve Biko; Renato Santos, para as instituições envolvidas, mas
Esse dia de comemoração foi fes- do Projeto Social Pré-Vestibular Qui- também para diversas pessoas, em
tejado com um almoço, preparado lombo Ilha (Itaparica); Anatelson especial jovens afrodescendentes,
por Marlene da Costa, responsável das Neves e Barbara, da Associação que se beneficiaram através das for-
pela Oficina de Culinária Criativa de Arte e Cultura Quilombo do Tere- mações e que conseguiram construir
do Espaço Cultural, um sorteio de ré (Itaparica); Angélica Moureira, do seus caminhos de vida.
fotos de Javier Escudeiro, que tam- Ajeum da Diáspora; além de Ange-

Boletim Informativo | Edição 01/2020 15 Salvador, Bahia | Fevereiro, 2020


A FUNDAÇÃO PIERRE VERGER
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A Fundação Pierre Verger se mantém através do recebimento dos direitos autorais e da venda de obras e produtos estampados com foto-
grafias de Pierre Verger. Toda renda obtida é revertida para a preservação de seu acervo e manutenção do Espaço Cultural. Interessados
em contribuir com a Fundação podem entrar em contato através do endereço fpv@pierreverger.org.

Fundação Pierre Verger


2ª Travessa da Ladeira da Vila América, 6, Engenho Velho de Brotas.
Salvador, Bahia, Brasil. CEP: 40.243-340.
Tel.: +55 71 3203.8400 | www.pierreverger.org | @fundacaopierreverger

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