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organização
Lux Boelitz Vidal
José Carlos Levinho
Luís Donisete Benzi Grupioni
A PRESENÇA DO INVISÍVEL
Vida Cotidiana e Ritual entre os Povos Indígenas do Oiapoque
Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff
Ficha catalográfica
3
P928
A presença do invisível: vida cotidiana e ritual entre os
povos indígenas do Oiapoque / Lux Boelitz Vidal;
José Carlos Levinho; Luís Donisete Benzi Grupioni
(organização) – Rio de Janeiro : Iepé - Museu do Índio, 2016.
384 p. : il. color. ; 23 x 28 cm
ISBN 978-85-85986-67-4
1. Exposição. 2. Povos Indígenas do Oiapoque. I. Vidal, Lux
Boelitz. II. Levinho, José Carlos. III. Grupioni, Luís Donisete
Benzi. IV. Museu do Índio (Rio de Janeiro, RJ).
organização
Lux Boelitz Vidal
José Carlos Levinho
Luís Donisete Benzi Grupioni
07 Carta do Presidente
09 Apresentação
O contexto da exposição A presença do Invisível
O País sob as Águas: os povos indígenas do Oiapoque
67 Os Karipuna do Amapá
Antonella Tassinari
368 Referências
375 Os autores
Esse livro que o leitor tem em mãos trata de quatro desses povos, que vivem em terras
indígenas demarcadas próximas a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, no norte
do Amapá. São os Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali´na e Palikur: os índios do
baixo Oiapoque. Em 2007, o Museu do Índio lhes dedicou uma exposição, feita em
conjunto com seus representantes, que ocupou todo o prédio principal do Museu por
vários anos. Agora, temos o prazer de publicar o catálogo dessa importante mostra,
que revelou aspectos marcantes do patrimônio cultural, linguístico e histórico desses
povos, que a Fundação Nacional do Índio tem o dever de proteger e promover.
Por quase cinco anos, a exposição A Presença do Invisível ocupou o prédio principal
do Museu do Índio, apresentando uma visão ampla e articulada das manifestações
cotidianas e rituais dos povos Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali´na e Palikur,
que habitam o extremo norte do Amapá, na bacia do rio Uaçá e do baixo curso do
rio Oiapoque. Nesta exposição, a noção do invisível foi tomada como eixo condutor e
elemento de ligação dos diversos ambientes que a compuseram, apresentando objetos
contemporâneos, especialmente confeccionados para serem apresentados, ao lado de
objetos do acervo do Museu do Índio, de fotos, desenhos, textos, mitos, vídeos, músicas.
Recriando ambientes naturais e culturais, na forma de cenários que permitissem ao
visitante entrar em contato com uma típica casa ou pátio de uma aldeia no Oiapoque,
e criando ambientes que remetessem a contextos míticos, cosmológicos, artísticos e
estéticos específicos, investiu-se numa cenografia acolhedora e multimídia.
Prevendo que esse catálogo seja distribuído amplamente nas aldeias do Oiapoque, estamos
certos que ele será mais uma contribuição para o processo de valorização e fortalecimento
das iniciativas indígenas de gestão e salvaguarda de seus patrimônios culturais.
Com o intuito de ampliar a capacidade de difusão no prédio principal do Museu do Índio, deu-se a pre-
de informações qualificadas sobre os povos indíge- paração de toda a infraestrutura necessária ao rece-
nas no Brasil por parte do Museu do Índio – Funai, bimento do sistema de segurança a ser implantado
bem como dotar esta instituição cultural de con- na instituição, além da implantação de uma nova
dições modernas de segurança foi elaborado, em proposta de sinalização visual, envolvendo mais de
2006, o projeto Museu do Índio de Cara Nova: instala- 120 profissionais que trabalharam de modo integra-
ção de uma exposição de longa duração e implantação do e articulado.
de um sistema de proteção patrimonial, uma parceria
O resultado desse projeto, executado em parceria, foi
entre esta instituição, órgão científico cultural da
além do cumprimento dos objetivos e metas traça-
Fundação Nacional do Índio, e o Iepé - Instituto de
dos no plano de trabalho apresentado ao Ministério
Pesquisa e Formação Indígena, uma organização
da Cultura, quando do cadastramento do proje-
não-governamental com atuação prioritária junto
to nos procedimentos da Lei de Incentivo à Cultura
aos povos indígenas no Amapá e norte do Pará.
e seu financiamento por parte do Banco Nacional
Para a reformulação de sua exposição de longa du- de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES1.
ração, decidiu-se apresentar o complexo cultural Estamos satisfeitos em poder afirmar que além da
formado por quatro povos indígenas que habitam exposição de longa duração planejada ter sido execu-
a fronteira norte do Brasil com a Guiana Francesa. tada e o sistema de proteção patrimonial ter sido ins-
Com o título A presença do invisível: vida cotidiana e ri- talado, o projeto alcançou outros desdobramentos,
tual entre os povos indígenas do Oiapoque, concebeu- repercutindo tanto nos trabalhos futuros do Museu
LUÍS DONISETE BENZI GRUPIONI
-se um projeto curatorial que ocupou todas as de- do Índio, quanto na dinâmica de valorização cultural
pendências do prédio principal do Museu do Índio. em curso na região do Oiapoque, Amapá.
Dividida em 12 ambientes temáticos, a exposição
foi inaugurada no dia 28 de junho de 2007, quando
se realizou um evento de abertura que contou com Exposição de longa duração
a presença de representantes dos povos indígenas
A primeira experiência do Museu do Índio com uma
Apresentação do Turé na inauguração da exposição.
7 5
A equipe responsável pela condução desse proje- assumindo inúmeras tarefas que tiveram início
to foi constituída originalmente por profissionais com a encomenda e recolha de peças em Oiapoque
pertencentes as duas instituições diretamente en- e prosseguiu durante todo o tempo de preparação
volvidas com o projeto: o Iepé e o Museu do Índio. da exposição, finalizando com o acompanhamento
E por meio do projeto, foram contratados, dire- aos índios que vieram participar da inauguração da
ta e indiretamente, vários outros profissionais, exposição no Rio de Janeiro.
para a execução de ações específicas para viabilizar
a montagem da exposição e a instalação do siste- Um conjunto de profissionais, altamente espe-
ma de proteção patrimonial do Museu do Índio. cializados, com vários trabalhos reconhecidos
Estimamos que cerca de 120 profissionais estive- realizados principalmente na cidade do Rio de
ram diretamente vinculados as ações desenvolvidas Janeiro, foi contratado para integrar o projeto.
no âmbito do projeto. A eles foi transferida a responsabilidade por cui-
dar de todo o projeto cenográfico, dos projetos
A composição da equipe principal responsável pela gráficos e editoriais, da exposição e dos produtos
execução do projeto foi constituída por profissio- de difusão, sob supervisão direta da coordena-
nais com experiência na organização e montagem ção geral do projeto e da curadoria da exposição.
de exposições. A coordenação geral do projeto fi- A cenógrafa e produtora cultural, Simone Mello,
cou a cargo dos antropólogos José Carlos Levinho coordenou essa equipe composta pelos profissio-
e Luís Donisete Benzi Grupioni, dirigentes das nais Helena Barros (design gráfico), Dina Salem
instituições parceiras, Museu do Índio e Iepé. Levy (assistente de cenografia), Rogério Witgen
Coube a eles cuidar das relações institucionais (iluminador), Marcellus Schnell (designer grá-
entre as instituições e destas com o MinC e com fico), Renata Alves de Souza (designer gráfico),
o BNDES, patrocinador exclusivo da exposição. Maurício Bevilacqua (produção de efeitos espe-
A administração financeira do projeto, em seus ciais), Cristiano Pellegrini (designer gráfico) e
aspectos financeiros, administrativos e contábeis, Sérgio Zacchi (fotógrafo).
ficou a cargo de duas administradoras pertencen-
tes aos quadros das duas instituições parceiras, que A coordenação dos serviços educativo, museológi-
trabalharam de forma articulada. Em cada insti- co e de comunicação da exposição ficou a cargo de
tuição uma equipe administrativa de apoio asses- profissionais do próprio Museu do Índio, que che-
sorou a gestão financeira do projeto, coordenada fiam as respectivas áreas no Museu. Arilza Nazareth
por Rosilene Andrade Falconere e Helena Lúcia de Almeida (historiadora) chefiou os trabalhos do
de Oliveira Sábato. serviço educativo e para executar as ações relacio-
nadas ao projeto educativo paralelo à exposição fo-
A curadoria geral da exposição esteve a cargo da ram contratados profissionais temporários sob sua
Profa. Dra. Lux Boelitz Vidal, professora aposen- coordenação (Ana Rondon e Wagner Ferreira).
tada da Universidade de São Paulo e assessora an- As museólogas Maria José Novelino Sardella e Ione
tropológica do Iepé e do Museu Kuahí. Coube a Couto coordenaram os trabalhos relacionados aos
ela a definição de todo o desenho conceitual da ex- cuidados com as peças, sua documentação, incor-
posição, bem como a redação de texos, argumen- poração ao acervo do Museu do Índio e monta-
tos, legendas e outros materiais para a exposição e gem na exposição. Os trabalhos de comunicação,
para sua divulgação. Uma equipe de graduados em voltados à difusão da exposição na mídia impressa
Ciências Sociais, constituída por Marina Zacchi, e televisiva, e assessoria de imprensa, foram desen-
Francisco Simões Paes e Ana Paula Nóbrega tra- volvidos por Cristina Botelho Brandão, Rosangela
balhou ativamente como assistentes de curadoria, Abrahão e Marta Gontijo.
Desdobramentos da Exposição
A exposição A presença do Invisível foi pensada, des- livro que resultou de uma série de oficinas cultu-
de seu início, como um instrumento para valorizar rais conduzidas ao longo de 2007 e 2008 e Artefatos
o processo de retomada e fortalecimento cultural e Matérias-primas dos Povos Indígenas do Oiapoque,
entre os povos indígenas do Oiapoque. Várias ati- editado em 2013, reunindo textos e desenhos pro-
vidades estavam em curso nessa região e foram duzidos a partir de pesquisa realizada pela equipe
potencializadas pelas ações realizadas em torno da do Museu Kuahí entre 2008 e 2010. Essas publica-
exposição do Museu do Índio. A aquisição de peças, ções são o resultado mais visível de um programa
produzidas por especialistas indígenas, para inte- de formação em museologia, conduzido pelo Iepé,
grar o acervo da mostra e posteriormente ser incor- para os funcionários indígenas do Museu Kuahí,
porada ao acervo etnográfico do Museu do Índio, que realizaram pesquisa nas aldeias indígenas do
fortaleceu a autoestima desses artesãos, mostrou Oiapoque sobre diferentes aspectos do patrimônio
o interesse externo e ativou a curiosidade interna cultural de seus povos. Esse programa de formação
sobre produtos culturais próprios às comunidades vem contando com apoio do Museu do Índio e do
indígenas da região. A publicação do catálogo e Iphan/MinC.
de outros materiais contribuiu para a produção de
Os desdobramentos deste projeto, porém, não se limi
uma importante documentação da cultura material
taram aos povos indígenas do Oiapoque, mas tive
desses povos indígenas. A realização da exposição
ram grande impacto para o Museu do Índio, que
no Rio de Janeiro também teve um efeito positi-
reorientou seu programa de trabalho para estar
vo no processo de efetivação do Museu Kuahí dos
mais próximo aos povos indígenas, na organização
Povos Indígenas do Oiapoque.
de inúmeras mostras temporárias sobre diferentes
Porém, talvez o desdobramento mais significativo aspectos do patrimônio cultural indígena, na cons-
da realização desse projeto tenha sido a consolida- tituição e qualificação de novas coleções etnográ-
ção de um vínculo de cooperação entre o Museu ficas e, principalmente, na execução de um amplo
do Índio e o Museu Kuahi, no Oiapoque, que tem Programa de Registro e Salvaguarda do Patrimônio
resultado em novas ações de parceria. Em 2009, o Cultural Indígena, que se efetivou, nos últimos
Museu do Índio assumiu a itinerância de uma expo- anos, por meio de um Programa de Documentação
sição sobre a organização social wajãpi, instalando Cultural e Linguística que, com apoio da Unesco e
no Museu Kuahí a primeira exposição temporária da Fundação Banco do Brasil, já envolveu 35 po-
naquele museu, e assumindo um compromisso de vos indígenas, de 14 Estados, com a realização de
apoiar ações de difusão naquela região. Desde en- mais de 330 oficinas com pesquisadores indígenas.
tão outras ações de parceria foram implementadas. Esse esforço de documentação cultural contabiliza
Deu-se apoio à produção e realização das exposi- como resultado 42 novas publicações, 14 dossiês
ções temporárias no Museu Kuahí, entre as quais linguísticos, 25 exposições temporárias, 32 filmes
a exposição transfronteiriça “Memória e Identidade produzidos e num acervo de mais de 70 mil foto-
dos Kali’na Tïlewuyu” (em 2010), sobre os Kali´na grafias digitais, 425 horas de gravação sonora e
que foram levados no século XIX para a França 1600 horas de filmagem em vídeo.
para participarem de exposições universais, e a ex-
O Museu do Índio está, de fato, de cara nova.
posição itinerante Tecendo a Arte, Tecendo a Vida:
Mulheres Tiriyó e Kaxuyana, em 2011, sobre a arte de
tecelagem com sementes e miçangas das artesãs do
Tumucumaque.
Entre os anos 1970 e 1990, desenvolvi minhas pesqui- início houve certa dificuldade em explicar à equi-
sas entre os índios Kayapó-Xikrin do Brasil Central. pe do Museu, como um povo pouco diferenciado,
Em trabalhos, publicações e exposições ressaltei, en- à primeira vista, dos regionais e fugindo das carac-
tre outros temas, as manifestações estéticas, espe- terísticas do estereótipo do índio, possuía a dimen-
cialmente gráficas, como a pintura corporal, no que são do mundo invisível perpassando todas as esfe-
diz respeito à noção de pessoa e suas relações com a ras de sua vida, inclusive o seu cotidiano.
organização social.
Os índios foram parceiros em todas as etapas deste
A partir de 1990, ao iniciar com os meus orien- projeto, desde os trabalhos de fortalecimento cul-
tandos uma pesquisa entre os Povos Indígenas do tural nas aldeias até a escolha das peças a serem
Baixo Oiapoque, me deparei com uma realidade produzidas para a exposição, o transporte das mes-
ameríndia bastante diferente da dos povos Jê do mas das aldeias ao Oiapoque e a embalagem das
Brasil Central, o que me incentivou a realizar uma peças no Museu Kuahí.
exposição cujo ponto de partida seria a dimensão
cosmológica, o xamanismo, o sistema de curas, No dia 19 de abril de 2007, o Museu do Índio inau-
o ritual e, a partir deste conhecimento, organizar a gurou a exposição “A Presença do Invisível – Vida
apresentação dos artefatos e das manifestações ar- Cotidiana e Ritual entre os Povos Indígenas do
tísticas. Os Kayapó-Xikrin estabeleciam uma distin- Oiapoque”, em que apresenta ao público uma vi-
ção entre este mundo, especialmente representado são ampla e articulada do universo indígena, to-
pelas suas aldeias circulares e o mundo dos sobre- mando como eixo condutor e elemento de ligação
naturais, relegados à esfera mítica e apenas rea- de toda a exposição a noção de Invisível.
tivados em situações rituais ou de conflito. Entre No contexto sociopolítico indígena, o Invisível per-
os povos das Guianas, a relação entre humanos e meia todas as esferas da vida cotidiana e ritual, seja
invisíveis é mais elaborada e as práticas xamânicas no turé ou nas cerimônias cristãs, seja nos artefatos
mais presentes. materiais, na evocação dos astros ou das entidades
Para a exposição “A Presença do Invisível”, mon- do fundo da água e da mata.
tada no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, ela-
O conceito dessa exposição foi resultante das déca-
boramos uma proposta conceitual, com base nas
das anteriores de pesquisas antropológicas na re-
pesquisas realizadas entre os povos indígenas do
gião junto aos índios, possibilitando um melhor en-
Baixo Oiapoque, propondo também a sequência
tendimento dos aspectos essenciais que permeiam
dos diferentes módulos da exposição. Tínhamos
o modo de viver das populações. Os materiais ex-
uma ideia muito clara do que queríamos transmitir.
postos – objetos, textos, fotografias, mapas, de-
Incentivados pelo diretor do Museu, José Carlos senhos e vídeos explicativos sobre os processos de
Levinho, tivemos várias reuniões preparatórias fabricação dos artefatos – foram fruto do amadu-
muito produtivas com a equipe de cenógrafos e recimento de ideias e práticas, elaboradas ao lon-
museólogos responsáveis pela montagem da expo- go de todo um processo, pontilhado por inúmeros
sição, um diálogo contínuo entre uns e outros. No projetos de valorização e fortalecimento cultural
Lux Vidal
os troféus de futebol, a bandeira do Divino Espírito
Santo e o altar familiar com seus santos, velas e fi-
tas coloridas.
Essa ideia mestra foi traduzida em uma solução que O conjunto de peças dessa exposição é uma bela
destacou a cada extremo do espaço museográfico coleção recentemente formada, adquirida junto
duas instalações, centro de atividades fundamen- aos diferentes povos indígenas da região. Bem docu
tais para os Povos Indígenas do Oiapoque. De um mentada, cada objeto possui uma ficha com o nome
lado, o espaço sagrado do lakuh, onde é realizado do artesão/artista, aldeia de procedência e preço
o turé, e de outro, o espaço da casa, onde se rea- da peça. Foi embalada cuidadosamente no Museu
lizam, além das atividades domésticas, as práticas Kuahí, em Oiapoque, pelos índios funcionários de
de cura tradicionais. Permeando esse eixo central, lá, sob a orientação de Francisco Paes, que se in-
foram distribuídos espaços menores apresentando cumbiu de trazê-la até o Rio de Janeiro em um
os objetos, uma vez que, no mundo encantado, no avião da FAB - Força Aérea brasileira.
contexto do turé, os objetos são também Karuãna,
seres sobrenaturais, chamados pelo canto a par- É uma coleção contemporânea, mas que evidencia
ticipar da festa. Esses espaços foram museografi- técnicas e estilos próprios desses povos indígenas.
camente articulados entre si, com o objetivo de Com o intuito de refletir sobre variações e continui-
enfatizar repetidamente a unidade conceitual da dades, foram utilizadas para a montagem da expo-
exposição: a importância das entidades invisíveis sição peças mais antigas, bem conservadas, do acer-
em todos os planos da vida dos povos indígenas vo do Museu do Índio, recolhidas nos anos 1940-50
do Oiapoque. pelo inspetor Eurico Fernandes, do SPI. Assim, essa
Lux Vidal
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O espaço reservado à cosmologia palikur expõe esculturas e o vasto conjunto de grafismos aplica-
as esculturas do artista Sr. Uwet, representando as dos nesses artefatos.
constelações Kayeb, cobra de três cabeças e barco
E finalmente, fechando a proposta, uma instalação
do xamã, ambientadas de maneira a mostrar a liga-
apresentou uma casa típica da área indígena, espe-
ção entre o céu e o mundo das águas e, essencial-
cialmente com seu tablado de madeira, seus objetos
mente, dar ênfase ao ciclo das chuvas, relaciona-
do cotidiano – redes, cestos, sacos de farinha, rala-
do ao mundo habitado pelos humanos, animais e
dores; os objetos sagrados do turé, que o pajé costu-
plantas e ao mundo invisível, mostrando de modo
ma guardar em um canto de sua casa - os mastros e
dinâmico a atuação dessas entidades no cosmos.
os bancos grandes sob o teto, o seu pequeno banco
Em seguida o visitante se depara com a sala dos e cesto na tukai; a prateleira dos troféus esportivos e
chapéus. Os chapéus, plimaj, foram apresentados o altar católico, onde estão presentes as imagens de
em suportes perfilados, ao lado de coroas radiais Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira dos Povos
de plumagens, as kuhon, dos butxe, cordões de al- Latino-Americanos, Santa Isabel, São Sebastião e
godão, miçangas e asas de besouro, além dos ma- São Benedito, padroeiros das aldeias; a pombinha
racás pequenos: um conjunto remetendo aos para- do Espírito Santo e as fitas coloridas dedicadas pelos
mentos usados no ritual do turé. As longas penas no devotos. A maneira como a casa é vivenciada tam-
alto dos chapéus são chamadas de penas-espíritos. bém demonstra como o catolicismo e o turé não se
Durante o turé, os Karuãna vem pousar nelas para opõem, tampouco se trata de sincretismo, o que há
participar da festa. Esteticamente, a fila de chapéus é uma mesma atitude tendo em vista a cura.
mostra, através de sua decoração, os motivos geo-
Uma pequena sala foi reservada para a apresenta-
métricos mais presentes nos exemplares antigos e
ção de vídeos que abordam os diferentes problemas
as representações figurativas mais recentes.
existentes nas terras indígenas do Baixo Oiapoque,
Na sequência são apresentados os maracás, instru- especialmente os relativos aos projetos de infraes-
mentos usados para convocar os karuãna durante o trutura, além dos projetos desenvolvidos na região
turé; todo pajé usa o seu nas sessões de cura, para pelos próprios índios e seus parceiros para a valori-
chamar os espíritos auxiliares. O maracá acompanha zação da cultura, a preservação do meio ambiente
também, enquanto instrumento musical, todos os e o desenvolvimento sustentável, conjunto de me-
cantos e o ritmo das danças. Os maracás de cabo lon- didas e propostas sintetizadas em uma publicação:
go são de uso exclusivo das mulheres durante o ritual. O Plano de Vida dos Povos Indígenas do Oiapoque.
Entre os povos indígenas do Oiapoque, os Palikur Do ponto de vista da educação museográfica e patri-
são os únicos que fabricam cerâmica. Uma pequena monial, a exposição propiciou aos índios o intercâmbio
sala foi destinada para abrigar a variedade de arte- de experiências, integrando-se ao programa de capa-
fatos, como os potes menores, os vasos comunican- citação continuada, fundamental para o desenvolvi-
tes, apitos, objetos arqueológicos e, especialmente, mento do museu Kuahí enquanto instituição com ges-
o grande pote de caxiri. Acompanha um vídeo que tão própria dos povos indígenas do Oiapoque.
mostra as diferentes etapas da extração do barro e
confecção dos vasilhames.
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Concepção e desafios de uma exposição de longa duração
Ione Couto
Em 1954, por ocasião da XV Conferência Geral de para seleção do tema expositivo e seu desenvolvi-
Museus do Conselho Internacional de Museus, rea- mento expográfico. Desde então, devido aos re-
lizada em Haya, na Holanda, Georges-Henri Rivière sultados positivos que tem alcançado, o Museu do
afirmou que o museu é um meio de comunicação Índio mantém os projetos curatoriais como parte de
e que, independentemente do tipo de exposição, sua política institucional. A exposição “A Presença
a museografia deve proporcionar um aporte de do Invisível”, assinada pela antropóloga Lux Vidal,
prazer e conhecimento. As palavras de Rivière esta- é mais um resultado dessa nova orientação ado-
vam calcadas nas discussões que vinham ocorrendo tada pelo Museu do Índio, que permitiu oferecer
dentro do campo museológico sobre o papel dos ao visitante um panorama da vida ritual, pública e
museus como agentes ativos de transformação. privada dos povos Galibi Kali´na, Karipuna, Palikur
Entre as mudanças ocorridas nas instituições mu- e Galibi Marworno, habitantes do Amapá, na fron-
seológicas nas décadas seguintes as reflexões de teira com a Guiana Francesa.
Rivière, a mais expressiva foi a museografia das ex-
Para tanto, doze núcleos expositivos foram monta-
posições, que passaram a incorporar novas tecnolo-
dos para auxiliar o visitante a conhecer a paisagem,
gias tornando-as comunicativas e multissensoriais.
os hábitos e as formas de expressão dos povos in-
Dentro desta nova realidade, as exposições assumi- dígenas do Oiapoque utilizando objetos, desenhos
ram um papel preponderante nos museus já que, e grafismos produzidos pelos próprios índios. Este
além de refletirem parte do acervo institucional e conjunto documental - objetos e imagens - são
informarem sobre o sujeito museológico, viabiliza- produtos de oficinas voltadas para a valorização
ram o diálogo entre grupos sociais, democratizaram cultural, organizadas pelo Instituto de Pesquisa
o conhecimento e, devido aos recursos tecnológicos e Formação Indígena – Iepé em parceria com a
empregados, se tornaram ambientes de fruição e Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque -
entretenimento, características que fazem com que APIO, iniciativa que faz com que os índios do
muitos que visitam museus acreditem que suas ex- Oiapoque também tenham sido protagonistas na
posições representem a totalidade da instituição. realização deste projeto expográfico.
tado de um processo de mudança institucional, ini- também pudessem ser percebidas. Nesta condição,
ciado em 1998, quando o Museu do Índio passou a a realização da exposição “A Presença do Invisível”
adotar, para definição do tema e da organização de cumpre um duplo propósito: serve como uma apre-
suas exposições, uma abordagem curatorial, com a sentação aos temas tratados ao longo da exposição,
inclusão de um especialista na temática indígena sensibilizando o visitante para diferentes modos de
em uma tradição milenar e representam a filosofia ços tanto por parte dos índios, que hoje estão mais
de um povo, os seus valores, gostos, estilo, práticas bem informados, como por parte de antropólogos,
sociais e religiosas. Elas estão, na maioria das vezes, artistas, curadores de museus ou bienais, em valo-
intimamente relacionadas à cosmologia e às prá- rizar as artes indígenas a partir de novas atitudes
ticas xamânicas específicas a cada povo. Possuem, teóricas, estéticas e participativas.
ainda, uma relação forte com o meio ambiente, que
oferece uma grande variedade de matérias-primas Atualmente, temos observado a proliferação de
museus indígenas e regionais em todo o mundo,
Exposição Transfonteiriça “Eles partiram para o país dos brancos” Museu Kuahí, 2010. Cenografia: Anne Courtois-Vidal
O Museu Kuahí na cidade de Oiapoque – evento de comemoração da copa América. ACERVO MUSEU KUAHÍ
Na ocasião foi montada ainda uma exposição, sob Posteriormente, em um segundo momento foi
forma de banners, baseada em oficina e publica- montada a exposição no museu. Os índios optaram
ção, realizados também em parceria com o Iepé e por muitos painéis com imagens e poucos painéis
relativas ao complexo ritual do Turé, tão presente escritos, cientes do domínio que possuem sobre o
na região, ressaltando os aspectos cosmológicos tema, preferem ter a exposição como um roteiro
desta manifestação, a fabricação dos objetos pre- em que eles, como protagonistas, podem exercer
sentes no ritual e sua ornamentação, assim como a mais a oralidade como meio de comunicação com
própria performance, dança e música. o público. As imagens mostram os processos de
produção e comercialização da farinha e, por outro
Em maio de 2011 o Museu Kuahí recebeu a exposi-
lado, os textos cuidadosamente escolhidos pelos ín-
ção etnográfica “Tecendo a Arte, Tecendo a Vida:
dios, relatam mitos e práticas simbólicas relativas
mulheres Tiriyó e Kaxuyana”, organizada pelo Iepé
ao cultivo e processamento da mandioca.
e Museu do Índio – FUNAI e montada pela equipe
do Kuahí. A exposição retrata a arte da tecelagem Em abril de 2012 foi aberta ao público a exposição
com algodão, sementes e miçangas das mulheres “A Arte e o Saber dos Mestres”. Trata-se de uma
Tiriyó e Kaxuyana, que vivem na faixa oeste da exposição inteiramente de curadoria dos índios.
Terra Indígena Parque do Tumucumaque, no Pará. Desde a escolha do tema, concepção intelectual e
cenografia, ela foi pensada e realizada pelo grupo
Com recursos captados pelo Iepé junto ao IPHAN
de índios museólogos do museu Kuahí.
foi realizado durante os anos 2010, 2011e 2012 um
grande projeto de pesquisa indígena sobre a pro- O tema da exposição é a memória do Projeto
dução e comercialização da farinha de mandioca. Demonstrativo dos Povos Indígenas – PDPI, em que,
A abordagem do tema se desenvolveu através de ofi- em oficinas nas aldeias, os mestres artesãos ensi-
cinas integrando pesquisadores indígenas do museu naram a jovens aprendizes interessados as artes
Kuahí e agricultores vindos das aldeias; conhecimen- tradicionais.
tos significativos foram registrados em textos, dese-
Esse processo resultou em uma coleção a parte,
nhos e fotografias e, posteriormente, organizados
chamada Coleção PDPI, que agora está exposta na
na publicação “A Roça e o Kahbe – Produção e co-
sala principal de exposições do museu. Os artefa-
mercialização da farinha de mandioca” (Iepé:2011),
tos expostos falam dessa experiência de resgate e
direcionada aos professores das escolas indígenas.
valorização cultural desenvolvida nas aldeias entre
Na sequência, como meio de divulgação desses 2004 e 2007.
conhecimentos a um público mais amplo, iniciou-
Essa exposição mostra o trabalho e o empenho dos
-se todo um trabalho de planejamento e poste-
mestres e seus aprendizes em dar continuidade às
rior montagem da exposição “A Roça e o Kahbe”,
suas práticas artesanais e artísticas e em divulga-las
assim como do folder que a acompanha. A propos-
para um público mais amplo. Evidência também o
ta curatorial dessa nova exposição se fez no sentido
valor que a equipe do museu Kuahí atribui ao seu
de tornar ainda mais claras as etapas dessas ativi-
próprio acervo museográfico, recentemente cons-
dades contínuas e cotidianas, que se estendem da
tituído, afirmando que esta coleção representa o
roça até o comércio local ou regional.
legado de mestres reconhecidos nas terras indí-
O projeto cenográfico foi realizado em duas eta- genas como grandes artesãos. É a consciência da
pas. Uma primeira com uma oficina de cenografia, importância da valorização dos mais velhos como
ocasião em que os pesquisadores indígenas tive- portadores de uma tradição que pode se perder se
ram a oportunidade de receber instruções sobre a não for retomada periodicamente.
Marina Zacchi
A primeira proposta para um projeto de “resga- Prevendo o crescimento do interesse pelas expres
te cultural” nas aldeias indígenas foi apresenta- sões culturais indígenas que decorreriam das po-
da por um índio Karipuna a uma Secretaria do líticas de patrimônio imaterial instituídas pelo
Estado do Amapá. Com o mesmo nome, foi sub- Dec. 3551/2000 e promovida por seus instrumen-
metido pela Associação dos Povos Indígenas do tos, esse projeto propunha preparar os índios do
Oiapoque (APIO) ao Programa Demonstrativo para Oiapoque para assumirem as iniciativas de promo-
Populações Indígenas (PDPI), um subprograma do ção e difusão de seu patrimônio cultural e dar a
Programa Demonstrativo para a Amazônia (PDA) eles substrato para escolherem as orientações de
do Ministério do Meio Ambiente. Tendo por base propostas advindas de eventuais parceiros. O pro-
a sustentabilidade dos modos de vida de povos jeto foi realizado pelo Iepé e contemplou todos os
que vivem em florestas tropicais brasileiras a linha povos indígenas do Amapá e do norte do Pará.
Programas Demonstrativos estabeleceu algumas li-
Desenvolvido nas aldeias à margem da BR 156 no
nhas de apoio.
curso das negociações para a pavimentação, inte-
Na maneira como foi concebido, o projeto promo- grou um movimento em que os índios que ali vi-
via a transmissão nas aldeias de saberes que poucos viam sentiam sua memória ameaçada com a possi-
detinham, ou que alguém possuía de maneira espe- bilidade de remoção das aldeias. O projeto levou à
cial. Optou-se, todavia, por não utilizar o formato apropriação em outro nível dos conhecimentos que
de oficina. O projeto designava o detentor do saber detinham. Acabou provocando reflexões acerca da
como mestre, dando a ele um estatuto diferenciado, questão étnica1 e outras, como a da condição da
sugeria um número pequeno de aprendizes e forne- mulher indígena, a relação entre jovens e velhos,
cia o material necessário. Cabia ao “mestre” indicar trazidas por eles. Em cada uma das aldeias a forma-
quem seriam os aprendizes, de que maneira se da- ção de pesquisadores adquiriu um formato ditado
ria a transmissão, em que momento, em que ritmo. pela dinâmica local.
Ao longo do processo a coordenação antropológica
acompanhava e registrava as escolhas feitas. Havia
ainda outras linhas de trabalho, como formação em
gestão, documentação das tecnologias e videográ-
1 As aldeias a margem da BR-156 são das etnias Karipuna, Galibi
fica e elaboração de plano de manejo das matérias- Marworno e Palikur, que durante as atividades do projeto foram
-primas pelos Agentes Ambientais Indígenas. levados a dialogar entre si.
58
Montagem do lakuh para realização de
Turé no contexto da atividade de transmis-
são conduzida pelo pajé Galibi Marworno
59
indígena. O Sr. Mário continuou a fabricar as bolsas,
inclusive com a ajuda eventual do filho e incorporou
uma técnica aprendida para o preparo do talo do
arumã, que facilitava essa etapa do trabalho.
63
64
O País sob as Águas: os povos indígenas do Oiapoque
65
Os Karipuna do Amapá
Antonella Tassinari
O termo “Karipuna” é usado como autodenomina- As águas salgadas do oceano adentram o rio Curipi
ção por essa população e indica uma identidade de até as proximidades do Encruzo, de forma que os
“índios misturados” ou “civilizados”, que é tanto pescados variam muito na extensão do rio, sendo
atribuída como assumida pelas famílias Karipuna. encontradas espécies de água doce e salgada. A vege
Esta noção de “mistura” deve ser entendida de tação também varia ao longo do rio, de acordo
acordo com o padrão de organização social des- com a presença de várzeas ou terra firme. No baixo
crito abaixo, que valoriza as alianças estabelecidas curso há uma vegetação pantanosa, formada por
com indivíduos ou famílias estrangeiras, mas que mangues e florestas de várzea.
também busca estratégias para controlar esse con-
Mais acima, surgem as grandes extensões de cam-
tato e “não espalhar o sangue”.
pos alagados, entremeados por pequenas eleva-
ções cobertas por floresta de terra firme, os “tesos”,
onde são construídas as aldeias ou plantadas as
Levantamento do mastro em festa católica. Antonella Tassinari roças. Essa paisagem é conhecida por “savana” e
Aldeia Manga
69
Aldeia Japim Aldeia Tauahu
fotos ux Vidal
70
Na década de 1930, ocorreu um incremento de ex- e político” do destacamento militar de Clevelândia.
plorações econômicas no território ocupado pelos O projeto de escola, portanto, compartilhava da base
índios. Uma usina de extração de pau-rosa funcio- ideológica do Serviço de Proteção ao Índio, pautado
nou no Curipi de 1932 a 1935, até o esgotamento numa visão positivista de “civilização” e numa peda-
dessa madeira, tendo empregado vários Karipuna. gogia coercitiva, nacionalista e autoritária.
Explorações auríferas foram realizadas principal-
Resumidamente, pode-se dizer que em 1934 duas pro-
mente por crioulos nos rios Oiapoque e Uaçá.
fessoras foram contratadas pelo governo para leciona-
Do ponto de vista das políticas governamentais, ocor- rem na vila Espírito Santo no Curipi e em Santa Maria
rem nessa década três fatos importantes para as po- dos Gallibis no Uaçá (atual aldeia de Kumarumã).
pulações do Uaçá: a implantação de escolas primárias As escolas funcionaram nas casas dos chefes das aldeias
em 1934, a expedição de 1936 de Luís Thomas Reis, durante apenas três anos. Em 1945, através do SPI,
enviado para a área como inspetor de fronteiras para a escola foi novamente ativada nos rios Uaçá e Curipi,
verificar a possibilidade de utilizar a população indí- dessa vez na aldeia Santa Isabel, onde funcionava o
gena como “guardas de fronteiras”, e a nomeação de estabelecimento comercial do líder Coco.
Eurico Fernandes, que já tivera anteriormente conta-
Ainda que aparentemente precária e descontínua,
to com os povos do Uaçá, como inspetor dos índios.
a educação escolar teve fundamental importância para
Conforme se depreende dos relatórios de Inspeção de a formação da atual identidade desses grupos, para a
Fronteiras, a necessidade da escola, idealizada como propagação do uso do português e para a configura-
escola profissionalizante, estava vinculada à neces- ção das aldeias. Noções cívicas como o hasteamento
sidade da “formação de trabalhadores nacionais”, da bandeira, a comemoração do Sete de Setembro,
devidamente controlados por meio da construção de o hino nacional e a prática cotidiana do jogo de fute-
um posto indígena que contaria com o “apoio social bol foram alguns dos legados introduzidos pela escola.
73
Francisco Simões Paes
Aldeia Espírito Santo, Festa do Divino. Imagem do Divino,
festa na capela e “ almoço dos inocentes”. Lux Vidal
Marcio Sztutman
74
População e Organização Social
A população Karipuna, segundo dados da FUNAI de 2002, é formada
por cerca de 1700 pessoas residentes em aldeias localizadas no vale
do rio Curipi, ao longo da rodovia BR 156, no rio Oiapoque e no
igarapé Juminã. O quadro populacional abaixo revela a grande varie
dade na composição demográfica dessas aldeias: da pequena Ghõ Puen,
formada por uma única família nuclear, à grande vila Manga com
mais de 900 habitantes.
83
84
Palikur: história e organização
social de um povo entre dois países
Artionka Capiberibe
Os Palikur, povo indígena falante de uma língua vezes citados em relatos e mapas de viajantes, do-
maipure arawak, são uma das populações atuais cumentos administrativos e etnográficos por uma
que há mais tempo vivem na região ao norte da foz miríade de corruptelas do mesmo nome, como:
do Amazonas. Sabe-se disso, porque, já na primei- Paricuria, Paricura, Paricuras, Paricores, Palincur(s),
ra década do século XVI, documentos de viajantes Palicur, Palicours, Paricur, Pariucur, Parikurene,
europeus relatavam a presença de uma numerosa Parikuyen, Paricoros, Paricurarez, Parikur, Palicou-
sociedade indígena chamada Paricura, na foz de enne, Parincur-Iéne, Palikur, Pa’ikwene, Parikwene
um grande mar de águas doces. Essa história antiga etc. (T.Hartmann,1984; D.Gallois,1986; entre outros).
significa também que eles lidam há tempos com os
O vocábulo que deu origem a estas transforma-
não índios, numa relação que, até meados do sécu-
ções pode ter sido Parikwene, que, como explicam
lo XX, custou-lhes muitas vidas e a diminuição ra-
os Palikur, significa simplesmente “índio”, poden-
dical de sua população. Na documentação histórica
do ser aplicado a qualquer membro de uma etnia
e em suas narrativas orais, os Palikur são descritos
indígena. Hoje, cada lado da fronteira adota como
como bravos guerreiros e navegadores, qualidades
etnônimo um termo distinto. Assim, por conside-
que, por certo, os ajudaram a sobreviver e a experi-
rarem ‘Palikur’ uma palavra imposta pelos agentes
mentar o atual crescimento populacional.
do contato, os Palikur da Guiana francesa mais en-
Hoje, os Palikur habitam nos dois lados da fronteira volvidos no movimento indígena preferem autode-
entre o Brasil e a Guiana francesa e, a despeito das nominar-se pelo vocábulo Parikwene. Já no Brasil,
diferenças de contexto, mantêm uma organização o nome adotado é ‘Palikur’, que é visto como um
social bastante semelhante em ambas as situações modo mais específico de autodesignação, ao passo
de habitação. Este texto privilegiará a descrição da que Parikwene é usado em seu conteúdo semântico
vida palikur no lado brasileiro da fronteira, contu- ‘índio’ como um modo mais genérico de referência.
do, fornecerá algumas informações sobre a situa-
ção na Guiana francesa.
Língua
Artionka Capiberibe
te a noroeste do Mar doce, ou seja, do Amazonas.” micas que interligava colonos franceses, escravos de
(J.C. da Silva, 1981: §1637), seu companheiro de origem africana e os índios da região; a língua Kali’na
viagem, Manuel de Valdovinos estende ainda a de- da família linguística Karib, falada pelos Galibi do
nominação de Paricura para o rio Amazonas (1981: Oiapoque; e o patoá, uma variação do créole que, por
§1638). Após esta primeira menção, os índios atu- processos diferentes, foi adotada pelos Karipuna e
almente conhecidos como Palikur foram diversas Galibi Marworno como língua indígena diferenciada.
86
Demografia e localização
Como registrou o navegador Vicente Yáñez Pinzon, por um sogro, seus filhos (as) solteiros, suas filhas
os Palikur eram suficientemente numerosos no iní- casadas e eventualmente seus filhos casados; ou
cio do século XVI a ponto de emprestar seu nome pela reunião de várias parentelas.
ao território que ocupavam. Entretanto, assolados
Seguindo da cabeceira em direção à jusante do
por epidemias, pela perseguição dos caçadores de
Urukauá, a primeira aldeia palikur avistada é
escravos e das “Tropas de Guarda-costas” portu-
Ywawka. Com cerca de setenta habitantes, esta
guesas que os perseguiam por considerá-los alia-
aldeia é relativamente recente em relação às ou-
dos dos franceses, os Palikur quase desapareceram.
tras, foi criada em 1998 e instalada na beira da
No primeiro quarto do século XX, a população
estrada BR-156 com a finalidade principal de
Palikur no Urukauá contava apenas 186 pessoas
proteger a área indígena de possíveis invasões.
(Nimuendaju, 1926), mas ao longo desse século,
Depois dela, seguindo rumo à foz do Urukauá e
com o fim das perseguições e uma assistência à saú-
passando a área de Terra Firme, temos na margem
de mínima dada pelo Estado, houve uma retomada
esquerda: Yanawa, com uma pequena popula-
do crescimento populacional. Este fato se confirma
ção de treze pessoas, pertencentes a uma única
na comparação entre o censo populacional de 2002,
família nuclear. Depois, em sequência, estão as
no qual a população Palikur do Urukauá contava
aldeias Kamuyrwa, com aproximadamente no-
cerca de 1000 pessoas (FUNAI – ADR/Oiapoque) e o
venta pessoas, e Puwaytyeket, com cerca de se-
censo de quase dez anos depois, que conta cerca de
tenta habitantes, ambas compostas por mais de
1500 pessoas (DSEI Amapá e Norte do Pará, 2011),
três parentelas. Mais abaixo do rio fica a grande
ou seja, um salto de 50%, mostrando uma consoli-
aldeia de Kumenê, com aproximadamente nove-
dação no crescimento populacional.
centos e vinte habitantes (DSEI Amapá e Norte do
Em território brasileiro, os Palikur estão locali- Pará, 2011). Colada a ela, existe a pequena ilha
zados no extremo norte do Estado do Amapá, de Tarukepti, habitada por quatorze pessoas.
no perímetro do município de Oiapoque, na re- Ao lado de Tarukepti, está a aldeia de Amomni,
gião da bacia do Uaçá, um afluente do baixo rio com aproximadamente oitenta habitantes. Mais
Oiapoque. São os habitantes mais antigos dentre abaixo fica a última aldeia palikur da margem es-
as populações indígenas que atualmente vivem querda, Isuwvinwa, também chamada de aldeia
nesta região que, segundo dados arqueológicos e Urubu em português, com pouco mais de trinta
fontes históricas, até a invasão europeia foi am- pessoas. Na margem direita do rio Urukauá há:
plamente ocupada por populações Arawak. Hoje a aldeia de Kwikvit, que fica quase em frente a
em dia, os Palikur são os únicos representantes Puwaytyeket, e é habitada por cerca de cinquenta
dessa ocupação. pessoas, pertencentes a um único grupo domés-
tico. Logo em frente ao Amomni ficam as aldeias
As aldeias no Brasil distribuem-se ao longo do rio
Mawihri (Mangue I), que é também formada por
Urukauá, afluente da margem esquerda do rio
um único grupo doméstico e tem cerca de quaren-
Uaçá. Seguindo o rio de sua cabeceira até próxi-
ta habitantes, e Mbadgewni (Mangue II), habita-
mo ao curso médio, observa-se uma vegetação
da por dezessete pessoas. Irimwewni é a última
de terra firme, mas, a partir deste ponto, em di-
aldeia palikur da margem direita, conhecida em
reção à foz, a vegetação muda e é tomada por
português como Tauary, tem cerca de sessenta ha-
campos que se mantêm alagados no inverno ou
bitantes. A última aldeia descendo o rio Urukauá é
período de chuvas e, no verão, secam. Esses campos
Flecha, formada principalmente por índios Galibi
são entrecortados por tesos, nos quais estão loca-
Marworno, ela fica localizada quase na foz do rio,
lizadas as aldeias (ou paytwempu). Estas são treze,
próximo à confluência do Urukauá com o Uaçá.
formadas seja por uma única família nuclear; por
uma parentela (ou grupo doméstico) composta
Os quatro povos indígenas que vivem na margem a maioria da população Galibi Marworno. Em seu
brasileira do baixo rio Oiapoque (Palikur, Galibi conjunto essas áreas indígenas representam as
Marworno, Karipuna e Galibi-Kali’na) habitam três Terras Indígenas do Oiapoque.
reservas contíguas: a Terra Indígena Galibi, ho-
Na Guiana francesa, o censo populacional não dis-
mologada em 1982 pelo decreto n º 87844, DOU
crimina os habitantes por características físicas ou
22/11/82, com a extensão de 6.689ha, localizada na
etnia, não há tampouco um órgão responsável pe-
margem direita do baixo rio Oiapoque e habitada
los assuntos indígenas que possa fornecer dados
por uma família Galibi do Oiapoque (Kali’na), gru-
populacionais, como o que se vê no lado brasileiro.
po falante de uma língua Carib que emigrou da re-
Por estes motivos, é difícil acompanhar a evolução
gião de Mana, na Guiana francesa, nos anos 1950
populacional palikur na Guiana, mas, por meio de
(L. Vidal, 2000). Ainda no rio Oiapoque, bem pró-
trabalhos acadêmicos pode-se construir um quadro
ximo à foz, fica a Terra Indígena Juminã, homolo-
com a localização dos Palikur em território francês
gada em 1992 pelo decreto s/n º de 21/05/92, DOU
e uma estimativa de sua população. Neste país, os
22/05/92, com 41.601ha, que é habitada por famílias
Palikur compõem núcleos populacionais e/ou bair-
Galibi Marworno e Karipuna. E, na bacia do Uaçá,
ros indígenas em pelo menos quatro localidades
a Terra Indígena Uaçá I e II, homologada em 1991
diferentes: na cidade fronteiriça de Saint-Georges,
pelo decreto n º 298 de 29/10/91, DOU 30/10/91,
nos municípios de Régina e de Roura, e em Tonate-
com 470.164ha (C.A. Ricardo, 2000: 373), nela es-
Macouria, cidade do entorno de Caiena, capital
tão situadas as aldeias Palikur, Galibi Marworno e
da Guiana francesa. Na região francesa do baixo
Karipuna e cada povo se localiza em um dos três rios
Oiapoque os núcleos de população palikur mais
que formam esta bacia: no rio Urukauá, as aldeias
importantes são: o Village Espérance (subdividido
Palikur; no Curipi, as aldeias Karipuna; e, no Uaçá,
em Village Espérance I e II), localizado dentro da
a grande aldeia-vila de Kumarumã, que concentra
Artionka Capiberibe
91
No final da década de 70, a Funai, sob a chefia Manuel Primo dos Santos, mais conhecido como Seu
de Frederico Oliveira, e o CIMI, coordenado pelo Coco). Quase 80% dos funcionários da FUNAI ADR-
padre italiano Nello Rufaldi, juntaram-se às po- Oiapoque são Karipuna, Galibi Marworno e Galibi
pulações indígenas da região reivindicando que a do Oiapoque. E, desde a década de 1980, os caciques
abertura da BR-156, que ligaria a capital do esta- viajam para participar de manifestações e congres-
do, Macapá, à cidade de Oiapoque, não cortasse a sos indigenistas nacionais e internacionais.
Terra Indígena já demarcada; principalmente por-
Até recentemente, os Palikur eram os menos in-
que o traçado da estrada separava as cabeceiras
seridos nessas redes de representação supra local.
dos rios Uaçá e Curipi do restante da área indígena.
Entretanto, no ano 2000, eles conseguiram eleger
No entanto, prevaleceu a vontade do governo do
seu primeiro vereador à Câmara de Oiapoque, fei-
então Território Federal do Amapá, cujo governa-
to repetido em 2008 com a eleição de um suplente
dor fora indicado ainda no auge da ditadura mi-
que assumiu o posto. Entre 2010 e 2014, dois jo-
litar. As tentativas para barrar a passagem da es-
vens ocuparam postos de administração no gover-
trada não lograram êxito, e as instituições ainda
no do Estado, um deles foi diretor do importante
sofreram as consequências do malogro. A Funai
Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque - Kuahi e
teve o funcionário Cezar Oda afastado e transfe
o outro foi chefe do Núcleo de Educação Indígena
rido do Estado sob falsas acusações, e o CIMI quase
da Secretaria de Educação. Além disso, as escolas
amargou a extradição do padre Nello Ruffaldi.
palikur contam hoje com 65% do quadro de pro-
Um dos resultados diretos dessa orientação de ação fessores preenchido pelos próprios palikur e quase
política conjunta foi a criação de uma unidade in- todos os agentes de saúde são também palikur.
terétnica, posteriormente traduzida na identida-
de conjunta “Povos Indígenas do Oiapoque”. Esta Algum tempo antes do movimento político incenti-
identidade política comum permitiu que em maio vado pela FUNAI e pelo CIMI, os Palikur tiveram ex-
de 1992 os Palikur, Karipuna, Galibi Marworno e periência com outro tipo de contato, o religioso. Em
Galibi do Oiapoque (Kali’na) criassem, em assem- 1965, o casal de missionários linguistas do Summer
bleia geral, a Associação dos Povos Indígenas do Institute of Linguistics (SIL), Harold e Diana Green, ins-
Oiapoque (APIO). talou-se na aldeia de Kumenê no Urukauá e iniciou
o aprendizado da língua palikur. Permaneceram
Logo que foi instituída, a associação possuía um no Urukauá durante aproximadamente onze anos.
caráter de representação e reivindicação de bene- Neste período, além de estudar a língua, os missio-
fícios em prol das populações indígenas. A partir nários incentivaram a entrada da escola e auxiliaram
de 1996, a APIO passa a ser interlocutora direta do quando havia problemas de saúde.
governo do Estado, transformando suas reivindica-
ções em ações diretas, ficando a seu cargo definir Passados dois anos da chegada do casal Green, os
prioridades, gerenciar projetos e contratar mão- Palikur receberam as primeiras visitas de um pastor
-de-obra tanto para a construção de escolas, como missionário da New Tribes Mission. A ação deste
para cursos de formação de professores. pastor é considerada pelos Palikur como marco ini-
cial da evangelização. Foram suas pregações reli-
Em 1996, a APIO foi presidida pelo índio Galibi
giosas que exortaram os Palikur a “aceitarem Jesus,
Marworno João Neves. Neste mesmo ano ele foi
batizando-se nas águas”. Após este momento, pas-
eleito prefeito do Oiapoque pelo Partido Socialista
tores da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de
Brasileiro (PSB) com a maioria absoluta dos votos
Macapá, capital do Estado, iniciaram a instalação
da área indígena. Atualmente, há um quadro am-
de uma sede da Igreja na aldeia de Kumenê, con-
plo de inserção e representação política dos povos
solidada pela consagração de um pastor indígena
indígenas do Oiapoque nos níveis regional e nacio-
responsável por sua direção.
nal. Há pelo menos quatro pleitos, os índios elegem
1/3 da Câmara de vereadores do Oiapoque (cujo Hoje, todos os pastores da Assembleia de Deus pali-
nome homenageia o falecido cacique Karipuna kur são nativos. A Igreja sede da “Convenção Estadual
Artionka Capiberibe
quase todos os tipos de peixe, principalmente os
xes se espalham no campo alagado. Neste período,
mais nobres, como tucunaré, tamuatá e pirarucu.
a caça é uma atividade primordial. Os Palikur so-
Segundo uma legislação interna, elaborada numa
bem o rio em direção à mata de terra firme, onde
Assembleia dos Povos Indígenas do Oiapoque, o pi-
pernoitam na espera de animais como anta, vea-
rarucu não pode ser pescado em qualquer época
“Esse canto foi criado pelo ihamwi; ele viu no sonho a sucuri de três cabe-
ças, as cabeças parecem o bico da garça. A sucuri cuida das garças, como
a gente cuida dos pintinhos, ela é o avô das garças. O ihamwi está dirigin-
do o barco dele, o barco dele é a sucuri, o ihamwi toma conta da sucuri.
O ihamwi para o barco dele no campo, próximo a um lago e onde
ele para, as garças aparecem; elas vêm comer”. (Explicação: Wet /
Tradução: Nenélio Wakavuyene).
“O negro desse canto não é daqui desse mundo, o ihamwi que viu ele.
Mekohro está cuidando do porco. Mekohro ouviu a notícia que o dono
dele, o ihamwi, está fazendo wohska; quando ele saiu onde o ihamwi tá
fazendo wohska, foi que nem o relâmpago do trovão, dançando e ilumi-
nando a festa. Ele tá dançando com o ihamwi; quando deu meia-noite, ele
voltou a olhar o porco dele, ele é o dono do porco, qualquer tipo de por-
co, caititu, queixada”. (Explicação: Wet / Tradução: Nenélio Wakavuyene).
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 107
Fotos Lux Vidal
108 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
Morcego e Taparabu. De voadeira, a viagem entre em suas terras famílias Galibi Marworno e Palikur,
a cidade de Oiapoque e a aldeia é de mais ou me- em sua maioria provenientes da aldeia Flexa, no
nos 30 minutos. A aldeia localiza-se em um trecho rio Urukauá. Estes se instalaram em uma área um
de terra firme cercado de roças familiares e mata. pouco afastada, na ponta norte da aldeia. Graças
Ocupa uma área muito arborizada e bem cuidada, a esse aporte de famílias indígenas não Kali’na,
onde se encontram as casas, pomares e as instala- a aldeia ficou mais alegre e dinâmica, há mais ro-
ções do Posto da Funai, enfermaria e escola. ças e produção agrícola, mais pesca e caça. A escola
tem um bom número de alunos e as professoras
são as netas de José Jean-Jacque, um dos fundado-
Demografia res da aldeia. O campo de futebol, que ficou alguns
anos abandonado por falta de jovens, é novamen-
Sabe-se que em 1950, quando o grupo chegou ao te o palco de jogos e competições regionais. Este
Brasil, ele contava com 38 pessoas. Posteriormente, aumento demográfico é devido à generosidade de
algumas famílias voltaram para sua aldeia de ori- Geraldo Lod em ajudar famílias que estavam sem
gem, no rio Maná, na Guiana Francesa. Com o pas- lugar para morar e foi uma maneira de dinamizar a
sar do tempo, alguns dos filhos dos Galibi Kali’na vida na aldeia São José dos Galibi.
instalados no Brasil estudaram fora da aldeia e aca-
baram se instalando em cidades como Oiapoque,
Belém e Brasília sem, porém, perder contato com
Migração para o Oiapoque
seus parentes na aldeia.
Os Galibi do Oiapoque provêm das aldeias do rio
Em 1990, a aldeia São José dos Galibi contava com
Mana, na Guiana Francesa, Couachi e Grand Village.
28 pessoas. Mas, em 2004, já somavam 46, e em
Seu chefe, Gérard Lod, nasceu na Pointe Isère.
2011, de acordo com o levantamento da Secretaria
Especial de Saúde Indígena - SESAI, eram 81 pes- Em 1950 Gérard Lod chegava ao Brasil com mais trinta
soas repartidas em doze famílias. Este aumento e oito pessoas de sua família, devidamente autoriza-
deve-se ao fato dos Galibi Kali’na terem acolhido do pelo governo brasileiro para se instalar no Brasil.
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 109
Acervo Família lod
Sr. Lod.
110 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
111
As justificativas para migrar vão se diversificando Satisfeitos, Gérard Lod e seu primo voltam a Maná.
com o passar do tempo, mas a razão profunda, no Chegando em Couachi, na aldeia, contam aos fami-
caso deste grupo Galibi Kali’na, não foi a guerra liares suas aventuras e o resultado de sua missão.
nem a fome nem a pressão dos brancos, mas sim Todos concordam em migrar e seguir o seu líder.
um desentendimento grave entre parentes afins.
No dia da partida, no entanto, o governador de
Segundo o Sr. Lod, havia uma outra razão que era,
Caiena não autoriza o grupo a embarcar no na-
naquela época, poder realizar um sonho de infân-
vio brasileiro. Desde então, decididos mais do que
cia, a vontade de viver em um lugar que, na esco-
nunca a deixar a Guiana, os Galibi dissidentes se
la, lhe havia sido descrito como “Le pays des vrais
empenham, durante mais de um ano, na constru-
indiens”, por um professor francês. Numa outra
ção de três grandes canoas a vela.
ocasião o Sr. Lod contou que um gigante canibal,
muito presente nas narrativas Galibi-Kali’na, teria Finalmente, em junho de 1950, após carregar as na-
fugido para o sul, em direção ao Brasil, e ele achava ves de víveres e água, os Galibi descem o rio Maná,
interessante saber por onde esse monstro andava e onde ainda se despedem de amigos e parentes e
que fim teria levado. Finalmente, não estava satis- depois saem pelo oceano em direção ao Brasil.
feito com o sistema de educação desenvolvido pe-
Em cada porto são saudados por uma multidão de
los franceses junto aos índios na Guiana, mais um
curiosos e os gendarmes e douaniers ficam, literal-
motivo para migrar.
mente, a ver navios, não podendo mais fazer nada
Na verdade, tudo começou em 1948 quando Gérard para impedir o grupo de partir.
Lod, acompanhado de um primo seu, chega em Saint
No dia 13 de agosto de 1950, eles se instalam no
Georges de l’Oyapock e em seguida em Oiapoque,
lugar escolhido, às margens do rio Oiapoque, onde
cidade situada do lado brasileiro do rio. Através do
vivem até hoje. Cada família limpou uma parcela
contato com um funcionário do Serviço de Proteção
de terra para construir uma casa. Em compensação,
aos Índios, os dois Galibi conseguem viajar em um
passaram um 15 de agosto muito tristes e deprimi-
voo da FAB até Belém. Lá são recebidos, no próprio
dos, era o dia da grande festa na aldeia em Maná.
aeroporto, pelo então inspetor Eurico Fernandes,
Mas as mulheres plantaram as sementes e seis me-
chefe do SPI, que lhes dá as boas vindas, em fran-
ses depois tudo estava bem, já tinham suas roças e
cês, e a quem expõem o motivo de sua viagem, isto
as dificuldades haviam acabado.
é o desejo de migrar para o Brasil. Segundo o Sr.
Lod, Eurico Fernandes se afastou alguns instantes
para conversar com as autoridades e poucos minu-
tos depois já estavam liberados e andando pelas Situação atual
ruas da cidade.
Após o falecimento dos mais velhos, o grupo manteve
Lod tinha uma vontade: visitar a praça Brasil onde poucos contatos com os Kali’na da Guiana Francesa.
havia e há, até hoje, uma bela estátua de um ín- Entretanto, gostavam de receber notícias de lá, espe-
dio com arco e flechas na mão e um cocar na ca- cialmente de parentes e amigos, muitas vezes trans-
beça, figura nunca esquecida e que ele havia visto, mitidas por um programa de rádio em Caiena.
em uma ocasião, num cartão postal colorido, em
Os Galibi Kali’na da aldeia São José dos Galibi sem-
Couachi, sua aldeia.
pre mantiveram uma atitude de autonomia, mas
Após 15 dias de permanência em Belém, os Galibi de bom relacionamento com a Funai. Eles esco-
detêm para eles e suas famílias a autorização for- lhiam e avaliavam os funcionários que trabalha-
mal para se instalar no país. Ficou ainda combinado vam na aldeia. O Sr. Lod, seus filhos e outros habi-
que a viagem se efetuaria num cargueiro brasileiro tantes da aldeia participam regularmente de todas
e sem nenhum custo para os índios. as Assembleias dos Povos Indígenas do Oiapoque,
112 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
Fotos Lux Vidal
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 113
enquanto representantes de sua etnia e membros Situação das terras
plenos de um conjunto de povos que compartilham
o mesmo território, os mesmos problemas e anseios. As terras ocupadas pelos Galibi Kali’na correspon-
É nessas ocasiões que cada povo coloca suas ques- dem basicamente ao território onde se localiza-
tões, que são discutidas e resolvidas em conjunto. ram em 1950. Demarcadas, elas constituem a Terra
Indígena Galibi com uma superfície de 6.889 hecta-
Os Galibi Kali’na participam também, com os Kari- res, conforme a portaria nº 1.369/E, de 2/08/1962.
puna, Galibi Marworno e Palikur, de movimentos A homologação administrativa e a publicação no
políticos e reivindicatórios importantes para os po- Diário Oficial é de 22/11/82. Ariramba, uma aldeia
vos indígenas do Oiapoque. karipuna, no rio Oiapoque, também foi incluída na
Se todos os Galibi Kali’na possuem um bom grau reserva Galibi e localiza-se nas proximidades da vila
de instrução, o Sr. Lod se destaca pela capacidade não indígena Taparabu. As relações com os Galibi
e curiosidade intelectual, seus conhecimentos, e o Kali’na são de boa vizinhança, mas pouco contato.
rigor de suas opiniões e posicionamentos. Estudou Na década de 2000, Gregório Lod era o chefe de
até o Certificat d’Études, o que corresponde ao nosso posto da FUNAI das Terras Indígenas do Baixo
primeiro grau completo e foi durante dez anos enfer- Oiapoque, que incluía além da aldeia São José
meiro formado no hospital penitenciário de Saint dos Galibi e Ariramba, as aldeias Karipuna e Galibi
Laurent, atuando em aldeias indígenas de Maná. Marworno, Uahá e Kunanã, da Terra indígena
Seu filho mais jovem foi presidente da APIO (Asso- Juminã, o que o levou, por razões administrativas,
ciação dos Povos Indígenas do Oiapoque) e ocupa, a conhecer melhor índios de outras etnias da re-
atualmente, um posto de chefia na FUNAI local. Os gião e a defender seus interesses.
dois filhos mais velhos são militares, com uma car- Hoje, desde 2011, com a reestruturação da FUNAI
reira bem sucedida na marinha e na aeronáutica. não existe mais o cargo de Chefe de Posto.
As quatro filhas viveram durante vários anos com
famílias de oficiais de Clevelândia, se deslocando
com elas para Belém, Brasília e São Paulo, estudan-
do e trabalhando, antes de voltar ao Oiapoque.
Hoje, vivem em Oiapoque, onde trabalham como
funcionárias do estado, e passam os fins-de-semana
e férias na aldeia.
114 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
Cosmologia xamãs eram “verdadeiros” e competentes. O Sr. Lod
descreve minuciosamente os rituais de iniciação, as
As crenças religiosas manifestam-se de forma diver- sessões de cura e de contato com os espíritos. Estes
sa nos diferentes grupos da bacia do rio Uaçá. Além se dividem em duas categorias, os que vêm do alto,
das práticas religiosas indígenas, entre os Karipuna do céu, os anjos da guarda, sempre bons, e os espíri-
e Galibi Marworno prevalece um catolicismo po- tos da floresta e da água, perigosos, com os quais é
pular, acrescentado de uma vertente progressista, preciso negociar. Nestas ocasiões, quem age é o espí-
engajada, devido à influência do Cimi (Conselho rito do xamã, preparado para esta tarefa, nunca ele
Indigenista Missionário), pelo menos até recente- mesmo, apenas um homem comum. Para os Galibi
mente. O catolicismo dos Galibi Kali’na, há séculos Kali’na do Oiapoque, Deus fez tudo, sabe tudo e do-
incorporado às suas crenças e práticas, é da chama- mina tudo, enquanto o xamã, por melhor que seja,
da linha tradicional. apenas possui uma visão parcial e contextual do
O xamanismo continuava vivo até a década de 60, mundo, podendo sempre ter o seu caminho “fecha-
sendo os pajés galibi kali’na reputados e conhe- do” por outro xamã mais poderoso. “Primeiro vem
cidos entre todos os povos indígenas do Amapá e Deus, depois o maracá”.
das Guianas, assim como também o eram os seus vi- Antigamente, dizem os Galibi Kali’na, os espíritos
zinhos, na outra margem do Oiapoque, os negros dos homens e dos animais, que eram gente no seu
Saramaká de Tampac. Atualmente, entretanto, não mundo, se comunicavam. Mas agora isso acabou.
há mais pajé atuando no grupo. Os emblemas do úl- Segundo o Sr. Lod, em algum momento “alguma
timo pïyei (pajé), o pakará (cestaria) e o maracá, estão coisa aconteceu”, houve uma ruptura e hoje eles
devidamente guardados na aldeia. Porém, as cren- não se comunicam mais. Isto teria acontecido de-
ças relativas ao universo xamanístico não se extin- vido à incompreensão dos colonizadores europeus
guiram. Mais de uma vez, os Galibi Kali’na afirma- com relação à sabedoria dos índios. Uma perda e
ram que, comparados aos dos outros grupos, seus uma pena, segundo ele.
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 115
Entretanto, os Galibi Kali’na continuam acreditan- quando estou com tanta sede?”. O homem parece
do que tudo na natureza tem dono, os animais e as entender o que ele pensa. O índio começa a beber,
plantas. Por isso agem com cuidados especiais nas mas o caxiri não se esgota até seu estômago estar
suas atividades predadoras de caça, pesca e derru- cheio. Era um caxiri feito com banana, bem doce.
bada de árvores. Ou, como dizem em francês, “il ne Em seguida o homem lhe diz: “O senhor pode aban-
faut pas les vexer”, maneira delicada de caracterizar donar o trabalho e voltar para casa”. Chegando ali,
as negociações que se travam entre os diferentes sua mulher, como de costume, tinha preparado
domínios do cosmos. comida para ele, mas o índio lhe diz: “Não vale a
pena, não sinto nem fome, nem sede”. A mulher
não falou nada, mas se perguntou o que tinha
História de Epa’ kano acontecido a seu marido. O índio foi tomar banho
e, depois, pegou seu tawari, enrolou tabaco e fu-
Epa’kano é uma narrativa sobre o conhecimento mou cigarros. Um pouco mais tarde, ele colocou sua
e a experiência xamânicas. É um evento que real- tocaia em ordem.À tarde, ele falou para a mulher:
mente aconteceu em um momento histórico per- “Vai avisar o pessoal da aldeia, todos precisam ficar
turbado pelo contato com os europeus, quando calmos, sem fazer nenhuma bagunça e os cães pre-
os xamãs kali’na tentam ressuscitar os mortos, os cisam permanecer amarrados”. Depois ele lhe disse:
antigos. Percebe-se que há nas várias versões desse “Você vai ficar aqui e ouvir o que vai acontecer”.
evento, mas especialmente nesta versão contada Por volta de seis horas da tarde, o índio entrou em
pelo Sr. Geraldo Lod, o encontro de uma espiritua- sua tocaia. Ele sacudiu o maracá, mas, já ao primei-
lidade xamânica e a religião cristã. (Vide para mais ro barulho, seus espíritos manifestaram presença.
detalhes sobre esse episódio em G. COLLOM, 2000) Eles anunciam: “Aquele que você encontrou em sua
roça está chegando”. A mulher ouve o que os espí-
“Epa’kano, essa palavra significa aparecer, um mila-
ritos dizem e os índios se aproximam, reúnem-se lá
gre. Foi em Maná que aconteceu, num lugar chama-
fora para ouvir o que se diz. Chega o homem que o
do Ulemali unti em Galibi, pois, havia ali uma árvore
índio tinha encontrado na roça, mas os outros não o
de tawari.Era época de verão. Havia um payê, um
enxergam. Ele entra na tocaia e explicou tudo para
xamã que derrubava o mato para fazer sua roça.
o xamã e, lá fora, os outros ouviam. Isso aconteceu
Bem perto de onde ele trabalhava, havia pequenas
no primeiro dia e ele ainda não apareceu perante
aves txicuã, pitxa em Galibi, de cor marrom, grita-
os outros índios. Na segunda noite, chegaram de lá
vam: pitxa, pitxa. O xamã lhes disse: “Falem clara-
de cima dois outros homens, três homens na ter-
mente, pois não entendo nada. Quero saber o que
ceira noite e quatro na quarta noite. Foi então que
vocês anunciam, sejam notícias boas ou ruins, mas
eles apareceram perante os outros índios. Eles con-
assim não entendo nada. Um pouco cansado, o ín-
versavam com as pessoas da aldeia, mas mantendo
dio senta, para um pouco, e olha em frente, quan-
distância, pois eram puros. Depois, outros desceram
do vê chegar um homem muito bonito. Ele lhe diz
ainda. Na terra, os homens não precisavam mais
bom dia. O homem lhe pergunta: “O que o senhor
trabalhar, nem caçar, o caxiri preparado nunca se
está fazendo?”. “Preparo minha roça”. O homem
esgotava. Havia sempre o que comer.
diz: “Quem falava com os txicuã era eu”, acrescen-
tando: “Venho anunciar uma boa notícia, sou o Uma escada que alcançava o céu podia ser vista e
mensageiro de Deus”, nosso criador Kekanamon, o havia uma bandeira, um tipo de estandarte que
criador, aquele que faz tudo. “Largue sua roça, pois ia até o chão, com franjas douradas, e brilhava
uma boa coisa lhe acontecerá.” O homem segurava como o sol ao amanhecer. Esta escada era como
na mão uma cabaça pequenininha, uma pequena um exemplo para mostrar como se sobe lá em
cuia, kuwai, em Galibi. Eles se sentaram e conversa- cima. Um exemplo para as pessoas que não sabem
ram. O homem ia lhe contar tudo que iria aconte- ler nem escrever, para explicar. Aqui [na terra]
cer. “Experimente um pouco de meu caxiri”, disse era sempre festa, uma festa que nunca termina-
ele. O índio estranhou: ”Porque oferecer tão pouco va. Logo a boa notícia se espalhou por todas as
116 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
aldeias, de norte a sul. Índios de todas as raças Festas
chegavam de lugares distantes. Havia gente de
Sinnamary, Kourou, outros eram do Suriname e O calendário de festas não corresponde ao dos
da Guiana Inglesa, Aruak também.Isso chamava- Karipuna ou Galibi Marworno. Não festejam o Divino
-se Epa’ kano, a ressurreição dos mortos, dos pu- Espírito Santo, como os Karipuna, e nunca foram
ros. Epa’ kano é uma aparição, os mortos voltavam. adeptos do Turé indígena, segundo eles um ritual dos
A avó de meu avô, de Ougabo, viu tudo, ela assis- povos da floresta (de la brousse) e não dos povos do li-
tiu a tudo. Essa avó se chamava Kouta Ikewe. Era toral (de la côte). Antigamente as grandes festas eram
moça então. Ela nos contou tudo. Aos domingos, os ritos funerários ou do fim do luto, o epekotono, que
segundo ela disse, não havia festa, somente expli- reuniam muitos dos grupos locais, onde se destacavam
cações. Entre os homens que desceram havia um os cantos femininos e os tocadores de tambor.
homem que usava uma roupa branca e que tinha Hoje, a maior festa é celebrada no último dia do
uma longa barba. Ele explicou o que acontecia no ano, quando os que vivem fora da aldeia voltam
céu, o que acontece àquele que praticou o mal na para visitar seus parentes e quando amigos de ou-
terra, àquele que praticou o bem, àquele que co- tras localidades se unem aos Galibi Kali’na para fes-
meteu incesto. Ele explicava tudo para os índios. tejar, comer, dançar e beber caxiri, bebida fermen-
Ele falava do fogo eterno, do inferno. tada de mandioca. As outras festas são, em agosto,
a de Santa Maria que era a grande festa em Maná
O homem de roupa branca era Jesus, o Bom Deus
e a de São José, patrono da aldeia no Oiapoque.
em pessoa. Ele estava ali no meio dos outros. O índio
xamã, aquele que tinha encontrado em sua roça o
primeiro dos homens que vieram de cima, permane- Expressões Materiais
ceu na tocaia fazendo um regime, sem comer e sem
beber para poder se metamorfosear como fazem as Os mais velhos, como o pai de Geraldo Lod, um
baratas, como se tirasse uma camisa para se trans- grande xamã e sua mãe, ceramista e exímia tece-
formar em pessoa pura e não morrer mais. lã, faleceram há muito tempo. Hoje, sem Madame
Caroline, esposa do Sr. Lod, e Madame Egyptienne,
Porém, tudo terminou. Uma mulher daqui da terra sua irmã, apenas uma mulher ainda fia o algo-
tirou uma franja do estandarte para amarrá-la na dão e sabe tecer as grandes redes brancas, típicas
ponta de seu sepu, um ornamento que as mulheres dos Kali’na. Os numerosos e elaborados artefatos
amarram em torno das pernas, entre o joelho e o tor- não são mais reproduzidos e ainda menos usados.
nozelo. Quando o Bom Deus percebeu o sacrilégio, “Para que?” perguntava o velho Sr. Jean-Jacque.
ele se zangou, pois o estandarte não era uma coisa “Não há mais ninguém”. E realmente, para quê?
daqui, dos humanos, não podia ser tocado pelos hu- Se o mundo de hoje e de antes são irredutíveis.
manos impuros. Nisso todos os homens de lá em cima Os Galibi Kali’na não são índios que pensam que,
desapareceram e até a escada sumiu. Antes de par- no mundo atual, seja necessário garantir, de algu-
tir, o homem com a roupa branca lhes disse: “Eu vou ma forma mais aparente, sua identidade indígena.
castigá-los”. Depois desse episódio, os índios reuni- Eles estavam convencidos que nunca perderiam sua
dos foram embora nas canoas, fugiram, se esconden- identidade Kali’na Tilewuyu, entendida como uma
do durante o dia e viajando à noite. O xamã, na sua qualidade inata, que não precisaria para se perpe-
tocaia, não chegou a se transformar em alma pura, tuar de práticas culturais concretas como o ensino
isso quase aconteceu, mas ele não conseguiu. O Bom da língua Kali’na na escola, os ornamentos e a pro-
Deus enviou o demônio da escuridão. Antigamente dução de artefatos artesanais. Em contrapartida, os
o lugar onde esses fatos ocorreram era considerado costumes dos antigos são sempre relembrados e re-
lugar nefasto. Meu pai me contava que, quando al- alçados como algo verdadeiramente indígena, mas
guém se aproximava dali, ia devagar, falava baixinho. perdido para sempre. Em uma certa ocasião o Sr.
Mas agora tudo está bem. O lugar onde aquilo acon- Geraldo Lod disse que o que mais desejaria é que os
teceu chama-se Kubari em crioulo. antigos voltassem para contar tudo o que sabiam.
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 117
Este desejo, de alguma forma, remete à história de Há inúmeras árvores frutíferas nas cercanias de
epa’ kano, a ressurreição dos mortos. cada casa, coco, abacate, laranja e tangerina, abiú
e muitos cajueiros, além das imensas mangueiras
Entretanto, os objetos dos quais precisam para as
que compõem a paisagem típica da aldeia.
atividades de subsistência, como peneiras, tipitis,
cestos, viradores de beiju e abanos, eles continuam A caça e a pesca constituem o resto da dieta alimen-
fabricando e mesmo um lindo fuso para fiar algo- tar. Atualmente, essas atividades são menos desen-
dão. Mas, as cuias pintadas e os raladores de man- volvidas, o que restringe o seu consumo. Como vá-
dioca, eles encomendam aos Karipuna do rio Curipi. rios índios são funcionários públicos e os mais idosos
Para a fabricação do caxiri usam apenas panelas. recebem uma aposentadoria, eles compram peixe
de pescadores das imediações e carne de frango em
Oiapoque, além de outros produtos alimentícios.
Subsistência
Duas especialidades dos Galibi Kali’na merecem
ser mencionadas. As “galettes” ou alipá, feitos de
A subsistência provém basicamente da agricultura.
mandioca ralada, mas nunca de puba, a farinha
Todo homem galibi kali’na que se preze tem uma
d’água, o que, segundo eles, as tornaria sem subs-
roça bonita da qual cuida diariamente junto com
tância. É um tipo de beiju, grosso. Quando bem fei-
sua família. Quando um Galibi fala de seu “abattis”
tas, elas podem ser guardadas em lugar seco por
(roça) ele disse tudo. Às vezes quem tem netos e
muito tempo. O segundo item é o caxiri, bebida
sobrinhos já reserva, como herança, um pedaço de
fermentada de mandioca, bem fina e de cor rosada
terra para eles.
devido a uma batatinha vermelha específica para o
Na aldeia Galibi, há várias roças familiares, locali- seu preparo. Às vezes, o Sr. Lod brinca e o oferece
zadas a poucos minutos das casas de seus donos. como sendo um “apéritif” ou “digestif”. O peixe
Os índios plantam mandioca, cará, batata, maca- defumado e ensopado com cará é também um pra-
xeira, banana, abacaxi, milho, tomate e maracujá. to típico, muito valorizado.
118 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
Fazendo o beiju. Acervo Familia Lod
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 119
Organização familiar e casamento casados na aldeia, estão muito bem integrados e
sempre foram apreciados pelos mais velhos, seus
O núcleo familiar dos Galibi Kali’na que chegaram sogros e sogras.
da Guiana era composto de dois irmãos, Julien e Tradicionalmente, quando dois jovens pretendiam
Gerard Lod, casados com duas irmãs e de uma irmã se casar, geralmente uma escolha já efetuada pelos
dos Lod, casada com Joseph Jean-Jacque. Na Guiana pais, eles e suas famílias realizavam uma sequência
Francesa, Jean-Jacque vivia no Grand Village e os de atos ritualizados, como a visita do noivo e seu
Lod em Couachi, duas localidades próximas, no rio pai aos pais da noiva, seguida da oferta do cigarro.
Maná. O avô dos Lod chamava-se Emile François Os jovens noivos eram submetidos a duras provas
Zacharie e era primo do Grand Emile (Alobé Emile), que testariam a sua competência como exímios
avô das esposas de Gerard e Julien Lod. Hoje, em agricultores, caçadores e artesãos, para os homens,
2012, o único sobrevivente do grupo que imigrou e perfeitas fiadoras de algodão, tecelãs, ceramistas
para o Brasil é o Sr. Geraldo Lod. e preparadoras de caxiri, para as moças.
Os índios Galibi Kali’na que vivem atualmente na
aldeia São José são descendentes diretos destas Ritos de passagem
famílias. Segundo as regras matrimoniais Kali’na,
regras que denotam a preferência pelo casamen- Tradicionalmente, além do casamento, os ritos de
to entre primos cruzados classificatórios, os jovens passagem mais importantes eram, para as moças,
da primeira geração descendente ou ficariam sol- o resguardo após a primeira menstruação, quan-
teiros ou se casariam com pessoas não-índias, o que do eram informadas sobre o perigo inerente ao
de fato aconteceu. Esta situação não deve ter sangue menstrual que pode indevidamente atrair,
sido muito fácil para eles. Mas, hoje, os não-Galibi, pelo cheiro, os espíritos monstruosos aquáticos.
120 O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos
Nestes períodos as mulheres não podem ir ao rio, preparar para a vida do trabalho, que consiste em
à roça, cozinhar e nem preparar caxiri. atividades de subsistência tradicionais, acrescidas
de tarefas que permitam ganhar algum dinheiro,
Os rapazes passavam por um rigoroso aprendizado
e em um preparo político que assegure aos Kali’na
e período de reclusão quando pretendiam tornar-
do Oiapoque autonomia e integração em redes de
-se xamãs. Finalmente, os ritos de fim de luto eram
sociabilidade cada vez mais abrangentes.
a ocasião de reunir muita gente de diferentes gru-
pos locais, e assim ao mesmo tempo em que despa- Os Kali’na, cuja origem é na costa noroeste da
chavam o espírito do morto, liberando-o para subir Guiana Francesa estão espalhados em cinco países
ao céu, os Galibi reconstituíam o seu mundo social no continente sul americano. A migração em 1950
e simbólico e de renovação cósmica. do grupo de Geraldo Lod e seus familiares, e sua
instalação à margem do rio Oiapoque, no Brasil, é
Hoje, os ritos de passagem são outros, mas as cren-
um evento bem documentado (Vidal, L. 2009) e faz
ças antigas têm o seu sentido e os seus valores pre-
parte hoje da história das cisões e ocupação geo-
servados, pelo menos nos seus relatos. As crianças
gráfica dos Kali’na na região das Guianas. As fa-
passam pelo batismo e se preparam devidamente
mílias galibi kali’na da aldeia São José fazem parte
para a primeira comunhão. O Sr. Geraldo Lod se
desse processo e desta história.
orgulha de que seu casamento nos anos 40, em
Maná, tenha sido o primeiro a ser celebrado ao Em 2010 foi montada no Museu Kuahí, dos povos
mesmo tempo no civil e no religioso, segundo a indígenas do Oiapoque, uma exposição transfron-
fé católica. “Eu abri o caminho”, disse ele. Os jo- teiriça “Memória e Identidade Kali’na Tilewuyu”,
vens, atualmente, precisam ainda vencer as etapas que através de textos e imagens contava a saga
escolares, prestar, às vezes, concursos públicos e se dessas famílias que se instalaram no Brasil.
O País sob as àguas - Galibi Kali’na: história do contato e aspectos contemporâneos 121
122
Galibi Marworno: cotidiano e vida ritual
Os Galibi Marworno, habitantes das vastas savanas “Há milhares de anos não existia o Rio Uaçá, era
e campos alagados do norte do Amapá - país de tudo mata. Naquele tempo existia uma grande cobra
aves brancas e jacarés sombrios - se dizem um povo de três cabeças chamada Uaçá, que vivia só no mar;
“misturado e unido”. era muito gorda e tinha dois filhotes na barriga.
Certo dia essa cobra resolveu entrar na mata,
A comida é simples e sadia: peixe, farinha, tucupi e fru-
entrou próximo à Ponta do Mosquito, foi em-
tas silvestres. Nas festas não pode faltar o caxiri, vinho
bora para dentro da mata e por onde ela pas-
dos índios, dos xamãs e dos espíritos karuãna. A Festa
sava, transformava-se em rio; chegando onde é o
Grande é de Santa Maria, o axis-mundi é o mastro do
Encruzo, teve que parar, pois naquele momento
Turé, a Cobra Grande o Bicho mais falado, mas o herói
iam nascer seus filhotes. Nasceu então um fil-
mais querido, é Iacaicani, o menino encantado.
hote e não demorou muito tempo, foi embora
Entre os povos indígenas do Baixo Oiapoque, cou- da mãe seguindo o pôr-do-sol. O caminho deste
be aos Galibi Marworno imaginar e contar como a filhote também se transformou em rio, que hoje
Cobra Grande, num grande esforço de sucessivos é conhecido como o Rio Curipi.
partos, criou a paisagem característica da região, A cobra-mãe diminuiu de tamanho e também foi
abrindo caminho dos três grandes rios, o Curipi, o embora, seguindo outro rumo. Ao chegar onde
Urukauá e finalmente o Uaçá. é a boca do Urucauá, nasceu o outro filhote, que
também foi embora seguindo o mesmo rumo que
o irmão, o pôr-do-sol. Atualmente é chamado de
Rio Urucauá. A cobra Uaçá ficou muito magra, mas
mesmo assim continuou sua caminhada. No meio
do caminho, todo tipo de animal que ela encon-
trava, comia e com isso ela ia engordando de novo.
Sérgio Zacchi
125
No início da colonização, a região poderia ser defi- ao comércio, controlados pelo órgão indigenista.
nida como “aberta” a todas as vicissitudes da histó- Entre os Galibi Marworno e os Karipuna, a Escola
ria. Por exemplo, os Maraon são mencionados em — instituição de maior destaque e alcance — foi
relatos do século XVI como habitantes da região do a responsável pelo agrupamento populacional
Uaçá. Os Aruã migram para a região das Guianas, em aldeias maiores, pelo uso da língua portugue-
no século XVII, fugindo das correrias portuguesas da sa, pelo respeito aos emblemas nacionais, como o
região do baixo Amazonas e chegam a ser escraviza- Hino Nacional e o hasteamento da bandeira. Essa
dos pelos franceses. Na primeira metade do século instituição serve de justificativa para a aglutinação
XVIII, os Maraon e os Aruã são reunidos nas missões de quase todas as famílias Galibi Marworno na al-
jesuíticas do litoral da Guiana Francesa, juntamente deia de Kumarumã. Data daquela época, ainda, a
com Galibi. Com a expulsão dos jesuítas da Guiana implantação da fazenda militar, no Suraimon, alto
entre 1765-68, uma ofensiva portuguesa invade os Uaçá, destinada à criação de búfalos em benefício
antigos territórios de missões, aldeias e estabeleci- dos militares de Clevelândia do Norte.
mentos de colonos, aprisionam a população indíge-
na e a deportam para o Amazonas. Os Aruã depor-
tados retornam no século seguinte e se instalam no
alto Uaçá. Mitos dos Galibi Marworno atuais men-
cionam a passagem de caçadores de escravos e seus
relatos lembram da passagem de regatões.
Sergio Zacchi
O País sob as àguas - Galibi Marworno: cotidiano e vida ritual 127
Desde a década de 30 os Galibi Marworno produ- As aldeias Galibi Marworno localizadas ao longo da BR
zem excedentes para a comercialização, sendo o 156 transportam suas mercadorias por caminhão até a
principal produto a farinha da mandioca. Muitas ve- cidade de Oiapoque. Os índios vendem a sua produ-
zes, a farinha serve como “moeda” de troca para a ção a comerciantes que eles conhecem, na maioria das
aquisição de outros produtos alimentícios, na aldeia. vezes, na própria rua, no momento da chegada, no
Não podem, por acordo interno dos Povos Indígenas Mercado Central ou por encomenda. Além da farinha,
do Oiapoque, vender madeira para fora, mas todos eles vendem tapioca, tucupi e frutas.
têm o direito de serrar tábuas para a construção de
suas casas, canoas, pontes e também de edificações
públicas como a escola, enfermaria e casa de festas.
São exímios construtores de canoas, que vendiam,
geralmente por encomenda, em Saint Georges, mas
também em Oiapoque e no Cassiporé. Atualmente,
por lei, os índios não têm mais o direito de usar ma-
deiras de lei para produzir e vender para fora, o que
limita muito a produção de canoas.
Família em Kumarumã.
Lux Vidal
Reunião para explicar o projeto PDPI na aldeia Kumarumã com o cacique Paulo. Lux Vidal
134
Cosmologia e Mitos A narrativa conta que no monte Tipoca moravam
antigamente muitos Palikur, em aldeias grandes,
Os mitos registrados entre os Galibi Marworno especialmente na ponta Caraimura. Cobra Grande
relatam e interpretam fatos históricos marcantes, vivia lá com sua mulher e filho na Ponta Tipoca.
sempre localizados na paisagem específica do Uaçá O seu “suspiro” localizava-se no lugar chamado
que, por sua vez, também é de alguma forma sub- Mamã dji lo e por esse buraco ele jogava os restos
metida a uma interpretação, como os rios e lagos, de sua comida e também saía para esse mundo. Os
as montanhas e formações geológicas estranhas. índios gostavam de tomar banho no lago e Cobra
Um exemplo é o mito da guerra entre os Galibi Grande, que só comia carne, saía pelo buraco, diri-
e Palikur, finalizada no século XVIII, cujo cenário gia-se à ponta Caraimura e matava muitos Palikur
se estende do alto Urucauá até o rio Maroni na que ele, a cobra-macho, considerava serem maca-
Guiana Francesa, e do qual foram registradas vá- cos. A carne humana para ele era caça, ele só comia
rias versões Palikur e Galibi Marworno. O confron- macaco e assim dava sumiço a vários índios por dia.
to entre as duas nações, que se prolongou duran- A fêmea não gostava e não comia carne; apenas
te décadas, encerra, por um lado, uma relação de comia frutos do mar que o marido trazia para ela.
afinidade entre inimigos, chefes guerreiros de suas (Na versão Palikur, é a cobra-fêmea a devoradora
respectivas nações e, por outro lado, a relação de de humanos, e a cobra-macho se apresenta como
parentesco entre seres deste mundo e do mundo curador, se alimentando de peixes e caramujos).
dos invisíveis, ou seja, um Galibi, o primeiro de sua
“nação”, gerado por uma mãe Palikur, deste mun- Um dia um indiozinho de nome Iacaicani foi até
do e um pai, karuãna, invisível. a ilha Mamã dji lo, com arco e flechas matar papa-
gaios e tucanos, numerosos naquele lugar. De re-
Outro exemplo é o mito do xamã Uruçu, que re- pente, cai em um buraco. Como num sonho, ele se
almente existiu e vivia na ilha Bambu. Dizem que, encontra no outro mundo. Lá ele cruza com uma
perseguido e capturado pelos caçadores de es- senhora que lhe pergunta: “O que faz aqui?” “Me
cravos vindos de Caiena, consegue, em alto mar, perdi”, responde ele. Então diz a senhora: “Vou te
escapar, transformando-se em cobra ou onça no dar um banho de ervas, tenho receio que meu ma-
fundo da água, graças à ajuda de seus karuãna rido te mate”. Depois do banho, ela o esconde de-
e do pakará e maráca que havia levado consigo. baixo de um pote. Quando chega a cobra-macho,
De volta ao Uaçá, foge para o alto Tapamuru sua mulher lhe enche a barriga de macaco e cachiri.
(afluente do Uaçá), pedindo a seus espíritos auxilia- Ele também havia trazido caranguejos e lagostas
res, os karuãna, que interrompam o curso deste rio para sua mulher. Ele sentia um cheiro diferente, sa-
com enormes deslocamentos de terra, para poder boroso. Sua esposa nega várias vezes que há algo
ficar ao abrigo de qualquer nova investida. Este rio diferente na casa, mas acaba confessando que é
realmente apresenta esta característica: obstruído um indiozinho e pede que não o mate. Felizmente,
o seu curso médio, corre subterrâneo em seu leito. o bicho havia comido e estava de barriga cheia.
Um mito muito presente na cosmologia Galibi- “Bem”, disse o Tipoca, você vai ser como meu filho
Marwono é o da Cobra Grande. Os Galibi Marworno e vai brincar com o Tipoquinha”.
narram o mito como sendo de origem Palikur. O in- Iacaicani consegue escapar e retornar à sua aldeia
teressante é que essa versão, de um povo com ten- para contar o que estava acontecendo. Então, os
dência matrifocal, inverte aquela dos Palikur, com Palikur pedem sua ajuda para prepararem uma ar-
descendência patrilinear. O mito faz referência à madilha para matar a cobra. Iacaicani revela que as
montanha Tipoca, uma elevação bastante destaca- cobras descansam sobre as pedras em determinada
da na paisagem plana do médio rio Uaçá. Ali são hora do dia, e os índios planejam uma armadilha para
encontradas, segundo os índios, conchas e caramu- alcançá-las nessa situação. Iacaicani pede aos seus que
jos, evidência de um sambaqui fluvial. matem apenas o macho e não a fêmea. Os índios,
Pajé Leven e sua esposa durante o turé em Kumarumã. Ugo Maia Andrade
reformada com uma grande área para a merenda Na página ao lado , meninas na ponte sobre o campo alagado. Fabio Maffei
143
144
As cuias e seus múltiplos caminhos e significados
produção.
As artesãs são as mulheres, todas as mulheres. Fabricam-se cuias grandes, médias e bem peque-
Preparam a cuia, elaboram as tintas e aplicam a nas, para uso doméstico e uso ritual, para oferecer
ornamentação. O que distingue as cuias são suas e para vender. As cuias, um singelo presente para
belíssimas decorações, marcas padronizadas e sem- parentes ou amigos podem também servir como
pre recriadas pelas artesãs, inspiradas pela tradi- “moeda de troca”. As grandes cuias são para ser-
ção ou pelo “espírito” inventivo, segundo elas nos vir o xibé (bebida de água e farinha, refrescante e
Marina Zacchi
146
Sergio Zacchi
Marina Zacchi
147
nutritiva) ou o cachiri (bebida fermentada à base de Os motivos geométricos e estilizados gravados nas
mandioca), durante as festas do Turé, do Tambor, do cuias representam ainda escamas e espinhas de
Divino Espírito Santo e de Santa Maria, entre outras. peixe, o casco da tartaruga, os pêlos do porco do
No dia a dia, as cuias - o prato e a tigela indígena mato, mas também as folhas da palmeira açaí, a es-
- são usadas para comer ou para servir farinha, ta- trela d’alva e nuvens matinais; temas mais ligados
pioca, tucupi, açaí, bacaba ou tacacá. Servem, ainda, à mitologia e à natureza, enfim, ligados a este e a
para pegar água ou para guardar miudezas, como “outros mundos”.
sementes ou miçangas. Elas são carregadas durante Ultimamente, incentivados pelo recrudescimento
a charité, para recolher donativos em espécie para as das expressões culturais, alguns homens têm adota-
festas comunitárias; e sempre haverá uma pequena do também a superfície das cuias para aplicar moti-
cuia em cima dos altares, nas capelas, à espera de vos decorativos, belos e muito criativos, ou gravar
um donativo dos fiéis. Quebradas, elas ainda podem cenas fortes, de guerras e confrontos xamânicos.
servir de colher ou raspador de mandioca.
Marcio Sztutman
Marcio Sztutman
quirem livre acesso em praticamente todas as dire-
ções, proporcionando uma agradável sensação de
liberdade.
Lux Vidal
cantes, os tukutuku, para o consumo da mesma bebi-
da e vasos mais simples, chamados wanamiú.
Marcio Sztutman
realização do turé. Em um mito Palikur sobre a
origem dos clãs, as nações deste povo, como costu-
mam dizer, o grande pote de caxiri se transforma
em ”Arca de Noé“ durante o grande dilúvio indíge-
na. Em outro mito, um pote serve de esconderijo ao
pequeno herói que livrará seu povo das inúmeras
mortes provocadas pela Cobra Grande.
Lux Vidal
Página ao lado, atelier da Sra. ceramista. Caxiri vai ser coado, colocado em panelas e servido nas cuias.
O processamento da mandioca, da qual existem hoje encontradas apenas na Guiana Francesa. Esses
muitas variedades, se realiza na casa de farinha, objetos, da época da escravidão, serviam para a fa-
chamada naquela região de cabê (do francês carbet), bricação de rapadura e cozimento de alimentos.
uma pequena construção aberta, com teto de palha, Atualmente, são matéria-prima muito procurada
edificada nas roças ou na cercania de um igarapé. pelos índios brasileiros. Eles compram este ferro aos
pedaços e a um preço alto, em euros, o que aumen-
Os índios do Baixo Oiapoque produzem enormes
ta ainda mais o valor real e simbólico do ralador.
quantidades de farinha de mandioca. Um esforço tão
significativo requer planejamento, organização do Apoiando-se um pedaço de panela de ferro numa
trabalho, ferramentas e utensílios adequados. Não po- bigorna improvisada, como por exemplo um chassi
dem faltar raladores (ghaj, patoá; timar ou timali, pali- de carro, quebram-se as lascas de ferro, pedacinho
kur), facões, fornos de ferro, paneiros, peneiras, tipitis por pedacinho, guardando-as em uma lata. Para
ou prensas, pá de forno, rodo, gamelas e canoas. incrustá-la na madeira, faz-se um buraquinho com
prego, coloca-se a lasca e bate-se com martelo em
O ralador, certamente, é o artefato mais valioso
cima de um outro prego na horizontal, que prote-
que, pela sua manufatura e significado simbólico,
ge a ponta da lasca e permite nivelar a sua altura
se destaca dos demais objetos utilizados para o
de forma padronizada. No fim, usa-se o compasso
processamento da mandioca. Ele é fabricado por
para fazer um desenho de um dos lados da tábua,
poucos artesãos especialistas que trabalham por
que indica o sentido certo para o uso do ralador.
encomenda, revelando uma rede de relações de
Pode-se representar uma flor ou uma estrela.
trocas dentro e entre as aldeias.
Uma vez obtido um estoque razoável de lascas de
Apesar de ter se difundido o uso dos raladores elé-
ferro, gasta-se entre três e quatro dias para fabri-
tricos que processam os tubérculos muito mais rapi-
car um ralador. Quando bem elaborado, pode du-
damente e com menos esforço físico, especialmen-
rar entre quatro e cinco anos.
te em se tratando de uma produção tão expressiva,
os Karipuna e os outros povos indígenas do Uaça
continuam a ralar a mandioca manualmente.
Otávio Dias
Otávio Dias
Esther de Castro
Sergio Zacchi
“O arumã pode dar sozinho e pode ser plantado. algumas poucas talas que podem receber uma tin-
É uma planta da terra nas baixadas, nas cabeceiras tura, embora, os tipitis feitos com talas tingidas são
dos rios e pode ser plantada também em casa que fica geralmente miniaturas feitas para serem vendidas
boa, no ponto. O arumã tem mais no mato alagado. como “enfeites” no comércio regional.
De canoa a remo se gasta um dia para se chegar lá.
Para fazer o tipiti, o Sr. Henrique sentou-se no chão
Quando se vai colher arumã, geralmente, colhem-
de sua ampla cozinha, próximo à porta dos fundos
se dois feixes e armazena na água, mas só por uma
da área e começou a preparar a matéria-prima. De
semana porque depois ele já apodrece. Armazena só o
tempos em tempos levantou-se para limpar, com as
suficiente para trabalhar. Quando ele está maduro, fica
mãos, o seu corpo e a sua roupa e, com uma vas-
de cor verde escuro e com a haste bem dura, no ponto
soura, varrer o chão, conservando durante todo o
para fazer os artesanatos. Fazer nate, trançados, como
processo de confecção do tipiti o asseio corporal e
tipiti, peneira, paneiro, abano, sacola, etc”
do local de trabalho.
(Sr. Gonçalo dos Santos. Aldeia Kumarumã.
Galibi Marworno) Primeiramente ele pegou um caule de arumã e
com uma faca fabricou o instrumento próprio para
obter todas as fibras ou talas com a mesma largura.
Há tipos de arumã; este tipiti foi feito com o arumã do
Trata-se do de but; como o próprio nome em patoá
tipo chamado arumã da cutia, em patoá, ahumã agutxi.
sugere, são duas pontas ou dois pedaços do caule,
Segundo o Sr. Henrique, esse arumã é assim denomi-
com cerca de 15 cm de comprimento. Depois, sele-
nado porque sua coloração é semelhante à do corpo
cionou um dos caules inteiros de arumã e fez uma
da cutia (Dasiprocta sp), que é avermelhado e pardo.
pequena fenda longitudinal de cerca de 10 cm,
Por ser um artefato extremamente funcional, o ti- encaixou aí o de but. Os dois pedaços pequenos de
piti é confeccionado segundo cálculos matemáticos arumã foram posicionados perpendiculares entre si
precisos, mesmo assim há variações na confecção e perpendiculares à fenda, possibilitando dividir o
da forma da abertura, das alças e utilização de caule de arumã em quatro partes regulares. (1)
(5)
(15)
170
O tipo de trançado resultante do entrecruzamento
acima citado foi denominado de dã agutxi, isto é,
dente de cutia. Sobre essa denominação, ele refe-
riu-se aos dois dentes da cutia, que ressaltam na
boca como as duas talas no tipiti.
Lux Vidal
A literatura sobre os índios da região do baixo grafismos são sonhados pelos pajés antes do início dos
Oiapoque e Rio Uaçá explicita claramente a cone- preparativos do ritual”. A identidade entre Bancos e
xão entre Karuãna e artefatos rituais. A propósito Karuãna ocorre de duas maneiras precípuas: quan-
do turé dos Palikur do Rio Urukauá, Nimuendaju do os Karuãna são, a priori, constitutivos dos arte-
(1926) assinala a ação do pajé a fim de promover fatos, uma vez que “a matéria prima coletada para a
a entrada de “espíritos” “na viga-assento (Banco fabricação dos artefatos rituais já vem do mato ‘com
Cobra Grande), nas penas dos espíritos, no banqui- espírito’ ” (ib.: 73); ou quando a animação dos
nho ornitomorfo e nos maracás [...]” (ib.: 50), proce- Bancos acontece a posteriori por feito exclusivo
dimento revertido no final do rito com o intuito dos Karuãna que neles “encarnam” ao descerem no
de “despedir outra vez os espíritos que entraram nos lakuh, de maneira que os Bancos se tornam “o pró-
utensílios de dança” (ib.: 52). Esses mesmos espíritos prio bicho, e não apenas uma representação” (Vidal,
auxiliares, chamados de Yumalawí, instalam-se nas 2007a: 49). Cada artefato ritual, segundo as técni-
penas wilaulá fixadas na parte superior das varas cas de manufatura e representações cosmológicas
Bancos Galibi Marworno de Cobra Grande, aldeia Kumarumã, 2014. De cima para baixo: banco Galibi Marworno de Galo da Serra,
aldeia Kumarumã, 2014; banco palikur de Porco, rio Uaçá, 2005;
banco palikur de Gaivota e detalhe com desenho de Borboleta, rio
Uaçá, 2005; Pintura de Banco de Gaivota, aldeia Kumarumã, 2005.
183
As regras cerimoniais incidem sobre o comporta-
mento das pessoas e são quase idênticas para os
Karipuna e Galibi Marworno. Segundo elas, é proi-
bido durante o turé: transpassar os Bancos zoomor-
fos coletivos (o correto é contorná-los); abandonar
os instrumentos musicais, Karamatás2 e Maracás,
em qualquer lugar que não seja ao pé do Mastro
principal; derrubar os instrumentos no chão; aden-
trar no lakuh por sob os fios de algodão que delimi-
tam o círculo cerimonial; namorar e dançar calçado
(para os Karipuna). A punição para qualquer uma
dessas infrações chama-se lamã, dose extraordi-
nária de caxiri que o infrator sorverá sentado no
Banco de Urubu (Gereu), fora do lakuh.3 Tanto para
os Galibi Marworno quanto para os Karipuna a vio-
lação das regras cerimoniais representa desvio do
protocolo relativo às relações pessoa-pessoa que
devem constar com os artefatos rituais. Daí a impu-
tação do lamã aos infratores.
Esther de Castro
189
A caixa de vibração é feita pela mulher, mas é o homem Uma vez colhida a cuia, esvazia-se o seu miolo; ela
quem coleta a matéria-prima para se fazer as tintas. deve estar bem limpa e completamente seca, tam-
Ela providência a cuia, a prepara, grava os grafismos bém deve ter dois orifícios opostos no seu eixo lon-
e aplica sobre a superfície a tintura por ela preparada. gitudinal para, então, ser gravada e tingida.
A cuia é o fruto da cuieira; uma pequena árvore plan- Os grafismos são feitos com a ponta da faca, atra-
tada nos quintais. Os índios da área conhecem cinco vés de pequenas e pontuais incisões. São geométri-
espécies de cuieiras, mas para fazer o maracá usam so- cos e constituem “marcas” do maracá, no sentido
mente aquela denominada de cuia maracá. Há cuias da presença de uma entidade.
de tamanhos variados e de formatos redondos, ovais,
Para tingir há três tintas indicadas: o cumatê, o ma-
facetados; a cuia maracá é bem pequena, de forma
cocó e o axiuá. Essas árvores não se plantam, são
oval, mas com uma das extremidades bem menor do
da mata e os homens são os encarregados de co-
que a outra. A forma remete à ideia de cabeça, especi-
letarem um pedaço de suas cascas para o preparo
ficamente, para os índios, trata-se da cabeça da cobra,
das tintas. Para o macocó, essa atividade só pode
acoplando o maracá ao universo desse ser invisível.
ser feita na lua escura, caso contrário a tinta não
A cuieira produz o ano todo e a cuia deve ser cole- sai boa. Em casa, o preparo da tinta é feito pela
tada quando está completamente madura, pois do mulher, resguardados os períodos menstruais e as
contrário ela murcha, deforma-se, perdendo sua relações sexuais; a casca é batida e, mais fina, é
beleza. A mulher bate com os dedos na superfície colocada na água de molho por umas duas horas
da cuia e o som mais agudo indica que está madu- ou mais, depois se côa em uma peneira fina e, a
ra; ela não pode cair no chão e é colhida, então, seguir, em um pano. Então se coloca para ferver
ainda no pé. Todo o trabalho deve ser feito fora do até chegar “ao ponto”, que é viscoso, como se gru-
período menstrual e a não observância dessa regra dasse um pouquinho no dedo. A tintura é passa-
implica no enfraquecimento da árvore, cujos frutos da por camadas, guardando-se o espaço de tempo
caem sem sequer amadurecerem. necessário para cada camada secar. Após cerca de
Cesto Pakará com Maracás e outros instrumentos do pajé, aldeia Manga, 2005. Lux Vidal
Artionka Capiberibe *
O Iyuwti kavanyahaki é um importante objeto da cul- dos maracás de cabos longos; e a dança de tambor,
tura material Palikur, povo que fala o parikwaki, uma kayka sabugman, dirigida e tocada por homens.
língua Maipure/Arawak. Os Palikur estão localiza-
Estas danças podem ser realizadas cotidianamente
dos na fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa
como pagamento de um trabalho feito em mutirão
e são aproximadamente 2 mil pessoas. Cerca de
na roça de alguém, pessoa esta que irá oferecer a
metade da população vive na Terra Indígena Uaçá,
festa; ou podem ser feitas em momentos que mar-
lado brasileiro da fronteira; enquanto que a outra
cam mudanças de tempo ou mudanças no estatuto
metade habita, em sua maioria, em bairros palikur
de uma pessoa. Assim, podem ser realizadas quan-
localizados dentro de cidades da Guiana Francesa.
do vem uma nova lua ou ao fim de um ciclo anu-
O Iyuwti kavanyahaki é usado em situações considera- al para marcar a iniciação dos meninos e meninas
das especiais e por pessoas que estejam também numa à fase adulta; ou no encerramento do luto de um
posição especial: seu uso ocorre em eventos políticos ano dedicado a um morto, ritual conhecido como
e nos rituais. No primeiro caso, o chapéu é usado pelo kiysepka (ritual para esquecer os mortos).
líder fundador de uma aldeia, chamado de paytwempu
Todas as festas têm um “dono da festa” (kayka aki-
akivara, ou por outro membro do grupo no momento
vara), pessoa responsável por organizar e dirigir as
em que este assume uma das novas posições políticas
festividades. Somente este “dono da festa” e os
criadas na relação com os não índios, como é o caso
homens que o ajudaram a preparar os bancos ceri-
da posição de cacique: o uso do chapéu é uma distin-
moniais (epti) e o pátio da festa (higiw) têm o direi-
ção concedida a este líder. Como diz Nilo Martiniano:
Artionka Capiberibe
(kayka). As diferenças entre estas danças são esta- chapéu, passa a dirigir a dança junto com ele.
belecidas pelos instrumentos principais tocados em
Tradicionalmente, o Iyuwti kavanyahaki era fabricado
cada uma delas; há, entre outros tipos: kayka ara-
e usado apenas por homens, mas atualmente as mu-
mteman (dança das clarinetas de bambu ou turés,
lheres também podem ter acesso a esta prerrogativa.
como são conhecidas em português), dirigida pelos
Isto ocorre, por um lado, porque as mulheres também
homens, que são os tocadores de aramtem; kayka wa-
passaram a ocupar os postos de liderança criados nas
wahmna (dança dos maracás), executada pelas mu-
relações com os não índios. E, por outro lado, porque
lheres, que são as fazedoras e principais tocadoras
o chapéu foi adotado pelos outros povos indígenas
da região do Uaçá, os Galibi Marworno e Karipuna,
o que produziu transformações em seu significado.
Estes o chamam de xapo plimaje (chapeau plumage)
* Com a colaboração do Sr. Wet, George Labonté, Josette Norrino,
Manoel Labonté, Avelino Labonté, Aldiére Orlando et em sua língua nativa, o patoá, proveniente do fran-
Nilo Martiniano. cês e língua franca nesta região de fronteira.
Sergio Zacchi
cercada por uma coroa de penas de garça fixada em
posição vertical a partir da base do cesto. Desta base
também sai um suporte de cipó-timbó (Sapindaceae,
Serjania grandifolia), no qual se prende horizontalmente
uma grande coroa de penas de arara, gavião e/ou gar-
ça. A parte que cai sobre as costas é chamada de maygba
(o enfeite do chapéu) ou, em patoá, dossiel (enfeite das
costas do chapéu). O maygba é feito do talo da folha de
buriti (Palmae, Mauritia flexuosa) e composto por dese-
nhos figurativos ou grafismos. Por fim, temos o iyuwit
avudga, isto é, ‘a rede que finaliza o chapéu’, enfeite fei-
to de um trançado de algodão decorado por pequenas
penas, bolinhas de algodão ou por asas de besouro.
Os desenhos e grafismos não figurativos presentes no
maygba eram pintados tradicionalmente com extrato
de jenipapo (Rubiaceae, Genipa americana), de uru-
cum (Bixaceae, Bixa orellana) ou com tinturas feitas de
cascas de plantas (como a Mimosaceae, Inga pezizifera),
o que permitia obter três tons principais: preto, ama-
relo e vermelho. Atualmente, usam-se tintas acrílicas,
o que permite uma profusão de cores.
Os desenhos figurativos e não figurativos remetem ao
mundo visível e invisível dos Palikur. Os desenhos figu- 1 . Sr. Wet montando o Maygba
rativos são feitos, em geral, de espíritos de animais, os
wahawkri, mestres (também chamados avós, ancestrais 2 . Maik pintando o enfeite do chapéu
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As esculturas das estrelas das chuvas:
astronomia do Rio Urucauá
A astronomia no Rio Urucauá, no Uaçá, se baseia no Em tais danças, os xamãs esculpiam as constelações
percurso anual do sol na sua saída do horizonte ao na forma de bancos de madeira. Sentar-se no as-
amanhecer, passando por cinco amigáveis estrelas sento da anaconda seria, então, ver o mundo sob
das chuvas que lhe abrem caminho e cujos barcos tra- a perspectiva dessa criatura. As esculturas, de cer-
zem as benesses de cada estação das chuvas. São elas: ta forma, tornam-se uma forma de ver o mundo
do modo como o veriam as estrelas das chuvas.
Kayeb, a anaconda de duas cabeças (em Scorpius
Apresentamos aqui fotografias dessas esculturas
e Crux), que surge pela manhã no período do
das constelações feitas por Uwet Manuel Antônio
solstício de dezembro;
dos Santos, que vive em Mawihri, no Rio Urucauá.
Tavara, o martim-pescador (em Aquila), que surge
em fevereiro;
Uwakti (em Pegasus), que surge em março-abril;
Kusuvwi, o Irmão Mais Velho, um pequeno
aglomerado estelar na região das Plêiades. Kusuvwi
surge na alvorada em abril-maio e seu irmão mais
David Green
Tavara Uwakti
O trabalho destinado a Kusuvwi, o Irmão Mais Wayam e sua palmeira se elevam bem mais ao Sul,
Novo, é atingir a anaconda Awahwi, que também no leste do céu. Estando tão longe ao Sul, eles se
está prestes a comê-lo. O drama é, literalmente, cós- movem mais lentamente do que as estrelas do
mico, envolvendo o sol, as estrelas e a Via Láctea. centro do céu. O jaboti e sua palmeira marcam o
O seu relato marca o ponto mais ao norte do trajeto caminho da Via Láctea a Sudeste, tendo assim um
anual do sol através do céu, até o ponto do solstício papel importante na marcação do trajeto do Rio do
de junho, que será também o momento no qual o ca- Mundo quando ele está se virando. Marcam tam-
minho do sol se encontra com o Rio do Mundo (a Via bém o ponto no céu quando, ao final de outubro,
Láctea), ou aquilo que os astrônomos chamam de a mão de Kayeb (o Cruzeiro do Sul) reaparece, de-
centro do plano galáctico. O drama cósmico contém pois de ir para baixo da terra para buscar o jaboti.
Kusuvwi Wayam
201
A exposição no Museu do Índio
G U I A N A F R A N C ES A
AMAPÁ
PARÁ
204
No extremo Norte do país, no Estado do Amapá, moram os povos Karipuna,
Galibi, Galibi Marworno e Palikur. Somam uma população de, aproximadamente,
5 mil indivíduos. Poliglotas, boa parte deles se comunicam em vários idiomas.
Além das línguas indígenas Galibi e Palikur, utilizam o patoá como língua comum,
o português para comunicação com a população brasileira e o francês com os
vizinhos da Guiana Francesa.
O intercâmbio histórico entre índios e não índios, no baixo Oiapoque, fez com
que os quatro povos indígenas atuais da região desenvolvessem características
comuns a partir de uma mesma tradição cultural. O intenso contato não
apagou as especificidades de cada grupo, que mantém uma identidade própria,
historicamente construída, e configurações sociais, políticas e religiosas específicas.
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Xamanismo e Turé
Na cosmologia dos Povos Indígenas do Oiapoque há dois domínios de morada de
seres diversos: Este Mundo, onde estão todos os seres visíveis, e o Outro Mundo,
lugar das pessoas invisíveis e localizado sob os rios, lagos, mares, montanhas ou
no firmamento. Tais pessoas, chamadas de Karuãna, possuem forma exterior de
animais e plantas e são vistas como gente apenas pelos pajés. Estes as descrevem
como mulheres e homens muito bonitos, donos de belos paramentos, cantos e
grafismos doados aos índios através dos pajés, os únicos capazes de lidar com os
Karuãna e de transitar livremente entre os dois Mundos. Todo poder dos pajés
provém dos Karuãna a quem se associam a fim de combater as enfermidades
provocadas por outros Karuãna. Como retribuição por esse serviço devem oferecer
periodicamente aos seus espíritos auxiliares uma grande festa, com muita dança,
cantos e caxiri em abundância. O Turé é realizado com este propósito entre setem-
bro e novembro, quando as chuvas escasseiam. Inicia-se em um fim de tarde com
os cantos dos mastros, do caxiri e dos bancos entoados dentro do círculo cerimo-
nial montado para a ocasião, o lakuh, acompanhados de clarinetes que emprestam
o nome à festa. Tudo tem um sentido dentro do lakuh e todos eles referem-se ao
Outro Mundo. O mastro central é por onde descem os Karuãna que chegam pelo
ar para participar da festa e são vigiados por Uaramim, a pomba-Karuãna disposta
no topo do mastro. É também onde os Karuãna descansam quando não estão dan-
çando ou bebendo caxiri com seus anfitriões. Os bancos são os próprios Karuãna
cujas formas, pinturas e grafismos são sonhados pelos pajés antes do início dos
preparativos do ritual. Já os cantos são uma espécie de convite e homenagem às
pessoas invisíveis chamadas para participar da grande festa onde dançam e bebem
por dois dias homens, mulheres, velhos, jovens e Karuãna.
Convites
Pequenos objetos, delicados, de bambu e
algodão. Eram usados para convidar as
pessoas a se responsabilizarem na realização
de uma festa, enquanto festeiros. Quem tirava
um pedaço de algodão da vara assumia este
compromisso. Alguns têm o enfeite mamã solei
(mãe de sol, élitros de coleóptero) ou com penas
de arara recortadas (padrão dãdelo) e pinturas
com a marca de lagarta.
215
Mito da Cobra Grande
A cobra grande é um ser sobrenatural, que pode se apre-
sentar sob diversas formas, sendo chamada pelo pajé para
participar do Turé. No fim do ritual, ela é simbolicamente
reconduzida, pelos dançarinos, até a margem do rio, convi-
dada a mergulhar e voltar a seu habitat no “outro mundo”.
Narrador: Sidroni Palikur, aldeia Tawari.
Clarinetes Turé
Há uma grande variedade de instrumentos de sopro em tamanho,
número, forma das aberturas e som produzido. São confeccionados com
taquara, bambu e osso. Alguns possuem uma palheta, responsável pela
vibração do som. Muitas flautas possuem o nome da cerimônia onde
são tocadas. Algumas são decoradas por meio de incisões.
O som produzido pelos clarinetes turé, maracás e flautas de Pã, além
de outros instrumentos musicais, alcançam o mundo dos invisíveis e
pousam nas cordas do lakuh (espaço sagrado) destes seres: um aviso
de que o pajé os está convidando para os festejos do Turé, para
homenageá-los, no mundo dos humanos.
216
Caxiri
O caxiri, sempre preparado pelas mulheres, é uma bebida
fermentada indígena, um tipo de cerveja, à base de mandioca e
consumida em todas as aldeias da região. O caxiri é preparado em
grandes quantidades durante as festas indígenas e os mutirões,
ou trabalhos coletivos, na derrubada ou plantio das roças.
É também uma bebida que permite ao pajé o acesso ao mundo do
sobrenatural, durante os rituais do Turé e da tocai. Nestas ocasiões,
tanto o pote quanto o caxiri, transformam-se em “entidades
sobrenaturais”, presentes também na cosmologia indígena.
218
219
Mito da origem do mundo
Um dia ele disse: “Eu queria ver alguma coisa flutuando em cima da água
ou então um ar, que esteja bonito para respirar”. De repente, ele escutou
uma voz que disse: “Observa, olha direito para cima”. Aí ele olhou e a
água se transformou. Parauyune disse: “Que maravilha, é isso que eu
estava esperando mesmo! ”. Ele viu aquelas plantas que nasciam dentro
da água. Quando ele piscou um pouco o olho, ele viu a terra e disse:
“Que bom”. E desde então todas as coisas foram aparecendo,
se transformando, se transformando.
Um dia ele observou o sol nascendo da água. Viu também uma nuvem
sair da água. No mesmo dia a água subiu do mar. Foi subindo e indo parar
no céu. “Que bom! Que maravilha! Mas eu gostaria que a água que fica
no mar subisse e descesse”, ele disse. Então a água começou a subir.
De repente, quando chegou a uma certa altura, a água se separou:
metade foi subindo para o céu e a outra metade descendo. “O meu
desejo é que a água subisse e descesse como chuva”, disse Parauyune.
Quando ele disse isso, aí choveu, a água desceu como chuva.
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221
222
Cosmos e astronomia
223
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Plumária: o pouso dos espíritos
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Coroas radiais
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Butiê
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231
Maracás: chamando os espíritos
Todo pajé usa o maracá nas sessões de cura para chamar seus
espíritos auxiliares, os karuãna. Pajés antigos possuíam tipos
diferentes de maracá, sempre guardados no cesto paghá ou
pakará. Enquanto o pajé diagnostica a doença de um cliente,
um maracá de cabo longo é colocado na entrada da casa, do
lado de fora, como garantia. Este instrumento era muitas vezes
herdado de seus antepassados.
232
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Cerâmica: potes do Caxiri
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As pinturas corporais
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Tipos de marcas na língua patoá Carimbos Palikur
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Marcas e grafismos
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A dança dos pássaros – O Turé das Aves
(Mito de origem dos pássaros)
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Colheres de madeira
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Cuias
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Cestaria
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Esculturas
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Objetos de guerra
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Flautas de osso
Tocava-se este instrumento para anunciar o
tempo de guerrear ou para anunciar algo de
muito triste, um “arrependimento” pela morte
de um guerreiro. Os grupos inimigos usavam as
flautas para conversar entre eles e anunciar o
início dos combates. Era um código interétnico de
comunicação, uma “língua” franca, mesmo entre
grupos indígenas de línguas diferentes.
Bordunas
As bordunas ou clavas eram a arma principal
utilizada na guerra. Nos confrontos mais
acalorados, no corpo a corpo, utilizavam paus
improvisados, os saurú, amarrados no antebraço
para golpear o inimigo. Decoradas com marcas
esculpidas e pinturas, representavam animais,
como cobras e jacarés.
Escudos
Os escudos podiam ser camisas grossas de
entrecasca de árvore ou, senão, de madeira
esculpida e pintada. O escudo do peito chama-
se umaduc e o escudo que protege o antebraço,
emaducti unamiya.
257
Desafios para o futuro
258
Gestão ambiental
Em 2002 foi realizado o mapeamento participativo das terras
indígenas do Oiapoque, coordenado pela TNC – The Nature
Conservancy, APIO e comunidades, quando diagnosticaram
problemas e potencialidades. Esta iniciativa se desdobrou num
projeto de manejo de jacarés e quelônios e na formação de agentes
ambientais indígenas, envolvendo experiências na produção de
mel e extração do óleo de andiroba.
Museu Kuahi
Foi inaugurado em abril de 2007, na cidade do Oiapoque, o
Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque - Kuahi: Arte, Ciência
e Tecnologia, que além de apresentar uma exposição sobre os
artefatos indígenas, se dedicará à pesquisa e defesa do patrimônio
indígena. Trata-se de um museu efetivamente indígena, onde os
índios assumem a valorização, preservação, controle e difusão de
suas expressões culturais.
Valorização Cultural
Nos últimos anos, as comunidades indígenas da região estiveram
envolvidas em importantes projetos de valorização cultural.
Por meio da APIO, com a ajuda financeira do Ministério do Meio
Ambiente (PDPI/MMA), mestres artesãos e artesãs transmitiram
seus conhecimentos tecnológicos e dons artísticos na fabricação
de artefatos e performances rituais a jovens e pessoas interessadas
em aprender.
Uma outra iniciativa, promovida pelo Iepé e financiada pela
Petrobras Cultural, teve como objetivo formar pesquisadores
indígenas capazes de registrar, documentar e gerir seu patrimônio
cultural, por meio de oficinas realizadas nas próprias aldeias.
Também foram realizados cursos de capacitação em museologia
sob a ótica dos valores indígenas, realizados com apoio da
Universidade de São Paulo, Museu Goeldi e Museu de Arte de
Belém, para formar técnicos que atuarão no Museu Kuahi.
259
Farinha e ralador
260
261
O universo da casa
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263
Em algumas casas há pequenos altares com ícones
de santos, pomba e bandeira do Divino Espírito Santo
e troféus de futebol expostos em prateleiras.
264
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No centro da casa de um pajé,
encontra-se a tukay, lugar onde
ele recebe seus clientes doentes,
faz os diagnósticos e receita os
remédios para a cura. A sessão de
cura chama-se xitotó ou cantarola.
A tukay é um espaço fechado por
um grande mosquiteiro. Nela,
há um pequeno mastro, além do
banco zoomorfo e o pakará do
pajé. Quando chama seus karuãna
para diagnosticar uma doença,
ele canta e fuma charutos.
266
Tukay
Tenda de tecido onde o pajé, auxiliado pelos seus espíritos,
diagnostica e cura doenças. Abrigado da audiência, sentado em
banco zoomorfo, ele fuma cigarros de tawari, canta e toca maracá.
267
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Os Galibi Kali’na
269
As peças da exposição
FOTOS SERGIO ZACCHI
270
Convites para as cerimônias,
peças antigas. Povo Palikur.
acervo Museu do Índio
271
Bancos do Turé, cobras e jacaré.
Povos Karipuna e Galibi Marworno.
272
Bancos do Turé, cobra de duas cabeças.
Povo Galibi Marworno.
273
274
Clarinetes para as festas,
peças antigas. Povo Palikur.
275
276
Buzinas cuti. Povo Galibi Marworno.
Armas de caça e pesca.
Povo Galibi Marworno..
Pequenas clavas para chamar a chuva,
peças antigas. Povo Palikur.
acervo Museu do Índio
280
Escultura da Constelação Kayeb.
Povo Palikur.
Adorno dorsal, butiê.
Povo Karipuna.
282
283
Chapéu cerimonial, peça antiga.
Povo Palikur.
Acervo Museu do Índio
284
Chapéu cerimonial.
Povo Galibi Marworno.
Acervo Museu do Índio
285
Chapéu cerimonial.
Povo Galibi Marworno.
Acervo Museu do Índio
286
Chapéu cerimonial.
Povo Galibi Marworno.
Acervo Museu do Índio
287
Adornos dorsais, peças antigas. Povo Palikur. Acervo Museu do Índio
288
289
Coroas radiais. Povo Karipuna.
290
291
292
Coroas radiais. Povo Karipuna.
293
Maracá de cabo longo, usado pelas mulheres.
Povos Karipuna, Galibi Marworno e Palikur.
295
296
Maracá de cabo curto, usado pelo pajé.
Povos Galibi Kali’na e Karipuna.
297
Potes grandes para o preparo do caxiri.
Povo Palikur.
299
Peças cerâmicas contemporâneas,
copiando peças arqueológicas. Povo Palikur.
300
301
Apitos em cerâmica.
Povo Palikur.
Pote duplo tukutuku
para servir o caxiri. Povo Palikur.
303
Potes duplos tukutuku
para servir o caxiri. Povo Palikur.
304
Carimbos de madeira para pintura facial.
Povo Palikur.
306
Esculturas em madeira. Jacaré, onça e tatu.
Povo Palikur.
308
309
Escultura em madeira. A cobra grande.
Povo Palikur.
311
Cobra de duas cabeças e cobra grande
Povo Palikur.
312
Cobras de uma e tres cabeças.
Povo Palikur.
Colheres de madeira.
Povo Galibi Marworno em cima e povo Palikur, embaixo.
Colheres de madeira, cabeça de macaco e
cabeça de peixe tamuatá.
Povo Karipuna.
315
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
316
317
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
320
Representação de antigas
batalhas navais entre os Palikur e os Galibi.
322
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
323
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
324
325
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
326
327
Cuias com grafismos e desenhos figurativos.
Povo Galibi Marworno.
328
329
Paneiro. Povo Galibi Kali’na.
Paneiros. Povo Karipuna.
333
334
Cestos panier. Povo Palikur.
335
Pakará, onde os pajés guardam seus objetos de culto. Povo Palikur.
336
337
Pakará, onde os pajés guardam seus objetos de culto. Povo Palikur.
338
339
Tipitis e jamaxi. Povo Karipuna.
340
Cesto casco de tatu. Povo Galibi Kali’na.
341
Bolsa sacole. Povo Karipuna.
342
Abano. Povo Galibi Kali’na.
343
Bolsa patrone, uso masculino.
Povo Karipuna.
344
345
Peneiras para coar a massa de mandioca. Povo Karipuna.
346
347
Escultura de ave. Povo Palikur.
349
Esculturas de aves. Povo Palikur.
350
351
Esculturas de aves. Povo Palikur.
352
Escultura de ave. Povo Galibi Marworno.
353
Povo Galibi Marworno.
Povo Karipuna.
354
Povo Galibi Marworno.
Povo Palikur.
355
Banco do Turé representando a cobra Kadeicaru.
Povo Galibi Marworno.
356
Esculturas de bancos de pajé. Povo Galibi Marworno.
357
Bordunas, armas de guerra e escudo de guerra.
Povo Palikur.
359
Tambor. Povo Galibi Marworno.
360
Flautas de osso. Povo Palikur.
Acervo Museu do Índio
361
Rede de algodão. Povo Galibi Kali’na.
Bolsa de retalhos.
Povo Karipuna.
363
Colares de miçanga. Povo Karipuna.
364
365
Colares com esculturas
zoomorfas. Povo Galibi Marworno.
366
Aneis com esculturas de animais em relevo.
Povo Galibi Marworno.
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bibliografia 373
Os autores
375
LUÍS DONISETE BENZI GRUPIONI é Mestre e Doutor em Antropologia Social pela
Universidade de São Paulo. É coordenador-executivo do Iepé - Instituto de Pesquisa e
Formação Indígena, secretário da Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e pesquisador-
associado ao Cesta – Centro de Estudos Ameríndios da USP. Foi professor associado ao
curso de licenciatura indígena da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e
do curso de licenciatura indígena da USP. Foi fundador e pesquisador do Mari - Grupo
de Educação Indígena da USP (1988-2002), assessor do Ministério da Educação (1999-
2002), consultor do PNUD junto ao Ministério da Educação (2005-2006) e da Unesco para
assessorar o Conselho Nacional de Educação (CNE, 2007 e 2012). É autor do livro Coleções
e Expedições Vigiadas (1997), dos livros infantis Juntos na Aldeia (1996), Viagem ao Mundo
Indígena (1996), Memória das Palavras Indígenas (2012) e O que é o que é? O pajé e as crianças
numa aldeia Guarani (2014). É co-organizador das coletâneas A Temática Indígena na Escola
(1995), Povos Indígenas e Tolerância (2001), Formação de Professores Indígenas: repensando
trajetórias (2006) e Gestão territorial e ambiental em terras indígenas na Amazônia brasileira
(2013). É organizador dos catálogos Índios no Brasil (1992), A Carta de Pero Vaz de Caminha
(2002), Amazônia, Native Traditions (2004) e Brésil Indien: les arts des amérindiens au Brésil (2005),
Tempos de Escrita (2008). Tem diversos artigos publicados em livros e revistas, no Brasil e no
exterior. Realizou pesquisa de campo entre os Bororo (MT), Zo’é (PA), Tiriyó e Kaxuyana
(AP/PA). Foi curador de várias exposições etnográficas e fotográficas sobre os povos
indígenas no Brasil e no exterior, entre as quais se destacam: Índios no Brasil (São Paulo,
1992), Artes Indígenas na Mostra do Redescobrimento (São Paulo e Rio de Janeiro, 2000),
Amazônia, Native Traditions (Pequim, 2004), Brésil Indien (Paris, 2005), A arte da transformação:
máscaras e rituais indígenas (Brasília, 2006), Tempos de Escrita (Rio de Janeiro, 2008), Tecendo
a Arte, Tecendo a Vida (Belém, 2010; Macapá, 2011), Articulação Transfronteiriça dos Povos
Indígenas: Brasil, Guiana Francesa e Suriname (Oiapoque, 2011 e Macapá, 2012).
376
IONE HELENA PEREIRA COUTO é graduada em museologia e tem doutorado em
Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO com
a tese A Memória da Seção de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios - SPI. Em 1994
assumiu a chefia do Serviço de Museologia do Museu do Índio da Funai e em 2011
a sua Coordenação de Patrimônio Cultural. Atualmente realiza pesquisa no acervo
etnográfico do Museu do Índio, tendo publicado artigos em revistas especializadas e
organizado exposições etnográficas sobre os índios brasileiros. Tem experiência na área
de conservação preventiva, cultura material, coleções etnográficas e patrimônio cultural.
377
ESTHER DE CASTRO é mestre em Antropologia pelo Departamento de Antropologia
da USP. Desenvolve pesquisas nas áreas de Tecnologia e de Artes Indígenas. Docente de
antropologia; trabalha com os Povos Indígenas do Oiapoque desde 1994 nas atividades
de documentação de coleções, desenhos etnográficos e de assessoria antropológica para
implantação e desenvolvimento do Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque - Kuahí
através, principalmente, das coordenações de oficinas nos Cursos de Capacitação em
Museologia sob a ótica dos Valores Indígenas (USP\MPEG) e de oficinas no Programa de
Formação de Pesquisadores Indígenas (Iepé). Organizou o livro Artefatos e matérias-primas
dos povos indígenas do Oiapoque (Iepé/Museu Kuahí, 2013). É autora dos artigos “O Museu
dos Povos Indígenas do Oiapoque: um lugar de Produção, Conservação e Divulgação de
Cultura” (2001); “A coleção Povos Indígenas do Oiapoque - MAE: composição e contexto
de formação” (2008) e “Les maracás des Indiens de l’ Oyapock” (2012).
378
LESLEY GREEN é Professora Associada de Antropologia da Faculdade de Estudos
Africanos, Estudos de Gênero , Antropologia e Lingüística da Universidade da Cidade
do Cabo, África do Sul, aonde se lidera o programa de humanidades ambientais. Ela é a
editora de Ecologias Contestadas: Diálogos no sul sobre conhecimento e natureza (Human
Sciences Research Council Press, África do Sul, 2013). Ela liderou o projeto Saberes Palikur
e Arqueologia da UCT 2000-2010, e é co-autora, com David Green, do livro Conhecendo
o Dia, Conhecendo o Mundo: Encontros com saberes ameríndias em arqueologia pública
(Arizona University Press, 2013), e com Uwet Manoel Antônio dos Santos e David Green,
do livro Waramwi: A Cobra Grande (Iepé, 2013). Ela foi a organizadora do Seminário Sawyer
sobre conhecimentos, formas de saber e a universidade pós-colonial na UCT, 2009-2011,
e uma associada da PERC com o projeto sobre saberes na África, UCT (2010-11). Ela era uma
Nelson Mandela Fellow no Instituto WEB Du Bois, da Universidade de Harvard (2005-6),
e uma Rockefeller Fellow em Re-teorização nas Humanidades da Smithsonian Institution,
em Washington DC (2005), Seu trabalho atual explora a intersecção entre estudos de
ciência, descolonialidade , antropologia e filosofia no antropoceno, e seus projetos de
pesquisa atuais abrangem a gestão da pesca, a política energética, e modelação ecológica.
DAVID GREEN é cinegrafista e pesquisador que colaborou com o projeto Saberes Palikur
e Arqueologia da Universidade da Cidade do Cabo 2000-2010. Ele tem se especializado
em gravações, transcrições e traduções das narrações da comunidade indígena palikur no
Amapá, e o seu trabalho atual inclui o desenvolvimento de acervos digitais e materiais
bilíngues para a communidade palikur na Reserva Uaçá (Amapá, Brasil). Ele é o co-autor, com
a Lesley Green, do livro Conhecendo o Dia, Conhecendo o Mundo: Encontros com saberes
ameríndios em arqueologia pública (Arizona University Press, 2013), e co-autor com Uwet
Manoel Antônio dos Santos e Lesley Green, do livro Waramwi: A Cobra Grande (IEPÉ, 2013).
379
Mestre Manoel Antonio dos Santos (Wet), aldeia Kumenê. David Green
380
Lista dos Artesãos
Os objetos apresentados neste livro e expostos na exposição
“A presença do invisível: vida cotiana e ritual entre os povos
indígenas do Oiapoque” (Museu do Índio - Funai)
foram produzidos pelos seguintes artesãos e artesãs:
381
Museu do Índio - Funai Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
MINISTÉRIO
DA CULTURA
O BANCO DO DESENVOLVIMENTO
DE TODOS OS BRASILEIROS