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Aula 5º

REINO DO VALE DO NIGER

Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bamako-Le_Niger_(AOF).jpg. Acesso em 11/12/2019.

Busque Amor Mas conquanto não pode haver


novas artes, novo engenho desgosto
Para matar-me, e novas esquivanças; Onde esperança falta, lá me esconde
Que não pode tirar-me as esperanças, Amor um mal, que mata e não se vê.
Que mal me tirará o que eu não tenho. Que dias há que na alma me tem posto
Olhai de que esperanças me mantenho! Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vede que perigosas seguranças! Vem não sei como; e dói não sei porquê.
Pois não temo contrastes nem mudanças, Não Pode Tirar-me as Esperanças
Andando em bravo mar, perdido o lenho. Luís de Camões

Caros(as) alunos(as), o reino do vale do niger desenvolveu uma relação extremamente forte com o
brasil, de uma forma geral e com o nosso nordeste, de forma mais específica. As religiões afro-brasileiras
têm como origem as religiões africanas. Dentre elas, essa cultura nigeriana forneceu o “culto aos orixás e
o “culto aos voduns”, bases do “candomblé no brasil”. Para além, essa cultura apresenta uma sofisticada
arte, reconhecida mundialmente por meio das “cabeças de ifé”.
Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• perceber a influência dos povos nigerianos na construção da identidade brasileira;


• compreender a complexidade do modelo religioso, descortinando, assim, a visão simplista que possuímos das
religiões e da cultura nigeriana;
• conhecer uma das mais sofisticadas artes produzidas pelo ser humano: as cabeças de Ifé.
História da África 28
catequética, e a empregar a palavra “iorubá”
Seções de estudo em seu novo sentido, contaram com a anuência
e a adesão de quem se via como tal (COSTA E
SILVA, 2001, p. 367, grifos do autor).
1. O Reino do Vale do Níger
2. Arte do Vale de Ifé
3. As religiões do Vale do Níger

1 - O Reino do Vale do Níger


Reino do Vale do Níger ou a antiga Jene. Restos
arqueológicos de uma cidade existente desde o século III a.C.
demonstram que no período entre 750 a 1150 d.C. chegou a
contar com: 33 hectares, 20 mil habitantes, rede fluvial de 500
quilômetros e ligação com Tomboctu. Nenhum país da
Europa nesse período tinha algo similar.

Aqui convém que se abra parênteses para


explicar que nem aqueles reis nem os seus
Figura 17: Localização do Reino do Vale do Niger. Disponível em: http://www.
povos se consideravam iorubas ou iorubás. infoescola.com/africa/niger/. Acesso em: 07 dez. 2019.
Antes do século XIX, iorubá era o nome
que os hauças davam aos oiós. Talvez tenha
O Vale do Niger teve seu período de esplendor do século
sido em 1832, no livro A vocabulary of the
eyo, or aku, a dialect of western Africa, de J.
XII ao século XVI. Eram povos agricultores, produtores de
Raban, que o termo foi usado pela primeira sorgo, milhete, quiabo, feijão, inhame, dendê. Organizavam-se
vez para referir-se aos vários povos que, fundamentados na linhagem, constituída pela família extensa
vivendo no que hoje é o sudoeste da Nigéria com um antepassado comum.
e o sudeste da República do Benim, falavam Quanto à organização política, era composta de
variantes do mesmo idioma, adoravam os reis soberanos (Político/Religioso), a vontade do rei era
mesmos deuses e tinham cultura semelhante considerado o desejo de Deus. A religião era o culto aos
Membros desses diferentes grupos – abinus, orixás (divindades da natureza), herança africana presente em
auoris, egbados, egbás, equitis, ibarapas, ibolas, algumas nações do Candomblé, brasileiro.
ifés, ifoniins, igbominas, ijebus, ijexás, ilajes,
oiós, ondos, quetos –, ao viverem juntos, em
terras estranhas, a duríssima experiência da 2 - Arte do Vale de Ifé
escravidão, aproximaram-se e se reconheceram
como parentes, como “nagôs” no Brasil e
como lucumis em Cuba. O mesmo se dera
com aqueles que foram libertados dos navios
negreiros pela esquadra britânica e colocados
na Serra Leoa: identificaram-se coletivamente
como akus. Ao se estabelecerem em Lagos,
como retornados do Brasil, de Cuba ou da
Serra Leoa, encontraram grupos de línguas
semelhantes, mas de distintas procedências,
que para lá tinham sido expelidos pelas
repetidas guerras no interior. Uns e outros
verificaram que as diferenças os enfraqueciam
e as semelhanças os fortaleciam diante dos
demais grupos e sobretudo dos europeus.
Embora continuassem a ser o que eram antes
– ijexás, ijebus ou egbás – ou o que se tinham Figura 18: Cabeças de Ifé. Disponível em: http://civilizacoesafricanas.blogspot.
com/2010/04/arte-ife-uma-heranca-surpreendente-e.html. Acesso em: 07 dez.
tornado – agudás, amarôs ou “brasileiros” e 2019.
sarôs ou “serra-leonenses” –, todos passaram a
reconhecer uma identidade maior, a de iorubá Uma das maiores contribuições no campo das artes
– palavra que ganhou, na África do século pertence ao povo iorubano, da atual Nigéria, conhecido
XIX, trânsito mais amplo do que aku, lucumi como “cultura de Ifé”. Os artistas dessas obras criaram um
ou “nagô”. Quando os missionários, na esteira conjunto único e de tamanha qualidade estética que, de forma
do reverendo Samuel Crowther, que publicou
etnocêntrica, é comparada pelos ocidentais com a escultura
A Vocabulary of the Yoruba Language em
Renascentista.
1843, começaram a usar o dialeto de Oió, de
preferência a qualquer outro, para escrever Técnica e visualmente, as obras de arte da
os textos com que amparavam a atividade antiga Ife contam-se entre as mais importantes
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do mundo. Incluem cabeças de tamanho
natural e figuras humanas em terracota e 3 - As religiões do Vale do Níger
bronze, vasos de cobre quase puro – uma
façanha que, segundo os peritos, Gregos, As religiões do Vale do Níger e das sociedades em seu
Romanos e Chineses nunca conseguiram entorno tiveram uma grande influencia na formação das
levar a cabo –, esculturas de quartzo e granito, religiões afro-brasileiras. Sem sombra de dúvida, merecem
peças em cobre, pedra e cristal, e também
uma atenção especial de nossa parte.
miniaturas de deliciosas representações de
As religiões tradicionais africanas, de uma forma geral,
animais domésticos e selvagens em terracota e
pedra, exemplares dos monumentais menires possuem as seguintes características:
de granito, expressivas caricaturas de anciãos,
• Baseadas na Colonização da Terra;
figurações de doenças atrozes, monstruosas
configurações imaginárias e vívidas figuras
• Oposição: Selva (barbárie / Bem e Mal) x Campos
de animais (Disponível em: https:// (Civilização);
civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/04/ • Ordem (Nomia) x Desordem (Anomia);
arte-ife-uma-heranca-surpreendente-e.html. • Caos > Fertilidade, Prosperidade, Saúde, Harmonia
Acesso em: 07 dez. 2019). Social;
• Pragmatismo;
Conforme Maria Helena Ramos da Silva, no seu texto • Flexibilidade religiosa (Mitos e Ritos).
intitulado A matriz africana como identidade étnica e cultural na
produção plástica afro-brasileira (1999), a arte da fundição africana Possuem como elementos gerais:
do bronze, possibilitou a criação de diversas técnicas artísticas: • Espírito Criador;
A fundição do bronze na cidade Ioruba de Ifé • Espíritos Naturais;
e logo após Benin, tornou-se a expressão mais • Espíritos Ancestrais;
desenvolvida da plástica tradicional africana, • Amuletos;
influindo e criando múltiplas variantes de • Especialistas em Rituais;
fundição do bronze em outros núcleos desta • Feiticeiros.
região. No ano 1300 o soberano de Ifé, a cidade
sacralizada, enviou um de seus descendentes Vieram para o Brasil dessas regiões os grupos Sudaneses
ao reino de Benin para conhecer suas técnicas (ioruba ou nagô) – e suas divisões queto e ijexá –, jeje, fanti-
e aplicá-las em seu regresso, o estilo da arte ashanti, dentre outros. Esses grupos trouxeram o “Culto aos
em bronze do Benin é um testemunho das Orixás”, o “Culto aos Voduns” e o “Culto aos Egunguns”.
relações estreitas entre os dois reinos, mas Há uma grande variedade de espíritos naturais no culto
os Ioruba, os superaram, na técnica e na aos orixás. Exu – Legba– Eleguá – Bará, Ogum, Oxóssi –
delicadeza de sua arte (SILVA, 1999).
Odé, Erinlé – Inlé – Ibualama, Logum Edé, Otim, Ossaim,
Regiane Augusto de Mattos (2009, p. 38) esclarece a Iroco, Ocô, Orô, Oquê, Nanã, Obaluaê – Omulu, Xapanã
importância dessas obras, que representavam geralmente reis – Sapatá, Oxumarê, Euá, Xangô, Oiá – Iansã, Obá, Oxum,
e cortesões da elite africana: Iá Mi Oxorongá, Ibejis, Iemanjá, Olocum, Onilé, Ajê Xalugá,
Odudua. O orixá criador é Olorun.
As imagens em bronze, cobre e, sobretudo,
terracota produzidas em Ifé, datadas por volta
dos séculos XI ao XV, tornaram-se referências
da arte subsaariana. Essas esculturas sofreram
a influência da cultura Nok, datada do
primeiro milênio a.C. As figuras humanas,
que, provavelmente, representavam reis
e cortesãos, possuíam traços perfeitos,
harmoniosos, e eram adornadas com contas e
panos em partes do corpo. Algumas esculturas
traziam na face sinais, como se fossem linhas,
que ligavam os cabelos ao queixo.

É ainda Regiane Mattos que chama a atenção para outros


elementos dessa arte. Figura 19: Orixás. Disponível em: https://www.ceert.org.br/noticias/
liberdade-de-crenca/20561/candomble-no-brasil-orixas-tradicoes-
Existiam também cabeças de animais com
festas-e-costumes. Acesso em 07 dez. 2019.
uma roseta saliente na testa, simbolizando a
realeza, feitas em tampas para recipientes de
barro utilizados em rituais religiosos. Esses Grupos liderados por um Vodun
potes eram enterrados, em homenagem a um
Quanto aos Voduns, esses são reunidos em grupos, liderados por
determinado deus, nos palácios e nas casas, em
pátios cobertos por piso de cerâmicas e com um Vodun principal, representando um fenômeno da natureza. Os
altares circulares (MATTOS, 2009, p. 38). principais grupos são:
História da África 30
• Os Ji-vodun ou “voduns do alto”, chefiados por Sô (forma basilar criadores, ou seja, os Voduns, Orixás e Egunguns. Essa crença,
de Heviossô); trazida ao Brasil pelos africanos escravizados, possibilitou a
• Os Ayi-vodun, que são os voduns da terra, chefiados por Sakpatá; criação de algumas religiões de matriz afro-brasileira, como o
• Os Tô-vodun, que são voduns próprios de uma determinada Candomblé a Umbanda, entre outras.
localidade (variados);
• Os Henu-vodun, que são voduns cultuados por certos clãs que
se consideram seus descendentes (variados). Vale a pena
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vodum. Acesso
em: 07 dez 2019.

Os principais Voduns, que assim como os orixás (são elementos/


fenômenos da natureza e da cultura) são:

• Loko é o primogênito dos Voduns. Representado pela árvore Vale a pena ler
sagrada Ficus idolatrica ou Ficus doliaria (gameleira branca);
• Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia; COSTA E SILVA, A. da. A enxada e a lança: África
• Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos; antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2. ed., 1996.
• Sakpatá, Vodun da varíola; MATTOS, R. A. de. Historia e cultura afro-brasileira. São
• Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris. Paulo: Contexto, 2009.
• Agué, Vodun da caça e protetor das florestas;
• Agbê, Vodun dono dos mares;
• Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados;
• Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do
Daomé; Vale a pena acessar
• Aguê, Vodun que representa a terra firme.
• Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e
Arte Ifé. Disponível em: http://civilizacoesafricanas.
saídas e a sexualidade.
blogspot.com/2010/04/arte-ife-uma-heranca-surpreendente-e.
• Fa, Vodun da adivinhação e do destino
html. Acesso em: 07 dez. 2019.
Fonte: Nossas Raizes. Disponível em: https://www.nossas-raizes.com/noções/
nações%202/. Acesso em: 07 dez. 2019.
Candomblé no Brasil. Disponível em: https://www.ceert.org.
br/noticias/liberdade-de-crenca/20561/candomble-no-brasil-
orixas-tradicoes-festas-e-costume. Acesso em: 07 dez. 2019.
História da África. Disponível em: http://www.unesco.
Retomando a aula org/new/pt/brasilia/about-this-office/singleview/news/
general_history_of_africa_collection_in_portuguese_pdf_
only/. Acesso em: 07 dez. 2019.
Rio Níger. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Chegamos, assim, ao final da quarta aula. Espera-se
Rio_N%C3%ADger. Acesso em: 07 dez. 2019.
que agora tenha ficado mais claro o entendimento
de vocês sobre os povos Hauças e sua importância
com relação à diversidade e complexidade de sua
estrutura econômica, política e escravista. Vamos, então, recordar:

Vale a pena assistir


1 – O Reino do Vale do Niger
Vídeo – Atlântico negro na rota dos
Nessa seção vimos a localização e a complexidade do orixás. Disponível em: https://www.
Reino do Vale do Niger e como esse grupo influenciou na youtube.com/watch?v=5h55TyNcGiY. Acesso em: 07 dez.
cultura brasileira. 2019.
Vídeo – Arte do Reino de Ifé. Disponível em: https://
2 – Arte do Vale de Ifé
www.youtube.com/watch?v=x4lJmWtc214. Acesso em: 07
Nessa seção, percebemos a representatividade da arte dez. 2019.
de Ifé. Os vasos e as cabeças de bronze desenvolvidos a Vídeo – Culto aos Egunguns. Disponível em: https://
partir de técnicas delicadas desses artesões. Essas obras de www.youtube.com/watch?v=moas7ElL6do. Acesso em: 07
arte representavam, geralmente, as elites africanas (reis e dez. 2019.
cortesões). Simbolizavam a realeza, tradição e religiosidade Vídeo – Culto aos Voduns. Disponível em: https://www.
desses grupos. youtube.com/watch?v=ggkYM1iry9M. Acesso em: 07 dez.
2019.
3 – As religiões do Vale do Níger Vídeo – Quem são os orixás?. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=dNV5FoE-rvY. Acesso em:
Na terceira seção, a religião do Vale do Níger é abordada.
07 dez. 2019.
Vimos sobre a crença nos espíritos ancestrais, naturais e

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