POVOS APIAKÁ, Hercules Florence
Na manhã de 11 de abril de 1828, um grupo de
viajantes estrangeiros desembarcou na margem
esquerda do rio Arinos, no atual Mato Grosso. Ali
viviam os Apiaká que receberam os visitantes
alegremente.
O desenhista francês Hercules Florence registrou
em aquarela um grupo de Apiaká. Seus registros
artísticos e também textuais daquele povo indígena
constitui uma preciosa fonte para os estudos
antropológicos e etnográficos.
O artista e sua obra
O francês Hercules Florence (1804-1879) chegou ao
Brasil em maio de 1824 e nunca mais deixou o país.
Em 1828, integrou-se como desenhista na
Expedição Langsdorff que percorreu o interior do
Brasil para coletar espécimes da flora e da faunda, e
registrar os costumes das populações indígenas.
As gravuras de Florence primam pelo rigor
cientifico. Seus registros dos costumes indígenas
constituem o único documento sobre tribos
indígenas extintas ou descaracterizadas pela
colonização.
Florence também fez mapas, desenhos detalhados
da flora e da fauna e até criou uma forma de
registrar o som emitido pelos animais e pássaros.
Os povos Apiaká
Segundo Florence, os Apiaká “eram de índole
pacífica, muito dóceis, de estatura regular e bem
feitos de talhe”.
Viviam nus e alguns tinham o corpo avermelhado
pelo urucum. Homens e mulheres pintavam o rosto:
uma faixa feita de jenipapo que cobria a face e a
boca – era marca distintiva do grupo.
Os homens cobriam o órgão genital com folhas de
pacova e marcavam o rosto e o corpo com desenhos
em que predominavam linhas paralelas, quadrados
e ângulos retos. Alguns tinham pernas e braços
inteiramente pintados de jenipapo. As
mulheres também pintavam o corpo, do quadril
para baixo, com linhas retas e pontos.
O modo de vida dos Apiakás
A habitação dos Apiaká era formada por uma única
grande choça, coberta de sapé, em que todos os
índios moravam, cerca de 80 pessoas segundo
Florence. No interior, havia um grande número de
redes de dormir, suspensas umas sobre as outras.
Florence relata que os Apiaká desconheciam a ideia
de propriedade e tinham um forte sentimento de
igualdade. As plantações, colheitas, produtos de
caça e pesca, as pirogas, esteiras e utensílios, em
geral pertenciam a todos. Apenas objetos pessoais
como o arco, as flechas e os ornamentos eram
considerados como propriedade particular.
Alimentavam-se dos peixes apanhados nas
armadilhas que fixavam no leito do rio. Com as
pirogas carregadas de peixe, voltavam à maloca e
os entregavam para as índias prepararem o
alimento. Os peixes eram assados, secos e depois
socados para virar farinha que era guardada entre
os mantimentos.
As mulheres preparavam, também o camuí, bebida
feita de milho. Depois de socado no pilão, o milho
era cozido em panela de cerâmica.
Os Apiaká eram hábeis na cestaria. Os cestos, as
joeiras e as peneiras eram trançados e
arredondados com perfeição. Fabricavam, também,
cerâmica e suas vasilhas se caracterizavam pela fina
espessura. Sabiam tecer panos de algodão que
empregavam em redes, braçadeiras e faixas sem,
contudo, usá-los como vestuário.
Os Apiaká hoje
O território tradicional dos Apiaká compreendia a
região banhada pelos rios Arinos e Juruena, nos
atuais Mato Grosso e Amazonas, estendendo-se ao
curso do rio Teles Pires, no Pará. Essa área é
chamada de Pontal do Mato Grosso ou Pontal dos
Apiaká.
Não se sabe ao certo quantos índios compunham a
população Apiaká no início do século XIX, quando
foram visitados pela expedição Langsdorff. Mas os
índios sofreram com a expansão das frentes
extrativistas, especialmente da borracha, e foram
forçados a se deslocarem.
Apesar dos massacres, das epidemias, da
catequização e do abandono governamental, os
Apiaká resistiram como coletividade.
Em 2009, existiam cerca de 200 Apiaká vivendo na
Terra Indígena Munduruku, na Terra Indígena
Apiaká-Kaiabi e em cidades e vilas no norte do
Mato Grosso, Pará e Amazonas.
Os Apiaká reivindicam a regularização de parcela do
Pontal do Mato Grosso, seu território tradicional e
de onde foram expulsos, na qual afirmam existir um
grupo de parentes isolados em uma região de mata
fechada.
 POVOS APIAKÁ, Hercules Florence

“Maloca dos Apiaká no rio Arinos”, Hercules Florence, aquarela, 51 cm x 40,8 cm, 1828.

A partir das informações dadas pelo texto e observando a aquarela de Hercules Florence, responda
as questões abaixo.

1. As pinturas corporais eram exclusivas do sexo masculino? Justifique usando exemplos da imagem.

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2. Como são os desenhos dessas pinturas?

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3. Como elas poderiam ser aplicadas no corpo? Os índios usariam algum instrumento?

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 POVOS APIAKÁ, Hercules Florence

4. Que plantas eles usavam para obter a cor preta e a vermelha?

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5. Além da pintura, que outro enfeite corporal eles usam?

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6. Podemos dizer que os Apiaká não usavam roupas porque desconheciam a tecelagem? Justifique.

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7. O que estariam fazendo as duas mulheres à direita?

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8. O que poderia conter nos dois grandes cestos próximos a elas?

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9. Que técnicas conhecidas pelos Apiaká essa gravura mostra?

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10. Ao fundo se vê as águas de um rio. Qual a importância do rio para o modo de vida dos povos
indígenas?

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 POVOS APIAKÁ, Hercules Florence
RESPOSTAS
1. Não, as mulhres também usavam pinturas
corporais como mostram as pernas e rostos das três
mulheres.
2. São linhas, pontos, quadros e faixas.
3. Podiam aplicar a tinta com as mãos e/ou com
pedaços de madeira.
4. O jenipapo para a cor preta, e o urucum para o
vermelho.
5. Penas na cabeça, plumas, colares de dente de
animal ou de concha fluvial, pulseiras.
6. Não. Eles conheciam a tecelagem de algodão e
teciam panos de algodão que empregavam em
redes, braçadeiras e faixas.
7. Estão socando o milho no pilão.
8. Possivelmente é o milho moído.
9. Cestaria, cerâmica, tecelagem.
10. O rio é essencial para a vida indígena. Além do
alimento obtido na pescaria, o rio é via de
transporte e fornece a água necessária para
alimentação e higiene.
Outras maneiras de explorar o tema
O estudo dos povos indígenas deve promover duas
percepções nos alunos: de que são povos que
possuem alguns traços culturais e histórias em
comum, mas também diferenças. Neste sentido, é
interessante estimular os alunos a realizarem
pesquisas que permitam observar semelhanças e
diferenças entre as etnias como, por exemplo:
padrões de pinturas corporais, arte plumária,
formato das aldeias e das malocas, festas e rituais.
Veja os artigos:
Outros recursos
Índios Apiaká, de Hercules Florence: um olhar sobre a cultura indígena. Ensinar História.
https://ensinarhistoria.com.br/indios-apiaka-de-hercules-florence-um-olhar-sobre-a-cultura-indigena/
Indígenas brasileiros retratados por um holandês. Ensinar História.
https://ensinarhistoria.com.br/indios-brasileiros-retratados-por-um-holandes/
Arte indígena – quebra-cabeça (jogo digital). Ensinar História.
https://ensinarhistoria.com.br/jogos/puzzle-arte-indigena/
“Pinturas corporais indígenas carregam marcas de
identidade cultural”. Fundação Nacional dos Povos
Indígenas. Ministério dos Povos Indigenas. 29 set
2022.
https://www.gov.br/funai/pt-
br/assuntos/noticias/2022-02/pinturas-corporais-
indigenas-carregam-marcas-de-identidade-cultural
“Pinturas corporais indígenas são marcas de
identidade cultural. UFPA, 15 jan 2019.
https://portal.ufpa.br/index.php/ultimas-
noticias2/9573-pinturas-corporais-indigenas-sao-
marcas-de-identidade-cultural
Outra possibilidade de aprofundamento do tema, é
trazê-lo à atualidade buscando informações e dados
censitários sobre as etnias indígenas. De acordo
com o IBGE, a população indígena no Brasil era de
900 mil habitantes em 2010, cresceu 66% chegando
a 1,4 milhão em 2022. No Censo de 2010, o Brasil
registrava 305 etnias falantes de 274 línguas. A
questão de demarcação das terras e dos conflitos
com fazendeiros, madeireiros e mineradores pode
suscitar amplos debates em sala de aula.
O site “Povos Indígenas no Brasil”, parte do portal
do Instituto Socioambiental (ISA), traz informações
atualizadas sobre os povos e os temas que
envolvem questões indígenas. Pode-se pesquisar
por estado, por população e por família linguística.
Em “Buscar”, há uma ampla lista de povos
indígenas: http://pib.socioambiental.org/pt?busca
Finalmente, é interessante aproximar a temática
indígena dos alunos estimulando-os pesquisar se há
descendentes indígenas na família e conhecidos.
Motivá-los, também, a buscar informações sobre
indígenas que, no passado, habitavam a cidade ou o
estado.