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ARTE VER CAPÍTULO

CAP. 01
A EXPOSIÇÃO DA FIGURA HUMANA NAS ARTES Escaneie com o
leitor de QR
VISUAIS EM DIFERENTES CONTEXTOS HISTÓRICOS Code da busca de
(DO CLÁSSICO AO BARROCO) capítulos na aba
Conteúdo
Exportado em: 30/03/2023

SLIDES DO CAPÍTULO
Para começar e refletir
Ao longo da História, o ser humano demonstrou a necessidade de fazer registros do

cotidiano, dos rituais e também de si. É possível encontrá-los nas manifestações pré-
históricas da arte rupestre ou do grafite, por exemplo. A seguir, vamos analisar uma cena
muito comum em nosso cotidiano.

shutterstock.com

1.
Como você descreveria essa imagem? O que está acontecendo na cena?

2.
Qual seria o motivo de olhar-se refletida no espelho?

3.
Quais são as possíveis ideias ou mensagens expressas pela posição do corpo e pelo rosto?

4.
Por quais razões a mulher escolheu esse ambiente para se fotografar? Por que ela segura o
celular nessa posição?

5.

1
Em quais situações você costuma estar diante de um espelho?

6.
Você costuma posicionar-se em frente ao espelho segurando um celular? Em que lugares?
Por quê?

De corpo e mente

A percepção do corpo

Ilustração de uma mulher se olhando no espelho.


shutterstock.com

É muito comum pensar que a imagem que fazemos do nosso corpo nada tem a ver com

nossa mente. Entretanto, a ideia que fazemos de nós mesmo é diferente do que realmente

somos. Isso acontece por causa da percepção que temos sobre nós.

Em outras palavras, a maneira como percebemos a nossa imagem está relacionada a uma

imagem que formulamos ou idealizamos em nossa mente sobre quem nós somos: uma

interpretação que fazemos de nossa figura.

Assista a seguir ao vídeo Retratos da real beleza, de uma campanha desenvolvida por uma

marca de higiene e cosméticos em 2014, que discute a questão da percepção de algumas

mulheres sobre elas mesmas e a de pessoas que as conheceram momentos antes.

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https://www.youtube.com/watch?v=ABups4euCW4

O que aconteceu neste vídeo? Qual é a mensagem passada por ele?

Você deve ter percebido que o profissional em retratos falados do FBI tinha a intenção de

criar imagens realistas de acordo com o que cada um(a) descrevia sobre si ou sobre outras

pessoas e que o resultado foram imagens da mesma pessoa com distinções relevantes.

No caso da fotografia da mulher na página anterior, a intenção é um pouco diferente, pois,

além de ela ser a autora do retrato, é possível que, ao se fotografar em uma academia, ela

esperasse ter sua imagem (corpo e mente) atrelada ao bem-estar, à esportividade. Apesar
dessas diferenças, vemos dois casos evidentes de percepção da figura humana.

O ser humano pode se expressar de diversas maneiras e ser tema dentro de variadas

linguagens artísticas, como o teatro, a dança, a música e as artes visuais.

Neste capítulo, vamos estudar as obras de artes visuais, na escultura e na pintura, para

entender como a representação do corpo e sua relação com o período histórico e a

percepção e intenção de artistas podem direcionar as produções artísticas.

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Roda de conversa:
o vídeo Retratos da real beleza
 PRÁTICA ATIVA

Agora, dividam-se em grupos com cinco ou seis colegas e conversem sobre


algumas questões:

• Vocês gostaram do vídeo? Quais partes chamaram mais atenção?

• Que sensações o vídeo causou em vocês?

• Como vocês imaginaram que o vídeo acabaria? Vocês esperavam por esse
desfecho?

• Por qual motivo uma empresa de produtos de beleza produziu uma


propaganda como essa? De que forma esse vídeo pode fazer as pessoas se
relacionarem melhor com os produtos da marca?

Representações do corpo humano

Ilustração de criança desenhando apoiada no chão.


shutterstock.com

A representação da figura humana pode ser observada em muitos grupos sociais, mas a

percepção – ou o olhar – dirigido a ela pode variar bastante de acordo com o contexto
social em que está inserida. Portanto, podemos dizer que a representação da figura humana
se relaciona com sua cultura e com seu período histórico.

Para continuar a discussão sobre a representação do corpo nas artes visuais, vamos,
primeiro, fazer um experimento parecido com a fotografia que vimos na página de abertura
deste capítulo.

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Explorando:
o corpo representado
 PRÁTICA ATIVA

Questão 01

Em uma folha de papel sulfite tamanho A4, faça um desenho, a partir de sua
memória, de uma figura humana de corpo inteiro. Você pode escolher o

gênero, a posição, as roupas, os acessórios e as expressões. Você pode fazer o


desenho no estilo que desejar.

Depois, analise seu desenho:

• Quais elementos estruturais você incluiu no desenho (cabeça, tronco e


membros)?

• Quais características adicionais você colocou no desenho (olhos, boca,


orelhas, nariz, dedos, adereços etc.)?

• Há algum contexto que defina o lugar (paisagem ou cenário) e o tempo


(passado, presente ou futuro) nesse desenho?

• Compare com um(a) colega: quais são as semelhanças e as diferenças entre


os desenhos de vocês?

Diferentes maneiras de retratar o corpo


Agora que observamos nossas produções, vamos ver como era representada a figura

humana em outros contextos históricos e como a percepção de grupos sociais podem variar
sobre o mesmo assunto.

A seguir, vamos conhecer esculturas com a representação de figuras femininas. Muitas delas

são datadas do período pré-histórico e foram denominadas pelos arqueólogos como


Vênus junto ao nome do local onde foram encontradas. O uso do nome Vênus é uma
referência à deusa romana do amor e da fertilidade, que representava o ideal de beleza
feminina. Na Grécia Antiga, era chamada de Afrodite.

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De olho na imagem: a deusa Vênus

Observe duas esculturas com o nome de Vênus, mas produzidas com a diferença

temporal de 20 mil anos. A Vênus de Milo é uma escultura muito grande, mais alta
que maioria das pessoas adultas. Já a Vênus de Willendorf é bem pequena, mais ou
menos do comprimento de uma caneta.

Vênus de Willendorf , calcário oolítico, datada de 22 000 a 24


000 a.C. Dimensões: 11,4 cm × 5,0 cm × 5,8 cm. Museu de
História Natural de Viena, Áustria.
Descoberta no sítio arqueológico do Paleolítico situado perto
de Willendorf, na Áustria, em 1908, pelo arqueólogo Josef
Szombathy.
Wikimedia Commons

Vênus de Milo , mármore de provável autoria de Alexandre de


Antioquia, datada de cerca de 130 a.C. Altura: 203 cm. Museu
do Louvre, Paris, França.
John_Silver / shutterstock.com

• Você conhece alguma dessas imagens? Em que momento entrou em contato com
elas?

• Quais características em comum você percebeu nas duas esculturas? Quais


diferenças você reparou entre elas?

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• Haveria algum motivo para a criação dessas estátuas nas sociedades em que
foram produzidas? Você acha que elas tinham de cumprir alguma expectativa?

• Com base no período em que foram produzidas, como você imagina que a
sociedade da época se comportava? Quais eram seus costumes?

A Vênus de Milo é uma escultura que foi elaborada com a intenção de fazer uma

representação naturalista do corpo humano, pois, nesse período da História, na Grécia


Antiga, a sociedade prezava pelo pensamento racional.

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Hermes com o infante Dionísio, escultura de mármore de
Praxíteles, cerca de 330 a.C. Altura: 215 cm. Museu Arqueológico de
Olímpia, Grécia. Foto de 2006.
Estátua grega do período Clássico.
Wikimedia Commons

No caso do uso do nu nas representações gregas, tanto em esculturas como em pinturas, a


intenção era reforçar o interesse grego de representar a perfeição da natureza, o racional,

além das convenções sociais. Cenas do cotidiano, acontecimentos históricos e, em especial, a

mitologia, são os principais temas das obras de arte gregas.

A arte grega deste período é dividida em três momentos: Arcaico (VII a.C. a V a.C.), Clássico
(V a.C. a IV a.C.) e o Helenístico (IV a.C. a II a.C.). A Vênus de Milo pertence ao terceiro

momento, o período Helenístico.

O período Clássico é um dos períodos que mais influenciaram a produção artística

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ocidental. As figuras humanas se apresentam em poses que sugerem movimento e ação

contidos, sem expressão, e há preocupação com a perfeição anatômica (influência dos


cânones da arte).

 Glossário
Anatômico: refere-se ao corpo ou o que é físico.

Os cânones da arte são regras que estabelecem as proporções ideais da figura

humana. O escultor ateniense Policleto (séc. V a.C.) foi quem fez o primeiro tratado
sobre como representar a figura humana ideal. Para atingir a beleza, o corpo deveria

apresentar sete vezes o tamanho da cabeça, além de outras proporções que deveriam

estar presentes no corpo humano.

Monumento ao imperador romano Constantino I, escultura de


bronze fundida em 1937. Localizada em frente à basílica de San
Lorenzo Maggiore, em Milão, Itália. Foto de 2018.
O monumento é cópia moderna segundo o modelo do antigo,
original do século IV, mantido na igreja de San Giovanni in
Laterano, em Roma, Itália.
Oleg Proskurin / shutterstock.com

A arte romana herdou características formais da arte grega, como o equilíbrio, a simetria,

a dimensão do corpo em relação à cabeça, dentre outros cânones, mas a arte foi adaptada

às necessidades temáticas. Contudo, enquanto a obra grega procurava a beleza da


fisionomia ideal, os romanos utilizavam características físicas reais, já que seus temas eram

os grandes imperadores, a política, a guerra, o cotidiano e a religião.

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Assim, pode-se afirmar que a arte era uma forma de propaganda do Império Romano, que
reforçava a ideia do poder daquela civilização e buscava eternizar a imagem daqueles que

eram representados nas obras.

Mas e a Vênus de Willendorf? A pequena estatueta ganhou esse nome por acreditar-se que

suas formas arrendondadas talvez fossem o ideal de beleza naquela época e também pela

hipótese de a escultura ser a representação de uma deusa. Diante disto, Vênus, por ser o
nome da deusa da beleza na mitologia romana, foi escolhido para batizar o artefato.

Agora é com você

Questão 01

No contexto da Grécia Antiga, qual era o principal conceito que as esculturas

transmitiam?

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Saiba mais: Antiguidade Clássica

Você sabe o que significa o termo Antiguidade Clássica? Refere-se ao período

histórico que foi base para conceber o modo como ainda hoje vivemos e

interpretamos o mundo. As civilizações grega e romana antigas são os grandes


exemplos disso, pois delas herdamos o nosso modo de pensar (as ciências e a

filosofia, de um modo geral); a morfologia de muitas palavras; conceitos de

organização política, como a democracia e a república; e tantos outros aspectos.

Grécia Antiga

Racional como a filosofia, a arte da Grécia Antiga buscou a perfeição na


representação da figura humana. Para algo ser perfeito e belo, havia a necessidade

de seguir algumas regras, como equilíbrio e proporção. Assim foram estabelecidos os

cânones da arte. A escultura a seguir é um grande exemplo desse conjunto de regras.

Doríforo, cópia de mármore datada de 120 a.C. a 50 a.C. Foto


sem data. Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, Itália.
Wikimedia Commons

O original de Doríforo foi feito de bronze em cerca de 440 a.C., mas agora está

perdido. O corpo da estátua tem sete vezes o tamanho da cabeça, ideal de proporção
de Policleto.

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Assista

Para conhecer mais algumas estátuas pré-históricas de Vênus, assista ao vídeo As


estatuetas de Vênus.

Outras formas de representação do corpo humano

Linhas e formas simplificadas

Como vimos, na história da humanidade, nem sempre a arte representou o ser humano com

a preocupação de ser uma imagem realista e perfeita. É possível perceber isso na escultura
da Vênus na página anterior, mas também ao observarmos a arte rupestre ou a arte egípcia

na pintura.

Detalhe do Papiro de Hunefer , manuscrito em papiro, 1 275 a. C.


Dimensões: 39 × 550 cm. Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
Wikimedia Commons

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Pintura rupestre no sítio arqueológico Tassili n'Ajjer, na Argélia.
shutterstock.com

 Glossário
Papiro: manuscrito antigo gravado sobre as folhas da planta de mesmo nome.

As imagens foram produzidas nesse estilo não por falta de habilidade em reproduzir a
figura humana, mas, sim, por causa da intenção e da percepção de como ela deveria ser

representada. Em outras palavras, não havia uma preocupação de que houvesse uma
imagem com uma perspectiva de volume e proporções reais simuladas na pintura.

No caso da pintura egípcia, prezava-se pelas linhas e formas simplificadas, porém


evidenciando as partes mais importantes, de maneira que fosse possível reconhecer a

personalidade representada. Na pintura rupestre da Argélia, há cenas do cotidiano, como o


cuidado de crianças, o trabalho para a sobrevivência e a caça.

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Fotografia do detalhe do mosaico na igreja e, posteriormente,
mesquita de Santa Sofia, em Istambul, na Turquia. Foto de 2013.
Imperatriz e imperador de Constantinopla (atual Istambul),
representados com coroa (poder político) e auréola (poder
espiritual), oferecendo a cidade e a igreja para a Virgem Maria, com
o menino Jesus no colo (entronado). No centro da imagem,
descrições nas paredes e presença de vários símbolos que reforçam
o poder teocrático do Império Bizantino.
Dreamer Company / shutterstock.com

Assim como essas produções que acabamos de observar, nas obras produzidas na Idade
Média vemos representações com formas que não prezavam pela reprodução do natural.

Além disso, em relação à arte egípcia e à arte da Idade Média, há algumas convenções
como: frontalidade, posicionamento dos pés e das mãos e perspectiva hierárquica.

O objetivo dessas obras era o de expressar a autoridade do imperador; por isso, eram
consideradas arte oficial.

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Detalhe de As virgens prudentes, catedral de Magdeburg,
Alemanha, construída entre 1207 e 1363. Foto sem data.
A escultura do período gótico dependia da arquitetura, utilizando
simbolismos de fácil reconhecimento das figuras bíblicas
representadas. Com construções mais altas, havia uma tendência de
representar o corpo humano de forma mais alongada e vertical.
Chris 73 / Wikimedia Commons

Como o poder político e religioso estavam atrelados, os valores da Igreja também se

refletiam na arte. Portanto, é comum ver os imperadores representados como santos ou


divindades.

Também não havia a representação do corpo nu, evitando a sensualidade que os corpos

reais pudessem transmitir; portanto, ele deveria estar coberto e preservado para abrigar a
alma – caso contrário, seria considerado manifestação do pecado.

A arte no período medieval se divide em Arte Bizantina e Arte Islâmica – relativas à


civilização oriental – e Arte Românica e Arte Gótica – relativas à civilização ocidental.

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Assista

Para saber mais sobre a Arte Românica e a Arte Gótica, o momento histórico de seu

surgimento e suas personagens, assista ao vídeo Arte Medieval: Gótica.

Relembre: Idade Média

Durante o período histórico da Idade Média (do século V ao XV), desenvolveu-se, na

Europa ocidental, o feudalismo; na Europa oriental, o Império Bizantino; e, na


Península Arábica, no norte da África e na Península Ibérica, o Império Árabe (ou
Islâmico).

Com a crise instalada no fim do Império Romano, o imperador Teodósio, no ano de


395, decidiu dividir o Império em dois: Império Romano do Ocidente, com a capital
em Roma, e Império Romano do Oriente, com a capital em Constantinopla. O lado

ocidental do Império foi definitivamente tomado pelos bárbaros em 476.

Já a parte oriental resistiu e se manteve unificada até 1453, desenvolvendo uma


cultura com características próprias, tendo como base a mistura de elementos
romanos e orientais: a civilização bizantina. Assim como no Egito Antigo, a arte do

Império Bizantino tinha o objetivo de expressar a autoridade do imperador; por isso,


era considerada arte oficial.

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Agora é com você

Questão 01

Observe a imagem a seguir.

Altar frontal de Durro , têmpera em madeira, século XII.


Dimensões: 98 × 129,3 × 6,5 cm. Museu Nacional de Arte
Catalunha, em Barcelona, Espanha. A pintura costumava estar na
Capela de São Ciro e Santa Julita.
Wikimedia Commons

Com base no assunto explorado até o momento, quais características da arte produzida
no período medieval estão presentes no afresco da imagem?

Acesse

A Arte Islâmica tem como uma de suas principais características evitar a arte
figurativa, tanto da forma humana quanto dos elementos da natureza. Isso fez com

que esse estilo criasse e oferecesse outras contribuições importantes para a História
da Arte. Para saber mais sobre a Arte Islâmica, acesse a página História das Artes.

A perfeição e a emoção

Retorno à racionalidade

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As transformações políticas, econômicas e sociais entre os séculos XV e XVI tiveram um

grande impacto nas artes. O Renascimento comercial e urbano fez surgir uma nova classe
social, a burguesia. Com o movimento da Reforma Religiosa e os avanços nas ciências, a
população europeia, aos poucos, abandonou a mentalidade teocentrista, substituindo-a pelo

antropocentrismo, na qual o ser humano passa a ser o centro de interesse. Neste capítulo,
vamos conhecer as influências desse pensamento na arte.

De olho na imagem

Observe as obras a seguir.

Madona Litta, ou A Virgem e o Menino, têmpera sobre tela


de Leonardo da Vinci, cerca de 1491. Dimensões: 42 cm × 33
cm. Hermitage, São Petersburgo, Rússia.
Técnica do sfumato, com várias camadas de tinta para
reproduzir a textura da pele, além de equilíbrio e simetria.
Wikimedia Commons

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O rapto das sabinas , escultura de mármore de Juan de Bolonia
(Giambologna), 1579. Altura: 410 cm. Loggia dei Lanzi,
Florença, Itália.
Três corpos em uma única peça de mármore apresentam
simetria e perfeição na representação dos músculos.
Villorejo / shutterstock.com

• Você poderia apontar as diferenças e semelhanças entre o mosaico da mesquita


de Santa Sofia, na página anterior, e a Madona Litta?

• Que diferenças você consegue perceber entre As virgens prudentes, da catedral de


Magdeburg, na página anterior, e a escultura O rapto das sabinas?

• Agora, observe novamente a Afrodite de Siracusa e a Vênus de Milo, que vimos


neste capítulo. Você consegue perceber semelhanças com a escultura O rapto das
sabinas? Quais? Por que motivos elas apresentam essas características em
comum?

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Dica

Veja a escultura O rapto das sabinas de outros ângulos assistindo à reportagem (em

inglês). Assim, fica mais fácil observar os detalhes da obra e analisá-la.

Depois de observar as obras, é possível perceber que O rapto das sabinas e Madona
Litta exploram o volume e o movimento de maneira bem diferente da do período medieval.

Isso acontece porque os artistas e pensadores da época em que foram produzidas, que se
autodenominavam renascentistas, aplicavam em suas obras os valores da Antiguidade
Clássica, desprezando as produções e ideologias da Idade Média, período da História

chamado por eles de Idade das Trevas.

Desse modo, a representação do corpo humano deixava de ser feita de forma mais
alongada, rígida e verticalizada; voltava-se a valorizar a forma natural e a perfeição
anatômica, características semelhantes às esculturas Afrodite de Siracusa e a Vênus de Milo.

A arte do Renascimento apresentava características como: racionalidade, rigor/método

científico, ideal humanista, reutilização das artes greco-romanas.

 Glossário
Ideal humanista: refere-se ao Humanismo, valorização do ser humano por meio da
generosidade, compaixão, racionalidade e preocupação com a condição humana. O
movimento buscou reconhecer as capacidades e o saber crítico voltado para desenvolver as
potencialidades humanas.

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Imagem estilizada do Homem vitruviano, lápis e tinta sobre papel
de Leonardo da Vinci, 1492. Dimensões: 35 cm × 26 cm. Gallerie
dell'Accademia, Veneza, Itália.
shutterstock.com

O estudo Homem vitruviano, feito por Da Vinci, foi inspirado nos cânones da arte e tinha
como fim representar o corpo humano com perfeição, harmonia, beleza e equilíbrio.

Leonardo da Vinci se baseou nos estudos do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, o
Vitrúvio. A obra deixa muito explícita a preocupação com a representação do corpo humano
de forma perfeita, técnica (também com o desenvolvimento da representação da

perspectiva) e racional, o que é típico do período renascentista.

Os principais temas dos artistas da época eram a mitologia greco-romana e retratos


(financiados pela rica burguesia). Contudo, a Igreja Católica ainda tinha grande poder

ideológico e econômico, sendo uma das principais mecenas da época, de forma que foram
produzidas muitas obras com temática religiosa.

 Glossário
Mecenas: pessoas ricas e poderosos comerciantes, príncipes, condes, bispos e banqueiros
que financiavam e investiam na produção de arte como maneira de obter reconhecimento
e prestígio na sociedade. O ato de patrocinar e investir em arte e cultura é conhecido como
mecenato.

21
Acesse

Veja este vídeo, de aproximadamente sete minutos, que exemplifica os cânones


teorizados por Vitrúvio e desenhados por Leonardo da Vinci na obra Homem
vitruviano.

Exagero e rebuscamento na arte

Mais tarde, entre os séculos XVII e XVIII, a Igreja Católica passava pelo enfraquecimento
religioso provocado pela Reforma Religiosa, e a reação da entidade foi propor a
Contrarreforma, que incluía ações para barrar o crescimento de outras religiões cristãs.

Nesse contexto, surgia, na Europa e na América, o Barroco. Vamos estudar, a seguir, como
a representação do corpo sofreu mudanças nesse período.

De olho na imagem

Observe duas esculturas de Davi, uma personagem bíblica.

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Davi, escultura de mármore de Michelangelo Buonarroti, cerca
de 1501-1504. Dimensões: 517 cm × 199 cm. Galleria
dell'Accademia, Florença, Itália.
Shoriful Chowdhury / shutterstock.com

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Davi, escultura de mármore de Gian Lorenzo Bernini, cerca de
1623. Altura: ​170 cm. Galleria Borghese, Roma, Itália.
Wjarek / shutterstock.com

• Que diferença é possível reparar entre as duas esculturas?

• Quais são as semelhanças?

• O que a expressão de cada uma das esculturas transmite? Quais sensações você
teve ao observá-las?

Dica

Veja as esculturas de Davi, de Michelangelo Buonarroti, e Davi, de Gian Lorenzo

Bernini, por outros ângulos, assistindo às reportagens (em inglês). Assim, fica mais
fácil observar os detalhes das obras e analisá-las.

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Ambas as obras são representações de Davi, que, segundo o Antigo Testamento, foi o

primeiro rei de Israel e matou o guerreiro filisteu Golias com uma funda.

Você deve ter observado que o Davi de Bernini apresenta elementos que causam a sensação

de movimento, ação e emoção de um determinado momento, quase um exagero emocional.

O Davi de Michelangelo, a obra renascentista, passa uma sensação de serenidade e calma.

O racionalismo e a tranquilidade da arte renascentista foram sendo contaminados pela

emoção, pelo exagero e pelo rebuscamento da arte barroca. Nesse contexto, a arte teve um
papel doutrinador; assim, necessitava afirmar, por meio da emoção, o poder e o prestígio da

Igreja.

 Glossário
Funda: arma geralmente feita com uma corda, com a qual é possível lançar objetos, como
pedras.

Apolo e Dafne, escultura de mármore de Gian Lorenzo Bernini,


cerca de 1622-1625. Altura: 243 cm. Galleria Borghese, Roma, Itália.
Escultura com equilíbrio, seguindo o cânone da proporção dos
corpos, mas com exagero emocional.
Luxerendering / shutterstock.com

Apesar de as produções do Barroco se voltarem, a princípio, para a reafirmação da religião,

podemos observar que as técnicas para a representação do corpo humano, desenvolvidas


no Renascimento, firmaram-se nessa escola artística. O corpo humano continuava sendo

retratado com perfeição, tanto na pintura quanto na escultura.

No entanto, no Barroco, as obras de arte são carregadas de emoções, olhares e gestos

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exagerados, praticamente teatrais. A pintura também usava o contraste das cores e da

técnica do claro-escuro (chiaroscuro) para acentuar a dramaticidade.

A ceia em Emaús, óleo sobre tela de Caravaggio, cerca de 1598.


Dimensões: 141 cm × 175 cm. National Gallery, Londres, Inglaterra.
Wikimedia Commons

Essa técnica consiste em usar cores fortes, com pontos luminosos em contraste com o fundo
escuro, acentuando a dramaticidade das obras. Um dos primeiros artistas a utilizar o

método foi Caravaggio (1573-1610).

Em A ceia em Emaús, além da técnica claro-escuro (chiaroscuro), é possível observar as


expressões de espanto das personagens ao verem Jesus e a posição dos corpos ‒ uma pessoa

de costas, e outra quase tocando o observador da obra ‒, que parecem nos convidar a

participar da cena.

Ademais, a posição da personagem de braços abertos consegue retratar com perfeição a

sensação de profundidade do quadro, uma herança da técnica renascentista.

O fim da simetria e o uso de linhas curvas deixam evidentes as características da

representação da forma humana, carregada de emoção, tanto na pintura como na escultura.

Os principais temas da arte barroca foram: religião, mitologia greco-romana e cotidiano,


especialmente da burguesia e dos nobres, que também utilizavam a arte como meio de

afirmar seu poder político e econômico.

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Moça com brinco de pérola, óleo sobre tela de Johannes Vermeer,
1665. Dimensões: 44 cm × 39 cm. Mauritshuis, Holanda.
Uso do claro-escuro e a posição do retrato em ¾ transmitem a
sensação quase fotográfica da captura da imagem no instante em
que a moça se vira.
Wikimedia Commons

Acesse

Para saber um pouco mais sobre a importância da Contrarreforma para o

catolicismo, acesse a matéria Contrarreforma, novo fôlego ao catolicismo.

Enquanto isso, no Brasil...

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Agonia e morte de São Francisco (forro da sacristia) , óleo no
painel de Manuel da Costa Ataíde, cerca de 1800. Sem
dimensões especificadas. Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco, Mariana (MG).
A pintura do teto da Igreja de São Francisco, em Mariana (MG),
faz uso de cores mais fortes, sem tanta presença do claro-
escuro, mas percebemos a agonia de São Francisco pela sua
expressão e posição corporais, enquanto os anjos tocam
alegremente, em um contraste de emoções.
Wikimedia Commons

O estilo barroco se espalhou pela Europa e pela América, pois estava relacionado ao

movimento católico da Contrarreforma. A arte barroca foi utilizada como


instrumento de catequização e de demarcação do poder religioso no Brasil − ainda

colônia naquela época.

O estilo artístico barroco se desenvolveu no Brasil, deixando importantes obras em

Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na região Nordeste por meio da construção de

igrejas financiadas pelas ricas irmandades religiosas que cresceram no ciclo da cana-
de-açúcar (século XVI) e no ciclo do ouro (século XVIII).

Altares com talha dourada, muitos detalhes e exagero de emoções em esculturas

estiveram presentes nas artes do Brasil e no surgimento de uma classe artística, que
tem como seus principais representantes Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e

Mestre Ataíde.

A representação de personagens em movimento e o envolvimento emocional delas


criaram o clima de que o Barroco, financiado pela Contrarreforma, necessitava.

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Cena de Jesus Cristo carregando a cruz [ O Salvador
carregando o madeiro], madeira policromada de Aleijadinho,
cerca de 1796-1799. Santuário do Bom Jesus de Matosinhos,
Congonhas (MG).
Uma das obras-primas de Aleijadinho demonstra a teatralidade
em capelas, onde as imagens foram talhadas em tamanho real.
Ricardo André Frantz / Wikimedia Commons

Agora é com você

Questão 01

Observe a obra A incredulidade de São Tomé, de Caravaggio, e relacione a posição das


personagens com as características do movimento barroco.

A incredulidade de São Tomé, óleo sobre tela de Caravaggio,


1601-1602. Dimensões: 106,9 cm × 146,0 cm. Sanssouci Picture
Gallery, Postdam, Alemanha.
Wikimedia Commons

A exposição da figura humana no contexto atual

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Neste capítulo, você conheceu algumas formas de representação do corpo humano na
História. Percebeu que as características das obras se relacionam com a intenção de quem

as produz, seu momento histórico e a percepção que se tem da figura humana. Diante disso,

vamos relembrar a produção que fizemos no início do capítulo para finalizar a discussão.

Explorando:
o corpo representado
 PRÁTICA ATIVA

Questão 01

Retome o desenho do corpo humano feito no início do capítulo. Analise-o

novamente, observe que elementos você usou, o formato e a posição em que a

figura foi representada.

a) É possível identificar alguns elementos do momento histórico da atualidade

em seu desenho? Quais?

b) Ele está próximo de algum estilo que estudamos no capítulo? Qual?

c) Troque o seu desenho com o de um(a) colega e faça a mesma análise: que

elementos do momento histórico atual estão presentes no desenho?

Pratique: a figura humana ao longo do tempo


Questão 01

Sobre a arte grega, marque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Assim como a dignidade e o valor do ser humano centralizavam os conceitos gregos, a


figura humana era o principal motivo da arte grega.

( ) Enquanto a filosofia destacava a harmonia, a ordem e a clareza de pensamento, a arte

e a arquitetura refletiam um respeito semelhante ao equilíbrio.

( ) A arte grega, secular e funcional, privilegiava a inovação e a eficiência, destacando-se,

nesse sentido, construções arquitetônicas que acomodavam grandes públicos.

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( ) Entre os legados arquitetônicos gregos, destaca-se o pártenon, templo construído na
acrópole, que utiliza a ordem dórica na sua estrutura.

A sequência correta do preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, corresponde à

alternativa:

A V-F-F-V

B V-V-F-V

C V-F-V-F

D F-V-V-F

E F-V-F-V

Questão 02

Os mosaicos foram a principal técnica utilizada pelos bizantinos.

Mosaico bizantino da imperatriz Teodora, suas aias e seus eunucos,


na basílica de São Vital, século VI. Foto de 2018. Ravena, Itália.
spatuletail / shutterstock.com

2.a)

Observe o mosaico acima e identifique as seguintes características:

Quem é a figura principal? Você a identificou por meio de quais símbolos?

2.b)

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Cite três símbolos religiosos.

2.c)

Identifique uma herança formal da arte romana no mosaico bizantino.

Questão 03

Leia as afirmativas abaixo.

I. A arte medieval deixou registros de enaltecimento da obra divina, procurando sempre

representar o equilíbrio da natureza e a perfeição do físico humano.

II. A arte vitral, as esculturas e os murais pintados nos templos cristãos, durante a Idade

Média, propiciaram a criação de uma atmosfera sublime nesses interiores, através dos

ícones expostos da história bíblica.

III. A arte medieval estava subordinada a uma visão teocêntrica do mundo; daí as igrejas

construídas no período servirem para mostrar a autoridade da Igreja – "Igreja militante" –

ou sua beleza – "Igreja triunfante".

Quais estão corretas?

A Apenas I.

B Apenas II.

C Apenas III.

D Apenas I e III.

E Apenas II e III.

Questão 04

Quais foram as mudanças na representação do corpo humano nas obras de arte? Escolha

dois períodos da História da Arte para fazer essa comparação.

Questão 05

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Como as transformações históricas influenciam a forma de representar na arte, em especial

o corpo humano? Cite um exemplo.

Resumo

• Na Antiguidade Clássica, havia uma valorização do ser humano, da racionalidade e do


naturalismo pelos gregos. A arte grega se divide em três períodos: Arcaico (VII a.C. a V
a.C.), o Helenístico (IV a.C. a II a.C.) e Clássico (V a.C. a IV a.C.). Ao buscar a perfeição,
a arte grega impactou outras produções, como a arte romana, que utilizava as
produções artísticas como forma de propaganda do Império.

• A arte produzida na Idade Média era considerada arte oficial, pois era símbolo de
poder político e religioso. Assim, os corpos eram representados cobertos e de forma não
realista. A arte no período medieval se divide em: Arte Bizantina e Arte
Islâmica e Arte Românica e Arte Gótica.

• A arte do Renascimento apresentava características como racionalidade, rigor/método


científico, ideal humanista, reutilização das artes greco-romanas, mas ainda tinha como
foco temas religiosos.

• A arte barroca teve um papel doutrinador em reação à perda de fiéis para outras
religiões que surgiram na época. Assim, ela necessitava convencer os cristãos sobre a fé
por meio da emoção, do poder e do prestígio da instituição. A arte dessa época
representava a figura humana de maneira rebuscada, com um exagero das emoções
retratadas em determinado momento e grande valorização destas.

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