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Civilização bizantina
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A origem do Império Bizantino está ligada às mudanças ocorridas no

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centro do poder administrativo do Império Romano, a partir de meados do

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século III. Como vimos, uma crise profunda começou a abalar a organização

DINHEIRO, Z
social, política e econômica romana. Para tentar amenizar a crise, no ano
395, Teodósio dividiu o Império em duas partes: o Império Romano do
Ocidente e o Império Romano do Oriente.

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Com o tempo, as diferenças entre as duas regiões tornaram-se cada vez mais

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evidentes. No Ocidente, a crise acelerou o processo de ruralização da sociedade,
fortalecendo o poder dos proprietários de terra. Com a queda de Rômulo Augusto,
em 476, o Império do Ocidente fragmentou-se, dando origem a diversos reinos. Moeda bizantina
No Oriente, consolidou-se o Império Bizantino, onde o poder manteve-se centra- representando o
imperador Teodósio
lizado na figura do imperador. No século V, o Império Bizantino englobava a Grécia, o
(século IV). Museu do
Egito, a Ásia Menor e outras regiões de cultura helenística. Por essa razão, o helenismo Dinheiro. Zurique, Suíça.
predominou em Constantinopla e o grego transformou-se em língua oficial. As tradições As moedas de ouro
da cultura greco-romana e o cristianismo tiveram forte presença no Império do Oriente. cunhadas no Império
Bizantino se tornaram
Constantinopla logo superou Roma em importância e desenvolvimento, transfor- a base do comércio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mando-se no centro comercial e urbano da Europa. Comerciantes vindos de diversas praticado na região
localidades chegavam à cidade para ter acesso à variedade de produtos comercializados mediterrânea durante a
na região. O comércio bizantino era muito mais ativo que o do Ocidente. Os mercadores Idade Média.
negociavam principalmente produtos de luxo, especiarias, joias e objetos de arte.
O governo bizantino era despótico e teocrático, pois o imperador, conhecido como Ásia Menor: parte
basileu, autonomeava-se representante de Deus na Terra. Era considerado sagrado e tinha asiática da atual
Turquia (veja mapa
poderes ilimitados sobre quase todos os aspectos da vida social. O imperador bizantino na página seguinte),
acumulava diversas funções públicas e as desempenhava com o auxílio de burocratas. região também
Chefiava o Exército, as relações diplomáticas e a Igreja, além de controlar as construções conhecida como
públicas e supervisionar a cobrança de impostos. Também exercia controle direto sobre Anatólia.
a economia.
O modelo centralizado de poder no Império Bizantino contribuiu
para desencadear várias conspirações contra o governo. Dos 88
Vista da cidade de Istambul (antiga Constantinopla), na Turquia.
imperadores que governaram o Império entre os anos 324 e 1453, 29 Foto de 2014. A cidade de Bizâncio foi fundada pelos gregos no
tiveram morte violenta e 13 fugiram ou refugiaram-se em mosteiros, século VII a.C. O imperador Constantino transformou a cidade em
temendo ser assassinados.
capital do seu Império com o nome de Nova Roma, mas ela passou a ser
chamada de Constantinopla, a cidade de Constantino.
RAUL TOUZON/NATIONAL
GEOGRAPHIC CREATIVE/
CORBIS/LATINSTOCK

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Constantinopla, cidade grandiosa
A revisão do
direito romano No início do século XI, a capital bizantina era a cidade mais próspera e populosa da
Europa, com mercados, igrejas, aquedutos, o suntuoso Palácio Imperial e grandiosos
O imperador
edifícios públicos.
Justiniano revi-
sou e sistemati- O desenvolvimento comercial, urbano e manufatureiro do Império Bizantino propiciou
zou o direito ro- mais estabilidade econômica para a população. Mesmo as camadas mais humildes de
mano. Surgiram Constantinopla tinham acesso à água canalizada e o esgoto era desviado para o mar por
assim o Código meio de um sofisticado sistema de drenagem subterrânea. A cidade dispunha de banhos
(reunião de to- públicos, acessíveis para homens e mulheres em horários diferentes, e o governo e a Igreja
das as constitui- proporcionavam cuidados médicos e hospitalares para aqueles que não podiam pagar.
ções imperiais
A Igreja desempenhava um papel importante na educação. Todas as crianças tinham a
editadas desde o
oportunidade de frequentar a escola, mas o acesso aos estudos avançados, que incluíam
governo do im-
filosofia e conhecimentos gerais de matemática, geometria, música e astronomia, só era
perador Adria-
no), as Novelas permitido aos filhos dos aristocratas.
(cons tit uições
elaboradas de- Esplendor e decadência do Império Bizantino
pois de 534), o
Digesto (síntese O auge do Império ocorreu durante o governo de Justiniano (527-565), com a adoção

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da jurisprudên- de uma política externa expansionista, responsável pela reconquista do norte da África e
cia romana) e as das Penínsulas Ibérica e Itálica, antes em poder dos germânicos.
Institutas (ma- Justiniano também empreendeu uma monumental obra jurídica, com a revisão e a
nual para uso sistematização do direito romano (leia boxe ao lado). Assim, ao lado da religião, o direito
dos estudantes). romano era usado para garantir a unidade e o poder do imperador. O Código de Justi-
Todo esse con- niano preservou grande parte do direito romano e influenciou diretamente o sistema de
junto formava
leis de muitos Estados modernos, incluindo o brasileiro.
o Corpus Juris
Civilis (Corpo do As contínuas lutas pelo poder no Império e as despesas para apaziguar povos vizi-
Direito Civil). nhos contribuíram para o declínio bizantino após longos anos de glória. Outros aspectos
também podem ser mencionados: a perda de ricas províncias, como o Egito, a Síria e a
Palestina, conquistadas pelos árabes no século VII; a sucessão de conflitos entre a Igreja
de Roma e a Igreja de Constantinopla; a competição comercial com o Ocidente; e, prin-
cipalmente, a invasão do Império pelos turcos otomanos, que culminou com a conquista
de Constantinopla em 1453.

Império Bizantino: as conquistas de Justiniano

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Fonte: DUBY, Georges. O Império no início do reinado de Justiniano (527)


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Atlas historique mondial. As conquistas de Justiniano 360 km


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Paris: Larousse, 2003. p. 34.


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cristãs ortodoxas celebram o Natal em uma igreja em Gaza, na Palestina, em 7 de janeiro de 2015.
Na tradição ortodoxa, o Natal é celebrado nesse dia, pois se aplica o calendário juliano em vez do
calendário gregoriano, adotado por católicos e protestantes e comumente utilizado no Ocidente.

Igreja Ortodoxa
Após a divisão do Império Romano ocorreu um distanciamento gradual entre a Igreja Herético: herege;
de Roma e a Igreja Oriental. O bispo de Roma, autoridade central da Igreja Romana, resistia aquele ou aquilo que
à ideia de ficar sob domínio de um basileu, ou seja, o imperador de Constantinopla. Já vai contra a doutrina
os bizantinos recusavam-se a aceitar o bispo de Roma como chefe de todos os cristãos. estabelecida pela
Existia, ainda, a questão da língua. Em Roma, cada vez menos indivíduos conheciam o Igreja.
grego, idioma oficial do Império Bizantino, e poucos orientais sabiam falar o latim, utili- Idolatria: adoração
zado nos documentos oficiais da Igreja de Roma. Além disso, havia diferenças na doutrina de ídolos; ato de
e nas práticas religiosas. As divergências aprofundaram-se e levaram ao surgimento de prestar culto divino às
imagens.
doutrinas declaradas heréticas pela Igreja de Roma.
Celibatário: pessoa
Uma dessas heresias dizia respeito ao culto às imagens. Os monges do Império que não se casou ou
Bizantino ganhavam dinheiro e prestígio com a venda de imagens religiosas, às quais se não pode se casar por
atribuía o poder de operar milagres. O imperador de Constantinopla, Leão III, proibiu o motivos religiosos.
uso das imagens por caracterizá-las como prática de idolatria. A questão iconoclasta
dividiu a sociedade bizantina entre partidários e opositores do culto aos ícones durante os
séculos VIII e IX. A Igreja Romana acusou a destruição dos ícones de heresia, aprofundando
os conflitos entre os bizantinos e os cristãos de Roma.
As inúmeras crises envolvendo os dois centros da cristandade levaram à separação, em
1054, entre a Igreja sediada em Roma e a de Constantinopla. Essa divisão ficou conhecida
como Cisma do Oriente e perdura até os dias de hoje.
A Igreja Ortodoxa, como ficou conhecida a Igreja do Oriente, adota os mesmos sacra-
mentos da Igreja Católica. No entanto, seus rituais são cantados sem o acompanhamento
de instrumentos musicais, e as imagens esculpidas de santos são proibidas, com exceção
do crucifixo e dos ícones sagrados. Os ortodoxos não admitem os dogmas de infalibilidade
do papa e do purgatório. Para a Igreja Ortodoxa, os bispos são continuadores do trabalho
apostólico e somente eles devem se manter celibatários; os padres podem ser casados,
desde que o casamento seja anterior à ordenação.

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