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História Medieval

Material Teórico
A Evolução do Reino Franco

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Ana Barbara Ap. Pederiva e
Profa. Paula Regina La Rosa Veiga

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
A Evolução do Reino Franco

·· A evolução do Reino Franco


·· A formação dos Reinos Bárbaros
·· Os Merovíngios
·· A representação de Carlos Magno
·· O Império Carolíngio
·· O fim do Império Carolíngio
·· Sintetizando

··Os merovíngios;
··O Império Carolíngio;
··Carlos Magno;
··O fim do Império Carolíngio.

Neste espaço, você irá desvendar os seguintes temas:


··como se formaram os reinos bárbaros;
··a conquista e expansão de um povo bárbaro específico conhecido como Francos;
··a consolidação desse reino; e
··a formação das estruturas do que chamamos de feudalismo.
Espero que aproveite este momento para compreender que na história nada surge do nada;
os fatos se entrelaçam, sendo importante observar as transformações e permanências.
Por isso, leia o material com atenção, anote as dúvidas, use o material complementar para
ampliar seu conhecimento sobre o tema e realize as atividades com atenção e cuidado.

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Contextualização

Fonte: cantodafilosofia.wordpress.com Fonte: historiacem01.weebly.com

Observe o mapa:

Quando você olha para ele, consegue compreender o título da nossa unidade?
Se você ainda não reparou no que aconteceu, olhe o primeiro mapa com atenção e veja o
território do Reino Franco - como era essa território?
E, no segundo mapa, o que aconteceu com o território dos francos? Aumentou ou diminuiu
de tamanho?
O diferencial desse reino bárbaro, apesar de ter havido muitos outros, é que eles realizaram
três façanhas incríveis:
··aliaram-se ao Império Romano;
··continuaram sua expansão territorial, mesmo com essa aliança; e
··organizaram-se política e culturalmente para essa expansão: fazendo aliança com a nova
religião Católica e dividindo seu território entre os nobres.
Assim sendo, estudaremos a fundo cada uma dessas façanhas que transformou o Reino
Franco em um grande Império.

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A evolução do Reino Franco

Fonte: Charles de Steuben (1788–1856)/Wikimedia Commons Fonte: Albrecht Dürer (1471–1528)/Wikimedia Commons

Observe a imagem, a primeira mostra um líder


bárbaro com o seu exército em uma invasão, a foto
ao lado é também de um líder bárbaro, mas por que
Reflita elas são tão diferentes?

Nessa unidade, conheceremos um pouco sobre a formação do Reino Franco, que se deu
por um longo processo iniciado com a queda do Império Romano pelas invasões Bárbaras
até o seu apogeu com Carlos Magno, dono da foto da direita, e que, após anos e anos de
aglutinação da cultura romana, não só havia se tornado Imperador, bem como recebeu a
coroa das mãos da Igreja Católica. Mas, para isso, vamos voltar um pouco no tempo...
··A formação dos Reinos Bárbaros;
··Os Merovíngios;
··A representação de Carlos Magno;
··O Império Carolíngio;
··O fim do Império Carolíngio.

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

A formação dos Reinos Bárbaros


No final do século V (476 d.C.), como vimos nas unidades anteriores (Povos Bárbaros), os
germanos ou bárbaros conquistaram Roma, ocasionando o fim do Império Romano do Ocidente.
Nas terras conquistadas, os bárbaros fundaram vários Reinos independentes, dentre os
quais cabe destacar:
··Reino do anglo-saxões;
··Reino dos visigodos;
··Reino dos suevos;
··Reino dos vândalos;
··Reino dos Ostrogodos; e
··Reino dos Francos.
··
Observe a localização de cada um deles no mapa:

Fonte: Charles de Steuben (1788–1856)/Wikimedia Commons

A nossa história começa com a dominação de alguns pequenos reinos (como dos Suevos)
por grandes reinos militares como o dos Francos...

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Os Merovíngios

Na Gália, os Francos viviam divididos em grupos – cada qual com seu chefe militar e político.
Um desses líderes se chamava Meroveu. Para os Francos, sua descendência era divina, pois
contava a lenda que ele era filho de um ser mítico do mar. Esse fato o legitimou, política e
militarmente, fortalecendo a sua liderança.

Usando uma fonte primária: Toda pesquisa histórica necessita de materiais produzidos na época
estudada, conhecidas como fonte primária. Vamos, agora, conhecer o mito em torno da vida de
Meroveu. Quem nos conta essa história é Fredegário, cronista do século VII, e que nos apresenta
diversas fontes sobre a Europa Ocidental desse período: “Conta-se a história que um verão Clódio e sua
mulher estavam sentados na praia. Quando ela entrou ao meio dia no mar para se banhar, um monstro
parecido com um Quinotauro de Netuno a atacou. Como resultado, ela engravidou do monstro e/
ou de seu marido e pariu um filho batizado como Meroveu, a partir de seu nome os reis dos francos
passaram a ser chamados de merovíngios.” Fredegário in: OLIVEIRA, Natália Codo de. Da aurora da
História nacional ao estudo da História da Igreja. Os Decem Libri Historiarum na historiografia. [Net].
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-17122010-115427/pt-br.php. Acesso em: 9/10/2014.

Possível representação de um quinotauro, um ser mítico do mar

Fonte: Charles de Steuben (1788–1856)/Wikimedia Commons

Durante o governo de Meroveu, percebemos algo interessante: apesar de iniciar a expansão


territorial pela Gália, esse se torna aliado do Império, ajudando na defesa do território galês
durante a invasão de outros povos bárbaros. Essa simbiose entre eles acabou por gerar uma
relação de servidão entre o Reino Franco e Roma: receberam um território, onde se fixaram,
praticavam a agricultura e, quando necessário, os homens serviam como soldados romanos.
Essa relação se fortificou ainda mais quando Meroveu venceu os Hunos na batalha de Mauriac.
As honrarias e essa relação se mantiveram após a sua morte, durante o reinado de seu filho
Childerico, que depois de vencer os saxões, visigodos e alamanos consolidou a dinastia de
seu pai. Entretanto, manteve a política expansionista e a tradição de pilhagem dos Francos,
enriquecendo e fortificando ainda mais o seu reino.

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Segundo Oliveira (2010, p. 16) “A escavação da câmara funerária de Childerico


indica que ele não só se relacionava com os romanos, como também não era mais um
bárbaro”. Isso porque ele fora encontrado com trajes e joias romanas e enterrado em
um cemitério romano. Mas será que ele deixou de ser um Franco, um bárbaro? Também
fora encontrado ao lado de seu túmulo a ossada de um cavalo e diversos tesouros para se
levar na passagem espiritual, esse ritual de passagem é típico das práticas pagãs, ou seja,
essa simbiose não apagou totalmente a cultura bárbara do líder dos francos.

Clóvis, neto de Meroveu e filho de Childerico, impôs sua autoridade às demais tribos e se
tornou rei dos Francos. Este inicia uma longa campanha de conquistas, para proteger seu
território e estender seu domínio para outras regiões além da Gália. A partir dessa unificação,
Clovis passa a agregar reinos maiores como os Burgúndios e os Visigodos na região sul.
Não podemos esquecer que, paralelamente, o Cristianismo tomava forças e estava em
constante conflito com a religião pagã dos Bárbaros. Idilicamente, alguns pesquisadores
afirmam que Clovis se tornou cristão por sua esposa e por meio da comprovação de um
milagre que ocorreu em uma batalha.
Entretanto, assumir o Cristianismo como religião oficial dos Francos, é uma estratégia
política, pois com a Igreja tomando forças, Clovis receberia o apoio dos nobres cristãos de
outras regiões, dos Bispos e de uma grande parcela da população que se converteu à nova
religião. Em troca, esses nobres receberiam terras e a população, proteção militar.

Não podemos esquecer que, naquela


época, possuir terras já era sinônimo de
Importante! riqueza e poder.

Clovis, ainda mais fortalecido, continua sua expansão territorial. Com o fim do Império e a
maioria dos reinos aglutinados ao Reino Franco, Clovis passa a reinar na região que hoje é a
França, parte da Alemanha, Suíça e Países Baixos.
Porém, após a sua morte em 511, todo o processo de unificação dos Reinos Francos
cai por terra, pois os reis que o sucederam acabaram por acentuar a crise que já vinha se
desenvolvendo desde o final de seu reinado.
Como não havia uma liderança forte, quem passa a administrar esses reinos são os altos
funcionários da nobreza conhecidos como Mordomos do Paço.

Mordomos do paço eram nobres eleitos pelo rei, que lhes dava poder para
administrar o reino em diversas áreas, como: no recebimento de tributos, gastos
Glossário cotidianos e até em assuntos militares.

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Um desses administradores foi Carlos Martel, líder dos Carolíngios, que era de uma família
da alta nobreza. Em 732 este líder, à frente de um exército, impediu a invasão dos Muçulmanos
na batalha de Portiers, aumentando seu prestígio frente aos súditos, enquanto o rei perdia
cada vez mais seu poder.
Após a sua morte, seu filho Pepino, o Breve em 751 por meio de um golpe, depõe o último
rei merovíngio assumindo o reino, iniciando, assim, a dinastia Carolíngia.
Como governante, Pepino fortaleceu o poderio da Igreja ao enfrentar e expulsar os
Lombardos da Península Itálica, dando à Igreja as terras conquistadas e recebendo em troca
apoio incondicional desta.

Dessa doação, originaram-se os Estados da igreja, ou patrimônio de São Pedro, por


isso, hoje, o Vaticano é sede da Igreja Católica.

Fonte: Charles de Steuben (1788–1856)/Wikimedia Commons

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

A representação de Carlos Magno

Mais importante do que conhecer a biografia de um determinado personagem histórico,


é conhecer o como ele é representado, quem o representou dessa maneira e o porquê.
A figura de Carlos Magno, assim como de grandes conquistadores/governantes da
História, está extremamente marcada pela fantasia, pelos contos e façanhas que só um
‘herói’ pode sustentar.
Na pesquisa histórica, não podemos utilizar desse maniqueísmo ao se analisar um
fato, ou seja, ‘heroicizar’ ou ‘vilanizar’ personagens, mas os feitos de Carlos Magno e de
seus cavaleiros de maior confiança foram retratados na literatura em um texto conhecido
como ‘Carlos Magno e os doze pares de França’, apesar de escrito durante a Idade Média
e, posteriormente, ao seu reinado, ainda assim é considerada uma fonte primária, que
podemos utilizar com a devida ressalva e crítica na pesquisa.
Vejamos um trecho dessa história, em que Carlos Magno é desafiado por um rei Turco,
para uma disputa ‘cara a cara’:

“(...) Ouvindo Carlos Magno as vozes do Turco, tomou logo uma


grossa lança, e sahio a campo com o Rei Burlante, o qual lhe
perguntou se era Carlos Magno. Elle respondeu que sim. O turco
tomou campo á sua vontade; e encontrando-se com Carlos Magno
com toda a força, que os cavalos, e ficarão prostrados em terra,
sem que em algum deles se conhecesse vantagem; e levantados
que forão, metterão mão ás espadas, e se derão taes golpes,
sendo ambos velhos, que os moços, que os vião, lhes tinhão
inveja. (...) Vendo Carlos Magno que por força de armas não
podião ferir o Turco, confiado na sua destreza, que tinha no jogo
da luta, querendo-lhe atirar o Turco um talho, se metteo Carlos
Magno com ele, e deixando cahir a espada, se abraçou com o
Turco pela cintura, e lançou com ele em terra, e com um punhal
lhe cortou os laços do elmo, ou capacete, e a cabeça, e se voltou
vitorioso para o Exercito, aonde foi recebido com muita alegria,
e se fizeram grandes festejos pela victoria. E logo se montou
acavallo, e tomando uma lança, mandou que marchassem todos
para diante com boa ordem, e o mesmo fizeram os turcos”.
CARVALHO, Jerônimo Moreira de Carvalho. História de
Carlos Magno e os doze pares de França. [Net]. Disponível em:
http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/biblioteca/0045/. Acesso em: 10/10/2014.

Quais foram as impressões que o texto te trouxe? Ele é de um tempo recente? Que
elementos demonstram tempo, o espaço e o fato ocorrido? E a linguagem? Você deve ter
achada vários ‘erros’ de português. Que informações podemos tirar desse texto?
Todas essas perguntas fazem parte de uma análise documental, que visa ver o documento,
a fonte primária, com o máximo de criticidade possível, para que as informações dela
retirada sejam válidas na pesquisa.

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Podemos perceber que o texto é narrativo, pois descreve um fato, possui personagens,
um local e um narrador. Mas, por meio linguagem e da grafia das palavras, percebemos que
o texto não é recente e, sim, de um tempo mais antigo.
Pelas pesquisas sabemos também que os maiores inimigos nesse período para o Reino
e para a fé cristã eram os muçulmanos; por isso; ele coloca Turco a todo momento e não
o nome do rei. Podemos, até mesmo, inferir que Turco é escrito com letra maiúscula para
identificar um nome. Sendo uma referência as diversas batalhas que se sucederam para a
proteção do território franco contra os mouros que se estabeleceram na Península Ibérica.
É perceptível que a fonte não é um relato exato do que aconteceu, mas é importante
destacar que nenhuma pode ser, pois justamente por ser feita no calor do momento ela
possui uma ideologia de quem escreveu, uma intenção, um objetivo, logo faz parte da
análise as razões da escrita desse material.
Com o texto, no geral, podemos inferir que havia a necessidade de enaltecer o cristianismo
e seus mártires, bem como ‘vilanizar’ os muçulmanos, que representavam não só um perigo
a fé, bem como um perigo político pelas constantes incursões militares dos mesmos para
conquistar território, ainda durante o feudalismo (possível período em que o texto foi escrito)
logo era de bom tom divulgar para que todos odiassem e combatessem essa ameaça.
Carlos Magno iniciou em seu governo a consolidação e a organização do Reino Franco,
com medidas administrativas que transformaram o Reino em Império, como veremos a seguir.

Conheça um pouco mais dessas histórias acessando os sites:


Carlos Magno e os 12 pares de França:
http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/biblioteca/0045/

A literatura de Cordel e o Carlos Magno:


http://jangadabrasil.com.br/revista/marco76/im76003a.asp

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

O Império Carolíngio

Carlos Magno, filho de Pepino, o Breve, deu continuidade à aliança com a Igreja e a política
guerreira dos Francos.
Iniciando, dessa forma, uma política expansionista que serviria não só para aumentar seu
território, como também para divulgar a fé cristã. Em retribuição, a Igreja coroou Carlos como
Imperador romano, em 800 d.C. Recebendo, dessa forma, o nome Magno.
Carlos Magno criou, por conta da extensão do território, uma série de medidas políticas-
administrativas dentre as quais podemos citar:
··controle dos tribunais;
··padronização do sistema de cunhagem de moeda;
··mudança da corte de Paris para a atual Alemanha;
··uso crescente do registro em documentos escritos.

Além dessas medidas, o Imperador dividiu o território em condados – governados por


condes. Nas áreas de fronteira de território, foram criadas unidades administrativas chamadas
marcas e seus administradores eram chamados de marqueses. Outra categoria de nobres que
administravam o reino eram os duques, responsáveis pela formação do exército; assim, alguns
condados formavam um ducado.

Marcas

Ducados

Repare que as relações de suserania e vassalagem já estavam postas. Agora, você conhece
essa relação??? Esse tipo de organização política e econômica irá se manter também durante
o Feudalismo, ela está pautada no juramento de fidelidade, que não vinha de graça, quem
recebia as terras era um vassalo e, em troca, jurava fidelidade ao suserano.

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Mas o que estava imposto nessa fidelidade? Eles faziam um acordo? Era como um contrato
de papel passado no cartório? Observe essa imagem:

Que elementos compõe a imagem?


Quem é o suserano?
Quem é o Vassalo?
Para pensar
Quem seria essa terceira pessoa?

Fonte: Charles de Steuben (1788–1856)/Wikimedia Commons

Alguns elementos na imagem nos dão algumas dicas de quem é quem:


··À esquerda, temos um vassalo, podemos reparar que além de ele estar de joelhos, as
roupas são mais simples.
··À direita, recebendo o que era chamado de homenagem, está o suserano, percebe-se
pelas próprias vestimentas que este está acima dos outros, principalmente, do terceiro
elemento que se encontra em segundo plano.
··E, por falar nesse terceiro elemento, percebemos que ele é um funcionário da corte
que tinha a função de registrar o que ficou acordado, logo o que cada um daria nessa
‘relação’. Detalhe esse que podemos inferir sobre algo já citado no texto, Carlos Magno
iniciou em seu governo o registro de feitos em documentos escritos, ou seja, havia um
documento oficial (produzido pelo governo) que comprovava o juramento de fidelidade
por um determinado vassalo.

Só haviam nobres vassalos? Eles só recebiam terras? Observe a imagem:

Carlos Suserano do
Suserano
Magno servo
Conde
Vassalo do
Suserano do marquês
Marquês
Duque
Vassalo do
Carlos Magno
Vassalo de
Suserano do todos os
conde Servo
Marquês outros
Vassalo do nobres
duque

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Será que o servo, não sendo nobre, recebia terras? O servo prestava serviços, em troca
recebia proteção, alimento e moradia. Essa troca também era conhecida como vassalagem,
mas estes não recebiam terras porque ela representava poder e riquezas, sendo destinada
apenas aos nobres e ao clero.
Estes administradores do reino (condes, marqueses e duques) eram supervisionados por um
alto funcionário do Imperador, o missi dominici, que resolvia os problemas locais e ouvia a
população, mas, na verdade, o principal objetivo dele era manter a fidelidade ao Imperador.
Essas estruturas tinham como objetivo manter o controle sobre todo o território franco.

Mendonça (1985, p. 74) nos fala um pouco mais sobre a importância dos missi
dominici: “A ameaça constante de insubordinações e revoltas contra o poder central foi
parcialmente sanada por intermédio da nomeação de agentes diretos do rei – os missi
dominici. Estes, situados paralelamente à hierarquia dos demais funcionários, eram
encarregados de supervisionar localmente o cumprimento das ordens reais, bem como
de renovar a fidelidade dos vassalos e coibir seus abusos e desmandos de poder.”

Mas, para que esse sistema funcionasse, Carlos Magno exigia desses altos funcionários uma
formação de excelência; por isso, estimulou a criação de escolas. Mas será que essas escolas
eram para toda a população? Claro que não, a educação se reservava apenas para a nobreza
e para os clérigos.
Esse movimento causou intensas mudanças culturais, pois além de estudarem a bíblia, ainda
tinham aula de gramática, retórica, dialética, matemática, astronomia, música e medicina.
Sem contar no movimento conhecido como Renascimento Carolíngio, que por intermédio dos
monges copistas salvaguardaram milhares de documentos, possibilitando que hoje historiadores
tivessem acesso a fontes primárias que para esse período são extremamente escassas.

Jacques Le Goff, um dos grandes pesquisadores medievalistas, em seu livro


‘A civilização do Ocidente medieval’ (1995, p. 166, vol. 1), destaca o caráter
Diálogo com o Autor elitista do Renascimento Carolíngio: “As limitações do Renascimento carolíngio
provêm, principalmente, de ele corresponder às superficiais necessidades de
um pequeno grupo social. (...) Esse Renascimento tinha de garantir um mínimo
de cultura a alguns altos funcionários.”

Carlos Magno conseguiu manter seu domínio territorial e político durante todo o reinado,
mas será que ele permaneceria? O que aconteceu após a sua morte?

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O fim do Império Carolíngio

Após a morte de Carlos Magno, seu filho Luís, o Piedoso, não conseguiu administrar o
território como seu pai. Após a sua morte seus filhos, disputaram, por meio de uma guerra
que durou três anos, o território do Império.
Após essa batalha, estabeleceram um acordo conhecido como Tratado de Verdum – no
qual, o Império fora dividido em três partes:
··Carlos, o calvo ficou com a parte direita ou ocidental;
··Lotário com a central; e
··Luís, o germânico, ficou com a parte esquerda ou Oriental.

Fonte: Mello, José Roberto. O Império de Carlos Magno. São Paulo: Ática, p. 56

Devido à essa fragmentação, os nobres que administravam o reino (duques, marqueses


e condes) fortaleceram seu poder local. Para agravar essa situação, o Império passou por
sucessivos ataques dos muçulmanos, dos vikings e dos Húngaros.
Os reis, para resolverem essa situação, pedem ajuda para os nobres, que conseguem
expulsar os invasores. O problema é que, agora, a população e outros setores expressivos da
sociedade passam a apoiá-los. Os reis veem seu poder cada vez mais enfraquecido e o poder
se torna cada vez mais fragmentado, está aí a semente do que virá a ser o FEUDALISMO.

Mello (1990, p. 6) autor do livro ‘O Império de Carlos Magno’ já nos dá o indicativo dessa
movimentação: “(...) como marco inicial da civilização em formação no Ocidente após as
invasões bárbaras dos séculos V e VI, conhecidas por nós como civilização medieval. Vamos
Diálogo com o Autor
encontrar sintetizadas nele todas as principais características da nova civilização, desde o
deslocamento geográfico, centrado no mediterrâneo durante a antiguidade, para o continente,
agora com sentido norte-sul, até suas bases econômicas, políticas e culturais.”

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Quando falamos de povos bárbaros, logo nos vêm à mente a violência, a insubordinação e
até mesmo a ignorância. Não conseguimos imaginar que, apesar de o Império Romano estar
enfraquecido, eles foram dominados por esses povos. Como duvidar de suas habilidades?
Diferentemente do que pensamos, os povos bárbaros tinham organização política, social,
econômica e cultural. Foram ainda mais inteligentes, se observarmos que eles aglutinaram as suas
estruturas alguns hábitos romanos, que favoreceram ainda mais sua expansão territorial e política.
O Reino Franco é a prova de que essa transição não foi feita somente por meio da
belicosidade, mas também de muitas estratégias, tais quais: a união com o Império no início
da formação do Reino Franco e da aliança com a Igreja Católica em expansão.
Sua evolução se deu, principalmente, no governo de Carlos Magno, que elevou o reino a
Império cristão, organizou e fortificou o seu território e, por fim, manteve seu domínio durante
todo seu reinado.
Agora, eu te pergunto, quem é o bárbaro?

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Sintetizando

··Reinos Bárbaros >Unificação de pequenos reinos a grandes reinos, através de


incursões militares.
··Reino Franco > Formado a partir das conquistas e acordos entre o Império Romano e
seu líder mais representativo Meroveu.
··Meroveu > Iniciou a Dinastia Merovíngia representadas, após a sua morte, por:
a. Childerico: continuou as expansões militares e acentuou ainda mais a relação com o
remanescente do Império Romano.
b. Clóvis: Unificou o Reino Franco, conquistou diversos territórios, criou uma poderosa
aliança com a Igreja, se convertendo ao catolicismo.
··Após a morte de Clóvis:
a. Território enfraquecido.
b. Fortalecimento do poder dos mordomos do paço.
c. Carlos Martel fortalece o poder de sua família, os carolíngios, vencendo a batalha de
Portiers contra os Muçulmanos.
··Pepino, o Breve, com um golpe, retira o último rei merovíngio e inicia a Dinastia Carolíngia.
··Império Carolíngio:
a. Principal representante: Carlos Magno.
b. Tornou-se Imperador pelas mãos da Igreja Católica, fortificando ainda mais essa aliança.
c. Em seu governo, mesclou políticas expansionistas com a organização territorial do
Reino que já atingia diversas regiões, por meio da relação de vassalagem com duques,
marqueses e condes.
d. Contava também com instruídos missi dominici, administradores que mantinham a
fidelidade econômica e militar dos vassalos do Império.
e. Propôs o registro e a compilação de documentos e livros, movimento esse que ficou
conhecido como Renascimento Carolíngio.
··Fim do Império Carolíngio:
a. Morte de Carlos Magno.
b. Seu filho Luís, Piedoso, assume o poder e inicia o enfraquecimento do Império.
c. Guerra pelo poder e pelo território, após a morte de Luís entre seus três filho.
d. Ao fim dessa guerra, estabeleceram a divisão do Reino em três partes, conhecida
como Tratado de Verdum.
e. Fortalecimento dos nobres locais (condes, marqueses e duques), principalmente, na
batalha contra os Vikings, muçulmanos e Húngaros.
f. Fortalecimento do poder local => Início do Feudalismo.

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Material Complementar

Vídeos:
Para facilitar a visualização do processo de conquista e de fortalecimento do Reino
Franco, e também de suas dinastias você pode assistir a essa série produzida pela THC
no youtube: https://youtu.be/YD1fT_ymYeM
Dessa mesma série, foram produzidos documentários sobre os outros povos bárbaros, se
quiser complementar o seu estudo é uma boa pedida.

Leitura:
No site da Unicamp, está disponível a obra conhecida como ‘Carlos Magno e os Doze
pares de França’, que conta a trajetória de Carlos Magno de forma heroica. Esse texto
escrito durante a Idade Média foi traduzido para o português de Portugal por Jerônimo
Moreira de Carvalho em 1728. Vale a pena conferir:
http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/biblioteca/0045/

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Referências

CARVALHO, Jerônimo Moreira de Carvalho. História de Carlos Magno e os doze pares


de França. [Net]. Disponível em: http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/biblioteca/0045/.
Acesso em: 10/10/2014.

GOFF, Jacques Le. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.
(Vol. 1).

MELLO, José Roberto. O Império de Carlos Magno. São Paulo: Ática, 1990.

MENDONÇA, Sonia Regina de. O Mundo Carolíngio. São Paulo: Brasiliense, 1985.

OLIVEIRA, Natália Codo de. Da aurora da História nacional ao estudo


da História da Igreja. Os Decem Libri Historiarum na historiografia. [Net].
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-17122010-115427/pt-br.php.
Acesso em: 9/10/2014.

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Unidade: A Evolução do Reino Franco

Anotações

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