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3 Teólogos, 2 Imperadores e 1 Concílio

Nosso foco agora passa a ser em torno da cidade de Constantinopla, no quarto século.
Em 325 nós tivemos o Concílio de Nicéia, 5 anos depois, o Imperador Constantino, funda a
cidade de Constantinopla passando a ser a cidade mais importante, até mesmo que a própria
Roma. Isso é na Ásia, sai da Europa e vem para a Ásia. O que vamos falar agora estão ali
próximas de Constantinopla.
Três teólogos importantes que são conhecidos como os Grandes Capadócios.
Os Grandes Capadócios – Gregório de Nissa, Basílio de Cesaréia e Gregório de
Nazianzo.
Por que Grandes Capadócios? Porque eles são da Capadócia. O quarto século é a era de
ouro da Igreja grega, da Igreja do Oriente, é quando seus maiores teólogos surgiram e, onde
ela foi mais influente. Provavelmente para o Catolicismo Romano o século mais importante
deve ser o século XIII, e para os Protestantes o século XVI.
Aqui nós temos dois irmãos, Gregório de Nissa e Basílio de Cesaréia. Gregório de Nazianzo é
amigo do Basílio. Foi Gregório de Nissa que falou a respeito do burburinho teológico que
era em todo o lugar que ele ia naquela época. A frase dele é muito interessante, inclusive
ele estava se queixando da situação. Ele fala assim: “Vendedores de roupas, cambistas,
feirantes, todos estão envolvidos. Se você pede o troco, eles filosofam sobre o gerado e o
não gerado. Se você pergunta o preço do pão, a resposta é que o Pai é maior e o Filho é
menor. Se você pergunta ao criado – O meu banho esta pronto? – ele lhe diz que o Filho foi
feito do nada”. Ele estava incomodado com aquilo porque não se falava em outra coisa naquela
época.
Gregório de Nissa passou parte da vida meio perdido, meio sem rumo. Às vezes acontece com
alguns indivíduos muito capazes e inteligentes de ficarem assim meio perdidos, não sabem bem
para onde ir. Depois ele acabou se acertando na vida, encontrando uma fé muito profunda, e
tornou-se teólogo. Ele é um tipo de teólogo poeta. É muito comum no Oriente, misturarem com
poesia a teologia deles, é muito comum eles enfatizarem sempre o mistério. Ele escreveu um livro
intitulado “A Vida de Moisés”, onde encontramos uma frase, para se ter como exemplo: “Moisés
penetrou a escuridão e, então viu a Deus nela”. É assim que eles fazem e, sempre assim que
fizeram teologia.
Basílio era irmão de Gregório de Nissa, tinha 6 anos a mais que ele, e estudou na Academia de
Atenas. Era muito bem preparado. Na Academia conheceu um sujeito, que passou a ser um
colega para a vida toda, Gregório de Nazianzo. Os dois estudaram junto na Academia e depois
foram monges juntos no deserto. Como já foi dito, os monges do Oriente se isolam para depois
voltar. O Basílio apoiou o modelo de monasticismo de Pacômio, que era o de pequenos grupos,
grupos da vida comum. Foi ele que falou assim – “Você tem que ter alguém com quem expressar
a tua humildade”, ele falou que para Jesus Cristo lavasse os pés, precisaria de outra pessoa, não
poderia lavar os próprios pés. Basílio é famoso por ter criado a Regra do Monasticismo do
Oriente.
Basílio e Gregório também tinham uma irmã mais velha, chamada Macrina, que influenciou
profundamente esses dois rapazes, na fé. Gregório de Nissa, irmão do Basílio, escreveu mais
tarde um livro – “A Vida de Macrina” – contando sua história. Macrina fundou vários mosteiros
para as mulheres. Ela era uma freira. Escreveu livros de teologia nessa época.
Algumas ênfases dos Capadócios:
O mistério da Divindade.
Eles insistiram muito no seguinte ponto – Nicéia deu um rumo, definiu mais ou menos o
balizamento do que se deve crer, mas não esgotou de maneira alguma a verdade – tanto que
lemos gerado não criado. Que quer dizer isso? Não diz coisa alguma na verdade, é mais um
balizamento para não cair em heresias, do que uma definição. Porque eles deixaram claro que
não dá para entender a Deus. O mistério deve ser mantido. Isso sempre caracterizou a Igreja do
Oriente. A Igreja do Oriente se referia a Igreja do Ocidente, de uma maneira não muito elogioso,
dizendo assim – “O problema do Ocidente é que os ocidentais pensam demais, mais do que
deveriam. Definem as coisas muito além, eles deveriam parar aqui e não param, vão além
acabando assim errando”.
A deidade do Espírito Santo.
Quando pensamos na pessoa do Espírito Santo, quem é o Espírito Santo? Sabemos que não é
fácil dar essa resposta. As primeiras pessoas a trabalhar a questão do Espírito Santo foram os
Capadócios. Já havia sido trabalhada a divindade de Jesus Cristo e, agora então eles investiram
na questão do Espírito Santo. Basílio escreveu um livro cujo título é – Sobre o Espírito Santo.
Nesse livro ele definiu muita coisa.
Os escritos dos Capadócios prepararam o terreno para que o Concílio de Constantinopla
definisse completamente, desse fecho, para a Trindade como nós cremos hoje.
 A completa humanidade de Jesus.
Atanásio tinha definido que Jesus Cristo era totalmente Deus, os Capadócios deram um contra
ponto forçando, deixando claro que ele é completamente homem também. Isso foi importante
também para o Concílio de Calcedônia que depois vamos falar.
Gregório de Nazianzo escreveu o seguinte: “Aquilo que Ele não assumiu ele não curou”.
Querendo dizer que se Jesus Cristo não foi um homem ele não nos salvou.
Atanásio tinha escrito sobre a encarnação do verbo, de que “Se Jesus Cristo não é Deus, nós não
estamos salvos”.
Tudo começa a ir na direção das duas naturezas de Cristo que vai gerar um problema seríssimo
na Igreja um pouco mais tarde, mas os Pais Capadócios ajudam nesse debate.
 O cuidado dos necessitados.
Nesse ponto nós temos sempre que lembrar de Basílio, ele é conhecido como Basílio o Grande.
Na História muito gente é “O Grande”, nome dado pelos historiadores. Basílio foi diferente, ele era
chamado de Basílio o Grande pelos pobres e necessitados, porque eles diziam – esse é um
Grande Homem. Ele fez muito mesmo pelos necessitados de Cesaréia onde ele era Bispo.
Fundou hospitais, orfanatos e abrigos para pessoas necessitadas. Com Basílio começa essa
coisa que a Igreja sempre teve de investir nesse tipo de instituição, hospitais, orfanatos, de
amparar os necessitados, os que precisam. Houve tempo em que o Estado fazia absolutamente
nada nesse sentido, quem fazia era a Igreja. Hoje a maioria das Igrejas faz pouco isso porque o
Estado já ampara os necessitados normalmente, com isso acabamos perdendo uma bela
oportunidade de testemunho.
Gregório de Nazianzo escreveu um livro “Sobre o Amor aos Pobres”. É impressionante como
esse pessoal escrevia livros, a produção literária deles é realmente algo que assombra, pois não
tinham os recursos de escrita que temos hoje.
A História da Igreja é sempre assim, um constrói em cima do que o outro já estabeleceu. Isso é
bem claro.
 Dois Imperadores
 Juliano, o apóstata (Imperador 361-363)
Esse é o único Imperador que não se diz o nome dele sem falar um qualificativo, ou seja –
Juliano, o apóstata.
Em 337, morre o Imperador Constantino. Ele tem 3 filhos e, os 3 querem ser Imperador. Por um
tempo o Império teve 3 Imperadores, que entre si ficam brigando. No final Constâncio, um dos
filhos, acabou prevalecendo. Ele morre em 361, e foi sucedido por um parente, um primo,
chamado Juliano.
Juliano nasceu em uma família cristã, foi criado como cristão, mas com vinte anos de idade
renunciou a fé. Por isso o nome dele, o apóstata. Na verdade ele se converteu do cristianismo ao
paganismo. Como pode acontecer uma conversão desse tipo? Um historiador argumenta que
toda família de Juliano foi morta pelos 3 filhos de Constantino, que eram cristãos nominais pelo
menos. Porque na briga pelo troco, a família de Juliano tinha também uma cerca possibilidade de
reclamar o trono, sendo assim dizimada pelos 3 filhos do Constantino. Havia uma enorme
incoerência entre a fé professada por aqueles homens e o comportamento deles. Nós já falamos
do problema que é a entrada do Império Romano na Igreja, virando então nessa coisa de
nominalismo, cristão só de nome. Juliano só não foi morto porque um grupo de cristãos preservou
a vida do pequeno menino.
Quando ele assumiu o Império em 361, ele fez absolutamente de tudo para varrer o cristianismo
do mundo. Essa era a ambição dele, queria fazer com que o Império Romano voltasse aos
tempos gloriosos em que ele era pagão e adorava os antigos deuses. Ele chamava os cristãos de
Galileus Ímpios. Ele disse uma vez que o único problema que ele achava para acabar com a
influência dos cristãos e fazer com que eles desaparecessem, era que eles investiam demais em
boas obras, faziam coisas muito boas na sociedade e isso gerava dificuldade para ele. Disse o
seguinte: “Eles cuidam não só dos pobres deles, mas dos nossos também”. Podemos perceber a
Igreja sempre testemunhando nos cuidados dos pobres e necessitados.
Na providência de Deus, o governo dele durou muito pouco, só 2 anos. Morreu em batalha contra
os persas (os grandes inimigos do Império Romano). Dizem que as últimas palavras dele, quando
ele foi ferido mortalmente em batalha, foram às seguintes: “Tu venceste, ó Galileu”. E de fato o
Galileu tinha vencido. Quem é Juliano para afrontar o Senhor Jesus Cristo.
Depois da morte de Juliano o Império voltou a proteger o cristianismo e tudo voltou como era
antes. Por isso que ele é tão marcante, porque só ele tentou fazer isso.
 Teodósio (Imperador 379-395)
Ele é muito importante pelo seguinte, se tornou Imperador em 379, e a grande mudança que
introduziu foi que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Isso Constantino não
tinha feito, ele apoiou o cristianismo, mas não era a religião oficial do Império. Teodósio colocou
como religião oficial do Império, implicando em perseguição a todos os outros, pois o Império só
vai aceitar essa religião daqui para frente. Começa a haver perseguição aos pagãos. Seus
templos começaram a ser destruídos, estabeleceu leis contra a heresia, porque não é só que tem
que ser cristão, tem que ser cristão ortodoxo. Se houver crença em alguma coisa que não for da
Ortodoxia, é punido. Começa aqui algo que ficou conhecido como a Cristandade, Estado e Igreja
unidos, uma coisa só. Isso durou até a Reforma e depois da reforma ainda.
Teodósio ao tentar proteger o cristianismo, fez muito mais mal ao cristianismo do que Juliano
tinha feito.
 Concílio de Constantinopla (381)
Vejam como começou o quarto século. Em 303 começa a pior perseguição que já houve contra
os cristãos, terminando com o cristianismo como a religião oficial do Império Romano. É
revolucionário esse quarto século.
O segundo Concílio Ecumênico é o de Constantinopla que foi convocado pelo imperador
Teodósio, e o principal tema foi: “Divindade do Espírito Santo”.
 Divindade do Espírito Santo
Nesse Concílio foi feita a amarração final do credo Niceno, pois esse só falava do Pai, do Filho e
só citava o Espírito Santo sem qualificar nada. Então em Constantinopla houve a qualificação, e o
Espírito Santo foi considerado Homoousios – mesma substância, que o Pai e o Filho. Na verdade
o que nós hoje chamamos de Credo Niceno, já é a versão modificada de Constantinopla.
O chamado Credo Niceno é o que foi afirmado em Constantinopla.

Credo Niceno-Constantinopolitano

Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, / de todas as coisas visíveis
e invisíveis. / Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, / nascido do Pai
antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, / Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, /
gerado, não criado, consubstancial ao Pai. / Por ele todas as coisas foram feitas. / E por nós,
homens, e para nossa salvação, desceu dos céus:
(aqui todos se ajoelhem)
e se encarnou pelo Espírito Santo, / no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
(aqui todos se levantem)
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; / padeceu e foi sepultado. / Ressuscitou ao
terceiro dia, / conforme as Escrituras, / e subiu aos céus, / onde está sentado à direita do Pai. / E
de novo há de vir, / em sua glória, / para julgar os vivos e os mortos; / e o seu reino não terá fim. /
Creio no Espírito Santo, / Senhor que dá a vida, / e procede do Pai e do Filho; / e com o Pai e o
Filho é adorado e glorificado: / ele que falou pelos profetas. / Creio na Igreja, una, santa, católica
e apostólica. / Professo um só batismo para remissão dos pecados. / E espero a ressurreição dos
mortos / e a vida do mundo que há de vir. Amém.

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