Você está na página 1de 3

HISTÓRIA: A EUROPA MEDIEVAL

Devido às guerras, às invasões territoriais e ao predomínio da Igreja, de modo geral, o período


histórico conhecido como Idade Média está associado à ideia de violência ou atraso. Veremos neste
capítulo como essa associação é equivocada.
A Idade Média corresponde a um longo período, de aproximadamente mil anos (476 a 1453),
dividido, para fins didáticos, em Alta Idade Média (período entre os séculos V e X) e Baixa Idade Média
(entre os séculos XI e XV). Durante esse longo período, houve inovações tecnológicas, mudanças políticas
e sociais, produções intelectuais etc., ou seja, a Idade Média foi um período bastante dinâmico.
O início da Idade Média ocorre concomitantemente ao gradual enfraquecimento do Império
Romano, a partir do século III, quando as diversas tribos que viviam nas regiões fronteiriças do Império
passaram a se relacionar de modo mais próximo com os romanos. É o caso principalmente dos
germânicos, povos que viviam entre os rios Reno e Danúbio (território que corresponde às atuais
Alemanha e Áustria). Essas tribos passaram a ser federados do Império, fornecendo homens para o
Exército romano e protegendo suas fronteiras de outros povos não romanos.
Os povos germânicos
Os germânicos, de forma geral, praticavam a agricultura e o pastoreio. Seus aspectos culturais e
religiosos estavam vinculados ao espírito de guerra da sociedade. A tribo era comandada pelo rei, um
chefe guerreiro escolhido entre todos os homens daquela sociedade.
A partir do século IV, houve um excessivo aumento das levas migratórias em direção ao Império
Romano, em parte pela chegada dos hunos à Europa. Povo de origem mongólica extremamente belicoso,
os hunos partiram da região centro-asiática em direção à Europa e acabaram deslocando outras tribos
germânicas, que não viviam em territórios romanos, para dentro do Império.
A desagregação do Império Romano do Ocidente no século V permitiu o surgimento generalizado
de diversos reinos germânicos na Europa. Entre esses reinos, o mais significativo foi o dos francos.
Os francos
Estabelecidos como federados no norte da Gália (atual França) desde fins do século IV, os francos
sempre defenderam sua permanência nessa região, a ponto de lutarem contra outros povos que tentaram
invadir o Império Romano.
Clóvis, primeiro rei dos francos a ser coroado, reinou de 481 a 511. Pertencia à dinastia
merovíngia, por descender de Meroveu, seu avô. Em 496, Clóvis converteu-se ao cristianismo e iniciou
um processo de expansão territorial pela região da Gália. Essa expansão garantiu a consolidação dos
merovíngios por meio da distribuição de terras ao clero e à aristocracia.
No século VIII, com problemas políticos internos, a dinastia merovíngia enfraqueceu-se e o poder
efetivo passou a ser exercido pelos Majordomus (mordomos do palácio), grupo dos principais funcionários
da corte no Reino Franco. Dessa forma, iniciava-se a dinastia carolíngia.
O primeiro rei carolíngio foi Pepino, o Breve, coroado no ano de 751. Ele contava com o apoio
decisivo da autoridade religiosa de Roma, o papa Estevão II. Esse apoio da Igreja aos carolíngios resultou
na Doação de Pepino, através da qual o rei cedeu territórios conquistados na Península Itálica
diretamente ao papa, que criou os Estados Pontifícios em 756.
Carlos Magno, filho de Pepino, ascendeu ao poder no ano de 768. Monarca guerreiro, deu
continuidade ao processo expansionista franco, conquistando territórios até as proximidades do Rio Elba,
ao leste, e ao norte da Península Itálica, região dos lombardos – povo bárbaro que se estabeleceu ali no
século VI.
Como consequência dessa expansão militar, Carlos Magno conseguiu fortalecer a unidade política
em torno de si, cristianizando os povos recém-conquistados e colocando-se como defensor do papado.
Por conta disso, o papa Leão III coroou Carlos Magno na noite de natal do ano 800 como o “imperador dos
romanos”, título que não era utilizado desde a queda de Rômulo Augusto, em 476. A coroação de Carlos
Magno deu origem ao Sacro Império Romano Germânico, que só desapareceu formalmente em 1806
Renascimento carolíngio e a divisão do Reino Franco
Durante o governo de Carlos Magno houve aumento da produtividade agrícola e das atividades
mercantis, que ganharam impulso graças aos negócios realizados por mercadores judeus e árabes.
Em seu reinado ocorreu também o chamado Renascimento carolíngio, com o incentivo e
desenvolvimento de atividades educacionais e culturais, com o crescimento da atividade intelectual dos
mosteiros. Os monastérios surgiram no Egito por volta do século III, mas só se espalharam pela Europa
Ocidental após a formação da Ordem de São Bento, ou Ordem Beneditina, em 529. Os monges
beneditinos, que viviam nesses mosteiros, reproduziam os livros sagrados, além de obras de filosofia,
medicina, arquitetura e astronomia. Por se dedicarem a copiar tais obras, esses monges também ficaram
conhecidos como copistas.
“[...] assim que Carlos Magno restaurou as escolas e os scriptoria em todo o reino, ele investiu no
trabalho dos mosteiros. [...] Milhares de manuscritos foram recopiados – quase oito mil foram
conservados: as obras dos fundadores da Igreja, de gramáticos, poetas, prosadores. Graças aos copistas,
uma grande parte da herança literária latina foi salva e preservada. Cícero, Virgílio, Tácito e muitos
outros só se tornaram conhecidos pelo trabalho dos carolíngios.” RICHÉ, Pierre. Quando copiar era um estímulo
intelectual. Revista História Viva. Disponível em <www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/quando
__copiar__era__um__estimulo__intelectual.html>. Acesso em 1o dez. 2015.

Com a morte de Carlos Magno em 814, seu filho Luís, o Piedoso, procurou consolidar o Império. No
entanto, a própria multiplicidade de povos sob domínio carolíngio dificultava a centralização do governo.
Além disso, não havia moeda para pagar soldados e funcionários, que recebiam terras por seus serviços,
o que fortalecia os nobres proprietários de terras e enfraquecia o poder real. Luís I ainda teve de
enfrentar seus próprios filhos rebelados, que disputavam entre si o poder. Após sua morte, em 840, o
território franco foi dividido entre seus três filhos pelo Tratado de Verdun, assinado em 843.
A divisão do reino acentuou um panorama de descentralização política no Ocidente europeu,
processo que ocorria desde os momentos finais do Império Romano. Para agravar a situação, a Europa
sofreu, entre os séculos IX e X, uma nova série de invasões de povos vindos de outras regiões. Os ataques
provocaram o colapso da autoridade política dos reis, que já era muito frágil. O trabalho servil, a
fragmentação do poder real e a consagração do poder da Igreja serão algumas das características de uma
nova realidade histórica: o feudalismo.
Feudalismo
A gradual desestruturação do Império Romano possibilitou a formação de novas formas de relação
de trabalho, especialmente do homem para com a terra. Entre essas novas formas de relação, destaca-se
o colonato.
Nesse modelo, indivíduos livres e mesmo escravos se estabeleciam de modo fixo no interior de
grandes propriedades, num lote de terra demarcado, devendo entregar parte de sua produção ao
proprietário. Além disso, deviam pagar taxas, realizar tarefas complementares e trabalhar nas terras do
senhor.
Esse movimento em direção às grandes propriedades está associado à tentativa de fuga dos
camponeses das elevadas taxações do governo romano sobre os donos de terras, ao colapso da economia
mercantil do Império e à insegurança crescente da vida nas cidades, especialmente após as migrações
dos povos não romanos, como visto anteriormente.
Neste cenário de instabilidade, a sociedade romana ruralizou-se e passou a apresentar, de modo
geral, uma divisão básica entre proprietários e camponeses. Esse processo de divisão levou a um
crescente enrijecimento da hierarquia social.
Outro fator que contribuiu de maneira significativa para esse processo de reclusão social foi a
difusão do cristianismo após o século IV. A partir desse momento, quando o cristianismo se tornou crença
oficial em Roma, o clero – composto de homens responsáveis pelos rituais da liturgia cristã – foi aos
poucos ganhando privilégios especiais e grandes poderes políticos (na administração civil) e econômicos
(por suas crescentes propriedades rurais). Esses representantes da Igreja passaram a ser responsáveis
pela salvação de todos os homens, ou seja, a via de comunicação essencial entre o céu e a terra. À
medida que ganhava força e prestígio, a Igreja tornou-se a principal instituição reguladora da sociedade.
Instaurou-se nesse período a mentalidade teocêntrica, ou seja, Deus era o centro de todas as coisas e
toda a sociedade deveria ser ordenada por e para Ele.
Os povos germânicos que entraram nos territórios romanos, inicialmente como federados e depois
nos reinos que formaram, não alteraram esse processo em desenvolvimento; ao contrário, contribuíram
na formação do feudalismo – resultado das combinações de instituições e tradições romanas e
germânicas.
O

Você também pode gostar