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A impressão causada por esta música aos ouvidos europeus de Jean Lery é por ele
descrita: “Essas cerimônias duraram cerca de duas horas e durante esse tempo os
quinhentos ou seiscentos selvagens não cessaram de dançar e cantar de um modo
tão harmonioso que ninguém diria não conhecerem música. Se, como disse, no início
dessa algazarra, me assustei, já agora me mantinha absorto em coro ouvindo os
acordes dessa multidão e, sobretudo a cadência e o estribilho repetido a cada copla:
Hê. He ayre, heyrá, heyrayre, heyra, heyre, uêh.” Bem diversa foi a reação dos
jesuítas diante dessa música. Relata o Padre Manuel da Nóbrega, em carta de 1549,
dirigida ao Padre Simão Rodrigues, que seu colega Aspilcueta Navarro visitava “ora
um, ora outro lugar da cidade e à noite ainda faz cantar os meninos certas orações
que lhe ensinou em sua língua, em lugar de certas canções lascivas e diabólicas que
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antes usavam”. Diz ainda o autor do trabalho do qual definimos esta citação, José
Ramos Tinhorão: “A impressão definida como diabólica das canções indígenas
derivava, naturalmente, da forma pela qual os padres as ouviam, sempre ligadas a
danças rituais, entre batidas de pés no chão, volteios de corpo e pequenos estribilhos
em uníssono, pois – como informava o padre Fernão Cardim falando de “bailos e
cantos” dos índios: “não fazem uma coisa sem a outra”. Para começar, os jesuítas,
assustados com o caráter selvagem do instrumental da música indígena – trombetas
com crânios de gente na extremidade, flautas de ossos, chocalhos de cabeças
humanas, e etc. – trataram de iniciar os catecúmenos nos segredos do órgão, do
cravo e do fagote, que melhor se adaptavam à música sacra. Com o aprendizado
desses instrumentos, a estrutura natural da música dos indígenas, baseadas em
escalas diferentes da européia, e portanto, geradora de um esquema harmônico
igualmente diverso, perdia sua razão de ser, reduzindo-se o som original da música da
terra à marcação de um ou outro instrumento de percussão, ainda permitido no
acompanhamento de umas poucas danças julgadas inofensivas pela severa censura
dos Jesuítas. Com isto já entramos na ação catequética dos jesuítas que incluía como
recurso para cativar mais facilmente os índios e fixar-lhes melhor o aprendizado da
doutrina (católica), a música. (...) A ação dos jesuítas no campo da música tinha
finalidade catequética e visava sobretudo os indígenas. Acontece, porém, que a
conseqüente “deculturação” do índio foi tão radical que, praticamente não ficaram
vestígios da música indígena na música brasileira.
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A partir do texto acima podemos perceber que a música do Brasil formou-se a partir da
mistura de elementos europeus, africanos e discreto substrato da cultura indígena.
Estes elementos trazidos respectivamente pelos colonizadores europeus, escravos e
pelos nativos que habitavam as terras brasileiras recém descobertas, foram
dialogando no decorrer da história, somando-se a outros gêneros musicais que
chegaram posteriormente, mormente no período Imperial e contribuindo com a
formação da música, até os nossos dias.
Conforme lemos no texto, quando chegaram ao Brasil, os portugueses ouviram
músicas muito diferentes das que estavam acostumados e ficaram impressionados
com os instrumentos musicais utilizados pelos nativos, que eram confeccionados com
materiais encontrados na natureza: ossos de animais, ossos humanos, sementes,
cuias, cascas de árvores, barro, pele, penas de animais, bambu e outros materiais
encontrados no seu habitat. A música indígena era ligada às cerimônias, rituais e às
atividades da vida da tribo: cantos e danças de guerra, ritos de passagem, de caça, de
pesca, de invocação, celebração de fatos sociais da vida e da morte, homenagem às
entidades sobrenaturais e aos fenômenos da natureza. A música indígena era uma
prática coletiva da tribo que vinculava o canto à dança, marcada pelo ritmo, com
estribilhos e poucas palavras (melodias repetitivas). Podemos destacar como
contribuições indígenas para a formação da música brasileira alguns instrumentos
musicais e algumas danças como a catira e o caboclinho.
Catira ou cateretê - A dança catira é um ritmo de origem híbrida, pois tem influências de diversas
culturas, sendo as principais: africana, portuguesa, espanhola, européia e indígena.
Caboclinho – dança popular brasileira de memória indígena.
Agogô
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Charamela-
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É importante saber que durante todo o século XIX, principalmente por conta da
confluência de viajantes ou imigrantes de outras nações, houve um intenso diálogo
cultural e musical na cidade do Rio de Janeiro: modinha, lundu, polca, valsa, tango,
maxixe, choro, marcha, ópera e gêneros do teatro musicado, tais como a mágica e o
teatro de revista, contribuíram para a formação da música brasileira. Aos poucos se foi
construindo uma identidade nacional para a música até chegarmos aos gêneros e
subgêneros musicais atuais e à diversidade de instrumentos, práticas e estilos
interpretativos. Vamos conhecer alguns gêneros musicais que se popularizaram e
influenciaram a nossa música.
A Modinha e o Lundu
https://www.youtube.com/watch?v=ozQapMvzqeA
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https://www.youtube.com/watch?v=jXDITbmU-tY
A dança Lundu
Valsa
A valsa é uma dança de origem alemã e vienense. O nome “valsa” tem origem na
palavra alemã “waltzen” que significa “dar voltas”. A valsa foi introduzida nos salões do
Rio de Janeiro pela família real portuguesa em 1808, consagrou-se na vida corte
carioca por ser dançada com a aproximação dos pares e tornou-se um instrumento de
socialização e abordagem galante para os namorados da época.
3-Branca (valsa imperial)
https://www.youtube.com/watch?v=ohPakKN-OqE
Polca
Maxixe
O maxixe é uma dança popular urbana criada no Rio de Janeiro, na segunda metade
do século
XIX. Sua invenção é atribuída aos habitantes da Cidade Nova – bairro do Rio de
Janeiro surgido por volta de 1860, que em 1872 já havia se tornado o bairro mais
populoso da cidade e também o bairro dos divertimentos mais liberais. A dança foi
considerada desde o início muito vulgar e um tanto escandalosa para os costumes da
época por causa da excessiva aproximação e entrelaçamento das pernas dos pares. O
maxixe resultou dos esforços dos músicos de choro em adaptar e estilizar o ritmo das
músicas dançantes tais como a polca e o lundu dançado e cantado, aos volteios e
requebros de corpo que agradavam aos dançarinos de salões das classes mais
populares, que ousavam inovar os passos das danças de salão tradicionais. A
descoberta do novo gênero de dança chegaria ao conhecimento das demais classes
sociais do Rio de Janeiro quase simultaneamente a sua criação, porém inicialmente
restrito aos bailes das sociedades carnavalescas e aos quadros de canto e dança do
teatro de revista.
https://www.youtube.com/watch?v=q78QC47iP_o
Bibliografia
TINHORÃO, José Ramos. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34,1998.
KIEFER, Bruno. A Modinha e o Lundú.Porto Alegre: Editora Movimento, 1986.