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A

Nação
Efon
Robson Bento Outeiro
Registros
de um patrimônio
imaterial

SAUDAÇÃO
AOS IRÙN MÓLÈ

Cantiga onde louvamos


a chegada das
divindades na Terra,
dando as boas-vindas!
Nota desta edição

Frente às variadas grafias que palavras na língua


yorubá podem assumir à partir de uma origem
nigeriana — como orisa para orixá, ou asé e àse
para axé, ou Sango para Xangô — esta publicação
optou pela grafia na língua portuguesa como um
reconhecimento da assimilação dos costumes e
tradições da nação Efon no Brasil, e mantivemos
exemplos em yorubá, amostras da evolução e
transformação viva da tradição oral em língua escrita
no Brasil.

Edição 1

2 A Nação Efon
INTRODUÇÃO

Diante dos recorrentes ataques às religiões de


matrizes africanas, evidenciando, a olhos nus, a
prática de crimes de racismo e intolerância religiosa
na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
o projeto Nação EFON – Religiosidade e Fé surge como
um levante em defesa do nosso Patrimônio Cultural,
enquanto referência e memória. Uma resposta direta
àqueles que não se reconhecem na sua própria
história.

3 A Nação Efon
O conteúdo aqui reunido no formato e-book apresenta,
cuidadosamente, registros sonoros e visuais que compõem
o vasto patrimônio imaterial da nação Efon, dentre
cânticos, ritos e orações, capitulados no exercício da fé e
da religiosidade.

Frente a todas as adversidades, acentuamos a


importância da salvaguarda da tradição oral na
subsistência dos saberes e práticas dos povos da África
aqui aportados, diante deste mundo chamado Brasil em
sua imensidão.

Esta publicação digital nasce pelas mãos de muitos e


seguirá firme e pulsante, acenando com páginas em
branco, a serem preenchidas pela fé dos filhos e filhas
deste chão, sem um fim à vista.

Robson Bento Outeiro

Saudação
ao òrisÀ Oloòke

4 A Nação Efon
SUMÁRIO

A expressão mais forte, contundente e rica


Haroldo Costa 8

A Nação Efon: o terreiro Axé Oloroke


Alexandre Mantovani de Lima 13

A fundação do Ile Ogun Anaeji Ni Oman


Alexandre Mantovani de Lima 26

Cristovão d’Ogunjá
Alagbe Adam T’ Ògún 31

Iyalorixá Maria d’ Xangô


Thais de Oyá 49
Toques, cânticos e narrações

vídeo Saudação aos Irùn Mólè 1

áudio Saudação ao Òrisà Oloòke 4

áudio Saudação Ìyálòrìsa Maria D’ Sàngó 7

vídeo Saudação a Iroko 8

áudio Oriki de Exú 12

áudio Agerê de Oxóssi 13

vídeo Saudação a Ogun 19

áudio Reza do Òrìsà Ògún 19

vídeo Ogan 20

vídeo Reza de Yemonjá 21

áudio Ritmo Ìjèsà 23

áudio Cântico à Sàngó 25

vídeo Reza de Oxum 30

vídeo Reza de Oiá 31

áudio Cântico à Sàngó 49

vídeo Reza de Sàngó 53

vídeo Yalorisá Maria de Sango 61

vídeo Cantiga de Confraternização Àse Ó Dará 62


Saudação
Ìyálòrìsa Maria D’ Sàngó

7 A Nação Efon
A expressão mais forte,
contundente, rica, é,
sem dúvida, aquela que
vai do coração para
a boca, vocalizando
sentimentos que
recusam o silêncio.
Haroldo Costa

SAUDAÇÃO
A IROKO

Cântico em saudação
ao Òrìsà Ìrókó,
cantado pelas nossas
crianças do Àse

8 A Nação Efon
A milenar cultura africana, que não é homogênea
nem cristalizada, tem como demonstração da sua
riqueza os cânticos entoados no trabalho árduo e
nas evocações aos orixás. Na diversidade de seus
bens culturais, etnias e diferenças territoriais, é na
cosmogonia que todos se encontram, e este é o traço
principal da diáspora.

Cada vez se faz mais necessário que se conheça e se


respeite os fundamentos sobre os quais se ergueram
os cultos às divindades negras nas suas diversas
denominações e associações com a nossa formação
cultural. Deixe-me esclarecer que não se trata de
cooptação ou tentativa de forçar uma concepção de
vida pautada na crença.

9 A Nação Efon
Tampouco é a folclorização de uma religião que não
obstante a sua base: yorubá, ketu, muçurum, tem uma
proposta ecológica que passa pela identificação dos
orixás com a botânica e com os elementos da natureza.

Com a devolução dos objetos que compõem a liturgia


dos cultos dos orixás (candomblé e umbanda),
é imperioso que se expanda ao conhecimento geral
a sua importância no imaginário e nos sentimentos
atávicos que os transformaram no contencioso cultural
dos milhares de negros africanos que aqui chegaram,
numa terrível e desumana viagem, onde o que lhes
restou foram os resíduos da sua fé e da sua devoção.
Foi aí que a oralidade se instalou, como ponte do
conhecimento que se impôs entre a África e o Brasil.

10 A Nação Efon
As novas gerações terão a oportunidade de trafegar
desta ponte e encontrar suas referências. É uma tarefa
da qual não podemos nos eximir, sob pena de raspar,
pela segunda vez, a nossa identidade. Não podemos
nos enganar que somos um país de ascendência
europeia. Até que somos, um pouco. Porque nossa raiz
está, definitivamente, do outro lado do Atlântico.

Haroldo Costa

Fundamental na valorização da cultura negra, Haroldo Costa é ator, diretor, produtor,


escritor, dramaturgo, artista plástico, professor, deputado federal e senador, sem
jamais esquecer sua origem. Atuou no Teatro Experimental do Negro em papéis
importantes em “O Auto da Compadecida” e “Orfeu da Conceição”. Grande difusor
da arte de nossa gente, incansável na busca do resgate e da preservação da nossa
cultura, do que é ser negro no Brasil, para além dos estereótipos que limitam a
contribuição da cultura africana.

11 A Nação Efon
ORIKI DE EXÚ
Òrìsà Èsù

12 A Nação Efon
A Nação Efon:
o terreiro Axé Oloroke,
em Salvador, Bahia
por Alexandre Mantovani de Lima

Agerê
de Oxóssi
[Ágere D´Òsòósi]

13 A Nação Efon
A palavra Efon pode ser pronunciada em yorubá, segundo Capone
(2004, p. 39), como “efon ou efan”. Optamos por manter Efon, como é
utilizado pelos terreiros de candomblé que se reconhecem descendentes
ou vinculados ao Axé Pantanal. Silveira considera que a cidade Efan é,
na realidade, a cidade de Efon, no antigo Reino de Ekiti, na fronteira
leste de Ijesá.

Silveira (2006, p. 472) salienta que “Ekiti, ‘o país das colinas’ era uma
federação de dezesseis pequenos reinos, sendo Adô Ekiti a capital do maior
deles”. O processo de institucionalização do Candomblé da Barroquinha
se deu através de uma sucessão de fundações, como a nação Efon, onde o
culto dos orixás [òrìsàs] brancos tinha forte presença institucional:

Após independência do Brasil, um número cada vez maior de


yorubás de todos os quadrantes começou a chegar à Bahia.
Dentre eles, os habitantes da bacia do Rio Oxum eram muito
numerosos, particularmente os ijexás, ifés e efans, pois sua
região foi saqueada em 1826 e, a partir dessa época, devem ter
organizado na Barroquinha o culto de Ibualama, Oxum, Oxalá,
Oxaguiã e demais orixás da cor branca (SILVEIRA, 2006, p. 470).

Bacia do Rio Oxum.

Fonte: Renato da Silveira

2006, p. 469.

14 A Nação Efon
A cidade de Efon Alaaye está situada a cerca de 500 metros acima do nível
do mar. A topografia é montanhosa e os montes foram utilizados pelo povo
durante os guerras intertribais. As colinas de Efon aparecem no ditado
como sendo de difícil acesso para invasores: Omo-Oloke lomoke arma (É o
filho da terra que pode subir os morros com facilidade). Estes dois morros
estão localizados na cidade Ikere Ekiti. As divindades responsáveis por
esta colina são Olosunta e Orole, talvez uma das qualidades de Oloke,
representado na imagem das duas colinas. Segundo a tradição oral1 do
Axé Oloroke Pantanal, em 1880 chegou ao Brasil o africano escravizado
de nome José Firmino dos Santos, também conhecido como Tio Firmo
Bàbá Irufá2. Deixou a cidade de Ekiti-Efon, na Nigéria, no período que
coincide com as guerras assinaladas por Silveira (2006, p. 491).

1 Representada na pessoa de Maria d’ Xangô, atual dirigente do terreiro Ile Ogun

Anaeji Igbele Ni Oman, Axé Oloroke Pantanal, na Rua Eça de Queiroz, nº17, bairro

Pantanal, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Neta de Cristóvão Lopes dos An-

jos, iniciado pelos fundadores do Axé Oloroke da Bahia.

2 Na pesquisa de Prandi, Tio Firmo (Bàbá Irufá) é citado como “o africano Tio Firmo

Olufandeí”. Cf. PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo: a velha magia

na metrópole nova. São Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de São Paulo,

1991, p. 94.

As colinas onde se cultuam as divindades Olosunta e Orole.


Fonte: http://ekitistate.gov.ng/about-ekiti/tourism-in-ekiti

15 A Nação Efon
Bàbá Irufá, acompanhado de sua filha Asika e de sua ama-seca Iyá Ade-
boluiye, que adotou o nome de Maria Bernarda da Paixão, fez a passa-
gem do meio no mesmo navio que Mãe Milú, que posteriormente viria ser
a mãe pequena do terreiro.

Aportaram em Salvador, designados para trabalhar na fazenda do En-


genho Velho de Brotas. Depois da libertação dos escravos, o dono do
engenho dividiu-o em lotes para que os negros alforriados cuidassem da
terra. Foi assim que Tio Firmo do Orixá Oxum e Xangô “herdou” o lote do
Engenho Velho de Brotas na antiga Travessa Antônio Costa nº12, Sal-
vador, Bahia, onde em 1901 planta Roko e Iroko, árvores sagradas cujas
mudas vieram da Casa Branca do Engenho Velho. Nesta mesma data,
funda o Ilé Oloroke, que tem como patrono o orixá Oloke.

Ilé Axé Oloroke, o primeiro terreiro da nação Efon fundado na Bahia.


Fonte: axeoloroke.com.br/efon.html.

16 A Nação Efon
Até 1905 Tio Firmo presidiu o Axé em Brotas junto com sua filha Asika,
que veio a falecer no mesmo ano. Tio Firmo dividiu as responsabilidades
com Maria Bernarda da Paixão (Iyá Adeboluiye), e em 1908, passou
para ela a direção da casa3.

Em 1909 falece Tio Firmo, o que levou Iyá Adeboluiye a ser a segunda
pessoa a assumir a cadeira mais alta na direção do Axé Oloroke. Iniciou
Mãe Milú d’Yemojá (Iyá kekerê)4, que, segundo o povo mais antigo, deu
à luz aos pés de Iroko; Cristóvão Lopes dos Anjos5, Matilde Muniz Nas-
cimento, conhecida no santo como Matilde d’ Jagun, Cristina d’Yemojá
(esposa de Cristóvão), e o filho de mãe Milú, Paulo S. de Oliveira, inicia-
do ao orixá Xangô, que posteriormente escolheu outra religião. Em 18 de
novembro de 1945, faleceu Maria Bernarda da Paixão, a Maria d’ Oloke
(Iyá Adeboluiye). A terceira pessoa a assumir a cadeira mais alta do ter-
reiro Axé Oloroke foi Matilde d’Jagun, a qual iniciou Crispina d’Ogum,
Nair d’Oxum e Arlinda d’Odé, tendo também como filhos Maria de Lour-
des dos Santos e Angélica Maria de Assis.

3 Cf. na sessão Lista de Documentos: Cartório do 3º Ofício em 15 de agosto de 1908.

4 Iyá – mãe, kekerê – pequena: auxiliar imediata e substituta eventual da

Iyalorixá ou do Babalorixá

5 Cristóvão Lopes dos Anjos nasceu em 24 de julho de 1908. Sua obrigação

iniciática foi feita quando estava com apenas dez anos de idade, ocasião que foi

confirmado Asògún da Nação do Efon, sendo investido, mais tarde, nas funções

de primeiro Oluwo da casa.

17 A Nação Efon
Matilde d’Jagun faleceu em 31 de outubro de 1970, o que levou Cristóvão
a assumiu a direção do terreiro em Salvador, dividindo seu tempo entre
o Axé Oloroke, em Salvador, e o Axé Oloroké Pantanal – Ilé Ògún Anaeji
Ìgbele Ni Oman – Olokiti-Efon, no Rio de Janeiro. Na sua ausência, Ar-
linda d’Odé, filha de santo de Matilde d’Jagun, era a responsável pelas
atividades do terreiro em Salvador. Cristóvão d’Ogunjá faleceu em 23 de
setembro de 1985, no Rio de Janeiro, de modo que a direção do terreiro
de Salvador passou para a Iyalorixá Crispina de Ogum (Crispiniana de
Assis) até quando esta, em 1993, veio a falecer.

Há diversas versões a respeito de quem realmente seria o herdeiro do


Ilé Axé Oloroke da Bahia. Após a morte de seus fundadores e dirigentes,
o terreiro sofreu um trauma por disputa entre adeptos da nação Efon
que pretendiam assumir a direção. Trataremos deste episódio a partir do
ponto de vista da dirigente do Axé Oloroke Pantanal.

Alexandre Montovani de Lima

Axé Pantanal,
Rio de Janeiro

18 A Nação Efon
Saudação
a Ogun

Cântico em saudação
ao Òrìsà Ògún

Reza
do Òrìsà Ògún
Ogun Ná akaìyé
Osin Imolé
[Reza do Orixá Ogun]

19 A Nação Efon
Ogan

Toque Àlújà de Sàngó


entronizado pelos Ògá`s

20 A Nação Efon
Reza
de Yemonjá
[Reza de Iemanjá]

Cântico em saudação à
Òrìsà Ìyágbá Yemonja

21 A Nação Efon
22 A Nação Efon
Ritmo Ìjèsà

23 A Nação Efon
24 A Nação Efon
Cântico
à Sàngó

25 A Nação Efon
A fundação do
Ile Ogum Anaeji Igbeli Ni Oman:
da Bahia para o Rio de Janeiro,
onde será conhecido como
AXÉ Pantanal
por Alexandre Mantovani de Lima

26 A Nação Efon
Cristóvão Lopes dos Anjos nasceu no dia 24 de julho de 1908, filho de
Tertuliano Lopes dos Anjos e Matilde Oliveira Guedes, que desde muito
cedo, frequentava o terreiro de candomblé dirigido por Maria Bernarda
da Paixão. Desde criança, Cristóvão trocava as correrias e brincadeiras
de rua por longas e demoradas conversas que duravam até a noite, por
vezes mal iluminadas pela luz tênue de um lampião, quando Maria
Bernarda da Paixão confiava-lhe os segredos e os fundamentos do culto
aos orixás. Sua iniciação foi feita quando contava com apenas 10 anos de
idade, ocasião em que foi confirmado Axogum e mais tarde é investido na
função de primeiro Olúwo da casa.

O termo iorubá Olúwo Ol (senhor) + awo (segredo), mistério, ou seja,


senhor do segredo é uma das denominações aos sacerdotes do culto a
Ifá. Com a diáspora africana, alguns Babalawos chegaram ao Brasil.
Reiteramos que, o próprio fundador da nação Efon na Bahia, José Firmino
dos Santos era conhecido como Babá Irufá, o primeiro sacerdote a sentar
na cadeira do Axé Oloroke. Portanto, é razoável considerar que o título
de Olúwo transmitido a Cristóvão, não seja considerado da mesma forma
que se compreende o título dos Babalawos do culto a Ifá, e sim, como uma
ressignificação do termo, o senhor do segredo, ou o portador da tradição
da nação Efon confiada por Maria Bernarda da Paixão, que veio a falecer
em 1945, quando a direção passa para Matilde d’Jagun.

Cristóvão fundou o seu primeiro terreiro de candomblé, Ilé Ògún Anaeji


Ìgbele Ni Oman em Ubarana, Salvador, em 1938. Iniciou neste terreiro,
Maria d’Oxalá, Arlete d’Oxum, Regina d’Ogum (sua irmã carnal),
Waldomiro d’Xangô (Baiano) e Anália d’Oxum. Em 1949, pensando
em difundir o Axé Efon no Rio de Janeiro, muda-se para Avenida Assis
Vargas nº 626, no bairro Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.

27 A Nação Efon
Em 1950, compra o terreno na Rua Eça de Queiroz, Q. 69, lotes 15, 16, 17,
31 e 32, no bairro Pantanal em Duque de Caxias. No dia 1º de maio de 1951,
plantou as árvores sagradas Roko, Iroko, Dendezeiro, Jaqueira, Bambuzal,
além de outras plantas necessárias ao culto. Os assentamentos dos orixás
Ogunjá, Oxalá e Oloke vieram no “navio negreiro”, caracterizando uma
diáspora interna tanto das divindades quando dos descendentes dos
povos africanos do Nordeste para o Sudeste.

As funções no Axé deram início no mês de junho nos festejos de Santo


Antônio com novena, ladainhas encerrando no dia 13 de junho de 1951.
No sábado dia 16 de junho de 1951, fez-se o toque de Alvorada6 e celebrou
uma missa no terreiro. À noite, tocou o candomblé d’Ogun. No dia 18 de
agosto de 1951, às 15 horas. Cristóvão inaugura a casa de Obaluàiyé com
uma das festas mais importantes do candomblé, 1º Olugbajé 7.

6 Alvorada, o nascer do Sol é celebrado ao som dos toques em homenagem a todos os

orixás que dançam diversos ritmos: a começar com a arramunha/avania/ Vamunha,

Adahum, Agueré, Opanijé, Bravun/Satò, Oguele, Madevó, Tonibodè, Alujá, Awò, Ijesá, Ilú/

Adaró, Agagbi/Vassi, Jinká, Têdo, Batá, Igbin.

7 Banquete ritual realizado em honra dos òrìsàs Omolu (filho do Senhor), Obaluaiye (rei

da terra), Onilé (senhor da terra), Sapata e Sapanà (deus da varíola). Seu fundamento

é um mito no qual todos os orixás, depois de terem ofendido Omolu e temerosos da

peste que ele lhes enviara, resolveram agradá-lo com um banquete faustoso e festivo,

geralmente as festas do Olugbajé é realizada no mês de agosto.

28 A Nação Efon
Cristóvão d’Ogunjá procurou manter viva a memória dos primeiros
fundadores da nação Efon, os africanos já citados por quem foi iniciado.
Sua neta, a atual dirigente do terreiro, a Iyalorixá, Maria José Lopes
dos Anjos foi iniciada aos seis anos de idade no culto de Xangô pelo
avô em 1953, e aos 14 anos recebeu o cargo de herdeira do Axé. Hoje,
a Iyalorixá Maria d’Xangô, se considera apenas um instrumento, uma
pessoa que aplica a vontade dos orixás e do seu avô (na condição de
ancestral Babá Odé Orun Aueji).

Nestes 82 anos de existência do terreiro contando a partir da sua


fundação em Ubarana, Salvador - BA, cabe assinalar o que permaneceu
como status identitário e registrar sua especificidade que o diferencia
de outras nações como Angola, Ketu e Jeje, bem como os elementos
em comum que pertence a elas.

Alexandre Mantovani de Lima

29 A Nação Efon
Reza
de OXUM

Reza e cântico
em saudação a
Òrìsà Ìyágbá Òsùn

30 A Nação Efon
Cristovão D`Ogun
por Alagbe Adam T’ Ògún

Reza
de OIÁ

Reza e cântico em saudação a


Òrìsà Ìyágbá Oya

31 A Nação Efon
Sr. Cristóvão Lopes dos Anjos nasceu em 24 de julho de 1908, numa casa
modesta, perto do Largo de Santa Luzia, que ficava no fim da linha do
Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia. Seus pais: Tertuliano
Lopes dos Anjos e Mathilde Oliveira Guedes tiveram oito filhos: quatro
mulheres e quatro homens. Sobre a infância de Cristóvão não é difícil
falar, porque sempre foi muito dedicado aos òrìsà’s.

Desde muito menino, ele convivia no candomblé. Vivia no Axé junto com
a finada matriarca Maria Bernarda da Paixão Ìyá Adebolui D’ Oloòkè.
E, no Candomblé, adquiriu muito conhecimento. Com 12 anos de idade
foi iniciado para o òrìsà Ògún e teve o posto confirmado como Asogun da
casa Matriz. Era uma responsabilidade muito grande para um menino
daquela idade. Três vezes por dia, ele ia tomar a benção à Ìyá para saber
o que ela queria; ao meio-dia ele ia também; e à noite ele ia para dar a
ceia. Na Bahia não tem jantar, tem ceia. A infância dele foi essa. Viveu
em função do Òrìsà.

Aprendeu muito com Sra. Maria Bernarda da Paixão, que, de origem


africana, transmitiu a Cristóvão todo o conhecimento que tinha. Ele
falava Yoruba fluentemente, sem ter nunca aprendido a língua africana
na escola. Chamava a frequência diária na casa de candomblé de “anos-
ofício”. Ainda jovem formou-se em tipografia pelo Liceu de Artes e Ofícios
de Salvador, que era uma escola muito severa. Sua diplomação pode ser
encontrada no museu do Axé Oloroke Pantanal, hoje sendo a atual matriz
da nação Lòkìtì Èfon no Brasil.

Por volta do ano de 1930, uniu-se a Celina Alves de Souza, de Yemanjá,


também filha do Axé Olooròkè de Brotas, do Segundo Barco da Roça.

32 A Nação Efon
Tiveram quatro filhos: Arlinda (Lindinha), Milton, Valdomiro (Vavá)
e Dinorah. Lindinha foi feita no Axé Obarana — primeira roça de
candomblé fundada por Sr. Cristóvão em meados de 1937 — com 14 anos
de idade, por Sra. Runhó do terreiro do Bogun, também localizado na
região de Brotas. Sra. Lindinha não pertencia à nação Efon, mas sim
à nação Jeje. Milton (Melodia como era conhecido), filho de Cristóvão,
era Ogan suspenso: nunca chegou a ser confirmado. Cantava de Èsù a
Òsàlà em Èfòn no ritmo Ìjèsà e tinha uma voz melodiosa, tanto que seu
apelido era Melodia. Vavá, de Òsòógìyàn, foi confirmado Alágbè do Sàngó
de Sr. Waldomiro Baiano. Vavá também tinha uma bela voz, excelente
Ogan, pessoa humilde. Dinorah, quarta filha de Sr. Cristóvão, morava
em Salvador, Bahia. Filha de Logunedé, foi feita na região cachoeira de
São Félix. Nunca teve casa aberta e nunca se dedicou tanto ao òrìsà.

Peji de Cristóvão Lopes dos Anjos


Fonte: Arquivo Pessoal

Barracão, vista externa.


Acervo Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos

33 A Nação Efon
Cristóvão teve 21 netos. Sra. Lindinha teve 16 filhos, sendo três partos
de gêmeos; Milton teve uma filha; Vavá, duas filhas, e Dinorah, duas
filhas também. Seus netos todos cultuam o candomblé, a exemplo da
atual Ìyálòrìsà da casa e herdeira do Axé Sra. Maria D’ Xangô e Sr.
Lauro, que tem sua própria casa de santo e hoje reside em Vitória,
no Espírito Santo. Sr. Cristóvão veio a falecer 23 de setembro de 1985,
deixando este grande legado ao povo de Axé.

Alagbe Adam T’ Ògún

34 A Nação Efon
ORAÇÕES DE
SANTO ANTÔNIO

As orações aqui apresentadas são fundamentados na oralidade e


na devoção popular preservada no terreiro Ilé Ogun Anaeji Igbelé Ni
Oman – Axé Oloroke Pantanal – conforme a transmissão de seu fundador
Cristóvão Lopes dos Anjos/ Cristóvão d’Ogunjá, devoto de Santo Antônio
desde os 12 anos de idade. O culto à Santo Antônio era feito durante treze
dias corridos, do dia 1º ao 13 de junho, no próprio terreiro, conduzido
por grupos diferentes, sendo o ultimo reservado ao dono da casa. A
festa durava o dia inteiro, com despedida e encerramento às 18 horas.
Atualmente, é realizado nos dias 11, 12 e 13 de junho e conduzido por
sua neta e herdeira, Maria José Lopes dos Anjos.

35 A Nação Efon
SALVE 13 DE JUNHO

Vinde Espírito Divino1 1 Oração tradicional do latim:


Vossa alma renova sobre o peito Veni, Sancte Spiritus.
Que criastes céu celeste derramais.
Veni, nostri cordium.

Et emitte caelitus.
Foste vinho consagrado
Lucis tuae radium.
Promessas boas do pai
Como vosso divino remédio
Toca os lábios jerevaraís2 [bis]
Deus me ajutora, o meu intimo dominais 2 Em algumas passagens, o vocabulário

de Portugal foi mantido inalterado.


Joana Lastime
Glória ao Pai, ao filho e ao Espirito Santo
Se pudesse principiar e de nunca
Em sempree e de Séculus Seculorun

36 A Nação Efon
II
GLORIOSO SANTO ANTÔNIO

Glorioso Santo Antônio


Com Deus menino nos braços fazei
Com que ele nos prenda com seus amores laços

Glorioso Santo Antônio


Em milagre protentoso
Pedi a Deus que nos dê
Um coração fervoroso.

Glorioso Santo Antônio


Espelho de castidade conservai meu coração
Livra-me de todas as maldades

Glorioso Santo Antônio


Dai-me a vossa proteção
Na Terra guia meus passos
Alcançai-me a salvação

Glorioso Santo Antônio


Que deparais os perdidos
Alcançai-me com seu grande dedo
Dou-te a Deus bendito

Glorioso Santo Antônio


Meu coraçõe vos ofereço
A Jesus ainda que não mereça

Glorioso Santo Antônio


Luz do Mundo repungente
Dai-me a vós para que eu possa ver
A Deus eternamente

37 A Nação Efon
LADAINHA3

3 Ladainha é uma forma de


Kirie eleison
invocação e resposta a Deus,
Kirie eleison
Criste elande -nos [bis] a Jesus e ao Espirito Santo, à

Pater de celis dus Santissima Trindade, à Maria,


Mestre em nobis santos e santas da Igreja que
Silio redentor mundo Deus
fizeram suas passagens neste
Espirito santo e deus
mundo, sendo recitadas em
Santa trinas uns Deus
forma de versos e prosas,
Santo Antonio santo
Português fiel nacional que remetem ao conjunto de

Pregador das gente eventos e elementos simbólicos


Estrêla do inocência na vida e no imaginário
Defensor da pátria
religioso popular.
Espelho da europa brasão luzitano
Estrela da Espanha
Luz da Itália
Antonio sagrado honra
Dos menores
Amado de Deus
Querido dos homens

38 A Nação Efon
Antonio milagroso
Antonio apostolico
Antonio bendito coluna
Da igreja zelador da lei
Vazo da benção
Pregador da fé
Oraculo do céu
Martelo do desejo
Antonio adorado
Assobro do demonio
Flagelo dos vicios
Mestre das virtudes
Doutor evangelico
Martelo dos ereges
Antonio angelico ferros do inferno
Arca dos testamentos
Antonio glorioso
Retrato de todos os santos
Antonio agusto
Antonio santo
Antonio de Pádua.

39 A Nação Efon
AGNUS DE DEUS

Agnus Dei, que tirais o pecado do mundo


Dicece Nobis Domine

Agnus Dei, que tirais o pecado do mundo


Laudemos Nobis Domine

Salve Oh! Antônio


Ouve os rogos meus

Misericórdia
Alcançai de Deus.

Sois vida doçura


Dos vossos devotos

Dos seus firmes votos


Esperança certa mostrai
Nossas almas ao Onipotente

Para merecermos de Cristo também


Rogai as promessas para sempre
amém

40 A Nação Efon
INCENSO ORAÇÃO

Subiu precioso incenso Deus vos salve glorioso Antônio


Até o trono do altíssimo Reparador das coisas perdidas
Incensai glorioso antônio Da eterna vida Santa Maria.
Com perfume suavíssima.
Deus vos salve Antônio
Ah! Piedoso Antônio Santa tocha abrasada do divino
Adorai o Céu e a Terra Influenciada meu coração neste jogo
Abre o tesouro divino Para que sempre vida nas suas
Mil graças em vossa incensará amorosas chama
Ave Santa Maria
As grandezas desprezastes
Ouro e pedra embalçamadas Deus vos salve Antônio
acentai Santa luz brilhante do universo
Subiu precioso incenso Ilumina minha cegueira
Até que chegou ao altar Para que julgas das tubas da voz
Incensou glorioso Antônio Ave Santa Maria
E o menino singular

41 A Nação Efon
BENDITO

Português Antônio Ouve que vos peço saber


Todo soberano vieste ao mundo O que vós quero que seja
Depois de um ano. Graça espero auxilio de graça.

Depois de um ano Cuja graça espero de vós alcançar


Vieste a Terra Auxilio de graça para não pecar.
Para que meu santo
Todo em vós se encerra. Para não pecar
Vós o sustentou
Tudo em vós se encerra Com toda grandiosa
Por não ter igual no Céu e na Terra Louvado seja.
Luz de Portugal.
Louvado e louvado seja
Luz de Portugal foste de Lisboa O menino também
Pois vosso nome Que nos deu a gloria
Seja fama a fora. Para sempre amém.

Sua fama a fora Bendito e louvado seja


Por todo Universo O menino Deus nascido
Portugues Antônio Que nos braços de Antônio
Ouve o que vos peço. Fez seu trono esclarecido.

42 A Nação Efon
Vós menino que desceste do céu Aceitei nossos pedidos
Nos braços de Antônio livrai-me pois Oh! Antônio milagroso
Vossas graças da tentação Permita bem que louvamos
do demônio. Vosso nome glorioso.
E também seja louvado
Antônio de Pádua e luz Rogai por nós
Com Deus Menino nos braços Oh! Antônio a este belo Jesus
Na outra a Santa Cruz. Que nos dê a nossa graça
Para sempre amém Jesus.
Vós Antônio mereceste
Pela vossa humildade
Sendo frade dos menores
Fez seu trono de divindade.

43 A Nação Efon
OUTRO BENDITO BENDITO LOUVADO SEJA
VIVA SANTO ANTONIO

Viva Santo Antônio Oh! Antônio sois divino


Nosso advogado do céu Sois protetor de Portugal
E na Terra vós sois festejado. Rogai por nós santo menino

Socorrei Antônio Dai-me tempo meu Jesus


Hoje neste dia Pai do poderoso Deus
A nossa miséria Pedindo a Deus perdão
Nossa mais valia Seja pelo amor de Deus.

Antônio Bendito de Deus Misericória meu Deus


Estimação no Céu e na Terra Misericórdia Senhor
E na Terra vóis sois festeja. Misericórdia vos peço
Este grande pecador.

Hoje festejamos com toda grandeza Vosso sangue precioso


Viva a Santo Antônio Soberano rei da Glória
O pai da pobreza santo que estais Para o que pedimos todos
naquelas alturas Senhor Deus misericórdia.
Pedindo a Deus pela criatura.

Alegres festejamos com todo fervor


Viva Santo Antônio protetor.

44 A Nação Efon
JACULATÓRIO4 13 DE JUNHO

Antônio Santo de Jesus amado Glorioso Santo Antônio


valei-me Um milagre nos mostrou
Sempre com vosso amparo Que no dia 13 de junho do castigo
Antônio Santo de Jesus querido nos livrou.
Valei-me sempre do maior perigo
Antônio de Jesus valido Nosso Senhor Jesus Cristo
Valei-me sempre em Já nos tinha prometido
vosso________________________ Acabar com mundo em jogo
Por ser tão ofendido.

Santo Antônio por ser santo


4 Invocação, clamor, força de ímpeto
Pediu a nosso senhor
e devoção direcionada a Deus, Que não matasse seu povo
a Santíssima Trindade e a todos os Pelo seu divino amor.
santos e santas da Igreja.

45 A Nação Efon
SALVE GRANDE ANTÔNIO

No senhor Jesus Cristo Salve Grande Antônio


Não lhe quis perdoar Santo Universal
Santo Antônio fez-se prantos Que ampara os aflitos
Para o perdão alcançar. Contra o mal

Aquela hora marcada Vem mereceste


Pelos rogos de Antonio Ser mereceste
Foram todas perdoados. Em vossos braços
Oh! Salvador
Uma bandeira de glória
Com a mão na cruz seguia Desprezando as horas pela sua pobreza
Combatendo no inferno A Jesus vós destes com ardor e firmeza
Defensor das criaturas. Em Santas missões povos converteu
Vossa língua santa que não pereceu.
Os fiéis vem a andar Nos berços sois glória para os luzitanos
Quer por nosso nome na Cruz E depois grandeza dos italianos.
Para nos livrar do mal
Para sempre amém Jesus. Irmão protetor
Sois dois brasileiros
Que milagre cantam
Por século inteiro.

Neste centenário
Do grande esplendor
Do céu nos mandaram
Luz, graças e fervor

46 A Nação Efon
OFERECIMENTO ROGAI POR NÓS OH! ANTÔNIO

Meu insigno português Onde reinar a alegria junto a Deus


Ofereceu-nos hoje o coração glorioso
Com todo meu coração Santo Antônio sobre vossos filhos
Este meu culto sincero. Lança vossa benção carinhosa
Do céu as graças nos dá.
Se foste da mãe de Deus
Tão fino, tão puro amante Rogai por nós oh! Antônio
Por Deus fazer com que eu seja Por vossa benção serenas
também Nas virtudes generosas
Neste amor constante O pecado evitaremos.
Peço a vós que me ampares
Na vida e morte também Por benção tão amorosas
Até que nos conduzeis Rogai por nós oh! Antônio
A santa Jerusalém. Lá no céu onde reina junto a Deus.

A BÊNÇÃO

Eu vos peço oh! Antônio


Por vossas trezenas benditas
Que nos lance a vossa benção
Durante a nossa vida.

47 A Nação Efon
DESPEDIDAS (Encerramento) ADEUS – DESPEDIDA

Milagroso Santo Antônio Com afeto e ternura digo adeus


Neste mês tão festejado Por despedida glorioso santo Antônio
Não há ninguém neste mundo Ofertamos almas e vidas.
Que por vós não seja amado.
Glorioso santo Antônio
Milagroso santo Antônio Hoje canta a despedida
Que no seu trono de luz Adeus até para o ano
Eu vos peço quando eu morrer Ofertamos almas e vida.
Me apresente a Jesus.
Glorioso santo Antônio
Milagroso santo Antônio Já no céu trono de luz
Que milagres que tens feito Eu vos peço quando eu morrer
Eu espero que vos Antônio Me apresente a Jesus.
Que este milagre esteja feito.
Glorioso santo Antônio
Milagroso Santo Antônio Nada tenho para vos dar
Com pesar vou lhe deixar Só prometendo a santo Antônio
Só prometendo a santo Antônio Para o ano festejar.
Para o ano eu festejar.

Milagroso santo Antônio


Tenha de nós compaixão
Deste pobre pecador
Com fervor no coração.

Milagroso santo Antônio


Uma coisa vos peço
Este fica em segredo
Adeus que eu já me despeço

48 A Nação Efon
Mãe Maria de Sango
é a Iyalorisá à frente do Ile Ogun Anaeji Igbele Ni
Oman, o Axé Olorokê Pantanal, a casa de Efon mais
antiga do Rio de Janeiro, herdeira da matriz Ile Axé
Olorokê, instalado na Bahia e fundado por Babá
Irufá, José Firmino dos Santos e Iyá Adebolui, Maria
Bernarda da Paixão, e, alguns anos mais tarde, trazida
para o Rio de Janeiro pelo avô Babá Odé Orún Anaeji,
Cristóvão Lopes dos Anjos.
por Thais de Oyá

Cântico à Sàngó
(Iki Teré Olúo Dó Oba Lájo)
Elegun Ìyàwó
[Cântigo à Xangô]

Louvação e cântico em saudação


ao Òrìsà Sàngó

49 A Nação Efon
Os dados históricos da casa, recheados das idas e
vindas dos ancestrais, especialmente neste fluxo de
fundação e perpetuação das raízes de Efon no Brasil,
são ricos em detalhes de como a constituição final
desta matriz se deu no bairro do Pantanal, em Caxias,
mas pouco, de fato, se fala sobre quem é a autoridade
matriarcal à frente do terreiro para além de dados
obviamente ofuscados pelo tempo.

Extremamente ativa, participativa e atuante no


barracão até os dias atuais, mãe Maria não se reserva
às pompas das cadeiras de alto cargo no candomblé,
apesar de todo o legítimo direito e reconhecimento a
que se faça jus para ostentá-la.

50 A Nação Efon
Iniciada aos seis anos de idade, assumindo o pesado
cargo de Iyalorisá desde os quatorze anos, observa as
funções serem desenroladas de perto quando não está
de fato envolvida em seus preparativos ombro a ombro
com seus filhos, seja na cozinha do axé, no salão ou
no ronkó. Quem a vê caminhar por entre as fileiras de
filhos ocupados, percebe rapidamente que aquele
lugar nasceu para ela e ela nasceu para este sagrado
ofício. Ali é seu território, sua vida e sua vocação,
sendo executada com um primor quase que militar se
não fosse pela jovialidade e alegria de sua presença.

51 A Nação Efon
Seu temperamento ainda é o de uma líder, que, quando
necessário, impõe ao som da voz a ordem que precisa
ser comandada para um terreno bastante extenso.
É como se os olhos da casa estivessem nela e tudo ela
pudesse ver, participar e saber; afinal, com tantas
pessoas para se coordenar, é natural que, em algum
momento, a ternura seja um pouco posta de lado para
dar espaço ao arquétipo do rei que ali vive e governa
seu reino.

Xangô é vivo em mãe Maria e no Axé Olorokê Pantanal.

52 A Nação Efon
Reza de Sango
Obá Caô Cabiecile
[Reza de Xangô)

53 A Nação Efon
Apesar dessas premissas, facilmente reparadas do lado
de fora por um simples visitante, ainda há a versão
mais subjetiva e íntima de mãe Maria, frequentemente
vivenciada por seus filhos que tem a constatação de
que, apesar de ser uma mulher de Xangô, carrega
consigo a astúcia, o acolhimento, e a diplomacia de
Oxum, não apenas em sua aparência encantadora,
mas também na sua forma de se aproximar com altivez
sem qualquer arrogância daqueles que lhe procuram.

54 A Nação Efon
Extremamente atenta e perspicaz, consegue,
em detalhes, nas vozes e nos gestos das pessoas,
captar suas reais intenções e sentimentos.

Sua mente e intelecto parecem não parar nunca,


principalmente quando está trabalhando com
sua memória invejável até para os mais atentos,
acompanhada de seu caderno, onde organiza toda
sua rotina. Lá estão todos os detalhes e a agenda dos
próximos dias e semanas: ebós, boris, obis, obrigações
e listas. Não há nada que passe por fora de sua
organização impecável.

55 A Nação Efon
Todas estas características nos levam a refletir o
quanto mãe Maria desempenha, desde a tenra idade,
não apenas o papel de uma mulher negra detentora
de grande prestígio, reconhecimento e poder em nossa
sociedade patriarcal e racista, mas, principalmente, o
papel de uma líder afro-religiosa e matriarca à frente
de toda uma comunidade em expansão para diversos
estados do Brasil.

Além do próprio Olorokê Pantanal, que conta com


centenas de filhos, sendo alguns zeladores de suas
próprias casas filiais; há também filhos espalhados
pelo território nacional que respondem à casa e suas
tradições. A estes filhos, mãe Maria também visita em
pequenas viagens ao longo do ano em uma agenda
bastante disputada com todos os seus afazeres.

56 A Nação Efon
Seu senso de responsabilidade e luta diária ao zelar
pelas raízes e costumes históricos do candomblé de
Efon contribuem para toda a comunidade de terreiro e
do entorno na perfeita exemplificação de uma posição
de destaque atingida pela simplicidade, competência,
e, principalmente, pelo amor ao que faz dentro de um
meio em que, cada vez mais, há espaço para disputas
de ego e desvios de conduta do principal objetivo que
é viver com orixá.

57 A Nação Efon
Neste sentido, não há dúvidas, mãe Maria se posiciona,
acima de tudo, como aquilo que de fato é: uma
grande mãe com muitas responsabilidades e muito
amor ao executá-las. Traz consigo o semblante da
mulher negra que venceu seu tempo e ainda vence o
tempo presente, ultrapassando os obstáculos impostos
pelo racismo religioso e estrutural, promovendo a
união entre seus filhos e sua casa com outras casas,
trabalhando incessantemente pela perpetuação da
religião, independentemente de nações, raízes ou
diferenciações afins. Nota-se em seu comportamento e
nas diretrizes do axé que não há rumbê ou hierarquia
suficiente que seja melhor do que o mais essencial em
todas as relações, humanas ou divinas: o respeito pelo
próximo.

58 A Nação Efon
Diante de todos estes ensinamentos, que diariamente
transmite com seu constante exemplo e capricho em
cada detalhe, os ancestrais da nação Efon em terras
brasileiras sorriem felizes ao final de cada função
ao perceber que com a firmeza de Xangô e a astúcia
das águas flexíveis de Oxum, mãe Maria transmite
seu legado de resistência, dedicação e muito amor ao
candomblé, à nação Efon em acima de tudo, a orixá.

Thais de Oyá

59 A Nação Efon
Cristovão D`Ogun Fundador 
Ìyálòrìsa Maria D’ Sàngó Matriarca

Aniedes Nepomuceno Yalasé


Karina Mota de Assis Gil dos Santos YáMorô

Alessandra Oliveira Ekedy de Sango


Bernadete Rufino Ekedy de Osum e Yá Larim
Célia Aparecida da Silva Ekedy de Osum
Manuela da Silva Santos Ekedy de Osum

Adam Santiago Alagbe  de Sango


Enzo Baptista de Almeida Olojó Oni Bara 
Emanoel Campos Filho Ogan
João Luiz Alves Ogan de Osum
João Victor Pereira da Silva Osi Ojú Obá
Victor Ferreira Osi Áxogum Anaeji
Leonardo Monteiro da Silva Ministro de Sango
Yuri Moura de Paiva Axogun e Ápa Otun de Ógun

Julio de Oliveira Baptista de Almeida Bà atokun ágàn Ógun


Claudenice Maria Brum Felippe Egbomy d` Osum
Marco Antônio de Oliveira Felippe Egbomy d`Sango
Terezinha Cristiane Santos de Oliveira Egbomy d’ Nanã
Luiz Claudio Anjo de Moraes Egbomy  d’ Sango
Rita Eduarda  Gil Mota dos Santos Egbomy d’ Iroko
Anna Cristina de Abreu Batista Tosta Egbomy d’ Oxalá

Emanuelly Moreira Brum Fellipe Yaô d`Osum


Raissa Cristine da Silva Coelho Yaô d`Sango
Rejane Cristina Sant`Anna Pereira da Silva Yaô d`Omolu
Roberta Cristina da Silva Coelho Yaô d`Yansã
Yzadora Maria da Silva Yaô d`Osumare (Dan Si Lewá)

60 A Nação Efon
YalorisÁ
Maria de Sango

Apresentação
de nossa Ìyálòrìsà
Sra. Maria de Sàngó,
onde é cantado
o nosso hino da
nação Lòkìtì Èfòn

61 A Nação Efon
CANTIGA DE
CONFRATERNIZAÇÃO
ÀSE Ó DARÁ

Cântico de suma
importância, onde os filhos
de Èfòn se abraçam após
o término da cerimônia
na sala de candomblé,
exaltando a nação

62 A Nação Efon
63 A Nação Efon
Robson Bento Outeiro Idealização e Direção Artística

Alagbe Adam T`Ògún Direção Musical


Alessandra Alves Supervisão de Conteúdo
Eduardo Dantas Direção Técnica e Iluminação
Carolina Dworschak e Daniel Luz Coordenação Técnica

Bernardo Aragão, Gustavo Proença e Philippe Ingrand Grav. de Áudio e Mixagem
Julia Gonçalves Técnica de Áudio

Clarisse Dworschak e Dimi Benone Fotografia, Captação e Edição de Vídeo
Carla Marins Design e Canal

Empório Empreendimentos Artísticos Ltda Produção Executiva

AGRADECIMENTOS
O Ilé Ogum Anaeji Igbele Ni Oman, Asé Pantanal,
agradece a todos que colaboraram com a realização deste sonho.

Um muito obrigado a equipe da Fundação Cidade das Artes


e do Museu Afro Brasil.

Nossos agradecimentos especiais ao Srs. Emanoel Araújo e Haroldo Costa.


e-book

Robson Outeiro Coordenação Editorial | robson@robsonouteiro.com


Carla Marins Design | carlacampelomarins@gmail.com
Alexandre Mantovani de Lima e Alagbe Adam T`Ògún Revisão contextual
Beatriz Caillaux Revisão

Empório Empreendimentos Artísticos Ltda Produção Executiva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

A Nação Efon [audiobook] : oralidade /


[organização Robson Bento Outeiro]. --
Rio de Janeiro : Emporio Empreendimento
Artísticos e Culturais, 2020.

ISBN 978-65-993281-0-7

1. Candomblé (Culto) - Rituais 2. Religiões


afro-brasileiras I. Outeiro, Robson Bento.

20-52411 CDD-299.6

Índices para catálogo sistemático:


1. Candomblé : Religiões afro-brasileiras 299.6

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