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Nação
Efon
Robson Bento Outeiro
Registros
de um patrimônio
imaterial
SAUDAÇÃO
AOS IRÙN MÓLÈ
Edição 1
2 A Nação Efon
INTRODUÇÃO
3 A Nação Efon
O conteúdo aqui reunido no formato e-book apresenta,
cuidadosamente, registros sonoros e visuais que compõem
o vasto patrimônio imaterial da nação Efon, dentre
cânticos, ritos e orações, capitulados no exercício da fé e
da religiosidade.
Saudação
ao òrisÀ Oloòke
4 A Nação Efon
SUMÁRIO
Cristovão d’Ogunjá
Alagbe Adam T’ Ògún 31
vídeo Ogan 20
7 A Nação Efon
A expressão mais forte,
contundente, rica, é,
sem dúvida, aquela que
vai do coração para
a boca, vocalizando
sentimentos que
recusam o silêncio.
Haroldo Costa
SAUDAÇÃO
A IROKO
Cântico em saudação
ao Òrìsà Ìrókó,
cantado pelas nossas
crianças do Àse
8 A Nação Efon
A milenar cultura africana, que não é homogênea
nem cristalizada, tem como demonstração da sua
riqueza os cânticos entoados no trabalho árduo e
nas evocações aos orixás. Na diversidade de seus
bens culturais, etnias e diferenças territoriais, é na
cosmogonia que todos se encontram, e este é o traço
principal da diáspora.
9 A Nação Efon
Tampouco é a folclorização de uma religião que não
obstante a sua base: yorubá, ketu, muçurum, tem uma
proposta ecológica que passa pela identificação dos
orixás com a botânica e com os elementos da natureza.
10 A Nação Efon
As novas gerações terão a oportunidade de trafegar
desta ponte e encontrar suas referências. É uma tarefa
da qual não podemos nos eximir, sob pena de raspar,
pela segunda vez, a nossa identidade. Não podemos
nos enganar que somos um país de ascendência
europeia. Até que somos, um pouco. Porque nossa raiz
está, definitivamente, do outro lado do Atlântico.
Haroldo Costa
11 A Nação Efon
ORIKI DE EXÚ
Òrìsà Èsù
12 A Nação Efon
A Nação Efon:
o terreiro Axé Oloroke,
em Salvador, Bahia
por Alexandre Mantovani de Lima
Agerê
de Oxóssi
[Ágere D´Òsòósi]
13 A Nação Efon
A palavra Efon pode ser pronunciada em yorubá, segundo Capone
(2004, p. 39), como “efon ou efan”. Optamos por manter Efon, como é
utilizado pelos terreiros de candomblé que se reconhecem descendentes
ou vinculados ao Axé Pantanal. Silveira considera que a cidade Efan é,
na realidade, a cidade de Efon, no antigo Reino de Ekiti, na fronteira
leste de Ijesá.
Silveira (2006, p. 472) salienta que “Ekiti, ‘o país das colinas’ era uma
federação de dezesseis pequenos reinos, sendo Adô Ekiti a capital do maior
deles”. O processo de institucionalização do Candomblé da Barroquinha
se deu através de uma sucessão de fundações, como a nação Efon, onde o
culto dos orixás [òrìsàs] brancos tinha forte presença institucional:
2006, p. 469.
14 A Nação Efon
A cidade de Efon Alaaye está situada a cerca de 500 metros acima do nível
do mar. A topografia é montanhosa e os montes foram utilizados pelo povo
durante os guerras intertribais. As colinas de Efon aparecem no ditado
como sendo de difícil acesso para invasores: Omo-Oloke lomoke arma (É o
filho da terra que pode subir os morros com facilidade). Estes dois morros
estão localizados na cidade Ikere Ekiti. As divindades responsáveis por
esta colina são Olosunta e Orole, talvez uma das qualidades de Oloke,
representado na imagem das duas colinas. Segundo a tradição oral1 do
Axé Oloroke Pantanal, em 1880 chegou ao Brasil o africano escravizado
de nome José Firmino dos Santos, também conhecido como Tio Firmo
Bàbá Irufá2. Deixou a cidade de Ekiti-Efon, na Nigéria, no período que
coincide com as guerras assinaladas por Silveira (2006, p. 491).
Anaeji Igbele Ni Oman, Axé Oloroke Pantanal, na Rua Eça de Queiroz, nº17, bairro
Pantanal, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Neta de Cristóvão Lopes dos An-
2 Na pesquisa de Prandi, Tio Firmo (Bàbá Irufá) é citado como “o africano Tio Firmo
1991, p. 94.
15 A Nação Efon
Bàbá Irufá, acompanhado de sua filha Asika e de sua ama-seca Iyá Ade-
boluiye, que adotou o nome de Maria Bernarda da Paixão, fez a passa-
gem do meio no mesmo navio que Mãe Milú, que posteriormente viria ser
a mãe pequena do terreiro.
16 A Nação Efon
Até 1905 Tio Firmo presidiu o Axé em Brotas junto com sua filha Asika,
que veio a falecer no mesmo ano. Tio Firmo dividiu as responsabilidades
com Maria Bernarda da Paixão (Iyá Adeboluiye), e em 1908, passou
para ela a direção da casa3.
Em 1909 falece Tio Firmo, o que levou Iyá Adeboluiye a ser a segunda
pessoa a assumir a cadeira mais alta na direção do Axé Oloroke. Iniciou
Mãe Milú d’Yemojá (Iyá kekerê)4, que, segundo o povo mais antigo, deu
à luz aos pés de Iroko; Cristóvão Lopes dos Anjos5, Matilde Muniz Nas-
cimento, conhecida no santo como Matilde d’ Jagun, Cristina d’Yemojá
(esposa de Cristóvão), e o filho de mãe Milú, Paulo S. de Oliveira, inicia-
do ao orixá Xangô, que posteriormente escolheu outra religião. Em 18 de
novembro de 1945, faleceu Maria Bernarda da Paixão, a Maria d’ Oloke
(Iyá Adeboluiye). A terceira pessoa a assumir a cadeira mais alta do ter-
reiro Axé Oloroke foi Matilde d’Jagun, a qual iniciou Crispina d’Ogum,
Nair d’Oxum e Arlinda d’Odé, tendo também como filhos Maria de Lour-
des dos Santos e Angélica Maria de Assis.
Iyalorixá ou do Babalorixá
iniciática foi feita quando estava com apenas dez anos de idade, ocasião que foi
confirmado Asògún da Nação do Efon, sendo investido, mais tarde, nas funções
17 A Nação Efon
Matilde d’Jagun faleceu em 31 de outubro de 1970, o que levou Cristóvão
a assumiu a direção do terreiro em Salvador, dividindo seu tempo entre
o Axé Oloroke, em Salvador, e o Axé Oloroké Pantanal – Ilé Ògún Anaeji
Ìgbele Ni Oman – Olokiti-Efon, no Rio de Janeiro. Na sua ausência, Ar-
linda d’Odé, filha de santo de Matilde d’Jagun, era a responsável pelas
atividades do terreiro em Salvador. Cristóvão d’Ogunjá faleceu em 23 de
setembro de 1985, no Rio de Janeiro, de modo que a direção do terreiro
de Salvador passou para a Iyalorixá Crispina de Ogum (Crispiniana de
Assis) até quando esta, em 1993, veio a falecer.
Axé Pantanal,
Rio de Janeiro
18 A Nação Efon
Saudação
a Ogun
Cântico em saudação
ao Òrìsà Ògún
Reza
do Òrìsà Ògún
Ogun Ná akaìyé
Osin Imolé
[Reza do Orixá Ogun]
19 A Nação Efon
Ogan
20 A Nação Efon
Reza
de Yemonjá
[Reza de Iemanjá]
Cântico em saudação à
Òrìsà Ìyágbá Yemonja
21 A Nação Efon
22 A Nação Efon
Ritmo Ìjèsà
23 A Nação Efon
24 A Nação Efon
Cântico
à Sàngó
25 A Nação Efon
A fundação do
Ile Ogum Anaeji Igbeli Ni Oman:
da Bahia para o Rio de Janeiro,
onde será conhecido como
AXÉ Pantanal
por Alexandre Mantovani de Lima
26 A Nação Efon
Cristóvão Lopes dos Anjos nasceu no dia 24 de julho de 1908, filho de
Tertuliano Lopes dos Anjos e Matilde Oliveira Guedes, que desde muito
cedo, frequentava o terreiro de candomblé dirigido por Maria Bernarda
da Paixão. Desde criança, Cristóvão trocava as correrias e brincadeiras
de rua por longas e demoradas conversas que duravam até a noite, por
vezes mal iluminadas pela luz tênue de um lampião, quando Maria
Bernarda da Paixão confiava-lhe os segredos e os fundamentos do culto
aos orixás. Sua iniciação foi feita quando contava com apenas 10 anos de
idade, ocasião em que foi confirmado Axogum e mais tarde é investido na
função de primeiro Olúwo da casa.
27 A Nação Efon
Em 1950, compra o terreno na Rua Eça de Queiroz, Q. 69, lotes 15, 16, 17,
31 e 32, no bairro Pantanal em Duque de Caxias. No dia 1º de maio de 1951,
plantou as árvores sagradas Roko, Iroko, Dendezeiro, Jaqueira, Bambuzal,
além de outras plantas necessárias ao culto. Os assentamentos dos orixás
Ogunjá, Oxalá e Oloke vieram no “navio negreiro”, caracterizando uma
diáspora interna tanto das divindades quando dos descendentes dos
povos africanos do Nordeste para o Sudeste.
Adahum, Agueré, Opanijé, Bravun/Satò, Oguele, Madevó, Tonibodè, Alujá, Awò, Ijesá, Ilú/
7 Banquete ritual realizado em honra dos òrìsàs Omolu (filho do Senhor), Obaluaiye (rei
da terra), Onilé (senhor da terra), Sapata e Sapanà (deus da varíola). Seu fundamento
peste que ele lhes enviara, resolveram agradá-lo com um banquete faustoso e festivo,
28 A Nação Efon
Cristóvão d’Ogunjá procurou manter viva a memória dos primeiros
fundadores da nação Efon, os africanos já citados por quem foi iniciado.
Sua neta, a atual dirigente do terreiro, a Iyalorixá, Maria José Lopes
dos Anjos foi iniciada aos seis anos de idade no culto de Xangô pelo
avô em 1953, e aos 14 anos recebeu o cargo de herdeira do Axé. Hoje,
a Iyalorixá Maria d’Xangô, se considera apenas um instrumento, uma
pessoa que aplica a vontade dos orixás e do seu avô (na condição de
ancestral Babá Odé Orun Aueji).
29 A Nação Efon
Reza
de OXUM
Reza e cântico
em saudação a
Òrìsà Ìyágbá Òsùn
30 A Nação Efon
Cristovão D`Ogun
por Alagbe Adam T’ Ògún
Reza
de OIÁ
31 A Nação Efon
Sr. Cristóvão Lopes dos Anjos nasceu em 24 de julho de 1908, numa casa
modesta, perto do Largo de Santa Luzia, que ficava no fim da linha do
Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia. Seus pais: Tertuliano
Lopes dos Anjos e Mathilde Oliveira Guedes tiveram oito filhos: quatro
mulheres e quatro homens. Sobre a infância de Cristóvão não é difícil
falar, porque sempre foi muito dedicado aos òrìsà’s.
Desde muito menino, ele convivia no candomblé. Vivia no Axé junto com
a finada matriarca Maria Bernarda da Paixão Ìyá Adebolui D’ Oloòkè.
E, no Candomblé, adquiriu muito conhecimento. Com 12 anos de idade
foi iniciado para o òrìsà Ògún e teve o posto confirmado como Asogun da
casa Matriz. Era uma responsabilidade muito grande para um menino
daquela idade. Três vezes por dia, ele ia tomar a benção à Ìyá para saber
o que ela queria; ao meio-dia ele ia também; e à noite ele ia para dar a
ceia. Na Bahia não tem jantar, tem ceia. A infância dele foi essa. Viveu
em função do Òrìsà.
32 A Nação Efon
Tiveram quatro filhos: Arlinda (Lindinha), Milton, Valdomiro (Vavá)
e Dinorah. Lindinha foi feita no Axé Obarana — primeira roça de
candomblé fundada por Sr. Cristóvão em meados de 1937 — com 14 anos
de idade, por Sra. Runhó do terreiro do Bogun, também localizado na
região de Brotas. Sra. Lindinha não pertencia à nação Efon, mas sim
à nação Jeje. Milton (Melodia como era conhecido), filho de Cristóvão,
era Ogan suspenso: nunca chegou a ser confirmado. Cantava de Èsù a
Òsàlà em Èfòn no ritmo Ìjèsà e tinha uma voz melodiosa, tanto que seu
apelido era Melodia. Vavá, de Òsòógìyàn, foi confirmado Alágbè do Sàngó
de Sr. Waldomiro Baiano. Vavá também tinha uma bela voz, excelente
Ogan, pessoa humilde. Dinorah, quarta filha de Sr. Cristóvão, morava
em Salvador, Bahia. Filha de Logunedé, foi feita na região cachoeira de
São Félix. Nunca teve casa aberta e nunca se dedicou tanto ao òrìsà.
33 A Nação Efon
Cristóvão teve 21 netos. Sra. Lindinha teve 16 filhos, sendo três partos
de gêmeos; Milton teve uma filha; Vavá, duas filhas, e Dinorah, duas
filhas também. Seus netos todos cultuam o candomblé, a exemplo da
atual Ìyálòrìsà da casa e herdeira do Axé Sra. Maria D’ Xangô e Sr.
Lauro, que tem sua própria casa de santo e hoje reside em Vitória,
no Espírito Santo. Sr. Cristóvão veio a falecer 23 de setembro de 1985,
deixando este grande legado ao povo de Axé.
34 A Nação Efon
ORAÇÕES DE
SANTO ANTÔNIO
35 A Nação Efon
SALVE 13 DE JUNHO
Et emitte caelitus.
Foste vinho consagrado
Lucis tuae radium.
Promessas boas do pai
Como vosso divino remédio
Toca os lábios jerevaraís2 [bis]
Deus me ajutora, o meu intimo dominais 2 Em algumas passagens, o vocabulário
36 A Nação Efon
II
GLORIOSO SANTO ANTÔNIO
37 A Nação Efon
LADAINHA3
38 A Nação Efon
Antonio milagroso
Antonio apostolico
Antonio bendito coluna
Da igreja zelador da lei
Vazo da benção
Pregador da fé
Oraculo do céu
Martelo do desejo
Antonio adorado
Assobro do demonio
Flagelo dos vicios
Mestre das virtudes
Doutor evangelico
Martelo dos ereges
Antonio angelico ferros do inferno
Arca dos testamentos
Antonio glorioso
Retrato de todos os santos
Antonio agusto
Antonio santo
Antonio de Pádua.
39 A Nação Efon
AGNUS DE DEUS
Misericórdia
Alcançai de Deus.
40 A Nação Efon
INCENSO ORAÇÃO
41 A Nação Efon
BENDITO
42 A Nação Efon
Vós menino que desceste do céu Aceitei nossos pedidos
Nos braços de Antônio livrai-me pois Oh! Antônio milagroso
Vossas graças da tentação Permita bem que louvamos
do demônio. Vosso nome glorioso.
E também seja louvado
Antônio de Pádua e luz Rogai por nós
Com Deus Menino nos braços Oh! Antônio a este belo Jesus
Na outra a Santa Cruz. Que nos dê a nossa graça
Para sempre amém Jesus.
Vós Antônio mereceste
Pela vossa humildade
Sendo frade dos menores
Fez seu trono de divindade.
43 A Nação Efon
OUTRO BENDITO BENDITO LOUVADO SEJA
VIVA SANTO ANTONIO
44 A Nação Efon
JACULATÓRIO4 13 DE JUNHO
45 A Nação Efon
SALVE GRANDE ANTÔNIO
Neste centenário
Do grande esplendor
Do céu nos mandaram
Luz, graças e fervor
46 A Nação Efon
OFERECIMENTO ROGAI POR NÓS OH! ANTÔNIO
A BÊNÇÃO
47 A Nação Efon
DESPEDIDAS (Encerramento) ADEUS – DESPEDIDA
48 A Nação Efon
Mãe Maria de Sango
é a Iyalorisá à frente do Ile Ogun Anaeji Igbele Ni
Oman, o Axé Olorokê Pantanal, a casa de Efon mais
antiga do Rio de Janeiro, herdeira da matriz Ile Axé
Olorokê, instalado na Bahia e fundado por Babá
Irufá, José Firmino dos Santos e Iyá Adebolui, Maria
Bernarda da Paixão, e, alguns anos mais tarde, trazida
para o Rio de Janeiro pelo avô Babá Odé Orún Anaeji,
Cristóvão Lopes dos Anjos.
por Thais de Oyá
Cântico à Sàngó
(Iki Teré Olúo Dó Oba Lájo)
Elegun Ìyàwó
[Cântigo à Xangô]
49 A Nação Efon
Os dados históricos da casa, recheados das idas e
vindas dos ancestrais, especialmente neste fluxo de
fundação e perpetuação das raízes de Efon no Brasil,
são ricos em detalhes de como a constituição final
desta matriz se deu no bairro do Pantanal, em Caxias,
mas pouco, de fato, se fala sobre quem é a autoridade
matriarcal à frente do terreiro para além de dados
obviamente ofuscados pelo tempo.
50 A Nação Efon
Iniciada aos seis anos de idade, assumindo o pesado
cargo de Iyalorisá desde os quatorze anos, observa as
funções serem desenroladas de perto quando não está
de fato envolvida em seus preparativos ombro a ombro
com seus filhos, seja na cozinha do axé, no salão ou
no ronkó. Quem a vê caminhar por entre as fileiras de
filhos ocupados, percebe rapidamente que aquele
lugar nasceu para ela e ela nasceu para este sagrado
ofício. Ali é seu território, sua vida e sua vocação,
sendo executada com um primor quase que militar se
não fosse pela jovialidade e alegria de sua presença.
51 A Nação Efon
Seu temperamento ainda é o de uma líder, que, quando
necessário, impõe ao som da voz a ordem que precisa
ser comandada para um terreno bastante extenso.
É como se os olhos da casa estivessem nela e tudo ela
pudesse ver, participar e saber; afinal, com tantas
pessoas para se coordenar, é natural que, em algum
momento, a ternura seja um pouco posta de lado para
dar espaço ao arquétipo do rei que ali vive e governa
seu reino.
52 A Nação Efon
Reza de Sango
Obá Caô Cabiecile
[Reza de Xangô)
53 A Nação Efon
Apesar dessas premissas, facilmente reparadas do lado
de fora por um simples visitante, ainda há a versão
mais subjetiva e íntima de mãe Maria, frequentemente
vivenciada por seus filhos que tem a constatação de
que, apesar de ser uma mulher de Xangô, carrega
consigo a astúcia, o acolhimento, e a diplomacia de
Oxum, não apenas em sua aparência encantadora,
mas também na sua forma de se aproximar com altivez
sem qualquer arrogância daqueles que lhe procuram.
54 A Nação Efon
Extremamente atenta e perspicaz, consegue,
em detalhes, nas vozes e nos gestos das pessoas,
captar suas reais intenções e sentimentos.
55 A Nação Efon
Todas estas características nos levam a refletir o
quanto mãe Maria desempenha, desde a tenra idade,
não apenas o papel de uma mulher negra detentora
de grande prestígio, reconhecimento e poder em nossa
sociedade patriarcal e racista, mas, principalmente, o
papel de uma líder afro-religiosa e matriarca à frente
de toda uma comunidade em expansão para diversos
estados do Brasil.
56 A Nação Efon
Seu senso de responsabilidade e luta diária ao zelar
pelas raízes e costumes históricos do candomblé de
Efon contribuem para toda a comunidade de terreiro e
do entorno na perfeita exemplificação de uma posição
de destaque atingida pela simplicidade, competência,
e, principalmente, pelo amor ao que faz dentro de um
meio em que, cada vez mais, há espaço para disputas
de ego e desvios de conduta do principal objetivo que
é viver com orixá.
57 A Nação Efon
Neste sentido, não há dúvidas, mãe Maria se posiciona,
acima de tudo, como aquilo que de fato é: uma
grande mãe com muitas responsabilidades e muito
amor ao executá-las. Traz consigo o semblante da
mulher negra que venceu seu tempo e ainda vence o
tempo presente, ultrapassando os obstáculos impostos
pelo racismo religioso e estrutural, promovendo a
união entre seus filhos e sua casa com outras casas,
trabalhando incessantemente pela perpetuação da
religião, independentemente de nações, raízes ou
diferenciações afins. Nota-se em seu comportamento e
nas diretrizes do axé que não há rumbê ou hierarquia
suficiente que seja melhor do que o mais essencial em
todas as relações, humanas ou divinas: o respeito pelo
próximo.
58 A Nação Efon
Diante de todos estes ensinamentos, que diariamente
transmite com seu constante exemplo e capricho em
cada detalhe, os ancestrais da nação Efon em terras
brasileiras sorriem felizes ao final de cada função
ao perceber que com a firmeza de Xangô e a astúcia
das águas flexíveis de Oxum, mãe Maria transmite
seu legado de resistência, dedicação e muito amor ao
candomblé, à nação Efon em acima de tudo, a orixá.
Thais de Oyá
59 A Nação Efon
Cristovão D`Ogun Fundador
Ìyálòrìsa Maria D’ Sàngó Matriarca
60 A Nação Efon
YalorisÁ
Maria de Sango
Apresentação
de nossa Ìyálòrìsà
Sra. Maria de Sàngó,
onde é cantado
o nosso hino da
nação Lòkìtì Èfòn
61 A Nação Efon
CANTIGA DE
CONFRATERNIZAÇÃO
ÀSE Ó DARÁ
Cântico de suma
importância, onde os filhos
de Èfòn se abraçam após
o término da cerimônia
na sala de candomblé,
exaltando a nação
62 A Nação Efon
63 A Nação Efon
Robson Bento Outeiro Idealização e Direção Artística
AGRADECIMENTOS
O Ilé Ogum Anaeji Igbele Ni Oman, Asé Pantanal,
agradece a todos que colaboraram com a realização deste sonho.
ISBN 978-65-993281-0-7
20-52411 CDD-299.6