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15/11/2018 Ògún - Candomblé sem Segredos

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Ògún

Ògún é a divindade do ferro. É o senhor da modernidade e o herói civilizador!

Por Gill Sampaio Ominirò

Ele é o Òrìṣà que abre os caminhos na vida, é o desbravador por excelência e, por isso, é importante saudá-lo logo após a Èṣù.

Ògún é filho primogênito do fenício Odùdúwà, mas não biológico. O fundador do Império Yorubá acolheu-lhe em sua caravana sagrada
com destino a Ilé Ifẹ̀. Junto a eles, grandes heróis faziam parte da expedição. Eram os Àwọn Agbàgbà (os muito antigos): Ọ̀rúnmìlà,
Oluorogbo, Ọbamèri, Ọbasin, Ọbàgèdè, Ògún Alágada, Ọbamakin, Oba Winni Ajé, Ẹ̀ rìnsilẹ̀, Ẹ̀ lẹ́sijẹ, Ọlọ́ṣẹ, Alajọ, Ẹsidálẹ̀, Olókun, Oriṣateko e
Sẹtilu, além de seguidores comuns.

  O Onìré na década de 1950

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Ele é irmão e pai de Ọ̀ranmiyàn (fundador da cidade de Ọ́yọ́ que a torna capital política do reino Yorubá), ao mesmo tempo, pois tanto ele
quanto Odùdúwà, segundo um ìtàn, tiveram relações com a mãe de Ọ̀ranmiyàn, uma escravizada, espólio de guerra. Conta o ìtàn que
quando Ọ̀ranmiyàn nasceu metade de seu corpo era clara devido à herança genética de Odùdúwà e a outra metade, preta, devido à herança
de Ògún. Portanto, Ògún é tio e avô de Ṣàngó, uma vez que este é filho de Ọ̀ranmiyàn.

Festival de  Ọ̀ ranmiyàn, na Nigéria, no qual os seguidores pintam seus corpos em alusão à forma da divindade

Trazemos aqui, então, um importante relato do próprio Onìré, recolhido por Pierre Verger em Ìré na década de 1950 que confirma o ìtàn:

Ni aye atijọ. Omà n’jagun kakiri, ọn ni akọbi Odùdúwà.


Nigbati o jagun lọ si ọ̀na Ọ́ yọ́, o mu ìyá Ọ̀ ranmiyàn logun; obìnrin na wu Ògún.
Nigbati o ri, o basun. Nigbati Ògún de odo bàbá rẹ Odùdúwà, obìnrin na tún wu Odùdúwà bàbá Ògún.
Odùdúwà bere lọwọ Ògún pé:
Ṣe ko ba obìnrin na ṣepọ lójú ọ̀na? Ògún ẹrú, o si sopé ọn kọba ṣe nkanpó. Odùdúwà wá um ìyá Ọ̀ ranmiyàn ofi ṣe ìyawó.
Odùdúwà jẹ ènìà pupa, Ògún jẹ ènìà dúdú. Nigbati odi oṣu mẹ́sàn ìyawó bimọ apakan dúdú apakan pupa.
Odùdúwà bàbá Ògún pe Ògún. O sopé: “Nigbati ọn berè  pe o bà obìnrin yi ṣẹpọ lójú  ọ̀na ni ijọsì ọn jiyan”.
Ògún kó lé sọrọ mọ.

Tradução:
 
Outrora Ògùn era muito batalhador. Foi o primogênito de Odùdúwà.
Ao lutar na religião de Ọ́ yọ́, trouxe da batalha a mãe de Ọ̀ ranmiyàn.
A mulher era atraente e quando ele a viu teve relações com ela.
Quando Ògún chegou à presença de seu pai Odùdúwà, este também achou a mulher atraente.
Odùdúwà disse a Ògún que esperava que ele não tivesse tido nenhuma relação com ela.
Odùdúwà tomou a mãe de Ọ̀ ranmiyàn como esposa.

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Odùdúwà tinha a pele avermelhada e Ògún, a pele muito preta.
Decorridos nove meses, a mulher deu à luz a uma criança, metade negra, metade branca.
Odùdúwà, pai de Ògún, chamou-o e disse:
“Quando perguntei se você havia tido relações com essa mulher, na vinda para cá, você disse que não”.
Ògún não soube o que responder.
 

    O Onìré nos tempos atuais

Chegando à Ilé Ifẹ, na distribuição de territórios entre os “Antigos” que viajavam com Odùdúwà no intuito de criar e ampliar a dinastia
Yorubá, Ògún foi empossado como o primeiro rei de Ìré, o que lhe atribuiu o título honorífico de Oníré – Senhor desta cidade.

Ògún e seus aspectos importantes

Ọdẹ Nlá

Segundo os poemas de Ifá, Ògún foi trazido do Ọ̀run para o Àiyé pelo Odù Ogùndá-Méjì, com atribuições à caça, à agricultura e à guerra.
No entanto, no Brasil, ele é cultuado apenas como o Òrìṣà guerreiro. E por quê?
Não é muito difundido no Brasil o fato de Ògún ser o grande caçador (ọdẹ nlá) e também padroeiro da agricultura. Isso se deu pelo
direcionamento das atribuições das divindades nesta parte da diáspora. Aqui, com o advento da escravidão, os Yorubá necessitavam de
Ògún no seu aspecto de guerreiro implacável e não no de caçador provedor de alimento ou no de agricultor. O atributo padroeiro da
agricultura certamente foi o primeiro a ser descartado, tendo em vista que em solo Yorubá, este atributo seria de grande valia aos
africanos, mas em terras brasileiras, um padroeiro da agricultura seria benéfico para o inimigo, para o senhor da Casa Grande e não para
os das senzalas.
Assim, como havia dois grandes Òrìṣà caçadores, Ògún e Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, este último tornou-se no Brasil o grande caçador, enquanto Ògún seria o
protetor das rebeliões, das tentativas de fuga, o padroeiro dos quilombos, dos abolicionistas.

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  Ferramenta com a qual se faz o igbá de Ògún com destaque para o grande ofá

Alágbẹ̀dẹ Ọ̀run – O Ferreiro do Céu

Uma das atribuições mais importantes de Ògún reside na modificação do ferro, utilizando o fogo, o que lhe confere o privilegiado poder de
transformação. Diante disso, detêm também o poder de articulação no sistema de crença através de códigos gestuais, práticas e celebrações
rituais. A sociedade dos ferreiros yorubá possui uma ligação direta com o culto de Ògún, pois ele próprio foi um ferreiro, o primeiro, e
deixou orientações e ensinamentos para seus adeptos.
Sabe-se que o primeiro sacerdote de Ògún no Àiyé foi um ferreiro chamado Mògúnìré. Ou seja, em determinadas localidades, o culto deste
Òrìṣà está diretamente subordinado à sociedade dos trabalhadores do ferro.

Ferreiro Yorubá

Senhor da Justiça?

Sim, Senhor da justiça. Se observarmos, não é necessário muito esforço para inferirmos que Ògún está diretamente ligado à justiça, mas
não de forma política e sim como o executor das leis. Ògún, sendo ancestral de Ṣàngó, varria a Terra com sua sede de justiça e guerra
muito antes de Ṣàngó ser o quarto Aláàfin de Ọ̀yọ, não permitindo, assim, que os mais fracos fossem oprimidos por poderosos.
Então, enquanto Ṣàngó é o Òrìṣà da governabilidade, da viabilidade política e estratégica através da criação de leis, regras e do Conselho
dos Ọba, seus ministros, Ògún atua como um poder executivo, fazendo com que as leis, não necessariamente as institucionais, sejam
cumpridas.

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Ẹlẹ́gùn de Ògún na África

Vale destacar que Ògún é um Òrìṣà absolutamente desprovido de vaidade estética, de necessidade de riquezas e apegos a bens pessoais.
Lançou mão do reinado em Ìré, entregando o trono a seu filho primogênito. Veste-se com o mọ̀riwò, desprezando para si ornamentos
suntuosos e de luxo:

Ògún àjó ẹ mọ̀riwò


Alàkóró àjó ẹ mọ̀riwò
Ògún pa lépa’nọ̀n
Ògún àjó ẹ mọ̀riwò
Ẹ máa tu ẹiyẹ
 
Tradução:
 
Ògún que viaja vestido com o mọ̀riwò (folhas novas do dendezeiro, desfiadas)
O Senhor do Àkóró viaja vestido com o mọ̀riwò
Ògún limpa os caminhos
Ògún que viaja vestido com o mọ̀riwò
Faz o sacrifício com o pássaro

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Dendezeiro de onde se extrai o  mọ̀riwò, a roupa de Ògún

O Culto

Tanto no Brasil quanto na yorubalândia o culto a Ògún é feito de maneira coletiva ou individual. Quando é coletivo é feito por uma
sociedade ou mesmo por toda uma cidade, como Òndó, na Nigéria, por exemplo. Este culto se faz num Ojúbọ, que seria um altar central
num determinado local, templo, para o culto coletivo. No caso de Ògún, sociedades de caçadores, agricultores e ferreiros na Nigéria
praticam o culto coletivo. No entanto, no caso do candomblé, os Òrìṣà também podem ser também cultuados coletivamente. É o caso do
chamado “Òrìṣà da casa”, o qual, apesar de não estar vinculado ou mesmo consagrado a um Orí (cabeça), recebe oferendas e sacrifícios de
quaisquer pessoas da comunidade de àṣẹ.
Por outro lado, quando é individual, é praticado por famílias, Casas de Àṣẹ ou mesmo por particulares. Os cultos individuais são praticados
nos chamados igbá, assentamentos físicos dos Òrìṣà e, no caso de Ògún, que é um Òrìṣà òde (divindade externa), eles se situam num
quarto ou casa separados do barracão central ou nas residências dos seus seguidores.
Vale destacar que tanto o ojúbọ quanto o igbá são pontos de encontro entre a divindade e seu adepto. Eles são uma espécie de ponte
abstrata e energética que liga o Ọ̀run ao Àiyé, perfazendo a ligação necessária entre o indivíduo e seu ancestral divinizado.

Assentamento de Ògún

Os Ensinamentos de Ògún – Ancestralidade e Tradição Oral

É através de cânticos sagrados que as orientações ancestrais de Ògún chegam aos seus seguidores, principalmente os caçadores. Segundo
Àjùwọ̀n, estes cânticos se dividem de duas formas conceituais, a saber: Ìjálá e Irèmọ́jẹ̀.
O ìjálá consiste em cânticos de louvor e de agradecimento à divindade, mas também é executado em cerimônias festivas importantes dos
ọdẹ como casamentos ou ainda em atividades culturais como o Festival Anual de Ògún. Por outro lado, o irèmọ́jẹ̀ corresponde ao conjunto
de cânticos dos ọdẹ para situações tristes como a perda de um membro da sociedade. São cânticos de lamento entoados apenas pelos ọdẹ e
em cerimônias fúnebres, ìṣípa (Àjùwọ̀n, 1981).
Mais afundo, vale observar que o irèmọ́jẹ̀ tem a função de encaminhar o ọdẹ morto para o Ọ̀run, a fim de que ele esteja o mais rápido
possível ao lado de Ògún e, assim, apresente os pedidos de proteção e ajuda da comunidade, os quais serão prontamente atendidos. Esta

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prática evidencia a crença na presença de ancestrais em constante comunicação com os vivos. Um provérbio do irèmọ́jẹ̀ deixa claro o seu
tom solene e austero:

Ifá níí mọ ibi t’aye ti wa, irèmọ́jẹ̀ ló mọ ibi ìwà gbé ṣe.
Tradução:
Ifá é o único que conhece a origem o Universo, irèmọ́jẹ̀ é o único que conhece a origem do caráter.

Mitologia
Há uma infinidade de ìtàn (mitos) acerca desta divindade, alguns muito conhecidos e populares, outros bastante deturpados pela tradição
oral no Brasil.
Um mito conta que foi Ògún quem abriu o caminho do Ọ̀run para o Àiyé. Este caminho encontra-se em Ilé Ifẹ. Assim, suadam-lhe Ògún
Olọ́ọ̀na Ọ̀ la (Ògún que abre o caminho para a riqueza).
Outro mito relata a fúria de Ògún que ao ser invocado numa cidade e não ter encontrado quem lhe desse uma palavra (em razão da
proibição de se conversar, pelo bàbáláwo local), matou todos os habitantes dela. Porém, ao descobrir que os habitantes desta cidade eram
sua família, ele teria se enterrado no chão e desaparecido.

Festival de Ògún em  Òndó

No entanto, entendemos que é importante dissertar sobre a polêmica em torno de Ògúnjá, forma reduzida da expressão “Ògún jẹ ajá”, que
quer dizer “Ògún come cachorro”.
Alguns sacerdotes, baseados em livros e publicações de pesquisas de campo feitas em terras africanas, nas quais se registrou o sacrifício de
cães para Ògún, passou a efetivar esta prática em solo brasileiro e a difundi-la, baseando-se no ritual Yorubá. É importante, porém, que
tenhamos o discernimento de conhecer e compreender as adaptações históricas que permitiram aos yorubá e brasileiros no Século XIX,
formarem, construírem e praticarem o culto aos Òrìṣà como religião. Uma destas adaptações mais importantes foi a substituição de
animais, outrora sacrificados em solo africano, por outros mais acessíveis e cuja prática não infringisse legislações.
Pois bem, tanto à época da formação do candomblé, quando a própria religião era proibida e, portanto, suas práticas; passando pelo Século
XX, no qual o candomblé deixa de ser proibido, mas passa a ser contravenção e fica sob a égide da Polícia Civil, responsável por autorizar
suas festividades; quanto aos dias de hoje, Século XXI, o sacrifício de cães não é permitido.
Saibamos, então, que nossa sociedade está submetida à Lei Federal nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, a qual, em seu Art. 32 reza:

Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
(grifo nosso).

Ou seja, é decisivamente proibido o sacrifício de cães, gatos ou quaisquer outros animais domésticos. O argumento de que este tipo de
sacrifício se dá em terras Yorubá, apesar de lá não se tratar de animal doméstico e sim de cachorro do mato, não se sustenta em nosso
país uma vez que temos aqui uma legislação específica.
É de suma importância que sacerdotes, praticantes e adeptos das religiões afro-brasileiras ou de matriz africana, compreendam que esta
prática ilegal somente fomenta a intolerância religiosa e argumenta os perseguidores a estas religiões a perpetrarem com ações, cujo intuito
é proibir o sacrifício de animais em rituais religiosos como um todo.
Portanto, não é da prática do Candomblé Tradicional o sacrifício de animais domésticos e qualquer um que perverter esta tradição na ânsia
de satisfazer suas opiniões infundadas em argumentos ilegítimos não só está sob risco dos rigores da lei como põe em risco toda uma
prática religiosa afrodescendente neste país.

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Sacrifício de cachorro para Ògún em Ifòn

Quem é Gu?

Gu ou Gou é um voodoo (pronuncia-se vodun), dos Fon. Os Fon fazem parte do conjunto de etnias chamadas gbe-falantes. O termo “gbe”
significa língua para um conjunto de povos no norte do atual Togo, República do Benim e sudoeste da Nigéria, que chama de voodoo as
divindades que cultuam. No Brasil, em geral, os gbe-falantes são chamados Jèjè (jêjê).
Gu é, entre os Fon e no culto da diáspora, a divindade do ferro e da guerra. Na realidade, em profunda pesquisa na bibliografia
especializada, não encontramos nenhuma traço que diferenciasse essencialmente Gu de Ògún. Em geral, todos os seus atributos e aspectos
essenciais são os mesmos, havendo como diferença apenas peculiaridades como epítetos, gestos e preferências de oferendas. E esta
similaridade é simples de se explicar, pois, ainda que Gu seja um voodoo e Ògún seja um Òrìṣà, eles são, essencialmente, a mesma
divindade. Vejam:
Os Fon têm uma regra gramatical que incide sobre os nomes das divindades quando estas são incorporadas ao seu panteão. A regra é
simples: Quando o nome da divindade se inicia em vogal, ela é suprimida, como ocorreu com os nomes de Ògún e Ifá, os quais, ao serem
absorvidos pelos Fon passam a se chamar Gun e Fa. Na mesma regra, quando a consoante seguinte, após a supressão da vogal, for a letra
R, esta será substituída por L. Assim temos mais três divindades cujos nomes sofreram mutação ao serem incorporadas ao culto Fon, são
elas:

Ẹlẹgbara   que se tornou Lẹgba


Ìrókò que se tornou Loko e
Òrìṣànla que se torna Lisa

Assentamento de Gu no Benin

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Escultura africana de Gu em bronze

Os títulos de Ògún

Os inúmeros títulos que Ògún possui definem a magnitude deste Òrìṣà:

Bàbá Irin– Pai do ferro;

Àsiwáju– Aquele que vai à frente;

Pàtàkì Orí Òrìṣà – O Cabeça dos Òrìṣà, o mais importante;

Ọ̀ṣìnmálẹ́– Chefe dos Òrìṣà;

Ọlọ́dẹ – Senhor dos Caçadores;

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Méjèèjè – De quando Ògún conquistou as 7 cidades em torno de Ìré. Literalmente significa todos os sete. Também conhecido como Ògún
Méjè;

Oníré – Senhor de Ìré. Foi Ògún o primeiro rei deste reino. Em Ìré e em Iṣèdè, ele é cultuado como Ògún Igbó Igbó.

Alágbẹ̀dẹ Ọ̀run – O Ferreiro do Céu;

Aládáméjì – Aquele que tem duas espadas. Título que expõe seu conhecimento sobre a forja de todos os tipos de ferramenta, como bem
demonstra os símbolos de seu assentamento. Como diz a expressão Yorubá: Ògún aládáméjì o nfi ọkàn ṣá’ko, o nfi ọkàn yè ọ̀nà, que quer
dizer: Ògún, o dono das duas espadas, com uma ele prepara a fazenda e com a outra desimpede a estrada.

Aláméjì – É uma referência ao poder que ele possui de estar ao mesmo tempo em dois lugares. Na verdade, é Èṣù, seu companheiro
inseparável que vai em seu lugar quando Ògún está distante de onde foi solicitada sua presença;

Ògúnjá – Como já dito, é a forma reduzida de “Ògún jẹ ajá”, que quer dizer “Ògún come cachorro”;

Wari – Companheiro de Ọ̀ṣun que criou Lógun Ẹ̀ de. Um guerreiro velho, sábio e feiticeiro;

Ominí – Também tem ligação com Ọ̀ṣun e é cultuado em Ìjẹ̀sà.

Oríkì

É importante destacar que o oríkì não é apenas um “poema” como é traduzido comumente. Não se trata de um texto literário de
entretenimento ou de arte apenas. O oríkì tem uma função religiosa, de culto, de exaltação e explanação do caráter da divindade, seja ela
qual for.
A expressão oríkì é a aglutinação de outras duas palavras que juntas formam um terceiro sentido, vejam:
Orí (cabeça, origem), e o verbo kì (citar). Ou seja, oríkì significa “citar a origem de alguém”.

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Oríkì Ògún:

  Ògún pẹ̀lẹ  o!
Ògún lákáyé
Ọ̀ ṣìnmálẹ́
Ògún aládá méjì
O fi  ọkàn  sán oko, o fi  ọkàn  yè  ọ̀na
Ọjọ́  Ògún ntòkè bò
Aṣọ  inọ́n lọ mu bora
Ewu  ẹ̀jẹ̀  lówò
Ògún  edun olú irin
Òrìṣà tií burà ré  sán wònyìnwònyìn
Ògún Oníré alágbarà
A mu wodò
Ògún si la omi Logboogba
Ògún lọ ni aja òun ni a pa aja fun
Onílí ikú
Ọlọ́dẹ ilé mọ̀riwò
Ògún  olónà  ọlà
Ògún a gbeni jù oko riro lo
Ògún gbemi o
Bi o  se gbé Akinoro
 
Tradução:
  Ògún, eu te saúdo!
Ògún, senhor do universo
Líder dos orixás
Ògún, dono de dois facões
Usou um deles para preparar a fazenda e o outro para abrir caminho
No dia em que Ògún vinha da montanha
Ao invés de roupa usou fogo para se cobrir
Vestiu roupa de sangue
Ògún, a divindade do ferro
Òrìṣà poderoso, que se morde inúmeras vezes
Ògún Oníré, o poderoso
Levamos-lhe para dentro do rio e ele, com seu facão, partiu as águas em duas partes iguais
Ògún é o dono dos cães e para ele sacrificamos
Ògún, senhor da morada da morte
Senhor dos Caçadores, o interior de sua casa é enfeitado com mọ̀riwò
Ògún, senhor do caminho da prosperidade
Ògún é mais proveitoso ao homem cultuá-lo do que sair para plantar
Ògún! Apoie-me do mesmo modo que apoiou Akinoro

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Ògún yè! Pàtàkì Orí Òrìṣà!


Àṣẹ!

Bibliografia:

ABRAHAM, R. C. Dictionary of Modern Yorubá, Londres, 1946;


ADÉKÒYÀ, Olúmúyiwá Anthony. Yorubá: Tradição Oral e História, São Paulo, Terceira Margem. 1999;
ÀJÙWỌ̀N, B. Irèmọ́jẹ̀ ere ìṣípa ọdẹ. Ìbàdàn, Ìbàdàn University Press, 1981;
BENISTE, José. Àwọn Omi Òṣàlá, 2ª ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003;
___________. Dicionário Yorubá-Português, 2ª ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2014.
___________. Ọ̀ run Àiyé, 11ª ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2014.
FONSECA. Eduardo, Dicionário Yorubá (nagô) – Português, 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993.
VERGER, Pierre Fatumbi, Notas sobre o culto aos orixás e voduns, 2ª ed. São Paulo, Edusp, 2000.

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Comentários

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Dinah almeida em 19/07/2018 09:04:55
Sendo filha de Ogum fiquei agradecida em conhecer um pouco mais ra historia de meu Pai....que ele continue nos abençoando

Kyssyongokabalande em 05/01/2018 22:01:05


Mukuiu...tenho uma pergunta quanto ao uso de cachorros, bem pelo que sei o animal utilizado seria o mabeco o cão selvagem? Não sei se
na África, isso seja permitido, mas no Brasil vejo a invibialidade de se utilizar o cão doméstico.

MARIA DAS DORES DA SILVA em 21/06/2017 00:26:32


A benção a todos, excelente trabalho, explanaram muito bem os fundamentos.

Rose Baldi em 04/02/2017 07:13:04


Adorei, leio bastante sobre o candomblé, mss li aqui coisas que nao tinha conhecimento.

Luiz sergio em 05/05/2016 21:32:25


Obrigado são de muita sabedoria suas publicação. Asè mutumba!

César da c. Góes em 27/04/2016 12:59:46


Fiquei muito feliz ler. Está história! Sobre Ogun.

Ana Paula em 26/04/2016 12:04:34


Olá boa tarde, adorei ver essa história linda, teria como mostra uma de Oxum por favor

Melody em 26/04/2016 11:34:53


Eu gostei muito da Historia no nosso protector.
Eu gostaria receber no meu meil.
Obrigada Axé.

MARIA CONCEIÇÃO RODRIGUES DO AMARAL em 21/10/2015 10:28:55


Mukuiu,Motumba....que asé saber mais sobre meu Pai...Muito asé a todos.

jaqueline em 01/08/2014 13:35:41


Ase a todos, gostaria muito de saber mais sobre o orixá Ogum N'le, sei que ele é do branco, mas gostaria realmente de conhece-lo um
pouco mais.
Motumba
Jaqueline

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