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Vida e caráter do missionário

Você tem um chamado de Deus para a sua vida e quer que Ele o use na sua obra?
Então, “procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se
envergonhar e que maneja bem a palavra da verdade!” (2Tm 2.15).

1. Vida devocional e preparo

O missionário é capacitado por Deus. Essa capacitação acontece com o passar do


tempo, que fará com que ele, o missionário, obtenha êxito em seu ministério, caso
contrário, será frustrado no campo. O missionário despreparado é como nuvens sem
água impelidas pelos ventos; é como árvores em plena estação dos frutos, mas
duplamente mortas e desarraigadas (Jd 12).

A preparação é um pilar indispensável na vida de todo obreiro. Na obra missionária


o treinamento é imprescindível. Se desejamos um trabalho eficaz, economia de
tempo e de dinheiro, precisamos de pessoas bem-treinadas. Por acaso, pode um
homem fazer um trabalho de cirurgião, se antes não fizer um curso especializado?
Claro que não. E assim também deve ser na vida do missionário; ele precisa buscar
capacitação. E com certeza, a preparação de alguns é mais rápida do que de outros.

O missionário precisa se preparar para ir ao campo; podemos ver isto na vida do


apóstolo Paulo, que sendo um homem culto e intelectual, foi ainda para o deserto se
preparar. Ficou constatado através de uma pesquisa acurada feita por Ted Limpic,
missionário da Sepal, junto a 24 organizações missionárias brasileiras que uma das
causas principais do retorno antecipado dos missionários era a falta de “treinamento
apropriado”. Observe que, a questão não é somente o “treinamento”, mas se o
mesmo é “apropriado e correspondente”.

Analisemos o treinamento que Jesus ofereceu aos discípulos:

1. Jesus treinou pelo próprio exemplo. Os discípulos pediram a Jesus para que lhes
ensinasse a orar, porque viram que Ele orava sempre (Lc 11.2).

2. Jesus treinou com abundante exibição das Escrituras (Lc 24.26,27, 44,45).

3. Jesus treinou deixando os discípulos presenciarem Seu próprio testemunho


pessoal (Jo capítulos 3,4,9).

4. Jesus treinou dando missões deliberadas. As ordens eram específicas e definidas.


(Mt 10.1-6; 28.18-20).
5. Jesus treinou usando relatórios e avaliações. Depois de executar a sua missão, os
discípulos voltaram a Jesus para dar relatório. Então, receberam conselho pastoral
necessário (Lc 10.17-20).

6. Jesus treinou dando instruções aos doze (Mt 10.5-15).

7. Jesus treinou admoestando os doze acerca do campo missionário (Mt 10.16-23).

8. Jesus treinou estimulando os doze a cumprirem cabalmente a missão (Mt 10.24-


33).

9. Jesus treinou mostrando aos doze as dificuldades que iriam enfrentar no campo
missionário (Mt 10.34-36).

10. E por fim, Jesus treinou mostrando aos doze as recompensas que irão receber
das mãos do Deus Missionário (Mt 10.40-42).

A preparação do missionário se divide em algumas áreas principalmante a área


espiritual (oração, jejum, leitura da Bíblia)

A pessoa que recebeu a chamada para missões precisa preparar-se para a tarefa,
aprimorando-se espiritualmente e organizando a sua vida pessoal enquanto aguarda
o momento determinado por Deus para partir rumo ao seu campo de trabalho. O
êxito no ministério só será possível por meio de uma vida de oração.

Renúncia(Gn12.1;Mt16.24-26).

Sacrifício(Mt10.38).

Obediência(Mt7.24-27;Lc19.17).

Piedade(1Tm4.8;5.4.2Pe1.3,6,7).

Devoção(Rm12.12).

Sinceridade(Rm12.9).

Humildade(Mt11.29).

Honestidade(Rm12.17,Fp4.8).

Seriedade(Fp3.12,2Tm4.7).

Coragem(Js1.9).

Otimismo(Rm8.31-39).

Santificação(2Rs4.9).

Jejum(Mt17.21) e oração (1Ts 5.17).


Estudo bíblico (Js 1.8 e Sl 1.2); e etc.

Preparo teólogico e missiológico

Consideremos o vasto preparo intelectual de Moisés, Daniel e Paulo, e daí as


façanhas e proezas deles registradas na Bíblia.

1. Conhecer bons livros e autores (At 17.28, citação tirada do poema fenômenos, do
poeta Arato, séc. III a.C);

2. Estar atualizado dos acontecimentos mundiais;

3. Ter conhecimento da Constituição (Legislação), (At 22.25-30);

4. Conhecer a cultura e os costumes do campo para onde irá;

5. Localização geográfica;

6. Clima;

7. Moeda;

8. Alimentação;

9. Vestuário;

10. Língua (At 22.2);

11. Conhecimento secular (At 17.28; 1Co 9.24-26; 2Tm 2.5 e Mt 13.47-48);

12. Conhecimentos gerais (Pv 3.13);

13. Formação acadêmica (Cl 4.14);

14. Profissão (At 18.3; 20.34; 1Co 4.12 e 1Ts 2.9); etc.

2. Os métodos, o caráter e as habilidades do apostolo paulo

Paulo foi um missionário sábio e dedicado, escolhido por Deus para um ministério
específico (Atos 9:15). A sua vida tem sido exemplo para a igreja no cumprimento da
grande comissão ainda hoje. Ele é visto por muitos como o maior missionário de todos
os tempos. Usava sempre áreas que poderiam ser alcançadas a partir de centros
estratégicos. Fazia discípulos e os encaminhava para novas frentes missionárias em
regiões e cidades distantes. Como se verificou em Colossos quando enviou Epafras que
fundou a igreja naquele local.
Ao fundar uma Igreja, o apóstolo Paulo, a organizava com presbíteros e diáconos, com a
finalidade de dar prosseguimento à obra após a sua partida. Ele procurava sempre se
colocar sobre fundamentos sólidos. Quando se deslocava para um determinado lugar
para pregar somente o fazia com plena convicção de que era a vontade de Deus. Muitas
vezes deixou de se dirigir a determinadas localidades para evitar construir sobre
fundamento alheio, uma vez que Jesus já havia sido anunciado por outros pregadores
(Rom. 15:20). Paulo era muito consciente. Sua dependência do Espírito Santo se
evidenciou claramente tanto nos textos de Atos dos Apóstolos, como em suas próprias
Epístolas (Atos 13:2-4; 16:6-7). Paulo sempre voltava às igrejas por ele organizadas
para encorajá-las e fortalecê-las (Atos 15:36). Ensinava que a igreja devia estar
constantemente propagando o Evangelho.

Os métodos utilizados pelo Apóstolo Paulo fazia com que alcançasse êxito em seu
ministério. Paulo usava sabiamente diversos artifícios para ganhas vidas para Cristo (I
Cor. 9:19-23). Usava os grandes centros, preparava líderes, pesquisava a situação de
cada local, se identificava com as pessoas, pregava de casa em casa, se auto-sustentava
e era flexível no trato com os problemas (Atos 20:17-21; 33-34). Um fato muito
marcante no caráter de Paulo é que ao conhecer determinada cultura ele se utilizava
astutamente para falar as pessoas que ele evangelizava, como foi no caso do Aerópago
de Atenas. Paulo sabia que os Atenienses eram supersticiosos e destacou esta
particularidade, para dar a introdução de sua mensagem, se utilizando inclusive do
próprio título de um santuário grego “…ao Deus desconhecido” (Atos 17:22-23).
Muitas vezes se utilizou do argumento de ser Cidadão Romano para se defender diante
de seus perseguidores (Atos 22:25-29). Ao ser preso em Jerusalém sob a acusação de
profanar o Templo, Paulo passando pelo tribuno perguntou-lhe se era permitido dizer-
lhe alguma coisa, o que causou espanto no tribuno que não esperava que ele soubesse
grego. Paulo conhecia profundamente o grego. Logo em seguida, ele pediu para falar ao
povo e falou em hebraico (Atos 21:37-40). Se utilizava de uma retórica muito bem
embasada nos conhecimentos do Antigo Testamento, como profundo conhecedor da Lei
que era (Atos 17:2, 17-19; 19:8-10; 23:6).

Paulo não se contentava tão somente em pregar, mas também lutava pela pureza da
doutrina cristã que ele chamou de sã doutrina. Ele orientava exortava e doutrinava as
igrejas à luz dos ensinos de Jesus, a viverem vida de santidade (Atos 14:22-23; 20:31-
36; II Cor. 11:2). Paulo enfrentou também o gnosticismo incipiente que permeava as
igrejas. Em Colossos ele enfrentou a tendência racionalista, que levava a igreja à
heresia. Estava de continuo se comunicando as igrejas através de correspondências com
o propósito de corrigir as suas falhas e imperfeições.

Teologicamente, Paulo interpretou de maneira singular o significado da vida, morte e


ressurreição de Cristo. Ele pregou uma fé livre da introdução do legalismo e do
racionalismo. O autor Roland Allen, em seu livro “Métodos Missionários: os de Paulo
ou os Nossos?, resumiu muito bem a obra de Paulo: “Em pouco menos de dez anos,
Paulo estabeleceu a igreja em quatro províncias do Império: Galácia, Macedônia, Acaia
e Ásia. Antes de 47 d.C, não havia igrejas nessas províncias. Em 57 d.C., Paulo já se
reportava a sua obra nestes locais como se já estivesse totalmente concluída. É
importante notar que estas igrejas foram fundadas com rapidez e segurança, mesmo
diante das dificuldades, incertezas e fracassos do primeiro século (II Cor. 11:24-28).
Muitos missionários realizaram obras fantásticas para o reino de Deus. Contudo, o
apóstolo Paulo foi o único que além de estabelecer igrejas em suas diversas viagens
missionárias, tinha também o cuidado de visitá-las para ver como estavam. Ele também
se comunicava com estas igrejas e com os seus filhos na fé, como Tito, Timóteo e
Filemon, exortando-os a zelar pela sã doutrina do Evangelho de Cristo (Gál. 4:19).

3. O mensageiro, a mensagem e a cultura

A maneira pela qual devemos navegar nessas águas culturais vem da compreensão de
que em uma cultura pós-moderna o mensageiro é a mensagem. Como somos vistos é tão
importante quanto as verdades que transmitimos. As pessoas assimilam aquilo que
veem. A atitude cultural da igreja local comunicará a pessoa a conduta de Cristo, que foi
amplamente atraente e aceita pelos “pecadores” de seus dias, ou reforçará um
estereótipo que presta um desserviço a Jesus.

De modo geral, as novas gerações não perguntam: “O que é a verdade?”. Elas


perguntam: “Será que eu quero ser igual a você?”. Em outras palavras, elas veem a
verdade como relacional. “Se eu quero ser igual a você, então quero considerar o que
você crê. Se eu não vejo nada real ou atrativo em você ou em seus amigos como
seguidores de Cristo, não importa quão ‘verdadeiro’ você pensa que algo seja, não
estou interessado”.

As pessoas experimentam a verdade não apenas em palavras, mas em carne e osso,


quando a igreja “ajustada e unida pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si
mesma em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função” (Efésios 4:16).

Processo de adaptação

O problema do choque cultural tem sido a causa de muitos retornarem do campo. Na


escola, ele vai ser conscientizado das dificuldades que pode enfrentar e como lidar com
o choque que, inevitavelmente, em maior ou menor proporção, ocorrerá.

A doutora Antonia Leonora van der Meer diz: “O preparo cultural do missionário é a
chave para uma boa adaptação, integração no campo e o bom êxito do seu ministério”
(revista Capacitando, p. 25). A preparação não elimina automaticamente os problemas
de adaptação, mas diminui o impacto dos mesmos, deixando o missionário mais
sensível à realidade.
No campo, o missionário enfrenta muitos problemas, como, por exemplo, costumes
diferentes, língua, cultura, estresse, depressão, desânimo, além da saudade da família ou
país, entre outros fatores. Sem o devido preparo, tudo isso será insuportável. As
agências missionárias do Brasil têm se preocupado cada vez mais em preparar
adequadamente os candidatos à obra missionária, evitando-se, assim, o seu retorno
prematuro.
A capacitação visa preparar o candidato para a complexa tarefa de adaptação cultural e
comunicação eficaz do evangelho em outra cultura. Quando há um bom preparo, o
missionário, além de estar ciente dos possíveis choques, consegue fazer uma
contextualização correta para comunicar a Palavra de Deus com fidelidade, evitando o
sincretismo ou o transporte de sua cultura para o povo em meio ao qual está
trabalhando.
Está provado que, quanto melhor o preparo, menor o perigo de retorno prematuro e
outras consequências desagradáveis ao campo, à agência, à igreja enviadora e ao próprio
missionário. Adotar novos costumes é extremamente estressante e gera crise em
qualquer pessoa, e essa crise, por sua vez, é comparada à mesma que um soldado
experimenta quando vai à guerra. Em razão dessa situação estressante, é preciso que ele
tenha uma âncora, pois, caso contrário, perderá facilmente o referencial e fracassará.

4. Cuidar do emocional

O missionário não pode ser imbuído mais pela emoção ou mais pela razão. Não
pode equivocar-se entre razão e emoção, mas deve dosá-las. Emoção e razão devem
irmanar-se na vida missionária, para que sejam evitados extremismos. Assim como
graça e conhecimento devem ser pesados iguais em uma mensagem, também a
emoção e a razão devem andar juntas. Se o missionário não estiver preparado
psicologicamente, irá sofrer um abalo emocional.

O missionário precisa e deve cuidar da sua saúde (1Tm 4.16 e 5.23), pois dependerá
de seu físico e energia para levar o Evangelho. Deste modo, a integridade física do
missionário depende de pelo menos três agentes, são eles:

1. Alimentação adequada.

2. Exercícios físicos.

3. Descanso suficiente.

O exame médico é obrigatório na vida do missionário e, ai da igreja, que não incluir


um exame completo para o candidato antes deste partir para o campo.

Retorno prematuro

Segundo estudos missiológicos , uma taxa anual de 7% de missionários retorna


antecipada e inevitavelmente do campo. As cinco causas principais são:

1. Treinamento inadequado.

2. Falta de compromisso.

3. Fatores pessoais – tais como amor próprio.


4. Tensões.

5. Problemas com colegas.

Nota-se que as causas mais importantes localizam-se em problemas de caráter e não na


limitação das habilidades, as quais têm um grande impacto nos programas de
treinamento brasileiros.

BRASILEIROS E A QUESTÃO DO RETORNO PREMATURO


MOTIVOS PARA A PERDA DE MISSIONÁRIOS % do total de
motivos

Adaptação, educação, saúde e conduta dos filhos 14,4


Problemas de saúde mental ou física 11,6
Problemas de relac. Com líderes do campo e outros missionários 8,5
Problemas pessoais – auto-estima, expectativas frustradas, etc. 8,4
Desacordo sobre questões teológicas com o grupo que o enviou 5,5
Dificuldades de adaptação à cultura e condições de vida 4,8
Conflito matrimonial ou familiar 4,1
Imaturidade espiritual, necessidades espirituais não atendidas 4,0
Falta de compreensão do custo do compromisso 3,7
Treinamento e preparo inadequado 2,9
Problemas de relacionamento com igreja 2,5
Ausência de um chamado genuíno para o trabalho missionário 2,2
Incapacidade de aprender de modo adequado a língua do país 1,2
Outros

Sustento

O missionário deve ir ao campo depois de ter levantado o sustento missionário que


precisará na empreitada missionária. O mesmo deve usar seu dinheiro sábia e
prudentemente. É importante dizer aqui que Deus é o nosso Provedor, mas que Ele usa
indivíduos, igrejas e sociedades para prover as nossas necessidades.

Assim, o missionário deve estar associado à uma igreja local (Fp 4.14-15), viver
contente em qualquer situação (Fp 4.11-12), confiar no Senhor (Fp 4.13), estar
interessado não no dinheiro, mas no fruto que aumente o crédito da igreja (Fp 4.17).
O aspirante ao campo missionário deverá ter algumas características a serem
observadas:

1. Submissão à liderança.

2. Participação efetiva nos trabalhos da igreja.

3. Zelo pela área de evangelismo local da igreja.

4. Contribuição para a visão missionária mundial de sua igreja.

5. Participação financeira na vida de outros missionários.

6. Algumas questões importantes ainda devem ser levantadas durante este período de
preparação antes do envio do missionário ao campo:

7. Sendo casado ou casada, como anda seu relacionamento conjugal?

8. Se, solteiro, como tem lidado com sua vida afetiva?

9. Teria passado por experiências traumáticas na infância, adolescência ou mesmo na


mocidade?

10. Os filhos estão preparados para ir? Se estão na adolescência, isto causaria um
possível trauma?

11. Como anda a saúde física?

12. Têm acontecido momentos de depressão com certa regularidade?

13. Há constante desequilíbrio financeiro resultando no descumprimento de


compromissos assumidos?

14. Há demonstração de equilíbrio entre as atividades “eclesiásticas” e o lazer?

15. Existe um círculo de amigos que esta pessoa faz questão de preservar?

16. O que diriam as pessoas que foram subordinadas ou superiores deste candidato?

É melhor não enviar ninguém do que colocar no campo missionário pessoas mal
treinadas, sem chamado e sem apoio básico, espiritual e logístico de suas igrejas locais.

5. Contextualização do evangelho

Os princípios da necessidade de contextualização podem ser descobertos na própria


Bíblia. No livro de Atos, um dos que nos trazem as raízes da missiologia, Lucas
menciona que a igreja “contava com a simpatia de todo o povo” (At 2.47). Outro
exemplo está no fato de o apóstolo Paulo ter entendido com muita propriedade que, para
alcançar o interlocutor, ele teria de tornar-se “igual” a este (1Co 9.20-22).
Muito mais poderia ser dito a respeito da tradução cultural para o entendimento e
pregação do evangelho. Também, muitas outras objeções poderiam ser apresentadas a
esta necessidade. Todavia, se o próprio Deus valeu-se da contextualização para trazer
sua mensagem até nós, humanos, certamente devemos imitá-lo submetendo-nos à
cultura receptora com amor e espírito vicário para a transmissão da mensagem
salvadora.

Assim o fez nosso Senhor e assim devemos proceder. Se o evangelho (e não a cultura) é
o “poder de Deus para a salvação de todo o que crê” (Rm 1.16), o engajamento por
parte do teólogo na contextualização da mensagem evangélica é imperativo. É
necessário que entendamos o mundo no qual foram escritas as laudas bíblicas, tanto
quanto o nosso próprio mundo com seus problemas, necessidades imediatas, forma de
pensamento e demais peculiaridades. Somente assim estaremos aptos a discernir a
transitoriedade da cultura da natureza imutável e vivificante do evangelho, ensinando-o
de maneira pura e simples como ele é.

6. Mitos no trabalho missionário

1. Não tenho o chamado para ser missionário


Se você ama Jesus, você tem a missão de levar o evangelho a quem não conhece. Seja
como missionário, seja na vida cotidiana, você pode mostrar o amor de Jesus às pessoas
que estão à sua volta. Mesmo se você não for um missionário, você deve ter um coração
missionário, pronto para levar a mensagem de Cristo para qualquer lugar onde Deus
mandar. Não é preciso um chamado especial para isso; é o chamado de todo cristão.
2. Missionário é uma categoria "superior" de cristão
Um missionário é uma pessoa normal, com dons e defeitos, como você. Não é um
"super-cristão"! Basta ser um cristão a sério. Todo cristão é chamado para viver pela fé,
confiando em Deus e fazendo outros discípulos. O missionário simplesmente faz isso
em outro lugar.
3. Para ser missionário é preciso muitos estudos
Jesus era carpinteiro. As pessoas se maravilhavam porque ele não tinha estudado para
ser doutor de Teologia mas seu ensino tinha autoridade. Um curso de Teologia ou de
preparação para missões é útil e pode ensinar muitas coisas importantes. Mas não é o
mais importante. O essencial é crer em Jesus, conhecer a Bíblia e viver em obediência a
Deus.
4. Para ser missionário não é preciso preparação nenhuma
Tudo é melhor com alguma preparação! Converse e aprenda com outros missionários
mais experientes, estude a sociedade e a cultura do lugar onde você quer ir e ore.
Aprenda mais sobre a Bíblia e a mensagem do evangelho, envolva-se em uma igreja e
procure o apoio e a orientação de outros cristãos em sua missão. Um curso também
pode ajudar na preparação, por isso veja quais são suas opções. Quem vai mais
preparado tem menos probabilidade de desistir.
5. Viagem missionária é turismo
Uma cultura diferente, paisagens exóticas, comidas e experiências novas! Que diversão!
Muitas pessoas tratam a viagem missionária como turismo mais barato mas isso é
errado. Não são férias. Normalmente há algum tempo para diversão mas o objetivo da
viagem é trabalhar. E o trabalho é muito sério. Se você não quer trabalhar, com
empenho e submissão, deixe seu lugar para outros mais empenhados.
6. Vida de missionário é maravilhosa
Viaja pelo mundo, salva almas, aprende outras línguas, tem sempre uma história
incrível para contar... À primeira vista, a vida de missionário pode parecer um mar de
rosas, mas também tem muitos desafios. Muitos missionários enfrentam solidão,
discriminação, perseguição, falta de dinheiro e recursos, excesso de trabalho e falta de
compreensão. Por isso, é muito importante formar uma rede de apoio sólida para ajudar
missionários.
7. Se a igreja não está cheia, a missão falhou
Alguns missionários rapidamente conseguem levar muitas pessoas para Cristo, abrindo
igrejas grandes, mas outros lutam durante muitos anos para plantar uma igreja pequena.
Isso não é uma derrota. Não se deve desprezar a batalha espiritual que acontece em
lugares onde as trevas reinam. Os missionários que continuam lutando, sem muitos
resultados visíveis, estão lançando as raízes necessárias para que, no futuro, o evangelho
cresça muito. Esse trabalho é essencial.

7. O que não é negociável na intergridade

A realidade que missionários enfrentam é de uma jornada difícil pela credibilidade


relacional. Nem sempre é possível controlar as percepções das pessoas, mas é possível
controlar a realidade. E a realidade é que missionários devem ter integridade de
identidade.

Isto é especialmente significativo porque pregamos uma mensagem que depende da


credibilidade. O Evangelho evoca a confiança. Portanto, se missionários perderem a
integridade pessoal ou ocupacional, perderāo essencialmente a capacidade de fazer o
seu trabalho. Afinal, se alguém não acredita em você, nunca acreditará no que você tem
a dizer.

Estresse de identidade

Quem sou eu ?

Infelizmente, alguns missionários não fazem nada do trabalho que dizem fazer. Ou o
fazem tão raramente — ou consistentemente operam seus negócios no vermelho — que
ninguém jamais poderia esperar viver com seu salário, muito menos sustentar uma
família. Então, sempre que a pergunta “de onde você recebe seu dinheiro?” vem, eles
não têm resposta confortável ou franca. A menos, claro, que afirmem ser
independentemente ricos.

Dissonância Ocupacional

Antes de condenar todos esses missionários, experimente se colocar no lugar deles.


Muitos não foram inspirados a deixar a família ou o conforto de casa pela perspectiva
de ensinar negativos duplos em inglês. Não prestaram muita atenção aos balanços no
primeiro ano do curso de administraçāo de empresas, e certamente não têm interesse em
preenchê-los agora. Não, eles desistiram de tudo para levar o Evangelho às nações.
Estão até dispostos a arriscar suas vidas por isso. Assim, a perspectiva de “perder
tempo” fazendo outro trabalho apenas para obter acesso pode parecer como que os
distrairá da questão principal.

Então, montamos estratégias para criar maneiras de chegar lá, e aí as chamamos de


plataforma. Trabalhamos duro para obter acesso a um lugar, mas na verdade não
trabalhamos duro vocacionalmente quando chegamos lá. Fazemos as malas e levamos
nossa família para o outro lado do mundo, depois dizemos a nossos vizinhos que não
começaremos a trabalhar por alguns anos, até que aprendamos a língua.

Eu sei, porque foi o que fiz.

Mas o mais doloroso para mim é que temo que nossos vizinhos estrangeiros possam
enxergar através dessa fachada. Todo mundo que sustenta uma família na comunidade
têm uma longa semana de trabalho, enquanto eu, aparentemente, não faço nada. Que
trabalho sinistro devo estar tramando todos os dias atrás do meu computador, e dentro
dos limites do meu apartamento? Quero dizer, você não estaria fazendo estas mesmas
perguntas se um homem saudita trouxesse a família para a sua vizinhança, mas não
parecesse trabalhar ou ter uma fonte de renda? E, se você ousasse perguntar, e ele
balbuciasse a respeito de algum plano nebuloso para a possibilidade de um emprego
futuro?

É assim para muitos missionários. Eles enfrentam o dilema do dia a dia do escrutínio
governamental. Mas muito mais significativa é a percepção da comunidade local. Pouco
importa o que pensa um burocrata nos escritórios do ministério de relações estrangeiras.
Os missionários devem se preocupar primeiro com sua própria incongruência
ocupacional, que é o que mais preocupa a família vizinha.

Confie no Mensageiro

Para ser claro, não estou sugerindo que esses missionários sāo mentirosos. Na verdade,
acho que, na maioria dos casos, eles estão dizendo coisas verdadeiras. Também não sou
contra o uso de plataformas. Desde que sejam legítimas, as plataformas têm um
potencial maravilhoso. Mas esta é a questão. As plataformas — e a maneira pela qual
nos explicamos ― acabam sendo críveis? Ou os missionários estariam minando a
mensagem que proclamam sendo indignos de confiança?

Acho que podemos e devemos enviar missionários para lugares difíceis. Mas também
creio que esses missionários devem ser quem eles dizem ser e fazer o que dizem que
fazem — mesmo que não seja tudo o que estão sendo e fazendo. Em muitos casos, isto
significará um sacrifício em horas destinadas ao ministério ou à agência missionária.
Isso significará estar disposto a fazer o desagradável e o mundano em prol da
construção de relacionamentos de confiança e de um testemunho confiável. Isso
significa que eles nem sempre podem estar fazendo a “coisa principal”.

Com muita frequência, nós, da comunidade missionária, nos concentramos em criar


acesso sem criar credibilidade. Estamos fazendo nosso trabalho sem integridade pessoal
ou organizacional. E com o aumento de interesse na comunidade missionária, em torno
da tendência do modelo de negócios como missão ― que eu creio que apresenta
possibilidades ilimitadas ― devemos reconhecer que isso só funcionará se os
envolvidos realmente fizerem seus negócios e o fizerem bem.

Este é o custo das missões modernas. Pode não significar perseguição ou martírio,
mesmo nos locais mais perigosos. Em vez disso, pode significar horas sem fim de
trabalho monótono para a glória de Deus. Este é o preço não negociável da integridade
pessoal nas missões. Necessitamos reconhecer que as pessoas só confiarão em nossa
mensagem se puderem confiar em seu mensageiro.

Referências

https://coalizaopeloevangelho.org

www.icp.com.br

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