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Giulia Oliveira
Desenvolvimento
“Eu era uma mulher que precisava de sorte, porque era a única contra um número enorme de
violonistas, um bando de homens que não estava a fim de me ceder um lugar. Precisava quase
arrancar as cordas do violão para que as pessoas compreendessem que eu sabia tocar. Quantas vezes
fazia acordes fortíssimos para acordar as pessoas, para que calassem um pouco a boca e prestassem
atenção: quando um artista toca, ele tem que ser ouvido. Não importa que esteja de saia ou de
cuecas”.¹
A partir de seu álbum de estréia Rosinha se inseriu com sucesso no mundo da música,
fazendo parcerias e trabalhando - seja como produtora, diretora musical, compositora e/ou
violonista - com nomes importantes do cenário musical, como Nara Leão, Maria Bethania,
Leci Brandão, Martinho da Vila (parceria por oito anos), Zizi Possi, Ney Matogrosso entre
tantos outros. Participou também de programas de Tv de sucesso como o Fino da Bossa
(1964), da Record com apresentação de Elis Regina e Jair Rodrigues e tendo Baden Powell
tocando ao seu lado e em um programa especial da Rede Globo nos anos 70. Seu talento a
levou para muitos lugares do mundo, começando pelos Estados Unidos já em 1965 em uma
turnê de 8 meses, seguida de outra que passou por 24 países da Europa e em seguida para o
Japão. Em 1968 se apresentou novamente em países da Europa, na Rússia, em Israel e em
países do sul da África. Ao longo de sua carreira lançou 8 discos solo. As temáticas mais
recorrentes de suas composições evidenciavam as raízes populares do Brasil, com temáticas
interioranas e caipiras, como em “Usina de Prata”, “Interior” e “Os Grilos São Astros”,
indígenas, como em “Uirapuru”, e afro-brasileiras, como em “Cana Caiana”.
Rosinha, ao lado de Baden Powell se constituíram como expoentes para os rumos da
bossa nova no país. Neste contexto, a bossa nova se constituía como uma mercado crescente
de consumo principalmente nos Estados Unidos e muitos artistas brasileiros estavam
impulsionando suas carreiras a partir deste mercado, se tornando “fenômenos mundiais nos
anos 1960 e 1970 [competindo] nas paradas com os Beatles e com o rock”(MACHADO 2008
p.155-156). O jornalista Luís Nassif, destacou a importância do surgimento de Rosinha no
cenário musical: “Os novos rumos do violão brasileiro seriam definidos por Baden e
Rosinha”². Devido a suas proximidades de técnica e sonoridade, comparações eram feitas
entre eles o que mais uma vez tornava evidente a mentalidade daquela época, como podemos
perceber no trecho abaixo:
“Com Roberto Menescal, a surpresa foi a mesma. Violonista consagrado, Menescal havia sido
convidado para assistir Rosinha tocar na casa de um amigo. Era o início da década de 60 e nenhuma
mulher tinha despontado no País, até então, como uma virtuose do violão. “Quando vi aquela moça
tímida, com um vestidinho de interior, achei que tinha entrado numa roubada”, lembra Menescal, que
logo mudou de opinião. “Ela mandou um violão no melhor estilo Baden Powell.” A comparação com
o autor de “Berimbau” também foi lembrada por Turíbio Santos. “Ela era o Baden Powel de saias.”
Considerações Finais
No violão, com sua sonoridade muito ritmada e vigorosa, articulada com momentos
de diminuição melódica, Rosinha de Valença nos leva a viagens profundas com sua música,
despertando sensações de grande admiração e satisfação ao ouvir. Como compositora
escreveu belos poemas que retratam a cultura popular do país e, apesar de não ser
amplamente conhecida pelas gerações mais jovens foi uma pessoa de grande relevância para
a música brasileira, seja pelo trabalho em conjunto com diversos outros musicistas ou por sua
produção própria. Sobre sua consolidação no cenário da música temos a fala do
instrumentista Hermeto Paschoal:
“Pelos músicos da minha geração, a mulher era desprezada pelos homens quando era
vista tocando ou dirigindo carro. Quando o pessoal via que Rosinha esquentava tudo, acabava
esse papo boboca.”3
Referências
MACHADO, Cristina Gomes. Zimbo Trio e o Fino da Bossa: uma perspectiva histórica e sua
repercussão na moderna música popular brasileira. Dissertação (Mestrado em Música) –
Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista (Unesp), São Paulo, 2008.
ROSINHA de Valença. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa208954/rosinha-de-valenca>. Acesso em:
28/11/20