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CAPÍTULO 1
A arte e o mundo imaterial
Arte Kusiwa, técnica de pintura corporal do povo indígena Wajãpi. Dança do peixe. Aldeia Wajãpi,
Serra do Tumucumaque, Amapá (AP). Fotografia de 2009.
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1. O que você entende por imaterial?

2. A imagem da abertura do capítulo mostra uma pintura corporal dos Wajãpi –


povo indígena do Amapá – chamada Kusiwa. Observe-a. Você já desenhou ou
pintou imagens sobre sua pele? Com qual objetivo?

A pintura corporal indígena é a expressão de um saber ancestral, transmitido de


geração em geração, comunicado, perpetuado e atualizado no convívio cotidiano e
na oralidade.

No mundo imaterial também cabem ritos, mitos, histórias, costumes, hábitos,


saberes, entre outras manifestações culturais. Por se referir ao que é impalpável,
também consideramos imaterial o que é conceitual, ou seja, aquilo que se elabora
em nossa mente (algo muito explorado por artistas contemporâneos).

Ao longo do ano, você conhecerá exemplos de como o imaterial se manifesta em


diferentes culturas. Neste capítulo, começaremos explorando referências brasileiras,
de modo a ajudá-lo a pensar a respeito de uma série de elementos imateriais
presentes no cotidiano e que fazem parte da nossa cultura.

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Transcrição do áudio
[Locutor] Olá, tudo bem com você? Para falar da importância da arte e de como o
mundo imaterial está presente na cultura indígena, vamos ouvir o professor Casé
Angatu.

[Casé Angatu] Meu nome é Casé Angatu, Casé porque o meu nome de registro de
nascimento é Carlos José, corruptela que deu Casé e Angatu, anga é alma e catu,
boa. Quer dizer, então seria Casé Alma Boa, que é o meu nome indígena, né? Sou
indígena, da família do tronco Xukuru, Tupi, do tronco Tupi, moro aqui em Olivença,
Ilhéus, Bahia. Olivença é um distrito de Ilhéus, um antigo aldeamento jesuítico do
século 16 e que virou um território indígena. Fiz História na Unesp. Fiz mestrado em
História na PUC, em São Paulo. O doutorado eu fiz da FAU-USP. Sou concursado
agora na Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, que é onde dou aula.
Sou professor também do programa de Ensino e Relações Étnico-Raciais da
Universidade Federal do Sul da Bahia. E moro na aldeia Guarani Taba Atã. Eu moro
numa oca, na tradição, que é feita de pau a pique, de barro, né? A gente vive da água
do rio, da pesca, vive da piaçava, que tem que ter piaçava, vive da retirada, algumas
pessoas tiram palmito, né? Tira o caju... e o dia a dia da minha comunidade é o
plantio da mandioca, que é a principal base, a gente chama de aipim, os paulistas
chamam de mandioca. A gente faz a farinha, nas casas de farinha. Vive de
artesanato, e esse é o dia a dia. Minha mãe encantou, meu pai encantou, o que que é
encantar? Na tradição do não indígena é falecer, morrer, né? A gente não morre e vai
para o paraíso ou vai para o inferno. Já está no paraíso, que é a natureza, então a
gente encanta, vira um pedaço de rio, um pedaço de folha de uma árvore, um bicho,
uma graminha, né? Então a nossa relação com a natureza é extremamente espiritual.
Eu costumo dizer que nós somos a natureza, nós somos a terra, por quê? Porque
quando nós encantarmos, nós vamos virar a própria natureza. E por isso que quando
a gente anda, muita gente pergunta assim: Casé, por que índio quando anda no meio
da mata fica olhando para o chão? Porque lá estão os nossos encantados, né? Está
nossa espiritualidade. Então numa onda de um mar, um barulho de um rio, o voo de
um pássaro ou o canto de um passarinho, na beira de uma árvore, já é a emanação
dos encantados da natureza conversando conosco. E quem são esses encantados?
São nossos ancestrais. Tem povos que têm pinturas que quase sempre se repetem,
né? No nosso caso aqui que é o tupinambá, as pinturas são feitas de acordo com o
sentimento do momento. Por exemplo, quando é uma pintura de cura, ela é mais
fechada, né? Quando é uma pintura de proteção ela é mais fechada. Quando é uma
pintura de festa, ela é mais aberta, tende a ser mais aberta. Então a pintura é uma
forma de proteção, de cura, e ao mesmo tempo de comunicação com o mundo
externo. A gente não faz arte porque nós somos artistas, né? Nós fazemos a nossa
cultura, que tem valor artístico. Nós fazemos o artesanato, que alguns chamam de
artesanato, que é a pulseira, que é o colar, que é a pintura, que pode ser considerado
como arte. Mas a gente não faz isso como arte, necessariamente, a gente faz isso
com uma dimensão espiritual. Então toda a tradição, cultura, musicalidade indígena,
ela tem a ver com a ritualidade da nossa relação com a natureza. Isso pode até ser
considerado como arte, mas a finalidade não é necessariamente ser uma arte, é a
relação que a gente tem com o plano natural, né?

Estúdio: Núcleo de criação


Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os


colegas e com o professor.

1. A que aspectos da vida dos indígenas Wajãpi você imagina que essas
pinturas corporais podem estar relacionadas?

2. Na nossa sociedade, em que situações se fazem pinturas corporais e a


que aspectos podemos relacioná-las?
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Processos de criação

Para iniciar, convidamos você a investigar e compartilhar a cultura imaterial


presente em sua comunidade. Para isso, sugerimos uma atividade em duas
etapas.

1. Levantamento
a. Em grupos de três integrantes, informem-se com parentes e conhecidos
sobre as manifestações culturais imateriais de sua região.

b. Nessa pesquisa, além de festas, danças, músicas e literatura, considerem


também: modos de falar, de vestir e de morar, hábitos, superstições e até
mesmo um jeito especial de preparar uma comida, de confeccionar algum
instrumento, de fazer um artesanato etc.

c. Ampliem o levantamento de dados pesquisando em livros, na biblioteca da


escola ou na internet.

d. Além de apresentar a atividade, a pesquisa deve mostrar como ela é


desenvolvida, onde é praticada e qual é a importância dela para o
entrevistado e para a comunidade.

e. Registrem a pesquisa com anotações em seu diário de bordo, fotografias e


vídeos, informações e imagens de materiais de apoio (livros, jornais,
revistas, cartazes, documentos etc.) e depoimentos.

2 Feira de trocas
Para conhecer o resultado da pesquisa dos outros grupos, a turma organizará
uma feira de trocas com o auxílio do professor.
a. Descrevam no quadro os assuntos pesquisados pelos grupos.

b. Em um dia previamente combinado, cada grupo deverá apresentar o


resultado de sua pesquisa. Podem ensinar a turma a preparar uma receita,
produzir uma peça artesanal, apresentar uma música ou uma dança típica
e convidar os demais a praticar, ou ainda mostrar gravações de áudio ou
vídeo com depoimentos dos entrevistados.

c. Se possível, a feira poderá contar com a presença de outros estudantes da


escola, da comunidade do entorno e dos familiares.
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Foco na História

Cultura Imaterial e Patrimônio

Você sabia que manifestações culturais imateriais, como as que você investigou,
podem ser oficialmente reconhecidas como patrimônio cultural nacional ou até da
humanidade? A palavra patrimônio, nesse caso, indica bens que merecem ser
preservados e pode referir-se tanto a bens materiais (como edificações, obras de
arte, cidades históricas, entre outros) quanto imateriais. Para se referir a bens
imateriais, usa-se o termo Patrimônio Cultural Imaterial. Quem cuida da definição
e preservação desse tipo de patrimônio em nosso país é o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que existe desde 1937. Segundo o Iphan,
para ser considerada um patrimônio cultural imaterial, uma manifestação precisa
representar o modo pelo qual um determinado povo ou comunidade vê e pensa o
mundo, ser transmitida de geração em geração e ser uma prática social. No que
se refere ao patrimônio da humanidade, essa definição é feita, desde 1972, pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
da qual participam a maior parte dos países do mundo. Nesse caso, as
manifestações de cultura imaterial recebem a denominação de Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade.

Faça no caderno.

1. Em trios, investiguem, entre os elementos culturais imateriais que vocês


compartilharam na atividade anterior, se algum é reconhecido como
patrimônio cultural nacional ou da humanidade. Para isso, podem acessar os
sites do Iphan e da Unesco sugeridos no final do livro.
2. Do seu ponto de vista, o que faz com que essas manifestações culturais
sejam consideradas patrimônios imateriais?

3. Há alguma outra manifestação cultural da sua região que, na sua opinião,


também deveria ser considerada patrimônio cultural imaterial?
4. O registro de manifestações culturais imateriais como patrimônios nacionais
ou da humanidade pode estar relacionado à prática do turismo em uma
comunidade. O que você pensa a respeito da relação entre turismo e
patrimônio cultural imaterial?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os


colegas e com o professor.

1. Quais manifestações apresentadas você já conhecia?

2. Quais delas você acredita que são mais representativas da sua região?
Por quê?

3. Quais manifestações ao seu redor você acha que, no futuro, também


podem vir a ser patrimônio cultural?
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SOBREVOO

Entre o visível e o invisível

Há uma série de elementos ao nosso redor que não necessariamente vemos, mas
sabemos que existem: não podemos ver o tempo passar, mas percebemos suas
marcas em nossa pele e na percepção que temos do mundo. Mesmo não vendo os
nossos antepassados, sabemos que eles viveram e influenciaram, de alguma
maneira, a nossa existência. Diversas histórias, narrativas, mitos e lendas foram
transmitidos a nós pelas gerações anteriores e alguns dos fatos que vivemos no
tempo presente também serão passados para as gerações futuras.

Faça no caderno.

1. Quais histórias da sua família, de seus antepassados ou de seu entorno são


marcantes para você? Qual história de sua vida você deseja que seja lembrada
no futuro?

CAFÉ com queijo. Criação, concepção e atuação: Lume Teatro.


Campinas (SP), 2018.
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O teatro é uma das artes que realiza a ponte entre o mundo invisível e o visível por
meio das palavras e do corpo: por acontecer apenas no momento presente, os
espetáculos teatrais precisam, a cada vez que são apresentados, materializar uma
série de elementos imateriais.

O Lume Teatro, um coletivo teatral da cidade de Campinas (SP), optou por trabalhar
com a proposta de tornar visíveis as coisas invisíveis.

Um de seus espetáculos mais representativos, Café com queijo, é fruto de uma


exaustiva pesquisa realizada pelo grupo em diversos estados e cidades brasileiras
desde 1993.

Tudo começou com um desejo do grupo: a criação de uma peça teatral composta
de "causos", lendas e histórias contadas em pequenos vilarejos do país. Mais do que
as histórias, interessava aos artistas o modo como elas eram contadas. Assim,
empreenderam uma série de viagens em busca de encontros com as mais variadas
pessoas para conhecer suas experiências, recolher suas lendas e seu jeito de falar.

Cada artista viajou por algumas cidades de uma região do país. Visitaram
localidades da região Centro-Oeste e dos estados do Amazonas, de Minas Gerais e
do Pará. Ao longo dessa jornada, eles recolheram histórias fantásticas, cotidianas e
pessoais; e estavam tão atentos ao teor dessas narrativas quanto às expressões
corporais das pessoas, já que elas também exprimem marcas de tradições culturais
específicas.

A quantidade de material recolhido ao longo dessas viagens foi tão grande que
gerou vários espetáculos: Taucoauaa Panhé Mondo Pé (1993), Contadores de
estórias (1995), Afastem-se vacas que a vida é curta (1997) e, por fim, Café com
queijo (1999).

2. Observe a imagem do espetáculo Café com queijo mostrada anteriormente. O


que chama a sua atenção nela?

Nas apresentações, o público que assistia à peça estava muito próximo dos atores,
pois a proximidade contribuía para que as sutilezas dos gestos e dos "causos"
contados pelos atores fossem mais visíveis. Além disso, gerava uma atmosfera de
intimidade entre os artistas e os espectadores.
Observe que o cenário era composto de uma colcha de retalhos, que, além de
proporcionar ao público a mesma sensação de aconchego e receptividade que os
artistas haviam sentido ao longo de seus encontros nas viagens, também sugeria
que a peça era formada por uma série de histórias misturadas e costuradas entre si.
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Ao final de cada apresentação, o grupo servia aos espectadores uma receita


tradicional do interior do Tocantins: café com queijo. Além disso, exibia fotografias
das pessoas que haviam entrevistado e acompanhado ao longo da composição do
espetáculo. A peça do Lume constituía, portanto, uma coletânea de elementos que
formam a cultura imaterial de regiões do Brasil e que, por meio da arte teatral,
tornavam-se visíveis para o público.

3. Há, na sua região, alguma receita tradicional semelhante ao café com queijo do
interior do Tocantins?

A dança dos mestres e ancestrais

Os atores do Lume Teatro trazem o passado, recriando-o a partir das memórias


das histórias recolhidas durante suas viagens. Inaicyra Falcão dos Santos (1958-),
bailarina, cantora e professora, também recria em seus trabalhos histórias passadas
da própria família, transmitidas de geração em geração.

Seus temas são os mitos e as histórias dos ancestrais da cultura dos iorubá, que
ela vivenciou no terreiro onde nasceu e cresceu, em Salvador (BA), e, mais tarde, nas
comunidades onde viveu na Nigéria. Inaicyra fala dos seus ancestrais e do tempo
expressando-se através da linguagem da dança.

4. Observe Inaicyra na página seguinte, em meio ao movimento da dança Ayán:


símbolo do fogo (1993). Ela faz você se lembrar de algo? Comente.

Nessa dança, ela recria suas tradições com movimentos vigorosos, usando
vestimentas que caracterizam os personagens, ao som do batá e do poema
narrativo, escrito por ela, que se tornou o título da dança.

O poema é sobre Ayán, a mulher que, segundo o mito, viveu nos primórdios da
civilização iorubá e criou o primeiro tambor, o batá. Ela o criou cobrindo as
extremidades de um tronco oco com couro de bode, porém só conseguiu produzir
um som adequado quando uma divindade deu a ela tiras de couro de veado para
amarrar e fixar a pele na madeira. Assim, Ayán tocava seu instrumento no lugar onde
vivia e, como as pessoas gostavam, davam-lhe presentes. Xangô, deus do trovão e
da justiça, e rei da cidade, ao vê-la tocando o tambor, convidou-a para morar e tocar
em seu palácio. Ayán casou-se com Xangô e teve um filho, chamado Aseorogi, para
quem ensinou a arte de construir e tocar o tambor. Esse mito explica a origem da
tradição das famílias de músicos e construtores de tambores iorubá.
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AYÁN: símbolo do fogo. Concepção e


interpretação: Inaicyra Falcão dos Santos.
Campinas (SP), 1996.

Em seu método de ensino de dança, Inaicyra convida os estudantes a encontrar


expressões de seus próprios ancestrais explorando o movimento dançado. E, para
isso, propõe um exercício criativo que parte da leitura do livro Bisa Bia, Bisa Bel, de
Ana Maria Machado. Nessa história, a menina Isabel encontra no seu corpo o
passado (na voz da sua bisavó) e o futuro (na voz da sua bisneta). Assim, Inaicyra
pretende despertar a curiosidade para a pesquisa da dança relacionada à
ancestralidade e aos mitos de diferentes culturas.

• Conheça o livro utilizado pela artista: MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia,
Bisa Bel. São Paulo: Moderna, 2007.

Nesse livro, a menina Bel estabelece um diálogo imaginário entre três


personagens e as respectivas gerações: sua bisavó Bia, ela e sua futura
bisneta, Beta.
5. Escute o cântico da tradição iorubá "Odana", interpretado por Inaicyra Falcão dos
Santos.

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Transcrição do áudio
Dana, dana.

Odana oloju ogun

giri giri bode

Odanurô

Dana, dana.

Odana oloju ogun

giri giri bode

Odanurô

Dana, dana.

Odana oloju ogun

giri giri bode

Odanurô

danurô danurô dana dana anaaaa

danurô danurô dana dana anaaaa

danurô danurô dana dana anaaaa

danurô danurô dana dana anaaaa

Dana, dana.
Odana oloju ogun

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Odanurô

Dana, dana.

Odana oloju ogun

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Odanurô

Dana, dana.

Odana oloju ogun

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Odanurô

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danurô danurô dana dana anaaaa

danurô danurô dana dana anaaaa

danurô danurô dana dana anaaaa

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Axipá ê Axipá

Canção “Odana”, de Inaicyra Falcão dos Santos


Para experimentar

Memórias de ensinar e aprender

O trabalho de Inaicyra Falcão dos Santos fala sobre os saberes transmitidos de


pessoa para pessoa, que atravessam o tempo por gerações e que ganham forma
no movimento de dança.

Que tal compartilhar algo que você saiba e que possa ensinar para seus colegas,
tornando esse conhecimento um saber do coletivo, para continuar sendo
transmitido de pessoa para pessoa?
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O que você sabe fazer que outras pessoas não sabem, mas possam ter interesse
em aprender? Pode ser uma dobradura, uma brincadeira, uma cantiga, a regra de
um jogo, ou outra coisa que não seja comum a todas as pessoas da sua turma.

1. Reúna-se com os colegas em um grupo e, com o auxílio do professor, ensine o


que você sabe. Aprenda, também, o que os colegas ensinarão.

2. Depois, conversem a respeito das seguintes questões:

a) Como você se sentiu ao ver que os colegas aprenderam o que você


ensinou?

b) Como você se sentiu aprendendo o que os colegas ensinaram?

De dentro dos sonhos

Ao conhecer o trabalho de Inaicyra Falcão dos Santos, falamos sobre


ancestralidade e tradição, que podem ser percebidas nas lembranças, nos
aprendizados e também no corpo. Veja agora outro exemplo de trocas de
conhecimentos entre pessoas de diferentes gerações e que aponta uma maneira
diferente de acessar saberes (entre os quais, músicas) e de estabelecer contato com
ancestrais: os sonhos.

6. Você já se perguntou de onde vêm ou o que representam os sonhos que temos


quando dormimos? Se em sonhos você pode ter sensações e emoções, se pode
ver, ouvir e tocar em coisas, vale então dizer que tudo nos sonhos é imaterial?

Diferentes povos e culturas oferecem diferentes respostas e explicações para


essas questões. Os indígenas A'uwẽ-Xavante, por exemplo, consideram as
experiências que vivemos nos sonhos como possibilidades de aprendizado. De seus
sonhos, eles trazem remédios, nomes para os filhos e também músicas. E não se
trata de uma crença supersticiosa, é um costume cultural que eles praticam
efetivamente, portanto é, de fato, outra maneira de gerar conhecimento.

A prática de trazer músicas de dentro dos sonhos é ensinada de geração em


geração pelos A'uwẽ-Xavante e se mantém forte desde muito tempo.
Indígenas da etnia Xavante da aldeia do Baixão durante cerimônia de
passagem da adolescência para a vida adulta. Terra Indígena Parabubure
em Campinápolis (MT). Fotografia de 2022.
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7. Você consegue prestar atenção nos sonhos que tem enquanto dorme? Já ouviu
alguma música dentro de um sonho?

Alguma vez você sonhou e, de alguma maneira, sabia que estava sonhando? Talvez
isso não seja comum, mas pode acontecer com qualquer pessoa. Os meninos
A'uwẽ-Xavante são estimulados a exercitar essa habilidade, pois sonhar sabendo
que está sonhando pode ajudar a trazer cantos dos sonhos. Nem todos aprendem,
mas aqueles que conseguem cumprem um importante papel na comunidade: o de
renovar o repertório de cantos que serão entoados pelas pessoas de sua geração.
Alguns cantos são só para os homens, outros só para as mulheres, outros para
cantar juntos.

Para experimentar

Roda de sonhos

Após conhecer o modo como os A'uwẽ-Xavante se relacionam com os sonhos,


que tal compartilhar com os colegas os sonhos dos quais você se lembra?

1. Anote em seu diário de bordo os sonhos ou detalhes desses sonhos que mais
chamarem a sua atenção.

2. Forme uma roda com os colegas para que todos contem lembranças de
sonhos que já tiveram. Depois da conversa, reúnam-se em grupos menores e
escolham, nas anotações, algo para transformar em uma cena, uma dança,
um vídeo, uma música ou desenhos, pinturas ou esculturas.

3. Em seguida, cada grupo pode compartilhar sua produção com a turma.

4. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas


respostas com os colegas e com o professor.

a) O que foi mais interessante para você nessa atividade? Por quê?

b) Você já tinha conversado sobre sonhos antes? Lidar com sonhos pode
estimular novas maneiras de as pessoas se conhecerem e de produzirem arte?

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