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CAPÍTULO 1
A arte e o mundo imaterial
Arte Kusiwa, técnica de pintura corporal do povo indígena Wajãpi. Dança do peixe. Aldeia Wajãpi,
Serra do Tumucumaque, Amapá (AP). Fotografia de 2009.
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Transcrição do áudio
[Locutor] Olá, tudo bem com você? Para falar da importância da arte e de como o
mundo imaterial está presente na cultura indígena, vamos ouvir o professor Casé
Angatu.
[Casé Angatu] Meu nome é Casé Angatu, Casé porque o meu nome de registro de
nascimento é Carlos José, corruptela que deu Casé e Angatu, anga é alma e catu,
boa. Quer dizer, então seria Casé Alma Boa, que é o meu nome indígena, né? Sou
indígena, da família do tronco Xukuru, Tupi, do tronco Tupi, moro aqui em Olivença,
Ilhéus, Bahia. Olivença é um distrito de Ilhéus, um antigo aldeamento jesuítico do
século 16 e que virou um território indígena. Fiz História na Unesp. Fiz mestrado em
História na PUC, em São Paulo. O doutorado eu fiz da FAU-USP. Sou concursado
agora na Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, que é onde dou aula.
Sou professor também do programa de Ensino e Relações Étnico-Raciais da
Universidade Federal do Sul da Bahia. E moro na aldeia Guarani Taba Atã. Eu moro
numa oca, na tradição, que é feita de pau a pique, de barro, né? A gente vive da água
do rio, da pesca, vive da piaçava, que tem que ter piaçava, vive da retirada, algumas
pessoas tiram palmito, né? Tira o caju... e o dia a dia da minha comunidade é o
plantio da mandioca, que é a principal base, a gente chama de aipim, os paulistas
chamam de mandioca. A gente faz a farinha, nas casas de farinha. Vive de
artesanato, e esse é o dia a dia. Minha mãe encantou, meu pai encantou, o que que é
encantar? Na tradição do não indígena é falecer, morrer, né? A gente não morre e vai
para o paraíso ou vai para o inferno. Já está no paraíso, que é a natureza, então a
gente encanta, vira um pedaço de rio, um pedaço de folha de uma árvore, um bicho,
uma graminha, né? Então a nossa relação com a natureza é extremamente espiritual.
Eu costumo dizer que nós somos a natureza, nós somos a terra, por quê? Porque
quando nós encantarmos, nós vamos virar a própria natureza. E por isso que quando
a gente anda, muita gente pergunta assim: Casé, por que índio quando anda no meio
da mata fica olhando para o chão? Porque lá estão os nossos encantados, né? Está
nossa espiritualidade. Então numa onda de um mar, um barulho de um rio, o voo de
um pássaro ou o canto de um passarinho, na beira de uma árvore, já é a emanação
dos encantados da natureza conversando conosco. E quem são esses encantados?
São nossos ancestrais. Tem povos que têm pinturas que quase sempre se repetem,
né? No nosso caso aqui que é o tupinambá, as pinturas são feitas de acordo com o
sentimento do momento. Por exemplo, quando é uma pintura de cura, ela é mais
fechada, né? Quando é uma pintura de proteção ela é mais fechada. Quando é uma
pintura de festa, ela é mais aberta, tende a ser mais aberta. Então a pintura é uma
forma de proteção, de cura, e ao mesmo tempo de comunicação com o mundo
externo. A gente não faz arte porque nós somos artistas, né? Nós fazemos a nossa
cultura, que tem valor artístico. Nós fazemos o artesanato, que alguns chamam de
artesanato, que é a pulseira, que é o colar, que é a pintura, que pode ser considerado
como arte. Mas a gente não faz isso como arte, necessariamente, a gente faz isso
com uma dimensão espiritual. Então toda a tradição, cultura, musicalidade indígena,
ela tem a ver com a ritualidade da nossa relação com a natureza. Isso pode até ser
considerado como arte, mas a finalidade não é necessariamente ser uma arte, é a
relação que a gente tem com o plano natural, né?
PARA REFLETIR
1. A que aspectos da vida dos indígenas Wajãpi você imagina que essas
pinturas corporais podem estar relacionadas?
Processos de criação
1. Levantamento
a. Em grupos de três integrantes, informem-se com parentes e conhecidos
sobre as manifestações culturais imateriais de sua região.
2 Feira de trocas
Para conhecer o resultado da pesquisa dos outros grupos, a turma organizará
uma feira de trocas com o auxílio do professor.
a. Descrevam no quadro os assuntos pesquisados pelos grupos.
Foco na História
Você sabia que manifestações culturais imateriais, como as que você investigou,
podem ser oficialmente reconhecidas como patrimônio cultural nacional ou até da
humanidade? A palavra patrimônio, nesse caso, indica bens que merecem ser
preservados e pode referir-se tanto a bens materiais (como edificações, obras de
arte, cidades históricas, entre outros) quanto imateriais. Para se referir a bens
imateriais, usa-se o termo Patrimônio Cultural Imaterial. Quem cuida da definição
e preservação desse tipo de patrimônio em nosso país é o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que existe desde 1937. Segundo o Iphan,
para ser considerada um patrimônio cultural imaterial, uma manifestação precisa
representar o modo pelo qual um determinado povo ou comunidade vê e pensa o
mundo, ser transmitida de geração em geração e ser uma prática social. No que
se refere ao patrimônio da humanidade, essa definição é feita, desde 1972, pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
da qual participam a maior parte dos países do mundo. Nesse caso, as
manifestações de cultura imaterial recebem a denominação de Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade.
Faça no caderno.
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
2. Quais delas você acredita que são mais representativas da sua região?
Por quê?
SOBREVOO
Há uma série de elementos ao nosso redor que não necessariamente vemos, mas
sabemos que existem: não podemos ver o tempo passar, mas percebemos suas
marcas em nossa pele e na percepção que temos do mundo. Mesmo não vendo os
nossos antepassados, sabemos que eles viveram e influenciaram, de alguma
maneira, a nossa existência. Diversas histórias, narrativas, mitos e lendas foram
transmitidos a nós pelas gerações anteriores e alguns dos fatos que vivemos no
tempo presente também serão passados para as gerações futuras.
Faça no caderno.
O teatro é uma das artes que realiza a ponte entre o mundo invisível e o visível por
meio das palavras e do corpo: por acontecer apenas no momento presente, os
espetáculos teatrais precisam, a cada vez que são apresentados, materializar uma
série de elementos imateriais.
O Lume Teatro, um coletivo teatral da cidade de Campinas (SP), optou por trabalhar
com a proposta de tornar visíveis as coisas invisíveis.
Tudo começou com um desejo do grupo: a criação de uma peça teatral composta
de "causos", lendas e histórias contadas em pequenos vilarejos do país. Mais do que
as histórias, interessava aos artistas o modo como elas eram contadas. Assim,
empreenderam uma série de viagens em busca de encontros com as mais variadas
pessoas para conhecer suas experiências, recolher suas lendas e seu jeito de falar.
Cada artista viajou por algumas cidades de uma região do país. Visitaram
localidades da região Centro-Oeste e dos estados do Amazonas, de Minas Gerais e
do Pará. Ao longo dessa jornada, eles recolheram histórias fantásticas, cotidianas e
pessoais; e estavam tão atentos ao teor dessas narrativas quanto às expressões
corporais das pessoas, já que elas também exprimem marcas de tradições culturais
específicas.
A quantidade de material recolhido ao longo dessas viagens foi tão grande que
gerou vários espetáculos: Taucoauaa Panhé Mondo Pé (1993), Contadores de
estórias (1995), Afastem-se vacas que a vida é curta (1997) e, por fim, Café com
queijo (1999).
Nas apresentações, o público que assistia à peça estava muito próximo dos atores,
pois a proximidade contribuía para que as sutilezas dos gestos e dos "causos"
contados pelos atores fossem mais visíveis. Além disso, gerava uma atmosfera de
intimidade entre os artistas e os espectadores.
Observe que o cenário era composto de uma colcha de retalhos, que, além de
proporcionar ao público a mesma sensação de aconchego e receptividade que os
artistas haviam sentido ao longo de seus encontros nas viagens, também sugeria
que a peça era formada por uma série de histórias misturadas e costuradas entre si.
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3. Há, na sua região, alguma receita tradicional semelhante ao café com queijo do
interior do Tocantins?
Seus temas são os mitos e as histórias dos ancestrais da cultura dos iorubá, que
ela vivenciou no terreiro onde nasceu e cresceu, em Salvador (BA), e, mais tarde, nas
comunidades onde viveu na Nigéria. Inaicyra fala dos seus ancestrais e do tempo
expressando-se através da linguagem da dança.
Nessa dança, ela recria suas tradições com movimentos vigorosos, usando
vestimentas que caracterizam os personagens, ao som do batá e do poema
narrativo, escrito por ela, que se tornou o título da dança.
O poema é sobre Ayán, a mulher que, segundo o mito, viveu nos primórdios da
civilização iorubá e criou o primeiro tambor, o batá. Ela o criou cobrindo as
extremidades de um tronco oco com couro de bode, porém só conseguiu produzir
um som adequado quando uma divindade deu a ela tiras de couro de veado para
amarrar e fixar a pele na madeira. Assim, Ayán tocava seu instrumento no lugar onde
vivia e, como as pessoas gostavam, davam-lhe presentes. Xangô, deus do trovão e
da justiça, e rei da cidade, ao vê-la tocando o tambor, convidou-a para morar e tocar
em seu palácio. Ayán casou-se com Xangô e teve um filho, chamado Aseorogi, para
quem ensinou a arte de construir e tocar o tambor. Esse mito explica a origem da
tradição das famílias de músicos e construtores de tambores iorubá.
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• Conheça o livro utilizado pela artista: MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia,
Bisa Bel. São Paulo: Moderna, 2007.
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Transcrição do áudio
Dana, dana.
Odanurô
Dana, dana.
Odanurô
Dana, dana.
Odanurô
Dana, dana.
Odana oloju ogun
Odanurô
Dana, dana.
Odanurô
Dana, dana.
Odanurô
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Axipá ê Axipá
Que tal compartilhar algo que você saiba e que possa ensinar para seus colegas,
tornando esse conhecimento um saber do coletivo, para continuar sendo
transmitido de pessoa para pessoa?
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O que você sabe fazer que outras pessoas não sabem, mas possam ter interesse
em aprender? Pode ser uma dobradura, uma brincadeira, uma cantiga, a regra de
um jogo, ou outra coisa que não seja comum a todas as pessoas da sua turma.
7. Você consegue prestar atenção nos sonhos que tem enquanto dorme? Já ouviu
alguma música dentro de um sonho?
Alguma vez você sonhou e, de alguma maneira, sabia que estava sonhando? Talvez
isso não seja comum, mas pode acontecer com qualquer pessoa. Os meninos
A'uwẽ-Xavante são estimulados a exercitar essa habilidade, pois sonhar sabendo
que está sonhando pode ajudar a trazer cantos dos sonhos. Nem todos aprendem,
mas aqueles que conseguem cumprem um importante papel na comunidade: o de
renovar o repertório de cantos que serão entoados pelas pessoas de sua geração.
Alguns cantos são só para os homens, outros só para as mulheres, outros para
cantar juntos.
Para experimentar
Roda de sonhos
1. Anote em seu diário de bordo os sonhos ou detalhes desses sonhos que mais
chamarem a sua atenção.
2. Forme uma roda com os colegas para que todos contem lembranças de
sonhos que já tiveram. Depois da conversa, reúnam-se em grupos menores e
escolham, nas anotações, algo para transformar em uma cena, uma dança,
um vídeo, uma música ou desenhos, pinturas ou esculturas.
a) O que foi mais interessante para você nessa atividade? Por quê?
b) Você já tinha conversado sobre sonhos antes? Lidar com sonhos pode
estimular novas maneiras de as pessoas se conhecerem e de produzirem arte?