Estudante: ___________________________________________ 1ª Série: ____
Educador: Sueli Sousa de Carvalho Data: ___/_____/___ APOSTILA DE ARTE INDÍGENA - II ETAPA/2023
INTRODUÇÃO revolução digital – que é bastante recente
se considerada a extensão da história da O que é cultura e o que é arte? humanidade -, o impacto da cultura que teve origem na Europa ocidental sobre Cultura e arte são fenômenos outras, e que já era grande, tornou-se diferentes que algumas vezes podem ser enorme – como podemos observar, por confundidos. São dois conceitos bem difíceis exemplo, em determinados grupos de definir, embora sejam tema de calorosos nômades, que utilizam meios eletrônicos e debates desde a Antiguidade. digitais. Ao mesmo tempo, essa cultura globalizada resultou em uma fascinação Há diversos sentidos possíveis para a pelas culturas locais. palavra “cultura”, mas podemos defini-la como a maneira pela qual uma sociedade A cultura digital propiciou, assim, se estrutura e como se comporta – incluindo novas formas de articulação entre pessoas o que ela produz. A cultura é um fenômeno de uma mesma sociedade e de sociedades integral, que abrange tudo o que uma muito diferentes. Também facilitou o coletividade é e faz. Trata-se do patrimônio aparecimento, no cenário artístico, de novas material e intelectual compartilhado por um vozes, novos olhares, novos gestos, mais livres grupo social, recriado e transmitido no e menos padronizados. decorrer do tempo. A cultura engloba linguagem, comportamento, símbolos, Definir arte é bem mais complicado técnicas, objetos, ideias, regras, crenças – que definir cultura. Alguns artistas são todas as realizações materiais e imateriais reconhecidos por toda a humanidade como que se transmitem de geração em geração tais. Ninguém questiona se as peças escritas e se produzem em cada indivíduo inserido por Shakespeare (c. 1564-1616), as telas em um grupo social. pintadas por Van Gogh (1853-1890) ou as músicas compostas por Villa-Lobos (1887- Cada cultura tem elementos 1959) são arte. Se lançarmos um olhar para a específicos, particularmente aqueles que História, constataremos que algumas obras unem uma comunidade e seus ancestrais, tiveram tamanha força, influenciaram de tal suas tradições, seus mortos. Entretanto, modo a produção de outros artistas e aspectos culturais de um grupo social comportamentos da sociedade no decorrer podem se difundir para seus vizinhos ou do tempo, que se tornaram modelos do que mesmo para povos que vivem em regiões seria a “grande arte”. distantes – por meio, por exemplo, da atividade comercial ou de redes de Nas últimas décadas, no entanto, os comunicação. Desse modo, elementos de modelos, em especial aqueles provenientes uma cultura acabam sendo assimilados por de países da Europa ocidental, têm sido outra – o que contribui para transformar a questionados, e a criatividade e a vida social de diferentes grupos. Por meio diversidade passaram a guiar a atividade desse processo, técnicas como a roda ou artística ao redor do mundo. Hoje sistemas políticos como a democracia, que entendemos a arte como um processo que nasceram em determinada cultura, se manifesta de formas bem variadas em puderam se universalizar. todas as comunidades. Mais importante que louvar uma grande arte é instaurar ou É preciso ressaltar, porém, que as estimular um processo artístico em um grupo relações culturais na maioria das vezes são social, por exemplo, em uma vizinhança ou atravessadas por dominações, conflitos e na escola. consequentemente são marcadas por preconceitos e discriminações. Com a Uma estratégia para nos envolvermos vasilhas para armazenar coisas. Geralmente, com arte é fruí-la, observá-la, escutá-la e é produzida pelas mulheres e não utilizam a tentar alcançar uma compreensão do roda de oleiro. Para deixá-las mais artísticas, contexto em que foi concebida, em uma criam padrões gráficos próprios da tribo. espécie de diálogo apaixonado. Quanto mais próximos estivermos de uma obra, mais Uma das cerâmicas mais conhecidas sensibilizados ficaremos para apreciá-la. é a marajoara. Criada na Ilha de Marajó, no Pará, é considerada uma das produções de De maneira geral, o conceito de arte cerâmicas mais antigas do Brasil e até hoje, na cultura ocidental tem se ampliado. Assim, os indígenas mantém a produção. algo que não era considerado arte há cinquenta anos agora pode ser visto como tal. Isso porque os próprios artistas têm questionado os critérios que poderiam definir o que é arte.
CULTURAS INDÍGENAS
Arte indígena: Identifique elementos da cultura
que ultrapassa gerações
Por ISABELLELIMA - ISABELLE.LIMA@AMAZONSAT.
COM. BR
Portal Amazônia - 14/09/2021
2. Pintura corporal Repassada por gerações, a arte indígena conta a história de seu povo e A pintura corporal pode estar representa simbologias, tradições e rituais. relacionada às funções sociais dos indivíduos na tribo, ao gênero, idade e até à família. No Brasil, há uma diversidade de Muito utilizada em rituais de passagem, povos indígenas e cada um possui suas celebrações e outros momentos específicos tradições, lendas e aspectos culturais. A daquela tribo. cultura indígena, muitas vezes representada através da arte, faz parte da história do país, As tintas utilizadas são obtidas através desde antes da colonização. Um dos da extração de óleos de sementes de flores aspectos dessa arte, é que ela é repassada e outros elementos encontrados na natureza. através das gerações, o que marca a importância da tradição para os povos indígenas.
Máscaras, cerâmicas, pinturas
corporais, plumas e cestarias fazem parte do dia a dia desses povos. Objetos feitos através de elementos encontrados na natureza como sementes, cipó, palha, penas, fibras de plantas, dentre outras coisas, reforçam a conexão e preservam a proximidade dos povos com a natureza.
1. Cerâmica indígena 3. Plumas
Com diversas funcionalidades, a Como a pintura corporal, a arte da
cerâmica é um dos elementos mais utilizados plumagem também identifica grupos sociais justamente por sua versatilidade: pode ser dentro das tribos indígenas e é utilizada em utilizada tanto para decoração quanto para rituais. Geralmente produzidos por homens, a utensílios domésticos, como jarros, panelas e confecção passa por um ritual: primeiro tem a caça, depois passa pela tapiragem (que é 5. Máscaras a colorização das plumas), pelo corte e por fim pela amarração. Em geral o uso de máscaras nas etnias indígenas é carregado com Servem também para ornamentar simbologias de seres sobrenaturais máscaras, colares, braçadeiras, brincos, como antepassados e espíritos da pulseiras e cocares, que são feitos de penas floresta. Algumas etnias utilizam as e de caudas de aves. máscaras em seus rituais como uma maneira de levar alegria e bons senti mentos às entidades espirituais que tiveram conflitos com os indígenas em tempos passados.
4. Cestarias
Assim como a cerâmica, a confecção
de cestas serve também para o Arte indígena contemporânea e o grande armazenamento e transporte de alimentos e mundo recentemente, passaram a ser utilizadas como itens de decoração. Feito, Por Jaider Esbell, Revista Select principalmente por mulheres, e a partir de Publicado em 22/01/2018 folhas de árvore, palhas, junco e folhas de palmeiras, existem alguns tipos de formatos Não há como falar em arte indígena de cestas, os mais comuns são: contemporânea sem falar dos indígenas, sem falar de direito à terra e à vida. - Cestos-coadores - para coar líquidos; - Cestos-tamises - para peneirar farinha; - Cestos-recipientes - para guardar diferentes materiais; - Cestos-cargueiros - para transportar cargas. Ao longo deste texto devemos passear por brasileiros (sic) com a arte e com os valores territórios distintos do pensar e logo nos do sistema clássico europeu. Uma leitura remeter ao pensar extrapolado. Para maior corriqueira é percebida: como é o encontro, sentido, começamos a nossa abordagem ou como é o acesso da arte indígena por ressignificar conceitos básicos. Antes, contemporânea ao sistema de arte geral? devo dizer que, como autor, me construo de representatividade; e a socialização desse Refazendo o caminho da pergunta, pensamento compreende bem mais que a ressignificamos as respostas. Entende-se com minha posição individual sobre tão vasto essa pergunta que o sistema de arte seja universo. Não há como falar em arte algo que realmente não compreende, no indígena contemporânea sem falar dos sentido de não conter, a arte dos indígenas. indígenas, sem falar de direito à terra e à Percebe-se também que o sistema de arte vida. Há mesmo que se explicar o porquê de de natureza ocidental não vê, não percebe chamarmos arte indígena contemporânea e e não faz qualquer relação com seu próprio não ao contrário. Na história da literatura paralelo: o sistema de arte indígena, especializada sobre arte contemporânea digamos assim. O sistema de arte europeu produzida no Brasil, não temos autores desconhece e, portanto, não reconhece artistas indígenas. Nesse sentido, o que entre os indígenas há um sistema de componente novo surpreende por seu arte próprio, com sentidos e dimensões protagonismo histórico. Convidamos a um próprios. inteiro desconstruir para outros preenchimentos. A arte indígena contemporânea seria essa força-poder de atração, ou mesmo atracação. Uso um termo-metodologia empregado pelos europeus e que ainda hoje é utilizado para atrair aquele intocável selvagem desconhecedor misterioso para um encontro futuro decisivo. Colocamos um pote de mistério na borda da floresta escura e esperamos que alguém venha buscar e paulatinamente vá adquirindo confiança para um encontro pessoal à luz da arte maior. Vivemos com a arte indígena contemporânea um real encontro com o Brasil do momento em relação ao sistema de arte prevalecente. Ao receber o convite Reestruturação conceitual para escrever sobre o assunto para esta revista, eu não poderia começar com outra Indígena e arte são de origem comum abordagem. Digo que isso significa um e indissociável. Aceitar essa sentença avanço dentro de uma lógica de resistência adianta o entendimento. O sistema de arte é e de uma lógica de legitimidade que a arte algo paralelo e hoje eles se tocam, indígena obtém por força própria. Minha envolvendo-se para além das percepções contribuição é no sentido de oferecer ao dos especialistas. A arte indígena leitor-pesquisador uma visão panorâmica do contemporânea seria então o que se momento grandioso em que estamos consegue conceber na junção de valores envolvidos. sobre o mesmo tema arte e sobre a mesma ideia de tempo, o contemporâneo, tendo o Hoje, no Brasil, posso bem representar indígena artista como peça central. Um o encontro do sistema de arte entre os componente trans-tempo histórico e trans- indígenas com o sistema de artes global no geográfico é requerido. Falamos de ideia de contexto contemporâneo. Falo do país, mas a arte entre os indígenas hoje reconhecimento que tenho a partir de brasileiros vem desde antes de tudo isso. minha identidade indígena. Falo com a potência que tem a força do meu trabalho. A imagem sugere o encontro da Falo desse boiar no agora com toda essa relação de valores que têm os indígenas conquista e partilha abertas. Hoje sou um artista reconhecido com prêmios. Hoje posso Como pensar a arte indígena em dizer que o sistema de arte global já me contato com a ideia de cultura brasileira? absorveu. Hoje tenho tudo o que precisa e a Arte e indígenas é um passar performáti co que se propõe a indústria cultural. Hoje ao longo do tempo e da geografi a e para escrevo a partir de uma experiência de esses senti dos temos de abordar o elemento vivência profissional nos Estados Unidos, além colonizador. de experimentar a função de galerista. A exposição midiática máxima de um trabalho O indígena aparece primeiro nas artístico em ambientes polivalentes me dá cartas enviadas para a Europa, logo após a surpreendente vantagem. Atuar na internet chegada dos primeiros navios. Ele aparece e ir pessoalmente ao encontro do povo me em representações de artistas europeus possibilita ler realidades e estratificá-las em numa cena de primeira missa. Assim é o possibilidades de análises sobre um Brasil em encontro do sistema de artes europeu com si, um Brasil em relação à América Latina e os artistas selvagens. Para os nativos, a arte em relação ao planeta. sempre será outra coisa além. O indígena é posto a cantar na catequese, é posto a Nessa leitura de realidade atual, a ilustrar documentos de pesquisadores das arte entre os indígenas representa em sua mais diversas áreas do conhecimento. Sobre máxima capacidade o acesso ao mundo esses artistas pouco é falado. complementar que representa a falta de senti do que há no mundo moderno, no Devemos atender a um senti do a mundo-força que dominou e em que se mais. Quando a arte indígena encontra o evidencia o colapso. A arte indígena sistema de arte global, a assinatura do artista contemporânea nesse senti do está para ou do coletivo de artistas é requerida. É muito além das molduras e estruturas. A arte requerido algo emoldurável para o que indígena contemporânea purifica-se nunca caberá em molduras. Esse atributo de filtrando em si mesma com a força da valor influencia e faz toda a diferença no espiritualidade, seu núcleo. A arte indígena contexto contemporâneo. encosta na arte geral enquanto sistemas próprios, mas elas não se fundem nem se O tempo passa e o sentido da arte confundem totalmente, a priori. entre os indígenas sofre severas influências da colonização. Aqui devemos pensar o conceito de arte indígena contemporâneo como algo estendido para todas as realidades que temos hoje no Brasil. Como pensar esse conceito sem compreender e aceitar que ainda hoje nas florestas remotas da Amazônia brasileira há “tribos selvagens” sem qualquer contato com essa ideia de mundo? Que, entre elas, a arte tem seu sentido próprio?
Em certo ponto, sinto-me em atuação
performática para além do figurativo. Não seria exatamente uma total abstração, mas Os propósitos da arte indígena um sentido corpóreo e bem definido para o contemporânea vão muito além do assimilar que é exigido da arte indígena e usufruir de estruturas econômicas, icônicas contemporânea para o tempo agora. e midiáticas. A arte indígena contemporânea é, sim, um caso específico A arte indígena contemporânea de empoderamento no campo cosmológico chega em ícones corporificados e de pensar a humanidade e o meio depurados em uma trajetória de ambiente. representação até um estado pleno de identidade cosmo-consciente. De Chico da O elemento colonizador Silva, artista mestiço, já temos mais energia que em Tarsila do Amaral. Nossa literatura já não é mais tão colonizada e hoje somos buscam estar a par desse encontro de vistos como autores em salões nobres. Não é sistemas. Devo dizer que meu atuar ecoa possível concluir este texto sem abordar para um sentido da arte que puxamos para Macunaíma e logo chamá-los para nós indígenas em relação ao grande mundo. conhecer meu avô Makuniamî. Aqui temos Fazemos política de resistência declarada outro paralelo multidimensional para todos com a arte em contexto contemporâneo que se aventurarem a abordar um assunto aberto. Em contexto fechado, tão alheio como a arte indígena ressignificamos nossas estruturas culturais e contemporânea. A consciência de um sociais com arte e espiritualidade em um buscar além das referências habituais. mútuo alimentar de energias para compor a grande urgência de sustentar o céu acima de nossas cabeças.
Desenhando a política
Definitivamente, a juventude indígena
artista do Brasil vem com todas as forças a que acessam ao entregarem seus talentos sem reservas a uma sabedoria maior. Hoje surgimos desenhando a política tão bem ilustrada por Ailton Krenak em sua performance de pintar o rosto com jenipapo no Palácio do Planalto, ao defender o indígena na Constituição de 1988. A arte indígena contemporânea vem juntamente com tudo o que há de tecnologia. O livro de Davi Kopenawa Yanomami – A Queda do Céu – é uma bíblia. Temos o Coletivo Maku, com exposição na Fundação Cartier, em Paris. No salão da Bienal de Arte Naïf do Sesc Piracicaba-SP, o maior do País, temos Carmézia Emiliano como a mulher artista mais premiada. Carmézia é indígena Makuxi e está totalmente absorvida pelo sistema de arte internacional. Embora seja grande em seu fazer, a artista é pouco conhecida e mesmo a arte naïf continua em uma posição periférica em relação ao eixo do sistema. Em 2016, ti vemos três artistas indígenas indicados ao Prêmio PIPA. Desse feito temos eu, Jaider Esbell, como vencedor do Prêmio PIPA Online 2016 e Arissana Pataxó em segundo lugar. Também foi indicado Ibã Sales Hunikuin representando o Coletivo Maku. Essas evidências são pontos fundamentais para todos os atentos que