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História das Artes

Material Teórico
Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Rita de Cássia Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Arte da Pré-História ao Egito –
Homens e Deuses

• Pré-História
• A Arte das Cavernas – Período Paleolítico
• O Fogo e a Cerâmica
• Idade dos Metais
• Arte Pré-Histórica no Brasil
• Nasce a Civilização
• A Antiguidade

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os estilos e movimentos artísticos e estéticos da arte
pré-histórica e da arte no Egito Antigo.
· Adquirir fundamentação teórica para a análise de obras de arte,
ideias e acontecimentos do período em que foram produzidos, assim
como às regiões e às culturas a que pertencem.
· Desenvolver o senso crítico na análise das obras artísticas em museus,
galerias e outros espaços culturais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Contextualização
Como animais linguajantes, existimos na linguagem, mas como seres
humanos, existimos (trazemos nós mesmos à mão em nossas distinções)
no fluir de nossas conversações, e todas as atividades acontecem como
diferentes espécies de conversações. (MATURANA, 2001, p. 109)

Figura 1
Fonte: Acervo do Conteudista

Descrição: Arte rupestre no Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo


Nonato (Piauí). Representações gráficas de animais e homens de forma simplificada
realizadas em uma superfície rochosa.
Pinturas datam de até 30 mil anos. A região é composta por 172 sítios arqueológicos.
Além das manifestações gráficas, encontram-se vários vestígios da presença do ho-
mem pré-histórico, com datações que podem chegar a até 60 mil anos. O parque é
Patrimônio Mundial da Unesco. (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) Fonte: Acervo do Conteudista.
Por que fazemos arte desde os tempos remotos? O sentido da arte sempre foi
o mesmo em todas as eras e lugares? Sabemos que foram muitos os motivos pelos
quais os seres humanos se dedicaram a criar imagens, sons e gestos com senso
estético e artístico. Nesse empenho, criamos as linguagens e, entre as formas de
comunicação e expressão, criamos as linguagens da arte. As linguagens artísticas
nasceram da necessidade humana de representar, comunicar e agir no mundo, de
estabelecer diferentes maneiras de dialogar com as coisas.

As linguagens na arte podem nos dizer muitas coisas. Foram criadas pelo ser
humano no decorrer do tempo e marcam a nossa existência no mundo da cultura.
Entre experiências e expressões, criamos e continuamos a criar signos artísticos,
linguagens em forma de desenhos, pinturas, esculturas, gravuras, músicas, danças,
peças teatrais... Algumas linguagens são sonoras, outras são gestuais e outras
tantas são visuais.

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Somos seres “linguajantes”, como diz o neurobiólogo chileno Humberto
Maturana (2001). Criar linguagens tem sido nossa história. Na história das
linguagens artísticas, temos muitos contextos culturais. Em cada tempo e lugar, os
seres humanos criaram técnicas, manipularam materiais para criar arte.

No início, os seres humanos pintavam, desenhavam e esculpiam sobre as rochas;


nascia assim a chamada arte rupestre, termo que significa arte sobre a pedra (rocha).
Esses povos também dançavam e criavam sons, ou seja, música ritualística desse
tempo chamado de Pré-História. Consideramos como arte pré-histórica todas as
manifestações que se desenvolveram antes do surgimento das primeiras cidades e
civilizações do mundo antigo, portanto, antes da escrita.

Pré-História
O termo Pré-História hoje é discutido por historiadores que defendem que a arte
e toda forma de registro, expressão da vida e cultura dos povos antigos apresentam
ricos contextos históricos. Em outras palavras, sempre houve História, apenas esta
não foi registrada pela escrita que veio a aparecer mais à frente no tempo. A
escrita foi durante muito tempo o jeito oficial de registrar a história. Hoje, muitas
outras formas de linguagem são igualmente valorizadas como testemunhas dos
acontecimentos históricos e culturais.

Para quase seis mil anos de História existiram, aproximadamente, 600 mil anos
de Pré-História, sendo que esta última corresponde a 98% da existência do homem
na Terra. A Pré-História começou com o surgimento do homem e terminou por
volta de 4000 a.C. com o aparecimento da escrita no Egito e na Mesopotâmia
(atual Iraque).

A Pré-História se dividiu em três períodos: o Paleolítico (600 000-10000 a.C.),


o Neolítico (10000-5000 a.C.) e a Idade dos Metais (5000-4000 a.C.). Conforme
a divisão do antropólogo norte-americano Lewis Morgan (1818-1881), esses
períodos corresponderiam, respectivamente, aos estágios da selvageria, da barbárie
e da civilização. O surgimento da escrita marcou a passagem da Pré-História para a
História propriamente dita, que se dividiu em quatro períodos: Idade Antiga, Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

Por meio do trabalho, o homem pré-histórico fabricou armas e ferramentas,


desenvolveu a agricultura, o pastoreio e a metalurgia e elaborou as primeiras ma-
nifestações religiosas e criações artísticas. É nos últimos estágios do período Pale-
olítico, que teve início há cerca de 35 mil anos, que são encontrados os primeiros
registros de arte conhecidos. Por revelarem certo requinte gráfico, devem ter sido
precedidos por milhares de anos de lento desenvolvimento que ainda permane-
cem desconhecidos.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 2
Fonte: bradshawfoundation.com

Descrição: O complexo de cavernas de Chauvet, no sul da França, contém uma notá-


vel quantidade de pinturas de animais, sendo um dos registros mais antigos de arte
rupestre no mundo com cerca de 30000 a.C. Entre os animais pintados há ursos, leões,
panteras, rinocerontes e corujas. Na imagem, vemos representações gráficas em uma
superfície rochosa de uma espécie extinta de leões cujos machos não possuíam juba.
A chamada arte pré-histórica, para os povos que a produziram, tinha outros
propósitos dos atuais. Uma das explicações mais aceita é a de que a arte, nessa
época, tinha utilidade, era material, cotidiana e mágico-religiosa.

A arte era algo sagrado que emanava poderes mágicos. Eram pinturas, objetos,
pequenas esculturas que envolviam situações específicas. As imagens não descreviam
uma situação vivida pelo grupo, mas possuíam um caráter mágico, preparando o
grupo, principalmente, para a caça, tarefa que lhes garantia a sobrevivência.

O período da Pré-História foi uns dos períodos mais longos da história do


homem relacionada às artes e à produção cultural. No ocidente os historiadores
marcam a passagem do tempo entre uma era e outra utilizando o calendário
cristão. Assim, dizemos que os episódios aconteceram antes do nascimento de
Cristo (a.C.) ou depois de Cristo (d.C.), porém, há outras formas de marcar a
passagem do tempo, que foram criadas por outras culturas, igualmente válidas e
que devem ser respeitadas.

O que significa um “c” antes de uma data? Circa é uma palavra (advérbio) em latim usada
Explor

em datação e que significa “cerca de”, “aproximadamente”, “por volta de”. É, frequentemente,
abreviada como c., ca., ca ou cca. Utilizada em genealogia e relatos históricos quando as
datas são estimadas.

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A Arte das Cavernas – Período Paleolítico
No período Paleolítico (600 000-10000 a.C.), também chamado de Idade da
Pedra Lascada, os homens eram nômades, deslocando-se constantemente em busca
de alimentos como os vegetais e os frutos que colhiam, além da carne dos animais
que caçavam, sendo as peles aproveitadas para a produção de suas vestimentas.
Viviam em uma economia de subsistência.
Na Europa e em algumas regiões do sul da América foram encontradas pinturas
rupestres dentro de cavernas e também esculturas dessa época. Em outras partes
do mundo, como no Brasil, foram encontradas imagens pintadas e gravadas em
rochas em espaços ao ar livre. Os mais famosos sítios arqueológicos da Europa são
as cavernas de Chauvet e Lascaux, na França, e de Altamira, na Espanha.
As obras mais surpreendentes do Paleolítico são as imagens de animais como
bisões, veados, cavalos e bois, pintadas nas superfícies rochosas das cavernas
de Lascaux.
As pinturas, gravações e desenhos feitos nas rochas (arte rupestre), nesse
tempo, apresentavam imagens que representavam cenas de caça, mostrando a
relação homem/natureza. Os animais caçados por esses homens eram bisões,
bovídeos, cervos, renas, cavalos e eram representados da forma como eram vistos
de determinado ângulo, ou seja, como sua visão humana os captava; os desenhos
apresentavam uma visão naturalista.
Ao nos perguntarmos o que levava esses homens da Pré-História a pintar esses
animais em cavernas e, normalmente, em lugares de difícil acesso, encontramos
uma hipótese de resposta: m seriam caçadores ou feiticeiros das tribos que dese-
nhavam o animal, achando que estavam aprisionando-o ou mesmo controlando-o,
adquirindo, assim, um poder sobre ele na vida real, facilitando o abate em sua caça-
da. Especula-se que os povos antigos usavam desenhos e pinturas de animais como
parte de algum ritual mágico voltado ao favorecimento da caça.
Nessas pinturas eram utilizados materiais como óxidos de minerais, sangue e
gordura de animais, carvão e vegetais, que eram triturados formando uma pasta
líquida. Eles utilizavam o dedo ou pincéis feitos de pelos ou penas de animais para
pintar. As pinturas eram produzidas com uma variedade restrita de cores de tons
terrosos. As cores predominantes eram o vermelho e o preto.
Há historiadores que defendem a ideia de que essas pessoas acreditavam que
podiam capturar a alma do animal por meio da representação da imagem. Veja o
que diz o historiador da arte Ernst Gombrich (1999, p.42):
A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que
se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido
pelas imagens; dito em outras palavras, parece que esses caçadores
primitivos imaginavam que, se fizessem uma imagem da sua presa, e
até a espicaçassem com suas lanças e machados de pedras, os animais
verdadeiros também sucumbiriam ao seu poder.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 3
Fonte: latampa.altervista.org

Descrição: Pinturas rupestres na superfície rochosa da caverna de Lascaux (França),


têm cerca de 17 mil anos e representam bisões, cavalos e touros, entre outros ani-
mais. Na figura 3 está representando cavalos correndo. A caverna contém mais de
600 pinturas. No famoso Salão dos Touros, estão quatro touros negros de até 4,9
metros de comprimento.

Homem de Lascaux (Figura 4) – Descobertas em 1940, as pinturas rupestres de


Lascaux, no sudoeste da França, são considerados os mais belos exemplos de arte
pré-histórica do mundo. A cena de um homem com cabeça de pássaro ao lado de
um bisão que parece ter sido estripado é enigmática (Figura 4). A pintura data
aproximadamente de 17000 a.C.

Figura 4 – Homem de Lascaux.


Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Arte rupestre representação gráfica simplificada de


um homem caçando um bisão sobre uma superfície rochosa,
em Lascaux (c. 17000 a.C.), França.

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Em outras pinturas, datadas aproximadamente de 15000 a.C. a 10000 a.C.,
nas paredes da caverna de Altamira, na Espanha, também vemos vários bisões.
Nesse sítio arqueológico, a expressão artística é contextualizada por meio das
tensões entre linhas e tons que representam a agonia da morte de um animal.
Podemos notar que há mais que apenas a intenção de fazer um ritual de boa caça,
algo como a expressão de emoções e sensações de dor.

Figura 5 –
Fonte: mecd.gob.es

Descrição: Pintura sobre uma superfície rochosa de uma imagem de um bisão na


caverna de Altamira (Espanha). O local protege expressões de diferentes grupos
que viveram entre 35 mil e 10 mil anos a.C. A caverna é chamada de Capela Sistina
do Paleolítico.
É importante esclarecer que as manifestações da arte rupestre e os rituais que
envolveram a linguagem da música ou da dança não aconteceram ao mesmo tempo
em todas as partes do mundo. Cada região abrigou grupos de pessoas que foram
criando suas linguagens e concepções de mundo diante de seus próprios contextos
culturais e ambientais. Dessa forma, a arte chamada de pré-histórica aconteceu de
modo diferente nos continentes africano, americano e no continente europeu.

Escultura Paleolítica
Encontramos também, na Pré-História, final do período Paleolítico, esculturas
feitas de rocha, marfim e ossos; esculturas de figuras femininas e nuas – notamos a
ausência de figuras masculinas –, destacando-se a falta de definição do rosto, gran-
des seios, nádegas e ventre salientes. Uma das hipóteses mais aceitas sobre essas
esculturas é que, quanto maior e mais volumosa fosse a mulher, mais fértil seria.
Essas esculturas eram voltadas para rituais de magia e fertilidade. A fertilidade
era a segunda função mais importante, depois da alimentação. A natalidade, para
esses homens, garantia a continuidade da tribo, o crescimento humano, uma maior
quantidade de homens para caçadas; portanto, garantia a sobrevivência em grupo
naquele meio hostil.
Entre as esculturas pré-históricas, uma das mais importantes é a chamada Vênus
de Willendorf (Figura 6), encontrada na Áustria, em 1908, pelo arqueólogo Josef
Szombathy. A pequena escultura mede cerca de 11 cm de altura e é datada, apro-
ximadamente, entre os anos 28000 a.C. a 25000 a.C. Uma das características de

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

quase todas as estatuetas de Vênus pré-históricas é a falta de traços faciais. Na de


Willendorf, toda a cabeça está coberta pelos cabelos, enfatizando, talvez, a univer-
salidade da figura.

Figura 6 – Vênus de Willendorf (28000 a.C. a 25000 a.C.)


Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: escultura de uma mulher com formas arredondadas, grandes seios, barriga
e bumbum feita em calcário; Período: Paleolítico Superior.

O Fogo e a Cerâmica
Quando os seres humanos dominaram o fogo, ainda no período Paleolítico,
logo descobriram que podiam transformar o barro em objetos de cerâmica. A
palavra cerâmica tem origem no termo grego keramikón, que significa feito de
argila, de terra queimada. Essa descoberta trouxe maior segurança e conforto ao
ser humano, e também abriu muitas possibilidades ritualísticas. Até os nossos dias,
encontramos danças e cantos que são feitos ao redor de fogueiras.
O som também parece ter existido entre os povos antigos como uma forma de
transcender a realidade. Tambores de cerâmica são encontrados em várias partes
do mundo. Em sua forma original, possuem a base parecida com um vaso, porém,
sem fundo, tendo em sua outra extremidade a pele de um animal. O som desse
instrumento, na compreensão desses caçadores, repercute como o som do animal
abatido, seu choro, que podia ecoar livremente pelas florestas e planícies. Este tipo
de ritual apresenta outra ideia também bem antiga, a de que tudo que é retirado da
natureza deve ser respeitado e devolvido.
Em cada cultura pode ter havido motivos diferentes para criar esses instrumentos,
que eram feitos tanto de cerâmica, quanto de tronco de árvores. Esse tipo de
instrumento ainda é confeccionado por várias culturas como, por exemplo, alguns
povos africanos contemporâneos.

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Explor
Em 2010, foi realizada, em Portugal, a primeira Oficina de Arqueologia Experimental sobre
Instrumentos Musicais Pré-Históricos, em Portalegre, com apoio da Fundação para a Ciência e
Tecnologia e Fundação Calouste Gulbenkian, ambas daquele país. A capacitação, ministrada
pelo professor francês François Moser, proporcionou a construção de instrumentos musicais
segundo modelos pré-históricos, tendo como base objetos encontrados em pesquisas
arqueológicas efetuadas na Europa. Foram ensinadas técnicas básicas para a modelagem
de objetos em argila, além da preparação e o corte das peles. http://zip.net/byty4z

Figura 7
Fonte: musicaplena.com

Descrição: Tambor de argila coberto com pele de animal ainda com pelo
produzido na Oficina de Arqueologia Experimental sobre Instrumentos
Musicais Pré-Históricos, realizada, em 2010, em Portugal.

Cerâmica “Abstrata” – Período Neolítico


No período Neolítico (10000-5000 a.C.), também chamado de Idade da Pedra
Polida, os homens desenvolveram a técnica de produzir instrumentos e armas com
pedras polidas por atrito, além de desenvolver técnicas para torná-las mais afiadas.
O homem substituiu sua vida nômade por uma vida fixa em lugares próximos a
fontes de água, como rios, córregos, onde as terras eram mais férteis. Começaram
a cultivar vegetais e a domesticar os animais. A sedentarização aumentou o número
de habitantes e possibilitou o desenvolvimento de um núcleo familiar mais sólido,
com divisões de tarefas.
Desenvolveram-se as primeiras técnicas de tecelagem com o linho, lã e algodão,
para substituir as pesadas peles dos animais. A cerâmica já era conhecida, mas
houve o desenvolvimento de novas técnicas e estilos, para a produção de objetos
que serviam para armazenamento de alimentos e como urnas funerárias. Moradias
passaram a ser feitas nesse período, marcando o nascimento da Arquitetura.
Os artefatos de pedra tinham, agora, um requinte técnico cada vez maior e
os recipientes de argila passaram a ser decorados com desenhos ornamentais
abstratos. A pintura rupestre de caráter naturalista do período Paleolítico foi
substituída por um estilo mais simples e geométrico. Isso ocorreu no mundo todo,
mas em momentos diferentes.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 8 – Vaso de cerâmica com desenhos de linhas e texturas em baixo


relevo, final do período Neolítico (10000-5000 a.C.), encontrado na Espanha
Fonte: museuprehistoriavalencia.es

Cerca de 6000 a.C., um novo estilo de arte rupestre surge nas proximidades do
Mediterrâneo Ocidental, como resultado dos contatos dos caçadores nômades com
as culturas avançadas do Oriente Médio. Ao velho repertório de figuras animais
vieram juntar-se figuras humanas derivadas das culturas contemporâneas, embora
devam sua especial elegância, quanto ao movimento, aos próprios caçadores.
No período Neolítico, os homens não tinham tanta preocupação com as
caçadas, pois já haviam domesticado os animais. Desta forma, as pinturas dessa
época têm a ver com a representação do cotidiano do grupo: festas, celebrações
e outras ações coletivas. E o tipo de representação se torna mais estilizado, mais
simplificado e praticamente monocromático. A escultura continuou a representar
figuras femininas relacionadas ao culto deusa-mãe.

Figura 9 – Dança de Cogul (período Neolítico, 10000-5000 a.C.)


Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Pintura rupestrecom representação gráfica de mulheres e animais sobre


uma superfície rochosa. Caverna de Cogul, Espanha

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Idade dos Metais
No período denominado Idade dos Metais (c. 5000 a.C. até o surgimento da
escrita, cerca de 4000 a.C.), ocorreu a transição da Pré-História para a História.
Com a habilidade de dominar o fogo, o homem pré-histórico começou, de maneira
rudimentar, a fundir os primeiros metais, tais como o cobre, estanho, bronze e,
posteriormente, o ferro, que exigia uma temperatura mais elevada para sua fusão,
como também técnicas mais aprimoradas.

O primeiro tipo de metal utilizado foi o cobre, logo depois o estanho. Por volta
de 3000 a.C., com a junção desses dois metais, é criado o bronze. O ferro só
apareceu em torno de 1500 a.C.

Com o ferro passaram a fazer armas muito mais resistentes. Datam dessa época
o aparecimento das cidades-estados na Mesopotâmia e na Índia e a formação dos
reinos do Alto e Baixo Egito.

Nas artes, faziam esculturas em moldes de barro e cera, muito mais detalhadas e
bem feitas, que representavam guerreiros e mulheres, estas com maior variedade.
Esculturas de metal foram encontradas sobretudo na Escandinávia e na Sardenha.

A técnica da forma de barro consiste em fazer uma forma com esse material,
dentro da qual era despejado o metal já derretido em um forno. Depois do
esfriamento do metal, a forma era quebrada, obtendo-se, então, uma escultura
com o formato anteriormente dado ao barro.

Já a técnica da cera perdida começava com a construção de um modelo em cera


que era, depois, revestido de barro e aquecido, tendo-se o cuidado de deixar nele
um orifício. Com o calor do barro, a cera derretia e escorria pelo orifício, obtendo-
se, assim, um objeto oco. Depois, por esse mesmo orifício, preenchia-se o objeto
com metal fundido. Quando este esfriava e endurecia, quebrava-se o molde de
barro: dentro dele encontrava-se a escultura em metal, igual à que o artista havia
moldado em cera.

Importante! Importante!

Esculturas de bronze de cerca de sete mil anos foram encontradas no sítio arqueológico
de Plocnik, no sul da Sérvia, a cerca de 300 km da capital Belgrado, em 2012. Os objetos
pertencem a um povoado que viveu na região dos Bálcãs durante o período Neolítico,
por volta de 5300 a.C. Segundo os arqueólogos, as descobertas indicam que essas tribos
já processavam bronze, cobre e outros metais antes do período que havia sido previsto.

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Figura 10 – Pequena escultura feminina em bronze com uma cabeça grande


e braços na cintura (c. 5300 a.C.) encontrada em Plocnik (Sérvia), Idade do Bronze
Fonte: Wikimedia Commons

Arte Pré-Histórica no Brasil


A produção artística pré-histórica no continente americano é mais recente do
que a europeia. No Brasil há diversos locais com arte rupestre: Naspolini, em
Santa Catarina; Diamantina e Varzelândia, em Minas Gerais; e Parque Nacional
Serra da Capivara, no Piauí. As pinturas rupestres aqui ocorreram de 6000 a.C. a
1000 d.C., mas essas datas estão sendo ainda investigadas e há muitas pesquisas
em andamento.

O Parque Nacional Serra da Capivara, localizado no sudoeste do Piauí, foi


criado em 1979, para preservar vestígios arqueológicos da mais remota presença
do homem na América do Sul. Por sua importância, a Unesco o inscreveu na Lista
do Patrimônio Mundial em 13 de dezembro de 1991, e também na Lista Indicativa
brasileira como patrimônio misto.

As análises e datações dos vestígios encontrados no local confirmam a antiguidade


da presença humana no continente americano e a importância desse patrimônio.
O conjunto de sítios arqueológicos oferece datações recuadas temporalmente, que
revolucionaram as teorias clássicas das rotas de entrada do homem nas Américas
pelo estreito de Behring.

Segundo estudos produzidos, toda a área do parque foi ocupada por grupos de
caçadores-coletores e, posteriormente, por ceramistas-agricultores. As descobertas
realizadas no Sítio Arqueológico Boqueirão da Pedra Furada, por exemplo, levan-
taram a hipótese de que o homem poderia ter vivido, nesse local, há 60 mil anos.

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Na maioria dos sítios arqueológicos do parque, as pinturas rupestres são antropo-
mórficas (semelhantes ao homem), apresentando-se como temática dominante.

Figura 11 – Representação gráfica de animais em cores Figura 12 – Foto aérea da Serra da Capivara
branco e marrom sobre uma superfície rochosa com grandes rochas cercada de árvores
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

Figura 13 – Turistas dentro de uma caverna olhando para uma parede rochosa
Fonte: Wikimedia Commons

Figuras 11, 12 e 13 – O Parque Nacional da Serra da Capivara tem mais de 30 mil pin-
turas rupestres, espalhadas por paredões de rochas sedimentares de arenito. O Baixão
do Perna abriga um cânion com 40 metros de altura e três sítios arqueológicos aber-
tos à visitação. Atração mais visitada do parque, o Baixão da Pedra Furada tem como
principal sítio o Boqueirão da Pedra Furada, onde foram encontrados vestígios de uma
fogueira de 50 mil anos.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Importante! Importante!

Um estudo realizado no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, por pesquisadores


da USP (Universidade de São Paulo) e da Universidade de Oxford (Grâ-Bretanha),
publicado na prestigiada revista científica Nature, em 2016, mostra que macacos-prego
do parque nacional são capazes de criar ferramentas, o que antes imaginava-se que só
humanos fariam. Com a descoberta, artefatos encontrados em sítios arqueológicos e
considerados como prova de ocupação humana podem ter sido feitos, na verdade, por
macacos. O estudo mostrou que macacos-prego da região deliberadamente usam pedras
para conseguir frutos, cavar em busca de aranhas ou retirar líquidos com minerais de
outras pedras. Quando batem as pedras em busca de líquido, surgem por acaso lâminas
de pedra semelhantes aos antigos objetos afiados utilizados como ferramentas pelos
primeiros humanos.

Figura 14
Fonte: naturezabrasileira.com.br

Artefatos de diferentes tipos de pedra lascada, em formato redondo e


comprido, datados de cerca de 14000-10000 anos, Museu do Homem
Americano, São Raimundo Nonato (PI).

Cerâmica Marajoara – A Mais Antiga


Os objetos encontrados no Brasil espelham os costumes e crenças dos
povos que aqui habitaram. Entre eles estão desenhos, relevos zoomórficos ou
antropomórficos, objetos utilitários e ritualísticos, além de esculturas com padrões
geométricos. Muitas peças eram coloridas. O branco era conseguido através do
barro líquido de caulim, já os tons escuros eram feitos com tinta de jenipapo, uma
fruta típica da América tropical.
A cultura Marajoara (Pará) foi a que alcançou o maior nível de complexidade social
na pré-história brasileira. Essa complexidade se expressa também na sua produção
cerâmica, tecnicamente elaborada, caracterizada por uma grande diversidade de
formas e decorada com esmero. Produzida pelos índios que habitavam a ilha de
Marajó, na foz do rio Amazonas, data de 400 d.C. a 1350 d.C., período também
conhecido como pré-cabralino, ou seja, antes da chegada de Pedro Álvares Cabral
às terras brasileiras.

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A produção dessa época é conhecida também como Fase Marajoara, uma vez
que a ilha teve muitas produções de cerâmica em diversos outros momentos. É
considerada a mais antiga arte cerâmica do Brasil.

A cerâmica dessa fase é muito conhe-


cida pela elaboração sofisticada de ob-
jetos utilitários, ritualísticos e de decora-
ção. Entre os objetos encontrados pelos
arqueólogos estão potes, vasilhas, pratos,
vasos, urnas funerárias, tangas, estatue-
tas e brinquedos.

A decoração desses objetos combina


pintura, incisões e modelados que repre-
sentam figuras antropomórficas e zoo-
mórficas (forma de animais) e padrões
geométricos – labirínticos, repetitivos, Figura 15 – Tanga em cerâmica Marajoara (s/d) em
gráficos e simétricos. Entre os animais formato triangular com padrões geométricos. Acervo
mais representados estão os da fauna MAE/USP. Foto Wagner de Souza e Silva
amazônica como a serpente e o macaco. Fonte: Acervo MAE/USP

Os povos dessa fase (a quarta na sucessão das culturas da ilha) vieram do noroeste
da América do Sul e chegaram à Ilha de Marajó, por volta de 400 d.C. Na região
centro-oeste do local, a qual ocuparam, construíram habitações, cemitérios e locais
ritualísticos. Nessa fase, as cerâmicas podiam ser de uso doméstico, cerimonial ou
para funeral:
a) Cerâmica doméstica – Como serviam apenas para guardar mantimentos,
eram simples e não apresentavam a superfície decorada.

Figura 16
Fonte: museunacional.ufrj.br

Descrição: Vaso de cerâmica Marajoara (400 d.C a 1400 d.C). Pintado em preto e bran-
co com motivos geométricos espiralados e ondulantes e em formato redondo com a
boca estreita. Este vaso apresenta um padrão decorativo associado ao movimento das
águas, que se repete em outros suportes.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

b) Cerâmica cerimonial – Eram utilizadas para uso festivo ou homenagens


fúnebres. Bem decoradas, eram caracterizadas por apresentar desenhos bi
ou policromáticos (com duas ou várias cores) com cortes na cerâmica ou em
alto relevo.

Figura 17
Fonte: museunacional.ufrj.br

Descrição: Vaso de cerâmica Marajoara (400 d.C a 1400 d.C). Nesta peça de uso ceri-
monial aparece em relevo o tema das duas serpentes – recorrente na iconografia Ma-
rajoara, talvez relacionado a algum mito – conformando uma face humana. As duas
cabeças representam os olhos. Seus corpos compõem as típicas sobrancelhas em V.
Um botão na junção das duas caudas configura o nariz. O bojo, banhado de branco, é
decorado com formas geométricas incisas.
c) Cerâmica funeral – Também chamadas de igaçabas. Essas urnas mortuárias
eram decoradas com desenhos labirínticos.

Figura 18
Fonte: museunacional.ufrj.br

Descrição: Urna funerária de cerâmica Marajoara (400 d.C a 1400 d.C). Com pintura
em vermelho sobre fundo branco, apresenta o corpo em formato redondo com a boca
larga, profusamente decorado, com variações em torno da figura humana estilizada e
de motivos geométricos. Urnas funerárias elaboradas como esta, em geral contendo
objetos de prestígio em seu interior, provavelmente destinaram-se a indivíduos de sta-
tus social diferenciado na sociedade Marajoara

22
Além da cerâmica, os marajoaras produziam bancos, colheres, apitos, adornos
para orelha e lábios e estatuetas humanas, que chamam a atenção por serem pouco
realistas e mais estilizadas, ou seja, sem preocupação com a fidelidade à realidade.
Até hoje se discute a função dessas obras, se eram decorativas ou cerimoniais. Essa
fase acabou bem antes da expedição cabralina e, em 1350, já estava em declínio
por uma fusão ou expulsão de povos que chegaram àquela região.

A Sofisticação da Cerâmica de Santarém


As cerâmicas de Santarém, no Pará, feitas pelos índios Tapajós, ao longo da
margem direita do rio Amazonas, também são muito famosas. Esses objetos têm
um estilo bastante elaborado, conjugando desenhos feitos por incisões, pinturas,
relevos e apliques com elementos geométricos, formas humanas e de animais. En-
tre as figuras mais recorrentes de animais estão o jacaré, a cotia, o macaco, o mor-
cego, o gavião e o urubu. O auge de sua produção data de 500 d.C. a 1500 d.C.

Figura 19 – Fotografia em preto e branco de fragmentos de peças de cerâmica


de Santarém (Pará) que se parecem com faces humanas e de animais
Fonte: iphan.gov.br

Figura 20
Fonte: iphan.gov.br

Descrição: Vaso de cerâmica de Santarém (Pará), possivelmente para água, represen-


tando uma onça-pintada lambendo um pequeno animal, que pode ser seu próprio
filhote. Na parte superior, formando um gargalo, apresenta um rosto humano duplo.

23
23
UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

A produção cerâmica de Santarém pode ser dividida da seguinte maneira:


a) Vasos de cariátides – Pequenos vasos, em forma de taça, simétricos e
divididos em duas partes. A parte de cima é sustentada por três figuras
femininas, as cariátides – do grego, figura feminina esculpida servindo como
suporte. Nas bordas da parte superior estão afixadas outras figurações.

Figura 21 – Vaso de cariátide da região de Santarém (Pará)


Fonte: historiajaragua.com.br

b) Vasos de gargalo – Vasos fechados com gargalo cônico e com uma parte
central da qual saem duas abas ou asas compostas com cabeças de animais,
sobre as quais estão apoiados outros animais.

Figura 22 – Vaso de gargalo da região de Santarém (Pará)


Fonte: eba.ufmg.br

c) Estatuetas – Apresentam grande variedade de formas antropomórficas


(semelhantes ao homem) ou zoomórficas (forma de animais). Elas podem
ser ocas, maciças, ou com partes ocas e partes maciças. Os personagens
estão nus e são, na maioria das vezes, do sexo masculino.

24
Figura 23 – Estatueta antropomorfa de um homem sentado e
com um chapéu da região de Santarém (Pará)
Fonte: impressionismodombosco.webnode.com

Diferentemente das estatuetas marajoaras, as da cultura Santarém apresentam


maior realismo, pois reproduzem mais fielmente os seres humanos ou animais que
representam. A cerâmica de Santarém, refinadamente decorada com elementos
em relevo, perdurou até a chegada dos colonizadores portugueses. Mas, por volta
do século XVII, os povos que a realizavam foram perdendo suas peculiaridades
culturais e sua produção acabou por desaparecer.

Caverna das Mãos – Argentina


No continente americano, podemos citar muitos outros sítios arqueológicos,
mas um, em especial, chama a atenção por suas formas particulares, criadas
aproximadamente há 7300 a.C., a Caverna das Mãos, na Patagônia, Argentina.
Nesse local (Figura 24) há milhares de marcas de mãos em negativo, uma técnica de
execução simples que consistia em encostar uma das mãos na parede da caverna e
soprar, através de um canudo de osso, a área em volta da mão com uma mistura de
pó de argila, pó de carvão e pó de pigmentos naturais, obtendo, assim, a silhueta
da mão.

A Caverna das Mãos provoca nossa reflexão e leva-nos a perguntar: por que essas
pessoas quiseram deixar essas marcas? Talvez fosse importante para esse grupo
deixar o registro de sua presença. A caverna foi classificada como Monumento
Histórico Nacional Argentino. Em 1999, passou a ser considerada Patrimônio
Mundial pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura).

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 24 – Arte rupestre na Caverna das Mãos (Argentina)


Fonte: historiadopensamento.com.br

Nasce a Civilização
A civilização nasceu na Mesopotâmia – vale entre os rios Tigre e Eufrates, atual
Iraque –, onde foram inventados a roda, a agricultura, os veículos, as cidades, a
escrita, o direito, a medicina, a filosofia, a matemática e a astronomia. A arte
mesopotâmica estava ligada aos deuses, que, acreditava-se, protegiam essas
primeiras cidades-estados. A Mesopotâmia abrigava Suméria, Acádia, Babilônia,
Assíria, entre outras.

Com o domínio territorial de algumas comunidades, o desenvolvimento do


homem e o crescimento populacional apareceram as primeiras cidades. Em uma
sociedade com uma economia crescente, em que passou a haver a necessidade
de se contabilizar todos os produtos produzidos e vendidos, os impostos e os
pagamentos, surgiu a escrita. Mas não serviu apenas a esse fim.

A escrita foi se desenvolvendo durante muito tempo, baseada em antigas


tradições e desenhos simbólicos e ideografias. A escrita cuneiforme foi criada pelos
sumérios em torno de 4000 a.C. e adotada pelos povos da Mesopotâmia. Os
hieróglifos dos egípcios surgiram por volta de 3200 a.C. A importância da escrita
está na conservação de registros e sua propagação durante gerações.

26
A escrita cuneiforme era feita verti-
calmente, assim como a leitura era de
cima para baixo e da esquerda para a
direita, em placas de argila com objetos
pontiagudos, em forma de cunha. As
placas eram queimadas em fornos para
que o registro ficasse impresso de forma
permanente. A escrita marcou uma mu-
dança importante no rumo da história.
A partir desse momento os povos passa-
ram a ter registros escritos de suas histó-
rias, além da possibilidade de transmitir Figura 25 – Escrita cuneiforme em baixo
os conhecimentos. relevo sobre uma placa de argila
Fonte: doslourdes.net

Os sumérios, que surgiram por volta de 4000 a.C., foram pioneiros em criar as
placas de argila e tornaram-se, igualmente, os primeiros a registrar suas histórias
nesse material. Foi nesse local que se desenvolveu a escrita e outros aspectos de
civilizações antigas como a urbanização. Seus artesãos produziram admiráveis
objetos de cerâmica e metal, além de esculturas.

Figura 26
Fonte: khanacademy.org

Descrição: Estandarte de Ur – Peça de madeira com pintura de soldados, carruagens


e animais. Pesquisadores acreditam que não se trata de um estandarte militar, mas da
caixa de som de um instrumento musical (2600-2400 a.C.); madeira, mármore, lápis-
-lazúli, calcário vermelho e conchas (0,21 m x 0,49 m).

A Antiguidade
Na história da humanidade, o período denominado de Antiguidade se estende
desde a invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império
Romano do Ocidente (476 d.C.).

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

O conhecimento cerâmico adquirido nos tempos da Pré-História contribuiu para


a construção de cidades inteiras de barro, como os palácios de tijolos, os jardins
suspensos da Babilônia e os zigurates da Mesopotâmia.

Os zigurates (Figura 27) eram construções erguidas em tijolos de barro secos ao sol
com o formato de pirâmide em degraus; possuíam várias funções, como local para
cuidar de pessoas doentes, guardar alimentos e ter vida social. Porém, a função mais
significativa era religiosa. Acreditava-se que eram a morada dos deuses e, por essa
razão, apenas os sacerdotes podiam ter acesso a certos locais dentro dessas constru-
ções. Esse tipo de construção feita de tijolos, que têm origem por volta de 2500 a.C.,
perderam-se com o tempo, existindo nos dias de hoje poucos exemplares.

Figura 27
Fonte: museudeimagens.com.br

Descrição: O bem preservado zigurate de Ur (Templo da Lua), no Iraque. Essa constru-


ção foi a primeira do tipo a ser descoberta e teria sido erguida entre 2113 e 2096 a.C.
por ordem do rei sumério Ur-Nammu. Detêm 21 m de altura por 62,5 m x 43 m em
suas bases.
Algumas construções, como palácios e muralhas de cidades, ainda permanecem,
outras foram reconstruídas na nossa era. Fato é que essas construções em tijolos de
barro e ladrilhos cozidos e esmaltados deixaram exemplos do pensamento mítico
dos povos da Antiguidade.

A Porta de Ishtar (Figura 28), dedicada a uma deusa de mesmo nome, é uma das
espetaculares portas para a entrada da Babilônia. A arte dos povos que habitaram
a região da Mesopotâmia é rica e apresenta muita relação com o sagrado. São
esculturas de deuses e deusas, templos e construções que marcaram a vida social e
religiosa, além da arte como forma de expressar essas ideias por meio de danças,
músicas e imagens.

28
Figura 28
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Construído por volta de 575 a.C. a mando do rei Nabucodonosor II, na Babi-
lônia, a Porta de Ishtar tornou-se a principal entrada da cidade e foi dedicado à deusa
acádia Ishtar, que representa a fertilidade. Em grandes dimensões, foi construída com
fileiras de azulejos azuis brilhantes mesclados com faixas de baixo-relevo ilustrando
dragões e auroques.

Figura 29
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Uma das criaturas, pintado em dourado sobre fundo azul, está representa-
da na Porta de Ishtar: partes de leão, pássaro e serpente, formando um ser com duas
cabeças. Representa Marduk, divindade protetora da nação (605-562 a.C.), tijolos de
terracota esmaltados em dourado e azul (1,16 m x 1,67 m)
As obras de arte mais notáveis dos babilônios são relevos de animais, que eles
produziam sobre tijolos esmaltados policrômicos. As figuras eram modeladas em
um painel de argila molhada, recortado depois em tijolos e queimado como os
exemplares que adornam a Porta de Ishtar.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Egito – A Arte para os Mortos


A civilização egípcia desenvolveu-se às margens do fértil vale do rio Nilo, que, em
suas frequentes cheias, irrigava o solo e nutria-o com o húmus, tornando as terras
mais férteis no noroeste da África, em contraste com o deserto. Com a construção
de canais e diques, aprimoraram e enriqueceram a agricultura. O império foi
dividido em Baixo Império, no norte, e Alto Império, no sul. Esses dois reinos eram
representados, respectivamente, por uma coroa vermelha e outra branca.

A história egípcia divide-se tradicionalmente em períodos: Pré-Dinástico, que


começou por volta de 4000 a.C., quando pequenos estados foram estabeleci-
dos em torno da econômica agrícola, artesanato e uso de metais; Antigo Império
(2647-2124 a.C.), marcado pela construção da Esfinge e das pirâmides de Gizé;
Médio Império (2040-1648 a.C.), quando houve um enfraquecimento do poder e a
invasão dos hicsos e Novo Império (1540-1069 a.C.), com os tesouros e o túmulo
de Tutankamon e os monumentos a Ramsés II.

Figura 30 – Máscara funerária de Tutankamon (c. 1324 a.C.)


Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Tem a imagem de um homem, com vestes listradas em tons de outro e


azul. Na cabeça, acima da testa tem a cabeça de um pássaro e de uma serpente. Ela foi
colocada sobre a cabeça e os ombros da múmia do faraó.
Foi a religião que, durante toda a história da civilização egípcia, ditou as regras
sociais, políticas, econômicas e artísticas. Os sacerdotes exerciam uma grande in-
fluência na tomada de decisões em todas as esferas da sociedade. Na pirâmide
social estavam no topo, ficando apenas abaixo do faraó. Tinham todos os tipos de
privilégio: poder, educação, cargos religiosos e administrativos.

30
Os egípcios eram politeístas, acreditavam
em vários deuses e nos rituais religiosos que
possibilitavam o caminho para a felicidade
na vida e a existência depois da morte. A
sociedade se desenvolveu focada em crenças
e mitos.

Realizavam várias festas e oferendas para


garantir boas colheitas, vitória nas guerras
e felicidade na vida terrestre. Cada cidade
egípcia tinha um deus protetor e um templo
em sua homenagem. Porém, existiam deuses
que eram venerados por todo o Egito,
como o deus Amon Rá, deus-sol; Osíris, o
primeiro deus-rei a governar o Egito (Figura
31); Ísis, esposa de Osíris; Hórus, o deus
falcão protetor dos faraós; Hathor, deusa
do amor e da fecundidade, entre muitos
outros. Os deuses eram representados de Figura 31 – Representação de Osíris,
diversas formas: antropomórfica (humana), considerado o senhor da morte e o deus da
zoomórfica (animal) ou antropozoomórfica vegetação. É representado na cor verde, com
(humana e animal). uma coroa e roupa branca, barba postiça e com
braços sobre o peito, segurando dois cetros
Fonte: Wikimedia Commons

Cada deus tinha uma função e um papel na cultura egípcia. Os deuses eram
representados na forma humana, de animais ou ainda, na forma antropozoomórfica,
meio humano e meio animal, de maneira a emprestar qualidades ao deus
representado, como por exemplo o deus Anúbis. Com cabeça de chacal, tem como
característica a esperteza noturna e tem um papel importante na preparação dos
mortos. Hórus, com cabeça de falcão tem a .capacidade de voar e proteger o
faraó e sua família. Toth, com cabeça de íbis, uma ave sagrada que representa a
sabedoria e a cura e por essa razão é o patrono dos escribas.

Deuses e a Vida após a Morte


A arte egípcia tinha como tema central os deuses e a vida após a morte, além
da representação dos faraós e das pessoas de famílias com grande poder aquisitivo.
A arte obteve papel de destaque na dança, na música, na construção de imagens,
objetos, esculturas e arquitetura.

Os artistas tinham papel de construtores e transmissores de normas e técnicas


que foram empregadas durante muito tempo nessa civilização. No entanto, dizer
que arte egípcia foi exatamente a mesma em todas as épocas de sua existência seria
reduzir a grandeza da produção artística dessa civilização. Mesmo em sociedades
rígidas ou fechadas, a cultura nunca é estática, está sempre em movimento, mesmo
que ocorra em ritmos suaves ou haja rupturas.

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31
UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 32
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Ornamento com olho de Hórus, representado por um olho humano, com-
posto de pálpebras, íris e sobrancelha. As linhas abaixo figuram as lágrimas, que por
sua vez, simbolizam a dor na batalha em que o deus Hórus perde o seu olho. Deno-
minado também de Udjat (olho direito) e Wedjat (olho esquerdo), o olho de Hórus na
mitologia egípcia é um símbolo sagrado que representa o sol (olho direito) e a lua (olho
esquerdo), enquanto os dois olhos juntos (Udjat/Wedjat) simbolizam todo o Universo
e também as forças da luz. Tornou-se um símbolo de proteção e força, talvez o mais
conhecido e utilizado no Egito, usado para conceder poderes curativos.

Figura 33 – Representação gráfica, em preto e branco, do olho de Hórus ou Udjat/Wedjat


Fonte: Wikimedia Commons

Pintura Egípcia
As imagens pintadas seguiam algumas normas conhecidas como Lei da
Frontalidade. A preocupação era apresentar toda a figura, com o tronco pintado
sempre de frente e a cabeça, pernas e pés na posição de perfil. A profundidade
não era uma preocupação nessas imagens, que mostravam as figuras de modo
mais plano. Os tons de cores também não apresentavam volumes, e sim uma
imagem mais chapada. A proporção entre os indivíduos também era marcada pelo
tamanho, conforme o seu grau de importância na sociedade.

32
Figura 34
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: O jardim de Nebamum (c. 1350 a.C.). Detalhe da pintura mural (0,98 m x
0,83 m) em cores vermelho, preto, branco e azul. A pintura mostra os animais em es-
tilo realista e os humanos em estilização típica da arte egípcia. Cabeça em perfil, com
olhos e arte do corpo virado para frente.
Para representar seus deuses, cenas e narrativas, as cores usadas eram carregadas
de simbolismo. Veja, no quadro, as cores e seus significados na arte egípcia:

As cores e seus significados na arte egípcia

Mostrava a noite e podia estar ligada à oportunidade de renascimento,


Preta uma vez que lembrava as terras negras e férteis do rio Nilo.

Estava ligada aos tons mais claros do linho e representava a pureza, a


Branca verdade, entre outras significações.

Tinha significados múltiplos e podia estar ligada à energia sexual, a


Vermelha deuses mais sanguinários e até à morte nas áreas vermelhas e quentes
do deserto.

Era usada para estabelecer ligações entre o sol e a terra, e significava


Amarelo/Ouro também o brilho da esperança por uma vida eterna e rica. O ouro era
matéria nobre para representar seus deuses, faraós...

Verde Era usada como símbolo da existência.

Era a espiritualidade e o eterno fluxo entre a vida que se tinha e o sonho


Azul na projeção de uma vida espiritual na existência da eternidade.

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33
UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Somente uma vez, nesses quatro milênios, os egípcios abandonaram o politeísmo.


O faraó Amenofis IV, cerca de 1370 a.C., instituiu uma grande reforma religiosa,
tornando Aton o único deus de seu povo. Porém, após sua morte, os sacerdotes
obrigaram o novo faraó, Tutankamon, a regressar ao politeísmo.

Figura 35
Fonte: oxlackinvestigaciones.com

Descrição: Julgamento de um homem (c. 1275 a.C.), pintura em uma folha de papiro
(0,45 m x 0,31 m). O papiro era feito com as hastes do papiro, planta que era comumen-
te cultivada no Egito. Um homem chamado Any está parado à esquerda, ao lado da
mulher, vendo seu coração (sede do caráter e intelecto) ser pesado em uma balança.
No outro lado (direita, na imagem), está a pena da verdade, símbolo de Maat (ordem
divina). O pássaro de cabeça humana, que representa o espírito do homem que está
sendo julgado, observa a pesagem. Quem faz a pesagem é Anúbis, o deus de cabeça
de chacal.

Escultura Egípcia
Na escultura egípcia do Antigo Império, o escultor buscava aspectos essenciais
e simples do morto, uma geometrização das feições. Já no Médio Império,
verificamos um realismo maior nas feições das pessoas, sobressaindo características
mais pessoais e marcantes. No Novo Império nota-se uma maior sensibilidade e
delicadeza nos traços das feições feitas pelos escultores, porém manteve-se o rigor
geométrico das esculturas e certo realismo.

34
Figura 36
Fonte: khanacademy.org

Descrição: Paleta do Rei Narmer (c. 3000 a.C.), em ardósia (0,64 m de altura), com
inscrições e relevos representando a vitória do rei Narmer do Alto Egito sobre o Baixo
Egito. A paleta era um tipo de placa cerimonia.

Figura 37 – À esquerda o anverso da Paleta do Rei Narmer


(c. 3000 a.C.) e, à direita, o verso com a simbologia desenhada
Fonte: history.wikireading.ru
Anverso – No centro, Narmer, com a coroa do Alto Egito, agarra um inimigo pelos cabelos e está
prestes a matá-lo com sua clava. Outros dois inimigos estão colocados na parte inferior da paleta.
No mesmo espaço vemos uma pequena forma retangular próxima ao inimigo que está à esquerda,
que representa uma cidade fortificada. Na parte superior, à direita, uma escrita pictográfica com um
falcão sobre uma moita de papiro presa a uma cabeça humana que “cresce” a partir do mesmo solo da
planta. Narmer está descalço; um oficial da corte, atrás dele, carrega as sandálias do rei. Isso indica
que Narmer está pisando em solo sagrado.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Verso – Na parte superior (dos dois lados), vemos Hathor com cabeça de vaca, a deusa do amor.
Logo abaixo, vemos Narmer passando em revista seus inimigos. No mesmo nível, estão inimigos
atados e degolados. Na parte central da paleta, vemos monstros entrelaçados que simbolizam a
harmonia e a união das terras. Na parte inferior, um touro – que representa o poder do rei – ataca
uma cidade fortificada.

Figura 38 – Busto da rainha Nefertiti (c. 1340 a.C.), calcário pintado (0,5 m de altura). Representa um rosto
feminino com uma coroa azul, colar grande dourado, olhos contornados, porém apenas um pintado
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 39
Fonte: Egyptian Museu, Cairo – National Geographic Image Collection

Descrição: A demonstração de poder e de autoridade do faraó é um dos temas prefe-


ridos da arte egípcia. Nesta cena, Ramsés II, de coroa e vestes que lembram uma saia,
segura três homens, um sírio, um líbio e um núbio pelos cabelos. Como figura principal
da composição, ele é esculpido e pintado em escala maior que os prisioneiros (1297-
1185 a.C.). Pintura em calcário.

36
Nas esculturas, a figura humana, em geral, aparece sentada ou em pé,
apresentando uma postura bastante rígida, com olhos fixos, olhando para frente.
As figuras são, principalmente, faraós e deuses olhando de modo sereno para o
infinito, imóveis e imunes ao tempo. As composições são simétricas. O homem, na
maioria das vezes, segura em sua mão algum objeto.

A abordagem cúbica da forma humana pode ser claramente observada na


escultura egípcia como, por exemplo, em Miquerinos e sua esposa (Figura 40):
O artista deve ter começado por delinear os planos frontal e lateral nas
superfícies de um bloco retangular, e, em seguida, trabalhado para dentro,
até que esses planos se encontraram. Só desse modo ele poderia ter
obtido figuras de uma firmeza e imobilidade tridimensionais tão intensas...
Ambas estão com o pé esquerdo para diante, e todavia nada leva a pensar
em um movimento para frente. (JANSON, 1996, p.25)

Figura 40
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Miquerinos (ou Menkauré, em egípcio antigo) e a sua esposa, a rainha Kha-
merernebti II, IV Dinastia (c. 2480 a.C.). Feito em Basalto. Os dois estão em pé e a rainha
segura o braço do rei.

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 41
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Estátua da Tríade de Menkauré. O faraó Menkauré é retratado ao centro,


em uma posição mais avançada, ladeado pela deusa Hathor e a e deusa Bat. IV Dinastia
(c. 2500 a.C.). Feita em grauvaca, rocha, na cor cinza.
Existia uma regra para o uso das cores: os homens eram representados com um
tom de pele mais escuro e avermelhado para indicar poder e energia, já a pele e
as vestes brancas da mulher indicavam pureza, como podemos ver em Príncipe
Rahotep e sua esposa Nofret (Figura 42):
O casal deve sua admirável aparência de seres vivos ao colorido
expressivo, que deve ter compartilhado com outras estátuas semelhantes,
mas que apenas em alguns casos sobreviveu completamente intacto.
A cor mais escura do corpo do príncipe não tem uma importância
individual; trata-se da forma padronizada de pele masculina da arte
egípcia. Os olhos foram embutidos em quartzo brilhante, para torna-
los mais vivos possível, e a qualidade de retrato dos rostos é bastante
acentuada. (JANSON, 1996, p.25)

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Figura 42 – Príncipe Rahotep pintado com um tom de pele mais escuro e avermelhado
e sua esposa Nofret pele e as vestes brancas (c. 2580 a.C.), sentados em tronos.
Feito em calcário pintado (1,20 m de altura)
Fonte: Wikimedia Commons

(a) (b)
Figura 43
Fonte: Wikimedia Commons

Descrição: Detalhes dos rostos da escultura de Nofret (à esquerda – a) e do príncipe


Rahotep (à direita – b) na escultura Príncipe Rahotep e sua esposa Nofret (c. 2580
a.C.). Os rostos são realistas, com olhos contornados de preto. O príncipe com pele mais
escura e bigode e sua esposa com pele mais clara, enfeite na cabeça e colar colorido.
Feito em calcário pintado (1,20 m de altura).

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

O realismo, a perfeição ou as proporções exatas não eram valorizadas. O que


realmente importava era uma representação clara do objeto, paisagem ou pessoa,
que não gerasse dúvida no seu reconhecimento. A finalidade era a identificação
desses elementos pelos deuses e sua consequente preservação no outro mundo. O
tamanho dos personagens era determinado pela hierarquia, ou seja, conforme sua
classe social ou mesmo sua importância perante a sociedade.

Ao andar pelas ruinas históricas do Egito, vemos, em paredes de antigos palácios,


habitações e túmulos, relevos que mostram as crenças e o cotidiano desse povo.
Há músicos e dançarinas, sons e movimentos capturados em imagens na pedra;
são manifestações culturais de uma sociedade que deixou marcas significativas no
tempo, motivando muitas pessoas a continuar decifrando os mistérios do Egito.

Arquitetura dos Deuses


Os egípcios demonstraram grande conhecimento da matemática, que foi usado
na construção das pirâmides e templos, e também da medicina, empregado na
mumificação de corpos humanos. Na arquitetura do Egito antigo, predominam os
templos, construídos no lado leste do rio Nilo, considerado o lado da vida, pois é o
lado em que o sol nasce.

Esse tipo de construção tinha


a finalidade de servir de residên-
cia ao faraó e também às famílias
abastadas. Também eram locais
de adoração e eram dedicados
a um Deus. Eram formados por
colunas de grande diâmetro e se
caracterizavam por seu capitel
(extremidade superior de uma co-
luna, pilar ou pilastra). Veja os ti-
pos de colunas egípcias conforme
seus capitéis:
a) Palmiforme – Colunas
com capitéis inspirados na
folha da palmeira.
b) Papiriforme – Colunas
com capitéis inspirados nas
flores do papiro. Há o pa-
piriforme aberto (quando
as pétalas do papiro estão
abertas) e papiriforme fe-
chado (quando as pétalas Figura 44 – Coluna egípcia palmiforme com sua parte
do papiro estão fechadas). superior (capitel) inspirados na folha da palmeira
Fonte: Wikimedia Commons

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(a) (b)
Figura 45 – Coluna egípcia com capitel papiriforme aberto (à esquerda), e papiriforme fechado (à direita)
Fonte Wikimedia Commons Fonte (esquerda): Museum of Fine Arts

c) Lotiforme – Inspirada na flor de lótus, com suas pétalas fechadas. O tronco


da coluna reproduz vários caules atados por um laço.

No lado oeste do rio Nilo, encon-


tram-se as obras arquitetônicas egíp-
cias mais conhecidas e famosas: as
pirâmides. Elas estão no lado em que
o sol se põe, o que simbolicamente
para eles representava o lado da mor-
te. Era para esse lado do rio que as
pessoas iam depois de sua morte. Os
que tinham dinheiro, iam para as pi-
râmides construídas para essa finali-
dade, juntamente com muitos objetos
de valor. Eles acreditavam que tudo
que estivesse ali seguiria com eles
para uma outra vida, que os aguarda-
va após a morte.

Entre as pirâmides mais famosas


estão Quéops, Quéfren e Miquerinos,
localizadas no deserto de Gizé e cons-
truídas pelos reis da IV dinastia (Anti-
Figura 46 – Coluna egípcia com capitel lotiforme. Inspirada
go Império, 2647-2124 a.C.).
na flor de lótus, com suas pétalas fechadas. O tronco da
coluna reproduz vários caules atados por um laço
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Arte da Pré-História ao Egito – Homens e Deuses

Figura 47 – Estruturas triangulares em alvenaria de pedra calcária polida formam


as pirâmides, de Quéops, Quéfren e Miquerinos, no deserto de Gizé
Fonte: Wikimedia Commons

Pessoas com pouco poder aquisitivo pagavam, durante toda sua vida, um espaço
em construções mais simples, e os escravos eram destinados a valas comuns. Ainda
assim, todos eram levados para o lado oeste.
Esculpida junto à pirâmide de Quéfren, a maior das esfinges do planeta é
uma escultura arquitetônica e foi completamente talhada em única e gigantesca
rocha, detendo, ainda, o título de mais antiga construção do gênero. As esfinges
representam uma figura antropozoomórfica, que tem cabeça de homem e corpo
de leão. Eram colocadas para proteger espaços sagrados com a inteligência do
homem e a força do leão.

Figura 48 – Esfinge de Quéfren, junto à pirâmide homônima, no deserto de Gizé.


Construção que representa a cabeça de um homem em um corpo de leão
Fonte: Wikimedia Commons

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Destacada na Necrópole de Gizé, as dimensões da esfinge abrangem 73
metros de comprimento, 20 metros de altura por 6 metros de largura. A idade da
construção ainda promove discussões entre os pesquisadores. Apesar de ser datada
por volta da IV dinastia, há correntes arqueológicas que incitam sua datação como
sendo bem mais antiga. A Grande Esfinge de Gizé teria, então, 5000, 7000 e até
mesmo 9000 anos de existência.

As obras arquitetônicas egípcias usavam conhecimentos de geometria sagrada,


segundo a qual cada medida e forma tinham um significado. Essa maneira
matemática e sagrada de conceber o mundo influenciou outras culturas.

Para a arte egípcia, as questões religiosas eram o foco; já para os gregos, a arte
foi se definindo como algo mental e filosófico.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Conjunto Arqueológico de Los Dólmenes de Antequera (Espanha)
Os megalitos são as primeiras formas da arquitetura monumental de pedra da Pré-
História europeia e datam de acordo com informações atualmente disponíveis, até o
início do quinto milênio a.C durante o período neolítico. Para as primeiras comunidades
agrárias e de pastoreio na Europa Ocidental, a arquitetura monumental megalítica foi
um meio ideológico de marcar sua presença e as raízes de sua sociedade na terra.
https://goo.gl/ykj9NA

Livros
Cleópatra – Uma Biografia
Autor: Stacy Schiff, Rio de Janeiro: Zahar, 2011. Sinopse: nos dois milênios desde a
sua morte, Cleópatra fixou sua imagem de vez no imaginário da humanidade, mas por
motivos diversos, surgiram versões que pouco condizem com a realidade. Em um dos
livros mais elogiados de 2010, a premiada biógrafa Stacy Schiff renova a imagem da
última rainha do Egito. Embora tenha sido difícil discernir a verdade em meio a tantas
versões fantasiosas como essas, Schiff consegue resgatar a mulher atrás do mito. Em
Cleópatra – uma biografia, não encontramos a sedutora insaciável, mas a estadista
sofisticada e muitas vezes ardilosa, que governou o Egito durante 22 anos.

Filmes
A Guerra do Fogo
Direção: Jean-Jacques Annaud, França/Canadá, 100 min, cor, 1982. Sinopse: na
Pré-História, em torno da descoberta do fogo, a tribo Ulam é menos desenvolvida,
eles ainda acham que o fogo é algo sobrenatural e se comunicam apenas com gestos e
grunhidos. Quando a fonte de fogo deles se apaga, três homens vão em busca de outra
chama, quando encontram a tribo Ivaka, um grupo mais desenvolvido com hábitos
e comunicação mais complexa, além de dominar a produção do fogo. Os homens
sequestram uma mulher da tribo Ivaka e descobrem outra forma de viver.
Confira o trailer em https://youtu.be/bzGJTnZjO-o
Caverna dos Sonhos Esquecidos
Direção: Werner Herzog, França. EUA, Reino Unido, Canadá e Alemanha, 90 min,
cor, 2011. Sinopse: com um acesso sem precedentes e superando desafios técnicos
consideráveis, Herzog capturou em 3D o interior da Caverna Chauvet, no sul da
França, onde foram descobertos centenas de desenhos rupestres, em 1994. O diretor
revela um mundo subterrâneo impressionante, com pinturas que têm em média 32 mil
anos de idade.
Confira o trailer em https://youtu.be/TqTHBE59Bh8

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Visite
Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí)
Localizado na região Nordeste do Brasil, o Parque Nacional Serra da Capivara é
um parque arqueológico, inscrito pela Unesco na lista do Patrimônio Mundial. Um
conjunto de chapadas e vales abrigam sítios arqueológicos com pinturas e gravuras
rupestres, além de outros vestígios do cotidiano pré-histórico. Endereço: Rua Doutor
Luiz Paixão, nº 188, São Raimundo Nonato/PI. Telefones: 89 3582.1700 e 89
3582.1612; contato@fumdham.org.br
www.fumdham.org.br
MAE – Museu de Arqueologia e Etnologia / Universidade de São Paulo (USP)
A instituição tem sob a sua guarda um riquíssimo acervo de Arqueologia e Etnologia.
Seus professores e alunos desenvolvem pesquisa de ponta nestas duas áreas e também
em Museologia. Por se tratar de um Museu Universitário o MAE atua também na
divulgação científica através de exposições e outras atividades educativas. Endereço:
Av. Professor Almeida Prado, nº 1.466, Cidade Universitária, São Paulo/SP, telefone:
11 3091.4905
www.vmptbr.mae.usp.br

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Referências
BAUMGART, F. Breve história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
FERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
GOMBRICH, E. H. História da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2000.
GRAHAM-DIXON, A. Arte – O guia visual definitivo. São Paulo: Publifolha, 2012.
JANSON, H.W. e JANSON, A. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
LARROSA, J. Linguagem e educação depois de Babel. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
MANGUEL, A. Lendo imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MATURANA, H. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2001.
OSTROWER, F. Universos da arte. Rio de Janeiro: Editora Campos,1991.
PRETTE, M. C. Para entender a arte – História, linguagem, época, estilo. São
Paulo: Globo, 2009.

Sites consultados
ANIMUSIC. Estudo de acústica em rochas-tambor. Disponível em: <https://
animusicportugal.wordpress.com/author/animusicportugal/page/2/>. Acesso
em: 12 dez 2016.
ESTEVÃO, C. A cerâmica de Santarém. In: Revista do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1939. Disponível em: <http://portal.
iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat03_m.pdf>. Acesso em: 13 dez 2016.
ESTUDO FEITO NO BRASIL muda o que a arqueologia sabia sobre origem do
homem. UOL Notícias Ciência e Saúde, São Paulo, 19 out 2016. Disponível
em: <http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2016/10/19/
estudo-feito-no-brasil-pode-mudar-visoes-da-origem-da-humanidade.htm>. Acesso
em: 17 dez 2016.
SANTOS, T. dos. Pinturas rupestres do Sítio Arqueológico Toca da Gamela do
Parque Nacional Serra da Capivara-PI. Monografia apresentada à Universidade
Federal do Vale do São Francisco como requisito parcial para obtenção do título
de bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial. Disponível em: <http://
www.fumdham.org.br/wp-content/uploads/2015/07/monografia_Thalison_
dos_Santos.pdf>. Acesso em: 10 dez 2016.
SOUZA, J. de e SANTOS, F.C. dos. Surgimento da arte pré-histórica e o seu
desenvolvimento artístico. Disponível em: <http://mhn.uepb.edu.br/revista_
tarairiu/n8/8_art4.pdf>. Acesso em: 13 dez 2016.

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