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Material Teórico
Fotografia nos Movimentos de Vanguarda e na Arte Conceitual
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Fotografia nos Movimentos de
Vanguarda e na Arte Conceitual
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os aspectos conceituais, históricos e estéticos da fotografia
vanguardista até a fotografia conceitual; compreender a assimilação
do meio, suas aplicações, desenvolvimento e desdobramentos dentro
dos principais movimentos artísticos do século XX; desenvolver e
realizar pesquisas para atualização e autoformação.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, vamos conhecer um pouco sobre a fotografia de vanguarda,
suas principais características e desdobramentos nos Movimentos Futurista,
Construtivista, Dadaísta e Surrealista até a Pop Art e Arte Conceitual, seus
principais artistas-fotógrafos e algumas de suas obras emblemáticas. Leia
o conteúdo do material com atenção e não deixe de ampliar seus estudos
consultando os materiais complementares e pesquisando mais imagens
dos fotógrafos apresentados para enriquecer seu repertório. Registre suas
dúvidas, converse com seu professor-tutor, assista à videoaula e acesse
a pasta de atividades onde encontrará as Atividades de Avaliação e uma
Atividade Reflexiva.
Bom Estudo!!!
UNIDADE Fotografia nos Movimentos de Vanguarda e na Arte Conceitual
Contextualização
Futurismo (Itália, 1909)
Movimento de vanguarda liderado pelo poeta italiano Filippo T. Marinetti. Seu
manifesto, escrito em 1909, tinha o intuito de exaltar a vida moderna, descrever
a beleza da energia, da velocidade e do movimento, desprezar o passado e as for-
mas de arte tradicionais. Planos fragmentados, simultaneidade, cores expandidas,
formas repetidas, dinamismo, deformação e desmaterialização dos objetos, valori-
zação da ciência, da técnica e da vida urbana e a sensação de vertigem são algumas
de suas características.
Dadaismo (Zurique,1915)
Movimento intensamente contrário ao conformismo social cujas forças de criação
foram colocadas a serviço da chamada antiarte (rompimento com o conceito de
arte). Publicação de manifestos, substituição da obra de arte pelo puro ato estético,
atuações interdisciplinares e provocativas, acaso, irracionalidade, subversão,
questionamento dos princípios estéticos e a dessacralização dos conceitos de arte e
artista são algumas características dadaístas.
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POP ART (Inglaterra/EUA, décadas de 50 e 60)
Movimento artístico do pós-guerra, originado na Inglaterra e posteriormente
popularizado nos EUA, que questionava as manifestações de cultura de massa
e criticava a posição do indivíduo diante da sociedade de consumo. Usou como
temas o folclore urbano das sociedades desenvolvidas, a publicidade, os meios de
comunicação de massa, os ícones populares da música, do cinema e das HQ, as
personalidades políticas, o sensacionalismo jornalístico, a TV, os luminosos e os
sinais de trânsito, enfim, tudo aquilo que agride ou atrai visualmente.
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UNIDADE Fotografia nos Movimentos de Vanguarda e na Arte Conceitual
Da Fotografia Vanguardista à
Fotografia Conceitual
Em paralelo às divergências técnicas e conceituais entre as correntes fotográficas
artísticas (picturialismo e fotografia direta, objetiva e subjetiva) e indiferentes às
querelas entre elas e o cenário artístico (se a fotografia era ou não arte), muitos
Movimentos de Vanguarda da primeira metade do século XX assimilaram a
fotografia como um novo meio, ou mesmo como um novo material artístico alheio
às belas artes, e exploraram seu potencial expressivo sob distintas abordagens e
experimentações diversas, uma vez que o propósito maior Modernista compartilhado
era exatamente romper com todos os princípios da arte tradicional.
Fotografia Futurista
Os experimentos fotográficos dos irmãos Anton Giulio Bragaglia e Arturo
Bragaglia, marcados pela técnica da cronofotografia e intitulados de Fotodinamismo
Futurista, captaram a sensação de movimento repetido em uma imagem estática e
deram-lhe um ar tenso e fantasmagórico.
Figura 01: Anton Giulio Bragaglia e Figura 02: Anton Giulio Bragaglia e Arturo Bragaglia.
Arturo Bragaglia. The Smoker-The Uomo che suona il contrabbasso, 1911
Match-The Cigarette,1911 Fonte: photographers.it
Fonte: moma.org
exposições iguais. A técnica foi criada por Eadweard Muybridge, no final do século XIX, para
estudar o movimento através de fotografias sequenciais.
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Fotomontagem e Fotografia Russa
Sob os preceitos ideológicos e políticos do Construtivismo, desenvolveu-se no
início do século XX uma fotografia tipicamente russa, influenciada pelo relativo
isolamento do país durante a Revolução Comunista e pelo envolvimento de muitos
de seus artistas fotógrafos chaves com a pintura abstrata, com a arquitetura e
com o design russo. Propaganda política, desenvolvimento da indústria soviética,
projetos de engenharia, instituições estatais, atividades do exército, promoção
da atividade esportiva pelo Estado, promulgação de modo de vida socialista e
uma cultura comunista - princípios caros ao Construtivismo são os temas mais
recorrentes na fotomontagem e na fotografia russa que, em uma nação onde
grande parte da população era analfabeta, tornaram-se meios de expressão
poderosos para o Estado.
Figura 03: Gustav Klutsis. Let’s Fulfill Figura 04: Gustav Klutsis. The Development of
the Plan of Great Works, 1930 Transportation, The Five-Year Plan, 1929
Fonte: moma.org Fonte: moma.org
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Figura 08: Alexander Rodchenko. Diver, 1934
Fonte: photoforager.com
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Figura 09: László Moholy-Nagy. The Law of Series, 1925 Figura 10: László Moholy-Nagy. Untitled, 1926
Fonte: moma.org Fonte: moma.org
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Embora a Nova Visão e a Nova Objetividade (movimento artístico que também ocorreu
na Alemanha e durante o mesmo período, conforme estudado na unidade anterior)
compartilhassem o objetivo comum de posicionar a fotografia como uma forma de arte
independente, desenvolvida a partir de suas especificidades técnicas, e ambos tenham
exercido um papel-chave no desenvolvimento da fotografia moderna e influenciado outras
correntes e grupos fotográficos, estas tendências apresentam propostas conceituais e
estéticas distintas.
A Nova Objetividade priorizava a função primordial da câmera de documentar a realidade
e, em posição a carga emocional do expressionismo, propunha um registro fiel e objetivo
da realidade que eliminasse qualquer visão subjetiva do fotografo ou do espectador. A
produção fotográfica do Grupo F/64 (também estudado na unidade anterior) aproxima-
se mais desta corrente, com composições que priorizam os detalhes realistas e sutis dos
temas. Os princípios da Nova Objetividade também foram incorporados pelo fotógrafo
conceitual Bernd Becher no fim dos anos 50 e viriam, posteriormente, a influenciar a
produção contemporânea de seus alunos na Escola de Dusseldorf (que estudaremos em uma
próxima unidade).
A Nova Visão buscava na fotografia um meio capaz de desafiar as convenções visuais
utilizando composições e técnicas anticonvencionais para criar novas visibilidades a partir da
realidade. Nos Estados Unidos, a fotografia direta de Stinglertiz e Paul Strand aproximou-se
mais desta corrente, assim como a fotografia subjetiva no país que se desenvolveu em torno
do Chicago Institut of Desing e das experimentações formais e técnicas de seu fundador, o
próprio Moholy-Nagy.
A Bauhaus foi uma escola de artes aplicadas fundada na Alemanha, em 1919, por
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Figura 14: Man Ray. Rayograph, 1922
Fonte: theliteratelens.com
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Figura 16: Raoul Hausmann. The Art Critic, 1919-20 Figura 17: Hannah Höch. Cut with the Kitchen
Fonte: tate.org.uk Knife Dada Through the Last Weimar Beer-Belly
Cultural Epoch of Germany, 1919-20.
Fonte: commons.wikimedia.org
Figura 18: John Heartfiled. Adolf The Superman, 1932 Figura 19: John Heartfiled. Hurrah, die Butter ist
Fonte: johnheartfield.com alle!(Hurrah, There’s No Butter Left!), 1935
Fonte: johnheartfield.com
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Fotomontagem é o termo empregado para designar a associação de duas ou mais imagens,
ou fragmentos de imagens, com o propósito de gerar uma nova imagem. São inúmeros os
processos capazes de gerar imagens desta forma, eles a colagem, que consiste na elaboração
de uma composição tomando por base distintas imagens positivas; o sanduíche de negativos
ou de diapositivos, que agrega dois ou mais originais em transparência sobrepostos para
produzir uma terceira imagem; a ampliação de partes de negativos diferentes sobre um
mesmo papel fotográfico; a múltipla exposição de um mesmo negativo no momento da
tomada da fotografia, executada diretamente na própria câmara.
Fotografia Surrealista
Muitas das icônicas obras surrealistas são fotografias. Experimentações com
espelhos, sobreposições de negativos, solarização e brûlage criaram uma espécie
de representação dos pensamentos desinibidos ou do automatismo psíquico, ao
invés de uma representação da própria realidade. São imagens frequentemente
desconcertantes que criam um proposital desconforto ou libertar sentimentos e
sensações reprimidos no subconsciente.
Man Ray, nesta época residente em Paris, foi uma das figuras-chaves tanto
na transição do Dadaísmo para o Surrealismo quanto para a fotografia moderna.
Inspirando-se nos nus neoclássicos de francês Jean-Auguste-Dominique Ingres e
aludindo a paixão do pintor pelo violino, Ray produziu uma das mais célebres
fotografias surrealistas, O Violino de Ingres (Fig.20). Um retrato da amante de Ray
nua, de costas com os braços e as pernas ocultas e com os ouvidos de um violino
pintados nas costas, transforma o corpo feminino em um objeto sugerindo a forma
do instrumento. Em outro retrato em que Ray utilizou o processo de solarização, O
primado da matéria sobre o pensamento (Fig.21)., um corpo parece “derreter” e
flutuar no centro da composição.
Figura 20: Man Ray. Figura 21: Man Ray. Primat de la matière sur la pensée, 1929
Le violon d’Ingres, 1924 Fonte: museoreinasofia.es
Fonte: getty.edu
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Solarização é uma técnica que consiste na inversão dos valores tonais de algumas áreas
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Não menos inquietantes, ou mesmo repulsivas, são a série de fotografias de um
manequim feminino desmembrado do alemão Hans Bellmer ou a fotografia Père
Ubu (Fig. 25) da francesa Dora Maar, que utiliza como modelo um filhote de tatu
para representar o anti-herói da peça Ubu Rei, de Alfred Jarry Ubu Roi, satirizando o
abuso de poder e o sucesso da burguesia corporificado pelo abominável personagem.
Figura 24: Hans Bellmer. Plate from La Poupée, 1936 Figura 25: Dora Maar. Père Ubu, 1936
Fonte: moma.org Fonte: metmuseum.org
Figura 26: Philippe Halsman. Audrey Hepburn Figura 27: Philippe Halsman. Richard Nixon
Fonte: philippehalsman.com Fonte:philippehalsman.com
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Figura 28: Philippe Halsman. Dali Atomicus,1948 Figura 29: Philippe Halsman.
Fonte: philippehalsman.com In Voluptas Mor, 1951
Fonte: philippehalsman.com
A maioria das imagens nas colagens dos ingleses Eduardo Paolozzi e Richard
Hamilton é composta por fotografias retiradas de revistas americanas que ressaltam
a presença dos bens de consumo e dos meios de comunicação de massa no cotidiano
da sociedade de consumo americana. A obra O que será que torna os lares de
hoje tão diferentes, tão atraentes? (Fig.30) do inglês Richard Hamilton, realizada
com apropriações de fragmentos da sociedade de consumo, é um dos ícones da
Pop Art e explora os produtos, os meios de comunicação e as figuras masculina e
feminina como imagens símbolos da cultura de massa.
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Figura 30: Richard Hamilton. Just what is it that makes today’s homes so different, so appealing?, 1956
Fonte: commons.wikimedia.org
Figura 31: Richard Hamilton. Just what is it that makes today’s homes so different?, 1992.
Fonte: tate.org.uk
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Figura 32: Alberto Korda . Che Guevara, 1960 Figura 33: Andy Warhol. Che Guevara, 1968
Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: andywarhol-art.tumblr.com
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Fotografia na Arte Conceitual
A fotografia assumiu um papel central na arte conceitual, um conjunto muito
divergente de práticas artísticas e assim denominada porque sobrepõe a ideia
do artista à produção da obra, principalmente porque muitas das produções
desta vertente são efêmeras, intervenções ou acontecimentos, como a Land
Art, a Intervenção Urbana, a Body Art, a Performance e o Happening, e a
fotografia foi utilizada como uma forma de documentação ou de registro da
existência destas práticas. Como a Arte Conceitual “desmaterializou a arte”,
ou melhor, produziu um tipo de arte que não é perene, nem exibível ao grande
público e muito menos comercializável, já que era, a princípio, uma ideia e
não um objeto, seu registro fotográfico passou a ocupar os espaços vazios
dos museus e das galerias e “materializou” a obra conceitual para revitalizar o
mercado de arte.
Body Art: vertente de arte que toma o corpo como meio de expressão, suporte ou
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Alguns exemplos são as mais que famosas fotografias das emblemáticas per-
formances de Vitor Acconci (Fig.36), Chris Burden (Fig.37) e Joseph Beuys
(Fig.38); do happening de Allan Kaprow (Fig.39); da land art de Robert Smi-
thson (Fig.40); e dos trabalhos de body art de Dennis Oppenheim (Fig.41) e
Gina Pane (Fig. 42)
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Figura 38: Joseph Beuys. I Like America and America Likes Me, 1974
Fonte: wikiart.org
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Figura 41: Dennis Oppenheim. Reading Figura 42: Gina Pane. Azione
Position for Second Degree Burn, 1970 sentimentale, 1973
Fonte: dennis-oppenheim.com Fonte: camh.org
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Dennis Oppenheim
http://www.dennis-oppenheim.com/
MYMET
http://metmuseum.org/
MoMA
http://www.moma.org/
Livros
Fotomontaje
ADES, Down. Fotomontaje. Barcelona: Gustavo Gili do Brasil, 2002.
La Fotografia Plastica: Un Arte Paradojico
BAQUE, D. La Fotografia Plastica: Un Arte Paradojico. Barcelona: Editorial Gustavo
Gili, 2003.
O desafio do olhar: Fotografia e artes visuais no período das vanguardas históricas
FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar: Fotografia e artes visuais no período das
vanguardas históricas. São Paulo, Martins fontes, 2011.
Vídeos
Fotodinamismo Futurista - Anton Giulio Bragaglia
http://goo.gl/qpFhcw
Man Ray, fotógrafo
http://goo.gl/WZmQLe
Fotografia Moderna Brasileira - Moderna para Sempre
http://goo.gl/zQViYn
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Referências
HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.
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