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MESTRADO EM ARTES VISUAIS DO PROGRAMA

ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS (PPGAV


UFPB/UFPE) NA UFPB – TURMA 2021.

DO ANALÓGICO AO DIGITAL –

MESTRE JULIO SANTOS E A ARTE DA FOTOPINTURA

Linha de pesquisa 2

PROCESSOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS EM ARTES VISUAIS


Autor (a)

DO ANALÓGICO AO DIGITAL –

MESTRE JULIO SANTOS E A ARTE DA FOTOPINTURA

Projeto de pesquisa para dissertação apresentado ao PPGAV


UFPB/UFPE na UFPB, na área de concentração em artes
visuais na linha de pesquisa em Processos Teóricos e Históricos
em artes visuais como exigência parcial para seleção de
estudantes para turma 2021 no Mestrado em
Artes Visuais na UFPB.

Recife 2020
1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA

Século XIX, uma técnica de criação de imagens por meio de exposição


luminosa, fixando-as em uma superfície sensível estava em pleno advento. Os
movimentos artísticos estavam no auge do realismo, tendência sincronizada com
a ideologia emergente da revolução industrial. O surgimento da fotografia fez
que essa nova concepção da realidade conturbasse o mundo cultural, artístico e
com que a pintura procurasse outras formas de interpretação, sob pena de se
tornar uma espécie de segunda via fatal.
A invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de
acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas. A cada avanço surgia novos
movimentos artísticos que manipulavam as fotografias tentando assim uma
aproximação dela com a pintura. Com as atuais tecnologias, a manipulação da
imagem deixa de ser um privilégio, e tornam-se acessíveis ao público leigo que
reproduz as técnicas de manipulação do século passado com resultados obtidos
são por vezes tão eficazes que se tornam indetectáveis mesmo ao olhar de
profissionais da fotografia.
A possibilidade de manipulação da fotografia existe desde a invenção da
câmara escura. No século XIX, os retratos encomendados passaram a ganhar
correções feitas com a ajuda de retocadores, que com pincéis e tinta procuravam
melhorar a aparência dos fotografados. O mito de que a fotografia é a
representação da realidade foi usado de forma maquiavélica por ditadores, como
Stalin, Hitler, Mao Tsé-tung e Mussolini, que tentaram reescrever a história por
meio da alteração criminosa de fotografias.
Imagens são mediações entre homem e mundo. O homem “existe”, isto
é, o mundo não lhe é acessível imediatamente. Imagens têm o propósito de
representar o mundo e o homem seria o observador desse mundo. A fotopintura
se mostra como um procedimento de apresentação de uma realidade inventada
a partir de uma representação que é a síntese das expectativas do retratado e
da interferência técnica e estética do pintor.
Esse projeto tem finalidade de discutir as técnicas de manipulação que o
fotopintor Julio Santos utiliza. O problemático embate entre a mimese e a livre
criação, o indiciário, o icônico e o simbólico, a apresentação e a representação
na fotografia.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

• Esse projeto tem como objetivo discutir as técnicas de manipulação


que o fotopintor Mestre Julio Santos utiliza em sua produção.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO


• Apresentar métodos de manipulação de imagem analógico
• Discutir a utilização do photoshop como ferramenta de fotopintura
• Apresentar como diversos autores manipularam a fotografia ao
longo do tempo
• Descrever à manipulação da fotografia a partir das técnicas de
manipulação e a suas formas de aplicação à imagem fotográfica.

3 QUADRO TEORICO CONCEITUAL

3.1 A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA

A necessidade do ser humano de registrar imagens é muito antiga, a


fotografia1 não foi inventada por uma única pessoa, em uma época determinada
da história, ela é fruto de um trabalho contínuo de pesquisas e descobertas
desde o século V a.C. até os dias de hoje. Renascimento, período marcado por
transformações em muitas áreas da vida humana, assinalam o final da Idade
Média e o início da Idade Moderna. Essas transformações são bem evidentes na
cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando assim a
transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as
estruturas medievais.
A modernização da percepção foi dando-se no mesmo passo em que se
disseminavam os transportes mecanizados nas cidades e em que se inventavam
novas tecnologias de produção e de reprodução de imagens. Segundo Jonathan

1Fotografia: técnica de criação de imagens por meio de exposição luminosa, fixando-as em


uma superfície sensível.
Crary, no livro Techniques of the Observer, esse processo diz respeito a uma
reconfiguração radical do sistema óptico e do modelo epistemológico vigente ao
longo dos séculos XVII e XVIII, vinculados ao dispositivo da câmera obscura2.
No final do século XVI, colocam-se lentes para corrigir a inversão dessa
imagem. O observador era isolado do mundo, graças a esse dispositivo que o
enclausurava num cubículo escuro e o deixava diante da presença exclusiva da
imagem.
O primeiro registro detalhado sobre o processo de aparecimento de uma imagem
invertida em uma câmera escura foi feito por Leonardo da Vinci (1452-1519) em
seu livro de notas sobre os espelhos, publicado muito depois de sua morte, em
1797. O italiano Daniel Bárbaro em sua obra La Practica della perspettiva, de
1568 ele recomenda a câmara obscura para auxílio à pintura e perspectiva.

A câmera clara ou câmera lúdica, inventada por W.H.Wollaston em 1807,


embora seja diferente da câmera escura, funciona com a mesma lógica de obter
cópias de forma direta. A Câmera clara funciona como um olho de telescópio,
munido de um prisma, espelhos e um jogo de lentes, preso à ponta de uma haste
móvel. O mecanismo fotográfico é o próprio corpo do pintor ou seu cérebro.
Em 1727, o professor alemão Johann Heinrich Schulze constata que a luz
provoca o escurecimento de sais de prata. A primeira fotografia de que há
registro foi feita em preto e branco, em 1826 e o seu autor foi o francês Joseph
Nicéphore Niépce. O trabalho de Niépce, que para ele se chamava heliografia3,
não se parecia com as fotografias atuais.
A sua fotografia de 1826 é considerada a primeira foto permanente do
mundo e foi feita sobre uma placa de estanho, coberta com betume branco e
exposta durante cerca de 8 horas à luz solar. Nove anos depois, o pintor francês
Louis Daguerre descobre que placas de cobre cobertas com sais de prata
conseguem captar imagens, que podem se tornar visíveis ao ser exposto ao
vapor de mercúrio e desenvolve, em 1939, o daguerreotipo4.

2Câmera Obscura: aparelho óptico baseado no princípio de mesmo nome, o qual esteve na base
da invenção da fotografia no início do século XIX.

3 Heliografia: gravura com a luz solar


4Daguerreotipo: Aparelho capaz de fixar a imagem com um tempo menor de exposição (em geral
30 minutos), o que possibilita realizar fotografias mais rápidas.
Entre em 1839-1840 o físico britânico William Henry Fox Talbot cria uma
base de papel emulsionada com sais de prata que registra uma imagem em
negativo sendo possível produzir cópias positivas. Dividida em seis parte entre
1844 e 1846 Talbot pública The Pencil of Nature, o primeiro livro ilustrado com
fotografias. A técnica foi evoluindo e entre 1854 e 1910 desenvolve-se o
movimento denominado pictorialismo5, que se caracterizava-se por uma
tentativa de aproximação da fotografia com a pintura.
Até então a pintura era o único processo capaz de imitar a realidade visível
como se fosse uma imagem fotografada. Com o aparecimento da fotografia a
pintura pôde aspirar a outros objetivos que não fossem a exata reprodução do
que os olhos veem. Os fotógrafos do movimento pictorialista manipulavam
muitas vezes as fotografias à mão, alterando a granulação, os tons, modificando
ou suprimindo elementos de forma a tornar as fotografias mais parecidas com
pinturas ou aquarelas.
O celebrado pintor e desenhista francês Ingres, embora utilizasse os
daguerreótipos de Nadar6 para produzir seus retratos, menosprezava a
fotografia, como sendo apenas um produto industrial, e confidenciava: “a
fotografia é melhor do que o desenho, mas não é preciso dizê-lo” (FREUND,
1982). Apesar do preconceito das elites pensantes em relação à fotografia,
muitos utilizaram fotos para pintar, como os franceses Ingres e Delacroix7 e,
posteriormente, os impressionistas. Por volta de 1863, o fotografo francês André
Adolphe Eugène Disdéri cria o processo de fotopintura8 a partir de uma base
fotográfica em baixo contraste - que tanto pode ser uma tela quanto uma imagem
sobre papel - o pintor aplica as tintas de sua preferência, geralmente guache,
para o papel, e óleo, para as telas. A Fotopintura nasceu adicionando outros

5Pictorialismo: movimento que eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir da
década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que
consideravam como fotografia artística.

6 Felix Nadar: fotógrafo, caricaturista e jornalista francês.

7 Delacroix: pintor francês do Romantismo

8 Fotopintura: misto de retrato, fotografia e pintura. A arte pode-se dizer, nasceu junto com a
fotografia, quando o preto e branco das imagens criou nas pessoas o desejo das cores.
elementos à fotografia para proporcionar características de arte e ocupando um
lugar de prestígio nos salões de arte.

3.2 FOTOPINTURA NO BRASIL

Em 1866 encontramos os primeiros praticantes do processo de fotopintura


nas famílias brasileiras, principalmente no nordeste brasileiro devido ao baixo
custo de produção e ao aparecimento da impressão em cor (litografia e clichê).
Realizado a partir de fotos originais, geralmente desgastadas pelo tempo
a fotopintura permitia que o retrato fosse feito da maneira como o freguês queria,
o artista unia pessoas mortas e vivas numa mesma imagem, retocava defeitos
físicos, mudava a roupa, preferencialmente para as que conferissem prestígio
social aos retratados, como terno e gravata ou mulheres usando joias caras, e,
até mesmo tirar as rugas dos idosos, enfim, o retratista manipulava a fotografia.
Conhecido como fotopintor de retratos, Mestre Júlio Santos e um dos
últimos expoentes vivos da fotopintura. Segundo ele, “a alma da fotografia é mais
viva que a nossa alma. Ela carrega um momento único. Nós somos capazes de
envelhecer, a alma da fotografia não, ela está num santuário. É essa a posição.
É por isso que sempre voltamos a reverenciar a fotografia de alguém a quem
queremos bem. Uma fotografia não é um espelho. Diante de um espelho sempre
queremos parecer jovens, matéria de consumo, cometemos os mesmos
enganos. Diante de um espelho você não se perdoa, quer ser bonito, adorado,
encantador, quando na verdade o tempo já lhe tirou essa possibilidade. Uma
fotopintura é o avesso de tudo isso."
Com o advento das novas tecnologias, a arte da fotopintura quase entrou
em extinção. No entanto, ela acabou renascendo em meio a essas mudanças.
4 PROCEDIMENTO METADOLOGICO

O projeto será uma pesquisa documental que vai desde uma revisão
bibliográfica, passando pela leitura de livros, monografias e artigos que tratam
dos temas relacionados à fotopintura e manipulação de imagem.
A revisão bibliográfica é a base que sustenta qualquer pesquisa científica.
Para proporcionar o avanço em um campo do conhecimento é preciso primeiro
conhecer o que já foi realizado por outros pesquisadores e quais são as
fronteiras do conhecimento naquela (Vianna, 2001).
5 CRONOGRAMAS

MESES MESTRADO

MARÇO • Aulas
• Contato com
1º Ano orientadores
• Elaboração do
projeto

ABRIL • Aulas
• Elaboração do
projeto

MAIO • Aulas
• Elaboração do
projeto

JUNHO • Aulas
• Elaboração do
projeto

JULHO • Aulas
• Elaboração do
projeto

AGOSTO • Aulas
• Entrega do
Projeto de
Pesquisa pronto
para qualificação

SETEMBRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

OUTUBRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

NOVEMBRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

DEZEMBRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

JANEIRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

FEVEREIRO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

MARÇO • Aulas
• Coleta de dados
da dissertação

ABRIL • Aulas
2º Ano • Coleta de dados
da dissertação

MAIO • Aulas
• Montar capítulo
de resultados

JUNHO • Montar capítulo


de resultados

JULHO • Entrega do
capítulo de
revisão para o
orientador

AGOSTO • Montagem das


bancas para
apresentação de
resultados da
coleta da
dissertação

SETEMBRO • Banca de
apresentação
dos resultados

OUTUBRO • Discussão dos


dados
NOVEMBRO • Discussão dos
dados

DEZEMBRO • Pré-banca da
dissertação

JANEIRO • Pré-banca da
dissertação

FEVEREIRO • Prazo final para


defesa da
dissertação

6 REFERENCIAS

BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 1984.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In:


Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1987. (Obras
Escolhidas v.1)

BORGES, Maria Eliza Linhares. História e Fotografia. Belo Horizonte,


Autêntica, 2003.

CADORIN, Mônica de Almeida. A pintura de retratos de Victor Meirelles.


Dissertação (Mestrado - História da Arte). UFRJ, Rio de Janeiro, EBA, 1998.

DUBOIS, Phillipe. O ato fotográfico. Campinas, SP: Papirus, 1992.

LEITE, M. M. Retratos de família: análise da fotografia histórica. São Paulo:


Edusp, 1993.

PARENTE, Cristiana de Souza. A câmera e o pincel, ou olho e a mão no retrato


pintado de um povo. 1995. 226f. Dissertação (Mestrado de Sociologia).
Departamento de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, 1995

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